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O que esperar do pós COVID-19?
Os primeiros estudos revelam as sequelas dos acometidos após 100 dias da doença.
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A pandemia que estamos enfrentando, sem precedentes na história moderna, nos trouxe muitos questionamentos. Um vírus com alto contágio e causador de grande morbidade e mortalidade nos tornou prisioneiros de nós mesmos. Não sabemos, individualmente, como nosso corpo reagirá frente a ofensiva deste inimigo. Pessoas com comorbidades se mostraram mais susceptíveis à doença, no entanto, muitos são os casos de indivíduos saudáveis que sucumbiram.
Recentemente um estudo conduzido em três centros médicos de enfrentamento à COVID-19 na Áustria publicou seus resultados observacionais após 100 dias de acompanhamento de pacientes que necessitaram de hospitalização. Cento e quarenta e cinco pacientes foram acompanhados após a alta hospitalar - 60 dias e 100 dias depois do início dos sintomas.
Como a COVID-19 é uma doença sistêmica, isto é, que afeta o organismo como um todo, diversos testes foram aplicados na condução desta investigação. Testes clínicos e laboratoriais (exames de sangue), provas de função pulmonar, exames do coração (ecocardiograma) e exame morfológico pulmonar (tomografia computadorizada) foram realizados sequencialmente neste grupo de recuperados.
Cem dias depois do início da COVID-19 o sintoma mais prevalente continuou sendo a dispnéia - falta de ar - (36%), seguido de suor noturno (24%), dificuldade para dormir (22%) e perda do olfato (19%).
A avaliação cardíaca realizada por ecocardiograma mostrou uma alta taxa de disfunção do relaxamento do músculo cardíaco - 55% dos pacientes ao final dos 100 dias. No entanto, apenas 4 pacientes apresentaram disfunção na contração do coração, a chamada fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Os testes de função pulmonar mostraram anormalidade em 42% e 36% dos pacientes, respectivamente com 60 dias pós-COVID e ao final do período do estudo. As imagens tomográficas dos pulmões dos doentes mostraram alterações típicas para COVID-19 em 77% dos pacientes ao final dos 60 dias e 63% dos pacientes em 100 dias, sendo os achados mais vistos as opacidades em vidro fosco, consolidações e reticulações. O acompanhamento destes pacientes mostrou uma melhora significativa do dano estrutural com o tempo.
Com estes dados os autores concluíram que importantes alterações clínicas, funcionais e morfológicas residuais na tomografia estão presentes na maioria dos pacientes que tiveram COVID-19 moderada e grave e que estas alterações melhoraram significativamente no período de observação de três meses (100 dias). Eles sugerem que os cuidados de acompanhamento devem ser considerados para pacientes com sintomas clínicos persistentes após o quadro agudo de COVID-19.
Apesar de se tratar de uma doença grave, estes dados reforçam a esperança, juntamente com o recente início da vacinação no nosso país e no mundo. Embora lenta, a recuperação dos acometidos pelas formas mais severas da doença foi observada.
DR. LUCAS E. F. CALAFIORI