Ano XVIII • nº 295 Novembro de 2019
R$ 5,90
A vez dos novatos
Filmes de jovens cineastas predominam no Festival de Brasília. A exceção é Piedade, de Cláudio Assis, com Fernanda Montenegro e Cauã Reymond.
EMPOUCASPALAVRAS
Ainda bem que existem, então, iniciativas robustas para virar esse jogo, como é o caso do tradicionalíssimo Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que chega à sua 52ª edição entre 22 de novembro e 1º de dezembro com programação gratuita para o desfrute não só de quem vive no Plano Piloto, como também dos moradores de Ceilândia, Recanto das Emas, Planaltina, Samambaia e Sobradinho. Além da Mostra Competitiva, o festival apresenta a Mostra Brasília BRB, dedicada à produção local de cinema, o Festivalzinho, com curtas-metragens para crianças, e a mostra Futuro Brasil, que pode levar filmes em fase de finalização para competir no exterior. Os detalhes de nossa matéria de capa estão nas páginas 28, 29 e 30. Louvável também é o empenho de brasilienses que vivem para levar a boa produção cinematográfica, nacional ou estrangeira, para uma população que não tem acesso aos encantos da sétima arte, seja ela no escurinho do cinema, numa praça de alguma cidade-satélite, numa sala de aula ou onde for possível projetar um filme e conversar sobre ele. Esse é o caso de Berê Bahia, nossa personagem da seção Brasiliense de Coração. Conhecida por ajudar na programação de inúmeros cineclubes e autora de várias obras que resgatam a memória do Festival de Brasília, atualmente toca o projeto Beco da Cultura, na Vila Planalto (página 32). Pulando das artes cinematográficas para as artes plásticas, comemoramos nesta edição a abertura de dois novos espaços: a Galeria Olaria, na Asa Norte, e a Pátio Galeria. Na primeira, a inauguração em grande estilo se dá com exposição da obra de Rubem Valentim, um baiano que veio para Brasília em 1966 e morreu em 1991, deixando um rico acervo de pinturas, esculturas e outras formas de expressão. Na segunda, que ocupa o espaço onde funcionou uma livraria de shopping, a proposta é democratizar o acesso dos jovens às artes plásticas. Na seção Galeria de Arte, a partir da página 22. Boa leitura e até dezembro.
Sérgio Amaral
Democratização do acesso ao cinema no Brasil. Foi esse o tema proposto para a redação dos estudantes que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último dia 3. Entrevistado sobre isso, um professor ponderou que não se trata apenas de um problema concreto (o difícil acesso às salas de cinema, sobretudo para quem mora nas periferias), mas também de uma questão mais abstrata, qual seja, o predomínio dos chamados blockbusters na programação do circuito comercial, em detrimento da produção nacional.
22 galeriadearte Artistas plásticos da cidade ganham dois novos espaços onde poderão expor e comercializar suas obras: as galerias do Pátio (foto) e Olaria.
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Maria Teresa Fernandes Editora
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ÁGUANABOCA
Café de quilombo Inspirado na tradição quilombola, o Crioula Café valoriza a cultura dessas comunidades por meio de saborosas receitas caseiras em ambiente típico. POR EVELIN CAMPOS
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som do moinho manual e o cheiro dos grãos triturados na hora anunciam: tem café quentinho saindo! No comando do tradicional moedor está Helena Rosa. O turbante na cabeça e a roupa florida traduzem a simplicidade, a força e a simpatia da mulher que deu vida ao Crioula Café, cafeteria inspirada na cultura quilombola, localizada na QI 31 do Guará 2. Inaugurado em junho de 2018, com clientes na porta e bolo saindo do forno, o jovem café não se parece com nenhum outro da capital do país. Chão e paredes que lembram antigas casas de terra batida, cadeiras de madeira pura e o balcão rústico de tijolinhos são quase uma viagem rumo às origens de Helena, nascida na comunidade Kalunga, em Cavalcante (GO). O povoado integra o maior quilombo oficialmente reconhecido no Brasil. Na decoração, cabaças, lâmpadas pen-
duradas por cordas, quibanos (peneiras feitas com palha de buriti) e fotos do pai, da casa onde morou e da natureza de Cavalcante contam um pouco da história da empresária, que saiu de sua terra aos 13 anos para estudar. “Na época, a comunidade só tinha escola até a quarta série. Vim para Brasília com minha mãe e logo comecei a trabalhar e morar em casas de família. À noite, estudava”, relembra. Na última residência em que trabalhou, Helena aprendeu com a patroa a fazer conciliação bancária, o que rendeu a ela uma vaga num escritório de advocacia. A partir daí, veio a faculdade de contabilidade, a experiência em administração de pessoal, o nascimento da filha Maria Luiza e, por fim, o desejo de empreender. O café se mostrou a opção mais viável, mas, antes do acerto, houve aprendizado. Após formar uma sociedade e abrir uma cafeteria convencional em Águas Claras, que funcionou somente por um ano, Helena decidiu seguir seus instintos
Fotos: Daniel Dutra
e, com orientação de uma consultoria, surgiu o Crioula Café, com nome e pegada de quilombo. A cultura, o comportamento e o “jeito de fazer” dos quilombolas também tomou conta do menu. “Fiz coisas que comia e estava habituada a fazer em casa, lá da minha infância”, conta a empresária, que fez curso de barista e de gestão de cafeterias. Delícias caseiras
O café moído e passado no coador de pano, servido nas charmosas xícaras de ágata esmaltadas, é apenas uma das lembranças no baú de memórias afetivas que é o cardápio do Crioula. “Café é café em todo lugar, mas aqui é à moda antiga, no moinho, que era artigo de luxo lá na comunidade. O sabor é diferenciado e faz as pessoas terem recordações felizes, como ‘ah, minha mãe tinha’, ‘minha vó usava’”, sorri Helena Rosa. Também há espresso e preparos na Hario V60, na Clever e na prensa francesa, mas o cafezinho no moinho (R$ 7) é líder de pedidos. Para comer, uma ótima sugestão é a matula de cuscuz. O nome, que remete às marmitas do homem da roça, batiza a mistura entre cuscuz desmanchado, carne de sol desfiada, queijo Canastra e ovos mexidos (R$ 12). O suco de cajá com rapadura (R$ 10) acompanha bem. Entre as bebidas quentes há chás diferenciados, e até terapêuticos, como o chá calmante quilombola, feito com cidreira,
manjericão e canelão, ervas muito usadas na comunidade Kalunga para baixar a pressão (R$ 13). O cappuccino combina cacau, canela e chocolate (R$ 11). Já o waffle é coberto com geleias do cerrado, elaboradas com frutas como mangaba, buriti e cajuzinho-do-cerrado, conforme a sazonalidade (R$ 12). E, claro, é impossível não notar os bolos expostos no balcão, vendidos por fatia. O queridinho da casa é o bolo de laranja com calda artesanal (R$ 8). O de chocolate com castanha de baru (R$ 14) também não fica atrás. O bolo, criado pela irmã de Helena e testado à exaustão até encontrar a textura perfeita, é uma das receitas exclusivas da marca, que busca autenticidade a cada preparo. Aos que gostam de variar, a dica é a torta do dia (R$ 12), com sabores como leite ninho, fubá e cenoura. Há, ainda, clássicos como tapioca, misto quente, bolo de mandioca, brownie, brigadeiro de café, pão de queijo, chocolate quente e até arroz doce e pamonhas, inclusive veganas. Tudo feito de forma caseira e servido em bules rústicos esmaltados, canecas, xícaras e louças delicadas com “jeito de casa de vó no interior”. Luta e união
Para Helena Rosa, o Crioula Café vai além de um negócio. “Entrei nessa de café especializado na realidade quilombola um pouco por acaso. Mas, dentro, você vê a importância de valorizar nossa cultu-
ra. O Crioula é uma forma de resgatar e reviver minha história, e de mostrar a todos a nossa identidade. Isso é o principal”, reflete a empresária, que, no Mês da Consciência Negra, acredita que ainda há muito para evoluir na educação, especialmente da população negra, que ainda é mão de obra barata. Quarta de 11 irmãos, Helena vai à comunidade Kalunga pelo menos uma vez ao ano. E faz questão de levar a filha, hoje com cinco anos, para que crie referências e conheça o próprio passado. A empresária preza pela honestidade e pela valorização de pessoas e suas origens, princípios que aprendeu com os pais, Cirilo e Benícia dos Santos Rosa, que sempre se respeitaram muito, mesmo após a separação. Isso se reflete nos negócios. O Crioula Café participa de eventos ligados a comunidades quilombolas, é criterioso na escolha de fornecedores e busca contratar pessoas sem experiência profissional. “Precisei de oportunidades um dia, e gosto de ensinar. Além disso, tento trazer produtos da comunidade, ou feitos por mulheres, de produção local. Temos que cuidar um do outro, isso é ensinamento quilombola”, orgulha-se Helena, que espera ampliar a unidade nos próximos dois anos: “Mas sem perder o ar caseiro, claro!”. Crioula Café
QI 31, Bloco A, Ed. Flórida Center, Guará 2 (99164.3920). De 2ª a 6ª, das 14 às 20h; sábado, das 9 às 19h.
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ÁGUANABOCA
Saborosa simplicidade POR VICTOR CRUZEIRO FOTOS RODRIGO RIBEIRO
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grande colunista Nina Horta, que nos deixou no mês passado, escreveu certa vez uma crônica sobre o bacalhau de sua mãe na qual enfatizava como a comida portuguesa, além de deliciosa, combina bem com o paladar brasileiro. Os sabores acentuados e as texturas rústicas criam um contraste único que, para ela, lembrava As cidades e as serras, o grande romance do escritor português Eça de Queiroz, em que um rico protagonista abandona a vida na Paris da virada do Século 20 para viver em uma simples quinta no interior de Portugal. Ora, pois! Nada mais certo do que essa conclusão, dado que uma das coisas que mais rapidamente vai conquistando Jacinto, o protagonista, são as comidas do interior da terrinha. Refestelando-se nas iguarias e nos prazeres da culinária local, ele logo se apaixona por aquela quinta que lhe parecia tão desvalida. E não falamos aqui de comidas requintadas, mas de um simples caldo de galinha, um arroz com favas ou um frango assado
que, dourado e crocante, já anuncia a conquista do paladar do jovem fidalgo. Voltando-nos para Brasília, mais de um século depois, o Portugo, uma legítima doçaria portuguesa, recém-aberta na 302 Sul, é um resgate da frugalidade e da aura dessas quintas. É importante notar como nos círculos gastronômicos em Brasília (e não só daqui, mas de qualquer outro grande centro) há uma porção de
Jacintos que, deslumbrados com suas taças de cristal, porcelanas e pratarias, inflamam a crença numa superioridade da estética sobre a qualidade e o sabor. Em outras palavras, temos um bom número de casas extremamente bonitas, com uma comida deveras medíocre. Antes que me acusem de frugalidade em excesso, já adianto que não vejo nada de errado em taças de cristal, porcelanas e pratarias. Mas, acima de tudo, é preciso que a comida faça jus a esse requinte. Afinal, o que define uma iguaria não é o que a contém, mas o que ela contém. Então, pois, tanto faz a uma boa comida se a comemos em um conjunto de jantar italiano ou em uma cumbuca de barro artesanal. Isso serve, em especial, para algumas culinárias, como a portuguesa, que, ao contrário de alguns globetrotters da alta cozinha ocidental, não se cristalizou em rituais ligados a uma sofisticação visual, quase sempre comercial. A culinária portuguesa se manteve ligada às tradições que incluem uma certa apresentação dita rústica. Falo especialmente dos doces que, por ora, são o carro-chefe do Portu-
go. Comecemos pelo pastel de nata. Há poucos doces que se apresentam de forma tão única quanto ele, com seu formato de empada, de aspecto quebradiço e irregular, e o recheio de creme, amarelo e marcado por manchas escuras, que servem como demonstração de que o tempo de cozedura foi o necessário. Não há grandes surpresas, apresentações grandiosas ou rituais para consumi-los. Pastéis de nata podem ser consumidos ali mesmo, com as mãos, ou sentado, acompanhado de um café, sem perda alguma. É essa tradição que o Portugo pretende consolidar em Brasília. Capitaneado pelo chef português Hugo Laurentino, o Portugo é a junção do domínio de uma técnica certeira com a crença em uma tradição sólida. Neste momento, a casa foca em receitas clássicas da doçaria portuguesa, como os pastéis (R$ 7,50), brisas-do-lis (R$ 7,50), bombons de ovos moles (R$ 8) e toucinhos do céu (R$ 7,50). Em uma estufa, bem à entrada da pequena loja, lá estão eles, convidando os passantes a entrarem e se sentarem ao balcão ou em uma das poucas mesas. É o suficiente, nem mais, nem menos.
O Portugo é feito para o deleite, dos clientes e do chef, que se refestela com a possibilidade de poder servir uma boa comida portuguesa a preços justos. Sem o peso dos apetrechos requintados dos vários Jacintos por aí, o Portugo oferece não apenas a experiência legítima dos doces, mas também de comidas portuguesas de vários tipos, que podem ser encomendadas e vão sendo apresentadas ao público aos poucos, como já acontece
nos concorridos almoços de domingo, na área verde atrás da loja, onde são servidos pratos como bacalhau com natas (R$ 39), arroz de pato à portuguesa (RS 39) e até uma opção vegetariana de almôndegas ao molho de tomates com ovo caipira (R$ 42). Portugo
302 Sul, Bloco C (99965.9650) Diariamente, das 12 às 19h.
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Vítor Rocha
ÁGUANABOCA
Três vezes Primus POR EVELIN CAMPOS
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uando o T-bone chega à mesa, é impossível não ficar com água na boca. O aroma intenso é um spoiler da saborosa experiência gastronômica que está por vir. O famoso corte especial que une contrafilé e filé-mignon a um osso em formato de “T” surpreende pela dose extra de suculência e maciez. É o carro-chefe da Primus Boutique de Carnes, que acaba de inaugurar uma nova unidade em Águas Claras. Terceira da marca – presente também em Vicente Pires e na 409 Sul –, a casa abriu as portas em 29 de outubro, na Rua 33/34 Norte da Avenida Castanheiras. É a maior da rede, com dois pisos que acomodam 150 pessoas e previsão de um deck ao ar livre com 20 lugares. O piso superior, além de eventos e comemorações, deverá receber cursos de cortes e vinhos, por exemplo. Moderna e aconchegante, a arquitetura é um show à parte. Partes de caixas de vinho formam um mosaico em uma
das paredes, enquanto outras exibem tijolinhos ou cimento queimado. Marca registrada, os cobogós dão um charme e, no andar de cima, separam ambientes intimistas, com iluminação agradável e retrô. Assinado pela arquiteta Eliene Lucindo, do Laboratório de Interiores, o projeto tem referências uruguaia e argentina, com toque industrial e ao mesmo tempo caseiro. Apesar da inauguração recente, a unidade de Águas Claras surpreendeu pela rápida aceitação. “Não imaginávamos que a Primus fosse tão conhecida assim, com tantas pessoas chegando por indicação. Águas Claras nos mostrou isso”, comemora Thalita Machado, responsável pelo marketing da rede, ao relembrar o movimento de 600 pessoas somente no almoço da primeira sexta-feira de funcionamento. Da cozinha, que leva a assinatura do chef Bené Reis e conta com o comando diário do chef Erick Paschoal, saem cortes nobres como angus, baby beef, ancho, cordeiro e picanha, e 21 tipos de
acompanhamentos, além de carne suína, peixes, aves, frutos do mar, risotos, massas e até sugestões vegetarianas e veganas. Um dos destaques é o T-bone (600g a R$ 74,90), que vem com vinagrete comum e de banana-da-terra. “Carne com sabor tem osso e gordura. O T-bone reúne ambos e serve duas pessoas muito bem”, ressalta o sommelier e maître Edvaldo Souza. Outros queridinhos são a parmegiana (R$ 99,90 para dois) e a costelinha com barbecue (R$ 74,90). Em relação às bebidas, o público jovem e eclético de Águas Claras inspirou a elaboração de ampla carta de cervejas especiais, com 21 rótulos como Backer, Colorado, Roleta Russa, Lauven e Wäls. A casa também conta com duas adegas climatizadas e uma adega seca, de autosserviço. São cerca de 150 vinhos franceses, espanhóis, italianos, da Califórnia, África do Sul e Serra Gaúcha, entre outros. De sobremesa, uma boa pedida é a terrine de chocolate, que custa R$ 14,90 e vem de brinde para aniversariantes do dia. A essência da marca, que surgiu com
Vítor Rocha
Thalita Machado
Sul, aberta em março, e agora em Águas Claras. Em todas, o foco está em cortes de qualidade a preços justos. Como a Primus faz a própria desossa, o produto está sempre fresco, sem necessidade de embalar a vácuo ou congelar. Assim, a carne sai do confinamento quase direto para as unidades, onde a habilidade na parrilla garante a explosão de sabores. “Hoje, 40% da matéria-prima é nosso Angus. Fazemos o confinamento em fazendas locais. Os outros 60% vêm de grandes produtores. Nossa meta é chegar
a 100% de produção própria”, conta Thalita Machado. As casas também são conhecidas pelos saborosos peixes, entre eles a truta recheada com lascas de salmão defumado e acompanhada de arroz cremoso (R$ 49,90) e o filé de salmão grelhado na parrilla com flor de sal e servido ao molho de limão e mostarda (400g a R$ 57,90). Primus Boutique de Carnes
Avenida Castanheiras, Rua 33/34 Norte, Ed. Beverly Hills Plaza (3797.7071). Diariamente, das 7 às 24h. Vítor Rocha
foco na venda de carnes, foi preservada. No térreo, um espaçoso açougue oferece não apenas os cortes disponíveis no cardápio, mas também carnes exóticas, de jacaré, paca, rã, coelho, queixada e javali. Para quem gosta de praticidade, há kits com proteínas diversas: semanal, fit, exótico e churrasco, a partir de R$ 139,99. O cardápio executivo é outro atrativo. Servido de segunda a sexta, das 11 às 15h, ele oferece pratos com carne bovina, suína, frango, peixe, massas e salada. O preço varia entre R$ 11,90 e R$ 42,90. A previsão é de que, nos próximos meses, a unidade de Águas Claras tenha também happy hour, sugestão do chef a cada 15 dias e a tradicional parrillada, com entradas e preparos feitos na parrilla. Paixão de família
Tudo começou quando os primos Adriano Correa, Leandro Correa e Robert Garcia notaram a falta de um bom açougue em Vicente Pires. Profissionais da construção civil, eles usaram os conhecimentos da infância na fazenda e herdados do tio João Correa – fundador do Boi de Ouro, em Taguatinga – para inaugurar, em 2016, a primeira unidade da Primus Boutique de Carnes. Três anos depois, o sucesso foi consolidado com outras duas casas: na Asa
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PICADINHO
TERESA MELLO
picadinho.roteiro@gmail.com
Jana Tartalho
N Pizzeria chega à Asa Norte Uma brasiliense conhece um italiano de Nápoles na Austrália, e esse amor acaba em pizza. Neste 15 de novembro, a N Pizzeria fez um ano em Águas Claras e comemorou com mais trabalho: inaugurou sua segunda unidade na Asa Norte (quadra 312), que funcionará de quarta a domingo, a partir das 18h. “Nossa massa é de fermentação lenta, aberta à mão e assada em 90 segundos em forno a 400ºC”, explica Carol Nappo, 34 anos, ao lado do marido, Giovanni Nappo, 36 (foto). São 15 sabores, com e sem molho de tomate pelati, nos tamanhos individual (25cm de diâmetro) e grande (35cm). “Na Asa Norte, temos 50 lugares e já estamos providenciando mais”, alegra-se a brasiliense, que recomenda comer as fatias com as mãos, à maneira tradicional: “Dá um outro sabor”, garante. As de mais sucesso são a Margherita (a Speciale, com pelati, muçarela, parmesão, pesto da casa, sai a R$ 28 e a R$ 38) e a Calabria (com pelati, muçarela, calabresa e cebola roxa, a R$ 26 e a R$ 36). Entradinhas, pizzas doces e vinhos completam o cardápio. E nada de pedir ketchup, viu? O molho vem da Itália.
Novidades de fim de ano
Madero no Iguatemi
Brunno Covello
8ª Wine Friday
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Divulgação
Restaurantes novos dos chefs Ronny Peterson e William Chen e mais duas lojas do grupo Biscoitos Mineiros são os destaques da temporada. A confeitaria, criada há quase 25 anos pela mineira Maria Madalena Teixeira, vai inaugurar, em dezembro, outra unidade em Águas Claras (Av. Araucárias com Rua Alecrim) e a primeira no Sudoeste − na Quadra 304, com 400m2 e projeto da Maai Arquitetos. “Queremos abrir as duas juntas, mas o importante é a geração de mais de 100 empregos, num total de quase 400”, conta a filha Andreia. Já na 407 Sul, o chef pernambucano Ronny Peterson (do A’ Mano) orquestra um mix da culinária brasileira, italiana e francesa no Aroma, espaço de 340m2 com arquitetura de André Alf. O soft opening começa ainda em novembro. E o chef William Chen abre o 2gather no Pontão do Lago Sul, com gastronomia tailandesa, coreana e chinesa e projeto do Studio Gontijo inspirado em origamis.
Agora são seis unidades no DF, com a inauguração, em 7 de novembro, do Madero Steak House no piso superior do shopping Iguatemi. Com 800m2 de área (térreo e mezanino), tem capacidade para 190 pessoas e conta com 70 funcionários. Funciona das 11 às 22h. O carro-chefe da rede, que tem Luciano Hulk como sócio, é o cheeseburger Madero, a R$ 39 com fritas. Mas, para mim, o destaque mesmo é o pão crocante e a carne suculenta. Um passeio pelo cardápio mostra que o restaurante oferece burger vegano e fit, além de pratos com peixe, frango, massa. O sanduíche de queijo coalho vegetariano custa R$ 36; o burger de cordeiro no prato sai a R$ 49. Ex-madeireiro em Rondônia, o paranaense Junior Durski abriu o primeiro Madero em 2005. Hoje, são 189 unidades em 18 estados, incluindo o DF.
Cerca de 250 rótulos de 15 países estarão disponíveis para degustação na 8ª Wine Friday, desde os clássicos, como os tintos do Piemonte e da Toscana, até as tendências do mercado (orgânicos, biodinâmicos e veganos). O evento, realizado pela Videira Vinhos com apoio da Rota do Vinho, será em 29 de novembro, a partir das 18h, no Dom Francisco da Asbac. Estarão presentes os produtores Pablo Torassa, da vinícola argentina Domaine Bousquet, Nicolas Torres, da chilena Undurraga, e Renato Antonio Savaris, da gaúcha Máximo Boschi. Estão confirmadas vinícolas como Altos las Hormigas (Argentina), Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo (Portugal), Marqués de Murrieta (Espanha), Vini Farnese (Itália), Domaine Laroche (França), L’Avenir (África do Sul) e Golan Heights (Israel), entre outras. Ingressos: R$ 140, no Dom Francisco (Asbac e 402 Sul), World Wine (409 Sul), Empório Árabe (Águas Claras) e Forneria Parole (SHIN, QI 9/10). Alguns vinhos poderão ser adquiridos com descontos.
Artur Alexandre
Degustação à la Paraiso Enquanto espera o novo Ouriço ficar pronto na Asa Sul, no início de 2020, o chef Thiago Paraiso não fica quieto. Com a energia dos seus 28 anos, ele apresenta dois menus-degustação no Saveur Bistrot, que completou três anos em julho e funciona no térreo da casa da família (SMDB, conjunto 10). Com quatro etapas e por R$ 98, o menu Première, disponível de terça a quinta-feira, inclui croquete de pernil com goiabada, creme de alho-poró, espaguete negro com filé mignon ao creme de gorgonzola e minipudim da Bisa. Um verdadeiro banquete é o Descubra o Saveur, servido de terça a sábado, por R$ 179. São sete pratos: minitaco de steak tartare, ceviche de pescada amarela com leite de coco, coxinha de coelho em massa de mandioca e geleia, nhoque de banana-da-terra com ragu de costela braseada, filé mignon de sol (curado na casa) com queijo e farofa de mel, maçã cozida com crumble de chocolate, musse de amendoim e creme de caramelo e um brownie pra lá de especial.
Comidinhas saudáveis
O Wine Garden ocupa o Pontão do Lago Sul até meados de janeiro, em espaço com cobertura, capacidade para 160 pessoas e paisagismo de Fábio Camargo. São 30 mesas, palco musical, banheiros agêneros cor-de-rosa instalados em contêineres. O bar de vinhos funciona de quarta a domingo até a meianoite e oferece 84 rótulos da bebida e jarras de Sangria e de Clericot (a R$ 75 cada), além de drinques como o Aperol Spritz, por R$ 25, feito com espumante branco brut, laranja e Aperol, bebida criada em 1919 em Veneza. No cardápio, há burrata com pesto e tomates ao forno (R$ 38), quatro tipos de sanduíche panini, como o de queijo brie derretido com geleia de figos. A pizza de gorgonzola com pera sai a R$ 32. A hostess Yanka Tavares, 22 anos, informa que a casa tem música ao vivo com couvert a R$ 10. Abre às 18h, de quarta a sexta, e às 16h, no fim de semana.
Guilherme Teixeira
Cenário encantador
Thiago do Carmo
Chicago Prime no Lago Sul “Nascemos como uma boutique de carnes em 2014, mas vimos que o mercado precisava de um atendimento mais completo, então implementamos o restaurante, a rotisseria e, até mesmo, o serviço de espetinho”, comenta Ana Carolina Chaer, sócia da Chicago Prime, que inaugurou a terceira loja em outubro. O espaço na QI 11 (Bloco I) do Lago Sul tem 400 m2, acolhe 120 pessoas, e o cardápio apresenta destaques como o carpaccio de carne Black Angus com molho de mostarda, alcaparras e parmesão e torradas (na foto, por R$ 34,90); bife de chorizo (R$ 56,90), carré de cordeiro uruguaio (R$ 98), bombom da alcatra (R$ 39,90) e prime rib suíno (R$ 39,90). O almoço executivo, de terça a sexta, oferece pratos como bife de chorizo e coração de alcatra (R$ 46,90 com dois acompanhamentos). O restaurante abre de terça-feira a domingo, ao meio-dia.
Divulgação
Um fast-food de comida saudável é a proposta da franquia paulista Club Life to Go (103 Sul). Espalhada em pontos do Brasil, como São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre, a casa oferece refeições prontas para viagem ou consumo no local. “Repaginamos o nosso menu com receitas muito saborosas”, informa o sócio Gabriel Bereohff. Entre as novidades da loja em Brasília estão frango grelhado com muçarela de búfala, salsa e tomate (R$ 26), peixe marroquino (tilápia em crosta de semente de girassol, coco ralado em fita e castanha de caju (R$ 26), salada de abobrinha com folhas, tomate-cereja, amêndoas e gorgonzola (R$ 18), hambúrguer de broto de feijão com creme de beterraba (R$ 18), couve-flor gratinada (R$ 8) e purê de abóbora e pupunha (R$ 8). E, para quem conta calorias, a cuca crumble de banana tem apenas 92. Funciona de segunda a sexta, das 8 às 20h, e sábado, das 10 às 16h.
Na agenda pra você: 28 de novembro a 1º de dezembro: 5ª Feira Panela Candanga. Com curadoria de Luciana Alcamim e Carol Monteiro, terá estandes com produtos da gastronomia artesanal do DF e aulinhas sobre queijos e plantas alimentícias não convencionais (panc). Na praça central do CasaPark. De quinta a sábado, das 12 às 22h, e domingo, até as 19h.
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
Saudade e pranto: primeira despedida Saudade pode provocar lágrimas sem prévio aviso. É assim quando há partida, alma minha gentil. São pedaços, fragmentos, ossos em pratos, trilhas para reencontrar memoráveis sabores que ficaram, indeléveis, nos nossos pensamentos. Ostra com cachaça ferindo madrugadas na Asa Norte. Uma garrafa de Veuve Cliquot e a panela intacta de comida de Ano Novo para levar, deixando vazia, mas com marcas (lembras?) a sacada em apart no centro de Brasília. Miudinho, devagar miudinho no palco da noite e pizza de escarola no Kazebre. Bacalhau, arroz de puta pobre, carreteiro e uma costela gorda no final da Asa Sul. Vinhos chilenos apresentados por um colega chegado do Cone Sul. Uma princesa bebê que só falava espanhol. E jornais, muitos jornais e revistas. Papel era o melhor. Letra impressa, cheiro de tinta na boca da impressora. O Beirute apresentado para uma dama de alta classe. Na hora do almoço era mais garantido. Teve troca de tiros bem na frente, entre polícia e bandidos. Preservei a dama, que nunca quis voltar. É tarde para tanta saudade. É, pode ser. O pão ciabata, a pizza de pera, o chope cremoso, três dedos de colarinho, são relíquias da Segunda Era, com seus heróis, donos e amigos. Era que sacudiu a cidade entre um século e outro. Tínhamos juventude e algum dinheiro no bolso, além de espaços para escrever. A Itália não era só massas: carnes, caças também. Mesmo ateus rezaram a terços e a Rosários. E o vinho dava sua cara a gole, vastos goles em adegas que ficaram famosas pelo tamanho e qualidade. Azeites, saladas, cortes nobres. Árabes cheios de mistérios e sabores ímpares. O pranto acicata as lágrimas e a culpa não é dele. A glândula é fisiológica, obedece a outras leis. Rola, jorra, soluça e não dá explicações. Estas, as explicações, estão na memória, no sentimento de amor e paixão, nas neves eternas das lembranças, que vez por outra degelam, liquefazem o guardado há tanto tempo. E rolam como as águas condenando garrafas cheias a não sobrar.
Sempre passa! O Gênio é cruel, impiedoso. Sempre por perto, alter ego, grilo falante. Com razão. A Terceira Era veio com força avassaladora: nos ambientes, nas ofertas, costumes, imprensa, nos pratos, modas, nos trailers, bicicletas, personagens, roupas ou sem elas, nos sexos e suas novas apresentações, tudo novo a exigir reciclagens pessoais, homo ou heterogêneas, rápidas, fast food de consciências, halloween de comportamentos. O velho disse com verve carioca: “O bundalelê é geral e quer vencer”. Venceu.
NÃO CHORE DE BORZEGUINS AO LEITO! O tempo passou.
letras que choram”...
HÁ NOVIDADES: A TERCEIRA ERA (ou quarta?) traz muitos restaurante/bares nas comerciais e até nos shoppings, derrubando mais um preconceito do colunista. Tem self service em prédio comercial: o Mistura Brasil, da Polliana, no Corporate Financial Center, ao lado do Brasília Shopping. O ambiente, o astral e as comidinhas do Quintal & Jardim Restaurante, na 207 Norte é novidade. Pessoal jovem, simpático e o espumante... gelado! Ora viva! Lilian acertou. No Boulevard Shopping, a casa de carnes Mania de Churrasco, bons cortes e preços. Lucivânia comanda mesas e gerentes estão atentos para tudo resolver. Abriram em tempo certo, véspera de Natal. Por fim, não menos importante, a DOC Vinhos, no Shopping Venâncio (o velho 2000 após banho de loja) e na comercial 107 Norte. O Tony fez casa competente, vendedores craques, bons rótulos para todos os bolsos e constantes degustações. Só se aprende, com gente simpática e falante, todos e todas “especialistas”. E O PRANTO? A concentração de lembranças gera atritos de memória. Rosas não falam, viram sopa na Bulgária, mudam para lambretas baianas e saladas de polvo e camarão na barraca destruída por um prefeito idiota. O político sumiu na bíblia, a Toca do Dinho continua, longe da praia. De Toca em Toca, cidade em cidade, país em país, Era em Era, o pranto acicata e a lágrima jorra. A saudade é enigmática: “Adeus, adeus, cinco
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 12
lrecena@hotmail.com
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
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PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO
Regiões pequenas, grandes vinhos Quando falamos de regiões produtoras de vinhos, nos referimos a mais do que uma questão geográfica, e sim a uma questão legislativa. Normalmente, quando mencionamos a região
pao&vinho@agenciaalo.com.br
três ótimos exemplares brancos franceses de regiões diferentes, que degustei recentemente. La Poussie 2016, da região denominada Sancerre, no Vale
de um vinho, estamos nos referindo a uma “Denominação de
do Loire, certamente uma das melhores origens para vinhos
Origem Controlada”, controlada no caso por uma legislação que
produzidos a partir da Sauvignon Blanc, estava ótimo. Amarelo
define o espaço geográfico no qual se pode produzir um vinho e
claro brilhante com nariz cheio de frescor a toranja e notas
rotulá-lo com o nome daquela região.
vegetais, e um paladar muito agradável e gastronômico, com
Mas, muito mais do que isso, essa legislação define, dentre outras coisas, as castas que podem ser plantadas e vinificadas
cremosidade e mineralidade ao mesmo tempo. Ideal com frutos do mar grelhados ou queijos de massa mole, especialmente de cabra.
para aquele vinho, as proporções dessas castas na composição
Antoine de La Farge Pouilly-Fumé 2017, da região denominada
de eventual blend, a graduação alcoólica mínima e máxima, o
Pouilly-Fumé, também no Vale do Loire. Aqui, a mesma Sauvignon
grau de açúcar mínimo e máximo, a metodologia da produção
Blanc se expressa de maneira bastante diversa do Sancerre descrito
e muito mais. Enfim, há um conjunto de normas, que pode variar
anteriormente. Novamente de uma cor amarela, agora já com
de região para região, que procuram na verdade garantir uma
tendência a dourada. Os aromas são marcantes e encantadores,
determinada qualidade e tipicidade para os vinhos de uma
com um toque de pólvora, especiarias como pimenta branca e
mesma região.
a fumaça, um agradável defumado tão típico dalí. No palato é
A intenção é boa e, na maioria das vezes, favorável ao consumidor por, de fato, conseguir garantir um certo padrão mínimo de qualidade e tipicidade. Todavia, às vezes acaba por
crespo, afiado, com ótima acidez e delicioso frutado. Perfeito com frutos do mar, inclusive com molhos e carnes brancas em geral. Puligny-Montrachét Les Levrons de Bitouzet-Prieur 2015,
impor tantas e tão minuciosas regras que impede o produtor de
da região Denominada de Puiigny-Montrachet, na Borgonha.
criar um vinho que poderia ser ainda melhor do que aquele que as
Certamente a região mais afamada para brancos e também a
segue. Mas, como quase sempre, o mercado encontra um caminho
menor geograficamente falando. Saimos da Sauvignon Blanc
para se “ajeitar” e atender ao consumidor, como no caso dos
maravilhosa do Loire e caímos na Chardonnay incomparável da
chamados Super Toscanos. Por desobedecerem às tais regras
Borgonha. O vinho branco dessa região está entre os melhores
de sua “Denominação de Origem Controlada”, acabam por se
do mundo e esse exemplar, longe de decepcionar, impressiona.
classificar em uma categoria hipoteticamente inferior, no caso a de
Amarelo dourado, com nariz muito complexo e agradável, onde
“Indicação Geográfica Tipica”, mas têm a correção dessa realidade
encontramos floresta, ervas, toques de couro, manteiga, baunilha,
feita pelo mercado, que paga preços por esses IGTs muito maiores
mel, limão e por aí vai. Quanto mais procuramos, mais achamos...
(quando merecem) do que os pagos pelos DOCs ou DOCGs.
No palato é redondo e muito equilibrado, preenchendo a boca
De qualquer forma, é interessante observar que comumente é
com cogumelos, ervas e couro, tudo a confirmar o nariz. Perfeito
nas regiões de menores dimensões que se encontram os maiores
com frutos do mar, especialmente crustáceos, e carnes brancas,
vinhos. E, para ilustrar essa realidade, trago para nossa coluna
principalmente porco. Vinho espetacular!
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DIA&NOITE
depigmentosepedras Quem por acaso encontrar Fani Bracher, com sua cesta de vime, caminhando pelas margens dos rios mineiros talvez não imagine o tanto de arte que pode surgir desse aparente passeio. Pois a artista plástica mineira residente em Ouro Preto está colhendo pedras, folhas e pigmentos coloridos que vão dar forma à sua produção mais recente, exposta na galeria de arte do CTJ Hall (706/906 Sul) até 14 de dezembro. Intitulada De pigmentos e pedras, a exposição contempla pinturas, caixas e estandartes cujo fio condutor é o sensível diálogo com os materiais da terra e paisagem. Fani se interessa pela caleidoscópica variação da pedra ao pó, tal como são achados na natureza. É a partir dos pigmentos que olhar e gesto da artista entram em sinergia para que a obra se instaure, na pintura ou nas caixas. Nascida na Fazenda Experimental, em Coronel Pacheco, formou-se em jornalismo em Juiz de Fora e casou-se com o também artista Carlos Bracher. Viajaram para a Europa, onde viveram por dois anos. Fani ganhou 14 prêmios de pintura e tem seus trabalhos incluídos em 34 livros de arte. De segunda a sexta, das 8 às 20h, e sábados, das 8 às 12h, com entrada franca.
circonjecturas Divulgação
terceiradimensão Ao entrar na exposição De fotografia à tactography, o visitante que não tenha deficiência visual poderá ter seus olhos vendados e aguçar o sentido do tato “vendo” com as mãos. Nesse caso, ele será conduzido por guias no chão para ter acesso às obras tridimensionais criadas pelo fotógrafo brasileiro Gabriel Bonfim. Se preferir fazer a visita sem as vendas nos olhos, poderá ver, um pouco mais de longe, peças brancas em relevo. Até 29 de dezembro, essa experiência sensorial poderá ser vivida no Museu dos Correios, com entrada franca. A exposição reúne 24 obras tridimensionais de imagens capturadas do tenor italiano Andrea Bocelli durante uma turnê na Europa e do jovem bailarino catarinense Denis Vieira, integrante do Ballet da Ópera de Zurique. “Meu intuito foi mostrar como uma mesma obra pode ser apreciada de formas diferentes – com a visão e com o tato. E como a acessibilidade, a interação e a leitura desta obra podem fazer com que todos os públicos tenham a oportunidade de interagir e dialogar com a arte”, explica Gabriel. Estão na mostra ainda dez fotografias em cores, além de uma videoinstalação artística com 11 telas, na qual Gabriel Bonfim retrata cenas aparentemente comuns na vida de mulheres brasileiras.
modabrasiliense
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A proposta do artista é fazer com que o espectador abandone um pouco o mundo real e explore um universo onírico. Até 15 de dezembro, a experiência será possível para quem for conhecer o trabalho do paranaense Rafael Silveira, em cartaz na Caixa Cultural. Lá estão pinturas, esculturas, bordados e instalações com amplas referências a circo, tatuagem, botânica, publicidade dos anos 1950 e cultura pop. De acordo com o curador Baixo Ribeiro, o nome da mostra, Circonjecturas, surgiu da representação exagerada do espetáculo circense aliada às conjecturas, uma alusão ao mundo das ideias, à mente. “Por isso essa exposição tem um caráter imersivo, como um convite a abandonar o mundo real e explorar um universo onírico”, explica. Nascido em Paranaguá, mas radicado em Curitiba, Rafael Silveira é publicitário e, em 2008, ficou conhecido por ter uma de suas obras estampando a capa do disco Estandarte, da banda Skank. De terça a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca. Telmo Ximenes
Desfiles, palestras e artesanato compõem a programação da Brasília Trends Fashion Week 2019, que se realiza entre 28 novembro e 1º de dezembro, no Centro de Dança do DF (SAN, Quadra 1). De acordo com as organizadoras Bernardeth Martins e Lorraine Bonadio, a proposta é representar a pluralidade e promover a inclusão social, assunto de muita relevância nos dias atuais. Sob o tema "A dança do empreendedorismo", que ressalta o comprometimento dos empresários do setor e o apoio de instituições parceiras como o Senac e o Sebrae, o evento será composto de desfiles, palestras, artesanato e espaço para comercialização de marcas locais. “O respeito às diferenças de gêneros, altura, peso, etnia, idade e classe social é o alvo principal da moda”, dizem as organizadoras. “Somos plurais, assim como a oferta de roupas deve ser. O novo estilista, o pequeno empresário e uma nova ideia são importantes. Assim, a economia criativa ganha força”, finalizam. Entrada franca, mediante doação de 1kg de alimento não-perecível por dia. Acompanhe a programação em https://www.instagram.com/brasiliatrends.
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dogville
Ainda dá tempo de assistir, até 24 de novembro, à adaptação teatral do filme do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, no CCBB. A trama se passa na fictícia Dogville, uma pequena e obscura cidade situada no topo de uma cadeia montanhosa, onde residem poucas famílias formadas por pessoas aparentemente bondosas, embora vivam em precárias condições de vida. Só que a pacata rotina dos moradores daquele vilarejo é abalada pela chegada inesperada de Grace (Larissa Maciel), uma forasteira misteriosa que procura abrigo para se esconder de um bando de gangsteres. Com direção de Zé Henrique de Paula, a peça tem também no elenco Alexia Dechamps, Ana Andreatta, Blota Filho, Eric Lenate, Fernanda Couto, Fernanda Thurann, Gustavo Trestini, Lucas Romano, Marcelo Villas Boas, Marcia Oliveira, Munir Pedrosa, Otto Jr., Rodrigo Caetano, Rosana Penna e Thiago Furlan. “Estão em discussão questões muito atuais como a xenofobia, a intolerância, e está posta em cheque a máxima do sistema capitalista de que, para se obter lucros exorbitantes, é preciso explorar ao máximo o outro, por vezes de formas desumanas”, revela o produtor e idealizador da peça Felipe Lima. De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15, à venda na bilheteria do teatro e em www.eventim.com.br. Informações: 3108.7600.
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lendasamazônicas “Penso em levar a plateia para viajar no mundo mágico das lendas amazônicas. E espero que o público se sinta como se estivesse na beira de um rio ouvindo histórias, do jeito que Lúcia me contou que sua avó fazia quando ela era criança”. Quem faz essa afirmação é Adilson Dias, autor e diretor do espetáculo Arandu – Lendas amazônicas, que estará em cartaz no CCBB entre 29 de novembro e 1º de dezembro. A Lúcia a quem ele se refere é uma índia vivida pela atriz macapaense Lúcia Morais, que conta histórias da grande floresta em uma viagem imaginária pela nossa ancestralidade indígena. Quando menino, Adilson viveu em situação de rua na década de 1990 e foi fisgado pela arte quando morava nas ruas da Candelária e passava pelo CCBB do Rio de Janeiro para tomar água. Seu trabalho de pesquisa durou um ano e meio, época em que mergulhou fundo no universo das lendas amazônicas. Durante 40 minutos os espectadores assistirão a quatro histórias: Lenda do dia e da noite, Lenda da vitória régia, Lenda da fruta amarela e A lenda do açaí. Em tempo: no dialeto tupi-guarani, Arandu é uma mistura de sabedoria com conhecimento. Sexta, às 15 e 19h; sábado e domingo, às 15 e 17h. Entrada franca.
músicaemfamília A avó manda muito bem na flauta. O neto, no vibrafone, uma espécie de marimba ou xilofone, como queiram. Dia 29 de novembro, às 20h, a flautista Odette Ernest Dias e seu neto Lourenço Vasconcellos se apresentam no CTJ Hall (706/906 Sul) com repertório do álbum Ondas reflexas, contendo, entre outras músicas, as sarabandas de Bach que se misturam e dialogam com valsas brasileiras. Francesa naturalizada brasileira, Odette chegou ao Brasil em 1952, a convite do maestro Eleazar de Carvalho, para integrar a Orquestra Sinfônica Brasileira. Atuou nas orquestras da Rádio Tupi e Sinfônica Nacional e participou de gravações com Tom Jobim e Elizeth Cardoso, entre inúmeros ícones da MPB. A musicista, uma das fundadoras do Clube do Choro, chega aos 90 anos de idade cumprindo intensa agenda como professora e concertista. Seu neto Lourenço Vasconcellos, que também é baterista e compositor, dialoga com as mais variadas linguagens musicais. Graduado em composição pela UFRJ e mestre em música pela Universidade da Flórida, já se apresentou com Egberto Gismonti e a Orquestra Corações Futuristas, além de ter gravado vários discos. Entrada franca.
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Esse é o nome do CD que o cantor e compositor brasiliense Stênio Neves lança dia 19 de novembro, às 21h, no Clube do Choro. No show, ele promete uma viagem pelas faixas do novo álbum, assim como por músicas de Lapidando, seu primeiro trabalho, e sucessos da música brasileira que o influenciaram em suas composições. “O novo disco vem transmitir pensamentos e formas de enxergar as questões do mundo atual por meio do olhar da beleza e da positividade”, explica Stênio, que será acompanhado pelos instrumentistas Filipe da Hora (guitarra), Patrick Rerison (baixo), Fernando Ramil (bateria), Juca Junior (percussão) e Marcelo Lima (teclados). Formado em Direito, o cantor e compositor estudou canto popular na Escola de Música de Brasília e teve apoio do FAC para realizar o CD de Pérola do sal, que estará à venda no Clube do Choro, no dia do show, ao preço de R$20. Ingressos a R$ 40 e R$ 20.
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centenáriodesantoro Se vivo estivesse, o maestro Cláudio Santoro completaria 100 anos em 23 de novembro. Razão mais do que suficiente, portanto, para homenagear o compositor, regente, violinista e professor amazonense conhecido, entre outras coisas, por suas 14 sinfonias e peças para orquestra. O pianista Dib Franciss e a soprano Janette Dornellas realizam, dia 11 de dezembro, às 20h, um recital-tributo pelo centenário de nascimento de Santoro dentro do projeto Sarau arte que faz bem, realizado pela Todde Advogados. No programa estão os prelúdios para piano e também várias de suas Canções de amor, com versos do Vinicius de Moraes. De acordo com os organizadores, a iniciativa tem como foco homenagear esse grande compositor brasileiro, intimamente ligado à história de Brasília, uma vez que, há 40 anos, ele foi maestro e fundador da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional (OSTNCS), atualmente regida por outro Cláudio, o brasiliense Cláudio Cohen. Os ingressos são gratuitos e devem ser solicitados pelos telefones 3322.0502 e 99634.0481.
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reggaegaúcho “Se a vida às vezes dá uns dias de segundos cinzas e o tempo tic taca devagar, põe o teu melhor vestido, brilha teu sorriso, vem pra cá, vem pra cá”. Assim começa a música Do lado de cá, um dos sucessos da banda gaúcha Chimarruts, que se apresenta no Minas Tênis Clube dia 22 de novembro, a partir das 21h. O grupo formado por Rafa Machado (voz e guitarra), Nê (voz e flauta), Vinicius Marques (percussão), Diego Dutra (bateria), Rodrigo Maciel (bateria), Sander Fróis (guitarra) e Emerson Alemão (baixo) surgiu de encontros para tomar chimarrão e tocar violão nas praças da capital gaúcha. Era o segundo semestre de 2000 quando começou a trajetória do Chimarruts com músicas próprias que falam de amor e paz. O forró e o xote do grupo Raízes do Sertão abre o show dos gaúcnos e a Jah Live, grupo de reggae brasiliense, fecha a noite de shows. Ingressos a R$ 40 à venda em https://www.sympla.com.br.
recitaldeformatura2 Será segunda-feira, 25 de novembro, às 20h, o recital da pianista Malu Colusso na Casa Thomas Jefferson (606 Norte). No programa, peças de Scarlatti, Brahms, Cláudio Santoro e Mozart. Trata-se do recital de formatura do curso de Bacharelado em Piano Erudito pela Universidade de Brasília, sob a orientação do professor Daniel Tarquínio. Ela será acompanhada por uma orquestra composta por alunos do Departamento de Música da UnB, sob a regência de Matheus Avlis. Malu iniciou seus estudos de piano aos cinco anos de idade e, aos sete, participou do seu primeiro concurso de piano. Na Escola de Música de Brasília concluiu o curso de piano. A jovem estudante e pianista sempre se manteve ativa nos estudos com seus mestres e masterclasses e workshops com Mauricy Martin, Ney Fialkow e Douglas Johnson, entre outros. Além do piano erudito, estuda regência e colabora em projetos de música popular.
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Edu Defferrari
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A soprano Bárbara Carvalho se apresenta dia 20 de novembro, às 20h, na Casa Thomas Jefferson (606 Norte), acompanhada da pianista Lígia Moreno e do quinteto de cordas formado por Rebeca Araújo e Lucas Almeida (violinos), Mozaliel Sant’Ana (viola), Noemi Porto (violoncelo) e Vinícius Corbucci (contrabaixo), sob a regência do maestro Artur Soares. A cantora iniciou seus estudos no Rio de Janeiro, com a orientadora vocal e soprano Maria Cláudia Paladino, e em 2015 ingressou na Universidade de Brasília, tendo como mestra Irene Bentley. Bárbara já atuou como solista nas óperas A flauta mágica, Abu Hassan e La serva padrona, sob a regência do jovem maestro Artur Soares. Também integrou o Madrigal UnB, sob a direção e regência do maestro David Junker. Babi Carvalho interpreta também composições autorais de música Gospel. Em 2019, lançou as canções Graça e Sol da justiça. Seu recital de formatura em canto terá entrada franca.
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espíritodenatal
Vêm chegando as festas de fim de ano e, com elas, iniciativas solidárias que felizmente conciliam o inevitável consumismo com a máxima de fazer o bem sem olhar a quem. Assim é o Bazar do Rema, que já está na 43ª edição e acontece no Estádio Mané Garrincha, de 5 a 8 de dezembro. Os voluntários do projeto, frequentadores da Casa Espírita Recanto de Maria, dividem as peças do bazar em dez seções, entre elas moda infantil, decoração, roupas de cama e mesa, bijuterias e brechó, além de uma casa de doces, lanchonete e restaurante com cozinha de primeira. Pra se ter uma ideia do tamanho do projeto, os preparativos para o bazar começam no primeiro semestre do ano e os mesmos voluntários que trabalham o ano inteiro também carregam e descarregam 12 caminhões para transportar as peças até o local do bazar e trabalham na venda dos produtos, servindo as mesas no restaurante, enfim, fazem de tudo um pouco. Quem quiser prestigiar essa turma do bem comprando lá seus presentes de Natal poderá pagar com dinheiro, cheque, cartão de débito ou crédito. Das 10 às 22h, com exceção do domingo, em que funcionará das 10 às 19h. Entrada franca e estacionamento gratuito. Informações em www.rema.org.br/blog.
Esse é o nome do show que Eduardo Lages, maestro e arranjador de Roberto Carlos, fará dia 6 de dezembro, às 20h, no CTJ Hall (706/906 Sul), em conjunto com as cantoras Ana Lélia, Ana Clara Hayley, Rosana Brown, Bell Lins, Nathália Cavalcante, Daniela Firme e Carol Mel. De acordo com os organizadores, “trata-se de um trabalho voluntário de inserção e incentivo à prática da música em comunidades vulneráveis e em situação de risco social, como forma de ocupação positiva do tempo e o consequente desenho de novas perspectivas de vida para crianças, jovens e adultos”. O projeto Elas cantam Roberto foi idealizado para fortalecer a música em todos os seus prismas, sobretudo os que agem sobre a violência. Entrada franca, mediante entrega de alimentos não perecíveis que serão doados ao Lar Maria de Nazaré.
violasdegamba
Emília Silberstein
Robert Schumann, Almeida Prado e Alberto Ginastera são alguns dos autores da obra que o pianista Fernando Crespo Corvisier apresentará em seu recital do dia 22 de novembro, às 20h, noCTJ Hall (706/906 Sul). Ele estudou na Academia de Música Lorenzo Fernandez, do Rio de Janeiro, e em 1982 recebeu bolsa de estudos do CNPq para se aperfeiçoar na École Normale de Musique Alfred Cortot, de Paris. Participou de diversos festivais de música na Europa como recitalista e camerista. Nos EUA, obteve o Master Degree in Piano Performance no New England Conservatory, Boston. Ao lado de João Carlos Martins, Fernando gravou a primeira versão para dois pianos das Quatro estações de Vivaldi, transcritas por Almeida Prado. Estudou ainda na Hartt School of Music, de Connecticut, como bolsista da OEA, e participou da série de concertos da South Windsor Cultural Arts Commission e da Rosa Ponselle Foundation of Meriden. No Brasil, foi professor do departamento de pós-graduação da UNI-Rio e um dos fundadores do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, onde é professor associado. Entrada franca.
elascantamroberto Divulgação
pianoclássico
Ampliar o acesso do público de Brasília a obras musicais do período barroco e renascentista, além de popularizar a música de câmara. Esse é o propósito da série Música de Câmara no Espaço Cena (205 Norte), um projeto do Conosco Coletivo de Criadores que apresenta, dia 19 de novembro, às 20h, concerto do Duo Labirinto. Formado por Cecília Aprigliano e Gustavo Freccia, dois mestres da viola da gamba, apresenta o programa Espelho, um passeio pelo repertório dos séculos XVI ao XVIII para duas violas da gamba. O Conosco Coletivo de Criadores é um grupo atuante no campo da música no Distrito Federal. Em seu currículo estão a produção da ópera Barca di Venetia per Padova e os concertos Damas virtuosas, com o Estúdio Barroco, e A rota do indivíduo, com o duo Andre Vidal e Elisa Silveira. Ingressos a R$ 40 e R$ 20. Informações e reservas em 3349.3937.
filmaê Continua atualíssima a máxima de Glauber Rocha (1939-1981), expoente do chamado Cinema Novo: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Está certo que quando ele disse isso a câmera em questão era exclusivamente a de cinema, enquanto hoje vale também a câmera do celular e do iPad para quem se animar a participar do Filmaê, que está com inscrições abertas até 5 de janeiro. Em sua segunda edição, o festival vai aceitar produções de qualquer gênero, desde que tenham entre um e 15 minutos de duração, contando com os créditos. Em 2018, o Filmaê recebeu 123 inscrições de realizadores de todos os estados da federação, dos quais 82 foram selecionados e 45 escolhidos como finalistas. Os filmes inscritos passarão por uma comissão de seleção prévia, encarregada de analisar todo o material inscrito. Serão selecionados 80 títulos que ficarão em exibição no site do festival. Dessa primeira seleção, a curadoria escolherá cerca de 40 finalistas. Inscrições em www.filmae.com.br.
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CAIANAGANDAIA
Para quarentões POR WALQUENE SOUSA
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s brasilienses que valorizam ambientes mais conceituais e exclusivos já podem contar com um novo local para curtirem a noite: o Floor, uma espécie de bar itinerante, montado na garagem do Edifício Ion, na 601 Norte. O endereço foi revelado poucos dias antes da inauguração. A ideia da produtora Mari Braga não era provocar burburinho, mas acabou aguçando a curiosidade das pessoas. A verdade por trás disso ela explica. “Sou supersticiosa e só conto quando tudo está pronto; assim, tenho a certeza de que vai dar certo”. O Floor segue o mesmo formato do Hidden, outro projeto itinerante, realizado uma vez por ano, desde 2017, sempre com casa cheia: atmosfera underground, com decoração produzida pela própria Mari, misturando tons de cinza e amarelo. A empresária seguiu uma linha industrial de estilo nova-iorquino, apropriada
para apresentações de DJs, bandas de jazz, MPB e rock. O cardápio é enxuto, no sistema de autosserviço: os clientes escolhem no mercadinho as opções de tá-
buas de frios, com charcutaria espanhola “reserva”, pães, patês e queijos premiados da região da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Para beber, as alternativas
são vinhos, cervejas artesanais e uísques. O objetivo desse projeto é atingir um público acima dos 40 anos. De acordo a empresária, é uma faixa etária carente de opções na cidade, restrita a sair para jantar ou ir ao cinema, mas que aprecia outras formas de entretenimento: “Esperamos repetir o mesmo sucesso do Hidden, que tem um público fiel, mas exigente. Para atraí-lo, é preciso oferecer uma proposta diferente, e é isso que estamos proporcionando”. O Floor tem capacidade para receber 150 pessoas. Por ser a primeira edição, os organizadores preferiram começar com algo menor, para também avaliar a aceitação do público. Em razão da quantidade limitada, o espaço trabalha com um sistema mais democrático para seu acesso: a ordem de chegada, facilitando o uso dos frequentadores. Dessa forma, não será possível fazer reserva. Para entrar no local, é necessário utilizar o aplicativo do Floor, disponível nos sistemas IOS e Android. Uma dica valiosa é baixar o app antes de chegar ao local, pois, pelo fato de ser no subsolo, o sinal de algumas operadoras nem sempre funciona. O Floor foi especialmente idealizado e planejado para oferecer conforto no período de chuvas de Brasília (vai funcionar até 29 de fevereiro do próximo ano). Por isso, a escolha de um local coberto. Floor
Fotos: Equipe Base Films
Garagem do Edifício Ion (601 Norte). De 5ª a sábado, das 19 às 2h. Couvert artístico: R$ 40.
Mari Braga
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Alexandre Magno
QUEESPETÁCULO
Tragédias íntimas POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO
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intimidade das pessoas... quanta curiosidade desperta sempre. Sites e blogs de fofoca, colunas de jornais e revistas transformam mexeriqueiros em personalidades da mídia apenas por divulgarem informações sobre intimidades – muitas delas inventadas ou fruto de deturpações. Não importa. O ser humano gosta de saber do outro, “a grama do vizinho é sempre mais verde”, não é assim? E se um espetáculo oferecesse a possibilidade de o espectador se transformar numa mosca e assistir, de longe, às revelações da intimidade de duas famílias? Essa é a proposta de Atrás das paredes, novo trabalho da Plágio Companhia de Teatro, que faz curta temporada no teatro do CCBB de 28 de novembro a 8 de dezembro. Sabemos todos que “as aparências enganam”. Ou, como dizia o grande William Shakespeare, “não há vício, por crasso, que não possa revelar aparência de virtude”. Em pouco mais de uma hora, cinco atores constroem a narrativa de um encontro entre famílias que não se conhecem e que vão, aos poucos, expon-
do suas verdades, contradições e – por que não? – suas tragédias. Atrás das paredes apresenta a encenação de texto inédito do autor argentino Santiago Serrano, um dos mais amados pelo teatro brasiliense – só a Plágio já encenou, contando com esta, quatro peças de sua autoria. O diferencial da escrita do hermano dramaturgo (que também atua como psicanalista) é a vocação de construir personagens reais, capazes de refletir as complexidades humanas. E, desta vez, Serrano foi fundo: “Atrás das paredes de cada lar se refletem as contradições, violências e até a crueldade de nossa sociedade. A única possibilidade de evitá-lo é reconhecê-lo e fazer algo contra ele. Muitas vezes, um ato de aparente loucura é a única maneira de sair do círculo vicioso da violência”, diz ele. O espetáculo é uma comédia dramática que discute até que ponto a violência está normalizada na sociedade contemporânea. Ninguém se indigna mais. Será que banalizamos tudo? Na peça, a protagonista Flora toma a decisão de tirar as máscaras, como explica o diretor Sérgio Sartório: “Quando Flora diz ‘nada será como antes’, Simão não imagina
que o peso dessa decisão poderá derrubar paredes e revelar quem são os verdadeiros ratos que assombram o prédio”. No palco estão atores experientes e premiados do teatro de Brasília, como Carmem Moretzsohn, Chico Sant’Anna, Sérgio Sartório (que, além de dirigir, também atuará), André Deca e Daniela Vasconcelos, dividindo a cena com a jovem atriz Bianca Terraza, já premiada por atuações no cinema. A trilha sonora original é de Tomás Seferim; a cenografia e os figurinos, de Chico Sassi. Eles farão 14 sessões, de quinta a domingo – uma às quintas-feiras e sessões duplas às sextas, sábados e domingos. A encenação faz parte das comemorações pelos dez anos de trabalho da Plágio Companhia de Teatro. O espetáculo tem o patrocínio do FAC – Fundo de Apoio à Cultura e conta com apoio do Espaço Cena. Atrás das paredes
De 28/11 a 8/12 no teatro do CCBB, quinta-feira, às 20h, e de sexta a domingo, às 18 e às 20h. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia para clientes Ourocard, estudantes, professores da rede pública e maiores de 60 anos). Entrada franca nas sessões das 18h). Classificação indicativa: 16 anos.
Studio Sartoryi
Ah, o amor! Tema inspira duas peças da 30ª Mostra Dulcina de Teatro
D
ois colegas de trabalho, dispensados por suas respectivas companheiras, resolvem se vingar do gênero feminino direcionando todo o ódio que nutrem por elas a uma jovem secretária. Aproveitando que estão longe de casa, resolvem seduzir e, em seguida, abandonar Cristine, de forma a deixá-la emocionalmente abalada. Ela começa, então, a sair com os dois colegas ao mesmo tempo, sem saber que há um jogo arquitetado contra ela. Tudo vai bem, até que... A continuação dessa história está na peça Do amor e outras enfermidades, em cartaz de 5 a 9 de dezembro no Teatro Dulcina de Moraes, com entrada franca. Dirigida por Fernando Guimarães, é uma livre adaptação da obra do dramaturgo norte-americano Neil LaBute e está inserida na programação da 30ª Mostra Dulcina, que tem também exposição de artes visuais e apresentações de algumas disciplinas do curso de teatro, até 15 de dezembro. “A narrativa é sobre enganos, em que os personagens se manipulam em uma
complexa e cruel ciranda amorosa; impossível não se envolverem no destino que se delimita”, reflete o diretor Fernando Guimarães. Idealização amorosa
Também é dele a peça O amor é um pássaro selvagem, que estará em cartaz entre 11 e 15 de dezembro no mesmo teatro, com entrada franca. Título de uma ária de Carmen, de Giuseppi Verdi, é uma adaptação livre do universo do romancista francês Jean Cocteau. Esse espetáculo, definido por Fernando como comédia de humor negro, apresenta cinco personagens sozinhas que refletem enquanto aguardam o telefonema do amado. “Todas elas ignoram o que pode haver de censurável em seus sentimentos. São puras e selvagens. Não têm consciência crítica do que se passa nessa espera, por isso não conseguem escapar das emoções, da debilidade dos estados físicos e mentais”, explica Fernando. Uma delas comenta: “Só vivo por ele, sem ele minha chama apaga. Sem ele torno-me
um fantasma. Eu sou um fantasma”. O espetáculo aborda a idealização amorosa e as suas expectativas em um cotidiano fracassado. E parte do universo de Jean Cocteau, que à época se valeu de um novo invento, o telefone, para dissecar a crueldade e as mentiras presentes nos comportamentos humanos em relacionamentos amorosos. Os dois espetáculos têm concepção, direção e cenário de Fernando Guimarães e elencos formados por Alex Ribeiro, Bete Virgens, Carlos Neves, Filipe Lima, Gutenberg Lima, Lucas Lima, Luana Coelho, Luana Rosa, Logan Dias, Moema de Osíris, Rafael D’ Carvalho, Rafaela Queiros, Raquel Mendes, Sérgio Tavares e Shayana Villardo. Adair de Oliveira é o assistente de direção e Dan Kuae assina o desenho de luz. Do amor e outras enfermidades
De 5 a 9/12, às 20h, no Teatro Dulcina.
O amor é um pássaro selvagem
De 11 a 15/12, às 20h, no Teatro Dulcina. Ambos os espetáculos com entrada franca, mediante retirada de ingressos com uma hora de antecedência.
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GALERIADEARTE
Ótima largada POR LÚCIA LEÃO FOTOS SÉRGIO AMARAL
U
m dos maiores artistas brasileiros do Século 20, o baiano Rubem Valentim rodou mundo até se estabelecer em Brasília em 1966, como professor de pintura do Instituto de Artes da UnB, e aqui passou seus últi-
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mos anos. Morreu em 1991 deixando um riquíssimo acervo de pinturas, esculturas, gravuras e murais em que prevalecem formas geométricas que retratam o universo simbólico das religiões afro-brasileiras. Uma pequena mostra desse acervo inaugurou, no último dia primeiro, a Galeria Olaria, um dos novos espaços dedicados às artes plásticas na cidade.
“Escolhemos abrir a galeria com o Rubem Valentim por ser um artista de enorme importância no cenário artístico nacional e pela sua forte ligação com Brasília. Tem inclusive um mural em mármore no edifício-sede da Novacap. E como caminhamos para as comemorações do seu centenário de nascimento, decidimos homenageá-lo”, explica Letí-
Espaço
democrático
cia Santos, proprietária da Olaria junto com a sócia Sara Almeida. A exposição reúne 27 obras, incluindo uma pintura datada de 1956 em que a temática religiosa já está presente, mas não as linhas geométricas que marcariam, na sequência, o trabalho de Valentin. A obra pertence a uma coleção particular e não está à venda. Mas o público pode adquirir as gravuras e alguns desenhos a lápis, bases de estudo para os quadros, produzidos entre as décadas de 1970 e 1980, além de moedas cunhadas em bronze pela Casa da Moeda do Brasil. Os preços das obras variam entre R$ 3.500 e R$ 6.200. A Olaria é uma galeria pequena e aconchegante, com projeto assinado por Sara e Letícia. Arquitetas e curadoras, ambas já trabalhavam com o mercado de arte antes de assumirem oficialmente o papel de marchands e se instalarem na sala da 716 Norte, que pretendem transformar num ponto de encontro entre artistas e colecionadores e, num futuro próximo, oferecer cursos de curadoria e avaliação de obras de arte. “Queremos ajudar pessoas interessadas em entender e atuar no mercado de arte, que tem muitas sutilezas e especificidades. Ainda estamos formatando esse projeto, mas a ideia é formar, qualificar pessoas para esse mercado”, conta Sara. A mostra de Rubem Valentin pode ser vista até o dia 22 de novembro. Galeria Olaria
716 Norte, Bloco D, Loja 18 (3037.8648 / 98138-7923). De 2ª a 6ª feira, das 9às 18h; sábado, das 9 às 15h.
POR LÚCIA LEÃO FOTOS SÉRGIO AMARAL
T
rês meses de funcionamento e já é uma das salas de exposição mais visitadas de Brasília. Com a Galeria do Pátio, apreciar obras de arte entrou no roteiro do programa mais popular e corriqueiro dos nossos tempos, que é passear no shopping. “A gente estava passando, viu a galeria e resolveu entrar. Tem quadros muito lindos aqui”, elogia a adolescente Isadora Ribeiro, admirando, com a amiga Marcia Gabriele, a foto da Igreja Matriz de Pirenópolis, registrada com técnica de super exposição pelo artista Rodrigo Rosa. “Esses jovens compõem grande parte do nosso público. E também, pela proximidade do Setor Hoteleiro, recebemos muitos turistas. Outro dia entrou aqui um turista bem típico, de bermuda e máquina fotográfica, falando inglês. Perce-
bemos que era um grande conhecedor de pintura e, na conversa, ele se apresentou como diretor da Academia de Arte e Ciências de Belgrado. Mas tem gente de todo perfil, social, cultural e etário. Temos muito orgulho disso, de sermos um espaço verdadeiramente democrático, de romper aquela cortina elitista que normalmente cerca as galerias de arte. E todos que entram aqui são recebidos com a mesma atenção e cuidado”, faz questão de ressaltar a artista plástica Malu Perlingeiro, uma das quatro gestoras do espaço. As outras são as também artistas Socorro Mota, Stella Lopes e Théa Sisson, que se revezam no atendimento ao público. Nas paredes da ampla loja do segundo piso do Pátio Brasil – onde já funcionou a Livraria Siciliano, cuja lembrança é preservada na faixa de parede com os nomes de centenas de escritores de todo o mundo – estão expostas atualmente
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GALERIADEARTE
A artista plástica Malu Perlingeiro e suas três sócias se revezam no atendimento aos visitantes da Pátio Galeria, em sua maioria jovens em busca de conhecimento.
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cerca de 100 obras de mais de uma dezena de artistas. São pinturas sobre tela, aquarelas, gravuras, desenhos, fotografias, múltiplos, reproduções em fine art, esculturas, objetos e instalações distribuídos entre os vários espaços expositivos da galeria, que oferece condições para mostras individuais simultâneas, independentes, em ambientes separados. A individual, neste momento, é de telas de Socorro Mota. As demais artistas-gestoras têm trabalhos expostos nos espaços coletivos ao lado de artistas como Athos Bulcão, Lourenço de Bem, Carlos Wolfgram, Walmir Candido e vários outros. Entre os quadros ainda é possível apreciar, vez ou outra, pequenos recitais de música, dança e poesia. “Além de galeria, somos um espaço cultural aberto a todas as manifestações artísticas”, explica Malu Perlingeiro. Além das salas de exposição, a Galeria do Pátio dispõe também de uma sala para cursos que pode ser utilizada por artistas como ateliê temporário. Atualmente são oferecidos cursos de aquarela, pintura a óleo, folheação a ouro e desenho. As pa-
redes e o ateliê estão abertos, mediante aluguel, a todos os artistas interessados. Eles devem entrar em contato com as gestoras e enviar portifólio para o e-mail contato.patiogaleria2019@gmail.com. “É um espaço para todos os artistas e para
todos os públicos. Essa é a nossa vocação e o nosso orgulho!”, festeja Théa Sisson. Pátio Galeria
Pátio Brasil Shopping, 2º piso. De 2ª a sábado, das 10 às 22h; domingos e feriados, das 14 às 20h.
Mariana Maltoni
GRAVES&AGUDOS
Carminho
Atrações de alto calibre F
oi bom pra você? Digo, o ano foi bom pra você? Tomara tenha sido, pois o 2019 que finda foi particularmente venturoso em termos de atrações musicais na capital. Como esse não é exatamente um mercado consolidado, com dados rápidos a fornecer panorama preciso de quanto movimentou, média de público ou mesmo inventário de todos os artistas que tocaram durante o ano nos quatro cantos do quadrilátero federal, ainda assim, olhando en passant a agenda de shows, percebe-se que não tivemos um único mês fraco, destoando. Desde sempre, a Roteiro vem dando aos amantes de música ao vivo dicas de atrações de alto calibre, dos mais variados estilos musicais. Mais interessante, para o bem e para o mal, a maioria eventos privados. Shows com recursos públicos, normalmente gratuitos, desde o Réveillon que não acontecem. Porém, o filé mignon envolve pagar para ver. Enfim, a tal história: toda vez que falam em cultura, eu saco a minha carteira.
Feita a divagação sobre o estado da cultura, eis os destaques da agenda do período. Começando com um festival chamado Pavilhão Luz, que promete ocupar a arena de eventos do Estádio Nacional de Brasília com uma eclética mistura musical. De 16 de novembro a 22 de dezembro desfilam artistas como Ludmilla, Iza, Flora Matos, Marcelo Falcão,Raça Negra, Tropkillaz, Rael, Baco Exu do Blues e Lenine, entre outros. Blocos de Carnaval também estão nessa parada. Programação detalhada e o caminho das pedras em www.pavilhaoluz.art. É rock pesado o que você quer? Que tal o black metal do Abbath, direto da Noruega, para o palco do samba, neste sábado, 16, na Aruc? A Aruc é espaço democrático e abre as portas para a arte tétrica, funesta, macabra, angustiante dos países nórdicos, qual o problema? Prepare-se para conhecer Abbath Doom Occulta, sujeito sinistro de cara pintada. Isso não é bacalhau com feijoada, isso é bossa pesada, isso é muito natural. Vultos Vocíferos tocam na abertura. Nesse mesmo 16, um sábado, quem
volta a cidade são os pernambucanos do Eddie. A banda comemora 30 anos de atividades e resistência, como dizem, fundindo ritmos, criando novas ambiências e quebrando paradigmas. Onde? Na Cervejaria Criolina (SOF Sul). Alcione Vans
POR HEITOR MENEZES
Iza
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GRAVES&AGUDOS
Zé Ramalho
mento em Brasília, abre os trabalhos, ao lado da guitarra de Haroldinho Mattos e convidados. Em seguida, a Brazilian Blues Band comemora 25 anos de estrada, recebendo como convidado o gaitista carioca Jefferson Gonçalves. Dia 21, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, um dos shows mais aguardados pelos entusiastas da, digamos, nova música popular brasileira, é a volta de Tiago Iorc, brasiliense que ganhou o mundo e agora retorna como artista da primeira divisão da MPB. No palco, o cantor e compositor manda as músicas do novo álbum, Desconstrução, e ainda brinda o público com favoritas como Divulgação
Na mesma Criolina, a temperatura segue em ebulição, dia 20, com a Noite Preta, evento festivo voltado para celebrar a negritude, a cultura e a musicalidade afro-brasileira. Nessa data, comemoram-se seis anos do Comboio Percussivo no DF, e o Dia Nacional da Consciência Negra. No som, DJ Let’s Gabs, Bloco Oficina Comboio, Filhas de Oyá e convidados. Detalhe importante: acesso grátis. Ah, não vai dar para ir na Criolina nesse dia. Ok, no dia seguinte, 21, nesse espaço, o panorama é mistura fina com o evento Bebendo Blues, Comendo Jazz. No palco, o super baixista Oswaldo Amorim, grande referência do instru-
Divulgação
Divulgação
Amei te ver e Coisa linda. De volta à Criolina, dias 22 e 24, quem faz a festa em dias intercalados é a Scalene. A banda brasiliense formada por Gustavo Bertoni, Tomás Bertoni, Lucas Furtado e Philipe Nogueira promove Respiro, mais recente álbum, fruto de dez (!) anos de batalha musical. Na fórmula, o equilíbrio de ingredientes formados à base de MPB, música eletrônica, R&B e influências mil. E dá-lhe SOF Sul. O Toinha Brasil Show abre as portas, dia 23, para o Overdriver Duo, cuja Pop Party vem rodando o planeta e não podia deixar Brasília de fora. A dupla Evandro Tiburski e Fabi Terada, de Porto Alegre, colhe os frutos como fenômeno mundial da internet. Ledcomo Zeppelin1inbilhão Concert e Eles contabilizam algo meio de visualizações de músicas postadas na rede. No som, pop e electro dançantes dominam a parada. No hay samba? Claro que si, baby. E ele vem no som de Toninho Geraes, raro representante do samba made in Minas Gerais, se é que podemos falar nesses termos. O cantor e compositor, autor de sucessos como Mulheres (consagrada por Martinho da Vila) e Me leva (Agepê), é a atração, dia 23, na Serpentina Zero Grau SIG, reduto do samba, suor, cerveja e futebol, ali no Setor de Indústrias Gráficas. Pessoal da roda Goiabada Cascão ajuda a incrementar o lance pagodístico noite adentro. Dia 28, no Ulysses Guimarães, é a vez da cantora portuguesa Carminho
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Scalene
Indiana Nomma
Tiago Iorc
voltar a dar o ar de sua graça na capital. Na interessante luta de popularizar o fado, representante inigualável da mais alta expressão lusófona, Carminho desta vez apresenta as canções de Maria, seu mais recente trabalho. Como na experiência anterior – Carminho canta Jobim, no qual revisita a obra do velho Tom –, a ênfase é dade: profundidade, autenticidade e alta musicalidade. Biscoito fino para qualquer idade. Ponto. Mudando de fado pra xaxado, um dia após a experiência catártica de Carminho teremos Zé Limeira e a psicodelia do agreste comendo solta no palco do CCUG. Dia 29, Zé Ramalho vai estar entre nós, com seu vozeirão entoando loas de realismo fantástico. Em outubro, Zé completou 70 anos de idade, ao passo que a turnê que o traz a Brasília (ainda) comemora 40 anos. Bem, Paêbiru, o disco inaugural da carreira, ao lado de Lula Côrtes, é de 1975. Logo, nessa contabilidade tem mais de 40 anos de estrada. Mas deixa pra lá. Zé é Zé. Outra banda brasiliense em cartaz nesse período é a Dona Cislene. O quarteto formado por Bruno Alpino, Guilherme de Bem, Pedro Piauí e Paulo Sampaio comemora ano bastante produtivo. Tocaram no Rock In Rio e agora lançam o álbum Tempo rei. Antes que alguém pergunte, o negócio aqui é rock’n’roll. Quando? Dia 29. Onde? Na Birosca do Conic. Tem Lobão no Toinha Brasil Show, dia 30. O velho lobo do rock nacional, do alto de seus 62 anos, supera tudo, todos e segue em frente com sua idiossin-
crática visão de mundo e de música. Olha, João Gilberto simplesmente gravou Me Chama, quer mais? Vai, Lobão. Deixa de teretetê e faz o povo feliz. E por falar em rock de alto nível, temos a volta dos norte-americanos Dream Theater, grande expoente mundial do prog-metal, dia 4 de dezembro, no CCUG. Desta vez, a rapaziada volta para promover o décimo-quarto álbum de estúdio, Distance over time, lançado no início do ano. Quer saber? É rock virtuoso cheio de passagens intrincadas, som que parece muito complicado, mas que os caras tocam com o pé nas costas. É o que dá roqueiro estudar no Berklee College of Music. Enquanto isso, no galpão da Cervejaria Criolina, Portugal ataca novamente, não exatamente com fados, mas com as baladas e a firme voz da cantora Maro. Campeã nos Spotify da vida, Maro representa esses tempos em que a fama rapidamente atravessa fronteiras, bastando que o talento encontre maneiras de voar mundo afora. Páro quando oiço o teu nome é de um charme sem igual. Pessoal da Funqquestra toca logo depois, em show de lançamento do EP 360 – ao vivo. Essa rodada dupla acontece no dia 5. Perdeu O Grande Encontro? Sem problemas. Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo dão mais uma chance aos amantes da legítima MPB no show que comemora 20 anos da grande ideia que tiveram de juntar as forças no mesmo palco. Fenômeno de vendas quando as gravadoras deitavam e rolavam com a venda de CDs e DVDs, o pro-
Anatole Klapouch
Marjory Corrêa
Ney Matogrosso
jeto segue em frente porque a qualidade musical, todos sabem, é elevadíssima. Dia 7, no Ópera Hall. Se é pra manter o alto nível da programação, chama o Ney. Isso. Ney Matogrosso retorna à cidade, no dia 8, no Ulysses Guimarães. Essa é também mais uma chance de conferir o show Bloco na rua. Em maio, quando esteve aqui, os ingressos simplesmente evaporaram e agora não deve ser diferente. Ney canta Sérgio Sampaio (Eu quero é botar meu bloco na rua), Raul Seixas (A maçã) e Paralamas (O beco), sem falar nas coisas maravilhosas de iluminada carreira. Sim, não podem faltar os clássicos dos Secos & Molhados. A agenda do período se encerra com mais uma atração internacional: o cantor norte-americano Alex Band, cuja fama se fez nos anos 1990 com o grupo The Calling. Wherever you will go, grande hit desse grupo, toca até hoje por aí. Ele esteve em Brasília em 2008, ocasião em que aproveitou para gravar umas coisas para um DVD. No currículo, o cara tem parceria com o guitarrista Carlos Santana, canção em filmes e toca o barco como se não houvesse amanhã. Ops: dia 14, no Toinha Brasil Show.
Lobão
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LUZCÂMERAAÇÃO
O mês que não terminou, de Francisco Bosco e Raul Mourão.
Maratona cinematográfica De 22 de novembro a 1º de dezembro, o Festival de Brasília apresenta sua robusta edição de 2019.
Os longas da mostra competitiva
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Piedade RJ, 2019, 85min, ficção. Classificação indicativa: 16 anos. Direção: Cláudio Assis. Com Fernanda Montenegro, Cauã Reymond, Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele, Mariana Ruggiero, Gabriel Leone e Francisco de Assis Moraes. Praia da Saudade, Piedade. O bar Paraíso do Mar é reconhecido por sua deliciosa moqueca de cação e cerveja sempre gelada. O lugar, construído por Humberto Bezerra há mais de 30 anos, hoje é gerido por sua viúva, Dona Carminha, e pelo filho mais velho, Omar. O cotidiano dessa família será abalado com a chegada de Aurélio, um executivo de São Paulo que irá trazer à tona segredos há muito tempo escondidos e que, inusitadamente, conectam a família de Dona Carminha a
Sandro, dono de um cinema pornô do outro lado da cidade. O tempo que resta DF, 2019, 73min, documentário. Classificação indicativa: livre. Direção: Thaís Borges. Com Maria Ivete Bastos e Osvalinda Marcelino Pereira. Duas mulheres da Amazônia brasileira, duas histórias. Uma rompeu com as relações de dependência impostas pelas milícias madeireiras. A outra levantou a voz contra o agronegócio e a mineração que se expandem floresta adentro. Agora, Maria Ivete Bastos e Osvalinda Marcelino Pereira estão marcadas para morrer. Seus cotidianos são um retrato da resistência de outros tantos trabalhadores rurais e ribeirinhos amazônicos, gente que precisa
da floresta em pé para sobreviver. Contra a fragilidade de seus corpos adoecidos e contra as ameaças que lhes roubam a liberdade, Ivete e Osvalinda reagem no tempo que lhes resta. Loop MT, 2019, 98min, ficção. Classificação indicativa: 12 anos. Direção: Bruno Bini. Com Bruno Gagliasso, Bia Arantes, Branca Messina, Nikolas Antunes, Roberto Birindelli e Zé Carlos Machado. Após a morte de sua namorada, Daniel se torna obcecado com a ideia de voltar no tempo para evitar a tragédia. Ele se deixa consumir pela própria obsessão e mergulha em seu isolamento até encontrar a solução. Assim, Daniel abre mão de seu futuro e retorna ao passado. No entanto,
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ara tentar uma vaga no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 189 longas e 512 curtas-metragens, de todas as regiões do país, foram inscritos. Dessas 701 produções, sete longas e 14 curtas estão na mostra competitiva, concorrendo ao troféu Candango e a prêmios em dinheiro. Outros tantos acabaram alocados nas mostras paralelas que compõem a edição deste ano do mais antigo festival brasileiro de cinema, que ocupa, entre 22 de novembro e 1º de dezembro, o Cine Brasília e diversos outros espaços do Distrito Federal com exibições de filmes, atividades formativas e, ainda, ambiente de mercado. A mostra competitiva conta com dois documentários e cinco ficções, a maioria deles realizações de jovens cineastas. A exceção é o pernambucano Cláudio Assis, veterano de outras edições do festival, que vai apresentar seu novo longa, Piedade. Cineasta em ascensão, Maya Da-Rin participa com A febre, na qual o protagonista é acometido por misteriosa doença às vésperas de sua filha partir para estudar na capital. Alice Júnior, de Gil Baroni, retrata o drama de uma jovem mulher trans sobrevivendo ao ensino médio, enquanto Loop, de Bruno Bini, mostra um homem que volta no tempo para evitar a morte da amada. Volume morto, de Kauê Telloli, é a história de uma professora suspeita do sumiço de um menino surdo na esco-
ele não é mais o mesmo homem. O mês que não terminou RJ, 2019, 104min, documentário. Classificação indicativa: 14 anos. Direção: Francisco Bosco e Raul Mourão. Com Fernanda Torres, Laura Barbosa de Carvalho, Pablo Ortellado, Maria Rita Kehl, Marcos Nobre, Tales Ab’saber, Camila Rocha, Pablo Capillé, Pedro Guilherme Freire, Áurea Carolina e Reinaldo Azevedo. O documentário analisa o processo institucional e social do país desde junho de 2013 até a eleição de Bolsonaro, investigando a crise do lulismo, a Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão das direitas liberal e conservadora. Vídeos de artistas plásticos colaboram para compor a narrativa.
Fotos: Divulgação
POR PEDRO BRANDT
Alice Júnior, de Gil Baroni.
la onde trabalha. O documentário O mês que não terminou, de Francisco Bosco e Raul Mourão, analisa acontecimentos políticos e sociais no Brasil desde 2013, como o impeachment de Dilma Rousseff e as eleições de 2018. Também documentário, O tempo que resta mostra o combate de duas mulheres na região amazônica, uma contra o agronegócio e outra contra o corte ilegal de madeira. Em 2019, compuseram a curadoria a
jornalista e produtora Anna Karina de Carvalho, o produtor e cineasta Marcus Ligocki Jr., o cineasta e crítico Tiago Belotti e a subsecrertária de Economia Criativa do DF, Érica Lewis – equipe que contou também com a colaboração de um seleto time de especialistas em diversas comissões de seleção para escolher os longas e curtas do festival. Além da mostra competitiva, a programação conta com a Mostra Brasília BRB, dedicada à produção local de cine-
A febre RJ, 2019, 98min, ficção. Classificação indicativa: 14 anos. Direção: Maya Da-Rin. Com Regis Myrupu, Rosa Peixoto, Johnatan Sodré Kaisaro, Jussara Brito, Edmildo Vaz Pimentel, Anunciata Teles Soares e Lourinelson Wladmir. Justino, um indígena de 45 anos, do povo Desana, é vigilante do porto de cargas de Manaus. Enquanto sua filha se prepara para estudar Medicina na capital, Justino é tomado por uma febre misteriosa.
estranho caso de um garoto mudo. Mas se torna a principal suspeita.
Volume morto SP, 2019, 76min, ficção. Classificação indicativa: 14 anos. Direção: Kauê Telloli. Com Fernanda Vasconcellos, Julia Rabello, Daniel Infantini e Fernanda Viacava. Uma jovem professora tenta solucionar o
Alice Júnior PR, 2019, 87min, ficção. Classificação indicativa: 12 anos. Direção: Gil Baroni. Com Anne Celestino, Emmanuel Rosset, Thais Schier, Surya Amitrano, Matheus Moura, Katia Horn, Igor Augustho, Antonia Montemezzo, Amanda Leal, Marcel Szymanski, Cida Rolim, Altamar Cezar e Gustavo Piaskoski. Alice Júnior é uma youtuber trans cercada de liberdades e mimos. Depois de se mudar com o pai para uma pequena cidade onde a escola parece ter parado no tempo, a jovem precisa sobreviver ao ensino médio e ao preconceito para conquistar seu maior desejo: dar o primeiro beijo.
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Loop, de Bruno Bini.
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Ambiente de Mercado, em sua terceira edição, tem ganhado cada vez mais importância. “O feedback dos anos anteriores foi muito positivo. E, em 2019, tivemos uma maior adesão de players. Brasília está no centro do mercado audiovisual, que é uma parte importante para vislumbrar novas perspectivas”, relata Anna Karina. A mostra Território Brasil é uma seleção de destaques dentre os filmes inscritos para tentar uma vaga na mostra principal, contemplado um longa-metragem representante de 17 estados e do DF, no intuito de apresentar a qualidade e a pluralidade da atual produção nacional. Vozes é uma mostra com quatro documentários que abordam questões identitárias
e as batalhas de personagens por respeito e igualdades social. Novos Realizadores, como o nome sugere, é composta apenas por primeiros longas-metragens de jovens cineastas. Guerrilha, por sua vez, apresenta filmes de baixo orçamento ou feitos no esquema “ação entre amigos”. E isso é apenas uma parte da robusta edição de 2019 do Festival de Brasília, uma autêntica maratona cinematográfica. Para mais detalhes, visite o site do festival. 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
De 22/11 a 1/12 no Cine Brasília e outros espaços culturais do DF. Ingressos para a mostra competitiva: R$ 20 e R$ 10 (meia). Mostras paralelas: entrada gratuita. Programação completa com locais e horários em www.festivaldebrasilia.com.br. Fotos: Divulgação
ma (também com prêmios em dinheiro), e as mostras paralelas Vozes, Novos Realizadores, Guerrilha e Território Brasil. Completam a programação o Festivalzinho, com curtas-metragens para crianças, a quinta edição do Festival de Curtas de Escolas Públicas do DF, sessões especiais hors concours (fora de competição) e as exibições, exclusivas para curadores e produtores de cinema, da mostra Futuro Brasil, com filmes em fase de finalização competindo por prêmios e oportunidades de participação em outros eventos no Brasil e no exterior. Entre as novidades, além da realização do festival em novembro – mês com o qual esteve tradicionalmente associado no calendário cultural de Brasília, depois de algumas edições em setembro – e a premiação em dinheiro para todas as categorias da mostra competitiva, a marca do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, acredita Anna Karina de Carvalho, são as mostras paralelas. “Em mais de 20 anos frequentando festivais internacionais, isso foi algo que sempre me atraiu”, comenta a curadora. “Em Cannes, por exemplo, temos as paralelas Semana da Crítica, dos Realizadores e a mostra Un Certain Regard, todas repletas de boas surpresas, outros olhares, outras narrativas e uma certa vanguarda”, avalia Anna Karina. Com a participação de nomes relevantes de grandes empresas do setor e voltado para profissionais do audiovisual em busca de oportunidades, aperfeiçoamento ou abertura de novos negócios, o
O tempo que resta, da brasiliense Thaís Borges.
Carrie, a Estranha
BRASILIENSEDECORAÇÃO
Nossa Frida Kahlo POR VICENTE SÁ FOTOS SÉRGIO AMARAL
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e fosse um filme, a câmera mostraria um homem na porta do cinema de uma pequena cidade do interior a escrever numa lousa o nome do filme, dos atores principais e do diretor. Ao lado dele, uma menina de pouco mais de dez anos aguarda e, assim que o homem termina, ela pega seu caderno – que tem na capa o escudo do Botafogo – e anota tudo, inclusive a parte final que diz: dê sua opinião. A segunda cena mostraria o final da sessão e, entre os espectadores que saem, vemos a menina, com dificuldade de locomoção em uma perna, indo até a praça em frente, sentando num banco e escrevendo no caderninho sobre o filme a que assistiu. Talvez um lettering nos dissesse que estamos em Jacobina, em 1964, e que a menina se chama Berenice Rosalina da Silva. Se fosse um filme, um narrador nos diria que a menina teve paralisia infantil, mas isso não a impediu de ser tão ou mais arteira do que as outras crianças de
sua idade. As únicas diferenças eram: sua paixão pelo Botafogo e seu amor pelo cinema. Se fosse mesmo um filme, nós daríamos um salto até 1979 e veríamos aquela menina, agora uma jovem estudante universitária, organizando a exibição do filme O caso dos irmãos Naves, no Cineclube 3x4, que ela ajudou a criar, na faculdade. Veríamos o pânico e o protesto pelo corte da luz feito pela direção da faculdade, a repressão policial chegando e a cópia do filme sendo retirada às pressas, camuflada entre casacos e bolsas estudantis. Ao som de assobios e apupos, entenderíamos que, naqueles anos, a simples exibição de um filme era um ato político e arriscado. Àquela altura, Berenice já se tornara Berê e, como acontecia muito, no começo de Brasília, seu Estado, a Bahia, tinha se tornado seu sobrenome. A paixão pelo Botafogo continuava e o amor pelo cinema tinha virado uma religião, cujo papa era seu conterrâneo Glauber Rocha. Embora cursasse Pedagogia e depois Direito, é no meio cultural, e principalmente no meio cinematográfico, que Be-
rê Bahia passa a ser conhecida. Sua garra e capacidade de organização a fazem reconhecida e necessária. Assim, depois do 3x4, ela migra para o Cineclube Gavião, do Cruzeiro, onde trabalha com os jornalistas Celso Araújo e Maria do Rosário Caetano. Naquela época, passa a ajudar na programação de praticamente todos os cineclubes do Distrito Federal: o Aruanda, da UnB, o Pé no Chão, da Ceilândia, o João de Barro, de Sobradinho, o Cora Coralina, do Gama, e até o Juca da Ponte, de Luziânia. Essa experiência a levou a participar de encontros nacionais de cineclubes, conhecer diretores e empresários do meio e aprimorar sua visão de cinema. Em 1985, durante o governo Sarney, Berê, que trabalhava na Embrafilme, é incorporada ao recém-criado Ministério da Cultura. Como coordenadora da Filmoteca, dedica-se a organizar e disponibilizar os filmes e documentos relativos ao cinema brasileiro. No térreo do Minc, ela cria o projeto Vai e Veja, disponibilizando, aos interessados, revistas, cinejornais, livros, cadernos de pesquisas e de críticas,
além de informações sobre tudo que acontecia nos cinemas do Distrito Federal. Em pouco tempo, não havia cinéfilo, estudioso ou estudante que não tivesse passado por aquele espaço de cultura cinematográfica. Começa a funcionar ali, também, a Sala Paulo Emílio, que exibia filmes e promovia debates com diretores e críticos. Sob os cuidados de Berê, o local se torna referência para os amantes do cinema brasileiro. Mas nem tudo são flores. Tendo sua vida profissional sempre interrompida pelo tratamento das sequelas da sua doença infantil, com cirurgias que a deixavam, às vezes, por mais de seis meses num leito de hospital, Berê nem sempre pôde dar continuidade ou ver o resultado de muitos de seus projetos. Ao todo foram 16 cirurgias, interrompendo sua vida e tirando-a do seu foco e da sua paz, a ponto de o documentarista Vladimir Carvalho, fã incondicional de seu trabalho, compará-la a Frida Kahlo, pela resistência e talento. Apesar de todas as dificuldades, Berê Bahia arruma forças e, junto com Celso Araújo, realiza um sonho antigo e publica 30 anos de cinema e festival – A história do FBCB (1965-1997), obra de quase 500 páginas que recupera a memória do Festival de Brasília desde o seu início. Ainda na poeira do primeiro livro faz O olhar da Igreja, catálogo dos filmes concorrentes ao Margarida de Prata da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e, logo em seguida, em 2003, um projeto pessoal: Luz, câmera, mesa e ação: o cinema brasileiro na cozinha. Neste, Berê junta duas paixões, o cinema e a culinária, e cria pratos para grandes filmes nacionais, numa deliciosa combinação de lembranças. Em 2012, é a vez de a capital da República virar alvo de Berê e ela lança, com apoio do FAC, Brasília 5.2 cinema e memória, uma pesquisa sobre os audiovisuais que mostram a cidade desde o começo da sua construção. Hoje, aposentada, Berê, que já foi homenageada pelos cineastas, pelo Festival de Brasília e é reconhecida por todos que conhecem a história do cinema candango, bem que podia descansar... mas quem disse? Na Vila Planalto, onde reside, ela desenvolve dois projetos: um, do qual a comunidade participa, tem o apoio da Associação dos Idosos e se chama Beco da cultura. Todo segundo sábado do mês, eles tomam conta do beco próximo à associação e levam crianças e idosos para ler, ouvir histórias e músicas, ajudar com a biblioteca comunitária que ali funciona e, é claro, assistir a um filme. O segundo, ainda sem nome e feito em casa, é um livro sobre sua vida e trabalho. Ela diz que não tem pressa nem prazo. Vai levando como quem assiste a um filme do qual gosta e não tem nenhuma vontade de que chegue ao fim.
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Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
conceicaofreitas50@gmail.com
Cidade-floresta,
a nova utopia
S
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essenta anos depois de o mundo se espantar com uma cidade moderna construída no meio da selva (era assim que os estrangeiros imaginavam o Cerrado, bioma até então desconhecido até dos brasileiros), sessenta anos depois, a utopia urbana já não é mais feita de concreto armado pontuando imensos vazios. A arquitetura já não é mais a arquitetura pela arquitetura. A máquina de morar foi substituída pelo bosque de viver. Os arquitetos já não são as estrelas da festa. Sai Lucio Costa e Oscar Niemeyer e entra Burle Marx. (Embora doutor Lucio tenha projetado superquadras com vasta e concentrada arborização, não se pode negar). Mas a utopia de agora é outra, parecida embora bem diferente da utopia moderna. Ela surgirá no México. Uma cidade-floresta mexicana toda ela arborizada, e não apenas na escala residencial. Não terá escala monumental. Toda ela nas escalas residencial, gregária e bucólica. Dos 557 hectares, 400 serão destinados a áreas verdes, do que se depreende que será uma floresta pontuada de arquitetura. A nova utopia será mais rural do que urbana. Toda ela se-
rá cercada por painéis solares e campos agrícolas, para que seja auto-suficiente em comida e energia. Não se pode ser injusto. Lucio Costa também pensou em áreas para a produção de alimentos – as 700 Sul eram originalmente destinadas aos hortifrutigranjeiros. E havia ainda as granjas nos arredores do Plano Piloto que acabaram sendo usadas como moradia dos diretores da Novacap. Há, porém, uma diferença abissal entre a utopia dos anos 50/60 e a utopia dos primeiros anos do novo milênio. Se o Plano Piloto de Lucio Costa é desastrosamente rodoviário e continua a multiplicar rodovias, viadutos, como quem ainda não saiu do século passado e como quem precisa dar de comer aos empreiteiros, a Smart Forest City será vedada aos carros. Quem fizer questão de ter o próprio bólido, terá de deixá-lo nos limites da cidade. Do lado de dentro, as pessoas só circularão em transporte coletivo elétrico e semi-automatizado. A maquete da cidade-floresta é uma mistura de Água Mineral, Jardim Botânico, Parque da Cidade e superquadras – espelhos d’água, muitos bos-
ques, jardins, praças e edifícios com fachadas verdes. Será pequena, a cidade-floresta. Terá 130 mil habitantes, metade da população do Plano Piloto, como se fosse uma cidade-satélite de Cancún. O Lucio Costa da nova utopia urbana é o arquiteto italiano Stefano Boeri. O paisagista é mulher, a também botânica Laura Gatti. “A Smart Forest City Cancun é um jardim botânico dentro de uma cidade contemporânea, baseada na herança maia e em sua relação com o mundo natural e sagrado. Um ecossistema urbano onde a natureza e a cidade estão entrelaçadas e agem como um organismo”, disse Boeri. A cidade-floresta também será um pouco cidade-rio. Por conta da proximidade com o Mar das Caraíbas, toda ela será cercada por espelhos d’água e hidrovias para proteger a cidade contra inundações. O arquiteto italiano apresentou o projeto ao governo de Cancún em março deste ano e ainda não recebeu resposta. Será um empreendimento particular, como um condomínio, só que em vez de muros, árvores e água, floresta e hidrovias.
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