ROTEIRO 293

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Ano XVIII • nº 293 Setembro de 2019

R$ 5,90

De carona no Rock in Rio, a capital recebe a alemã Scorpions e outros bambambãs do metal pesado: Helloween, Narnia, Tourniquet, Stryper.



EMPOUCASPALAVRAS

Vai que o rock não é muito a sua praia, então a pedida é visitar a bem sacada exposição Vaivém, em cartaz no CCBB até 10 de novembro. Lá estão 350 obras de arte selecionadas pelo curador Raphael Fonseca e produzidas por artistas que em algum momento se inspiraram nas brasileiríssimas redes de dormir, objeto que chamou a atenção até de Pero Vaz de Caminha em uma de suas cartas sobre o Brasil. Os trabalhos, com absoluta diversidade de estilos, são de autoria de artistas como Rugendas, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Djanira, J.Borges, Bené Fontelles e muitos outros (página 20). Apresentamos também duas outras exposições de arte contemporânea. A primeira acontece no Espaço Oscar Niemeyer, que estava fechado desde 2014 e agora reabre em grande estilo com a exposição Césio 137, do artista plástico goiano Siron Franco (página 22). A segunda pode ser vista no Espaço Contém, ocupação ancorada na antiga Piscina de Ondas do Parque da Cidade. Lá está rolando o 1º Festival de Artes Contemporâneas de Brasília, com duas mostras simultâneas: Utopias efêmeras e Brasília 60 – Novas candangas (página 23). Para quem prefere fugir da cidade e recarregar baterias em contato com a natureza, vale viajar até a página 17 e conhecer a diversidade de roteiros turísticos que o Estado de Mato Grosso proporciona. A Chapada dos Guimarães, com seus platôs lindíssimos, e a cidade de Nobres, com suas trilhas e fauna únicas, são o foco do relato de Rafael Fontana. Na gastronomia, destaque para os novos restaurantes Sauz, no Lago Sul, Espaço com Cavaná, no Setor Noroeste, e Mr. Hoppy, na Asa Sul, bem como para a nova filial do Carpe Diem no CCBB, mais precisamente no charmoso pavilhão de vidro assinado por Oscar Niemeyer. Para quem mora em Águas Claras, apresentamos ainda uma nova vila gastronômica com uma dezena de quiosques de alimentação (página 4). Boa leitura e até outubro.

Rafael Fontana

Nove dias antes de os roqueiros presentes ao Rock in Rio cantarem a plenos pulmões Wind of change (Vento de mudança), extasiados pela interpretação da cinquentenária banda alemã Scorpions, os fãs brasilienses já terão tido esse privilégio em show que acontece dia 25, no Ginásio Nilson Nelson. É a temporada pré-Rock in Rio, que sempre respinga em várias cidades brasileiras com presenças marcantes de bandas escaladas para brilhar no Palco Mundo do mais importante festival brasileiro de música. É o rock, presente na capa desta edição, que dá o tom da agenda musical, a cargo de Heitor Menezes (página 24).

17 diáriodeviagem O passeio de quadriciclo noturno é um dos atrativos do distrito de Bom Jardim, na Chapada dos Guimarães.

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Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SQSW 104, Bloco E, Apto. 501, Setor Sudoeste – Brasília-DF – CEP 70.670-405 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli, com foto de divulgação | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Evelin Campos, Heitor Menezes, Junio Silva, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle, Walquene Sousa | Fotografia Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral | Para anunciar 98275.0990 Impressão Foxy Editora Gráfica | Tiragem: 20.000 exemplares.

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ÁGUANABOCA

Vila gastronômica POR EVELIN CAMPOS

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e de janeiro para cá você passou pela Rua D da Quadra 301, em Águas Claras, é improvável que não tenha notado algo diferente ali na altura do Conjunto 2. Certamente seus olhos foram atraídos pelas charmosas lâmpadas amareladas distribuídas por longos varais suspensos. E, então, se perguntou o que haveria para dentro daquela cerca de madeira branca com toque rústico e acolhedor. Caso não tenha resistido à curiosidade, você se aproximou um pouco mais e, possivelmente, se encantou com o espaço, uma vila gastronômica retrô e sustentável batizada de Cerrado Águas Claras. Nela, as mesas comuns dão lugar a versões feitas com pallets reutilizados que somam cerca de 300 lugares. Aliás, muitos materiais que compõem o ambiente foram reaproveitados, a exemplo dos manequins com roupas e máscaras mexicanas que fazem parte da descolada decoração.

Plantas artificiais e frases e desenhos nas paredes contribuem para o tom alegre. Mesmo os banheiros são um espetáculo à parte: enquanto o feminino possui um grafite colorido, um puf feito com galão de lata e quadros de idadecomo Paris, Londres e Nova York, o masculino chama a atenção pela pintura de Chaplin, os pôsteres com temas de bebidas e principalmente a nova função dada a barris de chope: a de mictórios divertidos que dão todo sentido ao reutilizável. Os estabelecimentos gastronômicos, por sua vez, funcionam em grandes contêineres, todos com pinturas coloridas e desenhos que fazem referência ao tipo de comida servida. Ao todo, são 850 m² que incluem área coberta e varanda no estilo lounge. Descontraído, o ambiente é ideal para um programa em família – incluindo o animal de estimação, já que o espaço é pet friendly – ou uma saída com os amigos. Também há música ao vivo de quinta a sábado, sem couvert ar-

tístico; brinquedoteca fixa de terça a domingo, a R$ 10 por tempo livre; e brinquedos infláveis de sexta a domingo (em dias sem chuva), a R$ 20 a noite toda. A ideia surgiu há três anos, de um desejo do empresário Giovanni Montini, um dos pioneiros no ramo de food trucks no Distrito Federal. “Águas Claras é um lugar promissor. O público é muito amplo, então queria um espaço com formato de encontro de food trucks, mas mais agradável e com uma estrutura melhor, onde as pessoas se sentissem bem pelo aconchego e pela diversidade de comidas”, afirma. Como muitos restaurantes não tinham mais de um food truck, para que um deles ficasse fixo na vila a solução encontrada foram os contêineres, que deram um ar industrial e moderno ao espaço. O menu inclui delícias da Hamburgueria do Chef, Ôh Crepe, Tríade (pizzas e massas), We Love (sorveteria), Kofya (comida árabe) e Bar Cerrado, além de


Fotos: Divulgação

operações recém-inauguradas: El Perro Negro (cachorro-quente especial), Los Cabrones (comida mexicana) e Mr. Rolls (sorvetes e brownies). Outras duas marcas estão em negociação. O Cerrado Águas Claras atende diariamente: de segunda a quinta, das 17h às 23h30; e de sexta a domingo, das 17 às 24h. Atualmente, recebe uma média de mil visitantes por semana. A convite de alguns amigos, a professora Janaína Lopes, 30 anos, foi conhecê-lo em 1° de setembro. Para ela, a surpresa foi positiva. “A decoração e a organização do espaço me deixaram muito à vontade. Pedi um suco que achei maravilhoso”, conta. Inicialmente, o projeto se chamava Cerrado Gourmet. No entanto, com o tempo e o desenvolvimento da ideia, Giovanni Montini e o sócio, o administrador de empresas Leandro Queiroga, chegaram à conclusão de que o nome não traduzia a essência do empreendimento. “Fizemos a alteração para Cerrado Águas Claras para dar origem ao que realmente

entregamos ao cliente. Gourmet não tem nada a ver com o espaço, que é bem democrático”, explica Queiroga. Além disso, apesar de seguir o conceito de food park, o espaço ultrapassa essa fronteira, uma vez que oferece não apenas uma experiência gastronômica, mas também arte, cultura e lazer para todas as idades. Que o diga a servidora pública

Marcele Santos, 38 anos, que pôde relaxar e conversar com as amigas enquanto a filha, Sara, de 4 anos, se divertia no pula-pula. “Já é a segunda vez que venho e, com certeza, não será a última”, garante. Cerrado Águas Claras

Quadra 301, Rua D, Conjunto 2 (99258.4818) De 2ª a 5ª feira, das 17h às 23h30; de 6ª a domingo, das 17 às 24h.

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Fotos: Divulgação

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Sauz em dobro POR VICTOR CRUZEIRO

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difícil acompanhar o abre e fecha de restaurantes e bares em Brasília, muitas vezes motivados por modas de outras cidades, ou simplesmente pelo renome dos chefs ou marcas famosas. Por isso, é sempre bom encontrar uma casa que, nascida de uma iniciativa despretensiosa, se consolida em um local, com muita luta, constrói sua imagem e conquista seu público, para só então procurar expandir-se. A recém-inaugurada segunda unidade do Sauz, na QI 11 do Lago Sul, é um exemplo disso. Aberto há dois anos na QE 15 do Guará, o Sauz nasceu do senso de oportunidade de Maurício Valim, recém-formado gastrólogo que queria botar em prática sua paixão, ao mesmo tempo em que percebia uma demanda por restaurantes de alto nível na cidade. Agora, após arrebanhar público fiel não apenas no Guará, o empresário e chef, ao lado de sua esposa, Danielle Lim, também empresária do ramo da alimentação, decidiu abrir a nova unidade, buscando imprimir a marca Sauz definitivamente na cena gastronômica da cidade. Antes de tornar-se chef, Maurício Valim morou nos Estados Unidos, onde, além de trabalhar em restaurantes, foi

dançarino da mundialmente conhecida companhia de dança de Athur Murray, criador do famoso método de ensino de dança com pegadas numerados no chão. Ao voltar para o Brasil, trouxe a franquia de Arthur Murray para o Guará e a manteve funcionando até dedicar-se inteiramente ao Sauz. Contudo, o que tem a ver a dança com o restaurante? A meu ver, a mudança total de carreira confere um olhar menos “aventureiro” ao empresário, que sabe o custo e o esforço de manter as portas abertas. Mais ainda, a longa trajetória nos passos de dança pintados no chão lhe deu uma consciência maior sobre a prática de erros e acertos, que muitos de seus colegas em Brasília ignoram pela soberba que o título de gastrônomo costuma conferir. O Sauz não é um restaurante irretocável, e a abertura da segunda casa demonstra isso bem. Mas, sem dúvida, é um restaurante com muitos acertos e uma contínua convicção no aprimoramento, como se pode perceber ao falar com o chef, sempre presente na casa. Do Guará veio o carro-chefe: o Sauz Steak (R$ 59), um enorme beef ancho temperado com sal defumado e pimentas, grelhado na brasa, acompanhado de um sautée de cogumelos frescos flambados, uma tortinha de mandioca gratinada com provolone e fa-

rofa de farinha de panko. Ao prová-lo, pude constatar duas coisas. Uma: o prato torna-se facilmente monótono se a carne não estiver no ponto certo para equilibrar a suculência com as texturas duras da farofa e da torta. Outra: o prato é fascinantemente bem servido. O ancho é enorme, a tortinha não leva o diminutivo em conta e a porção de farofa é considerável. O Sauz honra muito mais a vontade alquímica de seu criador do que o desejo de ser um restaurante exclusivo, caro e nos moldes da haute cuisine que pululam no imaginário desta cidade. Afinal, alto padrão nunca foi igual a pouca comida. Como novidades, o chef se lança a inspirações famosas, como o Chicken Involtini (R$ 39) que, extremamente bem executado, e também muito bem servido, relê o Frango à Kiev. O cardápio é amplo e as opções são muitas. Um pouco mais caro do que sua unidade-mãe, o Sauz do Lago Sul pretende mostrar que é possível criar o novo, mantendo-se fiel a uma ideia que nada tem a ver com tendências gourmet ou distanciamento da sua gênese: ser um bom restaurante. Sauz Lago Sul

SHIS, QI 11, Bloco P (3877.4997) De 3ª a 6ª feira, das 12 às 15h30 e das 19 às 24h; sábado, das 12 às 24h; domingo, das 12 às 17h.


Fernando e Fernanda La Rocque. Abaixo, Charles Marar.

Endereço nobre POR LÚCIA LEÃO FOTOS SÉRGIO AMARAL

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esde o final do mês de agosto o tradicional Carpe Diem tem mais um endereço. Aliás, um luxo de endereço: uma construção circular toda envidraçada, assinada por Oscar Niemeyer, cercada de amplo e ajardinado gramado e de onde se pode assistir de camarote às programações ao ar livre do Centro Cultural Banco do Brasil. O feliz casamento entre o CCBB e o Carpe Diem, concretizado no dia 27 de agosto, começou numa romântica e criativa celebração do Dia dos Namorados. Foi no ano de 2016. Fernanda La Rocque, dona, junto com o pai Fernando, da rede Carpe Diem, organizou um charmoso pic-nic para festejar a data com o marido Marcelo Oliveira e alguns casais amigos nos gramados do CCBB. Um então diretor da instituição passou por lá, gostou do que viu e informou que o CCBB abriria um processo de seleção para ocupar o Pavilhão de Vidro, um dos prédios do complexo que já havia sido um refeitório e estava fechado há seis anos. “A diretoria do CCBB pensava em ocupar o local com um restaurante, com um contrato nos moldes do que o

CCBB do Rio de Janeiro fez com a Confeitaria Colombo. Queria uma casa tradicional e identificada com a vida cultural de Brasília. O Carpe Diem, que já é um ponto de referência para lançamentos de livros na capital, tinha esse perfil. Nos candidatamos e fomos convidados. Logo na sequência, partimos para a concretização do projeto”, conta Fernando La Rocque. Não foi um noivado exatamente fácil. A burocracia normal desse tipo de contrato e a adaptação do Pavilhão de Vidro – tombado por tratar-se de obra de Niemeyer – às necessidades do restaurante foi trabalhosa e ponteada de percalços. Arquiteto, Fernando teve que fazer e refazer várias vezes o projeto para realizar mínimas interferências, como abrir uma porta de acesso ao gramado. Valeu a pena. “Está um lugar belíssimo. Extremamente agradável”, diz o publicitário Charles Marar, sem economizar elogios ao novo endereço do restaurante que conhece e frequenta há mais de 25 anos, desde a inauguração da primeira casa, na 104 Sul. Com capacidade para 200 clientes no salão principal e uma sala reservada com 20 lugares, o Carpe Diem do CCBB mantém praticamente o mesmo

cardápio das outras casas. Abre para almoço com bufê de saladas, pratos quentes, massas e grelhados ao preço de R$ 77 o quilo ou R$ 55,50 por pessoa. À tarde atende como um bistrô, com lanches doces e salgados. Na happy hour, tem drinks e petiscos, e à noite o serviço é à la carte, com pratos convencionais como os filés com molho de gorgonzola e o com pimenta verde (R$ 59), massas e risotos. A novidade da casa são as pizzas, assadas no forno a lenha, que custam em torno de R$ 50. “Os grupos familiares, com crianças e adolescentes, representam grande parte da clientela do CCBB, principalmente nos finais de semana. Para eles fizemos algumas adaptações no cardápio. Em breve também abriremos a agenda de lançamentos de livros”, anuncia Fernanda. Os funcionários do Banco do Brasil e quem trabalha na sede do CCBB têm 20% de desconto e os pagamentos com cartões BB ficam 10% mais baratos. Todos os clientes são brindados com os belos espetáculos promovidos pelo céu de Brasília e pelos artistas convidados dos CCBB. Nada mau! Carpe Diem CCBB

SCES, Trecho (3321.5301) De 3ª a domingo, das 12 às 23h.

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Guest Vip

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Bom e barato POR SÚSAN FARIA

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hope artesanal bem gelado e hambúrgueres a preços camaradas, servidos em ambiente amplo, rústico e aconchegante. É assim a Mr. Hoppy Beer & Burger, recém-inaugurada na Asa Sul, com capacidade para 130 pessoas sentadas e onde às sextas e sábados tem rock and roll e blues ao vivo; nos demais dias, som mecânico de boa qualidade. É um lugar descontraído. Logo na entrada, um pôster em preto e branco de 2 x 1,6 m, com imagens dos Beatles, de elementos musicais, como bateria e guitarra, de barris e canecas de chope, conta a história da marca curitibana. Hoppy significa lúpulo, planta utilizada na fabricação da cerveja. A unidade brasiliense é 27ª da rede no Brasil e a segunda no Centro-Oeste (a primeira fica em Goiânia). Só em Curitiba são 15 lojas. A decoração é em preto e amarelo (teto, mesas e cadeiras), com móveis de reuso, como pallets, madeira e tambores. O pé direito da casa tem 7,5 metros, o que proporciona ventilação e sensação de leveza. Não há garçons. Cada cliente escolhe o chope ou refrigerante, o hambúrguer e, se quiser, a sobremesa. Paga, leva a bebida à mesa e um totem avisa

quando o pedido está pronto. “A ideia é quebrar paradigmas”, explica um dos sócios, Fabiano Wieser, 44 anos, biomédico nascido em Santos. Os outros são Alexandre Mesiano, de Brasília, e Felipe Lousada, também de Santos. Graças ao operacional enxuto, o preço para o consumidor sai bem em conta. O hambúrguer mais caro – o Crocodilo Dundee – custa R$ 15. Outros são ainda mais baratos, como o Blue Moon (R$ 12) e o Bacon Paradise (R$ 10). Cada unidade tem 120 gramas de carne ou vegetal. O cardápio oferece ainda porções de fritas, anéis de cebola e minichurros. As promoções são quase diárias, como às terças-feiras, quando o chope pilsen malte de 300 ml sai a R$ 5. Em breve, pedidos poderão ser feitos pelo iFood. Uma das políticas da casa é valorizar os fornecedores locais e regionais. A hamburgueria tem rótulos de cervejarias do Distrito Federal e de Goiás – Hop Capital, Máfia, Corina, Bracitorium, Activista, Brother Brew, Cruls. A carne vem de Curitiba, mas deve ser substituída por fornecedores de Goiânia. Os hambúrgueres vegetarianos são à base de grão-debico, feijão e legumes. Na inauguração, dia 24 de agosto, foram servidos 500 hambúrgueres e distri-

buídos gratuitamente 500 chopes pilsen de 300 ml. Duas bandas de blues completaram a comemoração: Bernardo Rosa e Alex Duarte Trio, que devem se revezar com outras às sextas-feiras e sábados. Não é cobrado couvert. “O ambiente é arejado e convidativo. Já estou no segundo hambúrguer”, disse o fisioterapeuta Ilano Barreto, 32 anos, que foi à inauguração junto com a mulher e a filha de um ano – e elogiou o atendimento. A Mr. Hoppy foi criada pelos empresários José Araújo Netto e Vinicius Sampaio para oferecer o melhor custo-benefício na hora de comer um hambúrguer de qualidade e tomar um chope artesanal. Hoje presente em sete Estados, a marca deve ter, ainda este ano, mais dez novas unidades – uma delas em Brasília. Mr. Hoppy

208 Sul, Bloco C (99567.2332) De terça a domingo, das 17h30 à meia noite (uma hora a mais às sextas e sábados).


Fotos: Tasso Mendonça

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Para o corpo e a mente POR WALQUENE SOUSA

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uem caminha pelas ruas do Noroeste tem a sensação de tranquilidade e segurança, podendo ainda contemplar a vegetação nativa do Cerrado preservada em vários locais, o que faz dele um dos bairros mais charmosos de Brasília. Não à toda foi escolhido por Enilce Versiani e Adriana Lopes para a concretização de um antigo sonho: oferecer um ambiente que unisse gastronomia afetiva à promoção do autoconhecimento. E assim nasceu o Espaço com Cavaná – Café e Bistrô, na quadra 510. Segundo Enilce, a escolha do Noroeste se deve à boa energia local. “Senti boas vibrações, sinergia, paz, e tem tudo a ver com o nome que escolhemos, uma palavra de origem hebraica que significa intenção ou o foco do coração. Essa é a nossa premissa”, diz. A história começou com a vontade de aprender e disseminar conhecimentos a respeito da Cabala, que auxilia na compreensão de diversos aspectos da vida, como os valores espirituais, emocio-

nais e sentimentais. Nos últimos quatro anos, as idealizadoras do empreendimento realizaram em casa palestras e atividades voltadas para o estudo dessa sabedoria milenar, sempre acompanhadas de uma boa gastronomia. Esses encontros foram crescendo até que elas decidiram que era o momento certo para ter um estabelecimento onde pudessem promover a conexão entre corpo, mente e alimentação saudável. O local é divido em dois ambientes. O térreo abriga a cafeteria e o bistrô, oferecendo alimentação saudável, afetiva e inclusiva, com opções para quem tem restrições alimentares, como veganos e celíacos, sob o comando da chef Mírian Brito. A decoração moderna, ao mesmo tempo acolhedora, ganha um ar natural com o verde de uma vistosa jaboticabeira que adorna o salão principal. O prato que mais representa a proposta do Cavaná é o strogonoff vegano (foto acima, à direita), feito à base de biomassa de banana verde, servido com arroz negro e avelãs (R$ 52). O baby beef, servido com spaghetti de pupunha (R$ 58), é

ideal para os desejam uma refeição saborosa sem comprometer a saúde. “Todas as refeições são preparadas com muito carinho e servidas com ingredientes frescos, de primeira linha”, explica a chef. O andar superior – uma área de 75 m², que comporta 72 pessoas – é aberto para a realização de palestras com temas holísticos, prática de meditação e lançamentos de livros. A harmonização do espaço ficou a cargo da terapeuta de ambientes Sandra Strauss, que utilizou o princípio da constituição energética de cada lugar como base. A proposta do Espaço com Cavaná é receber pessoas de todas as tribos, raças e religiões. “Estamos muito felizes por tirar esse projeto do papel. É uma sensação indescritível, pois foi um desejo da alma. Nossa casa é uma junção de ambiente para cura, despertar da consciência e alimentação saudável”, define Enilce Versiani. Espaço com Cavaná – Café e Bistrô

510 Noroeste, Bloco B (99602.4242). De 3ª a 5ª feira, das 16h às 22h; 6ª e sábado, das 9 às 23h; domingo, das 9 às 16h.

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PICADINHO

TERESA MELLO

picadinho.roteiro@gmail.com

Civitá Cafés na Asa Norte Divulgação

O barista e mestre de torra Fernando Bakker, 35 anos, inaugurou, em 31 de agosto, a segunda loja do Civitá Cafés Especiais, cafeteria e bistrô em atividade há quatro anos no Venâncio Shopping. Na Asa Norte (Quadra 213, Bloco B), a casa foi batizada de Civitá Lab: “É um laboratório, uma unidade de fábrica, fazemos tudo lá, geleias, bolos, tortas, pães e bagels, um tipo de pão em forma de anel”, conta. Uma das atrações é a microtorrefação própria, na qual são utilizados grãos do Cerrado Mineiro. Eles despertam o sensorial por meio das linhas Epicentro (caramelo), Brisa (frutado) e Transe (floral), no método de preparo Hario V 60. Os pacotes de 250g custam R$ 25; os de 500g, R$ 49. “Lá é um momento de degustação, a gente explica sobre cafés, os clientes podem encomendar tortas”, diz. Há Red Velvet e cheesecake, além de bolos búlgaro (cremoso, de chocolate, como esse aí da foto), de banana e de cenoura com damasco. O espaço de 60m2, dos sócios Fernando Bakker, Mateus Agrelli e Álvaro e Mariana Pereira, abre, por enquanto, de segunda a sexta, das 14 às 19h, e no sábado, das 10 às 17h.

Sabores do mundo

Desde o fim de agosto, a Abbraccio Cucina Italiana (ParkShopping, 1º piso) está com dois pratos novos no cardápio. E por tempo determinado: de dois a três meses. Toda a rede no Brasil, num total de 12 unidades, apresenta duas massas artesanais (nhoque e lasanha) com costela bovina desfiada. Ambas custam R$ 54,90. A carne é desossada, braseada, temperada com molho de ervas, vegetais e vinho tinto e assada por três horas e meia. A lasanha vem com mix de queijos, rúcula e molhos Pomodoro e Alfredo (queijo parmesão e manteiga; às vezes, com creme de leite também). Já o nhoque de batata-roxa leva molho Alfredo. “A massa artesanal, especialmente a roxa, e o preparo cuidadoso da nossa costela assada lentamente são os diferenciais no sabor e na apresentação dos novos pratos”, define a responsável pelo marketing, Andréa França.

Até 22 de outubro, a gastronomia da 28ª Casacor convida a uma boa pausa, enquanto se percorrem os 45 ambientes da mostra (SIG, Quadra 1). O destaque desta edição é o chef goiano Ian Baiocchi, que acumula passagens pelo Maní, de Helena Rizzo, em São Paulo, e pelo estrelado El Celler de Can Roca, na Espanha. Baiocchi traz clássicos do Íz, em Goiânia, como camarão com bananada-terra (R$ 52), filé mignon com mandioquinha (R$ 94) e torta fondant de chocolate belga 70% com sorvete de baunilha (R$ 38). No gastrobar Mosaico, de Paulo Tarso, as atrações são croquete de ossobuco e aspargos com presunto de Parma. Já o francês Daniel Briand assina as tortas da baiana Mendoá Chocolates, enquanto a alemã Bäckerei, de Mac Marques, oferece pães e confeitaria. Vinhos e charcutaria espanhola são encontrados na Yard. A exposição funciona de terça a sexta, a partir das 15h. Sábados domingos e feriados abre ao meio-dia. Ingressos: R$ 27 (meia-entrada, incluindo professores).

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Degustação no Dalí

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Depois de um período funcionando apenas para o almoço, o Dalí Cozinha Peruana (Brasil 21, Bloco B) apresenta novidades neste semestre. Com capacidade para 110 pessoas, o restaurante abre as portas para o jantar e também oferece menu-degustação, tudo assinado pelo venezuelano Miguel Ojeda. A degustação começa com chips de tubérculos, ceviche, banana-da-terra frita com vinagrete de polvo, camarões no azeite, purê de batata-roxa, croquete de costela com guacamole. Os principais são filé de tilápia com quinoa cremosa e aspargos grelhados e cubos de filé mignon flambados com pisco e molho de ostras. Ufa! Agora, a sobremesa: bolo de chocolate com doce de leite, suspiro aromatizado com vinho do Porto e churros de abóbora. Custa R$ 120 por pessoa (e R$ 180 com vinhos harmonizados). No cardápio à la carte está o tradicional peruano Ají de Gallina: frango com molho de ají amarillo (pimenta), batatas e chimichurri (R$ 52). O Dalí funciona de segunda a sábado, das 12 às 15h e das 19 às 23h.

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Massa com carne braseada


O novo Marvin vem aí Diego Sulivan

Inaugurado em 2000 e com sete lojas em Brasília, chegou a hora de mudar. É o que anuncia Rafael Costacurta, um dos proprietários da hamburgueria Marvin: “Vimos que era o momento de caminhar, de proporcionar outra experiência aos clientes. A unidade da 110 Norte é a nossa loja-piloto e nela vamos apresentar o novo conceito”. A reabertura, prevista para 21 de setembro, inclui amplas mudanças: em vez da estética norte-americana, com predominância da cor vermelha, entrarão elementos brasilienses, coloridos pelo azul, pelo branco e pelo cobre. A carne dos hambúrgueres vai ser de angus, no lugar do nelore. No cardápio, uma das estrelas é o Croc Burger − primeiro sanduíche 100% de frango do Marvin, empanado na farinha de panko. Já o Dois Candangos, oferecido no aniversário de Brasília, vem para ficar. Tem recheio de queijo minas meia-cura, picles de abobrinha e tomate. Tudo com a nova maionese temperada na loja. Os clássicos continuam no menu, como o Massimo Burger (na foto, com manteiga de ervas, muçarela de búfala, manjericão, rúcula e tomate).

Petiscos no Dona Lenha A melhor tradução do tira-gosto espanhol ganhou atenção de Paulo Mello, fundador e chef consultor do Dona Lenha: as tapas chegam à mesa em duplas ou em porção para compartilhar com amigos nas quatro unidades do restaurante, que começou como pizzaria e adotou a culinária mediterrânea. Entre as opções, você pode pedir as croquetas, feitas com carne de panela (duas unidades a R$ 12), as bruschettas clássicas (duas a R$ 12) e as de jamón serrano (duas a R$ 14). As batatas fritas com sal de páprica saem a R$ 14 a porção, enquanto a minipizza custa R$ 18; e as tiras crocantes de lula com molho de amêndoas, R$ 19 (porção com 80g). Outra atração é a panelinha de berinjela gratinada com pão e o huevo à la flamenca (linguiça suína, molho, ovo com gema mole e torradas). O menu de petiscos está disponível na 202 Sul, na 413 Norte, no Terraço Shopping e no Deck Brasil do Lago Sul.

Ricardo Dangelo

O delivery da Mara Desde 12 de setembro, a novidade do Universal (210 Sul, Bloco C), da chef Mara Alcamim, são pratos por encomenda e no esquema de delivery. A Jantinha Mara oferece porções individuais (de R$ 35 a R$ 45) durante a semana e no tamanho família, para três ou quatro pessoas, nos fins de semana (de R$ 150 a R$ 160). O cardápio se baseia na comida de raiz com ingredientes de qualidade e cozimento em manteiga ghee ou banha de porco. Entre as opções há galinhada, costelinha suína e filé acebolado com alho crocante (foto). Seguindo o lema da “comida brasileira de verdade”, a linha de produção tem uma curiosidade: emprega apenas mulheres acima de 40 anos para conservar a essência da gastronomia afetiva. Pedidos podem ser feitos pelo iFood ou buscados na loja ao lado do Universal. Funcionamento: em setembro, de segunda a sábado, das 11 às 16h, e domingo, até as 15h. Em outubro, de segunda a sábado, das 11 às 16h e das 19 às 23h30, e domingo, das 11 às 15h. Contatos: redes sociais, contato@jantinhamara.com.br e 3242.1222.

Um bar que funciona das 10 às 23h, tem um barman francês, um trio de jazz e um pianista. É o Lobby Bar, no piso térreo do B Hotel (Eixo Monumental), com projeto do arquiteto Isay Weinfeld. Às terças-feiras, o Trio do B relembra clássicos do jazz e, de quarta a sexta-feira, o pianista Flávio Silva começa a tocar às 20h. Não há cobrança de couvert musical. O francês David Camayor prepara drinques tradicionais, como o Dry Martini (R$ 38) e o Cosmopolitan (R$ 34) e coquetéis como o B Mule (gim, espuma e xarope de gengibre, suco de limão e pimenta-preta) a R$ 36, o G&T do Cerrado (gim Tanqueray, tônica, tomilho e pimenta-biquinho) e o Blosson (vodca, frutas vermelhas, manga, alecrim), por R$ 42. A extensa carta bilíngue de drinks oferece destilados, com variedades de rum, tequila, saquê, bourbon, conhaque, cachaça. Para petiscar, há tábua de queijos e frios, bruschettas de salmão com maionese de limão e de presunto cru com queijo de cabra.

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No sofisticado Lobby Bar

Na agenda pra você: 20, 21 e 22 de setembro: Nipo Festival. Gastronomia japonesa, música, dança, produtos típicos. No estacionamento da Uniplan (Av. Castanheiras, Águas Claras). Dia 20, sexta, começa às 18h; sábado e domingo, às 12h. Ingressos: R$ 10 (meia). 28 de setembro: 19º Festival de Yakisoba. Gastronomia japonesa (yakisoba, tempurá de legumes, de camarão, gyoza, que é um tipo de salgado recheado) e apresentações culturais. No Clube Nipo (SCES, Trecho 1). Das 19 às 22h. Ingressos: R$ 35 (no local, com direito a yakisoba) e R$ 15 (de 7 a 11 anos). 11


GARFADAS&GOLES

Vida, demolições, vidas. A Razão foi demolida. Calma, gente: não tenho pretensão de abordar a política nacional, tema alheio, inclusive, às insônias, raras, a disputar com Morfeu pedaços de madrugada no Lago Norte. Não: o silogismo falso está na segunda letra da abertura, um R maiúsculo para razão. É, ou era, um título de jornal, impresso, diário, com mais de 70 anos, que acabou no começo deste e agora teve o prédio demolido, um prédio ainda novo. Um amigo do coração, atual morador de Santa Maria, RS, mandou-me o filme devastador: a máquina destruidora, certamente a serviço da ditadura, acertando em cheio o título do jornal. Oh tempora, oh mores! O jornal diário onde comecei e ajudei colegas não era mais importante. A ditadura também não. Sobra o passado que nos ensinou a trabalhar e chegar até o presente. Íntegros, jornalistas, inconvenientes, partidários ou não, adeptos de ideias, sim. E sempre em luta na planície dos fatos, infantaria da notícia em tempos militares. ENTÃO FOI ASSIM: em Razão comecei... e valha o jogo de palavras. O sistema nos odiava e lia o jornal com lupa todos os dias. O sistema tinha “orgulhódio” de nós. Éramos deles, com nomes e sobrenomes, mas não acatávamos suas ordens. Ao contrário: era um cabo-de-guerra sem fim. Penso, hoje, que éramos felizes, os dois lados: nós porque fazíamos “La Revolución”; eles porque posavam de liberais e democratas. Enfim, o velho acordo lusitano, e depois brasileiro: sem razões maiores ninguém prendia sobrenomes; sem provas, ninguém atacava sobrenomes. TÍNHAMOS FOME e desejo de comer. Fechávamos cedo, pois ainda tinha a faculdade, noturna. Só lá pelas dez da noite descíamos a escada do Moby Dick e vinha a meia costela gorda com salada de batata e maionese. Águas, sucos e ampolas de Cabernet da Granja União. Pimpão! Depois supimpa! Depois o nosso tudo, o verdadeiro ilusório do futuro das mil e uma noites que haveriam de vir, povoar nossas ilusões, chorar nossas derrotas, invadir os nossos corações: do sal amargo das perdas pessoais, amigos, política, ao doce açúcar de cana, das canas,

das caipiras, das conquistas de cada um de nós e de cada um dos que fizemos para o mundo. A crônica não é histórica. No máximo sentimental: Luizinho e Zaira de Grandi, os donos que partiram cedo. E garfadas e goles no apartamento deles, em cima do Cine Glória. Carreteiros de charque novo, novíssimo, derretendo no arroz Agulhão. Tudo “lá de fora”, da fazenda. Vinho? Peterlongo da moda ou de “garafón” do pessoal da serra. Às vezes um arroz com galinha, não galinhada, que é outra coisa. O primeiro tem origem no furto, aquele romântico, de universitário nos galinheiros das famílias que dormiam cedo. ANTES DA DEMOLIÇÃO a nossa Razão era na praça. E nós, meninos, reunimos a Inteligência da cidade. Claro, um sobrenome chama outro e “ninguém vai mexer com a filha do fulano, nem com o sobrinho do beltrano, que tem fama de matador”... Mexeram! Mas nós mexemos mais! CLARO QUE ESTA crônica é dedicada para o nosso jornal. Mas não é só isso: ela também é um memorial de nós mesmos, os meninos de Razão. Nós mudamos a cidade, registramos, fotografamos, desenhamos, redesenhamos, desencaminhamos tecnicamente uma freira colega que queria ser diagramadora de páginas, encaretamos algumas vezes. Várias vezes entubamos as ordens da prefeitura e dos coronéis mamadores da universidade. Só que fomos, sempre, nós e a nossa Razão. ENTÃO A RAZÃO foi demolida? O jornal é verdade. Nossa história não. Por isso essa crônica é dedicada a uma colega, resumo de todo o grupo, da cidade e daqueles tempos, amiga querida, Priscila Blankenheim Barreto. Se a crônica é síntese de história do jornal, nossa parceria profissional, desde a escola até hoje, meio século, cada um nos seus lados, lugares e Razão pelo meio, tem o básico: respeito e carinho pelas vidas que vivemos e semeamos mundo afora, paralelos, distantes, mas sempre com encontros e reencontros. A RAZÃO É MATRIZ.

AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 12

LUIZ RECENA

lrecena@hotmail.com

Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.

Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras


PÃO&VINHO

ALEXANDRE FRANCO

Dolce far niente Mais uma vez aqui na Bota, e mais uma vez na minha adorada Toscana. Desta feita por um mês inteiro, sem pressa, sem correria, podendo apreciar com mais cuidado e prazer este maravilhoso dolce far niente, que por aqui parece mais verdadeiro. Hospedado em uma torre do Século XI, vejam lá, dois andares com pé direito de mais de dez metros, cobertos pelo terraço do qual se avista toda Florença, com destaque para o Duomo. Não se pode pedir mais... E que lugar melhor para um enófilo apaixonado por Brunellos do que o centro da Toscana? A possibilidade de apreciar os grandes Brunellos a preços mais que possíveis é algo que já conheço de outras passagens e que certamente muito aproveitarei também nesta estada. Mas, hospedado em uma residência da qual serei senhor por duas semanas, e obrigado por consequência a ir às compras no mercado, não resisti à experiência de comprar os Brunnelos “de supermercado”. Brunellos provavelmente mais simples, e certamente mais baratos, mas ainda assim Brunellos. E se têm direito ao título hão de ter alguma majestade. O exemplar escolhido para a primeira prova foi o Gauggiole 2011. Mas antes deste houve ainda um bom Chianti Classico Dievole 2016 e dois Prosecco Superiore di Valdobbiadene, o Ca’val e o Astoria. O Prosecco Astoria surpreendeu: bem clarinho na cor, como seria esperado, com bom perlage visual. No nariz é frutado e na boca muito leve. Ótimo com salada, verdura ou carne branca. No meu caso foi muitíssimo bem em voo solo, acompanhando tão somente o entardecer. Muito agradável, ainda que simples. Depois, acompanhando um prociutto crudo San Danielle e um gorgonzola dolce, foi a vez do Chianti Dievolo 2016. Com

pao&vinho@agenciaalo.com.br

90% de Sangiovese, 6% de Canaiolo e 4% de Colorino, apresentou-se com uma cor rubi brilhante e aromas de violetas, abrindo-se para frutas vermelhas maduras. No palato é de corpo pleno, com taninos aveludados e agradável toque de mineralidade. Foi muito bem com o queijo e o prociutto. Para uma segunda rodada, após nova ida ao supermercado, um Prosecco Valdobbiadene Superiore Brut Milesimato 2018 da Ca’Val e um Brunelo di Montalcino Gauggiole 2011. O Prosecco, que esperava ser superior ao anterior, acabou se revelando, ao menos para o meu gosto, inferior ao primeiro em razão de uma acidez mais marcante que considerei acima do desejado. Amarelo claro com reflexos esverdeados, bastante brilhante e límpido. O nariz apresenta toques de limão e maçã verde, com alguma flor branca. A boca é muito fresca, mas um pouco mais ácida do que eu gostaria. De qualquer forma, só fez engrandecer outro lindo pôr do sol toscano. Por fim, para acompanhar um spaguetti bolognesi que fiz com carne de chianina e pancetta toscana, foi a vez do Brunelo Gauggioolle 2011. Com oito anos de garrafa, já se encontrava em boa forma para o consumo. Cem por cento Sangiovessi, claro, em estilo tradicional, embora relativamente simples, não desapontou, especialmente levando-se em conta o preço pouco acima de 20 euros. De cor rubi acastanhada, traz aromas de cerejas com notas terrosas e toque floral. Os 24 meses de barrica e os oito anos de garrafa deixaram seus taninos muito bem domados, um palato sedoso, de boa textura e bem casado com uma acidez gastronômica e álcool equilibrado, trazendo frutas vermelhas maduras. Acompanhou otimamente o prato. Grande opção de supermercado na Itália.

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DIA&NOITE

porquenãovivemos? “São pessoas que gostariam de estar em outro lugar, mas não fizeram nada para isso. Mostra como a trama da vida vai se desenrolando e as pessoas vão caindo na armadilha de ficar onde estão”, explica Giovana Soar, que junto com Marcio Abreu e Nadja Naira assina a adaptação da obra Platonov, do russo Anton Tchekhov (1860-1904). Até 29 de setembro, a peça Por que não vivemos estará em cartaz no teatro do CCBB, de quinta a domingo, às 19h30. Dirigido por Marcio Abreu, o texto parte de uma tradução original do russo por Pedro Alves Pinto e de uma publicação francesa. Embora não tenha um título oficial, a peça foi publicada em diversos países como Platonov, em homenagem a um dos personagens, o professor Mikhail Platonov. A montagem da Companhia Brasileira de Teatro tem elenco formado por Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josi Lopes, Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e Rodrigo dos Santos. A peça trata de temas recorrentes na obra de Tchekhov, como o conflito entre gerações, as transformações sociais por meio das mudanças internas do indivíduo, as questões do homem comum e do pequeno que existem em cada um de nós, o legado para as gerações futuras – tudo isso na fronteira entre o drama e a comédia, com múltiplas linhas narrativas. “É o primeiro texto de Tchekhov, um texto muito jovem, mas muito revisitado em diversos países porque tem nele o que depois vem a ser o cerne do Tchekhov”, diz o diretor. Ingressos a R$ 30 e R$ 15. Informações: 3108.7600.

Caroline Goes

embuscadafelicidade Textos de Eugène Ionesco, Fernando Arrabal, David Ives e Harold Pinter, além de performances criadas nos ensaios, compõem o espetáculo Cenas absurdas, fruto de pesquisa do grupo Teatro dos Ventos em cartaz até 29 de setembro no Edifício Duo Mall (Rua 19 Norte, Águas Claras). Nas histórias apresentadas, o cotidiano aparece como pano de fundo para que as relações humanas sejam discutidas. A incomunicabilidade, a solidão, a expectativa, a busca pela felicidade ou por um estado moral são temas que permeiam as cenas levadas ao palco. Personagens comuns, possíveis, são apresentados como espelho da sociedade. O riso é garantido e a reflexão é opcional. “O teatro do absurdo é um movimento niilista, pessimista em relação á humanidade. Trazer essas performances para o foco da cena pode ajudar a gente no despertar da mesmice da normalidade”, explica o diretor Fernado Martins que também atua na peça junto com Bruno Gil, Carherine Zilá, Dogi Lima, Laura Rose, Luciana Loureiro e Samanta Vieira. Sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 40 e R$ 20. Informações: 99861.3618.

Liberdade, resistência, equidade, oportunidade e amor. Esses são os lemas do Bocadim, festival LGBQ+ que realiza sua 6ª edição dia 19 de outubro no gramado da Funarte. A organizadora Dayse Hansa lembra que o Brasil é o país que mais assassina pessoas LGBTQ+ e um dos países onde mais se violenta e mata mulheres: “Cabe a todos nós buscar alternativas criativas para mudar esse quadro lamentável”. Embora reconheça a recente vitória nascida da decisão do Supremo Tribunal Federal de equiparar LGBTfobia ao crime de racismo, “simbólica e numericamente a nossa comunidade é alvo de pressões em razão das pautas morais e fundamentalistas encontrarem guarida no Palácio da Alvorada”. Em razão disso, o Bocadim surge como um movimento de contraponto que se alinha ao modo contemporâneo de ativismo, “o qual promove ações, a partir da arte e de suas intersecções, que despertem a empatia e o amor para a desconstrução de informações equivocadas que se desdobram em violações dos nossos direitos”. A festa de abertura será dia 18, no Outro Calaf, com ingressos entre R$ 17 e R$ 80.

espaçoaberto

Humberto Araújo

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dascoresdoarco-íris

Até 8 de novembro, artistas e curadores da cidade podem participar do processo seletivo de expositores que ocuparão o Espaço Cultural STJ no próximo ano. As propostas devem se referir a projeto para exposição individual ou coletiva de artes plásticas, englobando todas as suas formas de expressão (pintura, escultura, fotografia, desenho), e devem ser acompanhadas de dossiê dos artistas ou produtores. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail espaco.cultural@stj.jus.br ou enviadas por Correio em envelope ou embalagem apropriada, com registro AR, contendo o nome do artista, dirigido à Coordenadoria de Memória e Cultura do Superior Tribunal de Justiça, no seguinte endereço: SAFS Q.6 Lote 1, Trecho III – Edifício dos Plenários, 2º Andar – CEP 70095900, Brasília-DF. Mais informações: 3319.8521, 3319.8460 e 3319.8373.


Germania Heibe

dupladecraques

Depois da estreia, no início do ano, com o pianista Nelson Freire, chegou a vez dos jovens Cristian Budu e Fabio Martino (foto) mostrarem seu talento no encerramento da série Piano Brasileiro, que tem como palco o Auditório do Centro Cultural ADUnB. O primeiro, que se apresenta dia 14 de setembro, interpretará composições de Villa-Lobos, Schumann e Chopin. O segundo, dia 31 de outubro, irá lançar seu mais recente CD, com obras de Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e também dos compositores argentinos Carlos Guastavino e Alberto Ginastera. O projeto Piano Brasileiro nasceu da iniciativa do diretor do Instituto Piano Brasileiro, Alexandre Dias, de levar a diferentes públicos a música instrumental com pianistas de reconhecimento internacional. Brasileiro filho de romenos, Cristian Budu venceu o renomado Concurso Internacional Clara Haskil, na Suíça, conquista considerada pela crítica especializada como a mais importante por parte de um pianista brasileiro dos últimos 25 anos. Já Fábio Martino obteve o primeiro lugar em mais de 20 competições de piano, incluindo o Concurso BNDES, maior da América Latina. O auditório da ADUnb fica no Campus Darcy Ribeiro, próximo ao Teatro Dois Candangos. Os ingressos para ambos recitais custam entre R$ 100 e R$ 260 e estão à venda somente em www.eventim.com.br.

dançasurbanas Divulgação

animação O cinema do CCBB Brasília recebe, entre 24 de setembro e 6 de outubro, a mostra Michel Ocelot, com cinco curtas e sete longas-metragens do renomado diretor de animação francês. Criador do famoso personagem Kiriku (foto), Ocelot é autor de filmes que encantam o público infantil e também os adultos, utilizando diferentes técnicas de animação (desde o tradicional teatro de sombras até o moderno 3D) e contando histórias inspiradas em contos de fadas e mitologias africanas e árabes. Entre os destaques, além dos filmes protagonizados por Kiriku, estão o curta Os três inventores (ganhador do BAFTA em 1981), a exibição em cópia 35mm de As aventuras de Azur e Asmar (2007) e a pré-estreia de Dilili em Paris (2018), premiado com o César 2019 de melhor animação. Os longas-metragens contam com sessões legendadas e dubladas. A entrada é gratuita para todos os filmes. A programação completa pode ser conferida em bb.com.br/cultura.

Debates, conversas e batalhas de dança estão na programação do 7ª edição do Festival de Cultura Hip-Hop que acontece dias 20, 21 e 22 de setembro no Recanto das Emas. Batizado de BITID – Batalha Individual Tirando a Diferença, tem como proposta dar ênfase à utilização do hip-hop como ferramenta transformadora sócioeducativa de jovens e adultos. Bboys e Bgirls mostrarão como enfrentam batalhas diárias em busca do reconhecimento cultural e artístico. O festival, apoiado pelo Fundo de Amparo à Cultura e pela Secretaria de Economia Criativa, começou no quintal de uma residência de Taguatinga (antiga sede do grupo DF Zulu Breakers). As batalhas acontecem entre os dançarinos, que dão o seu melhor para representarem seu estilo e sua cidade. No final, todos são vencedores. São destaque, este ano, os dançarinos mirins Thiago Ferrugem e Samukinha, que estão em ínicio de carreira, entre 12 e 14 anos, e já têm uma legião de fãs. A partir das 14h, no Ginásio Tatuzão, com entrada franca.

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estilhaçodealegria Foi com essa música, composta em parceria com Mário Noya, que Geraldo Carvalho levou o prêmio Fox Music, em Miami, na categoria melhor balada pop. No próximo dia 20, o cantor e compositor potiguar que mora em Brasília há dez anos apresenta essa e outras composições em show no Museu dos Correios, às 20 horas. Ao longo de 25 anos de carreira, Geraldo Carvalho lançou os CDs Manhecença (2001), Um toque a mais (2008) e Estilhaço de alegria (2018), este último lançado recentemente em Brasília, Natal, Nova York, Belo Horizonte e São Paulo. Ele já participou de vários festivais e se apresentou ao lado de Luiz Melodia, Jair Rodrigues e Belchior. No repertório do show, parte do projeto Acontece no museu, estão canções autorais dos três CDs e releituras da MPB. Acompanham o músico Sidney Sheikor, no baixo, e Luiz Ungarelli, na percussão. Ingressos a R$ 30 e R$ 15, na bilheteria do teatro (SCS, Quadra 4). Informações e reservas pelo whatsapp 9.8223.3452.

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DIA&NOITE

Barão Vermelho, Fernanda Abreu, Paulo Miklos e o bloco Eduardo e Mônica estão escalados para não deixar ninguém sentado no Luau do Iate, em novo formato, que será realizado dia 28 de setembro. A abertura da festa será com Eduardo e Mônica, bloco brasiliense criado em 2017, a poucos dias do Carnaval, como alternativa para quem queria fugir das músicas de carnaval dos blocos de rua. Marquinho Vital (Capitão do Cerrado), Meolly Rony (Meolly Folk e Dawnjones) e Diogo Villar (O Bando), os inventores do bloco, queriam celebrar as características culturais da capital, de Legião Urbana a Natiruts. No Luau do Iate, o bloco contará com as participações luxuosas de Fernanda Abreu e Paulo Miklos. Por último se apresenta a banda Barão Vermelho, pela primeira vez sem a voz de Roberto Frejat. Em seu lugar, o escolhido foi Rodrigo Suricato, guitarrista e cantor claramente influenciado por seus antecessores no grupo. “Mais do que o som, o Barão tem uma voz própria, agora pela garganta do Suricato”, destaca o baterista Guto Goffi, que fundou o Barão com Maurício Barros, em 1981. “Nada mais rock’n roll do que seguir, mesmo depois da saída de nomes como Cazuza e Frejat”, diz Suricato. No repertório do show estão os grandes sucessos da banda, como Pense e dance, Bete Balanço, Meus bons amigos e Pro dia nascer feliz. Ingressos a R$ 50 e R$ 200, à venda no clube e em www.bilheteriadigital.com.

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avezdoscantadores

GS Produtora

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rocknoiate

João Omar e seu pai Elomar, além do amigo Xangai (foto) apresentam, dia 27 de setembro, o show Cantadores e cantoria, com repertório de clássicos das carreiras dos três artistas da MPB. Maestro, compositor e instrumentista, João Omar tem trabalhado na produção operística, tanto em arranjos de sua autoria como também em revisão, edição e apresentação de óperas de Elomar. “No final das tardes, depois de ter chiqueirado as cabras, eu entrava na casa pela cozinha e já ouvia alguns acordes que vinham do peitoril. Era meu pai compondo”, relembra João Omar. Já Eugênio Avelino, conhecido como Xangai, nasceu na Bahia e lançou o primeiro álbum em 1976. Desde então, firmou a carreira como cantor, lançando mais dez álbuns. Em 2016 estreou como ator na novela Velho Chico, da Rede Globo, dando vida ao repentista Avelino. Aos nove anos de idade conheceu Elomar, que aos 19 anos, na época, se tornou a principal influência musical de Xangai. Ingressos entre R$ 80 e R$ 300. No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, às 21h30.


DIÁRIODEVIAGEM

Natureza num dia,

aventura no outro

Mato Grosso diversifica opções turísticas para atender a diferentes anseios dos turistas. O resultado é uma interessante mistura de sensações, tendo sempre as belezas naturais como cenário.

E

mpresários e o setor público de Mato Grosso uniram esforços para diversificar suas atrações turísticas, conduzindo os visitantes a explorar a Chapada dos Guimarães, com seus platôs de beleza única, assim como as águas cristalinas de Nobres. A Chapada fica a apenas 60 km da capital, Cuiabá. Nobres, por sua vez, vem recebendo uma série de investimentos públicos e privados, valendo-se do interesse dos viajantes pelas trilhas e pela observação de aves, pei-

xes e paisagens, a 122 km de Cuiabá. O volume de turistas locais está longe de suprir a capacidade dessas duas regiões. Há espaço de sobra para abarcar visitantes de todo o Brasil e do exterior. O Aeroporto Internacional Marechal Rondon, localizado em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, tem capacidade para receber 5,7 milhões de passageiros por ano. Em 2018, atendeu a 3 milhões de pessoas, segundo dados do Ministério da Infraestrutura. Ou seja, pode receber praticamente o dobro desse número.

Na edição de julho (no 291) a Roteiro publicou a primeira matéria da série sobre o Mato Grosso, com foco no Pantanal. Nesta edição, exibiremos a diversidade de passeios encontrada na Chapada e em Nobres. Platôs de 300 metros

O brasiliense precisa de poucas horas para ir até a Chapada dos Guimarães. Basta voar por 1 hora e 40 minutos até Cuiabá e, de lá, seguir pela rodovia Emanuel Pinheiro, a MT-251, rumo ao município que também leva o nome de Cha-

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POR RAFAEL FONTANA

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Rafael Fontana

As águas da Cachoeira Véu de Noiva produzem um espetáculo de 86 metros de altura.

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Megafone de madeira amplifica o canto dos pássaros e os sons da mata.

pada dos Guimarães. Situada no bioma Cerrado, a região tornou-se famosa pelas belíssimas trilhas e cachoeiras. A fauna brinda o visitante com centenas de espécies de pássaros, além de mamíferos, como veados, tatus e tamanduás. Os platôs podem ultrapassar 300 metros de altura. Nesse cenário, a água da Cachoeira Véu de Noiva, uma das mais visitadas, despenca graciosamente por 86 metros, formando um véu entre os paredões de arenito. A água parece cair em câmera lenta, banhando a vegetação verde escura que se destaca abaixo. Há um circuito com seis cachoeiras para grupos acompanhados de guias locais, todos municiados com informações precisas. O roteiro pode ser feito pela manhã, por cerca de quatro a cinco horas, incluindo caminhadas, banhos e muitas fotos. Ao fim do passeio, aguarda os visitantes um almoço tradicional, à base de peixe, picanha e farofa de banana. Na charmosa cidade, uma das principais atrações é a igreja Nossa Senhora de Sant’Ana, inaugurada em 1779. O templo, com linhas coloniais e interior requintado, foi elevado à condição de santuário em 2017. Missas são realizadas regularmente. E para contemplar um pôr do sol com vista ampla, o Alto do Céu proporciona uma experiência inesquecível. O sol desce por detrás dos platôs lançando raios de luz acobreados nas nuvens, em um dos cenários mais espetaculares do interior do Brasil. As pousadas do município atendem a diferentes exigências. Vão desde pequenas acomodações-boutiques até a enorme Pousada Penhasco, que oferece aos hóspedes, no momento do check-in, um mapa para que não se percam em suas dependências. O nome da pousada deriva de sua posição na porção alta do município. A localização permite uma vista privilegiada da Chapada dos Guimarães, que pode ser admirada pelos hóspedes deitados confortavelmente em redes nas sacadas dos chalés. Aquários naturais

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A flutuação nas águas cristalinas de Nobres tem atraído visitantes do Brasil e do exterior.

Na estrada rumo a Nobres, a vegetação ganha novos contornos. O bioma vai se aproximando do amazônico, com pitadas de serra. As árvores revelam-se mais altas, verdejantes e frondosas. A umidade proporciona um tom mais intenso à vegetação.


Rafael Fontana

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Cachoeiras e vistas cinematográficas dão o tom da visita à Chapada dos Guimarães.

As atrações turísticas em Nobres formam um cardápio variado: trilhas ecológicas, flutuações em águas cristalinas, observação da vida selvagem, cachoeiras, grutas e turismo de aventura, como o passeio de quadriciclo e as emocionantes tirolesas. No Sesc Serra Azul, o visitante sobe por uma trilha com escadaria de 470 degraus (o equivalente a 25 andares) até a Cachoeira Serra Azul. Ela surge no meio da montanha para recepcionar o turista com uma formosa queda de 46 metros.

Na lagoa translúcida formada pela queda d’água, a flutuação permite a visualização de peixes coloridos, já acostumados com a presença humana. A descida pode ser feita pela tirolesa de 700 metros de comprimento, adicionando uma alta dosagem de adrenalina. As flutuações em águas límpidas constituem o carro-chefe do turismo na região. As nascentes do Rio Salobra, como a do Aquário Encantado e a do Reino Encantado, lembram de fato um aquário, onde os peixes são visíveis tanto

de fora quanto de dentro d’água. No acolhedor e pequenino distrito de Bom Jardim, o passeio de quadriciclo já virou tradição. Ao findar da tarde, é possível partir com os veículos rumo à Lagoa das Araras. No local, onde os buritis parecem brotar do espelho d’água, as araras se encontram enquanto o sol se esconde lentamente no horizonte. O percurso de volta com os quadriciclos é feito no escuro, tornando o passeio ainda mais divertido e emocionante. Outro atrativo já consolidado nos arredores de Nobres é a boia-cross, na Estância da Mata. Por uma hora, o visitante desce as correntezas de águas cristalinas. No meio do caminho, passa pela escura Gruta dos Morcegos. A presença das pessoas não raramente provoca uma revoada dos mamíferos, que podem ser vistos com o uso de lanternas. Pra relaxar no fim do dia recomenda-se uma trilha pelo Complexo Turístico Akaiá, ouvindo o som dos pássaros em um dos três megafones de madeira instalados na mata. Em seguida, para variar, mais um pôr do sol cinematográfico. De volta ao distrito, perto da tranquila Pousada Bom Jardim, fica o restaurante do Chapolin, onde a comida farta e o bom-humor ajudam a fixar na memória dos visitantes as cenas marcantes da viagem.

No distrito de Bom Jardim, em Nobres, um restaurante peculiar se destaca por três aspectos. Primeiro, pela comida caseira deliciosa. Segundo, porque os clientes pagam e pegam o próprio troco em uma caixinha, na base da confiança. E, finalmente, porque o dono é ninguém menos que o Chapolin Colorado. Agostinho Dias Pedroso se veste como o popular herói do humorístico mexicano, famoso pelo bordão “não contavam com a minha astúcia”. Não há garçons. O próprio dono cozinha e os clientes vão se servindo. Os pratos mesclam a cozinha tipicamente mineira, da terra do chef Chapolin, com temperos do Mato Grosso. “E a cerveja?”, pergunta um cliente. “Pega lá no freezer.” Pedroso serve peixe assado na brasa, ao estilo regional, costelinha de porco,

frango, arroz, polenta, purê de batatas e farofa, entre outros pratos comuns do interior do Brasil. A culinária mato-grossense conquista o paladar dos visitantes por lembrar a simplicidade e os bons tempos daqueles almoços em casa com a família. As churrascarias são o forte da capital, Cuiabá. No Pantanal, a mojica de pintado, servida com um caldo grosso de mandioca, é obrigatória. E a farofa de banana é tão ou mais presente que o arroz e o feijão. Já na Chapada dos Guimarães destaca-se o restaurante mirante Morro dos Ventos, de cozinha regional. Os carros-chefes são arroz com costelinha de porco, galinhada e Maria Isabel (arroz com carne seca). As porções inteiras sevem até cinco pessoas, enquanto a meia contempla três. Saindo do restaurante, há um mirante situado a 200 metros de altura de onde é possível

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Sabor caseiro e muita astúcia

avistar os platôs íngremes da Chapada dos Guimarães. E ninguém pode partir de Mato Grosso sem experimentar o famosíssimo bolo de arroz. Trata-se de um quitute que lembra as queijadinhas, mas com um sabor peculiar. Casa-se muito bem com chá, café e com a doce hospitalidade dos mato-grossenses. 19


GALERIADEARTE Rafael Salim

Ícone da brasilidade “F

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oram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas... Eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoada altura; todas duma só peça, sem nenhum repartimento, tinham dentro muitos esteios; e, de esteio a esteio, uma rede atada pelos cabos, alta, em que dormiam.” Este é o primeiro registro, em língua portuguesa, da existência desse objeto-móvel-utensílio praticamente único nas casas dos povos originários desta terra que viria a se chamar Brasil. E nesse registro foi batizado por Pero Vaz de Caminha, pelo tecido trançado à semelhança das redes de pesca, com o nome que desde então percorre a nossa história. Uma visita à exposição Vaivém, que ocupa as duas principais salas e a Casa de Vidro do CCBB até o início de novembro, deixa a sensação de que a rede de dormir é o maior ícone da brasilidade, o principal símbolo da nossa identidade, um amálgama em que se embalam todos os tempos e espaços da existência neste multifacetado território brasileiro. Ela está presente nas 350 obras de arte recolhidas pelo curador Raphael Fonseca em

mais de cem coleções públicas e particulares do Brasil e do exterior. São pinturas, esculturas, fotografias, vídeos, documentos e instalações que datam de 1540 a 2019 e foram produzidos em todas as regiões do Brasil e alguns pontos do Caribe e da África (onde os colonizadores difundiram o utensílio ameríndio entre a população local). Vaivém é um desdobramento da tese de doutorado em história da arte realizado por Raphael Fonseca no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Na pesquisa, que se estendeu de 2012 a 2016, ele identificou centenas

de registros iconográficos que começam em 1526, numa publicação de Fernando Gonzalez de Olviedo, e seguem até hoje (a imagem que abre a exposição é um painel pintado diretamente na parede da galeria pelos artistas indígenas Ibã Huni Kuin e Kassia Borges). Com absoluta diversidade de estilos, materiais, épocas, escolas, suportes ou qualquer outro critério que possa classificar uma obra de arte, o ponto de intersecção são as redes, suas metáforas, sua poética, sua narrativa histórica de hábitos e costumes e sua simbologia. Ela está nos desenhos de Rugendas e CândiAcervo Banco Itaú

POR LÚCIA LEÃO


do Portinari, no bordado de Bispo do Rosário, nas pinturas de Tarsila do Amaral e de Djanira, nas fotografias de Cláudia Andujar e Bené Fontelles, nas gravuras de J.Borges, nas esculturas de Mestre Vitalino e nas expressões dos 141 artistas reunidos na exposição, entre os quais 32 indígenas, como Carmézia Emiliano, da etnia Macuxi, Wewita Piyãnko, líder Ashaninka, e Takwara Pataxó. “Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, esta exposição investiga as origens das redes e suas representações iconográficas. Ao revisitar o passado, conseguimos compreender como um fazer ancestral criado pelos povos ameríndios foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma identidade brasileira”, explica Fonseca. As obras são apresentadas em seis núcleos temáticos. O primeiro, Resistências e permanências, agrega obras que reforçam o conceito da ancestralidade e simbolizam a luta pela sobrevivência dos povos e das culturas indígenas. Uma das obras mais impactantes nesse núcleo é a instalação Cântico Guarani, composta por redes pretas içadas dentro de uma sala escura, que faz referência à trágica epidemia de suicídios entre jovens guaranis. O segundo núcleo, A rede como escultura, a escultura como rede, destaca a arte no objeto utilitário, seus materiais, trançados e grafismos, e dialoga com as cria-

Divulgação

ções contemporâneos, como os Ninhos de Hélio Oiticica, slides de jovens dentro de uma rede vermelha que fazem parte de um experimento que o artista chamou de Neyrótika. O terceiro núcleo, Olhar para o outro, olhar para si, mostra como as redes chamaram a atenção do colonizador europeu. Reúne documentos e trabalhos de artistas históricos e viajantes, como Hans Staden, Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas, que registraram os aspectos da vida no Brasil durante a colonização e, ao lado deles, artistas contemporâneos indígenas convidados a desconstruir o olhar eurocêntrico dessas imagens a respeito de seus antepassados e a propor novas narrativas. Está nesse núcleo A festa de Piyarentsi, acrílico sobre tela de Wewito Piyãko, da etnia Ashaninka, do Acre.

Em Disseminações: entre o público e o privado, o quarto núcleo da exposição, as redes aparecem em atividades do cotidiano do Brasil colonial e na vida contemporânea, especialmente na região Norte. No quinto núcleo, Modernidades: espaços para a preguiça, a rede passa a ser associada à preguiça, à estafa e ao descanso decorrentes do encontro entre o trabalho braçal e o calor tropical. O ponto central é ocupado por Macunaíma (1929), livro de Mário de Andrade. O personagem que passa grande parte da história deitado em uma rede está em obras de diferentes linguagens. Estão nesse núcleo as ilustrações de Carybé para a primeira edição de Macunaíma, além do Batizado de Macunaíma, desenho de Tarsila do Amaral, um autorretrato de Djanira numa rede e a gravura Mário de Andrade na rede, de Lasar Segall. E por fim, no núcleo Invenções do Nordeste, foram reunidas obras que transformam em imagens mitos a respeito da relação entre as redes e essa região do país, além de trabalhos em que elas surgem como símbolo de orgulho local e de sua potente indústria têxtil. Destaque para uma série de fotografias de Maurren Bisilliat pelo sertão nordestino e as cerâmicas de Mestre Vitalino que retratam grupos de pessoas enterrando entes dentro de redes. A visita à Vaivém acaba em convite a uma grande brincadeira na Casa de Vidro do CCBB, onde um conjunto de dez redes emendadas – instalação interativa do Coletivo carioca Opavivará – chama o público para deitar e rolar. Vaivém

Até 10/11no CCBB. De 3ª a domingo, das 10 às 21h, com entrada franca. Marga Puntel

João Liberato

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Ludimila Barbosa - Secec

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GALERIADEARTE

Espaço revigorado F

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echado pra reforma desde 2014, o Espaço Oscar Niemeyer voltou a fazer parte do circuito cultural da cidade no final de agosto. Localizado no Bosque dos Constituintes, vai funcionar como um espaço expositivo. O pequeno edifício de traços arredondados foi projetado por Oscar Niemeyer, em 1988, com o objetivo de abrigar, de forma permanente, importantes obras do arquiteto que desenhou os principais monumentos de Brasília. Depois de passar por intervenções nos sistemas elétricos e por obras de manutenção no telhado e no piso, além de pintura interna e externa, foi reaberto com a exposição Césio 137, de Siron Franco. Quem visitar o espaço até 30 de outubro vai se deparar com mais de 50 óleos sobre papel de forte apelo visual, além de várias telas e quatro esculturas que mostram a indignação do artista goiano com o acidente radioativo ocorrido em Goiânia, em setembro de 1987, que vitimou várias pessoas e deixou muitas outras contaminadas pelas radiações emitidas por uma cápsula que continha césio 137. Charles Cosac, que assumiu a direção do Espaço Oscar Niemeyer, e também dirige o Museu Nacional da Repú-

blica, diz que o espaço restaurado será devotado exclusivamente às artes contemporâneas. “Como nos anos de 20202022 o museu pretende realizar exposições mais didáticas voltadas ao sexagésimo aniversário de Brasília, ao bicentenário da independência do Brasil e ao centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo, surgiu a necessidade de se ter um espaço a mais para atender a produção local e nacional”, ressalta. Para planejar e organizar a ocupação do espaço, Cosac conta que vem mantendo um diálogo informal com representantes das artes visuais da cidade e que já elencou duas comissões curatoriais, uma interna e outra externa. A interna, formada por ele e por servidores analistas de artes visuais da Secretaria de Cultura, está para ser publicada brevemente no Diário Oficial da União; a externa, que será composta por formadores de opinião, professores, galeristas e produtores culturais, está em andamento. Num primeiro olhar, o Espaço Oscar Niemeyer parece um pouco isolado para quem deseja conhecer suas instalações e visitar as exposições em cartaz utilizando o transporte público da cidade. Mas tem inúmeros atrativos ao seu redor: um amplo estacionamento para automóveis, uma enorme área verde que convida à contem-

plação e a uma boa caminhada, e vários cartões postais da cidade, como o Panteão da Pátria, o Espaço Lúcio Costa, o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Cosac diz que a missão da nova administração é colocar o museu no mapa cultural da cidade, e cita mais dois fatores que serão positivos para a instituição: “Estamos ao lado do Instituto Israel Pinheiro, que tem um programa interativo maravilhoso para estudantes. Marquei um encontro com a neta de Israel para unirmos esforços, ou seja: quem visitar um espaço pode agora visitar os dois. Há, também, o programa de agendamento com a rede de ensino público do Distrito Federal para visitar, em conjunto, o Museu da República e o Espaço Oscar Niemeyer”. Espaço Oscar Niemeyer

Praça dos Três Poderes (Bosque dos Constituintes). De 3ª a domingo, das 9 às 18h, com entrada franca. Divulgação

POR VILANY KEHRLE


Banhistas, de Zuleika de Souza.

Anseio, da VJ Grazzi.

Tempo, arte e resistência POR VICTOR CRUZEIRO

O

tempo foi implacável com a Piscina de Ondas. Os 22 anos de abandono a deixaram num estado de ruína que exigiria muito para devolvê-la ao seu esplendor original. Contudo, será que vale a pena trazê-la ao seu estado original? Existe lugar, na Brasília atual, para aquela Piscina de Ondas de mais de duas décadas atrás? Enquanto não há iniciativas do poder público para responder a essa pergunta, cabe à arte examiná-la com algum escrutínio. É com esse intento que acontece o Ocupa! – 1º Festival de Artes Contemporâneas de Brasília, que, com duas mostras simultâneas, ocupa e revela outros espaços da piscina, ainda não ocupados pelas atrações da Contém. Nos espaços em ruínas dos vestiários e banheiros, as duas mostras buscam dialogar com a passagem do tempo que, em Brasília, adquire um caráter tão único. Como compreender essa modernidade tão recente, que já é passado e, mais ainda, já está em ruínas? Com curadoria de Clauder Diniz e Renato Acha, a Ocupa! une 17 artistas cujas obras conduzem o espectador para esse diálogo direto com a ação do tempo. E, nesse processo, paredes caídas e azulejos faltantes tornam-se novamente vivos, com novas circulações e ganhando novas dinâmicas. A mostra Brasília 60 – Novas Candangas traz dez mulheres artistas da cida-

de – Cila MacDowell, Jacqueline Lisboa, Janine Moraes, Joana França, Marjorie Yamaguti, Raquel Aviani, Raquel Nava, VJ Grazzi, Waleska Reuter e Zuleika de Souza – para ressignificar a projeção para um futuro próximo da capital federal nascida de um ambiente, e com um caráter, majoritariamente masculino. Por sua vez, a mostra Utopias Efêmeras convida sete jovens artistas da cidade – Pamella Anderson, Cecília Bona, João Trevisan, Levi Orthof, Cecília Mori, Gustavo Silvamaral e Íris Helena – para requalificar esse espaço, que muitos talvez sequer conheceram no seu auge, sintetizando o precário e o fugaz, que definem o próprio ethos da cidade que gera ruínas como essa! Finalmente, cada artista, além de ex-

por sua obra, vai participar de uma masterclass em que conversará com o público sobre sua trajetória e a sua obra no festival. Nas palavras de um dos artistas, Levi Orthof, as mostras da Ocupa “instigam leituras desacostumadas” a partir das superfícies, texturas, quinas e furos daquele espaço ruína-recente. Naquele espaço, aparentemente despretensioso, o público tem uma experiência nova, antes limitada a galerias e museus (muitas vezes de acesso restrito), e que oferece, finalmente, um oásis de resistência a artistas da cidade e do país. Ocupa! 1º Festival de Artes Contemporâneas de Brasília

Até 29/9 na Piscina de Ondas, estacionamento 7 do Parque da Cidade. Entrada franca de 5ª a domingo, das 17 às 22h, com visitas orientadas pelo Programa Educativo.

Foto de Janine Moraes.

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GRAVES&AGUDOS

Scorpions

Rock in Brasília POR HEITOR MENEZES

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o Rock in Rio, hein? É no Rio. Sim, mas aqui em Brasa não respinga nada? Nessa secura, tem um monte de bandas e artistas de passagem pelo festival que gostaríamos de ver na cidade, a preços módicos, diga-se. Calma, o respingo tem gosto de 7 a 1, brincadeira, tem gosto de chucrute e cerveja da pesada e atende pelos nomes de Scorpions e Helloween. As duas veteranas bandas, expoentes do heavy metal/hard rock/power metal made in Alemanha, atrações do dia do som pauleira no Rock in Rio (4 de outubro), se apresentam antes, em Brasília, dia 25 de setembro, no Ginásio Nilson Nelson. Em verdade, as bandas fazem um verdadeiro esquenta pelo país, até a apoteose triunfal no Rock in Rio. Os Scorpions passam primeiro por Curitiba, São Paulo, Uberlândia, Brasília, Florianópolis e Porto Alegre. Já a Helloween

traça o caminho por São Paulo, Brasília, Floripa e Porto Alegre. Pela ordem, a Helloween abre a noite, no Nilson Nelson, ficando os Scorpions com a responsa de levar os fãs ao delírio, o que tranquilamente deve ocorrer, caso a acústica do ginásio tenha sido devidamente preparada. Primeiro a Helloween. Os alemães, como se sabe, foram anunciados como atração substituta da Megadeth, a banda norte-americana que cancelou tudo este ano, Rock in Rio e Brasília incluídos, pois o líder, guitarrista Dave Mustaine, embarcou em um tratamento contra o câncer. Assim, a Helloween aproveitou a deixa para vir ao Brasil, mesmo que isso não tenha sido longamente planejado. O grupo deve trazer a Brasília a atual reunião de membros de diferentes épocas. Só para situar, o grupo foi formado em Hamburgo, em 1984. O guitarrista Michael Weikath e o baixista Markus Grosskopf, os únicos constantes, são membros-fundadores.

Quanto ao Scorpions, esta é a segunda passagem do grupo pela capital. Em 22 de setembro de 2010, Klaus Meine (vocal), Mathias Jabs e Rudolf Schenker (guitarras), Pawel Maciwoda (baixo) e James Kottak (bateria) chacoalharam o velho Nilson Nelson, que volta a receber o grupo. Desta vez, repete a mesma turma, com Mikkey Dee (ex-Motörhead) substituindo Kottak na bateria. Mas espera só um instante. Scorpions com o batera do Motörhead significa que o som vai estar mais para porrada do que para aquele clima de baladas, power-ballads, item no qual os Scorpions têm uma forte picada. Curiosidade: como Brasília vai ver os Scorpions antes da apresentação no Rock in Rio, não veremos o guitarrista Mathias Jabs empunhar a famosa guitarra com o formato da logomarca do festival. Para refrescar a memória, quando da primeira gloriosa aparição dos alemães no Rock in Rio de 1985, Mathias Jabs usou a dita cuja, uma encomenda feita à


Yuri Murakami

fabricante de guitarras Gibson, nos Estados Unidos. Após a apresentação, a guitarra foi doada ao empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio. Agora, o instrumento foi restaurado por um luthier português e será entregue a Mathias Jabs, que promete usá-la em The zoo (e outras), tal qual ocorreu 34 anos atrás. Em resumo, longa vida ao som pesado com os mestres teutônicos do gênero. Outros sons

Helloween

os originais, fiquemos então com a cópia autenticada em cartório. Dizem que tem a mesma validade. Há controvérsias. Sábado, 21 de setembro, vai ser um dia agitado. Começando por Paulinho da Viola, o príncipe do samba, no Ulysses Guimarães. Amigos, o Paulinho da Viola, ano 2019, é o mais puro refinamento musical e poético. Sempre foi, porém (ai, porém), a sabedoria dos anos cada vez mais transforma a experiência em algo próximo da transcendência. Na certa, haverá homenagem a Elton Medeiros, o grande parceiro que partiu para outra. Quem nunca viu Paulinho não pode perDivulgação

O período metálico vai bem, obrigado. Fãs do metal têm a opção de encarar bambambãs do maquinário mundial, dia 17, no Setor de Oficias Sul (SOF Sul para os mais íntimos). Nessa data, Narnia (Suécia), Tourniquet (EUA) e a Stryper (EUA) disparam balas de canhão que certamente deixarão em frangalhos os “zovidos” dos mais exigentes metaleiros. E isso é só a ponta do iceberg que o período promete. Nesse mesmo dia 17, temos mais uma chance de entender porque a Queen é de fato banda gigante, em pé de igualdade com os grandes da música popular. Apertem os cintos, Freddie Mercury sumiu, mas a ocupa o palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, mandando ver aquele repertório digno da realeza do rock. Prestem atenção. Esse é um cover da Queen com a assinatura de dois sócios fundadores. O guitarra Brian May e o batera Roger Taylor aparecem nos anúncios como produtores da empreitada. Já que, por motivos óbvios, não podemos mais ver

Queen Extravaganza

der a chance. Aos demais, é o reencontro de um velho e querido amigo. Sábado é dia de ir à piscina. No caso, a antiga Piscina Com Ondas, no Parque da Cidade, que, depois de longos anos de abandono, vai conquistando espaço como opção na agenda cultural da capital. É lá que vem acontecendo desde 7 de setembro o Ocupa! 1° Festival de Artes Contemporâneas de Brasília. Na parte musical, este sábado, 21, tem quatro boas atrações, ditas alternativas: O Tarot (DF), Lupa (DF) (em aquecimento pré-Rock In Rio), Mahmundi (RJ) e Clarice Falcão (RJ). No outro sábado (29), tem o encerramento do festival, com as seguintes atrações: Natália Carrera (DF), Raquel Reis (DF), Ellefante (DF) e a cantora Céu (RJ). Do outro lado da cidade, mais precisamente no Taguaparque, nesse dia 21 e no dia 22 rola o festival Fim da linha, de graça, com dois expoentes do BRock anos 1980 como atrações principais: Uns & Outros (RJ) e Inocentes (SP). No primeiro caso, temos a banda carioca, há tempos sumida, que emplacou pelo menos um grande hit na época: Carta aos missionários, aquela em que a letra diz: “Generais de todas as nações/ Fardas bonitas, condecorações/ Documentam na nossa história/ O seu rastro sujo de sangue e glória”. Palavras duras? Sim, mas não menos contundentes do que aquelas vociferadas por Clemente Nascimento, líder dos Inocentes, em Pátria amada: “Pátria amada/ De quem é você, afinal?/

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GRAVES&AGUDOS

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uma pessoa alheia a esse mundo para não reconhecer pelo menos uma dentre as grandes canções de seu repertório. Estamos em outubro e o tempo não para, dizia Cazuza. Então, para não ficar parado no tempo, pode ser a hora de experimentar o movimento produzido pela banda baiana Maglore, atração do dia 5/10 na Cervejaria Criolina (SOF Sul). A banda liderada por Teago Oliveira comemora ez anos de atividades. Nesse período, lançou quatro álbuns, um punhado de singles e viu suas músicas serem gravadas por Erasmo Carlos, Gal Costa e Pitty. A Maglore chega a Brasília depois de passar pelo Rock In Rio. É uma das atrações do Palco Supernova, ao lado da brasiliense Dona Cislene, dia 28 de setembro.

Fotos: Divulgação

É do povo nas ruas?/ Ou do Congresso Nacional?/ Pátria amada, idolatrada, salve, salve-se quem puder!” O BRock anos 80 teve um monte de músicas legais e nos ensinou muito a respeito do Brasil. O sábado (21) tem a música refinada de Wagner Tiso, pianista, compositor, arranjador e sócio-fundador do Clube da Esquina. Em um lugar chamado Mistura Fina, localizado no B Hotel (Setor Hoteleiro Norte, Quadra 5), Tiso e o Quarteto de Cellos apresentam o show De Villa-Lobos a Tom Jobim. Observem: de violoncelo Villa-Lobos entendia bastante, bastando que alguém execute no instrumento as célebres Bachianas brasileiras para a gente saber do que se trata. Quanto a Tom Jobim, bem, esse lado erudito do Tom transparece a perpassa toda sua obra. Afinal, ele tocava Bossa Nova como se fosse Debussy. Programa de alto nível. Alto nível é o que se pode dizer de Guilherme Arantes, atração dias 28 e 29 no Teatro da Unip (913 Sul). Um dos maiores compositores de música popular deste país, Arantes pode voltar quantas vezes quiser que vai ter o público aos seus pés. Também pudera. O cara é uma usina de sucessos, que desde os anos 1970 emplacou dezenas de canções nas paradas e no imaginário popular. Com o diferencial de enfrentar tudo e todos com o piano. Isso. Um cantor e pianista com um talento enorme para compor canções populares. Um show de Arantes (com ou sem banda) é uma coletânea impressionante de sucessos. Só mesmo

Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo dispensam apresentações. São ícones da nossa música, começaram pelo Nordeste e depois ganharam o mundo. Os três voltam a unir forças no projeto O grande encontro, que desde os anos 1990, provou ser um grande sucesso de crítica e público. Pois é o que veremos mais uma vez em Brasília, dia 11, no Ulysses Guimarães. A fórmula funciona muito bem desde que registraram o primeiro grande encontro, em show antológico no extinto Canecão, no Rio de Janeiro. Na ocasião, com a ajuda de Zé Ramalho, juntaram grandes sucessos das respectivas carreiras e acabaram criando esse projeto paralelo, verdadeira festa de celebração da nossa melhor música popular brasileira. Tá ok? virou horrível cacoete na boca de vocês sabem quem. Mas Ok, ok, ok é triplamente mais assertivo; é o título do mais recente disco de inéditas de Gilberto Gil. O tropicalista, ex-ministro da Cultura, volta à capital para mostrar esse e outros grandes momentos de vitoriosa carreira. Como sabemos, Gil passou um perrengue danado em 2016, que resultou em meses internado em hospital na capital paulista. A experiência existencial de quase morte virou punhado de canções que sublinham esse lado espiritual, presente em cada um de nós, mas que em Gil ganha outro aspecto, mais filosófico do que místico, mais racional que religioso, mais poético que pragmático – afinal, o ser humano é mais político do que passivo, basta botar a cabeça para funcionar. Quando? No feriado de 12 de outubro. Onde? No Ulysses Guimarães.


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BRASILIENSEDECORAÇÃO

Viagem pelas artes POR VICENTE SÁ FOTOS LÚCIA LEÃO

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o ponto de ônibus, o banner de uma loja de tintas provoca uma pequena movimentação, não pelo preço ou pela marca do produto: o garoto-propaganda, ou melhor, o senhorpropaganda, é o que intriga as pessoas na parada. – Mas esse cara não é professor? – indaga um. – Não, ele é poeta, eu o vi recitando num show – responde outro. – Ele é pintor e está com quadros no Complexo Cultural de Planaltina – diz uma moça de óculos escuros. Meu ônibus chega e eu embarco sorrindo. Todos eles têm razão. Luiz Felipe Vitelli, o senhor de 65 anos que posa no

cartaz, é tudo isso e mais um pouco. Embarque comigo, leitor, para conhecer um pouco da agitada vida desse eclético artista. Nossa primeira parada é na Ilha de Marajó. O ano é 1955 e Luiz Felipe Vitelli acaba de nascer. Sua mãe é Violeta, natural da ilha, e o pai é o piauiense Zedequias, técnico do Ministério da Agricultura e apaixonado pela natureza. Antes dele completar dois anos, a família se transfere para a Universidade do Rio de Janeiro, na Vila Seropédica, no Km 47 da antiga Rio–São Paulo. É na porta da escola primária, em frente à universidade, que o motorista do ônibus nos aponta o pequeno Luiz carregando três folhas de cartolina embaixo do braço. Com elas, ele ganhará os três primeiros prêmios na vida de ar-

tista plástico, para espanto da turma e elogios da professora. O ano é 1965. Agora, da janela do ônibus, o vemos com os cabelos longos, aos 13 anos, entrando no Colégio do Setor Leste de Brasília. O ano é 1971, e mesmo no auge da ditadura as ideias de Anísio Teixeira continuam de pé por aqui. Luiz vai estudar, no turno da tarde, práticas industriais, e aprenderá xilogravura, serigrafia e desenho técnico, cimentando sua formação artística. Ele mora uns tempos na cidade de Planaltina e se apaixona por ela. Sua vida toda girará em saídas e retornos à sua cidade do coração. Tempos depois o encontramos na Faculdade Dulcina de Moraes, onde cursa teatro, e entendemos que, pela sua timidez e intimidade com as artes plásticas,


vai se dedicar à cenografia e se formar na primeira turma da instituição. Chegamos aos anos 80 e lá está ele abocanhando vários prêmios aqui e em outras cidades. Quando tirou primeiro lugar no concurso Capa Achei, descobriu que o prêmio era uma estadia em Paris ou Nova York, onde poderia visitar museus e galerias. Escolheu Nova York porque sonhava conhecer o pintor Basquiat. A coordenação nega, diz que ele deve seguir uma rígida programação. Conhecerá apenas pintores clássicos. Ele, então, troca a viagem por dinheiro, paga suas dívidas e passeia por Brasília. “A cultura de rua de Nova York estava bombando, muitos artistas independentes atuavam com força, era quase um movimento àquela época. Se eu não podia ver isso, então deixa pra lá”, justifica. Agora o ônibus vai até o Ceará, onde encontramos Vitelli trabalhando no município de Icapuí em educação e arte com a comunidade de pescadores. Se os quatro anos que ele passou ali não acrescentaram algo à sua arte, acrescentaram muito à sua alma. Voltamos a Brasília. O ano é 1997 e lá está Vitelli de novo em Planaltina, desta vez como diretor de uma escola. Aqui também desenvolve trabalhos com a comunidade e sofre pressões por sua postura liberal. A vida segue, e o ônibus também.

Começa o terceiro milênio, os anos passam rápidos pela janela do coletivo e, nele, vemos Vitelli em contato com vários movimentos culturais e de poesia do DF. Pelo que podemos observar, ele parece estar se soltando nos palcos como declamador de seus textos e encantando plateias. “Passei a usar tudo que tinha aprendido no Dulcina, foi uma beleza”, afirma.

O sucesso o fortalece e ele começa a trabalhar com oficinas de poesia em clínicas de recuperação de dependentes químicos e em escolas da periferia. Passa a receber convites para atuar no teatro e no cinema. De repente, aquele pintor tímido parece ser não um, mas muitos. A idade não lhe pesa, ao contrário, lhe dá mais garra e força. Ele ajeita seu tempo de um modo que consiga fazer filmes, teatro, poesia, dar aulas e pintar seus quadros. Ainda neste ano vão estrear três filmes nos quais ele atua: Eu sinto muito, Cigano negro Ramirez e A terra em que pisar. São produções locais e disputam vaga no Festival de Cinema de Brasília. No teatro, atua na a peça Fim de partida, de Samuel Beckett, que estreou no teatro H2O do Recanto das Emas e segue em temporada nos teatros Mapati, na Asa Norte, e do Complexo Cultural de Samambaia. Na trilha do reconhecimento de sua arte vem o convite para fazer uma campanha de uma loja de tintas. Afinal, dizem os publicitários, ele é, antes de tudo, pintor. Sua imagem, hoje, está na TV e em vários pontos de ônibus de Brasília e é festejada pelos artistas do Distrito Federal como uma vitória da arte candanga. E é num desses pontos que eu e você, leitor que me acompanhou nesta viagem, descemos.

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LUZCÂMERAAÇÃO

O mundo

nos ensina

Ícone do J-horror, gênero de grande sucesso no Japão, Kiyoshi Kurosawa retorna aos cinemas com um filme que reflete sobre o contato entre diferentes culturas. POR SÉRGIO MORICONI

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ara os fiéis seguidores de Kiyoshi Kurosawa, O fim da viagem, o começo de tudo pode ser a confirmação de que se pode esperar mesmo tudo dele. A interessante carreira em zigue-zague do diretor desta vez dá uma guinada política à esquerda, ou – definindo melhor – simplesmente a uma temática francamente política e, digamos, “globalista”. O filme surgiu com o intuito de marcar o 25º aniversário das relações diplomáticas entre sua terra natal e a república asiática do Uzbequistão. A partir dessa origem, o filme se constrói como uma jornada de descoberta existencial de Yoko (Atsuko Maeda), a protagonista. De forma muito bem humorada, a narrativa segue as andanças e desventuras de Yoko, uma repórter itinerante de um programa de variedades da TV japonesa em visita à ex-república soviética da região central da Ásia. Essa insólita viagem a torna autoconsciente dos inúmeros desafios, percalços e interações que culturas com as quais não está habituada produzem. Muito do charme do filme se dá por esse estranhamento e

também pelo fato de Yoko registrar todas as experiências que mudam sua percepção sobre o mundo. É lá, no Uzbequistão, que ela aprende a entender e respeitar as diferenças. Um humor sutil e delicado está em toda parte, como no compilado do diário de viagem sobre um país “amaldiçoado” pela ausência de litoral. O fim da viagem, o começo de tudo fez sucesso na Berlinale e foi calorosamente recebido no Festival Internacional de Cinema de Locarno. A presença no elenco do ícone do J-pop Atusko Maeda, ex-integrante do mega-grupo feminino AKB48, foi a grande cartada dos produtores para vender domesticamente o filme, muito embora o próprio Kurosawa tenha uma presença cult no Japão, assim como em inúmeros outros países onde a onda J-horror dos anos 90 se espalhou como uma epidemia entre jovens e adolescentes. As obras de Kurosawa costumam ser ansiosamente aguardadas especialmente depois de Cure, Pulse, Charisma e, mais recentemente, com o impacto de Real, O sétimo código e Creepy. Este último foi exibido em Brasília há pouco mais de dois anos. O filme

usa e abusa do silêncio como uma ferramenta de terror, seguindo seus personagens por longas e tensas cenas onde tudo está um pouco quieto demais e onde cada rangido soa como um grito. Kurosawa sempre se destacou por fazer o ordinário parecer perturbador. Provavelmente Cure seja a quintessência da fase J-horror de Kurosawa. O enredo utiliza muitos dos truques do gênero. Coisas e personagens ganham uma dimensão que frequentemente está além deles. O perigo pode estar atrás da porta ou pode ser apenas a apreensão de indivíduos hipnotizados pela chama de um isqueiro de um jovem misterioso em crise de amnésia. A partir daí, vários personagens em Cure são induzidos ao homicídio, perpetrados sempre de forma análoga, pelo esfaqueamento do pescoço das vítimas, marcando seus corpos com um mesmo símbolo desenhado com sangue. Os episódios horrendos acontecem simultaneamente às investigações policiais. Kurosawa utiliza enviesadamente os clichês comuns ao terror. Interessa mais a ele a inquietação, o pânico pura e simplesmente, a demência da situação.


Reflexão sobre o Borderline POR JUNIO SILVA

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o entrar cada vez mais no universo de seus entrevistados, que travam uma luta contra a escuridão que vem de dentro, por sentir demais, o cineasta Júlio (Rocco Pitanga) percebeu que seu desafio seria bem maior do que simplesmente produzir um documentário. Os mundos de Isabelle (Juliana Schalch), Guilherme (Victor Abrão) e Marta (Carol Monte Rosa), apesar de diferentes, têm algo que os une: o sentimento de viver em uma linha tênue, causado pelo Transtorno de Personalidade Limítrofe, mais conhecido como Síndrome de Borderline, tema central da produção de Júlio. Além de embarcar no mundo dos três, diagnosticados com o transtorno, o cineasta também tem contato com Paula (Camila Alencar) e Cláudio (Wellington Abreu), pessoas que enfrentam os desafios de conviver no mundo de um border. Essa história é contada em Eu sinto muito, filme brasiliense dirigido por Cristiano Vieira, com produção do Studio 10 Filmes, que estreia dia 10 de outubro em mais de 20 salas de cinema por todo o país. O longa-metragem põe em discussão a importância de se compreender o transtorno, que afeta 12% dos brasileiros, além das pessoas que com elas convivem. As principais causas do Borderline são traumas, fatores sociais, questões genéticas e cerebrais que provocam impul-

sividade, mudanças de humor, autoflagelação, carência, dificuldade de manter vínculos afetivos, picos de felicidade ou ódio extremos. Pessoas borders, assim como os personagens do documentário de Júlio, convivem com esses sentimentos, reflexos do transtorno. Cristiano Vieira ressalta que um dos maiores cuidados foi o de não estigmatizar a síndrome e mostrar seus portadores como pessoas desequilibradas e loucas. “Também não tive a pretensão de apresentar uma verdade sobre o assunto. Apresentei vários pontos de vista de uma realidade tão complexa. O filme é um recorte cujo ponto mais importante a se levantar é a reflexão”. Eu sinto muito

Brasil/2019, drama, 100min. Roteiro e direção: Cristiano Vieira. Com Rocco Pitanga, Juliana Schalch, Victor Abrão, Carol Monte Rosa, Camila Alencar e Wellington Abreu. Em cartaz no circuito nacional a partir de 10 de outubro. Fotos: Divulgação - Studio 10 Filmes

Em Cure, o assassino não é descoberto. Assim como Nosferatu (o vampiro), a angústia permanece entre os espectadores depois da sessão, perpetuando medos e desassossegos de nossas existências. Incrivelmente prolífico, Kurosawa chegou a realizar de três a quatro longas por ano em sua fase mais produtiva, a partir da segunda metade dos anos 1990. Em 1996 ele dirigiria nada menos do que cinco filmes! Os gêneros oscilavam entre o terror, mas também o pinku (erotismo cor-de-rosa), filmes de ação, dramas e comédias. Ou seja, o diretor é um eclético que imprime uma marca facilmente reconhecível pelos fãs: suspense e melodrama ao seu modo. Em termos gerais, Kurosawa é um diretor de “filmes de gênero” – na acepção original do termo na historiografia cinematográfica. Ele ganhou notoriedade com a série policial Se arranje ou se mate (Katte ni shiyagare), de seis episódios rodados entre os anos de 1995 e 1996. A vingança (1997), em dois episódios, garantiu a ele uma enorme notoriedade no Japão. O sucesso se repetiria com Os olhos da aranha e O caminho da serpente, ambos de 1999, “parábolas hiper violentas” sobre os efeitos deletérios da vingança. Kurosawa parecia obstinado a ser um inclassificável quando decidiu fazer Licença para viver (Ningen gokaku/1998), pela primeira vez um drama reflexivo sobre os valores da família no Japão contemporâneo e, em seguida, o para lá de surpreendente Vã Ilusão (Oinaru gen’ei), de 1999, considerado “uma love story experimental”. Estaria Kurosawa buscando respeitabilidade entre críticos e intelectuais de cinema? O fato é que essa obra seria apresentada no Festival de Veneza no mesmo ano. O diretor estava agora no radar de curadores de mostras e festivais e também de distribuidores internacionais. Poucos deles conheciam o seu passado como um dos mestres dos obake yashiki (filmes de casas mal-assombradas), entre eles Sweet home, de 1989, e Door 3, de 1996, o favorito entre seus seguidores. Muito bem, o percurso “zigue-zagueante” de Kiyoshi Kurosawa o levou a ser hoje um habitué no circuito de festivais asiáticos e europeus, especialmente depois da seleção de Charisma para o Director’s Fortnight do Festival de Cannes de 1999. Uma década depois, Kurosawa permanece a nos frequentar, mas desta vez com um fantaminha bem-humorado, camarada e politicamente correto.

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LUZCÂMERAAÇÃO

Justíssima homenagem POR VICENTE SÁ

H

Fotos: Divulgação

á um ditado popular que reza: “aqui se faz, aqui se paga”. No caso de Darlan Rosa, o “paga” deve ser substituído por “recebe”. Afinal, poucos artistas contribuíram tanto para a cidade com suas obras e levaram para além do quadradinho o nome da capital do país. Ele também é único na utilização bem-sucedida da arte em campanhas de saúde, tanto no Brasil quanto em ou-

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tros países. Quem não se lembra do Zé Gotinha, magistral criação de Darlan que, em 1986, conduziu a campanha que erradicou do país a poliomielite e até hoje ajuda na prevenção do sarampo e da rubéola? Agora, esse criador eclético está sendo homenageado com um filme sobre sua vida e seus trabalhos. Algumas produtoras locais, cineastas e designers se juntaram no projeto que resultou no filme O risco do artista, dirigido pelo jornalista e cineasta Beto Seabra. “O Darlan é uma figura cuja história se mescla com a de Brasília. Há mais de 40 anos ele produz sua arte, que interage maravilhosamente com as obras de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Merece ter sua história apresentada aos que não a conhecem”, afirma Seabra. A história de Darlan em Brasília começou em 1967, quando chegou de Uberlândia e passou a apresentar o programa Titio Darlan, na TV Brasília. Durante anos, sempre com auditório lotado de crianças de todas as idades, ele desenhava, contava histórias, brincava e fazia sonhar sua plateia. O programa chegou a alcançar muitas vezes os 90 pontos de audiência e ele, quando saia às ruas, tinha que dar autógrafos e conversar com os

pequenos fãs. Depois, como consultor da Unicef, criou campanhas de prevenção de doenças na África, Alemanha e Estados Unidos. Como escultor, Darlan se tornou conhecido dentro e fora do Brasil e hoje tem 50 obras espalhadas por dez países. Mas é aqui que sua arte pode ser apreciada em suas mais diversas facetas. Andar pela capital da República é conhecer um pouco do seu trabalho, pois a cidade está repleta de obras como as esculturas tridimensionais e vazadas, os Esferóides expostas no gramado em frente ao Memorial JK e à Ponte JK, assim como o parque interativo Casulo, no Centro Cultural Banco do Brasil. O risco do artista é uma homenagem à vida e à trajetória desse filho da mineira Coromandel que escolheu Brasília como sua cidade de coração. O curta-metragem é uma criação independente que reúne as produtoras Abravídeo, Trupe do Filme e Mamulengo, e o financiamento foi feito através de uma campanha de arrecadação apresentada pelo ator Murilo Grossi. O filme, de 29 minutos, está inscrito no Festival de Cinema de Brasília. Caso não seja selecionado, será exibido até o final do ano em algum cinema da cidade, garante Seabra.


O amor como doutrina suicídio, aceitação da morte, obsessão e distúrbios mentais, o filme também foi feito para quem não professa a doutrina de Allan Kardec, como disse Clóvis Mello, que também dirigiu Coração vagabundo (2008) e Ninguém ama ninguém por mais de dois anos (2015). “A narrativa que eu tentei construir não era apenas voltada ao espírita tradicional, mas pretendia falar para aqueles que não são espíritas. É um filme perfeito para a geração jovem, apesar de retratar um homem de 92 anos, ele é um filme para todas as gerações”. Mesmo ponto de vista tem o ator Ghilherme Lobo, também presente à préestreia. “É uma história linda que não se resume apenas ao público espírita. É um filme que fala de amor, de tolerância, fala

de muito mais do que aparenta”. Revendo a própria história contada no cinema, Divaldo Franco se emocionou durante a pré-estreia do filme. “Reservo imensamente a gratidão a todos que têm tido paciência e tolerância, e me têm ajudado a levar adiante a tarefa que o Cristo trouxe para o mundo, para que nos amássemos”, disse o biografado que fundou a Mansão do Caminho em Salvador há 67 anos e hoje realiza trabalhos de assistência a mais de 6 mil pessoas por dia. O longa-metragem é uma coprodução dos estúdios Fox, as produtoras Cine e a Estação Luz Filmes. Estão também no elenco Marcos Veras, Laila Garin, Ana Cecília Costa, Caco Monteiro Bruno Suzano, Osvaldo Mil e Álamo Facó. Fotos: Fox Entertainment Group

“Q

uem se dedica a enxugar a lágrima do outro não tem tempo para chorar”. A frase, dita pela personagem Joana de Angelis, vivida pela atriz Regiane Alves, talvez seja a que melhor resuma a trajetória de um espírita baiano que dedicou 70 de seus 92 anos a aliviar o sofrimento alheio. Sua história está contada no filme Divaldo, mensageiro da paz, que entrou em cartaz dia 12 de setembro em todo o país. Sob direção de Clóvis Mello, o longametragem biográfico de 1h59 parte da infância do menino (vivido pelo ator João Bravo) que conversava com espíritos e sofria preconceito dos amigos e do próprio pai, segue sua adolescência, quando sai de Feira de Santana para viver em Salvador e desenvolver seu dom (vivido por Ghilherme Lobo), até a fase adulta (Bruno Garcia), quando começa a escrever seus livros. “São três Divaldos. Um numa fase bem pequena. Ele criança, quando teve as manifestações espíritas. Depois jovem, com 20 e poucos anos, quando funda a Mansão do Caminho. E depois na fase adulta, quando vai lançar o primeiro livro dele psicografado, que foi nessa fase mais ou menos de 38 a 40 anos”, disse o diretor na pré-estreia do filme, dia 26 de agosto, em Salvador, com a presença do médium Divaldo Franco. Apesar de tocar em temas intrinsecamente ligados à doutrina espírita, como

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Crônica da

Conceição

CONCEIÇÃO FREITAS

conceicaofreitas50@gmail.com

Arquitetura da alma

D

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uas construções da engenharia e da arquitetura salvaram a minha vida. Uma delas, um navio de modesta envergadura, mas um transatlântico aos olhos da menina de 9 anos. Chamava-se Lobo d’Almada e fazia a rota fluvial Belém-Manaus, ida e volta. Era quando o pai, inquieto, aventureiro e fugidio pai, ficava perto de mim por sete dias seguidos, de manhã, de tarde e de noite. Como ele não podia pular do navio e seguir nadando pelas águas do Rio Amazonas, tinha de se conformar em ficar insulado numa ilha de aço. E eu aproveitava, num contentamento quase explosivo, a presença dele. Se o pai estava por perto, nenhum mal me alcançaria. Então eu saía sozinha para explorar o monstro flutuante, desde o convés superior até a casa de máquinas. Descia e subia as escadinhas em caracol, me encantava com a sala de jogos, me assustava com o convés de redes entremeadas umas sobre as outras. Era a terceira classe e confesso que sentia um alívio por não estar nela. Me parecia algo pecaminoso. Durante muitos anos sonhei com o Lobo d’Almada. Era como sonhar que estava voando – felicidade calma como o correr do rio. Muitos anos depois, fui

e voltei de Belém a Macapá na rede, o rio ali bem perto, quase ao alcance da minha mão. O rio estava dentro de mim e eu não sabia. Talvez o pai percebesse que eu precisava de um navio em terra firme pra seguir flutuando, mesmo quando ele estava longe – e ele ficava mais longe do que perto. Quando chegou a hora de eu ir para o ginásio, parte do ensino fundamental de hoje, ele me matriculou num colégio cor-de-rosa. Nunca tinha visto nada tão monumental e belo. De arquitetura neoclássica, construído no auge do ciclo da borracha, mais de 3 mil m2 de área, 39 janelas frontais, escadaria em mármore, o Colégio Gentil Bittencourt é a instituição de ensino mais antiga do Brasil, mais de 200 anos de atividade. O prédio é do final do século 19. A menina que morava em palafita margeada por uma vala pútrida pegava o ônibus todos os dias cedinho para estudar num palácio de pé-direito tão alto como ela nunca tinha visto. Um edifício com um céu dentro dele. Todos os dias, ela fugia do recreio para percorrer os corredores infindos do colégio, o navio atracado no meio da cidade. Enveredava por ambientes proibidos, a ala destinada à moradia das ir-

mãs, as salas de móveis pesados, escrivaninhas gigantes. Um silêncio de igreja naquela construção monumental, de chão de tábuas amazônicas, paredes imaculadamente brancas e janelas tão grandes que Gulliver, o gigante de Liliput, podia muito bem passar por ela sem se curvar. Muito tempo depois, soube que o colégio tinha sido criado para servir de orfanato destinado a índias retiradas de suas tribos nos sertões dos rios Negro e Solimões (que formam o Amazonas). Com o tempo, se transformou numa das mais caras escolas de Belém. E eu lá, uma das duas únicas alunas negras. Só há pouco tempo me dei conta da razão pela qual as irmãs e os professores me tratavam com desprezo, mesmo sendo uma das melhores alunas da sala. Era meu cabelo pixaim e minha evidente pobreza. Nada disso tirou o encanto do Gentil. A saia pregueada, azul marinho, a blusa branca de mangas compridas, o uniforme de educação física (com letras garrafais bordadas no peito), tudo me tornava importante. Eu, que quase não sabia que existia. Um navio, uma escola, um rio, uma cidade, estão todos em mim, como parte estrutural de minha arquitetura de gente.


GARANTIR

À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE Com atribuições previstas no artigo 136 do ECA, o conselheiro tutelar atende crianças e adolescentes diante de situações de violação de direitos. Também é dever do conselheiro atender e aconselhar os pais ou responsáveis dessas crianças e adolescentes. A partir do atendimento, o profissional aplica medidas de proteção.

Votação: 6 de outubro.

Escolha os conselheiros tutelares de sua cidade. Acesse: conselhotutelar.sejus.df.gov.br e confira o seu local de votação.

o d l e lar. p a p Tute o é iro e s Es selhe n Co



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