Ano XIX โ ข nยบ 299 Marรงo de 2020
R$ 5,90
EMPOUCASPALAVRAS
Outro restaurante que abre as portas com proposta parecida é a Casa Baco, localizada na parte externa do Casapark. Do chef e empresário Gil Guimarães, é um três em um, ou seja, um misto de restaurante, pizzaria e bar, este último com funcionamento só nos fins de semana. No menu, quase todo feito ou finalizado em forno a lenha, destaque para o prime rib de porco assado no forno com canjiquinha, caldo de costela e queijo Minas (pág. 7). Vem da Asa Norte outra boa notícia gastronômica, o recéminaugurado Horta – Cozinha Criativa. Seu cardápio segue a chamada cozinha de mercado, que defende a preparação de pratos com produtos da estação e priorizando alimentos orgânicos. Engana-se, porém, quem pensa tratar-se de um novo vegetariano, pois seu bufê inclui carne vermelha, frango e peixe (pág. 8). Imperdível, para os cinéfilos, é a mostra Fellini, il maestro, que começa dia 24 e vai até 19 de abril no cinema do CCBB. Idealizada para marcar os cem anos de nascimento do cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993), exibirá praticamente toda sua obra, marcada pelos clássicos Amarcord e La dolce vitta, e também das produções do universo caricatural e fantasioso do autor, entre elas Satyricon, Noites de Cabíria e A estrada (pág.32). Imperdível, finalmente, é uma visita à instigante exposição da artista plástica japonesa Chiharu Shiota, no CCBB. Partindo do pressuposto de que tudo é transitório na vida, alguns ícones se tornam frequentes em suas diversas linguagens, desde desenhos a crayon sobre papel até imensas instalações. Barcos, peças de vestuário, chaves e partes de corpo são alguns desses ícones presentes na obra da artista de Osaka que atualmente mora em Berlim (pág. 26). Boa leitura e até abril.
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Logo no primeiro domingo de funcionamento, ela recebeu o triplo de clientes que estava prevendo. Sinal de que, como já se sabia, o bairro do Sudoeste estava, mesmo, carente de bons restaurantes. Estamos falando de Lídia Nasser, a jovem chef e empresária retratada em nossa capa e que acaba de inaugurar seu complexo gastronômico do Sudoeste, uma bem sacada união de restaurantes de culinárias árabe, italiana e japonesa, tudo junto e misturado. Empório Árabe, Dolce Far Niente e MaYuu Sushi são as novas atrações da quadra 304, em ambiente projetado por Tatiana Paredes para eliminar barreiras físicas entre eles. Como bem define Lúcia Leão, “Lídia Nasser projetou um mundo ideal: de livre circulação, sem barreiras, com a preservação da identidade cultural de cada povo" (pág.4).
31 luzcâmeraação O oficial e o espião, novo filme de Roman Polanski, e a mostra Fellini, il maestro, no CCBB, são as principais atrações da temporada cinemetográfica.
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Maria Teresa Fernandes Editora
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ÁGUANABOCA
Garra e ousadia
recompensadas
POR LÚCIA LEÃO
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tronômico de Brasília. Seu primeiro complexo gastronômico, o de Águas Claras, surgiu quase que ao acaso, obedecendo à intuição e senso de oportunidade surpreendentes da empresária. Agora ela repete a experiência no SuFotos: Thiago Bueno
gregar num único espaço, e com padrão de alta gastronomia, opções tão distintas como as culinárias árabe, italiana, japonesa e americana é um
conceito não apenas inovador, mas acima de tudo ousado. Talvez seja este o adjetivo – “ousada” – que melhor defina a jovem chef e empresária Lídia Nasser, que aos 31 anos é uma das mais brilhantes na constelação de estrelas do mercado gas-
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Empório Árabe
MaYuu Sushi
Vida que segue, certo dia Lídia, agora empreendedora e chef, encerrou sua jornada no restaurante e procurou um lugar alí por perto para comer uma pizza, um de seus pratos prediletos. “Foi uma experiência tão grotesca, tão ruim, que eu resolvi abrir uma pizzaria boa como tem que ser”. Com a ideia na cabeça e antenada nas oportunidades, Lídia viu desocupar uma loja ao lado do Empório Árabe e tratou de instalar ali o Dolce Far Niente, nome sugerido por clientes inspirados no filme Comer, rezar, amar. Com uma reforma do espaço projetada pela irmã, a arquiteta Tatiana Perides, os dois restaurantes ficaram conectados e os clientes, em qualquer um deles, poderia usufruir do cardápio das duas casas. Mais uma loja vaga ao lado, mais uma oportunidade: não havia em Águas Claras nenhum restaurante japonês, apenas deliveries, e a demanda era grande. Mais um redesenho do espaço, mais uma opção para os clientes. A mesma coisa com o Dólar Furado Burger, um fast-food temático onde os pets são bemvindos, e a Delicatus Confeitaria, que atende diretamente os clientes e fornece sobremesas para todas as casas. E os empreendimentos vinham se sucedendo ano a ano, sempre em Águas Claras, quando Lídia resolver expandir
suas fronteiras para o Plano Piloto. Mas, como nem tudo são flores, as unidades do Empório Árabe e do Dolce Far Niente instaladas no final da Asa Sul enfrentaram problemas de logística e tiveram vida breve. O que, se de alguma forma abalou, não abateu a ousada empresária. Um belo dia, fazendo as unhas no salão que frequenta no Sudoeste, viu uma grande loja desocupada e vislumbrou ali seu novo complexo gastronômico. Foi procurar e, como se tudo tramasse a favor, o imóvel pertencia a um antigo cliente do Empório Árabe dos tempos de Taguatinga, o empresário Monder Jarjour, que facilitou o quanto pôde o fechamento do negócio. Hoje a chef-empresária se divide entre as casas de Águas Claras e Taguatinga, comanda uma equipe de 216 funcionários, controla a compra de 220 produtos, responde pessoalmente pela cozinha do Empório Árabe (as outras têm seus próprios chefs) e faz questão de passar todo o tempo possível recebendo e conversando com os clientes nos vários salões dos dois complexos. Super dedicada à família, que sempre apoiou suas ousadias (até hoje é dona Cleuda, a mãe, quem prepara a coalhada para os restaurantes), vive com os pais em Taguatinga, cria com extremo amor dois bulldogs e toca piano. Coisas de mulher!
Thiago Bueno
doeste com o conceito de integração mais sólido e elaborado entre o Empório Árabe, o italiano Dolce Far Niente e o japonês MaYuu Sushi, para puro deleite dos clientes que, numa única mesa, podem viajar pelos sabores de três continentes. Tudo começou há apenas dez anos com uma garra ímpar, um empréstimo bancário de R$ 50 mil e um talão de cheques! É uma história que vale a pena conhecer. Lídia era uma adolescente avessa aos estudos formais e apaixonada pelos saberes culinários da avó, a libanesa Annita Sertek, de quem ela conta que recebeu toda a formação de chef especialista em cozinha árabe. Finalizando aos trancos o segundo grau, aos 16 anos começou a trabalhar com o pai no Empório Árabe, que na época era mesmo um pequeno empório de produtos e temperos em Taguatinga, com capacidade para servir até 12 refeições. Lá ela atendia os clientes, cuidava um pouco da administração, repunha estoque, fazia suco, enfim, era uma faz-tudo – “um bombril”, ela brinca. O braço direito do pai, Miguel Perides. Ficou nessa lida por cinco anos até decidir levantar voo e montar seu próprio negócio, um restaurante Empório Árabe. Com 20 anos, muita determinação e nenhum capital, levantou um empréstimo de R$ 50 mil no banco do qual o Empório já era cliente e alugou um bom ponto em Águas Claras. “Eu tinha esse dinheiro do empréstimo e um talão de cheques voadores”, ela lembra, divertida e sem nenhum constrangimento. Não teve medo. “Só tenho medo de escuro”, garante. O novo restaurante tinha 60 lugares e uma equipe enxuta, de 12 funcionários liderados pelo chef Manoel Bispo, um competente e querido colaborador desde o empório de Taguatinga. Rapidamente o negócio decolou. Mas a vida pregou uma das suas! No Dia dos Pais daquele primeiro ano de funcionamento, 2013, a casa estava com praticamente todas as mesas reservadas quando chegou a notícia de que um trágico acidente de moto vitimara Manoel Bispo. “Foi um choque indescritível, ele era uma pessoa muito querida. Naquele momento, a equipe toda se uniu para fazer o melhor possível como uma homenagem a ele. E eu tive que assumir pela primeira vez a chefia de uma cozinha, com a casa cheia, no susto”.
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ÁGUANABOCA
Se já era possível degustar numa mesma mesa, no complexo gastronômico de Águas Claras, pratos de tradições tão distintas como a árabe, a italiana, a japonesa e a americana, o conceito de integração, na unidade recém-inaugurada do Sudoeste, foi ainda mais apurado e aprofundado. Seja no projeto arquitetônico de Tatiana Peredes, que eliminou barreiras físicas entre os salões do Empório Árabe, da Dolce Far Niente, do MaYuu e da Delicatus sem retirar suas ambientações características (e colocou um piano de cauda ao centro, como que dando à música a primazia de promover a integração entre as culturas), seja na logística de produção e atendimento, seja nas opções de cardápio. Todos os pratos saem de uma única e bem equipada cozinha – com exceção dos sushis e sashimis do MaYuu, com bancada de cortes própria. Também os funcionários formam uma equipe única, que atua em sistema de rodízio nas áreas de produção e atendimento de todas as casas, cada uma sob o comando de um chef: a própria Lídia no Empório Árabe, Fredy Souza no MaYuu, Fábio Neres no Dolce Far Niente e Giselle Débora na Delicatus. Mas a grande novidade para os clientes são os pratos combinados. Os menus executivos (R$ 55), servidos no almoço dos dias de semana, são montados com entrada e prato principal escolhidos entre três opções de cada casa. Pode ser, por exemplo, uma entrada da italianíssima bruschetta com o carneiro marroquinho de prato principal, ou um ceviche misto do MaYuu e um filleto alla parmigiana do Dolce Far Niente. Novidade também é o Menu Mundo, rodízio com opções japonesas, italianas e árabes servidos no jantar a R$ 100 por pessoa. No microcosmo do complexo gastronômico, Lídia Nasser projetou um mundo ideal: de livre circulação, sem barreiras, com a preservação da identidade cultural de cada povo. Complexo gastronômico do Sudoeste 6
304 Sudoeste, Bloco B (3451-4751). Diariamente, das 11 às 24h.
Fotos: Thiago Bueno
Prazerosa mistura
Fotos: Divulgação
Três em um POR SÚSAN FARIA
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mineiro Gil Guimarães tinha tudo para ser um alto executivo do serviço público e chegou a esse caminho, aos 23 anos de idade, ao se formar em Economia pela Universidade de Brasília. Cinco anos depois, ao entrar no avião com destino a Paris, pressentiu: “Minha vida mudou”. Estudou um ano na École de Patisserie e Boulangerie e, na volta a Brasília, inaugurou uma lojinha de sanduíches, pães e vinhos na Quituart, no Lago Norte. Hoje, aos 50 anos, Gil comemora a abertura de mais um empreendimento: a Casa Baco, no Casapark. Inaugurada em fevereiro, a Casa Baco é um misto de restaurante e pizzaria, e até o final de março se amplia com o Willy Bar, que funcionará apenas nos fins de semana. O bar, criado em parceira por Marcelo Moura e Ailton Tristão, sócio de Gil, foi construído dentro de um Aero Willys da década de 1960. Com música de DJs, o bar funcionará em uma bela praça, com paisagismo que privilegia espécies do Cerrado.
A história de Gil Guimarães daria um livro: empreendimentos gastronômicos de sucesso, alguns passados a outras mãos, muito trabalho e prêmios, como o selo da Vera Pizza Napoletana para a pizzaria Baco. Tudo começou na pequena Bocaiúva, no sul de Minas, onde ele saboreava delícias mineiras, como as linguiças de porco e as goiabadas, feitas pela mãe Gilva Alves Guimarães e a avó paterna Elvira Guimarães. “Uma cozinha próxima e rica”, conta. Esses sabores e cuidados, aliados aos conhecimentos adquiridos em outras plagas, são a base dos pratos servidos na Casa Baco, como a linguiça de porco caipira e ovo caipira frito (R$ 27), o queijo artesanal com geleia de buriti e praliné de castanha de caju, no forno a lenha (R$ 39), o prime rib de porco assado no forno, com canjiquinha, caldo de costela e queijo Minas (R$ 95), e a salada de cogumelos com folhas, quinoa, batata doce, abobrinha assada e defumada, tomate confit e gremolata (R$ 37). À noite, o cardápio é diferenciado e, além dos pratos típicos italianos, especialmente de Roma e Nápoles, são servi-
das pizzas com preços entre R$ 46,80 e R$ 83,40, como a de trufas negras com burrata, muçarela, presunto cru italiano, pomodoro pelatti e raspas de limão. Pães, massas, fermentados e molhos são preparados ali mesmo. É do forno a lenha que sai a maioria dos pratos. Cortes de carnes, geleias, linguiças, embutidos, hortaliças e ervas orgânicas são produzidos com exclusividade ou em parceria para atender o restaurante. O sucesso no ramo gastronômico, segundo Gil, vem da persistência, do estudo e “de correr atrás dos sonhos”. De acordo com Ivan Valença, diretor da Valença Empreendimentos e Participações, proprietária do Casapark, a Casa Baco é o início do “transbordamento”, de levar o shopping para fora. O “namoro” para chegar até a inauguração do novo espaço gastronômico levou oito anos. “Sou fã do Gil, porque tudo que ele faz é com paixão, amor, aconchego, com os melhores ingredientes. Sonhamos juntos”, elogiou Ivan. Casa Baco
Casapark, entrada do piso térreo (3879.9680). De 2ª a 6ª feira, das 12h às 15h30 e das 18 às 24h; sábado e domingo, das 12 às 24h.
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Baby beef ao molho de goiaba e curry
Salada da casa
Comida sem preconceito POR BETH ALMEIDA FOTOS SÉRGIO AMARAL
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iversidade. Essa talvez seja a palavra que melhor define um dos mais novos restaurantes da Asa Norte, o Horta – Cozinha Criativa, inaugurado na segunda quinzena de março, na quadra 713. Para os proprietários, os jovens chefs Matheus Camargo e Felipe Ribeiro, a casa é norteada por cinco atributos: criativo, democrático, sazonal, orgânico e saudável. O cardápio guia-se pela chamada cozinha de mercado, que defende a preparação de pratos com produtos da estação. As compras priorizam pequenos produtores rurais orgânicos, pensando também nos frutos característicos da região do Cerrado. Aí o leitor se pergunta: e por que democrático? Porque o cardápio não tem preconceitos. “Nossa ideia é agradar a todos os paladares e hábitos alimentares”, afirma Camargo (na foto ao lado). Ao mesmo tempo em que trabalha com no mínimo 80% de produtos orgânicos, inclusive as chamadas PANCs (Plantas Ali-
mentícias Não-Convencionais), este não é um restaurante vegetariano. O bufê também conta com carne vermelha, frango e peixe, mas todas proteínas de boa procedência. Já a criatividade fica por conta da rotatividade do cardápio, que muda ao sa-
bor das estações, a cada três ou quatro meses. “Acho que a mudança constante do cardápio é boa para o cliente, que está sempre experimentando novos sabores, e também para quem está na cozinha, que está sempre exercitando a imaginação para pensar em novas receitas”,
Pão naan com mousse de beterraba
acredita Felipe Ribeiro. É com esse espírito que surgem da cozinha do Horta delícias como sobrecoxas de frango caipira ao molho holandês com seriguela. E já que estamos na estação da seriguela, ela também pode estar presente na sobremesa, na forma de uma mousse. A carne pode ser um baby beef com vinagrete de goiaba ao curry. No suco de abacaxi, a tradicional hortelã cede lugar ao manjericão, que fica inusitadamente saboroso. Como entrada, o bufê, cobrado a quilo (R$ 49,90), pode contar com o pão naan (um ázimo tradicional da culinária indiana) acompanhado de mousse de beterraba. Para as massas, o molho de tomate é preparado na casa, com uso da beterraba em substituição ao açúcar, que é o ingrediente responsável por tirar um pouco da acidez dos tomates. Isso tudo sendo coroado por um grande sortimento de vegetais, compondo saladas diversas, como a da casa, com muitas folhas, tradicionais e PANCs, castanhas, muçarela de búfala bem cremosa, cenoura em lâminas, pepino e por aí vai. “Garanto que quem tem qualquer tipo de restrição alimentar, biológica ou filosófica vai sair daqui bem alimentado, até os que seguem a raw food”, assegura Felipe Ribeiro, referindo-se àqueles que comem apenas alimentos crus, que chamam de “vivo”, com algumas poucas exceções para o que chamam de “amorna-
dos”, ou seja, aquecidos a uma temperatura de até 42 graus. Já na reforma da loja que iria sediar o restaurante os empresários iniciaram um processo de revitalização do entorno, sempre lançando mão do conhecimento e mão de obra dos muitos amigos. Dois deles, André Sampaio e Lucas Paixão, que têm pequenas empresas de paisagismo e manejo florestal, fizeram o projeto de uma horta externa e uma outra, interna e vertical, que fica ao lado do bufê
Sobrecoxas de frango ao molho holandês com seriguela
principal. Além de temperos e plantas medicinais, as tais PANCs, com beldroega, mil folhas ou peixinho. Saí de lá elogiando a comida, mas prometendo levar até lá minha amiga que segue a raw food, para a prova de fogo. Na pior das hipóteses, ela leva pra casa umas folhas para o suco detox do jejum matinal. Mas o desafio está lançado. Horta – Cozinha Criativa
713 Norte, Bloco A (99558.2842). De 2ª a sábado, das 11 às 18h.
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Restaurante multinacional POR VICTOR CRUZEIRO
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rede Coco Bambu é uma das maiores do ramo de restaurantes do país, frequentemente demonstrando um inabalável crescimento, mesmo durante períodos de instabilidade, como os dos últimos anos. Com 12 mega-lojas só no Estado de São Paulo e presença forte em grandes centros como Goiânia, Brasília e Curitiba, a marca de restaurantes de frutos do mar apresentou um faturamento que beira o bilhão em 2019 e um crescimento de mais de 20% em relação a 2018. É, portanto, de impressionar o vigor da marca em tempos tão difíceis como estes. Visando a abocanhar uma fatia ainda maior do mercado do casual dining – o conceito intermediário entre o fast food e a alta gastronomia –, a rede, originalmente cearense, agora inaugura uma marca inteiramente diferente, mais enxuta, tanto no cardápio quanto no espaço, oferecendo maior possibilidade de multiplicação pelos shoppings do país. A nova casa se chama Vasto, em homenagem à história
famíliar dos donos. Segundo o empresário Afrânio Barreira, Vasto é uma comuna italiana onde seu sogro foi morar na infância. Com o início da Segunda Guerra, sua família mudou-se para o Brasil. A primeira casa da nova marca abriu as portas no Brasília Shopping, onde já existe um Coco Bambu há exatos dez anos,
demonstrando o potencial conquistador da rede. Longe de ser uma casa da massas, o Vasto abre o cardápio para as carnes e a culinária japonesa, abraçando um público ainda maior do que o dos frutos do mar – inclusive facilitando a abertura nos centros em que o fornecimento desse tipo de insumo é mais difícil.
Fotos: Divulgação
Com cortes de raças britânicas, como prime rib (R$ 147), costela de dianteiro (R$ 139) e t-bone (R$ 114), o Vasto mantém o padrão de porções para dividir da sua rede-mãe, oferecendo entre 300g e 1kg de carne (caso da costela de dianteiro). O cardápio oferece também pratos de inspiração japonesa, como carpaccio de salmão (R$ 43), rolls de camarão com avocado e coco queimado (R$ 37, oito unidades) e niguiris de salmão, atum e peixe branco (R$ 37, seis unidades), além de sanduíches, como o cheeseburger de blend de raças britânicas (R$ 39). Para os paladares já afeitos aos pescados e frutos do mar, há desde camarões spicy (R$ 89) e mexilhões à provençal (R$ 49) até atum selado com ponzu (molho oriental ácido à base de limão, R$ 63) e os típicos e bem servidos camarões pistola (R$ 139, cinco unidades). O ambiente do Vasto se diferencia por menos lugares: entre 150 e 250, um número bem menor comparado com os mais de 600 de algumas unidades do Coco Bambu, e irrisório frente ao restaurante de três andares em São Luís do Mara-
nhão. Ao centro, um grande balcão forma um bar de estilo novaiorquino, onde os clientes podem degustar quatro tipos de chopes e uma variedade de drinques clássicos, como gin tônica (R$ 29) e moscow mule (R$ 27), e versões contemporanizadas como o acerola Martini, feito com vodca, licor de framboesa, acerola, maracujá e limão (R$ 27), enquanto acompanham transmissões esportivas em vários televisores, tendo uma experiência diferente, mais rápida e individual, no mesmo ambiente requintado.
Assim, um restaurante inspirado nos moldes de Nova York, com nome de uma cidade da Itália, que serve cortes da Inglaterra e pratos do Japão, nascida de uma rede de frutos do mar do Ceará, não poderia expressar melhor a vastidão do pensamento empreendedor brasileiro. De fato, a marca Coco Bambu mostrou a que veio. Vasto Restaurante
Brasília Shopping, segundo piso (3544.7860) De 2ª a 5ª feira, das 11h30 às 15h30 e das 17 às 24h; 6ª e sábado, das 11h30 à 1h; domingo, das 11h30 às 24h.
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Hambúrguer saudável POR WALQUENE SOUSA
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e alguns anos para cá, a busca por alimentação mais saudável vem aumentando. Para não perder espaço no mercado, até redes de fast food têm preparado seus alimentos de forma artesanal, com produtos naturais e menos conservantes. Quem aprecia um bom sanduíche sabe que o uso de produtos de qualidade, o esmero no preparo e receitas exclusivas são combinações infalíveis para a conquista dos consumidores. Antenados nessa tendência, os jovens empreendedores Douglas Magdaleno Junior e Alisson da Silva Alves resolveram apostar na criação do Number One Burger & Beer. O local escolhido foi o Noroeste, o bairro mais novo de Brasília. Após estudarem a região, eles constataram que o público sentia falta de
uma hamburgueria de qualidade. Apesar de ter sido inaugurada há pouco mais de dois meses, a Number One já faz sucesso entre os moradores locais. “Para atender ao público cada vez mais exigente, optamos por oferecer produtos mais artesanais, e exclusivos, como o preparo dos pães, do bacon, do blend das carnes da raça Angus e dos molhos. Todas as receitas e técnicas de preparo estão nas mãos do chef Thiago Gabriel Passos”, informam os empresários. O cardápio oferece sanduíches fixos e sazonais, e todos podem ser preparados nos tamanhos de 90 ou 180 gramas. O carro-chefe, que leva o nome da casa (foto ao lado), é uma combinação de pão australiano, blend de Angus (180g), blue cheese, rúcula, cebola crispy, tomate cereja e geleia de jalapeno (R$ 34,90). O hambúrguer do mês é o Michael Jackson (foto
acima), preparado com pão brioche, blend de Angus, maionese da casa, queijo prato e pastel com recheio de queijo Polenguinho e damasco (R$ 31,90). A hamburgueria também oferece porções de cebola ao molho barbecue, batata cheddar com bacon (R$ 18,90), bolinhos
Fotos: Divulgação
de bacalhau (R$ 23,90) e palito de queijo empanado, acompanhado de ketchup de goiabada (R$ 21,90). Tudo isso pode ser harmonizado com cervejas artesanais da Stadt Bier e Colorado, além de drinques, refrigerantes e sucos naturais. Quem não vive sem um docinho após as refeições pode se deliciar com a New York Cake, feita com base crocante de biscoito Oreo, mousse de limão siciliano com infusão de hortelã e cobertura de ganache de chocolate meio amargo (R$ 16,90). Há três opções de shakes: paçoca com sorvete de creme, cobertura de caramelo e chantilly (R$ 19,90); nutella, sorvete de creme, leite ninho, chantilly e canudo de wafer (R$ 22,90) e frutas vermelhas com sorvete de creme e chantilly cereja (R$ 19,90). Além da originalidade dos hambúrgueres, a Number One tem o propósito de despertar uma experiência sensorial no seu ambiente, concebido em tons escuros, no estilo rock’n’roll, com iluminação em todo o teto, em alusão ao céu estrelado de Brasília, mobiliário com sofás confortáveis e frases inspiradoras de per-
Os sócios Alisson da Silva Alves e Douglas Magdaleno Junior: ambiente para desestressar.
sonalidades de sucesso espalhadas pelas paredes, como da apresentadora de televisão Oprah Winfrey e do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. Na playlist entram MPB, rock e pop-rock. “Cada detalhe foi pensado para proporcionar bem-estar, aliado a momentos de refle-
xão e relaxamento. Acreditamos que as mensagens motivacionais trazem mais leveza após um dia estressante no trabalho”, afirma Douglas Magdaleno. Number One Burger & Beer
CLNW 10/11, Bloco C (99606.9909). De 3ª a domingo, das 18 às 23h.
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Divertidas degustações S
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obreviver no competitivo mercado enogastronômico da cidade, ainda mais com a concorrência dos atacarejos e do comércio eletrônico, é tarefa das mais árduas, que exige persistência e criatividade. A essa tarefa se entregou, quatro anos atrás, o empresário e sommelier Antonio Cunha, da D.O.C. Vinhos, que acaba de transformar sua loja da 207 Norte num singelo e aconchegante gastrobar, localizado na extremidade da quadra voltada para o Eixinho Oeste. Na carta de vinhos, o primeiro diferencial: a presença de rótulos produzidos por vinícolas da região Centro-Oeste, para serem degustados junto com “comidinhas” da lavra do chef Kennedy Nunes. O cardápio homenageia, além do Planalto Central, outras regiões produtoras do país, como a Serra Gaúcha, o Vale do São Francisco e o Planalto Catarinense. A intenção de Antônio e Kennedy (na foto acima) é harmonizar pratos típicos dessas regiões com os vinhos alí produzidos. Vamos a algumas das comidinhas: dádivas de cordeiro ao vinho do Planalto Central, arroz tchê com charque nobre desfiado da Serra Gaúcha, mini hambúr-
gueres do Planalto Catarinense e arroz do sertão integral com ragu de cordeiro do Vale do São Francisco. Portugal também está presente no cardápio com o arroz de bacalhau. Rebatizada de D.O.C Vinhos Gastrô, a casa funciona de segunda a sábado, das 10 às 23 horas. “Nossa intenção é oferecer aos clientes um espaço mais íntimo, com um cardápio diferente e uma atenção especial à harmonização de vi-
nhos. Queremos ser uma espécie de segunda casa para os amantes de vinhos, onde eles se sintam inteiramente à vontade. Desse modo, a D.O.C. se reinventa para atender cada vez melhor aos nossos clientes”, explica Cunha. Mais uma curiosidade: as bruschettas do cardápio (preços a partir de R$ 24), são identificadas por siglas comuns no mundo dos vinhos. A de abobrinha, ervas finas, balsâmico e parmesão, por exemplo,
A abobrinha é o principal ingrediente da bruschetta I.P. Abaixo, dádivas de cordeiro ao vinho. Fotos: Mari Soares
foi batizada de I.P. Bacalhau e azeitonas são os ingredientes da I.G.P. Já a D.O.C. leva tomate italiano, manjericão, parmesão e orégano. E a mais sofisticada de todas – a D.O.C.G. – contém queijo de cabra, geleia de hortelã e ervas aromáticas. “Nós queremos mostrar um pouco da história dos vinhos e de como essa bebida é especial por meio de um cardápio diferente e divertido”, explica o chef Kennedy Nunes. Não poderiam faltar, também, alguns “beliscos” tradicionais, como empanadas argentinas, dadinhos de tapioca com melado de cana e tábuas de petiscos frios selecionados pelo chef. Até o final deste mês o gastrobar homenageará as mulheres, aos sábados, com doses duplas de espumantes, sangrias, Aperol e Clericot. Presente desde 2016 no Venâncio Shopping, seu primeiro endereço na cidade, a D.O.C. trabalha com um mix de produtos que inclui, além de vinhos e espumantes, cervejas especiais, cachaças e outras bebidas originárias de Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Espanha, Portugal, Itália, França, Alemanha, Austrália, Líbano e Bélgica. D.O.C Vinhos Gastrô
107 Norte, Bloco A (3034.1203). De 2ª a sábado, das 10 às 23h.
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PICADINHO
TERESA MELLO
Bistrô iluminado
Jana Tartalho
O bistrô da 201 Sul, frequentado por bancários e com estacionamento quase impossível durante a semana, fez as malas e se mudou. O projeto de Gustavo Goes deu identidade arejada ao novo Rapport Café e Bistrô, numa esquina da 412 Norte. “Agora, nós funcionamos aos domingos, dia de maior movimento, e por isso vamos contratar mais quatro funcionários”, alegra-se a empresária Fabiana Braga. “Temos café da manhã, brunch, o Menu Bistrô, opções para compartilhar em família, pratos vegetarianos”, completa. Com capacidade para 54 pessoas, o café, reaberto no dia 6 de fevereiro, apresenta novidades como a tartine (sanduíche aberto) em pães artesanais da Bella Foccacia. A de salmão é finalizada com molho de caju, vem com folhas baby e sai a R$ 27. Para uma refeição mais farta, vá de filé mignon ao molho de goiabada e risoto de queijo (R$ 58). E vale admirar as luzinhas do Rapport à noite, viu? Ops, e a torta de limão é do João Limão.
Nativas Grill Yukio Brito
Aroma executivo Menu executivo, de segunda a quintafeira, das 12 às 15h, é a novidade do Aroma (407 Sul), restaurante do chef Ronny Peterson (‘A Mano), inaugurado em novembro. Por R$ 69, o Aroma do Dia oferece entrada, prato principal e sobremesa. Que tal começar com salada de folhas baby, pêra caramelizada, gorgonzola, castanha? Ou então baroa com ovo e crisps de Parma. Nos principais, há três sugestões: capeletti de muçarela de búfala ao molho pomodoro e manjericão; fettuccine com ragu de filé mignon; e Virado à Paulista (foto), com carne suína, feijão tropeiro, purê de abóbora, ovo de codorna e crocante de couve. De sobremesa, minibrioche com calda de doce de leite e frutas vermelhas. No ‘A Mano (411 Sul), do qual Ronny é sócio, o cardápio executivo em três etapas custa R$ 75 no almoço, de segunda a quinta-feira.
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Só a brinquedoteca da nova churrascaria Nativas Grill tem 45m2. Tudo é grandioso na grife de carnes criada em Goiânia há quatro anos. Com projeto de Alessandra Lobo, a unidade de Brasília, às margens da Epia Sul (SIA, Trecho 14), comporta 750 pessoas, tem estacionamento com manobrista e promoções: aniversariante que levar sete convidados ganha o próprio rodízio de graça. A adega de cem rótulos harmoniza com a picanha, o bife ancho, o corte de cordeiro. Há ilhas de culinária japonesa, frutos do mar, massas, saladas, doces. Preços entre R$ 54,90 e R$ 79,90 por pessoa. “A marca foi muito bem-recebida pelos brasilienses”, comemora o gestor da casa, Renato Loureiro. Funciona de segunda a quinta, no almoço e no jantar, e de sexta a domingo, das 11h30 às 23h30.
“Os ingredientes básicos da cozinha do sertão são o feijão, o milho, a rapadura, a nata”, diz Ana Rita Dantas Suassuna, autora da obra Gastronomia sertaneja − Receitas que contam histórias (Editora Melhoramentos, 2010). Moradora de Brasília e prima do escritor Ariano Suassuna (1927-2014), ela fará palestra no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, no dia 19, como parte do projeto Doçaria brasileira, que tem curadoria do pesquisador Ricardo Frugoli. Programa imperdível para quem estiver em Sampa nesse dia. O prédio da Rua 24 de Maio, com projeto de Paulo Mendes da Rocha, é um encanto para os olhos. Nascida em Taperoá (PB), Ana Rita mergulhou nos sabores e saberes do sertão e compartilha tudo com o público das 18h30 às 21h. Entrada gratuita com retirada de senha 30 minutos antes. Mais informações: sescsp.org.br/24demaio.
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Gastronomia do sertão
Gui Teixeira
Rafael Lobo - Zoltar Design
picadinho.roteiro@gmail.com
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De bom tom Com cardápio assinado pelo chef Pascal Jolly, a LeBonTon chega a Brasília com a proposta de tornar a culinária francesa acessível e descomplicada: os pratos saem em até três minutos, segundo a franqueada Analice Ribeiro, no Taguatinga Shopping: “Temos uma cozinha aberta e ágil”. Nos terminais de autoatendimento estão 13 opções de pratos prontos e já existe um favorito: “O Le Bife é o nosso carro-chefe”, indica. A carne tipo Angus é cozida lentamente, vem com arroz cateto e purê de batata-doce (R$ 27,90) ou com arroz branco, cassoulet e batata rústica (R$ 29,90). Há o Frangô Recheado (com parmesão e limão-siciliano), o Frangô Moutarde (com batatas e cebolas caramelizadas) e também quiches, saladas e sanduíches como o Le Porc, com costela de porco e queijo (R$ 22,90). Inaugurada há um ano e meio, a marca tem nove unidades e promete mais: “Queremos fechar o ano com 25 lojas”, diz o sócio-fundador, Michel Jager.
VieAir Produções
Nhoque da floresta Com capacidade para 120 pessoas, o Villa Tevere é o queridinho da esquina da 115 Sul. Ali, o chef e gestor Flávio Leste assimilou temperos e receitas da mãe, Suzana, e da avó mineira. “Apresentamos pratos italianos clássicos, alguns com tendência fusion, toques asiáticos e ingredientes brasileiros”, explica ele. Todo dia 29, a tradição pede a degustação de nhoque para atrair fortuna e sorte. E quem não quer? Mas como o prato faz parte do cardápio fixo da casa, ele pode ser saboreado em qualquer dia do mês. É só escolher. E dá até para pedir meia porção. Há o Gnocchi della Floresta (foto), feito de beterraba com fonduta de Roquefort e queijo da Serra da Canastra (R$ 71 e R$ 53, meia), o Gnocchi al Burro & Salvia, preparado com mandioca e filé mignon ao molho de vinho tinto (R$ 69,20 e R$ 53), e o Gnocchi Quattro Formaggi, de batata e gratinado (R$ 62). A cada dia 29, há criações e preços especiais para comemorar a data.
Rafael_Lobo-Zoltar_Design
No coração da cidade, o estacionamento gratuito durante o almoço é mais um atrativo do Uai Comida Brasileira (Brasil 21 Cultural, Bloco A). No restaurante, que funciona de segunda a sexta-feira, das 12 às 15h, os clientes podem se servir sem perda de tempo no bufê a quilo, à disposição desde 10 de fevereiro por R$ 65. Os chefs Myriam Carvalho (Hotel Meliá Galgos, Madri) e Victor André (Hotel Mercure, Brasília) e o subchef Erasmo Brasil (Grande Hotel São Pedro, SP) preparam criações para atrair turistas e moradores. Os destaques são: vaca atolada, na segunda-feira; moqueca de peixe (terça); porchetta (quarta); rabada com agrião (quinta); e a imperdível feijoada, na sexta-feira. Com sabor caseiro, entre as sobremesas estão pudim de leite, doce de leite e manjar de coco. O cafezinho coado com rapadura é de graça.
Cobertura de confete Quem estiver passeando ali pelo Pontão do Lago Sul pode admirar o vaivém das lanchas e saborear um waffle no palito. Semelhante a um favo de mel, a novidade chegou ao quiosque La Paleta nas versões salgada e doce e custa R$ 15. O primeiro tem aroma de queijo e dá direito a uma calda e uma cobertura; já o waffle doce permite o acréscimo de uma calda e duas coberturas. As caldas disponíveis são: doce de leite, leite condensado, trufa ao leite, trufa branca e nutella. Entre as coberturas, há confete, castanha, granulado colorido, crocante preto e branco, jujuba, pingo de chocolate, paçoca. Quer uma bola de sorvete? Também tem. Aberta há cinco anos, a fábrica brasiliense de paletas tem 100 pontos de venda, principalmente no Ceará. O quiosque funciona diariamente até as 22h.
Vualá Design
Almoço estrelado no Uai
Na agenda pra você 18 de março: degustação de vinhos da Geórgia. Ticiana Werner Restaurante e importadora Wine 7 promovem degustação de vinhos da Geórgia, país com mais de 500 tipos de uvas e conhecido pela bebida no tom laranja (Qvevri). Serão servidos Rkatsiteli (branco), Tbilisi (branco e tinto), Saperavi (rosé e tinto) e Mukusani (tinto) durante jantar completo. Dia 18, às 20h, na 201 Sul. Preço: R$ 150 por pessoa. Ingressos pelo site www.ticianawerner.com.br. 26 de março: iniciação ao mundo do vinho. Aula com o sommelier Hállyssonn Carvalho inclui: origem, países produtores, uvas, noção de terroir (solo), vinhos biológicos, sustentabilidade etc. Degustação de cinco rótulos com três pratos do chef Gabriel Blas. No restaurante Bla’s (406 Norte), às 19h30. Preço: R$ 160 (inclui três pratos). Informações: 3879.3430. 17
GARFADAS&GOLES Cartas lusas
LUIZ RECENA
Entre a fome e a vontade Viseu, Portugal. Queridos editores, seguem as mal traçadas e saudosas do mês, sobre um almoço caseiro para novos e bons amigos. GARANTEM ALGUNS SER A FOME a própria vontade de comer. Ou não. De qualquer maneira, quando elas se encontram dizem que os resultados são grandes, bons, inesquecíveis. Sublinha-se igualmente que essas duas entidades são tão poderosas que até um dito popular foi criado e excedeu os limites da gastronomia, as paredes das cozinhas, as barreiras dos refeitórios públicos ou privados, chegando inclusive aos domínios dos palácios políticos, das casernas militares, dos milenares recintos religiosos. “Pronto: juntaram-se a fome e a vontade e comer”. Basta essa curta frase para acender os painéis de quantas dúvidas possa ter a plateia sobre o casal disposto ao matrimônio, a dois interessados na cadeira de São Pedro ou a postulantes aos mais altos cargos da República: burocratas, militares, jurídicos, legislativos e executivos. Pois foi assim, dia desses, cá em Viseu, que o assunto apareceu. E da conversa à prática duas semanas bastaram para que, sempre respeitados os limites da cozinha, os pratos lembrados e/ou comentados e aditivados pelo sabor do tempo compuseram um pequeno cardápio, passaram do fogão à mesa sem escalas, recursos protelatórios ou adiamentos para publicações de sentença. ASSIM TRANSITARAM EM JULGADO e foram remetidos aos pratos, sem sursis ou habeas corpus, depois de pãezinhos e saladinhas entradeiras, um bobó de camarão e um picadinho carioca. Bobó como deve ser, com uma lágrima de dendê e um fio de leite de coco. E o picadinho igualmente, após consultas zapizapis ao Guru de Bagé, veio com tudo: ovo pochê, farofa e banana frita. Carne picada na faca, salsa-alho-cebolinha, tudo refogado com ervinhas somadas a duas dosezinhas de bebida da receita do cozinheiro colunista, que assinou a carne. Bobó assinado por Rozane e sua memória baiana, assistida por Alda,
amiga famosa por feijoadas e cozidos brasilienses, a explorar novas fronteiras e que deu um toque ao ágape. Arroz e batatas acompanharam. Éramos seis bocas. Sobrou pouco. PARA FECHAR COM BOAS CHAVES o festim em torno à mesa, duas lembranças, dois clássicos: um pudim de leite condensado e umas peras ao vinho tinto. O primeiro, uma viagem às infâncias de vários lugares do Brasil que aqui se cruzam e se encontram; o segundo uma contribuição francesa que virou universal. Do primeiro Alda deu conta, sozinha; no segundo o cozinheiro pediu a ajuda das Recettes de Bistrot, da referencial Patrícia Wells. Não tem erro. Só aplausos. A fome ajuda e a vontade de comer completa. E PARA BEBER? Depois das aguazitas, com gás ou sem ele, dos refrigerantes normais e sem açúcar, um tinto de lei e de ordem: Almotriga, do Douro, 2015, produto das uvas Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional e Touriga Franca. Frutos silvestres e notas de baunilha apresentam e sustentam a qualidade do gajo do início ao fim. Poucos e comedidos combatentes detonaram mesmo assim duas ampolas. Tudo de bom tamanho. O CANTINHO DA SAUDADE é o ponto onde começou toda essa história. Café, restaurante, confeitaria, pequeno armazém de produtos brasileiros, ponto de encontro de nacionais ou estrangeiros que já estiveram na terra brasilis, em pouco tempo fez fama e garante a qualidade. Tem empadinha, pastel, quibe, rissole, sandubas, pratos, tudo com toque verde-amarelo, o que funciona com grande força de atração, complementada pelos produtos brasileiros, aqueles que, de repente, dia ou noite, dá uma vontade danada de... pois lá tem! Erva-mate, paçoquinha, dendê, farinha, guaraná, 51, etc... tem, tem. O ALMOÇO FOI PARA HOMENAGEAR os donos, almas generosas que acolhem, protegem e aconselham quem acaba de chegar, meio perdido e sem bússola. Kátia, Roberto, Mateus e Claiton fizeram as honras. Os que não vieram, poucos, não perderam. Investiram para o próximo, já em fase de planejamento. Depois eu conto.
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 18
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras
PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Decantamos ou não ? Um dos instrumentos típicos das lidas com os vinhos é o
ocorre de forma lenta e gradual ainda com o vinho na garrafa
decanter. E de uns tempos para cá vem se tornando muito
fechada, pois a rolha de cortiça permite uma passagem mínima
popular entre os apreciadores de vinho. Quase um ícone, vem
de ar, e é a partir disso que os vinhos vão evoluindo ao longo
sendo utilizado por muitos como algo mais charmoso do que
dos anos na garrafa.
propriamente funcional. A pergunta que temos que responder,
Quando abrimos uma garrafa para consumo, permitimos uma
antes de mais nada, é qual o objetivo de utilizar um decanter e
rápida oxigenação que faz com que o vinho tenha ali uma última
depois avaliar se esse objetivo é importante e se faz sentido para
evolução antes de o consumirmos. E quando se trata de vinhos
o vinho que vamos tomar.
que precisam dessa evolução “a mais”, a oxigenação é muito
Então vejamos: o decanter, como o próprio nome indica, foi
recomendada. E quanto maior a superfície em contato com o
imaginado para o objetivo de “decantar” o vinho, ou seja, para
oxigênio, mais rápida e eficaz será a dita oxigenação. Por isso,
decantar as partes sólidas (borras) que podem estar presentes em
tirar o vinho de uma garrafa para uma taça (que terá uma área
alguns vinhos e separá-las da parte líquida que queremos beber.
de contato do vinho com o ar maior) ou para um decanter
Historicamente, pois, o decanter nada mais era do que um recipiente para o qual transbordaríamos o vinho, deixando na
(onde a área de contato com o ar será ainda maior) pode ajudar a deixar o vinho ideal para o bebermos.
garrafa as borras, de forma a restar no dito decanter somente
A pergunta, porém, é se todos os vinhos precisam ter essa
o líquido que iríamos beber. O processo originalmente se fazia
oxigenação no momento imediatamente anterior ao seu consumo.
colocando uma vela acesa atrás da garrafa que, com cuidado,
E a resposta é não. Apenas os vinhos mais estruturados, mais
teria seu conteúdo transbordado para o decanter. A iluminação
novos, mais alcoólicos ou com outras características especificas
da vela por traz da garrafa nos permitiria ver quando as borras
é que normalmente se beneficiarão dessa oxigenação. Um vinho
estivessem se aproximando do gargalo da garrafa e nesse
mais simples, do dia a dia, não mostrará normalmente qualquer
momento poderíamos parar o transbordo, retornar a parte sólida
evolução. Um vinho mais envelhecido pode ser até prejudicado
para o fundo da garrafa e então reiniciarmos o transbordo de
com uma oxigenação exagerada. Na maioria dos casos, abrir a
modo a garantir que apenas a parte líquida do vinho restasse
garrafa duas ou três horas antes do consumo ou servir o vinho
no decanter. Repetindo esse processo até que todo o vinho
nas taças de 30 a 60 minutos antes de bebê-los já será suficiente
(parte líquida) fosse transferido para o decanter.
para a oxigenação buscada.
O caso, porém, é que são poucos os vinhos que apresentam
Mas, enfim, para aqueles que gostam da sofisticação e
sedimentos sólidos e, na prática, quase ninguém hoje em dia
charme que se pode agregar ao momento do vinho com a
utiliza o decanter da forma descrita acima. Os enófilos de plantão
utilização de um bom decanter, até porque muitos deles são
que apreciam o decanter o utilizam para oxigenar o vinho. Como
verdadeiras peças de decoração ou até de arte, não se acanhem,
sabemos, os vinhos evoluem a partir de seu contato com o
usem-nos. Apenas procurem não fazê-lo se o vinho for um idoso.
oxigênio, ou seja, quando sofrem oxigenação. Essa oxigenação
Tim-tim!
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DIA&NOITE
naturezassencial
Rafael Marques Porto
Em 2018, o ambientalista e fotógrafo Rafael Porto e Yara Pesek, do Instituto PesekAraújo, iniciaram parceria para comemorar dez anos de criação do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, a maior reserva de Mata Atlântica do Brasil. Dessa parceria surgiram as imagens clicadas por Rafael a partir do trabalho de preservação ambiental do instituto na região, “evidências daquilo que a determinação e a perseverança de um indivíduo podem realizar e um convite à reflexão sobre o que mais podemos fazer para preservar o meio ambiente”. Até 28 de março seu trabalho estará na mostra Equilíbrio, em cartaz na galeria da Casa Thomas Jefferson (706/906 Sul). Rafael é brasileiro nascido nos EUA e viveu a maior parte de sua infância e adolescência na Europa, passando também pelo Líbano. Biólogo, mestre e doutor em biologia celular, atua na área da pesquisa no Instituto Butantan. Estimulado pela mesma paixão que o levou à ciência, ele se esforça em mostrar a essência da natureza e do ser humano. De segunda a sexta-feira, das 8 às 20h, e sábado, das 8 às 12h. Entrada franca.
contrafluxo
anônimos
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universodiferente
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Chama-se A meio colo de mim a publicação que o professor Domingos Pereira Neto lançará dia 4 de abril no restaurante Carpe Diem (104 Sul), a partir das 19h. Trata-se de um livro-poema de dez estrofes que o autor criou para seu filho Eduardo, que perdeu a audição aos dois anos. Nascido em Pindaré-Mirim, no Maranhão, Domingos é autor de cinco obras, mas há 20 anos não publicava. A meio colo de mim começou a ser escrito em 2009, em Natal, Rio Grande do Norte, onde o autor fora em busca de tratamento para a criança. Usando a poesia como chave, o poeta abre as portas de um universo diferente, onde as dificuldades e agruras são caminhos para um novo modo de ver o mundo, um novo tipo de compreensão e amor. O livro de 160 páginas foi publicado pela editora ArtLetras e custa R$ 35. Depois do lançamento, poderá ser adquirido na Banca da Conceição (308 Sul) e no Espaço Cultural Leão da Serra, no Taquari.
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Esse é o título da exposição em cartaz até 24 de abril na Galeria do Sesc (504 Sul), com obras dos artistas Aya Villena, Janaína Moraes, Laura Samily, Marcello Nóbrega, Natasha de Albuquerque, Rodrigo D’Alcântara e Tauan Gon. Na vernissagem, dia 12 de março, foi exibido o curta-documentário Confluências, que teve participação desses artistas com a proposta de criar encontros que identifiquem a cena artística de diferentes regiões do país. De acordo com a comissão curadora, composta por Cinara Barbosa (DF), Marcelo Campos (RJ) e Tania Queiroz (RJ), o título da exposição, Contrafluxo, aponta para a necessária atitude, “em especial quando falamos de arte, de ir contra a corrente, ou seja, contra o fluxo. A inquietação, estado caro àqueles que participam do sistema da arte, aqui se faz presente, seja por meio dos processos de trabalho, das obras apresentadas, seja por meio dos debates que aconteceram durante todo o programa”. Diariamente, das 9 às 21h.
O cenário é a cidade de Nova York e seus milhares de imigrantes desconhecidos. O olhar do fotógrafo Armando Salmito consegue captar conexões entre a realidade e o sonho, a vida corrida e o descanso, o trabalho e a distração plena desses anônimos fotografados, podendo até imaginar o que eles estão procurando. Assim é a exposição Anônimos, em cartaz na Galeria Parangolé, do Espaço Cultural Renato Russo, até 5 de abril. Com curadoria de Patrícia Lira, apresenta 16 imagens que retratam o dinamismo da metrópole norte-americana com foco na ideia do anonimato. Segundo explica o fotógrafo, o ensaio remete a memórias quase esquecidas que guardamos, imagens e impressões que se esquivam ao longo dos dias: “Cada foto evoca um universo onde muita coisa se repete, muita coisa é desconhecida e muito pode ser inventado. Ao ver essas imagens, cada pessoa pode ver um pouco de si mesma, de algo há muito esquecido, um pedaço da vida, um sentimento descartado, um rosto, um lugar um tanto familiar e um tanto estranho”. Nascido no Rio, Salmito mora desde criança em Brasília. De terça a sábado, das 10 às 20h, e domingo, das 10 às 19h. Entrada franca.
João Caldas
humoreamor Até 22 de março o CCBB apresenta o espetáculo A valsa de Lili, inspirado no livro Pulmão de aço, de Eliana Zagui. Sucesso de público e crítica em São Paulo, o texto de Aimar Labaki, encenado por Débora Duboc e dirigido por Débora Dubois, promove o contato da plateia com uma personagem que está fisicamente paralisada, mas encontra-se intelectual e emocionalmente livre. As duas Déboras, a atriz e a diretora, unem-se para contar a história da mulher que sofre de paralisia e movimenta apenas a cabeça. “A luta de Lili para sobreviver em condições tão adversas, sem perder o humor e o amor, é a metáfora perfeita para os dias sombrios que vivemos, entre a violência e a desesperança”, afirma Aimar Labaki. Débora Duboc já recebeu o Prêmio APCA de melhor atriz pela atuação na peça. E o espetáculo foi indicado ao Prêmio Aplauso Brasil nas categorias de melhor texto, melhor atriz e desenho de luz. De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 30 e R$ 15, à venda na bilheteria do CCBB.
Tainá Xavier
deusanegra “E se Deus fosse uma mulher negra?”, pergunta Fernanda Jacob que, juntamente com Tuanny Araújo, dirige a peça Ramal 0003, em cartaz dias 21 e 22 ço, na Casa dos 4 (708 Norte, Bloco F), e dias 28 e 29 de março, no Espaço Pé Direito (Vila Telebrasília). “Acreditamos que poucas pessoas fazem essa pergunta, então criamos uma narrativa que trata com muita naturalidade essa possibilidade”, diz Fernanda, para depois acrescentar: “Assim, por meio do riso, tornamos a crítica e o discurso mais acessíveis”. A montagem do Grupo Embaraça, nascido em 2012 dentro da UnB, mostra com comicidade o dia a dia de um escritório quase convencional. Telefonemas, e-mails e carimbos dividem espaço com a principal tarefa realizada ali: a organização do mundo. Neste secretariado celestial, Carmen e Doroteia são responsáveis pelo Setor Planeta Terra e supervisionam o que acontece aqui, auxiliando, assim, a deusa no comando do universo. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 98127.8667.
cabaréirreverente Ainda dá tempo de assistir ao último espetáculo da série Temporada de verão 2020 do teatro de bolso Espaço Cena (205 Norte, bloco C). Dias 20 e 22 estará em cartaz o Cabaré da nega, com Ana Luiza Bellacosta e convidados pra lá de engraçados. Comandado por Madame Froda, um grupo de palhaços se encontra para um espetáculo, “uma sinfonia de besteiras, afinadas em riri sem dó”. Com direção musical de Julia Ferrari, o espetáculo tem elenco formado por Ana Luiza Bellacosta, Lelê Marins, Guilherme Carvalho e Elisa Carneiro. O som fica a cargo da banda Família Ferrari. Com apoio do FAC, a temporada teatral de verão tem como foco apresentar espetáculos premiados com artistas consagrados das artes cênicas do Distrito Federal. Ingressos a R$ 20 e R$ 10, à venda na bilheteria do teatro e em www.sympla.com.br. Dia 20, às 19h, e dia 22, às 17h. informações: 3349.3937, das 14 às 18h.
Jemima Tavares
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procurandonemo O solitário peixinho Marlin cria Nemo, seu único filho, um peixe-palhaço que se aventura no primeiro dia de aula e, após ser capturado por um mergulhador, vai parar no aquário de um dentista. Enquanto Nemo tenta arquitetar um plano de fuga, seu pai cruza o oceano à sua procura e, no caminho, encontra a esquecida e solícita peixinha Dory. Estão aí os elementos principais da aventura em cartaz no teatro da Escola Parque 307 Sul a partir da animação da Disney e da Pixar Procurando Nemo. O filme que recebeu um Oscar de Melhor Animação em 2003 está agora na montagem da companhia Néia e Nando, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos : R$ 40 e R$ 20. Vendas antecipadas no escritório da companhia teatral (510 Sul, bloco B, entrada pela W2) ou na bilheteria do teatro, a partir das 15h. Informações: 3242.5278.
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carreiracinquentenária Um dos maiores hits da década de 80, Total eclipse of the heart, está no set-list do show que Bonnie Tyler fará no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, dia 13 de maio, às 21h. A diva pop galesa estará em turnê pelo Brasil para celebrar 50 anos de carreira e divulgar seu último disco, Between the earth and the stars. A estreia será em São Paulo (8/5). Depois a cantora segue para Goiânia (9/5), Brasília, Porto Alegre (15/5), Florianópolis (16/5), Curitiba (17/5), Tubarão (23/5), Rio de Janeiro (24/5), Recife (29/5) e Salvador (30/5). Além da participação de David Mackay, que produziu seus dois primeiros álbuns nos anos 70, entre os compositores das músicas do disco estão colaboradores de longa data como Kevin Dunne, Brian Cadd e Stuart Emerson, e novas contribuições com Sir Barry Gibb e Amy Wadge. O álbum também possui três emocionantes duetos com Rod Stewart, Cliff Richard e Francis Rossi. Ingressos entre R$ 150 e R$ 300, já à venda em www.ingressoanacional.com.br e nas lojas Free Corner.
tiêdezanos Divulgação
lagodoscisnes Esse clássico do balé internacional foi escolhido pelo Moscow City Ballet para marcar sua estreia em Brasília, dia 23 de maio, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães. Fundada em 1988 pelo coreógrafo russo Victor Smirnov-Golovanov, a companhia já coleciona mais de duas mil apresentações pelo mundo, com público que ultrapassa a marca de um milhão. Durante duas horas e dez minutos, em dois atos, 38 bailarinos interpretarão a peça Lago dos cisnes, composta pelo russo Piotr Ilitch Tchaikovski (1840-1893), sob direção artística de Ludmila Nerubashenko. Nas mais de três décadas de estrada, a companhia tem como objetivo reproduzir as obras de grandes coreógrafos da Rússia dos séculos 19 e 20, com cenários suntuosos e muitos bailarinos em cena, tornando o espetáculo uma experiência marcante. As produções de SmirnovGolovanov, bem como as versões anteriores dos balés clássicos, compartilham um estilo, ideias e integridade coreográfica claramente definidos, estabelecendo padrões de alto desempenho. Ingressos entre R$ 70 e R$ 180 à venda na Livraria Cultura, do Shopping Iguatemi, sem taxa de conveniência.
Ela estudou canto em Nova York e antes de traçar seu voo solo fez turnê com Toquinho. É Tiê quem vem a Brasília se apresentar no projeto Pier Musical, no dia 20 de março. Com quatro discos autorais lançados, turnês internacionais, participações em grandes festivais, dez músicas emplacadas em trilhas sonoras de novelas e diversas parcerias musicais, a cantora celebra seus dez anos de carreira e o caminho que percorreu para chegar ao atual momento profissional. Para registrar a primeira década de carreira, Tiê gravou seu primeiro DVD ao vivo em 2019, com releituras, sucessos e inéditas, totalizando 17 faixas. Batizado de Dix (dez, em francês), o DVD conta com as participações de Cynthia Luz e do cantor e compositor Rael. “Tem um olhar de maturidade diferente nesse trabalho. Estou mais leve, porém ainda muita intensa. O dez representa a ausência e a completude ao mesmo tempo. Ou seja, a falta de um repertório só de inéditas, como estou acostumada a lançar, mas a totalidade de revisitar o caminho até aqui”, reflete a cantora. No Pier 21, às 21h, com entrada franca.
Neste mês de homenagem às mulheres, todo domingo é dia de Roda de Choro no Terraço Shopping. Sempre com início às 13h, o projeto apresenta, dia 22, o Regional Saracuruna que reúne os instrumetistas Léo Benon (violão), Rafael Bandol (bandolim), Breno Alves (pandeiro) e Dudu 7 Cordas (violão). Eles fazem um passeio por clássicos do choro, com músicas de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Luiz Gonzaga. No último domingo do mês o projeto recebe o bandolinista Victor Angeleas e o cavaquinhista Márcio Marinho (foto). Com um ano e meio de existência, o duo transita bem em diferentes estilos musicais: do samba ao rock, do choro ao forró, do jazz à MPB, sempre com muita autenticidade. Entrada franca.
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DIA&NOITE
orlandobrito O fotógrafo brasiliense de coração Orlando Brito é personagem do documentário Não nasci para deixar meus olhos perderem tempo, de Cláudio Meireles, um dos dez filmes classificados na mostra competitiva do festival É tudo verdade, em sua 25ª edição, que acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro entre 26 de março e 5 de abril. Com roteiro da jornalista Rita Nardelli e montagem de Douro Moura, o filme será exibido dia 30 de março no Cine Itaú Augusta, às 21h, e dia 31 no Cine Estação Net Botafogo, no Rio de Janeiro, às 18h30. No cartaz do documentário brilham os belos olhos de Dona Conchita, mãe do fotógrafo. Mineiro da cidade de Janaúba, Brito chegou a Brasília na época da inauguração e começou a carreira como laboratorista da sucursal do jornal carioca Última Hora, aos 14 anos de idade. Dois anos depois já era fotógrafo do jornal. Trabalhou em O Globo entre 1968 e 1982 e na revista Veja entre 1982 e 1998, tendo sido responsável pelas fotos de capa de mais de 100 edições. É autor dos livros O perfil do poder; Senhoras e senhores; Brasil, de Castello a Fernandos; Poder, glória e solidão; Iluminada capital e Corpo e alma. É atualmente diretor da agência de notícias ObritoNews.
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Há mais de 20 anos a flautista norte-americana Wendy Rolfe e a pianista brasileira Maria José Carrasqueira mantêm uma parceria e se apresenta regularmente nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países. Dia 20, às 20h, o duo se apresenta no palco da Casa Thomas Jefferson (706/906 Sul), com entrada franca. No repertório, obras de compositores norte-americanos, brasileiros, europeus e latino-americanos de diferentes períodos. A parceria de Wendy e Maria José resultou na gravação do álbum Images of Brasil, da gravadora Odyssey Discs, dedicado às obras brasileiras escritas para flauta e piano, além de muitos trabalhos de apresentação e gravações consideradas um sucesso pela crítica especializada e pelo público exigente, no Brasil e no exterior. Do programa do concerto na Casa Thomas Jefferson constarão peças de Johann Sebastian Bach (1685-1750), do pianista e compositor paulista Osvaldo Lacerda (1927-2011) e do compositor e arranjador gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988), entre outros.
coralbrasília Só nos últimos quatro meses suas 50 vozes já ecoaram nas salas de concerto de Braga, Cidade do Porto e Dublin, assim como no Hospital Sarah Kubitschek, para alegrar a vida de quem precisa de cuidados. Dia 27, às 20h, o Coral Brasília vai se apresentar no palco da Casa Thomas Jefferson da Asa Norte (SGAN 606). Fundado em 1995 pelo maestro Sirley de Paula, o grupo é regido atualmente pelo maestro Deyvison Miranda e se dedica à divulgação do repertório coral e da cultura musical brasileira, em composições e arranjos representativos da música erudita, popular e folclórica. Já foram vencedores em vários prêmios internacionais e participaram de concertos de grande prestígio mundo afora. O Coral Brasília mantém firme seu projeto de realização de concertos didáticos em escolas públicas, além de apresentações em hospitais e asilos. Do programa da apresentação na Casa Thomas Jefferson constarão peças do repertório sacro, erudito, popular e folclórico. Entrada franca.
Ivan Simas
Quando participou do programa The Voice Kids, Bell Lins tinha apenas 15 anos. Agora, a jovem brasiliense de 19 anos vai mostrar todo seu talento em participação especial no projeto Terraço in Concert, dia 19 de março às 20h. Cantora desde os cinco anos por influência do pai, que é cantor e musicista, a jovem é fã de Michael Jackson, Joss Stone, Lenine, Ellen Oléria e Maria Gadú, toca violão e também é compositora. No show de abertura do projeto, a banda Surf Sessions vai apresentar as músicas do novo disco Inverso, com destaque para as faixas Cedo vão os bons, Estrada do céu e Desligar o mundo. Com 12 anos de carreira, a banda é formada por Rafael Monte Rosa (guitarra e voz), Bittenca (guitarra/violão e voz), Renato Azambuja (percussão e voz), Jorge Bittar (teclado) e Juninho Fernandes (bateria), e alterna vocalistas nas ondas da surf music – que tem pés em ritmos como reggae, ska, rock e hip-hop e marca repertórios de nomes como Jack Johnson, Ben Harper, Bob Marley, The Specials, Amy Winehouse, Raimundos e The Police. Entrada franca.
Divulgação
flautaepiano
madeinbrasília
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
Hugo Rodas POR VICENTE SÁ FOTOS SÉRGIO AMARAL
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m maio, Hugo Rodas comemora 81 anos com duas peças em cartaz, no Espaço Cultural Renato Russo: Os saltimbancos e O rinoceronte. É o jeito desse jovem octogenário comemorar – com trabalho e com entrega. Afinal, mais da metade de sua existência e, com certeza, a maior parte de sua vida profissional ele passou aqui produzindo música, dança e teatro. Por isso, a cidade também festeja, pois, para uma mãe de tantos filhos candangos de terras distantes, o Uruguai não é tão longe assim. Foram dezenas e dezenas de peças, coreografias, músicas, cenários, instalações, ambientes, aulas, cursos e conversas em que Hugo se entregou aos companheiros de trupe, alunos, espectadores e à cidade que tanto o encanta. Mas, antes de explicarmos como surgiu essa paixão mútua, esse arrebatado amor de um pelo outro,
ele nos conta da sua paixão pela arte que começou na infância, em Juan Lacaze, Colônia, Uruguai: “Eu sou filho único e era uma criança muito danada, inquieta, aprontava muito e por isso vivia de castigo no banheiro, que tinha um espelho imenso no qual eu me via de corpo inteiro. Então, na solidão dos castigos, comecei a representar cenas que eu via no cinema. Eu sempre tive a arte comigo’’. Com a sorte de ter nascido na Suíça latino-americana, Hugo estudou piano desde os seis anos, também canto, fez balé e teatro, e mesmo das profissões que exerceu quando novo, que não eram afeitas ao teatro, como protético dentário, cabeleireiro e maquiador, ele se aproveitou para levar esses conhecimentos para a arte. “O detalhismo da profissão de protético, até hoje, me acompanha”, lembra. Hugo também é professor de piano, solfejo, teatro, dança... e foi com a dança que manteve o primeiro contato com
Brasília, vindo substituir um professor em um curso, em 1975. Ele estava em Salvador, e havia decidido ficar no Brasil, apesar da ditadura militar. “Eram tantas ditaduras na América do Sul que eu achei melhor sofrer em ritmo de samba do que de tango. Então, eu estava trabalhando com um professor que foi convidado para dar um curso de 15 dias em Brasília e, não podendo, me pediu para vir no seu lugar. Naquela época, Brasília tinha 15 anos, era uma loucura. Eu nunca tinha conhecido uma cidade de apenas 15 anos. Então eu vim e já do avião começou meu encantamento com a cidade. E aqui só aumentou. As pessoas gostaram de mim e de meu trabalho e perguntaram o que eu precisava para ficar aqui. Só um lugar para ficar e alunos, eu disse, e me mostraram uma lista com 50 nomes de alunos, me arrumaram um lugar para dar aulas e outro para morar, e eu fiquei”. Já no ano seguinte, 1976, Hugo tra-
balhou na montagem de João sem nome, musical de Oswaldo Montenegro que fez um grande sucesso na cidade e colocou mais luz em cima desse dançarino cabeludo que falava alto um portunhol encantador. Depois começaram as peças e os grupos. Cada grupo, para Hugo, é uma família que ele curte para sempre, mesmo depois do grupo desfeito. Por isso tantos amigos nesses 45 anos. Já em 1977 criou o grupo Pitu e montou Os saltimbancos, que ganhou o prêmio do Serviço Nacional de Teatro de melhor montagem infantil. As peças se sucederam, sempre com a marca da loucura criativa de Rodas. Mudou-se para São Paulo, onde trabalhou com Antônio Abujamra e José Celso Martinez Corrêa, mas a paixão por Brasília e a correria de Sampa o trouxeram de volta ao Cerrado. Trabalhou também com Marília Gabriela e Denise Stocklos e, em 1997, ganhou o Prêmio Shell pela direção de Doroteia, ao lado dos irmãos Adriano e Fernando Guimarães. Retomou a parceria com Antônio Abujamra e montou Os demônios, de Fiódor Dostoiévski, que foi muito bem recebida no Rio de Janeiro. A cada ano, o talento transformador de Rodas foi encantando público, atores e críticos. O reconhecimento do trabalho desse multiartista vai além do respeito e admiração do meio artístico e do público. A cidade não deixou de perceber e reconhecer a contínua moldagem da arte candanga que ele persegue. O Governo do Distrito Federal deu mostras disso ao lhe outorgar as honrarias de Comendador e Oficial da Ordem do Mérito Cultural de Brasília, a Câmara Distrital o de Cidadão Honorário e a Universidade de Brasília, onde ele trabalha até hoje como professor pesquisador, o de Notório Saber em Artes Cênicas e Professor Emérito. Os problemas de saúde ou qualquer dificuldade que a idade traz são encarados de frente e sem medo por esse eterno apaixonado por Brasília. E como o lema dele é criar sempre, para este ano ele prepara uma surpresa para seu público: “Nestes tempos loucos e difíceis que vivemos, estou concebendo uma montagem sobre a loucura. Vai ser fantástica”. Mas, antes que a loucura de Hugo Rodas suba aos palcos da cidade, O rinoceronte e Os saltimbancos nos esperaram, em maio, nas comemorações do seu aniversário, no Espaço Cultural Renato Russo.
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GALERIADEARTE
Efêmeras
linhas da vida
A instigante exposição da artista plástica japonesa Chiharu Shiota, em cartaz no CCBB. POR ALEXANDRE MARINO
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ara compreender e se aprofundar no trabalho da artista plástica japonesa Chiharu Shiota, que tem mostra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil até 10 de maio, é preciso ter em mente a efemeridade da vida e, portanto, de tudo. Este é o primeiro elemento que move seu processo criativo, gerador de uma torrente de energia que a montagem da exposição intensifica, ao estabelecer ou quebrar vínculos entre obras aparentemente desiguais, distribuídas nas galerias 1 e 2 e no Pavilhão de Vidro. A exposição Linhas da vida reúne cerca de 70 obras que percorrem toda sua trajetória.
A partir da ideia de que tudo é transitório, alguns ícones se tornam frequentes em suas diversas linguagens, que vão dos desenhos a crayon sobre papel até as instigantes instalações, especialmente a obra Além da memória, que ocupa todo o espaço do Pavilhão de Vidro, última parte da mostra. Barcos, peças de vestuário, cartas, chaves, partes do corpo são alguns desses ícones que compõem a obra de Chiharu, unidos e em movimento contínuo e cadenciado, como a dos astros no espaço ou do sangue nas veias. É a vida que segue seu curso e se transforma. Tudo é interligado – é o que parecem dizer as linhas com que ela trama labirintos ou envolve objetos que re-
tira do cotidiano e transforma em símbolos do efêmero e, ao mesmo tempo, de questões eternas. Apesar da efemeridade, há um fluxo contínuo de vida em que ela mergulha e interfere, lançando mão de suportes distintos para uma leitura pessoal desse complexo movimento. A história de vida de Chiharu Shiota guia sua trajetória artística, e algumas experiências marcam profundamente sua obra, como o tratamento de um câncer de ovário diagnosticado em 2005. “Assim que o espectador entrar no espaço, quero que ele reflita sobre sua vida, seus propósitos, suas conexões e suas memórias”, revela a artista, em comentário sobre a exposição que percorre três
fias, esculturas, desenhos, fotografias e vídeos também fazem parte da mostra. “Performances intimistas reveladas em vídeos, roupas que na perspectiva da artista são como uma segunda pele e carregam traços e vestígios de uma vivência, objetos de vidro representando órgãos do corpo, são gestos e objetos artísticos que se refe-
rem à vida humana de forma geral”, analisa a curadora da exposição, Tereza de Arruda, mestre em História da Arte formada pela Universidade Livre de Berlim. Linhas da vida
Exposição de Chiharu Shiota. Até 10/5 no CCBB (SCES, Trecho 2). De 3ª a domingo, das 9 às 21h.
Fotos: Divulgação
unidades do CCBB – já esteve em São Paulo e, após Brasília, será vista no Rio de Janeiro. “Quero unir as pessoas no Brasil, não importando sua origem, status social, formação ou qualquer outro fator divisor. Como humanos, devemos vir juntos e questionar o nosso propósito na vida e por que aqui estamos.” A cor vermelha, representando o sangue e a energia de vida, e a branca, simbolizando o ponto de partida, o vazio a ser preenchido pelo desconhecido que virá ou pelas lembranças moldadas pelo tempo, predominam ao longo do percurso da mostra. Abre-se um túnel através de sensações, lampejos, revelações; é recomendável percorrê-lo com a mente aberta e o coração tranquilo. Nascida em Osaka, em 1972, e vivendo atualmente em Berlim, Chiharu Shiota iniciou sua carreira artística em 1994, tendo a pintura como principal suporte. Algum tempo depois, uma crise existencial a levou a deixar de pintar, só voltando a utilizar a tela após 20 anos, agora usando a trama de lã. Embora seja uma obra mais recente, a tela Pele, que pode ser vista na exposição, é exemplar dessa técnica, feita de uma densa rede de fios trançados sobre a superfície. Litogra-
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GRAVES&AGUDOS Leo Aversa
Djavan
Manfred Pollert
Guinga
Temporada de homenagens POR HEITOR MENEZES
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m nome que brilha nestes dias – um tanto oculto, é verdade – é Elis Regina (1945-1982), que nos faz uma falta terrível. Dia 17 de março Elis completaria 75 anos. É de se imaginar como estaria a Pimentinha a observar o estado de coisas em que nos metemos. Naquela época, suas opiniões eram fortes; hoje – evidente – não restaria pedra sobre pedra. Mas, viva Elis! Que bom que ainda estamos aqui com a sorte de presenciar poucos, mas respeitosos, tributos à maior intérprete que a música popular deste país já produziu. Elis era legal, até a Björk elogiou. Assim, neste sábado, 14, na Cervejaria Criolina (SOF Sul, Quadra 1), Joanah Duah nos fará lembrar dessa verdade ao passar em revista o poderoso repertório régio. Quem perder essa pode se redimir comScalene parecendo dia 20 ao Carpe Diem (104
Sul), para conferir Essa mulher, homenagem preparada pela cantora, compositora e professora de canto Marcia Tauil. Dia seguinte, as atenções recaem sobre o Setor Comercial Sul, onde, no Canteiro Central, ocorre Uma festa para Elis (Tributo a Elis Regina – 75 anos). Em ação, as vozes de Gaivota Naves, Lídia Dallet, George Lacerda, Alessandra Terribili, Lorena Ly e João Dutra recriando aquelas canções. Você tem uma favorita da Elis? Romaria? Como nossos pais? Para este escrivão, quando toca Atrás da porta (Chico Buarque) a pessoa se transforma: levanta da mesa do escritório, da cirurgia, do caixão, de onde estiver e vai para o bar beber silenciosamente. Devaneios etílicos e Salve Regina à parte, o período promete um tanto de tudo, na esperança de que o público consumidor de música ao vivo no DF complete o ciclo, isto é, frequente os ambientes, Indiana Nomma prestigie os artistas, faça girar a roda da
economia etc e tal. Bom pra todo mundo. Além de Elis, o destaque certamente fica por conta da homenagem aos 70 anos de Guinga, um dos gigantes da nossa melhor música popular. Violonista e compositor, considerado um dos mais sofisticados da MPB, o carioca Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar ganha homenagem em Guinga e as vozes femininas, série de shows que trazem ao teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, entre os dias 26 e 29, o próprio e as cantoras Mônica Salmaso, Leila Pinheiro, Gioia Persichetti e Anna Paes. Observem que o período não é só de MPB alta estirpe. No Toinha Brasil Show, grande templo do rock nas imediações do SOF Sul, a pedida, dia 19, é a banda italiana de symphonic metal Turilli/Lione Rhapsody. O negócio aqui é o seguinte: o guitarrista e tecladista Luca Turilli e o vocalista Fabio Lione formaram o grupo depois que o Rhapsody of
nam com a verdadeira Babel, ao cantar em inglês, espanhol, português, francês, italiano, alemão, latim e japonês. Quem também bebe um tanto da ópera e das sinfonias tão caras aos europeus, mas filtra tudo através do liquidificador power metal, é o pessoal da Sonata Arctica, em mais uma passagem por Brasília. O grupo finlandês é a atração principal do Brasília Medieval Fest, dia 4, no Toinha Brasil Show (SOF Sul). Festival medieval, isso mesmo. Os promotores avisam que vai ter música, dança, expositores, e combates (!!) naquele estilo gente com armadura e espada descendo o cacete em escudo alheio. Tudo encenação, é claro. Prepare-se para curtir as dançarinas do Imani Tribe, os Cavaleiros da Rosa de Ferro, a galera vestida a caráter e muita música. Bardow & Os Folks tocam na abertura. Por último, mas não menos importante, dia 4 também é dia de Djavan. O alagoano, cantor e compositor dos mais premiados e queridos da Música Popular Brasileira, retorna ao Ulysses Guimarães, com a turnê de Vesúvio, álbum lançado em 2018. É a última chance de os brasilienses conferirem esse trabalho. O artista é um caso raro, pois desde que surgiu nos anos 1970, produz incessantemente canções de altíssimo nível. Somente agora, na época do streaming, temos Djavan rodando seus sucessos por horas e horas. Na época do LP, eram 10, 12 músicas. Em CD, 18 a 20 músicas, digamos. Agora, sem as limitações físicas, temos Djavan indo ao infinito e além. Carol Siqueira
Tanta coisa e ainda estamos no dia 21. Nessa data, um sábado, corram para ver Nando Reis, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O Ruivão encerra em Brasília a turnê Esse amor sem preconceito, na qual rodou por aí mostrando com quantas canções se faz um grande Roberto Carlos. Não sou nenhum Roberto, mas ás vezes chego perto, álbum lançado em 2019, forneceu o material, a prova dos nove de o quanto RC é bacana, apesar do próprio negar o fato. Arnaldo Antunes, antigo comparsa nos Titãs, é o convidado de luxo e ajuda o amigo nessa empreitada titânica, diga-se. De volta à Cervejaria Criolina, dia 28, é a vez da banda baiana Maglore ocupar o charmoso galpão do SOF Sul. Liderada pelo cantor e guitarrista Teago Oliveira, que vai se revelando um compositor de mão cheia, a Maglore apresenta com desenvoltura o equilíbrio entre o rock dito alternativo e a MPB. A Maglore tem três bons álbuns de estúdio lançados desde 2011. O mais recente, de 2019, é o Maglore ao vivo. Estamos em abril. Dia 4, quem volta a dar as caras por aqui é o quarteto multinacional Il Divo. No palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o suíço Urs Bühler, o espanhol Carlos Marin, o norte-americano David Miller e o francês Sebastien Izambard mostram o tal do crossover clássico, isto é, aquela mistura de música clássica com pop e tons operísticos. Os caras sabem agradar, não só pelo talento e presença física elegante, mas também porque impressioCarol Siqueira
Fire, expoente do symphonic power metal, encerrou as atividades. Em verdade, trata-se do mesmo grupo, mas com a nova alcunha, pois os demais membros também exibiam virtuosismo na época em que se chamavam Rhapsody of Fire. Ursal, vocês sabem, é o acrônimo de União das Republiquetas Socialistas da América Latina, uma gozação que acabou sendo levada a sério pelos alucinados seguidores de um candidato nas eleições passadas para a presidência da República. O nome viralizou, é claro, e batiza o Samba da Ursal, projeto que o misto de pub e sala de estar Eye Patch Panda (504 Sul) apresenta dia 19. Roda de samba ao vivo, com violão de 6 e 7 cordas, cavaco, flauta, sax e percussão, ali pela W3 Sul, quem diria. Atitude independente é o mote por trás da cantora e compositora YMA, atração do dia 19 na Cervejaria Criolina (SOF Sul). Se pedirem uma definição, pode dizer que é um indie pop/rock climático, mais conhecido como chillwave. O mesmo espaço, dia 20, abriga o grupo Sabor de Cuba (destaque na Roteiro do mês passado), cujo nome indica, sintetiza a grande música cubana, para quem o son cubano, a salsa, a cumbia, o mambo e o bolero são apenas ingredientes de um caldeirão fumegante de ritmos caribenhos. ¡Candela! Tributo ao Buena Vista Social Club, o título do show também é autoexplicativo. Músicos de alto nível, músicas idem. Não tem como dar errado. Dia 20, tem Tiê, grátis, no shopping Pier 21. A cantora paulistana traz de volta à capital aquele som agridoce que paralisa apaixonados e amolece corações de pedra. Vejam, é romantismo, mas não é pieguice açucarada que faz um mal danado aos propensos ao diabetes. Se no quesito cardíaco-sentimental vocês estiverem resolvidos, então podem encarar a Tabajara Orquestra, sem medo de ser feliz. O agrupamento – anteriormente chamado de Orquestra Tabajara – que deu fama e longa vida ao inesquecível maestro Severino Araújo (19172012) retorna a Brasília com sua nova encarnação, desta vez sob o comando de Francisco Araújo, filho do homem. Vocês sabem, é música para dançar, mas com orquestra, os naipes organizados, músicos sóbrios e elegantes, coisa rara em nossos dias. Quando? Dia 20, na ASBAC (Setor de Clubes Sul), e dia 21, no Iate Clube (Setor de Clubes Norte).
Lobão
Nando Reis
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Bento Viana
GRAVES&AGUDOS
Ninguém segura Os Gatunos! POR PEDRO BRANDT
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eria quase correto dizer que a banda brasiliense Os Gatunos oferece diversão sem palavras. Afinal, o trio formado pelo guitarrista Fabrício Paçoca, pelo baixista Felipe Rodrigues e pelo baterista Marcelo Melo pratica surf rock instrumental, a vertente eternizada por nomes dos anos 1960 como as bandas The Ventures, The Surfaris e pelo guitarrista Dick Dale. Os três, ainda por cima, entregam um show enérgico, pra cima, que convida à dança, mas também serve para sacudir a cabeça ou apenas bater o pezinho. À presença cênica soma-se um figurino em preto e branco, máscara e boina usadas pelos gajos. A graça é completada, e aqui se explica o “quase” da primeira frase, pelo fato de Paçoca ser um piadista nato: nos shows, entre uma música e outra, sempre sobra espaço para um gracejo ao microfone, uma brincadeira com algum amigo presente na plateia, uma imitação fanfarrona ou um chiste qualquer. Se você tiver a oportunidade de vê-los ao vivo, não perca. Ou então acesse sua plataforma de música favorita e escute o segundo álbum da banda, Swing manifesto, recém-disponibilizado para audição. “Esse disco é mais eclético do que o pri-
meiro”, compara Paçoca em relação ao disco Os Gatunos vão à praia, de 2016. “A ‘roupagem’ principal do som continua sendo a surf music, mas o novo disco tem mais flertes com outros gêneros musicais, como ijexá e bolero, por exemplo. Nesse sentido, eu diria que ele é mais latino”, detalha o guitarrista. Ao longo das dez faixas, Swing manifesto passa também por rockabilly, punk rock e rhythm and blues, caso da interpretação para a música Poison Ivy, composição de Jerry Leiber e Mike Stoller eternizada pelo conjunto vocal The Coasters e regravada por dezenas de outros artistas – inclusive no Brasil, vertida para o português como Erva venenosa, em versão dos Golden Boys, posteriormente regravada por Rita Lee. “A nossa ideia é sempre botar dez músicas nos nossos discos, sendo nove autorais e uma versão”, explica Paçoca. Os Gatunos começaram, aliás, como um projeto de versões instrumentais, de veia surf, que o guitarrista apelidou de “música popular de boteco”, aquela que costuma aparecer em formato voz e violão nos barzinhos, hits do pagode, do pop rock e da MPB. “As pessoas não imaginam que a gente vai tocar Sidney Magal ou Claudinho & Buchecha”, divirte-se o guitarrista. Mas, depois do pri-
meiro show, em 2013, em pouco tempo – e inevitavelmente, dado o histórico de compositor e multi-instrumentista de Paçoca, com passagens por bandas como Los Torrones e Os Dinamites – as versões para canções de Dorival Caymmi, Lulu Santos, Leandro & Leonardo e Claudinho & Buchecha passaram a dividir espaço com as criações do trio. Quem gostar de Swing manifesto e quiser ter uma versão física do disco pode adquirir o álbum tanto na versão CD-R (com rótulo impresso, caixinha e tudo mais) quanto em fita cassete, cortesia do selo Tudo Muda Music, iniciativa de músico e colecionador de discos Mauro Rocha.
Swing manifesto
Segundo álbum da banda brasiliense Os Gatunos. 10 faixas. Ouça em osgatunos.bandcamp.com ou soundcloud.com/gatunos_surf.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Sobre ética e honra Em seu novo longa, Roman Polanski reconta o polêmico “Caso Dreyfus”. POR PEDRO BRANDT
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m determinado momento do filme O oficial e o espião, dirigido por Roman Polanski, os personagens vividos pelos atores Louis Garrel e Jean Dujardin, respectivamente o oficial de artilharia Alfred Dreyfus e seu superior, o capitão Georges Picquart, travam um diálogo no qual o primeiro questiona o segundo sobre as avaliações recebidas por ele em um exame do exército francês – em sua opinião, abaixo de seu efetivo desempenho. “Seria por que sou judeu?”, pergunta Dreyfus. Picquart lhe responde que, apesar de suas ressalvas contra os judeus, isso não influencia seu comportamento profissional. A desconfiança de Dreyfus tinha fundamento. Militar tido como irrepreensível, ele era um dos poucos judeus em cargos de destaque nas forças armadas francesas no finalzinho do Século 19. Entretanto, sua origem étnica, em um período de arraigado antissemitismo na França, o tornou o alvo preferencial em uma conspiração que marcou a história do país europeu. O “Caso Dreyfus”, como ficou conhecido, foi tema de livros, filmes e do-
cumentários ao longo das décadas. O oficial e o espião, a produção franco-italiana dirigida por Polanski, é uma daptação do romance histórico An officer and a spy, escrito por Robert Harris e lançado em 2013 (ainda inédito no Brasil), que reconta como Alfred Dreyfus foi expulso do exército e condenado por traição por um crime que não cometeu. Ao descobrir a tramoia, Georges Picquart, militar incorruptível, inicia uma investigação para provar a inocência do colega de farda. Picquart apresentou suas provas para a imprensa e, a partir delas, o escritor Émile Zola escreveu uma carta aberta, endereçada ao presidente Félix Faure, publicada no jornal liteário A Aurora, que caiu como uma bomba na sociedade francesa: “Eu acuso o general Mercier de ser cúmplice de uma das maiores injustiças do século. Eu acuso o general Billot de ter provas da inocência de Alfred Dreyfus e omiti-las. Eu acuso os peritos de terem alterado os relatórios de forma fraudulenta”. Responsável por O bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974) e O pianista (2002), entre tantos outros fimes consagrados, o franco-polonês Roman Polanski entrega em O oficial e o espião uma
elegante master class cinematográfica, com atuações de altíssimo nível, uma belíssima apresentação – em cores, figurinos, locações, direção de arte e fotografia – mais que convincente da Belle Époque e, principalmente, com um roteiro bem amarrado, que não parece apressado e, ainda assim, não se delonga desnecessariamente ao colocar em cena as peças da trama desse episódio histórico. Não à toa, o filme recebeu o prêmio do júri no Festival de Veneza em 2019 e, na mais recente edição do César, a maior premiação do cinema francês, ganhou em três de suas 12 indicações: melhor adaptação, figurino e diretor. Abordando temas como ética e honra, O oficial e o espião fala do passado, mas deixa uma reflexão mais que importante para os dias atuais. Nesse sentido, é crucial outro trecho da carta de Zola sobre a conspiração armada por membros do Estado para incriminar um inocente: “Quando uma sociedade chega a esse ponto, ela está em decadência”. O oficial e o espião
França/Itália/2020, drama/histórico/suspense, 132min. Direção: Roman Polanski. Com Jean Dujardin, Louis Garrel, Emmanuelle Seigner. Em cartaz no circuito nacional.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Julieta dos espíritos
Ginger e Fred
Fellini, muito além do tempo Depois de passar por São Paulo e Rio de Janeiro, chega a Brasília a mostra Fellini, il maestro, que comemora os 100 anos de nascimento de um dos maiores cineastas da história do cinema.
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estes tempos de saturação digital e pragmatismo, vale a pena perguntar que lugar o cinema onírico, mágico e humanista do italiano Federico Fellini ocupa nos corações e mentes das novas gerações. Fellini, il maestro tem a curadoria de Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida e vai acontecer entre 24 de março e 19 de abril. Praticamente toda a obra do autor de incontáveis e inesquecíveis clássicos (Amarcord e A doce vida são apenas dois deles) vai poder ser vista e discutida, já que a mostra prevê cursos, debates gratuitos, além de um volumoso livro-catálogo com mais de 400 páginas, com artigos críticos, ensaios, entrevistas, filmografia e fotos. O catálogo poderá ser adquirido por todos aqueles que comprovarem a presença em cinco sessões da programação.
Como se pode qualificar o cinema de Fellini? Talvez a pergunta fosse melhor respondida se a invertêssemos, afinal de contas o estilo (ou a estética) desse singularíssimo realizador acabou por se tornar uma adjetivação: “fellinianos” são os filmes que nos remetem ao universo caricatural e fantasioso do autor de Satyricon,
Os boas vidas, A estrada, Noites de Cabíria etc etc etc. É curioso notar que Fellini surge no contexto do neorrealismo, movimento do segundo pós-guerra que preconizava filmes de forte caráter realista e crítico, aspectos contrastantes com o seu cinema. Um episódio real relacionado a Noites de Cabíria diz muito Fotos: Divulgação
POR SÉRGIO MORICONI
Casanova de Fellini
Noites de Cabíria
sobre a natureza de sua arte – e das artes de um modo geral –, especialmente às argumentações de que o seu cinema seria um sofisticado exercício poético não-realista de pouca penetração entre as camadas populares da população. Vejam então essa história. Esposa de Fellini e iridescente estrela de Cabíria, Giulietta Masina conta que certa vez teve a sua bolsa roubada em Roma. Colocou um anúncio no jornal pedindo que o ladrão a devolvesse porque dentro dela havia um objeto de grande valor afetivo. O ladrão fica sabendo que a bolsa pertencia a Masina, vai à casa dela e devolve tudo. Diz que Cabíria falava de sua vida e que o filme o havia emocionado profundamente. É interessante observar o percurso de Fellini. Estuda direito na faculdade, escreve para jornais e revistas, desenvolve atividades jornalísticas, mas principalmente colabora como chargista e desenhista de quadrinhos em diversas publicações. Chega ao cinema como colaborador do roteiro de Roma, cidade aberta e Paisà, obras seminais do neorrealismo, ambas de Roberto Rossellini. Em 1951, em parceria com Alberto Lattuada, estreia na direção com Luzes de variedades. A discussão em torno do realismo nas artes existe desde sempre. No cinema não foi diferente. As imagens colhidas pelo cinematógrafo – a máquina in-
ventada pelos irmãos Lumière que captava e exibia as imagens – têm sido consideradas por muitos críticos contemporâneos como “impressionistas”. A tese corrobora com várias das correntes da filosofia que sustentam que “o real são subjetividades”. Muito antes de A chegada do trem à estação de Ciotat e da Saída dos operários da fábrica, dois dos registros dos Lumière exibidos no Café de La Paix em Paris, em 1895, marcos inaugurais do cinema, o poeta Charles Baudelaire já se colocava como um inimigo mortal do realismo. Para ele, a pintura realista, depois a fotografia, eram instrumentos da burguesia para se perpetuar no poder. Baudelaire morreria em 1867, portanto antes do cinema. O francês Jean-Luc Godard, personagem de proa da vanguarda experimental dos anos 60, renovou a discussão dizendo que as imagens produzidas pelos Lumière eram ficção e as de Meliès (considerado um dos pais da ficção) eram documentais. Meliês, que era mágico, pai de um cinema ilusionista e aventuroso, autor de Viagem à lua (1902), baseado no livro de Julio Verne, tem um certo parentesco com Steven Spielberg e Fellini, a despeito do abismo na concepção de cinema dos dois. O primeiro seria um cultor dos fogos de artifício dos efeitos especiais, enquanto o segundo basearia o seu cinema em caricaturas vaporosas e líricas. Foi o próprio Federico Fellini quem definiu o seu cinema como um circo. Fellini esboçava personagens-tipo e em torno deles construía atmosferas e situações. Os desenhos de personagens eram o impulso inicial para a construção de um fio narrativo. Por meio deles, dos personagens, o diretor fixava aspectos minúsculos e vagos como expressões de rosto, gestos, figurinos, um sentimento. Seus colaboradores eram unânimes em afirmar que tudo era ainda impreciso no momento mesmo do início das filmagens. Hoje é possível interpretar a cinematografia de Fellini como uma paradoxal fábula autobiográfica. Logicamente sua experiência como desenhista, mesclada a aspectos de sua biografia, fazem dele um artista único. Fellini gostava de dizer que era um grande mentiroso. Ainda que nem tudo que vemos em seus filmes possa ser classificado como auto-
biográfico, não há dúvida de que muito do universo narrado remete a aspectos e paisagens de sua vida. Amarcord é sua quintessência. Desde a época anterior ao cinema, em sua experiência como desenhista, Fellini dilatou seus sonhos e pintou com cores fortes um mundo todo seu, fosse ele imaginário, fantasioso ou quimérico. Num de seus muitos e célebres depoimentos, Fellini declarou não saber mais se algo tinha realmente acontecido ou se tudo não passava de uma fantasia cultivada durante anos. Conforme dito antes, se consideramos o real como “subjetividades”, podemos dizer que verdade e mentira são conceitos voláteis. Mas que importância isso tem quando analisamos a obra desse gênio incontestável da arte cinematográfica? O real em Fellini é a fantasia e vice-versa. As extravagâncias do seu mundo (mundo “felliniano”) proporcionam o que poderíamos chamar de uma “evasão para o sublime”. Aprendemos com Fellini que a imaginação é um dos mais preciosos dons dos seres humanos e da arte de uma maneira geral. Sem ela – nos diz esse doce clown – tudo parece tosco e insípido. Fellini, il maestro
De 24/3 a 19/4 no CCBB (SCES, Trecho 2). Filmes da mostra: A voz da lua (1990), Entrevista (1987), Ginger e Fred (1986), E la nave va (1983), Cidade das mulheres (1980), Ensaio de orquestra (1978), Casanova de Fellini (1976), Amarcord (1973), Roma (1972), I Clowns (1970), Satyricon (1969), A director’s notebook (1969), Histórias extraordinárias (1965), Julieta dos espíritos (1965), 8 e 1/2 (1962), Boccacio 70 (1962), A doce vida (1960), Noites de Cabíria (1957), A trapaça (1955), A estrada da vida (1954), Os boas-vidas (1953), Amores na cidade (1953), Abismo de um sonho (1952) e Mulheres e luzes(1950).
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Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
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A covardia e a coragem
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oragem e covardia são antônimos, mas não necessariamente. Não poucas vezes se confundem: um gesto silencioso de coragem pode parecer uma covardia e uma covardia cheia de razão pode ser confundida com coragem. Coragem não é se salvar no Titanic; coragem é, pelo menos, se salvar e salvar outros. Numa de suas frases mais conhecidas, Clarice Lispector diz que coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Nestes tempos tenebrosos, temos sido convocados o tempo todo para o jogo de ombridade x pusilanimidade. O miliciano que matou Marielle deve ter sido exaltado entre seus cúmplices pela coragem. Nós, os do outro lado, sabemos que foi um gesto de traiçoeira covardia. Coragem e covardia são valores ideológicos e humanitários, mas não apenas. Nem sempre corajoso é quem dá o murro. Coragem pode ser admitir o erro, pode ser reconhecer a própria covardia. Tenho medo de sangue, tenho muita dificuldade para socorrer um doente – adoeço com ele, desmaio com ele. Quando contei essa covardia a uma paramédica, ela me disse que também era
assim, mas que foi se educando aos poucos, vendo na internet pequenos ferimentos até que a coragem começou a se formar dentro dela como a cicatriz da ferida, vagarosamente. Coragem exige enfrentar a própria covardia. Coragem se aprende encorajando-se. Há uma outra coragem que tem nos feito muita falta, a coragem de não ter razão, a coragem de não ter opinião, a coragem de saber que não poucas vezes um argumento menos inteligente pode conter a honestidade que o argumento mais inteligente não tem. É o que se chama de honestidade intelectual. A razão pode estar com o bronco e não com o esperto. A razão não é um jogo da inteligência contra a burrice. É a lógica sustentada em valores inegociáveis. Coragem é defender um valor no qual se acredita mesmo contra si mesmo. Coragem se aprende, covardia vicia. A coragem pode estar no silêncio e a covardia, no grito. Coragem é aceitar a própria covardia. Ou reagir, sabendo que a escolha corajosa é uma escolha sem volta. A renúncia pode ser um gesto de coragem. A coragem de perder é uma das mais corajosas.
A coragem é solitária. Às vezes surge de um lugar desconhecido dentro de nós – como eu tive coragem? A covardia é mais tentadora e anônima: ninguém vai saber que eu fiquei quieta enquanto a vizinha pedia socorro. A fama e o poder, quaisquer que sejam, é o território fértil da covardia: eu posso tudo, posso até ser covarde que todo mundo vai aplaudir ou se calar. A coragem é cansativa e arriscada. A covardia é preguiçosa e oportunista e não poucas vezes arrogante. É o truque pra não ter de enfrentar a coragem. Não sou das pessoas mais corajosas, mas toda vez que consigo saltar sobre a covardia me sinto mais à vontade dentro da minha carcaça. Mais corajosa até que a covardia se insinue: a covardia sabe ser insinuante. A coragem é um exercício, do mesmo modo que a covardia, só que a covardia vicia e a coragem exige tudo de novo do desafiante. E não tem preceito nem cartilha – é um jogo que às vezes nem sabemos que estamos jogando. Mas vencida a peleja, brota uma serenidade de sol nascente, um contentamento de ter conseguido honrar a si mesmo e à própria humanidade.