Ano XIX โ ข nยบ 297 Janeiro de 2020
R$ 5,90
EMPOUCASPALAVRAS
Se você, entretanto, está entre aqueles que não são muito chegados a comidas saudáveis e gostam de novidades gastroetílicas, então precisa conhecer três novos bares feitos sob encomenda para uma happy hour com amigos. O primeiro, na Asa Norte, chama-se Objeto Bar e tem carta de bebidas com 50 rótulos de whisky e 40 drinques do bartender Luiz Filipe. O segundo, na Asa Sul, chama-se Bar do Urso e é a casa da cerveja Colorado, produzida em Ribeirão Preto. Com sistema de autosserviço, sem garçons, tem cardápio reduzido de porções concebidas para harmonizar com a bebida. O terceiro, também na Asa Sul e também sem garçons, é o Reduto Bar, inspirado na região da Patagônia argentina e onde reinam a cerveja dos hermanos e as empanadas de carne, queijo e cebola (págs. 7 a 9). A partir desta edição, a coluna Garfadas & Goles, do jornalista Luiz Recena, passa ser escrita de Portugal, mais exatamente de Viseu. É de lá e de outros pontos do Velho Continente que virão as sugestões de boas experiências gastronômicas, devidamente acompanhadas por vinhos, quase sempre, ou de outros aperitivos que porventura emocionem o nosso bravo colaborador. Goles esses sempre recomendáveis para aquecer o coração de um gaúcho que estreia temporada na Terrinha em pleno inverno, com temperaturas em torno de quatro graus. Que ele se aqueça, então, com boas garfadas e ótimos goles (pág. 12). Na véspera do fechamento desta edição recebemos a boa notícia que há tempos os envolvidos com a cultura brasiliense aguardavam: o novo secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, liberou os R$ 25 milhões do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) que tinham sido bloqueados por seu antecessor, Adão Cândido. Nesse mesmo dia, Alexandre Marino entrevistou o secretário, que chegou a Brasília em 1977, vindo de Serra Talhada, em Pernambuco, e assume a secretaria com o discurso de apaziguar a comunidade artística. Viva! Leia mais sobre Bartô, como é conhecido, em Brasiliense de Coração (pág. 18). Boa leitura e até dezembro. Maria Teresa Fernandes Editora
Ana Vilela
Era previsível que, depois das extravagâncias alimentares cometidas na virada do ano, nove entre dez brasilienses planejassem entrar naquela dieta saudável tantas vezes adiada. Então, para dar uma força a nossos leitores que pretendem aproveitar o verão para comer alimentos leves e entrar – ou tentar entrar – em forma, selecionamos lugares onde poderão ingerir comidas pouco calóricas e, ao mesmo tempo, saborosas. Vários restaurantes antenados nessa tendência já têm no cardápio pratos idealizados para quem não quer pegar pesado neste verão (pág. 4).
28 diáriodeviagem De volta às páginas da Roteiro, a repórter Ana Vilela relata sua experiência de explorar uma gigantesca caverna do Parque Estadual de Terra Ronca, em Goiás.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SQSW 104 – Bloco E – 501 – Setor Sudoeste – Brasília-DF – CEP 70.670-405 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli, com foto de divulgação | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Conceição Freitas, Evelin Campos, Heitor Menezes, Junio Silva, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle, Walquene Sousa | Fotografia Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral | Para anunciar 98275.0990 Impressão Foxy Editora Gráfica | Tiragem: 20.000 exemplares.
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Camila Altavini
ÁGUANABOCA
Pratos e sucos do Flor de Lótus
Verão de comida saudável POR EVELIN CAMPOS
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Thiago Rodrigues
ntra ano, sai ano, e lá está ela, a meta que é líder de adeptos a cada “feliz ano novo”: abraçar o mundo da alimentação saudável. Seja por qualidade de vida ou por uma questão estética, muitos desejam melhorar a relação com a comida após as festas da vira-
da. No entanto, poucos conseguem. Segundo estudo da Universidade de Scranton, nos Estados Unidos, apenas 8% dos que traçam metas de início de ano levam os objetivos adiante. Mas 2020 pode ser diferente. A nutricionista clínica, mestre em psicologia e doutora em clínica médica Patrícia Costa considera fundamental ter metas reais pa-
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Burrata do Maori
ra obter conquistas sólidas: “É preciso fazer modificações graduais, estabelecer redução de peso de até dois quilos por mês. Parece pouco, mas é muito positivo. O problema maior da pressa em um ‘projeto verão’ é que não dá para manter dietas radicais e os resultados não se sustentam”. Evitar frituras, doces e gordura é tão importante quanto aumentar o consumo de água e alimentos frescos, in natura e com mais fibras. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde, devemos comer de três a cinco frutas e pelo menos uma cumbuca de vegetais crus e cozidos por dia, nas cores verde-claro e escuro, vermelho e amarelo. Muitas vezes, o problema não é só o excesso, mas o que a pessoa deixa de consumir”, alerta Patrícia. Isso, somado à prática de atividade física, pode contribuir para seu bem-estar neste novo ano. Se você tropeça em falta de tempo e rotina agitada, ou simplesmente gosta de sair para comer em locais com pegada saudável, anime-se. Fizemos um roteiro com opções leves e saborosas. Um incentivo para começar já, e não na próxima segunda-feira!
Thiago Rodrigues
Divulgação
Almôndegas de berinjela do Coisas da Terra
Novidades de verão Nesta época, vários restaurantes surpreendem com pratos inéditos para incrementar o menu ou agitar a estação. Nas 13 unidades locais do Peixe na Rede (há uma 14ª em Goiânia), a tilápia é, como sempre, a estrela dos Pratos de Verão. São quatro preparos com molhos de frutas de verdade (laranja, maracujá, limão ou manga), mais duas guarnições escolhidas entre arroz com brócolis, arroz branco, batata frita, purê de batata, salada juliana e legumes na manteiga. Servidos de sábado a quinta-feira, até o final de março, eles saem a R$ 22,90 cada. Sexta é dia do Festival de Camarão – três receitas diferentes, todas a R$ 25,90. O Maori, conhecido por usar ingredientes saudáveis em receitas tradicionais, acaba de lançar quatro opções fixas. Os nhoques de banana-da-terra (R$ 35) e de batata-doce (R$ 33), servidos com molho bolonhesa, béchamel ou funghi, se destacam pela massa leve. A burrata com molho pesto em cama de rúcula e tomate-cereja, acompanhada de pães sírios integrais (R$ 36,70), é rica em proteína e vitaminas. Por fim, tem caldo de cogumelo fresco (R$ 24). Dentre os 68 sucos, a dica é o de uva com chá verde e maçã (R$ 11,30). O Veganbúrguer é a novidade do Amor à Natureza, inaugurado em 1987. Com hambúrguer de proteína de soja artesanal, alfafa, tomate e alface orgânica e molho de tofu com alho no pão sem glúten, a iguaria sai a R$ 15,50. O restaurante
ovolactovegetariano também oferece bufê com 18 saladas e dez pratos quentes, além de versões veganas de feijoada, moqueca, vatapá e lasanha (R$ 54,90 o quilo). O Marietta também é experiente e inovador. A rede, que começou em 1982, tem sanduíches naturais, saladas, bufê e pratos quentes. Uma boa pedida é a proteica salada mexicana (guacamole, feijão vermelho, atum, alface, rúcula, cebola roxa, pimenta, ervas e molho de aceto com azeite), a R$ 25. As novidades são a vitamina verde (abacaxi, clorofila, hortelã, leite e iogurte) e o suco A2M2 (maçã, maracujá, agrião e açafrão-da-terra), a R$ 12 cada, e o vegano banana smoothie (banana, leite de coco, cúrcuma, canela e mel), a R$ 15.
Na onda da saúde Motivado pelo crescente movimento por uma alimentação mais saudável, Felipe Flausino trouxe para Brasília, há seis meses, a Casa Graviola. A franquia carioca não trabalha com carne vermelha, prioriza ingredientes orgânicos e produtores locais e oferece opções vegetarianas, veganas e sem lactose e glúten para todas as horas do dia. Carro-chefe da rede, a tilápia com purê de banana-da-terra e farofa de castanhas (R$ 53) é um dos queridinhos, assim como o atum fresco com teriyaki e quinoa com manga (R$ 49). Quem também surfou em tendência foi a Estação do Guaraná. No ramo desde 1999, a casa lançou recentemente a ilha de poke, com versões do prato havaiano.
Thaís Mallon
Tilápia da Casa Graviola
Salada mexicana do Marietta
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ÁGUANABOCA Divulgação
ga recebeu a Natigusto, onde a salada é montada pelo cliente e pesada. São cerca de 20 itens, entre folhas, verduras, macarrão integral e frango desfiado, a R$ 42,90 o quilo, sem limite de ingredientes. Há, ainda, combinações prontas para delivery (entre R$ 19,90 e R$ 25,90). A Natufreza tem refeições prontas e congeladas para todas as horas do dia e está com novidades entre R$ 20 e R$ 30. Uma dica é o Frango Crunch (tiras de frango empanadas com farinha de amêndoas ao molho de mostarda dijon, batatadoce rústica assada com alecrim e páprica e mix de vegetais). Outra opção é levar o plano alimentar para a equipe de nutrição elaborar um kit exclusivo. Não há conservantes e temperos industrializados. O público pode agendar o delivery ou retirar na loja, que possui pronta-entrega. Peixe na Rede
Endereços em www.peixenarede.com.br.
Maori
Rosbife Salad do Salad Bowl
110 Norte, Bloco D (3201.6066)
Amor à Natureza
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310 Norte, Bloco A (3272.2055)
almôndegas de berinjela com molho de tomate e manjericão (R$ 13). Cada PF vem com itens como arroz integral, feijão e saladas e legumes orgânicos. Para beber, há 40 sucos de frutas ou polpa. Prático e fácil Se o objetivo é saúde com praticidade e rapidez, vale a pena recorrer às saladas, marmitas prontas e pratos executivos. Na rede Cesar’s Salad há poke vegano e com proteína animal, pratos executivos a partir de R$ 26,90, saladas montadas e personalizadas, estas a R$ 22,90 (pequena) e R$ 30,40 (grande). Uma alternativa low carb é o spaghetti de abobrinha temperado com ervas e tomate-cereja sweet grape (R$ 22,90), que pode ou não vir com um grelhado. A tilápia grelhada no azeite de hortelã (R$ 12,90) cai muito bem. Salada? O Salad Bowl é especialista. Em Brasília desde 2015, a rede paulista tem como ponto forte a salada personalizada, com opção de alface ou mix de folhas, mais dez tops (R$ 33,90) ou seis tops (R$ 26,90) e molho. Também há combinações prontas, como a Rosbife Salad (mix de alface, ovo, rosbife, tomate-cereja, cebola roxa, repolho roxo, rabanete em conserva, linhaça e pão folha ao pesto), a R$ 26,90 ou R$ 30,90, dependendo do tamanho da porção. Um ano depois, em 2016, Taguatin-
Marietta
Endereços em http://marietta.com.br
Casa Graviola
202 Sul, Bloco B (3541.5943)
Estação do Guaraná
Endereços em www.estacaodoguarana.com.br
Flor de Lótus
102 Norte, Bloco A (3326.9763)
Coisas da Terra – O Natural ICC Norte, UnB (3307.1486)
Cesar’s Salad
Endereços em www.pizzacesar.com.br
Salad Bowl
204 Sul, Bloco B (3323.1114)
Natigusto
QNB 12, Lote 39, Taguatinga (3046.2626)
A Natufreza
SIA, Trecho 7, Lote 470 (99604.5331) Thiago Rodrigues
Ao montar o seu, o cliente paga pela proteína (de R$ 25 a R$ 50) e escolhe uma base, cinco acompanhamentos, uma pasta, um molho e dois itens para finalizar. Há, ainda, seis combinações prontas. A sugestão é o refrescante Kauai (salmão, arroz gohan, molho de frutos do mar, suco de limão e gengibre, cebola roxa, manga, pepino em conserva, alface, chips de alhoporó, chips de batata-doce, gergelim, furiake e pasta de wasabi), a R$ 38. O Flor de Lótus surgiu em 1991 e surpreende pelo colorido bufê, com saladas orgânicas, molhos artesanais, legumes assados, proteínas e cereais diversos, além de itens veganos como tofu e falafel. Os pratos variam, mas há o peixe do dia: às segundas, linguado grelhado; às terças, linguado empanado e grelhado; às quartas, pescada amarela grelhada; às quintas, bacalhau à portuguesa; às sextas, salmão assado; aos sábados, bacalhau. Valor: R$ 68,90 o quilo. As sobremesas, veganas e sem glúten, variam entre R$ 8 e R$ 9. Destaque para o creme de cacau com creme de castanha de caju. Sete anos antes, em 1984, nascia o Coisas da Terra – O Natural, com delícias para o dia todo, desde omeletes, salgados, tortas, tapiocas e salada de frutas até refeições naturais que variam a cada dia, sempre com sugestão vegetariana ou vegana. Há pratos feitos, como a sobrecoxa grelhada com ervas (R$ 14,50) e as
Poke Kauai da Estação do Guaraná
Fotos: Divulgação
Bar fora do padrão POR EVELIN CAMPOS
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e a ideia é um bar convencional, onde você senta com amigos, bebe, conversa e vai embora, esqueça. Esse não é o Objeto Bar. Para começar, foi construído num espaço antes ocupado por uma funerária. Assim, sua existência, por si só, trouxe vida e jovialidade, com um toque de renovação ainda mais especial pela abertura em outubro de 2019, reta final de um ciclo. Nascido da paixão do empresário Lucas Hamu por whisky, o local é bem alternativo, com ar dinâmico e descontraído. A apenas um balcão de distância da vizinha e “irmã mais velha” Objeto Encontrado, o Objeto Bar herdou a alegria e o estilo festivo da cafeteria, sem deixar de lado sua própria identidade. O principal diferencial está no encontro entre bebida e música. A instalação de um som com tratamento acústico possibilitou animadas noites com playlists ecléticas e originais. “Em Brasília, ou tem a boate em que você paga para entrar, ou tem o bar para beber e ficar na mesa com sua galera. Aqui é possível tomar algo de qualidade e levantar para
dançar”, destaca Hamu. As batidas rolam conforme o clima do momento, da equipe, do cliente. Tem o dia nostálgico, o animado, o da “bagaceira”, o experimental. Jazz, pós-punk, música alemã, disco, indie, black, MPB, brega e samba são alguns gêneros. E sempre podem vir novidades na pista, que às vezes assume um quê de pub. O ambiente segue o mix de bar e baladinha intimista. Além do balcão com rótulos de whisky single malt à mostra e das mesas de madeira, há móveis antigos, sofás, poltronas, neon nos banheiros, quadros, chão de cimento queimado e lâmpadas decoradas com coadores de café de papel. “Sempre comentam que é como entrar na sala de estar de uma casa”, diverte-se Lucas. Criativa, a carta de bebidas possui 50 rótulos de whisky, além de 40 drinques incluídos pelo bartender Luiz Filipe, dos clássicos aos exclusivos. Destaque para a Gin tônica, que pode ser feita com 13 tipos de gin (de R$ 18 a R$ 53). O Negroni (Beefeater, Punt e Mes e Campari) é maturado em semente de amburana e sai a R$ 27. O Corpse Reviver (Gordons, Cointreau, limão, Absinto e Lillet Blanc),
a R$ 32, é icônico por sua referência à antiga funerária. Já os petiscos, inspirados no conceito de izakaya – tipo de bar japonês que serve alimentos com as bebidas –, saem do lugar-comum de frituras para uma enxuta lista de preparos leves e muito suculentos. As porções são pequenas, para que o cliente possa provar de tudo e compartilhar. Entre as dicas estão a língua bovina em conserva (R$ 12), o sunomono de maxixe (R$ 8), a coalhada seca com azeite (R$ 10) e a costelinha suína na redução de beterraba (R$ 16). Vale mandar o preconceito para longe e se surpreender com o sabor. O Objeto Bar abraça desde aqueles que usam o ambiente climatizado como coworking à tarde até os que buscam diversão. “Pode vir sozinho, em grupo, interagir com desconhecidos. Nosso desafio é influenciar e entender o público para transformar a experiência. Todos podem ser quem são”, finaliza Hamu.
Objeto Bar
102 Norte, Bloco B (3081.8383) 2ª e 3ª feira, das 12 às 23h; de 4ª a sábado, das 12 à 1h.
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Fotos: Divulgação
ÁGUANABOCA
Bar da Colorado POR VICTOR CRUZEIRO
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rasília é uma cidade afeita à recepção de novas tendências da gastronomia que, quase sempre, tem potencial para modificar completamente o paladar do consumidor. Das mais exóticas às mais triviais, são muitas as tentativas de inserção de novas formas de consumo e paladar na capital federal. Contudo, as marcas mais indeléveis são, de fato, as das incursões nos objetos de consumo mais comuns. Foi assim com os cafés, que transformaram Brasília de um cardápio restrito de espressos de máquina, pingados e coados, para uma cidade que transpira métodos e torras, grãos e sabores, com uma centena de cafés que vão dos que se esmeram dizendo ao que vieram aos que ostentam em vão o nome de “cafés”. Já há algum tempo, é a vez das cervejas, cujas novas propostas vão desde casas que trouxeram uma miríade de novos rótulos (como o tradicional Grote Bier, na 409 Norte) aos bares de torneiras, que oferecem uma variedade rotativa de sabores (vide o I Love Beer, na 210 Norte). Além, claro, das cervejarias locais, que tornam a cidade um pólo importante do ramo, como a Bracitorium, Hop Capital, Entrequadras, 2 Candangos, Corina, Stadt e Cruls, para mencionar apenas algumas das várias – excelentes e diversas – brassagens da capital.
A presença de tantas alternativas reflete um refinamento no paladar do brasiliense, que, claro, em breve chamaria a atenção de outros membros do mercado. Essa é, em parte, uma das razões da inauguração recente do Bar do Urso, o bar oficial da Cerveja Colorado, na 411 Sul. Totalmente temático, com uma decoração simples e um espaço reduzido, o bar não esconde sua proposta: servir o máximo de produtos da Colorado até inserir a marca, com segurança, no cotidiano do apreciador de cervejas brasiliense. Longe da confusão de garrafas e latas misturadas nas prateleiras dos mercados, a Colorado procura incentivar o público a consumir seus rótuloas nos momentos de descontração, nas happy hours, encontros com amigos e todo tipo de situação prazerosa que um bar oferece. Com um sistema de autosserviço (ou seja, sem garçons), a casa oferece quatro torneiras que irão variar nos clássicos da cervejaria ribeirão-pretana em três delas, enquanto uma permanece aberta a um convidado da capital, com preços que variam entre R$ 9 e R$ 18, para copos de 350 ml. Na minha visita, as torneiras ofereciam as Colorado Appia (trigo e mel), Indica (IPA com rapadura), Vixnu (Imperial IPA com rapadura) e a laureada Belgian Blond Ale da Cruls, formando uma feliz roda de sabores facilmente desfrutável. O cardápio de comidas, bastante reduzido, aposta no fundamental para que
a visita se concentre em torno da cerveja: petiscos. Há porções com dez unidades de bolinhos de abóbora com carne seca, bacalhau e pernil com cerveja (R$ 26 cada), além de coxinhas de costela (R$ 26), frango (R$ 22) e, surpreendentemente, vegetarianas, de beterraba e espinafre (R$ 22 cada). Para finalizar, há espetinhos de carne, frango e kafta (R$ 10), além de porções maiores de dadinhos de tapioca (R$ 24), batatas rústicas (R$18), almôndegas (R$26) e queijo coalho em cubos (R$ 26). O autosserviço dificulta um pouco a circulação, na medida em que a cozinha fica no segundo piso e as torneiras no primeiro. Portanto, caso o cliente esteja no primeiro piso, terá de subir para pegar a comida e, caso esteja no segundo, deverá descer para pegar sua cerveja, o que gera um contínuo fluxo no apertado espaço da casa. Contudo, essa é uma contingência dos tempos, mais do que um demérito da casa, que surge com a feliz proposta de introduzir mais verbetes no vocabulário do paladar cervejeiro da capital. E, considerando o feliz rumo que a região já apresenta há muito tempo, será uma adição nessa que já é uma tradição candanga. Bar do Urso
411 Sul, Bloco B, Loja 2. De 3ª a 5ª feira, das 17 às 24h; 6ª, das 17 às 2h; sábado, das 15 às 2h; domingo, das 15 às 22h.
Fotos: Divulgação
Bar da Patagonia POR SÚSAN FARIA
“Si no vas a la Patagonia, la Patagonia va hasta tí”.
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aviso está nas redes sociais do Reduto Bar, inaugurado no final de dezembro na Rua dos Restaurantes (404/405 Sul). E não é que, entrando ali, logo surgem recuerdos do país vizinho, nas cores exuberantes de seus recantos e especialmente nas vigorosas refeições? Os choripans, as parrillas, as empanadas, as milanesas, o arroz parrillero, com linguiça, ovos, salsa e batata frita... tudo nos remete à Argentina. O casal brasiliense Flávia Alessandra, de 22 anos, formada em Publicidade e Propaganda, e Pedro Contarini, de 24, formado em Engenharia de Energia, sempre gostou de viajar para a Patagônia, região de muito vento, gelo, deserto, cordilheiras, pinguins e leões-marinhos. Veio dali a inspiração para criar em Brasília um pedacinho dessa região que é considerada uma das mais belas do mundo. Flávia Alessandra cuidou ela mesma da decoração do Reduto Bar, marcadamente na cor verde, com três ambientes (térreo, área externa e sobreloja), totali-
zando 250m2 e com capacidade para acomodar 120 pessoas sentadas. “Sentia falta de um lugar como esse em Brasília, da cerveja argentina, da parrilla, de uma comida boa, com toque brasileiro”, explica Flávia Alessandra. No teto da casa, de pé direito bem alto, e em parte das paredes estão fixadas samambaias. Logo na entrada, mesas de aço brancas, em fila moeda (com furos iguais a moedas) e nichos de várias cores, apropriados para sentar, bem como um grande painel verde ao fundo, com a logomarca do Tanqueray, o gin com que são feitos drinques como o Tônico, a R$ 26. Especial também é o Pochoclo Reduto, com Vodka Ketel One, purê de maça caramelizada e suco de limão, finalizado com chuva de pipoca, a R$ 28. Para “picar”, empanadas de carne ou de queijo e cebola, a R$ 18, e de queijo e linguiça, a R$ 20. O menu do dia do almoço pode ser com os cortes vacio (fraldinha sem gordura), a R$ 48, ou chorizo, a R$ 52, ambos com 250g, acompanhados de uma guarnição à escolha. Outras delícias: choripán brasileiro (pão caseiro recheado com chorizo, maionese de alho, vinagrete de pimenta biquinho e farofa de cebola), a R$ 24; salada Delfina (mix de
folhas verdes, cenoura ralada, tomate cereja, queijo parmesão ralado e batata palha caseira), a R$ 14, e panqueca brulée, recheada com doce de leite ou nutella, a R$ 18. Entre as “cervezas”, Stella Artois e Becks, a R$ 9, Patagonia Amber Lager e Patagonia Weissem, a R$ 15. As cervejas “tiradas” são importadas da Patagônia. Não há garçons na casa. O cliente pede e paga o que quiser no caixa e aguarda sentado. Washington Rodrigues da Silva, 31 anos, analista de sistemas residente na Asa Sul, gostou da novidade. “O cardápio diferente me chamou a atenção. É minha primeira vez aqui, mas voltarei outras”, disse. “Aqui é um abrigo descontraí- do para reunir amigos e família. Um refúgio para curtir ótimos momentos inspirados na Patagônia, com preparos feitos na brasa, bebidas típicas e música boa”, garante Flávia Alessandra. Apesar da pouca idade, ela e Pedro já estão à frente de seu segundo empreendimento. O primeiro, o Liv Lounge, funciona há mais de dois anos dentro do Life Resort, na Vila Planalto. Agora, desafio dobrado. Reduto Bar
405 Sul, Bloco D (99291.2766). De 2ª a 6ª, das 12 às 15h e das 17 às 24h; sábado, das 12 às 24h; domingos, das 12 às 22h.
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PICADINHO
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Cinco vezes bacalhau O novo ano começou com um super festival preparado pelo chef Francisco Ansiliero com cinco versões de uma das iguarias preferidas por sua clientela – o bacalhau. As cinco versões: à portuguesa (em lascas, preparado ao forno com batatas, cebola, pimentão verde, azeitonas pretas, rodelas de tomate, azeite extra virgem e ovos cozidos); aromático (em lascas, refogado com cebola pérola, alho poró e salsão, levado ao forno em cama de batatas); espiritual (ao forno, gratinado com nata fresca, batata, cenoura, cebola, alho e parmesão ralado); à Brás ( em lascas, refogado com cebola, ovos, batata palha e azeitona preta); e à Gomes de Sá ( em lascas, preparado na frigideira com batatas, cebola, azeitona preta e ovos cozidos). Todas servem duas pessoas e são acompanhadas de arroz branco ou com brócolis, ao preço de R$ 115. A promoção vai até 31 de janeiro nas unidades do Dom Francisco da Asbac e da 402 Sul.
Rayan Ribeiro
É o mínimo que se pode dizer do menu executivo criado para os meses de dezembro e janeiro pelo chef Ivo Souza, do ‘A Mano (411 Sul, Bloco D, tel. 3245.8235). Ele misturou a clássica cozinha italiana com uma das mais tradicionais iguarias natalinas – a rabanada. A sobremesa do menu, batizado de Pranzo ‘A Mano e servido de segunda a quinta-feira, no almoço, ao preço de R$ 75, é o pane con gelato di cannella e crema di dulce di lette. Traduzindo: pão embebido em leite, frito e coberto de açúcar e canela, servido com calda de doce de leite e sorvete de canela. A entrada é o rosbife de vitelo com molho cremoso de atum. O prato principal pode ser o ravióli recheado com queijo gorgonzola e damasco, servido com ragu de músculo assado no vinho tinto (na foto abaixo), ou o fettuccine artesanal de beterraba ao molho cremoso de parmesão, acompanhado de peito de frango empanado. Os pratos serão servidos até o fim de janeiro.
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Nas quatro unidades do Dona Lenha Mediterrâneo (202 Sul, 413 Norte, Terraço Shopping e Deck Brasil, no Lago Sul), a novidade da happy hour é o rodízio de tapas, servido das 18h às 22h30. Por R$ 69, o cliente pode se servir à vontade de 17 variedades de tapas, entre elas duplas de croquetes, bruschettas, lulas, batatas bravas e mini pizzas. Para os apreciadores de comida mais encorpada, uma sugestão do chef Paulo Mello é a panelinha de berinjela gratinada servida com fatias de pão, ou ainda a panelinha de huevo “a la flamenca”, que sai direto do forno à lenha com linguiça suína picadinha, molho de pimentão, páprica e ovo com gema mole, servida com torradas de pão rústico.
Lugano em Águas Claras A tradicional fabricante de chocolates inaugurou recentemente sua terceira loja no Distrito Federal. O local escolhido foi Águas Claras, mais precisamente a Rua 19 Norte, onde passou a ocupar os lotes 6 e 8. Marca líder em chocolates finos do Brasil, com um mix de mais de 500 produtos (barras, bombons, trufas, drágeas e ovos de Páscoa, além de cafés, cervejas artesanais e souvenirs da região de Gramado, no Rio Grande do Sul), a Lugano fechou o ano de 2019 em acelerada expansão, atingindo a marca de 50 unidades em todo o país. A franquia de Águas Claras, sob o comando da empresária Fabiane Guimarães, funciona de segunda a sábado, das 8 às 20h.
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Executivo inusitado
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Rodízio de tapas
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Para degustar com os amigos Um dos empreendimentos gastronômicos mais aguardados da temporada veio à luz no último dia 15 no Pontão do Lago Sul. Em noite para convidados, o 2gather, com projeto arquitetônico arrojado e cozinha pan-asiática, foi apresentado oficialmente pelos sócios – os empresários Murilo Hypólito e Rodrigo Angelin e o chef William Chen Yen. Na noite de estreia foi servido um coquetel volante com pequenas amostras dos comes e bebes que estarão no cardápio da casa, como o indonésio baozi, um pão recheado com carne moída (foto), o gyoza, o rolinho primavera, a batata rústica com maionese de sriracha e furikake caseiro, o steak tartare com maçã verde e o pork bun, um pão chinês cozido no vapor, recheado com pepino, barriga de porco, picles de cebola roxa e maionese de wasabi. Tudo isso acompanhado dos coquetéis clássicos que compõem a carta de drinques da casa (Aperol Spritz, GT tradicional, GT de mandarim e Moscow Mule, entre outros). O bar, cujo nome é inspirado no verbo inglês to gather, que significa juntar, foi pensado como um lugar para reunir amigos e fazer novos em um ambiente aberto, cercado de verde e com vista para o mar do brasiliense, o Lago Paranoá.
A chef Lídia Nasser, proprietária de um complexo gastronômico que reúne cinco marcas em Águas Claras, na Asa Sul e, em breve, no Sudoeste, não é de desperdiçar oportunidades. E foi assim que, aproveitando a chegada da animação Frozen 2 aos cinemas da cidade, no início do mês, desafiou o chef Walisson Paquetá, responsável pela cozinha da hamburgueria Dólar Furado (Avenida Castanheiras, Ed. Vila Mall, tel. 3451.4770), a criar um milk-shake inspirado na personagem Elsa, apropriadamente batizado de Rainha da Neve. A bebida, disponível somente até o final do mês, ao preço de R$ 25, é preparada com sorvete de creme holandês, calda de chocolate branco com coco, chantilly, trança de suspiro, pó prata e algodão doce na decoração.
Cerrado no Prato Vinte e dois restaurantes de Brasília, Goiânia e São Paulo participam, até o dia 26, da primeira edição do festival Cerrado no Prato, com receitas exclusivas inspiradas na biodiversidade do segundo maior bioma brasileiro. Um dos participantes de Brasília é o Bla’s (406 Norte, Bloco D, tel. 3879.3430), que criou especialmente para o festival esse magret de pato ao molho de jamelão, acompanhado de purê de mangarito (tubérculo da mesma família do inhame) e saladinha de PANCs (R$ 69). “Além de unir boa gastronomia com um valor acessível, o festival é uma ótima oportunidade para conhecer os produtos do nosso bioma e oferecer ao brasiliense novos sabores e combinações”, afirma o chef do Bla’s, Gabriel Albano. Divulgação
Divulgação
Assim foi batizado o mais novo espaço do Primeiro Bar (SIG, Quadra 8, tel. 3028.1331), onde são assados, num broiler de alta pressão, mais de uma dúzia de cortes de carnes especiais – bife ancho, maminha defumada, carne de sol na manteiga de garrafa, shoulder, denver, costelão assado, cupim assado e linguiças artesanais, entre outros. Tanto no almoço quanto no jantar, os clientes podem optar por um único corte ou compartilhar tábuas mistas com três a cinco cortes. Outra novidade é a reformulação do bufê, promovida pelo chef Tonico Lichtsztejn: “Mudamos o conceito de que o bufê tem que ter aquela pista enorme. Estamos oferecendo um bufê mais enxuto, para priorizar o sabor e a experiência dos clientes. Investimos também em diferentes tipos de saladas e molhos, além dos pratos quentes, que estão mais temperados, com aquele gosto de comida caseira”, explica o chef. O bufê custa R$ 54,90 o quilo.
Inspirado em Frozen 2 Divulgação
Estação do Fogo
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GARFADAS&GOLES Cartas lusas
LUIZ RECENA
É bonita a terra, pá! Viseu, Portugal, janeiro 2020. Queridos editores, volto à prática das missivas por estar agora mais longe ainda de vossos olhos: cá estou eu em Viseu. É verdade e tem rima, em homenagem tardia a Alayde, minha vó materna, último registro familiar de um Portugal distante. Ela, diga-se, terceira geração no sul do Brasil, muitas vezes sacrificava a verdade para não perder a rima. “Abel matou Caim na porta de um botequim”, cantava. E quando reclamávamos, punha-nos ao lugar com uma curta sentença: “Não é verdade, mas rima”. E ponto final. Assim, editores, o Ano Novo encontrou-nos no coração do Dão (outra rima verdadeira) e ao pé da Serra da Estrela. Quatro
lrecena@hotmail.com
da Serra da Estrela com mel e nozes, um tinto Maria Mora, do Dão. Volta no dia 31, almoço com sopinha, bacalhau e carne com arroz e o primeiro bruto, Aplauso. Bom, só bom. Levamos folhados para a noite. Descanso de festas e uma terceira para conferir, com omeletinho de aspargos e um camembert com mel. Preço médio 20/25 euros, a depender do vinho. A proposta do chef Almeida cumpre-se com louvor. E conta com apoio muito eficiente, David e as meninas Telma, Maria João e Vanessa. Para quem vem de longe, com um pequenino mapa e nenhuma bússola, a cidade do Infante de Sagres deu-nos direção segura logo ao chegar. O Palace fica na memória. Da viagem, da chegada e dos gostos.
graus, frio seco, a passagem foi no hotel, com bom fogo na lareira
TRADIÇÃO DESDE AS PEDRAS centenárias que sustentam as paredes
e muitos, muitos fogos... na televisão! As tradições mantidas com
do restaurante e do prédio onde está. O Cortiço, na Sé, é pura
tâmaras, presunto cru, folhados de bacalhau, azeitonas e algumas,
história e comida boa e clássica. Dom Zeferino andou por aldeias
poucas, ampolas de bruto nacional, de boa qualidade, mas ainda
e quintas da região olfateando cozinhas tradicionais e traduzindo
longe dos nossos melhores espumantes, o que nos fez suspirar
e adaptando para os novos tempos viseenses. Para um improvável
de saudade por um átimo. Apenas um átimo. Os primeiros dias
crítico que não engorda tanto e sua amada e preocupada chefa que
tinham mostrado, à farta, que entre tantos tintos e brancos, de
pouco ou quase nada come, o velho restaurante espanta com suas
bons a ótimos, de sede não morreríamos nestas queridas terras
porções. A meia é uma, a inteira são duas, eis a matemática que
d’El Rey. Viram que escrevi “de bons a ótimos”? Pois é mesmo
suportou presunto cru e queijo da Estrela, uma frigideira de chouriços
assim e parece que por aqui não há lugar para vinho ruim. Ave!
e morcelas, além de um arroz de pato. Com um tinto da casa, do
Nem para as garfadas que acompanham os goles.
Dão, identificado (Dom Zéfer), meio litro servido em jarrinha de
O PALACE É O DESTAQUE até agora. Nota dez nos três quesitos básicos: proposta, comida e atendimento. O destino não é feito de acasos e o Palace está mesmo a um atravessar de rua do nosso hotel Moinho de Vento. A primeira impressão é a que mais perdura e sem reserva conseguimos mesa para ouvir a explicação: compartilhar é a proposta, com pequenos pratos para saciar duas pessoas, no mínimo. Lembra “tapas”, com porções maiores.
madeira de barril de carvalho. Água e cola completaram. Nota boa também para o atendimento e ainda maior para a decoração com referências ao restaurante penduradas nas pedras grossas e centenárias da casa. Coisa do Século 18, para deixar barato. Café e conversa sobre futebol ao final. O Benfica reina e o Jesus é mais lembrado do que amado. No total, um pouquinho mais de 40 euros, pelo café, o vinho bom e o arroz de pato ao preço da iguaria que é.
O desfile começou com pães, azeitonas e duas manteigas com
E ASSIM, CAROS EDITORES, encerro estas mal traçadas com os
sabor diferente. Seguiu com cogumelos ao alho, croquetes de
melhores votos para 2020, a vocês e leitores. Prometo voltar com
alheira com mostarda, folhados de bacalhau, folhados de queijo
novas delícias.
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 12
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras
PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO
Temporada de liquidações
pao&vinho@agenciaalo.com.br
Mais um ano se inicia e nós, enófilos de plantão, devemos
Algumas dicas quanto à longevidade provável dos vinhos, que
ficar atentos às promoções típicas desta época, que surgem em
podem ajudar o consumidor, são as seguintes:
grande parte das importadoras. Quase todas promovem queimas de estoques em janeiro e fevereiro, e sempre se fazem excelentes negócios na compra da maioria dos vinhos oferecidos, mas há de se tomar alguns cuidados. O motivo mais importante, comumente, é a realização de um inventário anual sobre o estoque e a devida avaliação do mesmo. Assim, comumente a importadora seleciona vinhos cujos estoques já estão baixos, cuja importação será descontinuada, ou com defeitos nos rótulos e outras razões as mais diversas. Uma das principais, que deve acender um “alerta” de cuidado para o comprador, é a safra, que eventualmente, dependendo do vinho, pode indicar a possibilidade de que ele não esteja mais em condições de consumo ou, ao menos, em condições de guarda. Então vejamos: embora haja vinhos de grande e às vezes até imensa longevidade, nenhum é eterno. Os vinhos descrevem sempre uma trajetória parabólica quanto a sua qualidade: após elaborados, vão melhorando em qualidade continuamente até atingirem seu ápice, em que permanecem por algum tempo, para depois passarem a diminuir sua qualidade gradativamente até o momento em que não estarão mais aptos para o consumo. Assim, o segredo está em consumirmos os vinhos, preferencialmente, quando estão no topo da parábola, ou seja, no ápice de sua vida, quando então poderemos desfrutar de suas melhores características. O problema é que o tempo de vida de um vinho e, portanto, o momento em que restará em
Vinhos tintos são comumente mais longevos do que os brancos. Mas cuidado com o preconceito, pois há vinhos brancos muito longevos e que ficam ainda melhores com o passar dos anos. A longevidade costuma ser maior quando uma ou algumas das seguintes características estão presentes: alta tanicidade, alta acidez, alta alcoolicidade, alta concentração de açúcar. Mas novamente cuidado, pois nada disso é absoluto. A longevidade depende, sem duvida, das uvas que o compõem, mas mais ainda da forma como é elaborado. Um vinho longevo é mais “trabalhado”, desde o plantio da uva até o engarrafamento, e, por consequência, costuma ser mais caro. Portanto, a dica aqui é que normalmente vinhos mais baratos duram menos do que vinhos mais caros. Novamente cuidado, pois há sempre exceções. Em princípio, qualquer vinho branco de boa qualidade tem capacidade de durar de dois a cinco anos, mas há os que são ainda melhores até mesmo depois de 20 anos. Um bom indicativo nos brancos é sua cor, pois se estiverem muito dourados e, principalmente, mais opacos, turvos e sem brilho, podem estar já oxidados, “passados”, e talvez não próprios para o consumo. Da mesma forma, qualquer vinho tinto de boa qualidade tem capacidade de durar de três a dez anos, mas de novo há exceções. Alguns não passam de dois anos (esses são os ruins) e alguns melhoram durante décadas, comumente atingindo
cada ponto da parábola, varia de vinho para vinho, e é aí que
seu auge entre 20 e 50 anos (esses são os extraordinários).
corremos algum risco na compra de rótulos cujas safras são
De qualquer forma, vale a pena aproveitar essas liquidações.
mais antigas.
Escolham com cuidado e boas compras!
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DIA&NOITE
férias1 A bem sacada ideia da banda mineira Pato Fu, de tocar músicas antigas com instrumentos de brinquedo, deu tão certo que até hoje inspira projetos infantis que agradam em cheio a criançada, agora em período de férias. É o caso de Música de brinquedo 2, instalada no Brasília Shopping até 2 de fevereiro, onde crianças entre 4 e 12 anos vão poder assobiar, cantar, colorir e mergulhar em oficinas musicais coordenadas pela instrumentista e cantora Ássia Barreto. Aprenderão também a montar seu próprio instrumento de brinquedo – violão, tambor e tambor oriental – e poderão se divertir numa piscina de espumas com escorregador em forma de violão. “A proposta é divertir a garotada incentivando a musicalização. Apostamos em experiências com sons e instrumentos que aguçam os sentidos auditivos, a coordenação motora e o gosto pela música”, explica Renata Monnerat, gerente de marketing do shopping. Crianças com até 3 anos e 11 meses podem participar, desde que acompanhadas por um adulto. Entrada franca.
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De música, também, é feita a programação de férias do CCBB. Até 26 de janeiro está rolando o Musicar – Festival de música infantil, feito sob medida para levar às crianças oficinas, shows, vivências musicais e instalações sonoras. São 20 atividades ao longo da programação, entre elas O cano, do Circo Teatro Udi Grudi, que utiliza instrumentos musicais alternativos e já foi premiado internacionalmente. Também se apresentam grupos musicais brasilienses, que interpretam desde música erudita para crianças, como o Concerto de bolso, até a pesquisa de sonoridades da cultura popular brasileira como o Pé de Cerrado e o Mambembrincante. De outras partes do país virão os artistas do Mundo Aflora, de São Paulo, Tião Carvalho, do Maranhão, Farra dos Brinquedos, do Rio de Janeiro, e Irene Bertachini, de Belo Horizonte. Irene apresentará o espetáculo Cantigas para acordar o Rio, inspirado na obra de Manoel de Barros. No pavilhão de vidro foi montada a Casa Gamer, com jogos para o público de todas as idades, como Just dance, Mario Kart e até campeonatos de Counter Strike para os gamers de plantão. De terça a domingo, com ingressos a R$ 30 e R$ 15, à venda na bilheteria do CCBB e no site eventim.com.br.
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Se o menino ou a menina se amarram no Pocoyo, personagem da TV a cabo engraçado e curioso que adora brincar e explorar o mundo ao seu redor, então com certeza vai gostar de conhecê-lo pessoalmente no Pátio Brasil, onde ficará até 16 de fevereiro. Trata-se do circuito Férias fantásticas com Pocoyo, composto pelo escorregador da elefanta Elly, passando pela gralha azul Sonequita, o Expresso Pocoyo, brinquedos de mola e a casa do Pocoyo, com escorregador e piscina de bolinhas. A animação, criada em 2004 por três espanhóis, é muito apreciada principalmente por crianças entre um e quatro anos. Fazem parte também do desenho animado a cachorrinha Loula e Nina, a menina que sempre usa verde. A entrada para o circuito custa R$ 20 para o período de 15 minutos e R$ 25 para 30 minutos. Quem quiser curtir o espaço por tempo ilimitado paga R$ 50. Diariamente, das 10 às 22h.
Os bichos menos queridos pelos humanos têm voz na peça infantil Coração leal, de autoria de Cássia Gentile, um dos espetáculos teatrais programados para divertir e educar a criançada até 2 de fevereiro no shopping Pier 21. A obra, a ser apresentada dia 25, às 17h, transfere elementos de violência e intolerância para uma fábula infantil onde a cascavel, a barata, a formiga, o morcego, o rato e a aranha adquirem o direito de se expressar, expondo seus dramas e reivindicando, assim, o respeito e direitos como todos os outros animais. Na programação de férias do shopping está também a segunda edição da Feira Catavento, voltada especialmente para a criançada. Mais de 25 expositores estarão lá dias 31, 1º e 2 de fevereiro com todo tipo de produto que agrada o público mirim, como imãs, quadros e artigos colecionáveis com temas de super-heróis, além de lancheiras e guloseimas. Entrada franca.
Áurea Liz
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férias5 A programação especial de férias da Vila Animada, brinquedoteca do shopping Iguatemi, vai até 31 de janeiro. Às segundas-feiras , o recreador infantil Tio Palito ensina as atividades que faziam sucesso antigamente, como pular corda, brincar de roda, pique-pega, cabra-cega, estátua, vivomorto, mestre mandou e muito mais. Já às quartas-feiras, a Vila Animada apresenta sua Baladinha Neon. Parte da brinquedoteca é decorada com luz negra, bolas e tapetes neon e a criançada poderá dançar com a pintura facial brilhante e pulseirinhas neon. Às sextas-feiras acontece o Circuito da Alegria, uma série de gincanas em que as crianças usam coletes de seus times e participam de brincadeiras como arranca-rabo, passa-balão, dança das cadeiras, corrida de saco e muitas outras. As atividades especiais ocorrem das 15 às 19h. Custam R$ 28 por meia hora de diversão. Irmãos têm 10% de desconto. Todos os domingos, às 11h30 e às 15h, tem teatro infantil de graça. Dia 25, por exemplo, estará em cartaz o clássico Pluft, o fantasminha.
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skatenorecanto Vem aí um campeonato que vai reunir a fina flor dos skatistas, mas também promover palestras e shows musicais com os grupos brasilienses Os Cabelo Duro, Penúria Zero, Função Inversa e Kaustica. É o Circuito Candango de Skate, que acontece dias 25 e 26 de janeiro na maior e mais bem conservada pista de skate do Distrito Federal, localizada na quadra 300 do Recanto das Emas. As atividades programadas abordarão temas como a violência, o preconceito, o uso de drogas e a preservação do meio ambiente. A proposta dos organizadores é desmistificar preconceitos relacionados à cultura do skate e promover a reflexão e aconscientização sobre esporte, cultura e educação. Também querem destacar a responsabilidade ambiental, chamando a atenção para a importância de se tratar os resíduos gerados de forma correta e dar uma destinação adequada ao lixo eletrônico, com o intuito de causar o menor impacto possível ao meio ambiente. Inscrições e informações em https:// skatecandango.wixsite.com/circuito.
Um cachorro com inteligência artificial que se comporta como um animal de verdade, uma impressora 3D totalmente conectada ao celular, um robô que dança e outro que escreve na parede. A alta tecnologia domina a programação infantil do shopping Conjunto Nacional até 30 de janeiro. Crianças de 18 meses a 14 anos podem participar de experiências que unem robótica e inovação na atração Kids Tech, dividida em diversos ambientes, de acordo com a faixa etária. “O objetivo é inspirar os participantes e desafiá-los com as tecnologias do futuro, que inclusive já chegaram e nas quais essa geração está inserida com muita naturalidade”, explica Cláudia Durães, gerente de marketing do shopping. No Espaço Kids, crianças de quatro a sete anos vão aprender alguns fundamentos básicos de programação e poderão criar e personalizar comandos para um robô. Já no Smart Lab as crianças vão participar de um circuito interativo e tecnológico, no qual vão interagir com um robô e sensores inteligentes, passando por divertidos desafios. Diariamente, das 14 às 20h, com entrada franca.
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Vinicius de Melo, Agência Brasília
gandhinoparque Em tempos bicudos como os nossos, em que o fantasma de uma guerra no Oriente Médio preocupa o mundo todo, existe coisa melhor do que relembrar o legado de um pacifista da importância de Mahatma Gandhi? Para comemorar os 150 anos de nascimento do líder indiano e os 60 anos de Brasília, o estacionamento do Parque da Cidade tem agora um busto em bronze de 300 quilos. Inaugurado dia 9 deste mês, foi doado à cidade pelo Conselho de Relações Culturais do Ministério das Relações Exteriores do Governo da Índia para homenagear o líder espiritual indiano que ficou conhecido como o apóstolo da paz e da não-violência. Na cerimônia de inauguração, o governador em exercício Paco Britto afirmou: “É um objetivo compartilhado entre Índia e Brasil, baseado nos laços de amizade e cooperação, em busca da mitigação de problemáticas globais, tais como a fome e a violência, seguindo nosso preceito constitucional de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.” Gandhi contribuiu para a independência da Índia e participou da luta contra o fim do colonialismo inglês. Sua forma de manifestação pacífica e o movimento de resistência sem violência representam a “Satyagraha”, termo que Gandhi usou para batizar a filosofia que o tornou conhecido mundialmente.
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brasíliaemroma Endereço: o belíssimo Palácio Pamphili, também chamado de “a casa do Brasil na Itália”. Quem estiver visitando Roma até 28 de fevereiro terá a oportunidade de conferir a exposição Brasília – Da utopia à capital, na Embaixada do Brasil. Com curadoria de Danielle Athayde, a mostra exibe acervo de aproximadamente 300 obras de arte e documentos, entre eles uma maquete do Plano Piloto especialmente concebida para a exposição a partir de imagens de satélite em alta resolução, medindo 6 x 4,80 m, considerando a escala de 1:3500. Também estão lá esculturas de Maria Martins, Bruno Giorgi e Alfredo Ceschiatti, bem como fotografias de Marcel Gautherot e Mario Fontenelle. As obras são provenientes de coleções brasileiras públicas e privadas, entre elas as dos acervos do Instituto Moreira Salles, do Arquivo Público do Distrito Federal e da Coleção Brasília – Domício e Izolete Pereira. A exposição examina as ideias, personagens e percursos históricos que levaram à criação de Brasília em 1960 e a transformaram em síntese do pensamento modernista brasileiro. A mostra faz parte das comemorações do aniversário de 60 anos da cidade, no dia 21 de abril de 2020, e já circulou por 11 capitais, entre elas Paris, Berlim, Moscou e recentemente Londres. De segunda a sexta-feira, das 10 às 17h. Entrada franca.
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Desde dezembro de 2018, o Espaço Cultural Renato Russo vem oferecendo cursos de desenho, pintura a óleo, aquarela, ilustrações, história em quadrinhos e fotografia para quem está à procura de um hobby, de aperfeiçoar uma técnica, encontrar um estilo ou simplesmente conhecer algo novo. Os trabalhos resultantes desses cursos estão expostos até 9 de fevereiro na 1ª Mostra de Artes Visuais das Oficinas do Espaço Cultural Renato Russo. A ideia foi proporcionar aos participantes um espaço que permitisse o desenvolvimento das técnicas, e também a expressividade individual e coletiva, aproximando-os dos processos e das particularidades do fazer artístico. Em contato com a exposição inédita do artista chinês Yanbei, que tem como linguagem artística principal a pintura, em especial a aquarela sobre papel, os brasilienses Bia Leite, Fernanda Azou, Guilherme Moreira, Gustavo Silvamaral, Kabe Rodriguez, Rômulo Barros e Thalita Caetano, jovens artistas em desenvolvimento, propõem em suas obras um viés experimental nas mais diversas linguagens. Diariamente, das 10 às 20h, com entrada franca.
favelasounds É o funk da MC Tha que embala o Favela Sounds, dia 31 de janeiro, na Birosca do Conic (Setor de Diversões Sul), a partir das 23h. Sucesso absoluto entre o público LGBTQIA+, a cantora nascida em Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste paulistano, se apresenta pela primeira vez em Brasília. Primeira mulher de sua comunidade a cantar funk e circular por espaços antes frequentados só por homens, tornou-se parceira de novos talentos da música brasileira. No repertório do show, as canções Coração vagabundo, Céu azul, seu dueto com Jaloo, Onda, que no álbum divide também com Jaloo e Felipe Cordeiro, Abram os caminhos, Rito de passá e outras, grande parte delas de sua autoria. A festa Favela Sounds convida MC Tha na Birosca tem discotecagem de Pati Egyto, criadora dos blocos de carnaval Essa Boquinha eu Já Beijei e Tuthakasmona, e do DJ Tyrone, destaque do funk no DF. Ingressos a R$ 25 (pré-venda) e R$ 35 (primeiro lote), à venda em www.eventbrite.com.br.
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Partindo do princípio de que nem só os pequenos podem se divertir e aprender nas férias, o Espaço Cultural Alexandre Innecco (ECAI) realiza, de 20 de janeiro a 19 de fevereiro, a Colônia de Férias para Adultos, com três oficinas ligadas à música. Uma delas é História da MPB, com duração de oito aulas, às segundas e quartas-feiras, das 18 às 19h. De acordo com o idealizador do ECAI, maestro Alexandre Innecco, “trata-se de um divertido passeio pela trilha sonora da História do Brasil no Século 20, de Chiquinha Gonzaga (foto) ao rock brasiliense, passando pelo Chorinho, pela Era de Ouro do Rádio, pela Bossa Nova, pela Tropicália, até chegar à chamada Nova MPB”. Para quem não é sócio do ECAI, o curso custa R$ 249, sendo que casais têm 20% desconto. História do Jazz e História da Música Erudita são os dois outros cursos oferecidos em janeiro pelo mesmo espaço cultural. Quem fizer dois ao mesmo tempo paga R$ 349, com o mesmo desconto de 20% para casais. Detalhes em www.alexandreinnecco.com.
mostradeartesvisuais Divulgação
fériasparaadultos
Sergio Paiva
nãoinventarampalavras Esse é o título do single e também do videoclipe que Mariano Júnior lança dia 29 de janeiro, às 21h, na Cervejaria Criolina, com entrada franca. “Queria compor uma música nova, escrever algo diferente e expressar alguns sentimentos. Passei a rabiscar e deletei vários arquivos, até entender que nem tudo cabia em palavras. Parece que realmente não inventaram todas as necessárias ainda”, explica o cantor e compositor, que também escreveu os arranjos teclados e vocais para a gravação com a banda formada por Rodrigo Rocha (violões), Pedro Augusto (bateria) e Eduardo Neto (contrabaixo). Ele convidou o amigo David Rodrigues para criar o roteiro do videoclipe rodado no café Le Parisien, nas ruas do Plano Piloto, na casa de Juliana Lustosa – que, juntamente com Bernardo Schelemper, forma o casal do videoclipe – e no estúdio do artista. O título Não inventaram palavras, segundo Mariano, também convida a pensar sobre acessibilidade. A participação de portadores de deficiência auditiva e o uso da a Língua Brasileira de Sinais reafirmam o poder da comunicação não verbal. Goiano, Mariano Júnior se apaixonou pela música aos três anos de idade. Aos 14 já tocava piano na igreja. Sua trajetória musical em Brasília começou em 2001, quando foi aprovado no curso de composição da UnB. Já tocou com as bandas Squema 6, Edição Extra, Mr Magoo, Henrique & Ruan e Toccata.
temporadateatral Diego Bresani
amanndaeletrônica Conhecida no cenário eletrônico por ser a única brasileira a emplacar quatro hits no Chart Dance da Billboard, Amannda desembarca, dia 25 de janeiro, na festa Verano da Boate Victoria (SAAN, Quadra 1). Ela vai apresentar seu single Yes, em companhia da parceira Nikki Valentine. Juntas, elas bombaram com o clipe Dont’ you dare, no ano passado. O single composto pelas artistas em 2019 ganhou videoclipe gravado em Los Angeles, com direção de Robar Sims e com participação de Ginger Eddie. Dona de uma sólida carreira de 14 anos dentro do segmento eletrônico e uma carreira internacional de grande amplitude na cena musical, Amannda acaba de voltar de uma turnê que incluiu Lisboa, Genebra, Madri, Paris e Bangcoc, Porto Rico, México, Rio e agora Brasília. Ingressos a partir de R$ 29,99 à venda em ingressosvictoriahaus.com.
Verão é tempo de teatro no Espaço Cena (205 Norte, Bloco C), que tem programação recheada de espetáculos premiados, shows e oficinas. Ao longo de três meses, o teatro de bolso irá sediar peças dirigidas ou interpretadas por nomes consagrados das artes cênicas do Distrito Federal, como Similião Aurélio (foto), Luciana Martuchelli, Ana Flávia Garcia, Jonathan Andrade, José Regino, Ana Luiza Bellacosta e jovens talentos como João Ricken, Elisa Carneiro, Guilherme Carvalho. Neste fim de semana, Similião Aurélio apresenta o monólogo O prestigitador, de Nicolás Vergara Grey, no qual conta a história de dois amigos que viajam para consultar um grande mago e aprendem a se tornar invisíveis, enquanto treinam sua capacidade de ressuscitar os mortos. Dias 31, 1º e 2 de fevereiro será a vez do consagrado Tsunami, com direção de Jonathan Andrade para monólogo da atriz Ana Flávia Garcia. Informações e programação em www.facebook.com/espacocenabrasilia e pelo telefone 3349.3937, das 14 às 18h.
Léo Castro
Um jovem de 18 anos, acusado de ter matado a própria mãe de forma violenta, vai a julgamento. Ele alega inocência. Dentro de poucas horas, dez pessoas irão decidir se é culpado ou inocente. Está assim formada a trama de A sentença, o novo espetáculo do diretor Fernando Guimarães, que estará em cartaz de 6 a 23 de fevereiro no CCBB. As motivações das criações do diretor sempre buscam diálogos que operem a partir da natureza humana, da alma das coisas. “Acho que esse trabalho é uma tentativa de falar sobre o que poderia ser uma morte anunciada, quando nos mantemos alheios ao outro”, afirma o diretor. Fazem parte do elenco Adair Oliveira, Bete Virgens, Eduardo Jayme, Fabiana Tenório, Filipe Moreira, Jefferson Leão, Logan Dias, Luana Coelho, Maria Moreira, Pedro dos Anjos, Rafael D’Carvalho, Raquel Mendes e Sergio Tavares. Classificação indicativa: 14 anos. De quinta-feira a domingo, às 20h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15, à venda na bilheteria do CCBB.
Thales Alves
danaturezadascoisas
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
Da terra de Lampião
à capital do Brasil
POR ALEXANDRE MARINO FOTOS SÉRGIO AMARAL
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erra Talhada, cidade do sertão de Pernambuco, é a terra de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e de Bartolomeu Rodrigues, o Bartô, secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. Mas, ao contrário do cruel cangaceiro que aterrorizou o Nordeste no início do século passado, Bartô chegou para apaziguar. A comunidade artística de Brasília estava em pé de guerra com o governo e especialmente seu antecessor, Adão Cândido, que suspendeu dois editais do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de 2018 para aplicar os recursos nas obras de recuperação do Teatro Nacional. Logo ao chegar, Bartô mostrou que seu estilo será outro. Recebeu a Frente Unificada da Cultura, formada por artistas e militantes culturais, e abriu um canal de diálogo com o Conselho de Cultura do DF, que estava isolado das decisões da Secretaria. Os R$ 25 milhões bloqueados do FAC acabam de ser liberados pelo secretário, e ele promete divulgar até fevereiro o edital para o primeiro semestre. Bartô lembra que o FAC é o mecanismo de fomento da cultura do DF, e tem que ser cumprido. “A cultura faz parte do desenvolvimento do DF. Se o projeto cumpre
as etapas definidas pelo edital, atenda-se! Meu objetivo é democratizar e ampliar cada vez mais o FAC.” Ele fez questão de convidar Wellington Abreu, presidente do Conselho de Cultura, órgão colegiado deliberativo estabelecido pela Lei Orgânica do DF, para o anúncio de liberação dos recursos. “Os órgãos e mecanismos não vinham sendo acionados, mas o meu objetivo é manter um canal transparente de discussão com a comunidade”, explica o secretário. Bartô confessa que ficou surpreso com a reação favorável da comunidade artística à sua indicação para o cargo, anunciada às vésperas do Natal. “Sempre estive próximo aos movimentos culturais, mas nunca de forma orgânica”, recorda. Jornalista, fez carreira vitoriosa na imprensa de Brasília, e chegou a dirigir a sucursal do jornal O Estado de S. Paulo. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas, que abriu para diversas correntes culturais. Escritor e desenhista diletante, Bartô fez teatro na adolescência e circulou nas áreas de música e artes. “Sempre fui muito aberto e sensível para a cultura”, lembra ele. Envolvido na política sindical, manteve boas relações com correligionários e adversários. Ao assumir o cargo de secretário, recebeu uma ligação de um parlamentar: “Não o conheço, mas tenho boas referências de você. Boa
sorte”, ele lhe disse. Bartô chegou a Brasília em 1977, para estudar jornalismo. Queria escrever. “De certa forma, foi o teatro que me trouxe para cá”, conta. Três anos antes, o grupo de teatro formado por ele e 15 jovens vivia o auge e mobilizava Serra Talhada, então com 30 mil habitantes. O grupo, mesmo isolado no sertão, era atento aos acontecimentos nacionais e internacionais e, coerente com a postura da juventude dos anos 70, propunha com sua arte a paz e a não-violência. Mas, em agosto de 1974, seu parceiro e melhor amigo, Antônio Carlos da Rocha, foi morto com um tiro na cabeça, dentro da sala de aula, por outro estudante. Foi um trauma difícil de superar, que obrigou Bartô a se tornar “psicólogo de si mesmo”. “Eu parava diante do espelho e dizia: ‘Você não está louco, você não está louco’”, recorda. Antes de chegar a Brasília, viveu por um ano em Recife. Serra Talhada já havia ficado para trás, mas o jovem Bartolomeu queria se afastar ainda mais do clima de violência que impregnava o interior do Nordeste e especialmente sua região. Pensou em ir para São Paulo, que o assustava pela sua dimensão gigantesca. Um dia, folheando uma revista, viu fotos de Brasília e leu sobre a bela capital do país, com seus 300 mil habitantes. Deci-
diu vir para cá. Em 2013, Bartô publicou o livro Três contos de réis, que considera uma homenagem ao amigo morto de Serra Talhada. Ele já contava com vasta experiência nas redações e era profissional conhecido e reconhecido em Brasília. Há alguns anos prestava serviços de assessoria de comunicação nos meios jurídicos, onde conheceu Ibaneis Rocha, de quem se tornou amigo. Acompanhou-o desde as primeiras campanhas eleitorais para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional do DF, da qual foi presidente. Ibaneis venceu as últimas eleições para o governo do DF com a valiosa colaboração de Bartolomeu Rodrigues, que o ajudou a redigir seu programa, especialmente as propostas para a cultura. Bartô recebeu um recado do governador: “Faça o que tem que ser feito.” Sem ter tido tempo ao menos para pensar se aceitaria o convite, ele garante que seu único objetivo é contribuir. “Ele sabe o que penso e sabe que sei o que ele pensa. Estou trazendo minha capacidade para ajudá-lo.” “Ibaneis é um homem de centro, mas com um pé na esquerda”, descreve Bartô. “Há anos somos amigos muito próximos, e suas posições políticas coincidem com as minhas. Eu contribuí com o ideário da Ordem, discuti questões políticas e filosóficas com ele.” Bartô lembra que sempre se identificou com a OAB. “É uma entidade que defende a liberdade, a democracia, os direitos humanos, e que tem na defesa corporativa uma atribuição secundária. As cores da OAB, azul, branco e vermelho, são as cores da liberdade, da fraternidade e da igualdade, estabelecidas pela Revolução Francesa. E a formação política de Ibaneis aconteceu dentro da OAB”, observa o secretário. Restaurações Além de resolver a balbúrdia do FAC, ele tem outras missões espinhosas. Abril vem aí, trazendo o aniversário dos 60 anos de Brasília. O Teatro Nacional, símbolo cultural não apenas do DF, mas do Brasil, está fechado há cinco anos, aguardando obras de restauro. É possível reabrir o teatro a tempo das comemorações? Bartô acredita que sim. O governo do DF assinou contrato com o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, do Ministério da Justiça, que destina recursos provenientes de aplicação de multas por so-
negação, fraudes e outros delitos, para recuperação de monumentos históricos, entre outras finalidades. São R$ 33,4 milhões garantidos. O projeto prevê restauração da Sala Martins Pena, jardins e fachada. Para a Sala Villa-Lobos, menos deteriorada, há recursos de outras fontes, que ele não adianta quais são. Mas garante: “Desse limão faremos uma limonada. As coisas estão andando a grande velocidade”. O Museu de Arte de Brasília (MAB) estará de volta entre junho e julho, garante Bartô. Segundo ele, as obras de recuperação estão adiantadas. Todo o acervo está guardado “em local secreto”. Logo, “vamos tirar todo esse material do sarcófago”, brinca. Enquanto isso, ele recomenda uma visita ao Museu da República, que proporciona uma bela vista da janela de sua sala, voltada para a Esplanada. “É um dos museus mais visitados do Brasil, e muitos brasilienses não sabem disso”, afirma. Como tem um dos melhores auditórios da cidade, Bartô quer transferir para lá as apresentações da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, atualmente realizadas no Cine Brasília. “O Cine Brasília tem que ser só cinema. A programação está ótima, o público está comparecendo. Estamos conversando com muita gente e vamos melhorar ainda mais.” Também é o caso, lembra ele, da Biblioteca Nacional, que tem alta frequência de estudantes, especialmente aqueles que se dedicam a concursos. “Temos auditório, espaço para clubes de leitura, ótimos locais para estudo. A população precisa conhecer melhor a biblioteca.” Outra questão urgente em pauta é o Carnaval, que está chegando. Mas o secretário garante: as escolas de samba não receberão recursos se não cumprirem as normas legais. “As escolas e os blocos não serão impedidos de sair, ninguém vai proibir. Mas para receber dinheiro público, é preciso cumprir normas.” O secretário defende que se rediscuta o Carnaval de Brasília. “Vivemos numa cidade que tem 108 km² de área tombada. É uma questão de patrimônio.” Bartô pensa em seus amigos de infância e observa que agora ocupa o cargo de secretário de Cultura da capital do país. Não é pouca coisa. “Eu quero deixar uma marca”, afirma. “Estou aqui para isso, e conto com a participação de toda a comunidade.”
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BRASÍLIA60ANOS
A cidade vista de cima POR VICENTE SÁ
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que é, o que é, que dá muitas voltas e não sai do lugar? A brincadeira do “adivinha”, tão popular na nossa infância, é um gênero textual que faz parte da cultura popular de vários povos e que ajuda na compreensão do sentido das palavras e de vários outros conhecimentos que nos acompanharão por toda a vida. Nesse mesmo caminho, Ricardo Lins Brasiliense – que, apesar do sobrenome,
é um paraense que chegou a Brasília em 1967, com um ano de idade, hoje apaixonado por fotografia e pela cidade – criou uma nova brincadeira juntando as duas paixões. O “adivinha” dele fez tanto sucesso na Web que acabou virando o livro Que lugar é esse? Descubra a capital do Brasil, lançado no final do ano e já próximo de ganhar uma segunda edição. O livro, de 140 páginas, traz fotos de prédios, monumentos e outros locais da cidade, todas clicadas com auxílio de um drone. O inusitado do ângulo torna as
imagens desconhecidas e surpreendentes para nós que só observamos essas obras com os pés no chão. Daí, nasce a pergunta: que lugar é esse? E não há quem não tente reconhecer que estrutura é aquela retratada. Para tranquilidade do leitor, no verso de cada fotografia o autor coloca o nome do prédio ou da obra, uma imagem vista de frente, o nome do arquiteto, a localização e, às vezes, o nome do engenheiro calculista. Um QR Code, também disponibilizado no verso, mostra a localização para os leitores mais chegados à tecnologia. Ricardo sempre se dedicou à fotografia de forma amadorística, mas com muito empenho. Possuía bons equipamentos e fazia fotos de paisagens, família e, principalmente, de pássaros. O que talvez explique a vontade de realizar fotos aéreas. “São fotos tiradas de fevereiro a julho de 2019, quando eu passei a trabalhar com o drone. A primeira que eu postei no site Memória de Brasília foi a do Cine Brasília. Foi com ela que tudo começou. Os internautas passaram a pedir mais fotos, indicar locais e, depois, até sugeriram que eu fizesse o livro. Essa comunicação é muito gratificante”, afirma Ricardo Brasiliense. Editado pela Chiado Books, empresa portuguesa com sucursais no Brasil, Angola e Cabo Verde, o livro, que custa R$ 44, já vendeu mais de 300 exemplares em pouco mais de um mês de lançamento e pode ser encontrado na Banca da Conceição (308 Sul), Mercado Cobo-
gó (704/5 Norte), Loja de Drones D59 (Feira dos Importados), além dos sites da editora Chiado (www.chiadobooks.com) e do autor (www.quelugareesse.com.br). Neste último, o preço é de R$ 51,95, pois está acrescido do valor do frete para todo o Brasil. Com fotos que mostram a imensa ri-
queza arquitetônica e urbanística de Brasília, o livro/adivinha de Ricardo Brasiliense está sendo considerado um atestado de amor à capital do país e uma ótima lembrança para quem não é daqui. E, por falar em adivinha, a resposta àquela pergunta do começo da matéria é relógio.
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GALERIADEARTE
Guerreiro do Divino Amor
Arte e arquitetura POR WALQUENE SOUSA
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uem anda pela capital federal pode ser agraciado, a qualquer momento, pela beleza das obras de Oscar Niemeyer, responsável pelas formas arquitetônicas ousadas que revolucionaram a arquitetura moderna. No entanto, pouco se comenta a respeito da casa que ele projetou para morar durante o período da construção de Brasília. Diferentemente de outras obras de Niemeyer, a residência recebeu traços coloniais, exibindo, assim, um lado pouco explorado do famoso arquiteto. Esse espaço abriga atualmente a exposição Triangular: arte deste século – Aquisições recentes para o acervo da Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília, composta por obras de mais de 100 artistas de todo o Brasil.
A exposição ficará em cartaz até agosto, com entrada gratuita, de domingo a segunda, das 8 às 18h. Durante esse período também serão realizadas programações paralelas, com ativações artísticas e palestras. Destaque para as ações educativas, que terão início em março, na época da volta às aulas, pois os estudantes representam o principal público do espaço. “Embora almejemos a presença dos universitários, a exposição é aberta a todo público”, ressalta Ana Avelar, curadora da Casa Niemeyer e professora de Teoria, Crítica e História da Arte na UnB. Ela explica que a primeira ação acontecerá com a chegada de duas novas obras de artistas brasileiros importantes no cenário nacional. Serão realizadas palestras, rodas de conversa e diversas outras atividades. A agenda completa será divulgada nas redes sociais da Casa Niemeyer.
Segundo as curadoras Ana Avelar e Gisele Lima, ex-aluna do curso de Arte da UnB, a exposição foi pensada a partir de alguns temas atuais. “Nós queríamos uma coleção de arte contemporânea que apresentasse os principais debates em discussão atualmente, em níveis nacional e internacional, tais como o feminismo, a questão afro, a questão queer, o meio ambiente e a nova arte contemporânea indígena. Todos esses assuntos estão sendo discutidos no mundo e interessam ao museu universitário”, explica Ana. Os participantes da mostra estão entre os mais reconhecidos no cenário artístico dos últimos anos, como Bárbara Wagner, que ocupou o pavilhão brasileiro da 58ª Bienal de Veneza, em 2019; Guerreiro do Divino Amor, premiado com a Bolsa Pampulha (MG) e vencedor do Prêmio Pipa 2019; Denilson Baniwa,
que será o representante brasileiro na 22ª Bienal de Sidney, Austrália, este ano; Lyz Parayzo, participante de importantes mostras nacionais, como Histórias da sexualidade (Masp/SP) e Mulheres na coleção do MAR; e Dalton Paula, integrante do 36º Panorama da Arte Brasileira e vencedor do 7º Prêmio Marcantonio Vilaça, entre outros. O título da exposição foi inspirado na “abordagem triangular” da professora Ana Mae Barbosa, referência em arteeducação, que lecionou nas Universidades de Brasília e São Paulo, primeira pesquisadora no Brasil a ter doutorado na área e a se preocupar com a sistematização do ensino de arte em museus do país. A abordagem teorizada por ela pretende levar aluno e professor à reflexão crítica sobre arte, assegurando uma aprendizagem que se baseia em três pilares: contextualização, apreciação e prática. “Um museu universitário é importantíssimo, fundamental para todos que se interessam por artes. O museu universitário é um espaço dedicado à educação. Sabemos que a arte hoje em dia é vista como um instrumento educativo que está no nosso dia a dia, e nos mostra outros mundos possíveis, realidades diferentes, e nos indica futuros alternativos que podemos vislumbrar para nossa vida”, diz Ana Avelar. Todas as obras que estão na exposição foram doadas pelos artistas para a Universidade de Brasília. De acordo com Ana Avelar, a Casa Niemeyer tem sido reconhecida nacionalmente como um espaço dedicado à arte contemporânea. “Acreditamos que os projetos arquitetônicos de Niemeyer atendem muito bem à função de museu, como o MAC, de Niterói, o MOA, de Curitiba, e o Museu de Arte Moderna de São Paulo”. A curadora destaca ainda que existe encantamento e curiosidade de quem vai à Casa Niemeyer pelo projeto arquitetônico. “De modo geral, as pessoas vão para ver as exposições, mas também para conhecer a casa, que é de partido neocolonial, ou seja, distinto daquele que estamos acostumados a ver nos outros projetos de Niemeyer espalhados por Brasília e pelo mundo, que são modernistas”.
Dalton Paula
Denilson Baniwa
Triangular: arte deste século
Até agosto na Casa Niemeyer (Quadra 26, Conjunto 3, Park Way). Diariamente, das 8 às 18h, com entrada franca.
Bárbara Wagner
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GRAVES&AGUDOS
Comboio Percussivo
Alessandra Terribili
Esquenta pro Carnaval POR HEITOR MENEZES
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uis o cristianismo que o Carnaval seja o período compreendido entre a Epifania e o início da Quaresma. Ou seja, entre o Dia de Reis e a Quarta-Feira de Cinzas, o negócio são as festas ditas profanas. Vocês sabem, aquela acabação, liberou geral, seja lá o que isso signifique. Segundo o calendário, este ano o Carná cai em fevereiro. Até lá e um pouco depois, haja costume pagão. E costume pagão que se preze tem que ter música para embalar – respeitosamente – tanto a saliência quanto a concupiscência. O arrependimento vem depois, não interessa agora. Aqui vai um guia da trilha sonora perfeita para cada tipo de hedonismo à disposição do cliente neste verão.
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Selvagens À Procura de Lei
Começando em 23 de janeiro, temos na zona central de Brasília o pessoal do Canteiro Central propondo a ocupação cultural na Quadra 3 do Setor Comercial Sul. Assim, nessa data ocorre o Carnaval Psychedelic 2020, o qual vem a ser manifestações da música eletrônica para pôr a galera em transe. Escalados para o lance, entre outros, a conexão BrasíliaAlemanha com o coletivo Mental Trauma Live, Malum e Yxibu Live, além de outros ligados à psicodelia eletrônica. Atenção: evento indoor com ingressos cobrados. Nessa mesma data, quem estiver com preguiça de ir até o centro da capital pode se esbaldar na Cervejaria Criolina (SOF Sul), onde acontece o Ensaio Geral – Carnaval 2020 – Comboio & Convidadxs. Em ação, o Comboio Percussivo
e o “x’ de “convidadxs”: DJ Julpagul (DF), Emília Monteiro (AP) e Ricardo Costa (BA). Na mesma Criolina, dia seguinte (24), temos o pessoal da Funqquestra promovendo em meio ao público a Roda de Funk com uma mistura que vai de Caetano a Stevie Wonder, passando por Bruno Mars, sons autorais e outros quintais. De volta ao centro da cidade, dia 24, no Outro Calaf (Setor Bancário Sul), pessoal do bloco Essa Boquinha Eu Já Beijei comanda a Queimando a Largada. Segundo os organizadores, trata-se de um “treinamento rebolativo coletivo”, tendo em vista o destravamento da pélvis dos foliões que não querem fazer feio durante o tríduo momesco. O Toinha Brasil Show, grande templo do rock no Setor de Oficinas Sul,
Funqquestra
Tropical. Confirmados a Orquestra Cafuçu e Esdras Nogueira (ex-Móveis) tocando na íntegra o álbum Transa, de Caetano Veloso, discaço de 1972, aquele que tem It’s A Long Way e Mora na Filosofia. Onde? Na Birosca (Conic). Esse sábado é véspera do dia 2 de fevereiro, o Dia de Iemanjá. “Não pode existir festa popular mais bela do que a de Yemanjá, no Rio Vermelho”, lembra uma autoridade no assunto, o inesquecível Dorival Caymmi. Portanto, a pedida é curtir as oferendas a Janaina no Feitiço Mineiro (306 Norte), onde rola o Canto de Iemanjá, com a cantora Alessandra Terribili mandando sambas e ijexás em louvor à Rainha do Mar. Vocês querem bacalhau? – perguntava o Chacrinha. Vocês querem Carnaval? – pergunta o Libanês. Sim, responde a multidão. Então, a parada é ficar ligado no embalo Setor Carnavalesco Sul Convida... Bora Pra Cuba, Ventoinha de Canudo e Orquestra Alada Trovão da Mata, todos mandando um sacundim da pesada, dia 1°, no Corredor Central (Quadra 4 do SCS). Seguindo em frente, dia 7, no Clube do Choro (adjacências da Torre de TV) tem homenagem a Belchior (1946-2017), um dos caras mais bacanas que a nossa MPB já produziu. A cantora Alessandra Terribili comanda o tributo no show Belchior, tudo outra vez, no qual revisita a obra do grande bardo bigodudo. Estão nessa, além de Alessandra Terribili, o guitarrista Marcus Moraes, o baixista Rodrigo Balduíno e o baterista Thiago Cunha. Como convidados, o duo de violinos Fred Paegle e João Dias e o intérprete, compositor e baixista Vavá Afiouni. Dia 8, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, parada totalmente di-
ferente é a Orquestra Petrobrás Sinfônica, rendendo homenagem ao Queen, de Freddie Mercury e cia. Nesse, a inspiração – é claro – advém do premiado filme Bohemian rhapsody. Com regência de Felipe Prazeres e arranjos sinfônicos de Alexandre Caldi, o concerto tem a presença de 37 músicos se desdobrando como podem na fina flor dos sucessos do Queen, tais como Bohemian rhapsody, Love of my life, Don’t stop me now, We will rock you e We are the champions. Uma festa para Queenmaníaco nenhum botar defeito. Chega o dia 14 e tem Lacuna Coil, direto de Milão para o palco do Toinha Brasil Show. A banda italiana de metal gótico cai como um corvo de uma tonelada (ou uma graúna) na passarinhada colorida do carnaval. Pois esse é o charme. Ao lado dos vocais guturais do cantor Andrea Ferro, brilha o contraponto da cantora Cristina Scabia, considerada uma das mulheres mais bonitas e talentosas do rock pesado mundial. Os norteamericanos do Uncured abrem os trabalhos arrepiando um progressive death metal pra galera. Fechando a tampa, dia 15 é a vez do cantor norte-americano Dave Bickler experimentar o calor humano nas dependências do Toinha Brasil Show. Bickler é a voz por trás de Eye of the tiger, estrondoso sucesso da banda Survivor, na verdade um dos hits inesquecíveis dos anos 1980, desde que surgiu como canção-tema no filme Rocky III (1982), de Sylvester Stallone. Curioso é que Bickler saiu logo após esse sucesso e a vaga foi ocupada por Jimi Jamison (1951-2014), com quem o Survivor produziu outra penca de hits, incluindo música-tema do filme Karatê Kid (1984). Em suma, é noite de rock clássico na veia! Fotos: Divulgação
não deixa a guitarra desplugar e vem promovendo desde o início do ano uma série de shows-tributos aos grandes nomes do rock mundial. Nesse curto período já rolaram The Clash, com Philippe Plebe Rude Seabra, U2 One e homenagem ao AC/DC. Dia 24, direto do Paraná tem a The Cure Cover Brasil, reunindo as manicures (ou curemaníacos) saudosas das canções e do clima dark da banda do grande Robert Smith. Sábado (25), na Criolina, tem Selvagens À Procura de Lei. Pode parecer um título contraditório (se é selvagem não tem porque procurar a lei), mas esse coletivo direto do Ceará manda um rock antenado com a contemporaneidade. Se alguém falou em Artic Monkeys, Jack White e The Strokes, esse é o caminho. Enquanto isso, nesse mesmo dia, no Setor Comercial Sul, o rebolation de préCarnaval fica por conta da Festa Reconvexa, cujo epíteto aponta para a frase “Brasilidades, lisergia, fogo no rabo e Maria Bethânia” ou “Brasilidades, xero no cangote e laiá-laiá’, o que dá na mesma. No line-up, 7 na Roda, Fanfarra Silivestre (forró) e DJs residentes Tamara Maravilha, Pequi e Emídio. Atenção: esse é no Corredor Central (Quadra 4 do SCS). A essa altura, a pessoa já está cheia de pecados, mas não tem como expiar porque é uma parada em cima de outra, entende? Não dá tempo para a castidade. Assim, pulando da frigideira direto para o fogo temos dia 31 o Favela Sounds convida MC Tha, fervilhando de funk a Birosca do Conic. Completam a “naite” a DJ Pat Egyto (blocos Essa Boquinha Eu Já Beijei e Tuthakasmona) e DJ Tyrone (Furacão 3000). Chega fevereiro, e logo dia 1° tem o Baile Cafuçu do Cerrado N° 10 – Transe
Essa Boquinha Eu Já Beijei
Lacuna Coil
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Rock no vinil TEXTO E FOTOS HEITOR MENEZES
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m um tempo muito, muito distante, os dinossauros do rock reinavam neste planeta. Há registros. Qual Godzillas, por onde passavam as bandas e os grandes artistas do gênero deixavam Tóquio e Jurassic Park arrasados. No Brasil, claro, os efeitos da onda sísmica do rock levaram um tempo para chegar, mas moldaram a paisagem. Esses efeitos continuam sendo sentidos em diversos quadrantes, atravessando gerações, em prova inconteste do alcance transglobal, transcultural e perene desse negócio chamado rock’n’roll. Portanto, não é de se admirar que, em Brasília, o rock, digamos, psicodélico, lisérgico e angular (na falta de termos precisos), com o perdão das palavras tortas, tem seus seguidores e protagonistas. Gente que cursou disciplinas como jazz, free jazz, Pink Floyd, Rush (anos 70); King Crimson I, II, III e IV; Yes, Canter-
bury Sound, Kraut Rock etc e tal. Gente como o trio instrumental Protofonia, cujo terceiro trabalho de estúdio, intitulado simplesmente Terceiro, ganhou LP já tem uns meses. Feito com o auxílio luxuoso de crowdfunding, o long-playing é a mídia favorita de apresentação da banda, a coisa física que você leva pra casa, bota na vitrola, curte a capa e o encarte (assinados por Eduardo Belga), a bolacha girando, a agulha fazendo a mágica acontecer, enfim, todo o fetiche relacionado e a cultura do vinil dizendo a que veio. CD? Por enquanto, não. Detalhe: pra quem não tem vinil, o Protofonia pode ser encontrado nos streamings da vida. Mas o vinil é que é o lance. O terceiro trabalho do trio Janari Coelho (bateria), André Chayb (guitarra) e André Gurgel (baixo) segue a trilha do rock instrumental com grande poder de persuasão. Como? Surpreende e segura o ouvinte, disposto a se deixar levar pela via-
gem sonora. Ao fazer isso, ouvindo o LP (em aparelhagem decente, ok?), o ouvinte é convidado a penetrar na dimensão do som. A experiência aural e sensorial que o LP proporciona é tão impactante e importante que, outro dia, a Roteiro foi convidada a testemunhar a primeira audição do disco pelos integrantes da banda e pelo pianista e compositor francês Cyrille Verdeaux, que participa da faixa Lamento Selenita para a Terra angustiante, que encerra o tal LP Terceiro. Em um apartamento em Águas Claras (não convém perguntar como, mas por quê), Janari, Chayb e Gurgel encontraram Cyrille Verdeaux pela primeira vez depois que, concluídas as gravações do álbum, o músico francês retornou à Europa, após 15 anos como morador da Asa Norte. De passagem por Brasília, onde veio prestigiar a condecoração de sua esposa Maria de Fátima Verdeaux como profes-
sora emérita da Universidade de Brasília, Cyrille disse que o resultado – o produto final das gravações realizadas no estúdio Zimmer-Cöllen (Ceilândia) – o surpreendeu pela qualidade de produção e proposta musical. “Um tipo de música livre das amarras”, definiu. O comentário do músico francês é certeiro e revela outros nomes que foram vitais na elaboração e qualidade do terceiro disco do Protofonia, cuja produção executiva coube a Victor Valentim. Por um momento, no estúdio, na Ceilândia, estiveram reunidos em torno do trio brasiliense um ícone do rock progressivo francês (Cyrille Verdeaux), o lendário Pedro Baldanza (baixista do não menos lendário Som Nosso de Cada Dia, um dos expoentes do progressivo brazuca) e Oldair Vieira, responsável pela gravação e mixagem. Segundo o baterista Janari Coelho, trazer o piano de Verdeaux e Pedro Baldanza para fazer a direção musical, não tem como mensurar. “O Cyrille morava em Brasília e foi muito gentil com nosso convite. Já o Pedrão, a gente se conheceu pelas redes sociais, eu achava incrível que um cara como ele dava atenção aos fãs, era solícito com todo mundo. Um dia resolvi mandar o CD do nosso pri-
meiro trabalho, numa sondagem para ver se ele se interessava. Passou um tempo, daí ele entrou em contato. Com o Baldanza, fizemos, em 2015, nosso segundo disco – A Consciência do Átomo – e repetimos a parceira com o Terceiro. Esse foi o derradeiro trabalho dele”. Pedro Baldanza faleceu em 28 de outubro. O trabalho de alta qualidade junto ao Protofonia é seu canto de cisne. “Não podemos deixar de mencionar o trabalho igualmente incrível do Oldair Vieira, que também deu contribuição enorme ao nosso som”, destaca Janari. “O Pedrão dizia pra ele: cara, já passei por estúdios enormes, inclusive em Nova York. Você, aqui na Ceilândia, nesse espaço minúsculo, consegue fazer milagres. Parabéns”. Além dos ajustes do estúdio, Vieira emula à perfeição teclados vintages, que são a assinatura sonora do rock progressivo. Quem prestar atenção vai ouvir minimoogs e mellotrons, essenciais nas viagens progressivas. A partir do núcleo formado por bateria-baixo-guitarra – a música do trio é altamente original. É feita de ideias intrincadas, jogos musicais de tirar o fôlego, intelectualidade irônica, e tem o improviso como regra para abolir todas as regras. Claro, tem a cacofonia nos momentos de
espasmos. E a placidez como pausa para respiração. Como o rock da melhor estirpe, o Protofonia não se prende ao passado, como à primeira vista pode perecer. De acordo com o guitarra André Chayb, uma convicção pessoal o faz crer que não faz música presa ao passado, como pode sugerir a evidente influência de King Crimson no som do grupo: “Já faz muito tempo que não tenho a música dos anos 1960 e 1970 como referência. A gente olha sempre para frente, não para trás”. “A gente acredita que faz música do futuro”, arremata o baixista André Gurgel. No blog em espanhol Cabeza de Moog, o Protofonia ganhou bela resenha, em só um exemplo do quanto o trio atinge o mundo, graças às ferramentas da internet. “Fomos chamados de vanguarda sudamericana”, lembra Chayb. Mas, desde quando vanguarda é palatável? Responde Gurgel: “Esses atritos sempre aconteceram. (Nas artes) é sempre hora de romper com aquilo que já foi feito. Acho que é o que temos feito, essa ampla pesquisa que nos leva a quebrar fronteiras, a fazer música não convencional”. Para saber mais, é só acessar a página protofoniatrio.bandcamp.com.
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Aventura subterrânea A experiência de atravessar uma caverna é única. Às vezes, o silêncio é absoluto e a escuridão completa. TEXTO E FOTOS ANA VILELA
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epois de aproximadamente 330 quilômetros de asfalto, saindo de Brasília, eis que surgem à frente os últimos 49 quilômetros até o Parque Estadual de Terra Ronca, a partir do município de Guarani de Goiás. Basta entrar na via de terra e tudo muda. Raposas, seriemas, coelhos e, dependendo da hora, até onças atravessam a estrada ou apontam às margens e, assustados, dão meia volta. Já no parque, a gente estica o pescoço para dar uma olhada rápida e soltar uma exclamação diante da abertura da caverna Terra Ronca I. Ali, começa a aventura de fato. Mas é melhor respirar e guardar a ansiedade. Não se entra nas grutas sem guias e sem capacete, lanterna e demais equipamentos necessários.
Ao final desses 49 quilômetros está o povoado de São João, com suas poucas casas, o cachorro que anda de moto, a arara-vermelha que vive por ali, os inúmeros sapos seresteiros, o gado que, às vezes, toma conta do caminho, e as cabras que pastam rente à cerca ao entardecer. O tempo é lento, de roça mesmo, ritmo quebrado pelos visitantes e pelas poucas pousadas. Localizada no nordeste de Goiás, a área protegida, de aproximadamente 57 mil hectares, tem 260 cavernas catalogadas – 200 secas e outras 60 molhadas. São corredores subterrâneos formados há 600 milhões de anos, cujo acesso às vezes exige cruzar rios interiores em meio à escuridão. No entanto, apenas cinco delas estão abertas à visitação: Terra Ronca I (nível fácil), Terra Ronca II (nível difícil), Ca-
verna Angélica (nível fácil), Caverna São Bernardo (nível moderado) e Caverna São Mateus (nível difícil). Todas com estrutura bem rústica, sem artifícios e iluminação. Saindo de Brasília, a direção é a BR 020. No caminho estão as cidades de Formosa, Alvorada do Norte, Posse e Guarani de Goiás. Antes de Posse, é preciso decidir se o destino será o povoado de São João ou o município de São Domingos, outra opção de estadia. Mas o ideal é sempre dormir em São João. Além de São Domingos ser mais longe de Brasília, de lá até o povoado, ou seja, até a entrada do parque, são 45 quilômetros de terra. Pela segunda vez consecutiva, passei a virada do ano na pousada Estação Lunar, em São João, com direito a ceia e DJ até altas horas. A energia é ótima e a comida saborosa. Os quartos são simples, mas aconchegantes e limpos, e o jardim está sempre cheio de flores e de animais que circulam por ali. À noite, geralmente tem voz e violão, profissional ou amador mesmo. De dia, os destinos dependem do ânimo de cada um: cavernas, riachos que ficam pela redondeza ou permanecer nas
próprias pousadas, de bobeira, sentindo a vida. Vindo da Bahia, o percussionista Genildo Costa escolheu ir para as cavernas. Ele nunca tinha entrado em uma e disse que ficou com medo e ansioso, principalmente quando o guia mandou apagar todas as lanternas para que os visitantes sentissem o silêncio e a escuri-
dão, mas, no final, admitiu: “Gostei da experiência e voltaria de novo. Gostei muito do desafio”. Já o músico Adriano Rocha, de Brasília, explica que gosta tanto de Terra Ronca que foi este ano pela terceira vez, e ainda pretende voltar várias vezes. “Me sinto do lugar.” Como o músico, talvez para deixar
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DIÁRIODEVIAGEM
sempre um gosto de quero mais, visito as cavernas aos poucos. A primeira foi Terra Ronca I. Cortada pelo Rio da Lapa, sua entrada é uma das maiores bocas naturais de caverna do Brasil, com 96 metros de altura e 120 de largura. Na virada de ano foi a vez da caverna Angélica, com acesso fácil e visitação possível até mesmo para crianças. Segundo o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil (CNC), com 14,1 mil quilômetros
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de extensão, essa é a quinta maior caverna do país. São cerca de dez salões com estalactites e estalagmites que, realmente, impactam. Em dois momentos, o guia pediu a todos que desligassem suas lanternas. No primeiro, nos deparamos com uma espécie de Atlântida, a cidade perdida. Com sua lanterna, o guia fez um jogo de luz em que as estalactites se refletiram na água do rio que dá nome à caverna. Além da
beleza, a cena mexe com o imaginário. Em um segundo momento, fica-se em total escuridão e silêncio, com certeza o maior que já ouvi em toda a minha vida. Ainda não encarei a São Bernardo, que, em dado momento, exige caminhar com água até a cintura e se equilibrar entre rochas para atravessar áreas mais perigosas. Tudo isso à luz dos capacetes e nada mais. Li em algumas postagens e matérias que Terra Ronca é apenas para quem curte aventuras e só. Claro que se alguém não é afeito à natureza, deve passar longe da região. Mas se alguém não quer ir para as cavernas, porém deseja um canto para ficar em paz, apreciar o bucólico, descansar de fato, voltar renovado para a vida urbana, São João é o lugar. Mas calma: por lá já tem internet. Para quem pretende ir para as cavernas, anote aí: roupas e calçados apropriados, repelente, dinheiro em espécie para as entradas (e também para o povoado), tanque do carro cheio e, sem dúvida alguma, muito respeito à natureza. Sim, você provavelmente vai se sujar, se molhar, se deparar com morcegos e outros bichos, talvez levar alguma queda... Tudo isso faz parte dessa aventura, de ter a sensação de estar dentro da terra, no silêncio absoluto, entre rios subterrâneos e estruturas construídas durante milhares de anos.
QUEESPETÁCULO
Doenças do
desespero
Pablo Salgado
POR LÚCIA LEÃO FOTO PABLO SALGADO
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palavra vem do latim “hiatus”, que designa o gesto ou ação de abrir ou separar. No português, hiato pode ser uma figura gramatical – quando duas vogais estão juntas numa mesma palavra, porém separadas em sílabas distintas que exigem dois esforços vocais – ou um fenômeno da anatomia animal – uma fenda, uma abertura em alguns órgãos, uma espécie de obstáculo que interrompe seu fluxo normal. Em sentido figurado, hiato traduz a ideia de interrupção, falta, lacuna. No espetáculo que estreia no próximo dia 31 no Espaço Cultural Renato Russo, hiato é uma fenda profunda na psiquê da sociedade contemporânea que a cada dia atinge mais indivíduos na forma de uma verdadeira epidemia de depressão, ansiedade e hiperestimulação cerebral, com consequências dramáticas como a escalada do número de suicídios.
“A peça aborda questões cada vez mais presentes na nossa sociedade e próximas de cada um de nós, mas que ainda são grandes tabus. É preciso falar sobre isso”, acredita o dramaturgo Arthur Tadeu Curado, autor premiado por peças como Dois de paus e Complexo de Cinderela, que assina o texto e divide o palco com a atriz e bailarina Larissa Salgado, sob a direção de Andréa Alfaia. Resultado de uma pesquisa de mais de um ano com assessoria de profissionais da área, Hiato trata de saúde mental sob a ótica de como as pessoas são atingidas especialmente pela hiperconectividade, superestimulação e a cobrança do desempenho. “Nessa nossa sociedade líquida, fluida, o indivíduo é o que faz e o que mostra. Sua essência, sua individualidade, seus sentimentos mais profundos são abafados, comprimidos, até quebrar e provocar um hiato na sua psiquê”, diz Arthur. Na peça, o autor elencou cinco grupos que sofrem especialmente com essa pressão e colocou em cena pessoas que são afetadas pelo que é agora conhecido como “doenças do desespero”: uma mãe em crise de depressão pós-parto; uma mulher trans confrontada com a dificuldade de relacionamento amoroso; um homem que, pressionado pela necessidade de produzir, não consegue vivenciar o luto; a família de uma doente que quer ser submetida a eutanásia e a família de um jovem suicida que precisa lidar com a perda também do direito de voltar a ser feliz. “Colocamos essas pessoas em cena para que elas falem dos seus porquês e justifiquem seus atos e escolhas”. Apesar da densidade do tema, a diretora Andrea Alfaia garante que Hiato é um espetáculo “pra cima”, que fala da morte para tratar da vida e para mostrar que as pessoas que passam por situações semelhantes não estão sós. “Sabemos que tratar dessas questões significa violar tabus. Revelar temas longamente encobertos exige força e quanto mais fortes as defesas, mais se tem que enfatizar o próprio ponto de vista. Em Hiato, abordamos os assuntos com muito cuidado. Através de uma linguagem teatral suave, nós os transformamos em poesia e arte.” Hiato
De 31/1 a 9/2 na Sala Multiuso do Centro Cultural Renato Russo (508 Sul). Sextas e sábados, às 20h; domingos, às 19h. Classificação Indicativa: 16 anos. Ingressos: R$ 40 e R$ 20.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Paris em chamas Prêmio do Júri em Cannes e listado entre os dez melhores de filmes de 2019 pela Cahiers du Cinéma, Os miseráveis tem tudo para ser um dos grandes lançamentos deste ano no Brasil. POR SÉRGIO MORICONI
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s ingleses costumam ficar impressionados com a inclinação dos franceses para a contestação, greves, revoltas de todo o tipo, Revolução Francesa, Comuna de Paris, Maio de 68, metalúrgicos, ferroviários, estudantes etc etc, e agora os chamados “coletes amarelos”. A lista é enorme. O filme do diretor Ladj Ly, nascido em Mali, tem – entre outras – a intenção de perturbar o público e provocar uma reflexão sobre a quantas anda a multicultural sociedade francesa nos dias de hoje. Desde muitas décadas, o país se tornou um efervescente caldeirão multiétnico. Os miseráveis traz uma interessante e perturbadora perspectiva contemporânea para o melting pot cultural francês. Um crítico chegou a dizer que o filme “arma uma bomba-relógio e a joga no colo do espectador”. Ly não teve dúvidas em dar a sua
obra o mesmo título do clássico romance de Victor Hugo. E fez mais: ambientou toda a sua ação em Montfermeil, subúrbio de Paris a quase 20 quilômetros do centro, onde se passa toda a história do livro de Hugo e também onde o diretor viveu. Uma vida dura, excruciante, a de Ly. Numa entrevista ao jornal Libération, o diretor relata ter sido condenado em 2009 pela justiça francesa por cumplicidade em um caso de sequestro. Como não obtém sucesso com um recurso contra essa decisão, recebe uma pena de prisão de três anos, reduzida depois para dois. Ladj Ly também seria condenado por dois outros crimes anteriores. O primeiro deles, de 2011, diz respeito a um vídeo sobre a violência policial em Montfermeil, postado on-line, e ainda com o agravante, segundo os juízes, do diretor ter acrescentado “comentários ultrajantes” às imagens. Ly recebe então uma
sentença (que seria suspensa) de seis meses e uma multa de 400 euros. A segunda condenação, logo no ano seguinte, foi motivada por uma “agressão verbal e violência contra um funcionário público”. Este funcionário, diga-se de passagem, era simplesmente o prefeito de Montfermeil, Xavier Lemoine. Esses fatos pessoais dão uma dimensão maior a Os miseráveis e estão na origem do filme. Numa entrevista coletiva no Festival de Cannes de 2019, Ly diz que o ponto de partida do projeto foi justamente o erro policial filmado dez anos antes. Nos cinco anos seguintes, o diretor se dedicaria a filmar cenas da sua vizinhança, entre elas as que dariam origem ao tal vídeo, que o levaria à prisão, sobre a suposta ação ilegal de policiais. E Ly tinha razão: o vídeo cai nas mão da imprensa e o policial é suspenso. Alguns anos depois, o diretor resolve transformar o vídeo num filme de curta-metra-
Fotos: Divulgação
gem. Os miseráveis, o curta de 2017, dá origem ao longa Os miseráveis de 2019. É o sucesso do curta – programado em dezenas de festivais, arrebanhando cerca de trinta prêmios – que abre caminho para a produção do longa que chega agora ao mercado brasileiro. Os miseráveis é um dos mais eloquentes comentários sobre o mito da integração social francesa, seu pretenso multiculturalismo e tolerância das diferenças. Essa idealização ganhou força a partir do sucesso da seleção francesa campeã do mundo em 1998, com sua mescla de descendentes de negros africanos e árabes de diversas origens, cujo símbolo maior era o franco-argelino Zinédine Zidane. Na adaptação do seu próprio curta, Ladj Ly mostra os primeiros dias de Stéphane (Damien Bonnard) na “brigada” de polícia do subúrbio parisiense. Stéphane funciona como a visão “de fora” daquele ambiente. Ele é o ponto de referência para aqueles que se sentem chocados com a gestão e atuação das forças institucionais nas periferias. O filme exibe freneticamente as guerras de poder entre diferentes grupos, entre cristãos e muçulmanos, policiais e moradores, crianças e adultos, homens e mulheres, brancos e negros. Cada micro-grupo gerencia um bairro ou prédio e qualquer conflito é encaminhado aos chefes das facções, resultando numa evidente escalada dos enfrentamentos. Na cidade de Montfermeil não existe paz, apenas tréguas momentâneas e fugazes. É fascinante fazer uma analogia do filme de Ly com a obra de Victor Hugo,
adaptada inúmeras vezes para o cinema. A história do livro (publicado em 1832) é ambientada na França durante o Século XIX e, como no filme, no subúrbio de Montfermeil, situado a leste da capital no sentido de La Villette. Em ambos os casos, os cenários são descritos com extrema riqueza de detalhes. No livro, o protagonista, Jean Valjean, é um homem comum que se vê obrigado a alimentar a família inteiramente desprovida de recursos. Depois de roubar um pão da vitrine de uma padaria, é condenado a cinco anos de prisão por furto e arrombamento. Órfão de pai e de mãe, Valjean é acolhido por uma irmã mais velha mãe de sete filhos. Como a irmã fica viúva, Valjean se transforma em arrimo de família. Mas a sociedade o considera um
Ladj Ly
mau elemento. Pequenos delitos o transformam num pária, até que toma a decisão de mudar de vida. Quase dois séculos depois, Ladj Ly nos apresenta os mesmos dilemas, uma crônica indignada onde as discriminações agora apresentam tez multicolorida, visões religiosas, culturais e de mundo muitas vezes distintas e conflitantes. Este filme surpreendente e extraordinário vê o país e o mito de Zidane pelo avesso. De uma certa maneira, Os miseráveis nos faz sentir como o soldado de A montanha mágica, de Thomas Mann, aquele que sobe a montanha e nunca mais desce. Os miseráveis
França/2019, drama/policial, 102min. Direção: Ladj Ly. Com Damien Bonnard, Alexis Manenti, Djebril Didier Zonga, Jeanne Balibar.
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Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
conceicaofreitas50@gmail.com
O banquete
Brasília
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uando Brasília começou a surgir na ferida vermelha do cerrado, o mundo ainda tentava se recompor do maior e mais terrível de todos os conflitos, a Segunda Guerra Mundial e seu rastro de horror: entre 50 a 70 milhões de mortos, cidades inteiras destruídas e a desumanidade levada a extremos. Uma década apenas havia se passado desde o fim da guerra, quando o mundo ficou sabendo que um maluco num país enorme, selvagem e exótico planejava construir uma nova capital no meio da selva. Tal qual quando da chegada dos portugueses à Terra Brasilis, edulcorava-se a fantasia de um novo Eldorado no centro do Brasil. E, diziam, seria uma cidade moderna, inspirada nos princípios da Carta de Atenas. A ciência e a tecnologia a serviço dos povos urbanos. Soava como um recomeço, uma esperança num mundo ainda tentando reconstruir as cidades destruídas pela guerra e tentando assimilar o Holocausto e as bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki. Qualquer pequena boa notícia era um alento para as almas desesperançadas que habitavam aqueles tempos. Aos poucos, os estrangeiros foram
chegando, vindos por conta própria ou convidados pela incrível estratégia de marketing do presidente faraônico. Nunca antes, nem depois, o Brasil recebeu tantos jornalistas de tantos países e tantas páginas de jornais e revistas (de papel), num só tempo, atrás de uma única notícia: a incrível cidade surgida na selva. Não era selva, logo saberiam, mas não se decepcionavam. A incredulidade permanecia: era um clarão de terra vermelha aberto entre chapadões mil metros acima do nível do mar. Ao redor, uma vegetação rala, como se a vida estivesse começando a surgir no planeta. Vieram jornalistas até da Cidade do Vaticano, do Sri Lanka (antigo Ceilão), do Paquistão, de Luxemburgo, da Indonésia, da Austrália. Os que não vieram escreveram de onde estavam. O artista plástico argentino Manuel Kantor escreveu, na revista Hogar: “... de surpresa em assombro, o que mais encanta aos que têm inclinação pela fantasia, mais ainda que as admiráveis obras arquitetônicas, é a transformação da natureza”. O canadanse The Citizen exultou: “... a bela e enfeitiçante arquitetura de Brasília prende a respiração de qualquer um. Na verdade, parece que não é deste mundo”. A Catedral, disse o jornal, “parece desenhada para Disneylân-
dia” – não li definição melhor. E tudo “no meio de coisa nenhuma”. Os que visitavam a cidade em construção pareciam tão excitados quanto os turistas estrangeiros nos desfiles das escolas de samba do Rio. “A cidade milagrosa de Brasília, obra cuja construção se deve à sua visão e atividade, será, a partir de 1960, sede do governo e é o sol a cuja volta girarão as 21 estrelas que integram o Brasil [os 21 estados à época]; seus raios alcançarão as trevas que ainda envolvem algumas de nossas nações americanas no sétimo dia de sua criação”, escreveu o advogado colombiano Horacio Atuesta Angulo, em agosto de 1959. Brasília era a água para a sede dos que queriam crer que a civilização (ainda) era um projeto possível. Não era o único clarão de possibilidades, mas era um dos mais surpreendentes, dada a ousadia do feito e das circunstâncias aventureiras que o envolviam. Tanto que o filósofo Andre Malraux não deixou barato e deu a Brasília o epíteto de “capital da esperança”. A cidade não conseguiu cumprir o seu destino, mas serviu de alento para o desespero do mundo. Do mesmo modo que, alguns anos depois, a corrida espacial, a descoberta de que a Terra é azul e a chegada do homem à Lua nos serviram um banquete de sonhos.