Ano XVII • nº 280 Agosto de 2018
R$ 5,90
Teatro engajado O Cena Contemporânea 2018 propõe reflexão sobre o ódio e a intolerância
#EuAmamento
Sheron Menezzes e Saulo, pais de Benjamin.
AMAMENTAÇÃO É A BASE DA VIDA.
Amamente seu filho até os dois anos ou mais. Nos primeiros seis meses, dê somente leite do peito. A amamentação proporciona uma vida mais saudável para as crianças e é bom para a saúde das mães também.
Os benefícios da amamentação permanecem por toda a vida.
Saiba mais: saude.gov.br/amamentacao
EMPOUCASPALAVRAS AFP Getty Images
A bela foto de Cacá Diniz que escolhemos para ilustrar a capa da nossa Roteiro registra uma cena da peça Salve, Malala, um dos 30 espetáculos do Cena Contemporânea, nosso mais tradicional festival de teatro, que vai ocupar vários espaços da cidade entre 21 de agosto e 2 de setembro. A partir da biografia da jovem paquistanesa ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014, a companhia paulista La Leche criou a história de um encontro entre o Brasil e o Paquistão, em torno do tema educação. Pelo terceiro ano consecutivo, o festival brasiliense prioriza o teatro engajado, jogando luz sobre assuntos como democracia, igualdade de direitos, tolerância, violência, pedofilia, depressão, preconceito e cerceamento de liberdades, tudo tão urgente nestes nossos tempos (página 24). Também com viés engajado, está montada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães a 4ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, com o tema “Os outros somos nós”. Inspirada no escritor Umberto Eco, para quem os livros nos permitem mergulhar na experiência alheia, vai reunir escritores e escritoras para falar da participação de afrodescententes, comunidade LGBT e mulheres na literatura (página 23). No escurinho do cinema, apresentamos quatro boas sugestões em nossa seção Luz Câmera Ação: o filme Troca de rainhas, sugerido pelo crítico de cinema Sérgio Moriconi, um festival do CCBB que apresenta clássicos do cinema policial, o nascimento de um cine clube a céu aberto e, para os brasilienses frequentadores de Pirenópolis, mais uma edição do Slow Filme. É só escolher qual ou quais filmes ver (a partir da página 30). A seção Água na Boca apresenta uma novidade bem britânica instalada há pouco tempo na 116 Sul. É o The Queen’s Place, uma charmosa casa de chá que faz muita gente boa que anda assustada com a desvalorização do real se sentir em plena Londres sem sair de Brasília (página 6). Para finalizar, gostaríamos de fazer duas correções relativas à matéria de capa da edição passada, aquela que homenageou o chef Francisco Ansiliero por ocasião dos 30 anos de seu Dom Francisco. Na página 6, dissemos que sua sociedade com o jornalista Antonio Caraballo foi desfeita em 1993, quando o correto é 1997. Na página seguinte, dissemos que a temperatura da churrasqueira deve ser de até 550°C, quando o correto é que seja superior a 550°C. Pelos erros, pedimos desculpas ao chef Francisco Ansiliero e aos nossos leitores.
20 graves&agudos Superados os problemas de saúde, Gilberto Gil será uma das dezenas de atrações da temporada musical.
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Boa leitura e até setembro. Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, com foto de Cacá Diniz | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Gustavo T. Falleiros, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.
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ÁGUANABOCA
Londres bem aqui POR SÚSAN FARIA
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ogo na entrada, um recepcionista vestido a caráter, algumas poltronas vermelhas de estilo vitoriano, um majestoso espelho e móveis pretos com detalhes dourados prenunciam o que virá. As atendentes, também de preto, usam na cabeça fascinadores de flores com tule. Lá dentro, muitas outras surpresas. Estamos
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em uma típica casa de chá londrina, onde o que não falta é bom gosto. Trata-se do The Queen’s Place, inaugurado há três meses no final da Asa Sul. A arquitetura, a decoração, o jardim, as finas louças – tudo contribui para que o cliente possa desfrutar de um ambiente elegante e primoroso e degustar chás, bebidas e refeições preparadas por quem entende do ramo e viveu muitos anos na
cidade banhada pelo Rio Tâmisa. Não, não é preciso ir a Londres para tomar o tradicional chá das 5 (o mais completo por R$ 99), experimentar o tradicional fish and chips – peixe frito empanado na cerveja, servido com batatas fritas, molho especial e purê de ervilhas (R$ 48)– ou provar um dos “bolos da rainha”, como o Orange and Almond, sem glúten, feito com amêndoas moídas e laranja, recheado e coberto com cream cheese icing (R$ 23). No menu principal da casa, medalhões de filé mignon com molho especial e cebolas caramelizadas, servido com batatas salteadas e vegetais assados (R$ 89), ou Lamb Chops, carrés de cordeiro servidos com vegetais assados, molho especial e um toque de alecrim e menta (R$ 99). São porções para uma pessoa, mas bem servidas. Há opções para lanchinhos rápidos, café da manhã, saladas, crepes e bruschettas. Embora o restaurante tenha a temática britânica, a culinária é internacional. “Na Inglaterra há um mix de tudo, da comida paquistanesa, indiana, asiática, de várias outras culturas”, explica Ricky Araújo, um dos sócios da casa, para quem a experiência de ir ao The Queen’s Place não é apenas gastronômi-
Fotos: Luara Baggi
ca, mas sensorial. “Apostamos no diferencial, no clássico”. Os chás são acompanhados de mini sanduíches, os famosos scones, com creme e geleia, ou bolos (são dez sabores) e doces desenvolvidos pela chef executiva e uma das proprietárias do restaurante, a catarinense Matilde Gemeli (com Rick na foto abaixo, à direita). Anteriormente, Matilde havia comandado um café em Londres, frequentado à época por Rick, então executivo de uma multinacional britânica. “Depois de ir cinco vezes àquela casa, vi que a dona falava português. Logo ficamos amigos”, conta o brasiliense de 37 anos, formado em Marketing e Comunicação. “Apaixonei-me pela comida, pelos bolos, pelo café, e pensei que se abríssemos algo parecido no Brasil seria sensacional, mas fiquei só no pensamento”. Ricky foi remanejado para Dubai, mas a amizade com a chef continuou por mais de oito anos. Nesse tempo, o marido de Matilde, o inglês Matt Hymes, se aposentou e quis morar no Brasil. Hoje, o casal, Ricky e o britânico e designer gráfico Ian Scaborought são sócios no The Queen’s Place. Antes de abrir a casa em Brasília, eles pesquisaram e analisaram o mercado durante um ano. “Andamos em todas as quadras comerciais das Asas Sul e Norte. Parávamos, tomávamos café. Foi uma peregrinação”, brinca. A área edificada escolhida tem 280 m2, comporta 52 pessoas sentadas, que podem observar três grandes candelabros dourados, papel de parede importado, louças trazidas de Londres e Dubai e o mobiliário customizado no Brasil. No mezanino, as paredes também são de cor preta, com quadros do rei inglês Henrique VIII, da rainha Vitória e do castelo de Windsor. O teto é vermelho. No jardim, onde podem se acomodar até 40 pessoas, numa sexta-feira realizou-se a recepção de casamento da jornalista Camila Santana, 34 anos, residente na Asa Norte, e do empresário Gustavo Barreto. “A casa é charmosa. Amei o espaço, a decoração, o menu. Foram atenciosos e flexíveis”, disse Camila, sentada ao lado de uma grande árvore nativa, decorada com vasos de orquídeas, e perto da réplica de uma típica cabine telefônica inglesa. God save The Queen’s Place!
The Queen’s Place
116 Sul, Bloco C (3879.0079). Diariamente, das 7 às 22h.
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ÁGUANABOCA Júlio Cardia
Tim Sutton
Mais americano, impossível POR TERESA MELLO
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les têm cerca de 10 cm de diâmetro, são cheirosos que só, macios e com borda crocante. Preparados com farinha branca, fazem sucesso desde o lançamento da empresa Tim Cookies, em janeiro deste ano, pouco antes do aniversário do americano Timothy Wayne Sutton, nascido há 51 anos no Alasca. “Acho que [a marca] foi um presente, porque esses biscoitos, que faço desde os meus oito anos, são uma expressão de amor, que a gente costuma levar para um amigo, além de ser parte da cultura norteamericana”, diz. Só que lá nos Estados Unidos eles são degustados com leite frio. No Brasil, casam muito bem com um ótimo café nacional. Tim começou com fornadas semanais de 400 unidades e, em seguida, aumentou a produção em 50%, preparando, na tranquilidade de sua casa na QI 19 do Lago Sul, 600 biscoitos. “Começo na quarta-feira e continuo assando na quinta e na sexta”, informa Tim, que
morava em Nova York e se mudou para Brasília em dezembro, junto com o companheiro brasiliense Julio Cardia, com quem está casado há oito anos. “Julio é da área de Direitos Humanos e teve uma proposta de trabalho aqui. A mãe dele foi quem deu o nome de Tim Cookies”, conta. Já Laraine, mãe de Tim, mora em Provo, no Utah: “Eu aprendi a fazer cookies tradicionais com ela, o de chips de chocolate e o de baunilha com chocolate”. Na cozinha artesanal, as fornadas descansam em cima da bancada, perfumam o ambiente e a vizinhança. A novidade deste início de semestre é o de pasta de amendoim, um ingrediente clássico norte-americano. Os outros sabores são: baunilha, limão e coco, gengibre (com melado e canela), Cocoa Explosion (cacau com chocolate ao leite, chocolate meio amargo e amargo) e Magic Cookie (biscoito em pó, coco, gotas de chocolate meio amargo e leite condensado). Podem ser vendidos por unidade (R$ 4,75) ou em caixas de 12 biscoitos sortidos, a R$ 48. Tim faz entrega no Plano Piloto,
nos lagos Sul e Norte, em Águas Claras e no Guará, com taxa de R$ 10. Em julho, o empresário costurou parceria com o bar Miríade, da Asa Norte, e lançou três cookies alcoólicos: de caipirinha (limão e coco com cobertura de limão e cachaça), o Dark and Stormy (gengibre com cobertura de rum) e o Black Russian (biscoito, coco, chocolate e leite condensado com café e essência de rum). Desde março, parte da produção é destinada a duas hamburguerias. Para a sobremesa na rede Geleia ele desenvolveu um cookie com Nutella. Para as unidades da Apache Hamburgueria de Vicente Pires e Águas Claras fornece três tipos de biscoito. O segredo do sucesso? “Acho que é porque eu sou americano e faço cookies americanos”, analisa Tim, que prefere trabalhar com farinha branca, ideal para a textura, mas que já faz pesquisa com um nutricionista para lançar, em breve, uma linha fit. Tim Cookies
Encomendas: 98336.2532.
Bolos de raiz N
uma cidade em que a vontade de consumir somente coisas novas é cada vez mais implacável, precisamos aplaudir e apoiar as iniciativas de tradição que se aferram à história e aos afetos envolvidos em uma atividade. Há poucos dias, abriu as portas na 315 Sul, próximo ao Teatro dos Bancários, a Penha Bolos, que comporta poucas mesas, mas, com certeza, contém uma carga de sabor e história que falta a algumas confeitarias da cidade. Maria Penha dos Santos Cervo é confeiteira, mãe, autônoma, autodidata, moradora da Ceilândia, e outros epítetos muitas vezes ausentes dos currículos dos maiores nomes da gastronomia dos grandes centros. Começou sua produção em casa, sem nenhum conhecimento prévio, a partir de uma necessidade logística e financeira (como começa grande parte dos empreendimentos fora do mainstream). Em 1993, sem livros, sem vídeos e sem qualquer ajuda, fez o primeiro bolo de casamento, para uma pessoa que havia conhecido seu trabalho numa festa de família. Não havia mais volta, e nesses 25 anos ela se tornou uma referência na região. Sempre trabalhando em casa, desenvolvendo suas próprias receitas e atualizando-se como pôde (seu primeiro curso profissional foi feito há dois anos), Penha nunca havia pensado em abrir uma loja física, descentralizando seu trabalho e direcionando-se para um público maior. Foi por uma iniciativa, um tanto secreta, de toda a família, capitaneada pelo filho
Diogo e pelo irmão Rui, também confeiteiro, que se deu o pontapé inicial para a Penha Bolos, com o intuito não de mudar de essência, mas de se abrir para um público que, muitas vezes, desconsiderava ou desconhecia o serviço por sua localização distante do Plano Piloto. A Penha Bolos é bastante aconchegante, com uma paleta de cores em branco, prata e vermelho – um vermelho muito parecido com o que enriquece o bolo Red Velvet da casa, e que, por melhor que seja, não é o carro-chefe. O bolo de baba de moça com damasco é a menina dos olhos de Penha, em parte porque foi o que ela fez para o casamento da filha, Heloísa, há cinco anos, e em parte porque é – sem erro – delicioso. O diferencial de abrir uma confeitaria numa cidade repleta de franquias e casas com padrão internacional leva, muitas vezes, ao apelo dos glacês, coberturas e outros apetrechos que facilmente arrastam o bolo para um limbo de açúcar do qual se torna impossível sair. A moderação de doce no bolo de baba de moça e damasco de Penha consegue fazer com que a fruta – presente aos pedaços no recheio – se apresente sem perder-se num mar enjoativo de açúcar, mas tampouco sem tomar citricamente o paladar como refém. Os bolos não abusam das coberturas de nenhum tipo, e têm massas de consistências diferentes, de acordo com a proposta. Enquanto o de damasco possui uma massa mais seca, balanceada pelo recheio, o Red Velvet (o segundo preferido da confeiteira) é preparado com uma massa bem mais enxuta, que conta com
um recheio consistente no sabor e na textura e, pela primeira vez em Brasília, sem o tenebroso gosto de manteiga que contamina muitos Red Velvets por aí. Cinco estrelas. Além dos vários bolos desenvolvidos pela confeiteira, a proposta da Penha Bolos é ser um pequeno café onde o cliente poderá tomar um espresso (R$ 3) enquanto prova fatias dos vários sabores (R$ 14), encomendar os bolos (R$ 87 o quilo, em média) ou levar quitutes para um lanche, como os viçosos bolos ingleses (contribuição do chef Gustavo Pereira, egresso do La Via Vecchia e hoje comandando a cozinha do bar Piratas, no Setor Sudoeste). Penha Bolos
315 Sul, Bloco D (3346.6098) De 2ª a sábado, das 9 às 19h.
Fotos: Divulgação
POR VICTOR CRUZEIRO
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PICADINHO
TERESA MELLO
Um bolo e um pingado Os irmãos André e Rafael Silveira, de Patos de Minas, prepararam uma estreia memorável para a Boleria Mineira (111 Norte, Bloco A, tel. 3202.0111): degustação gratuita no sábado, 21 de julho. «Acho que foram uns 40 bolos», avalia o contador André, 34 anos, que, ao lado da mulher, Érica Mundim, 29, convidou o advogado Rafael, 27, para abrir a loja com receitas da família em Brasília. O projeto de Júlia Rosa, da Arquitetura do Brasil, respeitou as origens dos sócios, traduzidas pelo vermelho e pelo branco da bandeira de Minas e pelas três luminárias em estilo colonial. A arte gráfica estampa um homem de bigode e chapéu: “É um vovozinho mineiro”, explica Rafael. São 14 variedades do produto, com preços de R$ 17 a R$ 24, e com um diferencial: “O nosso bolo de milho tem muito milho, o de cenoura, muita cenoura”, garante. No primeiro mês, o campeão de vendas é o de maçã com canela, seguido pelo de cenoura com chocolate e o de chocolate com nozes. “Meu preferido é o de fubá com queijo, que, com um pingado [café com leite], é bom demais”, aponta André. Além dos bolos, um destaque é a Torta do Rafa, também na versão com flocos de chocolate Callebaut (R$ 10, individual). A loja funciona de segunda a sábado, das 8 às 19h.
No embalo do gin
Comida asiática de rua Divulgação
Em dois anos e meio, o La Rubia Café (404 Norte, Bloco B, tel. 3202.1717) acumula extensa carta de drinques: são 63 coquetéis, 15 marcas de gin brasileiro, 12 estrangeiros e dez rótulos de água tônica especial. Em 7 de agosto foram apresentadas novas misturas, batizadas alegremente de Tá Doida? (gin, mirtilo, maracujá), El Cabrón de Mi Vida (tequila, sucos de frutas), Not Today, Satan (uísque, chá preto) e Leona (cachaça de jambu, manjericão), por exemplo. À frente da casa estão o arquiteto Marcelo Galo, 48 anos, e os sócios Aylton Tristão (do bar Godofredo) e Adriano Sampaio. “Juntamos ideias de bares legais ao redor do mundo, principalmente da Argentina e de San Francisco da Califórnia”, conta Marcelo, que criou os drinques ao lado da bartender Dayane Dias (ex-Rabisco). “O gin deixou de ser uma bebida de velho”, percebe Aylton, informando que a bebida, com origem na Inglaterra, na Bélgica e na Espanha, agora é produzida em microdestilarias brasileiras. “O cliente escolhe o gin e a água tônica”, completa. No almoço, o La Rubia serve agora pratos latino-americanos como o silpancho, do Peru, por R$ 18 (bife empanado, arroz, banana frita, ovo, batata). De segunda a sábado, das 11h30 às 15h, e de terça a sábado, a partir das 18h.
Açaí pra refrescar
Raquel Aviani
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Aos 35 anos, ele é chef na Embaixada da Suécia, trabalha em eventos com o mestre Simon Lau e há dois meses é sócio do La.Mê, contêiner de comida asiática de rua no MimoBar (105 Norte, Bloco C, tel. 98112.7979), convidado por Sandro Biondo. Neto de japoneses, o brasiliense Rafael Massayuki conta que o foco do trabalho é a cozinha de imigrante, na qual venera a tradição: “Procuro fazer um prato como a minha avó temperava”. Ao mesmo tempo, ele cultiva a necessária liberdade para criar. É o que pretende mostrar em 24 de agosto, a partir das 18h, no evento Lámen Signature, com capacidade para 50 pessoas (reservas pelo @lamebsb). Massayuki vai desenvolver uma releitura do tradicional macarrão chinês popularizado no Japão (lámen), que pode ser servido à moda antiga (sal e caldo de legumes ou de peixe), com shoyu e com missô (pasta de soja fermentada). No contêiner, o chef cozinha o macarrão em caldo de carne e legumes, em tigela de 500ml, a R$ 25. Há o vegetariano, com ovo marinado no saquê. “Quando a temperatura esquentar mais, vou preparar uma comida asiática de verão”, antecipa ele, que já tem propostas para franquear o negócio. O contêiner está aberto de quarta a sexta-feira, das 18 às 23h, e sábado e domingo, das 16 às 23h.
A franquia goiana Fast Açaí anuncia novidades para este semestre: depois do drive-thru no Pistão Sul, inaugurou, em 25 de julho, uma loja no posto de gasolina do Setor Hoteleiro Sul (Quadra 2). Com investimento de R$ 180 mil, funciona diariamente, das 9 às 21h. No último dia 14, abriu um quiosque no piso térreo do Shopping Iguatemi, passando a somar 15 unidades no DF. A marca, fundada em 2012, abrange cerca de 170 lojas no Brasil e também em Angola. O açaí é o principal produto, seguido pelo cupuaçu. O pote tradicional varia de 240ml (R$ 12,50) a 480ml (R$ 19,50). Pode ser de açaí, de cupuaçu ou misto e dá direito a uma calda (leite condensado, chocolate, maracujá, morango ou mel) e três adicionais (amendoim, aveia, banana, ovomaltine, granola etc). O copo Ondas traz os ingredientes em camadas e varia de 200ml (R$ 11) a 500ml (R$ 19,50).
Divulgação
Raimundo Sampaio
picadinho.roteiro@gmail.com
Rafael Lobo-Zoltar Design
Food trucks na quermesse “Religião é cultura, política é cultura”, reforça o monge Sato, um paulista de 76 anos que se tornou budista aos 53, em campanha para tornar patrimônio cultural de Brasília o Templo Shin Budista (315/316 Sul). Para isso, uma das principais plataformas é a tradicional quermesse, sempre em agosto. A novidade da gastronomia da 45ª edição, cuja tema é “comunidade presente”, é a participação de três food trucks: Geléia Burger, Crepe Voyage e Poor Boy (de massas). Segundo os organizadores, que contam com um batalhão de 150 voluntários, a alternativa vem contemplar quem não aprecia a culinária oriental — representada por barraquinhas de yakisoba (macarrão), guioza (pastel) e missoshiru (sopa), por exemplo, e pelos restaurantes Okata e Grande Muralha. Estimado em 5 mil pessoas por fim de semana, o público pode provar também petiscos levados pelas embaixadas da Índia, de Miamar, das Filipinas, da Malásia e do Sri Lanka. Churros do Tio e picolés da marca sul-coreana Melona estão no cardápio da festa, que vai até 26 de agosto: sábados e domingos, das 17 às 22h, com ingressos a R$ 10 (inteira). Mais informações: www.terrapuradf.org.br.
Pedro Santos
Rodízio de espetinho
Carnes na brasa Rafael Lobo-Zoltar Design
“Fizemos um cardápio mais enxuto, com foco nos espetinhos e também no rodízio, no qual a casa foi pioneira na cidade”, explica o chef paulista Silvio Morgan sobre a nova unidade da Don Espettoria, inaugurada na 103 Norte há um mês — a primeira casa funciona na 412 Sul. O cardápio está incrementado com opções de fruta (abacaxi com canela e açúcar), para veganos (de legumes e de muçarela de búfala) e ainda ovo de codorna com bacon e carne de sol com queijo coalho. O rodízio chega à mesa na rodada tradicional (espetinhos, pães e queijo coalho, a R$ 46,90 por pessoa) e na premium (de camarão, pirarucu, provolone, filé-mignon, carneiro, picanha, almôndegas com queijo, medalhão de batata com cheddar e bacon etc), a R$ 64,90 por pessoa. Tudo acompanhado por arroz de carreteiro, feijão-tropeiro e banana frita, servidos em sistema volante. As rodadas são servidas nas duas unidades, de segunda a sábado, no jantar, das 18 às 22h. No almoço, somente na Asa Norte: sábado, das 11h30 às 15h, e domingo, das 11h30 às 16h.
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Caçador de café Eleito o melhor café do ano em Brasília pela Veja Comer & Beber, o Los Baristas (404 Norte, Bloco C, tel. 3033.6183) honra a premiação: além do espresso, estão disponíveis seis métodos de preparo da bebida: prensa francesa (o mais antigo e por infusão), clever (infusão e filtração), sifão (infusão), aeropress (criado pelo inventor de brinquedos Alan Adler e comercializado em 2005), chemex e Hario V60 (ambos coados). “O chemex é o método em que sinto mais o sabor, porque produz um café mais ‘limpo’”, avalia o barista brasiliense Vitor Ávila, 32 anos, que divide a gestão da loja com a sócia Heloísa Checheliski, mestre de torra. Antenada na terceira onda do café — link entre baristas, torrefadores e produtores —, a dupla uniu paixão e empreendedorismo para acompanhar a explosão dessa cultura nos últimos cinco anos no Brasil. Vitor é um coffee hunter (caçador de café): viaja pelo país à procura de microlotes selecionados. Percorre fazendas na Serra do Caparaó (ES), na Chapada Dimantina (BA), na Serra da Mantiqueira (MG) e na região da Alta Mogiana (SP), por exemplo. Para os iniciados, sugere: “Buscar cafés de torra artesanal e moer o próprio grão”. A casa funciona de segunda a sábado, das 12 às 20h.
Ao lado da Ponte JK e com 170 lugares no térreo e no mezanino, o Otro Parrilla (SCES, Trecho 2, tel. 3345.1348) é especializado em carnes assadas na brasa e frutos do mar. Outro destaque da cozinha, comandada pelos chefs parrilleros Manoel Rocha e Fernando Cardoso, são os petiscos, entre eles as empanadas de carne ou de queijo com alho-poró (R$ 11 cada uma) e o steak tartare com batatas fritas (R$ 61). Os acompanhamentos, à parte, incluem polenta, salada, farofa de ovos e legumes. Para harmonizar, há cervejas, drinques clássicos e adega de 400 rótulos. Um dos drinques mais vendidos é o Aperol Spritz (R$ 29,50). Funciona diariamente e há serviço de manobrista.
Na agenda pra você • De 24 a 26 de agosto: movimento Panela Candanga (dos chefs Francisco Ansiliero, Gil Guimarães e Mara Alcamin) no evento Taste of São Paulo, no Clube Hípico de Santo Amaro. Pamonha frita com creme de pequi e carne de lata com rapadura estão no cardápio. Informações: www.saopaulo.tastefestivals.com. • 25 de agosto: Feiras Criativas, 2ª edição, no Le Parisien Bistrot (103 Norte, Bloco B, tel. 3345.1348). Das 12 às 17h. Artesanato e oficinas gratuitas. • Até 26 de agosto: 2º CatarinaFest no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Praça de alimentação com culinária típica. De segunda a sexta, das 16 às 23h; sábado e domingo, das 11 às 23h. Informações: www.catarinafest.com; ingressos em www.eventbrite.com.br . • 8 de setembro: 4º Campeonato Brasileiro de Aeropress (método norte-americano de preparo de café). Pela primeira vez em Brasília. Na Cervejaria Criolina (SOF Sul, Quadra 1, tel. 99991.4747), das 16 às 21h. Informações: www.campeonatodeaeropress.com.br.
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Astana-Brasília, forças civilizatórias SE EU TIVESSE TRINTA ANOS A MENOS não estaria aqui, mas em Astana, a capital do Cazaquistão. Nos 20 anos de fundação de Astana eu estava lá. E entre tantas festivas situações, a que mais chamou minha atenção foi o entusiasmo com que a população participou da festa. Estava em Brasília quando nossa capital fez 20 anos. Tínhamos motivos para tristezas políticas, porém era muito maior o entusiasmo com que víamos o futuro: a democracia voltaria e com ela oportunidades para exercer na plenitude o objetivo e o sonho maior do fundador: transformar a cidade no polo indutor do progresso da região e do país. Dínamo para muitas etapas do desenvolvimento nacional. O tempo histórico não desmente o que pensamos e vivemos. As dificuldades de momento são desafios que serão superados. Ir ao Cazaquistão foi oportunidade para refazer um grande exercício de otimismo. O Cazaquistão tem 17 milhões de habitantes, quase três milhões de km quadrados e uma independência recente, 1991. A República, antes soviética, existe há muito mais tempo e com presença atuante pelo menos desde séculos, com registro de presença humana de no mínimo 12 mil anos. Um enorme potencial. Além da história política moderna de eficiência notável: passar vitoriosa o fim da União Soviética, acreditando na Perestroika sem deixar de perceber que o desfecho final seria outro. Entre duas lideranças, Gorbatchov e Ieltsin, soube construir uma ponte e sair com sua própria República. O arquiteto do processo tem nome: Nursultan Nazarbayev, atual presidente, a quem conheci e entrevistei em 1989, correspondente em Moscou, cobrindo os acontecimentos que, num mesmo século, mudaram duas vezes os rumos da história política do mundo. Ainda jovem, era liderança que chamava a atenção da imprensa internacional. QUANDO FALO EM BRASÍLIA E ASTANA cidades irmãs, primas, no mínimo próximas, destaco o vigor, o dinamismo, a inteligência das duas cidades e dos dois países nas últimas décadas. É irresistível, também, um paralelo entre dois líderes construtores
e as cidades: Nazarbayev com Astana e Juscelino com Brasília. JK recebeu um país marcado por divisões e saído de cinco presidências em menos de uma década. Uniu grupos e facções e lançou desafio capaz de mudar a cara do país. Fez Brasília em cinco anos. Nazarbayev esperou com argúcia e paciência a maturação da crise e o fim da URSS com seu plano desenhado: criar sua República, construir a nova capital. Até no diminutivo esses dois gigantes guardam semelhança: Juscelino é JK; Nazabayev é NN. O cazaque teve mais tempo para ver o sonho realidade. O brasileiro deixou a pósteros uma grande herança. Alguns souberam aproveitar. Ou não. Brasília, porém, é realidade vitoriosa. MAS MEU ASSUNTO É COMER E BEBER. A comida em Astana foi internacional, com raros momentos de identidade nacional, como os pratos à base de carne de cavalo. Se não souber, desce mais fácil. Sabendo antes, as caretas se desfazem nos embutidos. Para beber, vinhos de toda a Europa. MORREU JOËL ROBUCHON, o segundo grande chef francês este ano. Aos 73 anos, deixou órfã uma legião de admiradores, inclusive no Brasil. Recebeu mais de 30 estrelas do Michelin, o guia mais famoso do mundo. Era capaz de criar pratos sofisticados, mas todos gostam de lembrar a simplicidade com que recriou um purê de batatas. Há duas décadas, em Paris, mão amiga levou-me a um de seus templos. No final, regalados, ganhamos um pão feito por ele. Inoubliable. PARA NÃO PASSAR EM BRANCO, homenageamo-nos, pai e filhos, com um prato francês, o Boeuf Bourguignon. Nascido na Itália (Toscana), foi levado à Gália por dona Catarina de Médici quando casou-se com Henrique II. Hoje, 500 anos depois, é mais francês do que tudo. A carne recomendada é músculo, cozido no vinho tinto, muito. Cibulettes, cenourinhas, espécies, há receitas e todas pedem paciência. Para beber, tinto e bastante!
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 12
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras
PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Vinhos mais que especiais De vez em quando vamos degustando alguns vinhos especiais, seja pela sua raridade, sua safra, seu preço, além, é claro, da ocasião em que os bebemos. Para esta coluna escolhi seis garrafas que consumi no últimos tempos e que me parecem especiais. Iniciamos por um dos melhores champanhes que se pode aproveitar, o Dom Pérignon Vintage 2002. Este tive o prazer de comprar na própria Moët & Chandon, em Epernay, durante a visita que lá fiz em 2008. Os grandes champanhes se pode e se deve guardar. Como qualquer vinho de guarda, esses champanhes melhoram com o tempo, e se consumidos muito novos são, por vezes, “duros” ou muito ácidos. A 2002, aberta com 16 anos de engarrafamento, estava perfeita. De cor amarela clara, levemente dourada, apresentou um lindo e finíssimo perlage, contínuo e persistente. Nariz com toques florais, especialmente jasmin, que evoluiu para damasco e pêssegos. Muito elegante e gastronômico ao palato. Grande champanhe. Um dos vinhos brancos mais especiais que já degustei foi o Neustifter 2010, talvez o melhor vinho austríaco que se produz. Realizado a partir da casta Grüner Veltliner, com capacidade de envelhecimento para 25 anos, o exemplar foi degustado com apenas oito anos de engarrafamento. Mas já estava excelente. Ao nariz revela toques florais e de mineralidade, com acácias e castanhas, evoluindo para avelãs e marmelo. O palato é marcante, profundo e longo, com toques de brioche e chá. Fantástico! Passamos agora por um clássico de Rioja, na Espanha, o Viña Real Oro Reserva 2007. Embora já com 11 anos, poderia aguardar ao menos mais cinco. Típico, com muita fruta vermelha madura, framboesa em especial, evoluindo para toques tostados. No palato confirma as frutas vermelhas, com bom corpo, ótima acidez e taninos firmes. Bom vinho.
Da quase vizinha região do Douro, em Portugal, uma estrela, o Quinta Vale D. Maria, Vinha do Rio 2014. Uma preciosidade de Cristiano Van Zeller. Ainda bem novo, com apenas quatro anos de garrafa, tem potencial para mais uns 20, mas já estava ótimo. Abriu com frutas vermelhas maduras e notas de especiarias, evoluindo para agradáveis toques de chocolate. No palato apresentou taninos firmes, mas macios, com grande corpo e ótima acidez, confirmando as frutas vermelhas e o chocolate. Altamente gastronômico. Ótimo vinho. Da Bota, uma das estrelas dos chamados “supertoscanos” é o Luce 2011. Uma parceria de sucesso entre a família Frescobaldi e Robert Mondavi gera em terras de Montalccino esse corte da italiana Sangiovese com a francesa Merlot. De cor rubi profunda, o nariz abre repleto de frutas silvestres, especialmente groselha e framboesa. O palato é muito estruturado, com fruta madura, flores secas e algo defumado. Um gigante para acompanhar carnes como poucos. Das terras de Tio Sam, um dos melhores Cabernet Sauvignon do Napa que já provei. De cor púrpura, escuro, traz muita fruta madura e é potente, mas ao mesmo tempo amável, redondo, macio. Aromas de groselha, amoras e mirtilos, evoluindo para chocolate amargo e café, com notas de pimenta. Palato cheio, com grande equilíbrio entre tanino, álcool e acidez. Final longo. Vinho complexo e mais que tudo muito gostoso. Para finalizar, um grande Sauternes de sobremesa, daqueles que dispensam outros doces e configuram a sobremesa em sí: o Chateau du Hayot 2009. Dourado claro, com aromas deliciosos de mel com toques de limão e pêssegos. No palato traz a confirmação do mel e notas de abacaxi. Perfeito equilíbrio entre sua agradável doçura e sua ótima acidez. Perfeito como dessert wine.
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DIA&NOITE
“Seja única ou com a composição, a palavra sempre teve e terá uma importância muito grande em minha obra”, diz o pernambucano Paulo Bruscky no texto que abre o catálogo de sua primeira exposição em Brasília, montada na Caixa Cultural até 30 de setembro. A mostra PaLarva – Poesia visual e sonora contempla cinco décadas da produção desse artista multimídia representadas por mais de 200 de suas mais importantes e emblemáticas obras, além de algumas inéditas, produzidas para essa exposição. Paulo já participou do pavilhão internacional da última Bienal de Veneza e é autor de obras pertencentes a acervos do Museu de Arte Moderna (SP), do Museu de Arte Contemporânea da USP, do Centro Pompidou (França), do Tate Modern (Inglaterra) e do MoMA (EUA). De acordo com seu filho e curador Yuri Bruscky, a mostra está dividida em vários núcleos que abordam as linhas de experimentação poética do artista: poemas visuais, poemas sonoros, filmes de artista, registros videográficos de performances e exposições, objetos poéticos, livros de artista, arte classificada, obras conceituais, projetos, documentos e fotos históricas. Paulo Bruscky é considerado um dos maiores artistas conceituais da arte brasileira. De terça a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.
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... Tudo vai ser diferente, como dizia Roberto Carlos em antigo sucesso. Só que não. Agora, a expressão contida no título desta nota serve para batizar uma exposição de três artistas angolanos que expõem na Caixa Cultural até 30 de setembro. Seus trabalhos refletem sobre as tensões nas relações entre ex-colônia e colonizador, ou seja, entre Angola e Portugal. Com curadoria de Michelle Sales, a mostra exibe uma série de fotografias, vídeos e instalações de Délio Jasse, Mónica de Miranda (foto) e Yonamine. As obras de Délio Jasse fazem alusão à crise de todo o modelo colonial e seus desdobramentos contemporâneos: guerra, exílio, perdas. Já Mónica de Miranda mostra os pedaços de uma memória coletiva que resiste no tempo. Angolana da diáspora, seu trabalho atravessa diversas fronteiras e esboça uma paisagem de identidades plurais inspiradas pela própria vivência de uma artista itinerante. Finalmente, o trabalho de Yonamine remete à arte urbana, usando referências que vêm do grafite, da serigrafia e da pintura, num embate violento com o acúmulo cultural do caótico cenário político-econômico de Angola. De terça-feira a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.
artecontemporânea Obras produzidas em diferentes fases da carreira do artista plástico Oscar Moren estão no CTJ Hall (706/906 Sul) até 1º de setembro. Entre as vertentes abstratas e figurativas, e utilizando técnicas e materiais associados à contemporaneidade, ele trabalha desde o acadêmico, com o pastel, a acrílica ou a milenar encáustica, até a vanguarda de obras em duas dimensões. Artista plástico nato, Moren começou a desenhar a lápis, na infância, e depois enveredou pelo design de joias ao mesmo tempo em que buscou o conhecimento de técnicas com grandes mestres. Suas joias ressurgem em quadros em técnica mista combinando o aço, o bronze, o abalone, as pérolas e madrepérolas. Nessa mostra, o visitante poderá conferir o resultado da sua criatividade e inspiração incessantes, aliadas à constante busca pelo aperfeiçoamento, associando materiais e bom gosto estético. De segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábado, das 8h30 às 12h. A galeria não abre aos domingos e feriados.
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Híbridos que transitam entre pintura, escultura e relevo se referem a alguns dos países africanos de onde saíram escravos para trabalhar em fazendas e minas no Brasil: África do Sul, Angola, Benim, Burundi, Camarões, Chade, Congo, Costa do Marfim, Guiné, Moçambique, Senegal e Uganda. A obra do artista plástico Sanagê, um carioca residente em Brasília, parte de uma pesquisa que convoca o público a uma imersão na diáspora africana. Com curadoria de Carlos Ferreira, a mostra Sanagê, pele e osso reúne 13 obras expostas em uma sala cujas paredes foram pintados de branco. Ao optar pela cor que contém e reflete todas as cores, Sanagê conduz o visitante para uma experiência de espaço infinito. O branco é a presença diáfana que simboliza uma ausência de limites. Até 9 de setembro, no Museu da República. De terça a domingo, das 9 às 18h. Entrada franca.
Catedral Metropolitana, Congresso Nacional, Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Ponte JK, Santuário Dom Bosco e Templo da Boa Vontade. As Sete Maravilhas de Brasília escolhidas pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais em 2008 foram fotografadas por artistas e fotógrafos da cidade e agora estão na exposição montada na Galeria de Arte do Templo da Boa Vontade (915 Sul) até 31 de agosto. Integrante da programação do Mês da Fotografia, a mostra reúne imagens registradas pelos artistas plásticos Ralfe Braga e Octávio Rold, além de 20 renomados fotógrafos da cidade. Diariamente, das 8 às 20h, com entrada franca. Informações: 3114.1070.
Oscar Moren
Sanagê
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arquiteturanocinema O filme Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, será homenageado na primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Arquitetura (Archcine), que acontece de 29 de agosto a 1º de setembro no auditório do Museu Nacional dos Correios, na Casa da Cultura da América Latina e no Campus do IFB do Recanto das Emas. O filme conta a trajetória de refugiados recém-chegados do Congo, Palestina e Síria, que se unem a trabalhadores e famílias sem-teto e ocupam um edifício abandonado no centro de São Paulo. O festival vai exibir 25 produções que refletem sobre as diferentes maneiras como ocupamos, interferimos e representamos nossas cidades. Estão na programação filmes de Portugal, Equador, Espanha, Suíça, Polônia e Canadá, bem como produções de Brasília, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O festival tem coordenação da arquiteta e urbanista Liz Sandoval. Informações em facebook.com/archcinefestival.
umcelularnamão Lembram quando Glauber Rocha disse que para fazer cinema era necessário uma câmera na mão e uma ideia na cabeça? Se vivesse hoje, talvez o cineasta baiano precisasse adaptar a frase, já que agora a coisa ficou mais fácil: basta ter uma ideia na cabeça e um celular na mão. É esse o espírito democrático, atual e irreverente do Filmaê – 1º Festival de Cinema Móvel de Brasília. Estudantes, aspirantes ao mercado dos youtubers, jornalistas que querem fazer uma matéria especial pelo celular e todos que curtem cinema e desejam produzir filmes de um a dez minutos podem se inscrever no festival, que acontecerá em novembro, no Espaço Cultural Renato Russo. Os participantes podem concorrer à mostra competitiva, com premiação para melhor filme de ficção, melhor documentário, melhor videoclipe, melhor reportagem de mídia alternativa e melhor filme experimental. As inscrições para participar do festival são gratuitas e já estão abertas em www.filmae.com.br.
praçadapoesia O projeto A arte onde eu queria – Cinema, música e poesia estreia dia 25, a partir das 18h, trazendo a veterana sanfoneira Dona Gracinha e o grupo de forró Baião de Dois com os clássicos da música nordestina. Jorge Amâncio (foto), Fabrízio Morelo e Dina Brandão ficam responsáveis pelas intervenções poéticas e o documentário Quatro, de Vicente Sá, fecha a programação. O filme mostra a carreira de importantes nomes da música do Distrito Federal: Zé Mulato e Cassiano, Clodo Ferreira, Renato Matos e o grupo Liga Tripa. Na Praça da Poesia (216 Norte) um caminhão-palco com telão e equipamento de som vai receber artistas e performers interessados em se apresentar. É só procurar os organizadores, a partir das 16h, na Praça da Poesia. O projeto é uma criação da ONG Casa da Vila. Informações: 99977.3667, com Kleber Moraes.
cinemamudo Até o fim de agosto, toda sexta-feira é dia de clássicos do cinema mudo na Casa do Cantador de Ceilândia, com trilha sonora original tocada ao vivo pela banda Protofonia. Dia 24, às 19h30, será exibido O encouraçado Potemkin (foto), filme russo de 1925, dirigido por Sergei Eisenstein. Antes, às 8h30, haverá uma palestra com o idealizador da mostra, Arthur Gonzaga. Já no dia 31 será a vez do brasileiro Limite, de 1931, dirigido por Mário Peixoto. “Sempre me chamou a atenção que Ceilândia não tinha uma sala de cinema”, diz Gonzaga, nascido e criado naquela cidade. Ele sempre teve contato com a linguagem artística por meio dos avós tocadores de viola e do pai cinéfilo. Desde cedo, sabia que queria ser cineasta, mas quando era mais jovem as oportunidades eram quase nulas na região. A banda convidada já tem experiência com trilhas sonoras para teatro e filmes. É formada por André Chayb (guitarra), Janari Coelho (bateria) e André Gurgel (baixo). Entrada franca. Informações: 98180.3321.
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mêsdafotografia “Água, reflexões sobre o amanhã” é o tema da coletiva em cartaz no Museu da República até 30 de agosto. Ela reúne 90 fotografias de profissionais do Centro-Oeste, sendo 60 imagens individuais e 30 compostas por seis ensaios autorais com cinco fotos cada e ainda quatro obras audiovisuais. Os trabalhos foram selecionados entre mais de 500 imagens de 205 autores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Parte integrante da extensa programação do Mês da Fotografia, tem como foco lançar um alerta sobre a frágil situação da água, esse bem precioso que vive sob ameaça de escassez. Em sua sétima edição, o Mês da Fotografia reúne exposições coletivas, lançamentos de livros, workshop, bate-papos em diversos pontos da cidade e das satélites. Confira a programação completa em www.festivalmesdafotografia.com.br.
Mais uma atração acaba de ser inaugurada no Centro Cultural Banco do Brasil. Trata-se do Mão Brasileira, um composto de galeria, loja, livraria e espaço lúdico, com obras de arte brasileira, design contemporâneo, joias, livros de arte e infantis, souvenirs de Brasília, brinquedos populares e pedagógicos. Com 60 m2, possui um acervo de aproximadamente 3.000 obras de arte popular brasileira e contemporânea. Entre os autores das peças estão Rubem Valentim, Athos Bulcão, Veio, GTO, Artur Pereira, Gilvan Samico e Siron Franco. Nomes expressivos do design, como Sergio Matos e Desfiacoco, também têm presença no espaço do CCBB. “O Mão Brasileira foi idealizado para evidenciar nosso imenso patrimônio natural e cultural. Nossas paisagens, nossa gente e nossos gestos. Todos os produtos a serem apresentados refletem o pulsar do Brasil. Queremos também nos conectar com pessoas que comunguem com nossa visão de resgate dos afetos, sonhos e histórias”, explica Luiz Fernando Pontes, idealizador do espaço. De terça a domingo, das 9 às 21h. Informações: 3108.7041 e www.artebrasilpopular.com.br
umvisionário Ele foi o empresário que criou a Apple, a Next e a Pixar. A primeira, fundou na garagem de sua casa em Los Altos, Califórnia. Seu primeiro computador foi batizado com o nome de Lisa, uma filha não assumida na época. A vida e a obra completa do icônico Steve Jobs estão em exposição montada no Shopping Iguatemi até 9 de setembro. São mais de 200 itens, entre invenções raras, fotos inéditas e outros itens que conduzem os visitantes por uma jornada dividida em cinco capítulos: espiritualidade, inovação, competição, fracasso e negócios. No primeiro capítulo estão itens que remetem à sua ligação com o budismo; no segundo, produtos desenvolvidos por ele, como o Apple II, o Macintosh, o iMac e as primeiras gerações do iPod, IPhone e iPad. No terceiro, alguns momentos polêmicos, como os constantes enfrentamentos entre a Apple e outros gigantes da tecnologia, como Bill Gates e IBM. No espaço dedicado ao fracasso – sim, Steve Jobs também fracassou – está o item mais raro da coleção, o Apple 1, fabricado em 1976, bem como o já citado Lisa. Finalmente, no capítulo negócios estão os produtos revolucionários, que foram sucessos de vendas e ajudaram a consolidar a reputação da empresa. Os ingressos para a exposição Steve Jobs, o visionário custam R$ 15 e R$ 7,50 na bilheteria do shopping.
parafalardeamor A autobiografia do artista plástico paulista Nuno Ramos, contada num diário que virou livro, é a base do espetáculo 180 dias de inverno, em cartaz na Caixa Cultural de 30 de agosto a 2 de setembro. Lá estará a história de um homem que enfrenta seus medos e angústias enquanto cuida da mulher doente. Desde a estreia, em 2010, o país, o mundo e as próprias vidas dos integrantes do elenco passaram por muitas transformações. “Mas uma coisa não mudou: a vontade e o desejo de estarmos juntos contando essa história de um amor imenso e cansativo de um ser humano por outro”, diz o diretor Nando Motta. “Ele está mais atual e mais forte do que nunca. Porque em um mundo cada vez mais excludente e controverso, precisamos sim, falar de amor, mas de um amor real, difícil, cansativo, perdido, que persiste, para estar sempre junto com quem se ama”, conclui o diretor. De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
Antonio Poteiro
atenção,ilustradores!
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O programa Jovem de expressão está convocando artistas gráficos com o objetivo de formar um banco de imagens e, assim, consolidar um núcleo de ilustradores. A Crew de Graffiteiras Risofloras e a ilustradora Larissa Alencar já fazem parte desse grupo. As Risofloras dão cores às paredes do espaço físico do programa, em Ceilândia, enquanto Larissa Alencar participou do último anuário produzido pelo Jovem de Expressão. Pretende-se, ainda, que os artistas gráficos circulem junto com as propostas culturais oferecidas pelo programa, numa união de forças, artes e informações. Os interessados devem se inscrever em https://goo.gl/forms/A7xAIX5w83VmUXLw2.
Samuel Mendes
Alber Watson
novoespaçonoccbb
Lucas Viana Silva
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tributoatchaikovsky No dia 6 de novembro deste ano se comemoram os 125 anos de morte do compositor russo Peter Ilyich Tchaikovisky (1840/1893). Para marcar a data, o violinista canadense Guillaume Tardif, o violoncelista brasileiro Felipe Avellar de Aquino e a pianista sueca Lena Johnson apresentam recital no CTJ Hall (706/906 Sul) no dia 20, segunda-feira, às 20h. O trio foi formado no Festival Internacional de Música de Câmara promovido pela Universidade Federal da Paraíba. Guillaume Tardif é professor de Música na University of Alberta, Canadá, além de compositor e arranjador. Felipe Avellar de Aquino graduou-se em Música pela Universidade Federal da Paraíba e é professor de Música na mesma universidade. Já Lena Johnson atua como camerista, solista, pianista colaboradora e professora, tem Mestrado em Música pelo Royal College of Music, de Estocolmo, e aperfeiçoou-se com grandes mestres em Viena e Londres. Entrada franca.
deventoempopa
pianoclássico
Esse é o nome do grupo que se apresenta dia 31, sexta-feira, às 20h, no CTJ Hall (706/906 Sul). Com duas décadas de existência, é formado por Madelon Guimarães, professora de flauta transversal e música de câmara, Any Kelly Lopes, Davi Abreu, Heitor Freitas, Laís Sandy Nogueira, Maressa Magão (flautas), Luiz Duarte (violão), Paulo Dantas (contrabaixo elétrico), Ana Cândida Gobbi (piano) e Xico Abreu (percussão). Madelon criou e dirige o grupo, formado por professores, alunos e ex-alunos da Escola de Música de Brasília. No programa da apresentação estão peças de música erudita e popular brasileira, de Villa-Lobos, Pitombeira, Jobim, Garoto, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Jacob do Bandolim, Chico Buarque, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Egberto Gismonti e João Donato. Entrada franca.
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Composições de Bach, Beethoven, Brahms, Debussy e Chopin estão no programa do recital que a pianista Maria Emília Osório fará no CTJ Hall (706/906 Sul). Pioneira em Brasília, ela celebra seus 80 anos de idade no dia 24, às 20h. Nascida em Ribeirão Preto, formou-se em 1957 no Conservatório Estadual Renato Frateschi. Chegando a Brasília, continuou seus estudos com os pianistas Ney Salgado, Neusa França e Joel Belo Soares e aperfeiçoou sua técnica pianística com Marward Glasching, Magdalena Tagliaferro e Luiz Medalha. Maria Emília já coordenou concursos de piano e foi diretora artística e solista da Banda Sinfônica de Brasília. Criou os projetos Retreta, para a Fundação Cultural do DF, e Jovens Intérpretes de Brasília, para a Funarte. Entrada franca.
músicajovem Os gêmeos Diogo e Rodrigo Melim, assim como a irmã caçula Gabi, formam a banda Melim, que se autodefine como sendo de “good vibes” em seu repertório de reggae, MPB e algumas influências internacionais. Eles e a banda Um44k participarão do festival Nossa Música, dia 22 de setembro, no Espaço Cultural Brasília, do Shopping Iguatemi. Recentemente, os três irmãos da foto participaram da gravação de um clipe de Ivete Sangalo, ainda a ser lançado. Fenômeno da internet, a dupla Um44k, formada por Saulo Poncio e Luan Otten, une o pop ao R&B e ao rap, tendo como uma das influências o cantor Drake. Ingressos a R$ 60, à venda em www.bilheteriadigital.com/festival-nossa-musica-22-de-setembro.
Até 9 de setembro, os grupos de música de Câmara de Brasília podem se inscrever para a 5ª edição do projeto Conexões camerísticas, a ser realizado em outubro, com concertos nas filiais da Casa Thomas Jefferson. Serão selecionados dez inscritos, com formações de dois a oito participantes, sendo que cada grupo participará de dois concertos, um coletivo e outro individual. O projeto pretende promover um encontro entre músicos de câmara de diferentes formações para divulgar a boa música de concerto brasiliense. As inscrições podem ser feitas por meio de formulário eletrônico disponível em https://goo.gl/forms/EizeR287TRxthuo73. O edital está em www.facebook.com/conexoescameristicas.
sementesnosparques Em um pedaço de terra seca no interior do mundo, uma mulher se encontra sozinha. Carrega em sua bagagem a simplicidade, o sonho e alguns poucos objetos “encantatórios”. De repente, coisas mágicas passam a acontecer. Será que ela está mesmo sozinha? Até 30 de setembro, o projeto Sementes nos parques vai mostrar à criançada as possíveis sementes da vida, dos desejos, dos sonhos, da arte. No palco, a atriz Caísa Tibúrcio, criadora do espetáculo, diz que se inspirou nas lembranças de uma brincadeira de criança, quando os mais velhos diziam: “Se você engolir uma semente de fruta, nascerá uma planta na sua barriga”. Dias 26 de agosto, no Parque Ecológico de São Sebastião, 2 de setembro, no Parque Jequitibás (Sobradinho), 9 de setembro, no Parque Olhos d’Água (Asa Norte), 16 de setembro, no Jardim Botânico (Lago Sul), 23 de setembro, no Parque da Cidade, e 30 de setembro, no Parque Saburo Onoyama (Taguatinga).
Diego Bresani
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músicaerudita
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hows, shows, shows de montão; faz uns três, quatro meses, que a cidade vem sendo chacoalhada por esses eventos musicais de responsa. E não tem calor, secura, poeira, rinite, otite e tal que pare a música. As atrações da temporada só podem indicar o ápice da programação musical de 2018, em Brasília. Mas aí você lembra que ainda tem Andrea Bocelli, Roger Waters e Gypsy Kings pela frente. Ai, Mega Sena que nunca vem! Para início de conversa, dois italianos. Primeiro, um fenômeno: o multipremiado pianista, compositor, cantor, escritor e apresentador de televisão Stefano Bollani, em rara visita, mostrando músicas do recém-lançado disco Que bom, digamos, sua terceira bem-vinda incursão jazzística pela música brasileira. Depois de ter abordado Tom Jobim em 2003 (disco Falando de amor) e o cancioneiro pré-Bossa Nova em 2008 (disco Carioca), o workaholic Bollani gravou no fim de 2017, no Rio Janeiro, disco autoral com músicos brasileiros, com a mesma cozinha de 2008: o baixista brasiliense Jorge Helder, o baterista Jurim Moreira e o percussionista Marçalzinho, além de Caetano Veloso, Jaques Morelem-
baum, Hamilton de Holanda e João Bosco. Para encurtar, vá, veja e ouça! Imperdível e imperdoável não ir. Onde? No Clube do Choro, segunda-feira, dia 20. O compatriota italiano, em verdade, italiana, é ninguém menos que Laura Pausini (quinta-feira, 23, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães). A cantora e estrela da televisão de 44 anos nos é familiar, não apenas porque gravou um monte de músicas com aquele toque soft, romântico, mas também por trazer à tona La solitudine, canção premiada no Festival de San Remo em 1993, depois gravada por um certo Renato Russo, em 1995. Pois bem, Laura Pausini continua mandando muito bem nos agudos, nas coisas do amor, e nada como a maturidade para manter as coisas sob controle. Nesse mesmo dia 23 (com repeteco no dia 24), atração inusitada, no Clube do Choro, é a dupla formada pelo gaitista brasiliense Pablo Fagundes e o americano Christylez Bacon (human beatbox, ou sons com a boca). Acompanhados pelo piano de Serge Frasunkiewicz e o contrabaixo de Oswaldo Amorim, Fagundes e Bacon mostram que a música, por estranhos caminhos, é capaz de conectar diferentes culturas. Atenção para a batida de colheres soldadas. Em tempo, a pronúncia é Chris-Styles.
Enquanto isso, na Orla do Lago Paranoá (imediações da Concha Acústica), nessa quinta, 23, Alceu Valença, DNA de forró, frevo e maracatu, é o convidado das Quintas Culturais Na Praia. Na secura, eis um bom motivo para curtir um som maneiro e estar à beira da água. Por falar em Na Praia, que tal um pouco de Gilberto Gil para clarear a poeira que nos anuvia? O inigualável GilDivulgação
POR HEITOR MENEZES
Laura Pausini
berto Passos Gil Moreira vai estar entre nós, no sábado, 25, no luau intitulado Koh Pha Ngan (aos não familiarizados, paradisíaca ilha na Indonésia). Depois de passar um perrengue com a saúde e tal, Gil voltou com tudo e traz a Brasília canções de Ok, ok, ok, seu primeiro álbum de inéditas em 20 anos. De quebra, tem Natiruts abrindo os trabalhos. Dá licença que esse sábado, 25, tá que tá. No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quem faz o uso privilegiado do microfone, pela primeira vez na capital, é a dama do pop internacional Dionne Warwick. Essa mulher cantando Walk on by (Burt Bacharach & Hal David) é um prazer terreno que nos conecta com as altas esferas, para o alto e avante. Sério. Amantes conhecedores do mais fino cancioneiro sabem do que se trata. Como diz o press-release, “um dos pilares da cultura e música pop americana”. É mesmo. Outro programa desse sábado que pede a vossa atenção é o pessoal do Geminis Bee Gees, no Teatro da Unip (913 Sul). Criado em 1999, em Buenos Aires, pelos argentinos Ismael Espiño (como Barry Gibb), Alberto Canepa (como Robin Gibb) e Daniel Liberchuk (como Maurice Gibb), o grupo, deu pra notar, é especialista em recriar a magia do famoso trio australiano, na qual não fogem detalhes tanto visual quanto musicalmente falando. Dizem que já fizeram mais de 150 apresentações no Brasil. Afinal, são gêmeos dos irmãos Gibb. Esse programa tem repeteco no domingo, 26, no mesmo local. Não tem reggae nessa programação?
que enverede pelo romantismo, Chico é sempre instigado a fazer arte sócio-política. Para quem sente à flor da pele o que é violência verbal, nada como continuar a fazer o uso inteligente da palavra. Opção mais roqueira, nesse 31 de agosto é A Banda Mais Bonita da Cidade, no improvável Previ, o Clube dos Previdenciários (912 Sul). De cima do mundo eu vi o tempo é o nome do mais recente trabalho desse grupo curitibano, precursor do esquema crowdfunding em música no país. Iate Clube e biquíni combinam muito bem. Iate Clube e Biquíni Cavadão só pode ser o Luau do Iate, tradicional festa do clube, no Setor de Clubes Norte, nesse mesmo sábado, 31. A banda carioca segue na ativa e traz à capital as músicas do mais recente trabalho, As voltas que o mundo dá. Tédio, Vento, Ventania, Timidez, Zé Ninguém, esses caras tem um monte de músicas bacanas. Curtição garantida. Deixa estar que no sábado, 1° de setembro, tem Os Tribalistas, no anfiteatro do Estádio Mané Garrincha, o colosso do Eixo Monumental. Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes comandam ao vivo esse fino biscoito brasileiro, pela primeira vez, 16 anos depois daquele álbum de estreia, em 2002. Sabemos que o trio, embora tenha vendido pra lá de três milhões de CDs (em época dificílima de pirataria e downloads ilegais), não fez turnê promocional devido às agendas de cada um. Portanto, prepa-
Daniel Mattar
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Dionne Warwick
Tem sim. No Na Praia, nesse domingo, 26, quem defende as cores verde, amarela e vermelha (a camisa do Sampaio Correa) são os paulistas do Maneva. Jamaica abaixo de zero? Depende do que você tiver em mente. Aí o domingo termina com Fábio Jr., no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. É vero. São 40 anos de carreira, um catatau de discos vendidos, desde que apareceu na Globo, naquela série antigaça Ciranda, cirandinha. Até agora, fama e fortuna. Parece que está no sétimo casamento. Não importa. Goste ou não, continua um figuraça. Fica aqui a torcida para que preste homenagem respeitosa a Guilherme Lamounier, o autor de Enrosca e Seu melhor amigo, falecido em 8 de agosto. As duas ajudaram Fábio Jr. nesse negócio de virar estrela. De volta ao Na Praia, na quinta-feira, 30, rola o Tributo a Cazuza, com as vozes dos broders Rogério Flausino (Jota Quest) e Wilson Sideral cultuando a obra do saudoso Agenor de Miranda Araújo Neto (1958-1990), o Cazuza. E agosto, o mês do desgosto, haha, termina com ninguém menos que Chico Buarque, em rodada dupla, 30 e 31, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Não é ilusão. Chico Buarque, um dos ícones da nossa maior música popular brasileira, faz visita bissexta a Brasília, desta vez trazendo a turnê Caravanas, título do álbum de inéditas lançado em 2017. Isso, Chico Buarque para os tempos quadrados em que vivemos. Quem acompanha, saca o momento de Francisco. Em As caravanas, ele manda uma de suas melhores letras: “Filha do medo, a raiva é mãe da covardia/ Ou doido sou eu que escuto vozes”. Bem, por mais
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sília. Era o início de nova trajetória, tão bem ou melhor sucedida do que na fase Garota Safada. Esse rapaz é a cara da nova música popular brasileira. Sucesso meteórico, tanto que, em 2017, dois anos depois da estreia solo, Safadão soltou o álbum WS in Miami Beach. Nada contra Brasília, claro, mas Miami é que é
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re-se para um pacotão de sucessos – Velha infância e Já sei namorar inclusas – e aquele clima para se encher de fofura, ternura e sorrisos. Amor I love you. Ah, é funk o que vocês querem? Então, tomem funk, irmãos e irmãs. Na festa Phi-Phi, do projeto Na Praia, nesse 1° de setembro, quem comanda o sacode a pélvis até o bumbum chegar no chão é a mega estrela Anitta, cada vez mais internacional e sofisticada. Medicina com seu apelo transnacional é o quê? Reggaeton? Léo Santanna está nos mesmo pacote. E agora o peso do rock. Demorou, mas temos na agenda uma legítima representante do som das guitarras (com aquele vocal operático de três oitavas, ok). A finlandesa Tarja Turunen, grande dama do rock sinfônico, traz um tanto dessa atmosfera gótica e chique à capital. A ex-Nightwish termina em Brasília, dia 2 de setembro, no Toinha Brasil Show (SOF Sul), a perna brasileira da atual turnê, intitulada Act II. Disse o Aldair Playboy: tamo junto, Safadão! Pois o Na Praia ainda nos reserva, para a quinta-feira, 6 de setembro, a festa Kuta, com o sortudo ex-Garota Safada Wesley Safadão. Direto do túnel do tempo: naquele distante 2015, o cantor nascido em Fortaleza lançou seu primeiro álbum solo, intitulado Ao vivo em Bra-
o charme, ok? A dupla de DJs JetLag ajuda a animar o regabofe. Já que é para enfiar o pé na jaca, que tal fazê-lo com estilo? Livrando-se de qualquer preconceito, pois o importante é ser feliz, os mais ousados diriam que o lance é cair de cabeça na Micarê da Farra, em pleno feriado de 7 de setembro, no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha. Nesse dia, a cobiçada Pabllo Vittar dá as caras e é a principal atração do trio elétrico no circuito fechado, como anunciam os promotores do evento. Em tempo, o novo single de Pabllo Vitar chama-se O problema é seu. Quer um aperitivo de Pink Floyd, enquanto Roger Waters não vem? A pedida é a banda iFloyd, dia 8 de setembro, no Toinha Brasil Show. É cover de PF, mas não um cover qualquer. Pink Floyd executado com excelência, apregoam seus realizadores. Cá pra nós, não tem como tocar PF de maneira capenga. A grandiosa música de David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright, para sair à altura, precisa de paixão e um certo virtuosismo musical. No mínimo. Fechando a tampa, digo, a rodada do período, tem Zezé di Camargo e Luciano, dia 14 de setembro, na Bamboa Brasil, danceteria ali pelo Setor Hípico, perto do Zoológico. Os dois filhos de Francisco continuam a saga sertaneja de corações marejados e milhões de discos vendidos.
Biquini Cavadão
VERSO&PROSA Divulgação
Escritor Chigozie Obioma
Pablo Saborido / Veja
Professora Gina Vieira Ponte
TV Brasil
João Silvério Trevisan
Mergulho na realidade POR VILANY KEHRLE
M
ais um evento literário toma conta da cidade. Até o dia 26, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães vai abrigar a 4ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura com o tema “Os outros somos nós”. O maior evento literário da região Centro-Oeste será marcado por encontros com escritores nacionais e estrangeiros, lançamentos de livros inéditos, mesas de debates, seminários, oficinas, apresentações artísticas e uma diversidade de estandes de editoras e livrarias, onde será possível ficar por dentro das últimas novidades do mercado editorial. Sob a direção-geral da produtora cultural Suzzy Souza e curadoria dos jornalistas e escritores Sergio Leo e José Rezende e da tradutora Lídia Luther, a Bienal foi buscar inspiração no escritor Umberto Eco, para quem, no fragmentado panorama da sociedade atual, os livros nos permitem mergulhar na experiência alheia. “Teremos diversos encontros com escritores e escritoras para falar da escrita de mulheres, afrodescendentes, comunidade LGBT, literatura na internet, o futuro das revistas literárias e o turbulento passado recente de países da América Latina”, afirma Suzzy Souza, enfatizando que isso é apenas uma parte da programação, que também vai discutir escritas da periferia, sexualidade, jornalismo investigativo, história, migração, racismo e literatura oral. A 4ª Bienal celebra a professora brasi-
liense Gina Vieira Ponte, que, em 2015, chamou a atenção do Distrito Federal e do país com o projeto Mulheres inspiradoras, implantado numa escola da Ceilândia, que incentiva a leitura de grandes autoras da literatura nacional e estrangeira, ampliando o conhecimento dos alunos da rede pública sobre o real papel da mulher na sociedade contemporânea. O projeto ganhou vários prêmios nacionais e internacionais. Filha de pais pobres e analfabetos, Gina Ponte, que fará a palestra de abertura da Bienal, enfrentou muitas dificuldades para aprender a ler e a escrever. Foi alfabetizada aos oito anos, quando conheceu uma professora que soube compreender suas limitações e se empenhou em sua aprendizagem. Apaixonada por Lygia Fagundes Telles e Guimarães Rosa, confessa que, atualmente, está voltada para autores contemporâneos, em especial mulheres negras, como Conceição Evaristo. Feliz com a homenagem na Bienal, ela diz que a sala de aula é o espaço mais potente para a formação de leitores. “Colocar uma professora em evidência nos faz lembrar o quanto a escola pode ser decisiva no papel de inserir os estudantes no universo da literatura, e a homenagem anuncia a importância da valorização de educadores para que eles cumpram o seu papel social”. A experiência de mergulhar no universo “do outro” será compartilhada por escritores das mais variadas tendências. O nigeriano Chigozie Obioma, autor do
premiado romance Os pescadores, vem pela primeira vez ao Brasil mostrar um pouco das dores e cores do continente africano. João Silvério Trevisan, uma das principais vozes da escrita LGBT no Brasil, vai discorrer sobre o significado da homossexualidade no universo literário. Daniel Munduruku vai comentar a literatura produzida a partir da perspectiva indígena. A uruguaia Inés Bortagaray e a chilena Lina Meruane vão pôr na mesa a tensão que domina suas escritas. O argentino Patricio Pron e o colombiano Juan Gabriel Vásquez vão refletir sobre a história do continente latino-americano. Maria Valéria Resende e Luis Ruffato voltarão o olhar para os marginalizados urbanos e Cildo Meireles, um dos grandes nomes das artes plásticas brasileiras da atualidade, vai conversar com o curador e pesquisador Diego Matos sobre arte contemporânea. O Espaço Z, dedicado às crianças e jovens amantes das novas tecnologias, o Espaço HQ, com importantes nomes dos quadrinhos nacionais, o Cine BieNow e o Café Literário são outras atrações interessantes do evento. Os lançamentos das obras de 24 autores do Distrito Federal vão acontecer na Banca da Conceição, um espaço nas dependências da Bienal comandado pela cronista da Roteiro Conceição Freitas. 4ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura Até 26/8, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com entrada franca. Mais informações: www.bbll.com.br.
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QUEESPETÁCULO
Teatro
engajado
Tijuana
POR LÚCIA LEÃO
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urante 13 dias, a partir de terçafeira, 21, Brasília vai pulsar teatro. Trinta espetáculos de vários cantos do país e do exterior vão ocupar nove salas e cinco praças públicas no Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia, Gama, Itapoã, São Sebastião e Recanto das Emas e colocar em cena reflexões sobre o preconceito e o ódio e a defesa intransigente das liberdades individuais e de expressão. Afinal, como destaca o curador Alaôr Rosa, esse é o Cena Contemporânea. Mas, sem perder a ternura, preservará o espaço da utopia, do sonho e das viagens lúdicas, imprescindíveis para a alma humana. “Queremos reafirmar nosso compromisso com a proteção dos direitos e das liberdades individuais e das minorias, apresentando criações que usam a linguagem da cena como veículo de expressão de inquietações e desejos e são espaço para a discussão de temas relevantes como violência, preconceito, desigualdade e fa-
natismo religioso, fazendo isso sempre de forma inventiva e brilhante. Mas sem abandonar os territórios lúdicos dos sonhos. Afinal, como dizia Nietzsche, a arte nos ajuda a não morrer da verdade”. Esta é a 19ª edição do Cena Contemporânea, a terceira consecutiva em que prioriza o teatro engajado, direcionando os refletores a reflexões sobre democracia, igualdade de direitos, tolerância, violência, pedofilia, depressão, preconceito e cerceamento de liberdades, que fazem parte dos debates contemporâneos no mundo. “O festival montou uma programação que, nestes tempos em que sopram ares de ódio e intolerância, reafirma a livre expressão do pensamento como valor natural e fundamental de cada ser humano”, explica Alaor. Nesse recorte, com os temas de direitos de expressão, conservadorismo, homofobia, fanatismo religioso, marginalização, abuso e violência sexual, destacam-se os espetáculos Lo único que necesita una gran actriz (México), adaptação livre de As criadas, de Jean Genet, sobre a humi-
lhação imposta a pessoas em situação vulnerável; Tom na fazenda (Rio de Janeiro), sobre homofobia, Lili Marlene (São Paulo), Ícaro (Rio Grande do Sul), Tartufo-ME (Amazonas), sobre fundamentalismo religioso, e Domínio público (São Paulo), sobre liberdade de expressão. Este último reúne os quatro artistas que sofrerem censura e represálias ao longo de 2017: o ator Wagner Schwartz, que foi tocado por uma criança durante a performance La bête, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e a coreógrafa Elisabete Finger, mãe da criança, que sofreram uma avalanche de acusações e ameaças por parte de grupos conservadores; Renata Carvalho, atriz que teve sua peça O Evangelho segundo Jesus, rainha do céu censurada e foi impedida de se apresentar por ser travesti e interpretar Jesus Cristo; e Maikon K, que foi detido e teve seu cenário danificado na frente do Museu Nacional de Brasília durante a performance DNA de DAN, em que se apresentava nu dentro de uma bolha. “Fizemos questão de apresentar esse espetácu-
José Limongi
lo no auditório do Museu Nacional da República, cenário de uma dessas agressões bárbaras à liberdade de expressão”, diz Alaor. Também o espetáculo Autópsia – A continuação, do grupo brasiliense Sutil Ato, aborda desemprego, desigualdade, racismo, homofobia, violência, opressão, sonhos, esperança e liberdade numa dramaturgia autoral desenvolvida a partir da obra do dramaturgo Plinio Marcos e entrevistas com presidiários e recicladores de lixo da cidade Estrutural. Com temáticas mais propriamente políticas, os destaques são os espetáculos Casco azul, chileno, sobre a ação de integrantes das forças de paz da ONU, o pernambucano Dinamarca, que se inspira em Shakespeare para falar da desesperança e alienação dos jovens e do conceito nórdico de hygge, traduzido como aconchego; e o mexicano Tijuana, fruto da experiência que o ator Gabino Rodríguez viveu por seis meses como clandestino em Tijuana (Baixa Califórnia), trabalhando em uma fábrica e vivenciando o cotidiano de uma das localidades mais visadas pelo política antimigratória do presidente Trump. Imagéticos e experimentações A par das produções engajadas, o Cena Contemporânea programou dois grandes espetáculos estrangeiros que se destacam pelo apelo visual e utilização simultânea de diferentes recursos cênicos e técnicas de interpretação. A Bergman affair, da França, baseada no romance Confissões privadas, de Igmar Bergman, mescla teatro, dança, bonecos e vídeo. Os atores são bonecos manipulados por dançarinos. Já o espanhol Alícia después de Alícea usa a projeção de imagens animadas para criar o cenário do mundo interior de Alice, aqui a personagem de Lewis Carol aos 40 anos, uma violinista com dilemas existenciais, sobre as contradições entre o dever e o sonho e a destruição dos seus ídolos de infância. “Nós só pudemos programar esse espetáculo, que demanda um palco grande e bem equipado, para o Teatro Paulo Gracindo, do Sesc do Gama. Parece incrível, mas esse é, hoje, o único grande teatro de Brasília”, observa Alaor. O experimentalismo vem da Argentina, com a peça Shakespeare Inédito, uma montagem da Liga Professional de Im-
Bruna Valença
Tom na Fazenda
Dinamarca
provisación que propõe uma construção interativa e ao vivo do espetáculo a partir de vários textos e personagens de Shakespeare. Os espectadores decidem que personagem e que trecho do texto do dramaturgo inglês deve dar início ao espetáculo, que vai sendo construído pelo elenco e pelo público. Personagens icônicos como Hamlet, Julieta, Ricardo III, Lady Macbeth e Desdêmona estarão simultaneamente em cena e passearão por todas as narrativas shakespearianas de
acordo com comandos do diretor Ricardo Behrens, que, da acordo com a reação da plateia, determinará o rumo da dramaturgia, a iluminação e os climas musicais, resultando, a cada função, em uma história diferente. Está programada ainda a co-produção hispano-brasileira Jardin de invierno, espetáculo de dança da Cia. Cielo Raso que explora as diferentes dimensões do grito e do silêncio. A companhia, hoje sediada no País Basco, foi fundada em
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Gustavo Gavotti
QUEESPETÁCULO
2009 pela união da brasileira Teatro de Açúcar com a basca Igor Calonge, que se conheceram em edições anteriores do Cena Contemporânea. “Proporcionar esse intercâmbio é um dos grandes objetivos do festival. A Cielo Raso é um desdobramento muito representativo desse trabalho. Desde que foi criada tem construído uma carreira brilhante e participado de turnês pela Espanha, França, México, Brasil, Argentina e Panamá”, orgulha-se o curador do Cena. E na pauta do Cena está não só o intercâmbio, mas também formação e reciclagem de profissionais. Paralelo às apresentações o festival oferece este ano 300 vagas para oficinas e workshops, em parceria com as faculdades de teatro da UnB e Dulcina de Moraes, e encontros com curadores dos principais festivais de artes cênicas do Brasil e também da Polônia, do Irã, da Argentina, da Espanha, do Chile e da França.
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Um infantil no gran finale O Cena Contemporânea, que começa dia 21, no Teatro do CCBB, com o monólogo Instabilidade perpétua, texto baseado no livro homônimo do filósofo paulista Juliano Garcia Pessanha interpretado pela atriz Soraya Revende, terá seu gran finale com o espetáculo infantil Salve, Malala. A partir da biografia da jovem paquistanesa Malala, Prêmio Nobel da Paz, a companhia paulista La Leche cria a história de um encontro entre o Brasil e o Paquistão através da educação. A peça terá lugar na Sala Funarte, nos dias 1º e 2 de setembro. Entre um e ou-
tro, muita história! Como a de Buda, numa belíssima montagem infantil da Banda Mirim, de São Paulo, e até histórias que ainda serão contadas pelos passantes das ruas de Brasília que se depararem com atriz gaúcha Luciana Paz e sua trupe de 30 atores. Eles estarão circulando pela cidade a performance Ouvidoria, que vai ouvir e reverberar o que as pessoas tiverem a dizer. A coordenação geral do Cena Contemporânea é de Michele Milane, a quem coube toda viabilização e logística, principalmente a mágica de garantir sua realização com um corte de R$ 400 mil no orçamento, referentes à perda do patrocínio da Petrobras – ele custará R$ 1,1 milhão este ano, contra R$ 1,5 investidos na edição passada. As apresentações acontecerão no
Shakespeare inédito
Teatro do CCBB, na Sala Plinio Marcos da Funarte, nos teatros do SESC no Plano Piloto (Garagem), Ceilândia, Taguatinga e Gama, no Museu Nacional, no Teatro dos Bancários e na Sala Adolfo Celi da Casa D’Itália. Os espetáculos em língua estrangeira estarão legendados em telões instalados ao lado do palco. A peça Ícaro, monólogo do gaúcho Luciano Mallmann sobre os desafios impostos aos deficientes físicos, terá tradução em libras, e Buda será acompanhada de áudio-descrição. Cena Contemporânea 2018 – Festival Internacional de Teatro de Brasília
De 21/8 a 2/9 em nove salas e cinco praças públicas no Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia, Gama, Itapoã, São Sebastião e Recanto das Emas. Mais informações: 3349.3937 e www.cenacontemporanea.com. Georgia Branco
Casco azul
Buda
Diego Bresani
Hérik Sousa e Roberto Corrêa
Viagem ao Brasil caipira C
onhecer a saga de um violeiro, recheada de dificuldades e encantamentos, desde o seu nascimento musical, passando por suas paixões e dissabores, suas crenças e religiosidade, até sua velhice, é um sonho agora possível de se realizar. Basta ir ao teatro da Caixa Cultural, no final deste mês, e assistir ao espetáculo O violeiro. A história desse personagem, que faz parte da realidade e do imaginário brasileiros, é contada no palco por meio de textos e músicas, e o guia, o anfitrião dessa viagem, é ninguém menos que Roberto Corrêa, um dos maiores instrumentistas e pesquisadores da viola no Brasil. O espetáculo marca os 40 anos de carreira do artista, natural de Campina Verde, Minas Gerais, mas que começou e fez toda sua carreira apoiado no amor a Brasília e ao Centro Oeste. O que leva um homem simples a se tornar um violeiro e como é esse processo? Existem, mesmo, as histórias de acordos com o Demo em encruzilhadas para aprender a tocar viola? São os dissabores amorosos que fazem nascer as duplas caipiras? Como são os cantos de trabalho criados e repassados pelos violeiros? Todas essas questões, que nunca tivemos quem nos respondesse, serão mostradas com arte e engenhosidade no show escrito pelo próprio Roberto Cor-
rêa em parceria com Juliana Saenger e João Antônio (que também dirige a peça). “Esse projeto começou como uma aula-espetáculo, mas foi crescendo até se tornar um show musical, que mostra não só a vida de um violeiro como a história recente da viola e um Brasil que muito brasileiro desconhece”, afirma o diretor. Nestes tempos de internet, em que tanta informação do mundo todo chega com facilidade à nossa telinha, um passeio no seu próprio país é sempre interessante, garante Corrêa: “Conhecer os cantos de trabalho do Centro-Oeste, as músicas de incelença [cantos ligados à morte no campo], é também uma maneira de nos conhecermos e de conhecer nosso país, nosso mundo”. O espetáculo vai apresentar músicas tradicionais e clássicos do universo caipira, mas também composições novas de Corrêa com parceiros de vários cantos do Brasil, como Siba, Climério Ferreira, Túlio Borges e Néviton Ferreira. O violeiro terá as luxuosas presenças de Badia Medeiros, mestre da viola e guia de folia, de Hérik Souza, que faz o parceiro de dupla caipira, e de um grupo de catira dos irmãos Vieira, de Lago Azul, Goiás. “É um espetáculo recheado de elementos da cultura e da arte caipira e interiorana, que gera encantamento e desperta memórias ancestrais”, define o violeiro. Autor de quatro livros sobre a viola e com 19 álbuns gravados,
Roberto Corrêa é um dos músicos mais respeitados do país. Com sua viola caipira e de cocho, já rodou o Brasil e se apresentou em diversos países, mostrando seu talento. Doutor em música e professor da Escola de Música de Brasília, foi responsável pela inclusão da matéria viola caipira na grade escolar da EMB. No dia 21, terça-feira, a partir das 19h30, ele participará de um bate-papo com artistas, pesquisadores e estudantes de arte e de música sobre a história da viola caipira no Brasil e os caminhos que transformaram a viola ibérica de cordas dedilhadas em instrumento brasileiro. Vai ser na sala multiuso da Caixa Cultural, com entrada franca. O violeiro
Dias 24, 25 e 26/8 no teatro da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, Quadra 4). Duração: 80min. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Classificação indicativa: livre.
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POR VICENTE SÁ
Seu Badia Madeiros
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
Pequena notável POR VICENTE SÁ FOTO LÚCIA LEÃO
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ão seria estranho dizer que a vida da poetisa Noélia Ribeiro é um livro. Um livro ainda não terminado e que, somente de quando em quando, e para alguns, ela abre. Esta é uma das vezes que isso acontece. Então, vamos aproveitar. Nas primeiras páginas, entre desenhos infantis e palavras rabiscadas, podemos ver uma menina pernambucana, recém-chegada ao Rio de Janeiro, a ouvir o programa Música na passarela, da Rádio Tamoio, e a reler os poucos livros que cabiam no apartamento de um cômodo em que morava com a mãe, os dois irmãos mais velhos e uma tia. Podemos, também, vê-la, aos dez anos, na repartição da mãe. Percebemos que ela escreve quadrinhas que rimam com os nomes das mulheres que ali trabalham e que elas se encantam
com isso. E podemos vê-la, logo na página Este último musicou um poema de Noéseguinte, por conta de seus versos, galia, que venceu o mais conhecido festival de música estudantil da época: o do colénhando um pequeno caderno para anotar seus poeminhas. gio Elefante Branco. Mais à frente, a vemos chegar em BraNo final dos anos 70 ela participa com a amiga Gerti da Coopo – Cooperativa de sília e quase se perder na imensidão do Compositores e Poetas. O movimento viaapartamento de três quartos da 109 Sul. Ela está com 12 anos e tem como vizinha biliza, durante um final de semana, shows uma loirinha de sua idacom mais de 30 jovens artisde, Gerti Egler, que tamtas locais que, surpreendenAgora que tudo temente, lotam o teatro do bém escreve poemas e será sua primeira leitora e meacabou, retiro o Sesc, no final da Asa Sul. Nessas três noites, por deslhor amiga para sempre. que eu disse: nada conhecimento, eles “invenEntre as estripulias de adolescente, como os natam” os shows poético-musiNoélia Ribeiro moricos e as visitas à amicais, para deleite de uma ciga pelas lajes das janelas, dade que ainda engatinhaos livros e a poesia sempre junto a torva na sua arte. “Se alguém já fazia espetáculos com nam uma mocinha pra lá de especial. um poeta e um músico dividindo o palco, Ao final da adolescência, enamorouse nós não conhecíamos. E foi ótimo, pois do poeta Nicolas Behr e conheceu a turmuitos artistas fizeram sua estreia ali, coma do mimeógrafo e da música: Sérgio Duboc, Aldo Justo, Léa Costa e Abrahão. mo João Bahiano, Paulo Kauim, Nonato
Veras, Wellington Diniz, eu mesma e a Gerti”, lembra a poetisa. Por esse tempo, na Nave Louca – uma casa alugada por músicos e poetas no final da Asa Sul – nasce o grupo Liga Tripa, que se inspira na geração mimeógrafo e sai às ruas mostrando uma música nova e uma poesia com a cara da cidade. Entre as músicas, um poema de Nicolas Behr, dedicado a Noélia e musicado por Nonato Veras, vira hino e ela se torna musa do movimento. Travessia do Eixão ou Nonô, como é mais conhecida, é sucesso do Liga Tripa até hoje, cantado obrigatoriamente em todas as suas apresentações. Ao virarmos mais uma página, vemos Noélia participando do livro Salada mista, em parceria com José Sóter e Paulo Tovar, outros dois poetas expoentes da época. Dois anos depois, ela lança seu primeiro livro-solo, Expectativa. O livro tem boa receptividade e sua carreira de poetisa parece encaminhada. Mas o destino dá voltas e as páginas seguintes nos mostram uma Noélia estudando letras na UnB e deixando a turma da arte meio de lado. Depois a vemos casando, trabalhando e cuidando dos filhos, sendo, é claro, sempre seguida de perto por
Poemação, no CCBB e no Açougue Culuma poesia silenciosa e discreta. tural T-Bone, da Asa Norte. E assim, aos poucos, novamente a Sua vitalidade impressiona. Faz shows poesia vai chegando, sentando-se mais com Célia Porto em vários teatros, participerto da mulher e mãe. Depois, já anpa de encontros e solta sua voz onde quer dam de mãos dadas e conversam. Enfim, que a convidem. E talvez, pelo tanto que em 2009, Noélia lança Atarantada, com faz, Noélia é indicada e ganha o prêmio um estrondoso sucesso de crítica e públiFAC 2017 – Igualdade co. E, por conta das rede Gênero na Cultura, des sociais de internet, A fila andou, mas eu da Secretaria de Cultura passa a conversar com Distrito Federal, um um mundo de escritonão saí do lugar que do justo reconhecimento a res de todo o Brasil e a abrir novos caminhos escolhi para te amar quem tanto fez e está fazendo por aqui. para sua poesia. Noélia Ribeiro Agora, chegamos às Quando sai seu terpáginas do livro que esceiro livro, Escalafobétitão apenas rascunhadas ca, ela já é reconhecida não só aqui como em caligrafia rápida. Com algum esforno Rio e em Porto Alegre. O quarto, Espeço, conseguimos ler que um novo livro vitada, tem a mesma recepção e Noélia se está sendo preparado, novos saraus virão firma como uma poetisa de força e estilo e muitas capitais do Brasil conhecerão próprios, já madura e com a mão firme. essa pequena notável. O certo é que o liSua poesia forte e suave, feminista e fevro dela, como o nosso, ainda está sendo minina, passa a ser ouvida por todo o quaescrito. Só nos resta continuar lendo no dradinho, no Sarau do Bacurau, no Redia a dia. canto das Emas, no Sarau Complexo, em E para os que ainda não conhecem o Samambaia, na Casa da Essência, do Crutrabalho de Noélia Ribeiro ou estiverem zeiro, na Tribo das Artes, de Taguatinga, com saudades, o endereço de seu site é: no Sarau Psicodélico e, é claro, em aprewww.instagram.com/noeliaribeiropoeta. sentações no Plano Piloto, onde mora, no
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As artimanhas do poder Filme que subverte a visão idílica de que a vida de príncipes e princesas é um conto de fadas estreia em Brasília trazendo em seu elenco o grande ator Lambert Wilson. POR SÉRGIO MORICONI
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ilme exuberante sob vários aspectos, Troca de rainhas aborda o tema dos casamentos arranjados para resolver conflitos entre países. O assunto já foi explorado um cem número de vezes no cinema, mas nunca com a eloquência dessa elegante produção dirigida por Marc Dugain. O realizador é também escritor e teve um de seus livros, La chambre des officiers, levado às telas por François Dupeyron em 2001. Curiosamente, Troca de rainhas não foi escrito por ele, mas por Chantal Thomas, certamente porque essa obra tem tudo a ver com uma das principais preocupações de Dugain, especialmente as relações de poder, ou o poder em si mesmo, e isso tanto em sua produção cinematográfica quanto literária. Neste último filme ele se debruça sobre o Século 18, no momento em que os reinos da França e da Espanha se veem obrigados a consolidar uma paz duradoura depois de anos de guerra. A circunstância histórica retratada em Troca de rainhas se dá no ano de 1721, quando Philippe d’Orléans (Olivier Gourmet), então regente da França, pro-
põe ao rei da Espanha, Philippe V (Lambert Wilson), um casamento entre o herdeiro do trono francês, Luís XV (Igor Van Dessel), de 11 anos, e a incrivelmente jovem infanta espanhola Anna Maria Victoria, de quatro anos (!) Os atores mencionados estão ótimos e cenário e figurinos são o que podemos chamar de luxuriantes. O diretor, entretanto, não se basta só disso. O enredo é suficientemente extravagante para manter o interesse do público. Philippe d’Orléans, o rei da França, não pára por aí: ele também propõe dar a filha, Miss de Montpensier, de 12 anos, como esposa para o Príncipe das Astúrias, herdeiro do trono espanhol, fortalecendo assim ambas as monarquias e consolidando o fim do conflito entre os dois reinos. A reação em Madri é entusiasmada e as coisas são rapidamente postas em prática. O fato histórico da “troca de princesas” (título original do filme) ocorreu nos primeiros meses de 1722, com grande pompa, numa pequena ilha de um rio franteiriço entre os dois países. Dugain passa então a desenvolver os dramáticos desdobramentos posteriores ao acordo. Dugain navega bem nas águas do ci-
nema e da literatura, versatilidade até certo ponto incomum. Não se pode dizer que Troca de rainhas seja um filme “literário”, expressão pejorativa, normalmente alusiva a um tipo de cinema verborrágico e pouco cinematográfico. Ao contrário, essa é uma produção de grande beleza plástica, aspecto que não se sobrepõe ao interesse do diretor por um tema que lhe é caro. Dugain nasceu no Senegal, filho de um funcionário da administração colonial da África ocidental francesa. Muito do seu interesse por dramas relacionados a circunstâncias históricas se deve a episódios de sua infância. Por exemplo, quando visita a França ainda criança, aos sete anos de idade, acompanha seu avô em visitas à Casa de Mutilados de Moussy-le-Vieux, instituição que acolhia soldados que lutaram na Primeira Grande Guerra e que retornaram com rostos desfigurados no conflito. Essa experiência dá origem a seu primeiro romance, La chambre des officiers, mencionado anteriormente, livro muito baseado na vivência do avô, testemunha das dolorosas tentativas de reinserção social de colegas mutilados. Por detrás da suntuosidade e beleza
Troca de rainhas
Bélgica/França, 2017, drama histórico, 100 min. Direção: Marc Dugain. Com Lambert Wilson, Olivier Gourmet, Igor Van Dessel, Juliane Lepoureau, Anamaria Vartolomei.
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plástica de Troca de rainhas existe uma perversidade subjacente, subterrânea. Seria um erro considerar o tratamento luxuoso, o esplendor das imagens do filme, seu lado pomposo, como um mero exercício frivolo de estilo. Dugain sufoca seus personagens, vítimas de um cerimonial do qual não podem escapar. Não há espontaneidade de gestos, falas, comportamentos, entre os membros da corte. São todos trejeitos calculados, mímicas, como num ritual de marionetes. Um sopro de espontaneidade se insinua entre os pé-rapados, e também um pouco na perplexidade de Luís XV, cuja vida, dada a tenra idade, ainda não aconteceu. O que ele viu, até os seu 11 anos de idade, foi uma sucessão de lutos, de ambição desmedida e depravação. Ele próprio, mal escapado da morte, se preparava para assumir o trono em meio a um turbilhão de complôs e manipulações. Imaginem essa criança, criada pela governanta, Duquesa de Ventadour, ser confiada, aos sete anos de idade, a um governante, o marechal Villeroi, que o submete às obrigações de etiqueta de cerimônias intermináveis. Como defesa, Luís vai aprender a dissimular seus sentimentos, desenvolvendo uma natureza, embora majestosa, fria e reservada. Não há um pingo de sentimentalismo em Troca de rainhas. Apenas uma farsa trágica, fria e cortante como uma lâmina de aço. Dugain não está interessado na posteridade do bisneto de Luís XIV, o Rei Sol. Nem em certa properidade do reino que vem com a maioridade do novo monarca. Muito menos na série de equívocos cometidos posteriormente, como a influência política exercida por suas sucessivas amantes, sobretudo Madame de Pompadour e a Duquesa Du Barry, e, principalmente, sua regressão conservadora, proibindo a obra dos enciclopedistas, entre eles Diderot, aos quais apoiara inicialmente. Mas, para Dugain, a principal vítima do hipócrita jogo de aparências da corte é Louise Elisabeth (Anamaria Vartolomei), filha do regente, cuja insolência, homossexualidade e péssimas maneiras vão receber talvez a maior parcela de ternura e simpatia do diretor.
Lúcio Flávio, o passageiro da agonia
Barra mais que pesada
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etetives existencialistas, mulheres fatais, chefões, corrupção, a dureza das grandes cidades. Estes são alguns dos principais elementos das tramas clássicas policiais. O imortal gênero cinematográfico está presente na produção brasileira desde sempre. Aqui ele ganha idiossincrasias a partir de outros temperos e cenários, tendo como principais dispositivos os problemas sociais e suas violentas consequências. Um abrangente panorama do cinema policial brasileiro poderá ser visto no CCBB de 21 de agosto a 6 de setembro. A mostra No rastro do crime – Cinema policial brasileiro exibirá 25 longas-metragens produzidos no Brasil entre 1949 e 2007, começando por Dominó negro, de Moacyr Fenelon, e finalizando com o premiado e discutido Tropa de elite, de José Padilha. Com curadoria de Pedro Henrique Ferreira, a mostra é composta por uma seleção de filmes que refletem diversos momentos da história recente do país. “O cinema policial brasileiro tem raízes nos folhetins, no sensacionalismo e no culto às figuras de criminosos ou policiais reais que ganharam projeção na mídia. É o caso de praticamente todos os filmes desta retrospectiva”, explica o curador. A mostra compõe um mosaico diverso e comprova que o cinema policial brasileiro se adapta também ao estilo e ao espírito de cada época. Dominó negro é um melodrama noir, em alta nos anos de
1940 e 1950, que tem como cenário o carnaval carioca. O clássico O assalto ao trem pagador (1962), de Roberto Farias, é impregnado de elementos do Cinema Novo. Mas é na década de 1970 que a violência explode nas telas brasileiras, espelho de um país mergulhado no autoritarismo da ditadura em contraste com o erotismo, o consumo de drogas pela classe média e os grupos de extermínio. Dessa época são Lúcio Flávio – O passageiro da agonia, de Hector Babenco, e Barra pesada, de Reginaldo Farias, ambos de 1977, além do policial tropicalista A rainha diaba (1974), de Antonio Carlos Fontoura, e de O caso Cláudia (1979), de Miguel Borges, baseado no assassinato da jovem de classe média Claudia Lessin Rodrigues. Outro destaque é o hoje obscuro A extorsão (1975), de Flávio Tambelini, estrelado por Paulo César Pereio e Kate Lyra, provavelmente o melhor exemplar da série de filmes sobre sequestros realizados naquele período. Na década de 1980, o cinema noir clássico foi revisitado e ganhou cores, sendo apelidado até de neon-noir, com a cidade de São Paulo como cenário recorrente. A mostra traz dois ótimos exemplos do gênero com A dama do Cine Shangai (1983), de Guilherme de Almeida Prado, e A próxima vítima (1983), de João Batista de Andrade, baseado em uma onda de assassinatos de prostitutas que assolou o bairro do Brás.
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Divulgação
LUZCÂMERAAÇÃO
À procura de mulheres chefs
Questões de gênero na cozinha POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO
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á faz tempo que, na bela Pirenópolis, um festival de pequeno formato encanta o público. É produzido de maneira quase doméstica, daquelas que fazem a gente se sentir em casa, pronto pra sentar, tomar um cafezinho e bater um papo. Mas também é daquelas sem trava na língua, que não deixam de tocar nas mais doídas feridas da humanidade, sempre oferecendo alternativas sustentáveis. Assim se pode definir o Slow Filme – Festival Internacional de Cinema e Alimentação, que chegará à sua nona edição de 13 a 16 de setembro. Realizado pelas jornalistas Gioconda Caputo e Carmem Moretzsohn, da Objeto Sim Projetos Culturais, o festival alia cinema e gastronomia, com inspiração nos princípios do movimento slow food. Com idealização e sob a curadoria do cineasta, professor, crítico e programador de cinema Sérgio Moriconi, costuma exibir filmes quase sempre inéditos no Brasil. E com o charme de serem acompanhados de conversas com seus realizadores ou com especialistas, seguidas de deliciosas degustações. Tudo de graça, digase de passagem. Não à toa, a pequena cidade a 150 km de Brasília costuma encher durante o festival. Para o 9º Slow Filme, o tema escolhido está em consonância com debates que mobilizam a sociedade. O festival
quer falar de cozinha e gênero e perguntar: por que as mulheres comandam as panelas em ambientes domésticos, mas encontram imensos obstáculos na hora de se firmarem como chefs, liderando equipes profissionais em importantes restaurantes? E como resposta estão filmes como À procura de mulheres chefs, da francesa Vérane Frédiani, que viajou por todo o mundo para encontrar mulheres chefs, sommeliers, ativistas, que promovem o desenvolvimento sustentável e lutam para expandir o papel das mulheres na sociedade. E também Soufra, curiosa coprodução Estados Unidos-Líbano sobre uma mulher que passou toda a vida num campo de refugiados e lá mesmo criou, com outras amigas, uma incrível empresa de food truck especializada em comida tradicional. A programação inclui 11 filmes e o assunto vai passear por outros campos. Como em Meridiano do vinho, o premiado filme de Nana Jorjadze que mostra a produção de vinho na Geórgia, ainda seguindo os métodos tradicionais de oito mil anos atrás (a Geórgia defende ser o berço do vinho). O filme conquistou prêmios por onde passou, mas permanece inédito no Brasil e a exibição só está sendo possível graças à parceria do festival com a Embaixada da Geórgia. Para coroar a noite de exibição, o público será convidado a degustar os autênticos vinhos georgianos.
É também graças ao apoio de outra embaixada – a da Itália – que o Slow Filme poderá exibir outros três títulos, com destaque para Sou eu que cozinho!, uma produção do Slow Food Napoli, que recupera sabores e cores da tradição gastronômica napolitana. Depois do filme, degustação de vinhos e petiscos italianos. Aliás, as representações diplomáticas estão sendo fundamentais para a realização da nona edição de Slow Filme. A mentira verde, filme que discute o marketing das grandes corporações em torno da ecologia e sustentabilidade de seus produtos, só está na programação graças à parceria da Embaixada da Áustria. É também o caso de A busca do chef Alain Ducasse e do já citado À procura de mulheres chefs, possíveis graças ao apoio da Embaixada da França, de Ama-san (sobre mulheres mergulhadoras do Japão), pela Embaixada de Portugal, e de Churrasco, graças à Embaixada da Austrália. Na grade estará ainda o brasileiro Atum, farofa & spaguetti, com uma verdadeira viagem às raízes da gastronomia nacional. O festival é curto: vai de quinta a domingo, no Cine Pireneus. Além das exibições e degustações, inclui uma oficina que vai esmiuçar as receitas das quitandeiras da região, indo às raízes dos sabores goianos e recuperando sua memória afetiva. 9º Slow Filme
De 13 a 16/9 no Cine Pireneus (Rua Direita, Pirenópolis). Mais informações: 3443.8891, 3242.9805 e www.objetosim.com.br.
Cine
ParaDizo TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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izo Dal Moro foi, e segue sendo, uma das pessoas mais presentes e queridas no meio cinematográfico de Brasília. Na última década, integrou as equipes de algumas das maiores produções da cidade. Morreu em outubro do ano passado em um acidente automobilístico, quando retornava do 1º Festival de Cinema de São Jorge, e hoje dá nome ao primeiro cine clube a céu aberto da cidade, o Cine ParaDizo, que desde o mês de maio reúne uma plateia de amantes da sétima arte e de transeuntes desatentos que acabam hipnotizados pela imagem em movimento projetada na grande tela suspensa na parede do Bloco A da movimentada comercial da 407 norte. “Era a melhor homenagem que poderíamos fazer ao Dizo: colocar o cinema na rua, da forma mais ampla e democrática possível. Brasília já é o terceiro polo de produção cinematográfica do país, mas segue com pouquíssimos espaços de exibição”, explica o cineasta Reginaldo Gontijo, dono da produtora Digitalina e responsável, junto com a sócia Niria Dias (os dois na foto abaixo), pela criação do cine clube. Amigo de Dal Moro desde
Vladimir Carvalho compareceu à exibição do seu documentário Barra 68.
que os dois cursaram a UnB, Gontijo foi também seu último parceiro profissional em O colar de Coralina, película infantil baseada na obra da poeta Cora Coralina que entra em circuito comercial no dia 12 de outubro. No molde mais tradicional dos clubes de aficionados por cinema, o Cine ParaDizo programa preferencialmente filmes fora do circuito comercial e considerados “clássicos” pela importância estética e/ou histórica reconhecida. A projeção é sempre acompanhada de um debate sobre a obra. E foi um hors concurs, o emblemático Limite, de Mário Peixoto, filmado em 1931, o escolhido para inaugurar o projeto. Não apenas por ter sido eleito em 2015, pela Abraccine (a Asso-
ciação Nacional dos Críticos de Cinema), a melhor película nacional de todos os tempos, mas pela história pessoal de Gontijo com Mário Peixoto. Nos idos da década de 1980, ele e um grupo de jovens estudantes de cinema da UnB conseguiram agendar uma entrevista com o diretor, que então vivia recolhido na cidade de Paraty. Lá, eufóricos com a façanha, gravaram mais de 12 horas de depoimentos, que depois vieram a descobrir tratarem-se, quase todos, de invencionices e brincadeiras. No dia da apresentação de Limite, Gontijo se divertiu com a história e anunciou que esse material bruto está à disposição de quem queira criar um roteiro fantasioso utilizando as falas do mestre. Depois de Limite o Cine Clube exibiu Barra 68, de Vladimir Carvalho, com direito a um bate-papo com o diretor e com o sociólogo José Alves Donizeth, que vivenciou a invasão da UnB, tema do documentário. Depois veio Fuga sem destino, de Afonso Brazza, apresentado pelo cineasta Pedro Lacerda. A próxima exibição será da película Uma loucura de mulher, de Marcos Ligocki Jr., dia 28 de agosto. Para setembro está programado o documentário Bianchetti, do cineasta Renato Barbieri, e para outubro Eudoro e o logos Heráclito, de Reginaldo Gontijo e Luiz Fernando Sussiati. As sessões acontecem sempre na última terça-feira do mês, a partir das 20 horas.
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
conceicaofreitas50@gmail.com
Uma cidade escondida
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eiscentos quilômetros de chapadões, jardins de pedra, serras, céus e êxtases separam Brasília de Natividade, no Tocantins. O nome é perfeito para o que se verá depois de 600 km de estrada (primeiro pela GO-118, depois, pela TO-50, a rodovia Coluna Prestes): uma cidade-modelo do que foi a urbanização singela, inteligente, delicada e acolhedora do período colonial brasileiro. Natividade é tão antiga quanto Pirenópolis e a Cidade de Goiás, porém menos ambiciosa e mais protegida do turismo devorador. O Lucio Costa de Natividade eram muitos e não quiseram construir monumentalidade. Criaram uma cidade horizontal, quase colada ao chão – como se a serra que a contorna fosse um altar. O conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico de Natividade foi tombado em 1987 – no mesmo ano em que a Unesco declarava Brasília patrimônio da humanidade.
São 260 unidades arquitetônicas tombadas – o casario, as igrejas, as praças. Casinhas grudadas umas nas outras, nenhuma querendo ser melhor do que a outra, mas revelando sutis diferenças. Todas na mesma escala, seguindo o telhado dos vizinhos, como se fossem muitos, mas fossem apenas um. Algumas diferenças nas fachadas se devem aos dois distintos períodos prósperos: o da mineração do Século 18, mais despojado; e o da pecuária que, no Século 19, trouxe riqueza à região. Esse se revela em ornamentações no frontispício e entalhes na madeira das janelas e das portas. Tudo ali deixa parecer que não havia gente nem muito mais rica nem muito mais pobre, e se houvesse renunciava à ostentação. Ruas estreitas, tortuosas, sempre mirando a serra. Becos, escondidinhos, segredos, esquecimentos, intimidades. O ouro da serra foi descoberto quase ao mesmo tempo que o ouro de Meia
Ponte, a atual Pirenópolis – por volta de 1730. Contam-se 40 mil escravos no auge do ciclo da mineração. As ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é a marca suprema da existência negra no norte do Goiás, que mais tarde viraria Tocantins. Igreja feita em pedra canga, de cor vermelho-ferrugem. São ruínas de uma obra inacabada e em escala quase monumental, a se comparar com o ao redor. Protegida pelo isolamento – Palmas está a 220 km, mas é uma capital de 29 anos –, Natividade fechou-se em si mesma. Só nas últimas duas décadas, com a chegada do turismo ao Jalapão, a cidade começou a ser descoberta pelos que gostam de vencer lonjuras. Há silêncio e solidão nas ruas do sítio tombado, como uma Pompéia sem Vesúvio. Insulada por mais de 200 anos, Natividade voltou a crescer nos anos 60 do século passado. Ao lado, porém, da cidade colonial. É onde quase tudo funciona – serviços, moradias, o vagaroso existir de um lugarejo de 10 mil habitantes. A Igreja de São Benedito não poderia ser mais econômica e singela no seu traçado. Lembra muito as primeiras construções religiosas dos portugueses no Brasil. Mas também lembra um vestido sem enfeites, um bolo sem cobertura, uma mesa de pedreiro. As pracinhas são acolhedoras – como toda praça deveria ser. Banquinhos, árvores, jardins, cercada de ruas estreitas, de casas enfileiradas e calçadas uniformes. Natividade é a utopia do Século 18. Tem o tamanho de uma cidade feita para as pessoas e para a serra que, acima e ao lado, tudo vê e tudo protege.
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