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Câncer da próstata

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Câncer da próstata

O câncer da próstata (CaP) é uma das neoplasias malignas mais comuns entre indivíduos do sexo masculino.

No ano de 2019 foram diagnosticados nos EUA mais de 174.000 casos novos, número muito superior ao verificado para câncer de pulmão, historicamente a neoplasia de maior frequência entre homens. No mesmo período, foram registrados aproximadamente 30.000 óbitos decorrentes do câncer da próstata. A chance de um homem ser diagnosticado com CaP ao longo da vida é de 1 para 8 (12,9%) e de morrer por CaP é de 1 para 40 (2,5%). Em todo o mundo se estima que ocorram ao ano cerca de 1 milhão de casos novos de CaP e mais de 300 mil mortes. Com o crescente envelhecimento da população é projetado para 2030 mais de 1.7 milhão de casos novos de CaP com cerca de 500 mil óbitos. O câncer de próstata é raro antes dos 50 anos (2% de todos os casos) sendo a média de idade atual no diagnóstico de 65 anos. Por ser um câncer de evolução relativamente lenta a média de idade para morte por CaP é de 77 anos.

No Brasil, dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimam para o ano de 2020 a ocorrência de aproximadamente 65.800 casos novos de câncer da próstata e cerca de 15.800 óbitos.

Embora seja o câncer de maior frequência entre os homens, quando se avalia mortalidade o CaP fica em segundo lugar, atrás do câncer de pulmão. Esse achado nos mostra a evolução mais lenta do câncer de próstata quando comparado à outras neoplasias.

Fatores de risco para câncer de próstata

A chance de um indivíduo apresentar CaP ao longo da vida é de 1:8. Quando se planeja reduzir a frequência de uma doença na população a primeira coisa a ser feita é estabelecer os prováveis fatores de risco e em um segundo momento reduzir a taxa desses fatores de risco. Um exemplo típico é o câncer de pulmão, cujo principal fator de risco é o hábito de fumar. Se desejamos reduzir as taxas de câncer de pulmão precisamos reduzir o tabagismo. Contudo, no CaP, os fatores de risco mais importantes (idade, história familiar e raça) não são modificáveis.

Idade

Com relação a idade temos uma associação direta entre CaP e faixa etária. O CaP é raro antes dos 40 anos e bastante frequente após os 70 anos. Com o envelhecimento global da população é natural que cada vez mais sejam identificados casos de câncer de próstata.

História familiar

A história familiar é um fator de grande impacto. Trabalhos demonstraram que o câncer de próstata possui forte componente hereditário. Homens que possuem parente em primeiro grau com câncer de próstata apresentam duas vezes mais risco de desenvolver a doença e quando dois parentes de primeiro grau têm diagnóstico de câncer de próstata esse risco é 4,4 vezes maior. Um outro aspecto importante é que os pacientes com história familiar de câncer de próstata frequentemente desenvolvem a doença em uma idade mais precoce quando comparados aos demais indivíduos. A título de ilustração temos que um homem sem história familiar para CaP apresenta um risco teórico de apresentar a doença de 13%. Se o pai desse indivíduo foi diagnosticado com CaP esse risco aumenta para até 35%, se somente o irmão desse paciente apresentou CaP mas o pai não esse risco pode chegar a 54%. Se pai e irmão foram diagnosticados com CaP o risco se eleva para até 96%.

Raça negra

Afrodescendentes apresentam uma frequência de CaP muito mais elevada, a doença tende a ser mais agressiva e se iniciar em idade mais precoce. Por outro lado, asiáticos e indígenas apresentam taxas reduzidas de CaP.

Detecção precoce do câncer de próstata

Embora o câncer de próstata ocorra com maior frequência a partir dos 65 anos é importante que a rotina de detecção precoce seja iniciada com o urologista a partir dos 50 anos. Caso o indivíduo tenha um parente em primeiro grau (pai, irmão) com câncer de próstata a rotina deve ser iniciada aos 45 anos. Uma avaliação prostática básica consiste em exame retal (toque) e dosagem do antígeno prostático específico (PSA) no sangue. Exames adicionais podem ser solicitados de acordo com cada caso. A rotina deve ser realizada anualmente.

Muitos pacientes perguntam se o exame de toque é realmente necessário. Até o presente momento a medicina ainda não conseguiu desenvolver um método 100% eficaz e não invasivo para identificação precoce do câncer de próstata. Embora muitos homens ainda tenham receio, o exame de toque é rápido e indolor. Além disso, é extremamente útil para avaliar o tamanho da próstata e sua consistência detectando eventual presença de nódulos.

Aos 40 Anos

INCIDÊNCIA DA DOENÇA

Aos 50 Anos Aos 60 Anos Aos 70 Anos

1 em 500 1 em 50 1 em 14 1 em 9

Figura 5. Incidência do câncer de próstata de acordo com a faixa etária. Aos 40 anos de idade 1 em cada 500 homens será diagnosticado com câncer de próstata. Aos 70 anos essa taxa se eleva para 1 em cada 9 homens.

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Antígeno prostático específico (PSA)

O antígeno prostático específico (PSA) é uma proteína produzida pela próstata que participa no processo de reprodução. Alterações da arquitetura normal da glândula podem levar à liberação do PSA das células prostáticas para a corrente sanguínea, determinando elevações na sua dosagem.

Desde a introdução do PSA na rotina de detecção precoce do câncer de próstata em 1991, houve uma modificação significativa nas características dos pacientes. Atualmente, 80% dos homens apresentam doença localizada na próstata e as metástases foram reduzidas em mais de 75%. Os tumores identificados somente por alteração do PSA (exame de toque normal) hoje representam mais de 75% do total de casos. Essa migração para o diagnóstico precoce teve grande impacto na sobrevida em 5 anos sendo essa taxa próxima a 100%.

Biópsia da próstata

Sempre que houver suspeita no exame de toque (habitualmente a presença de àrea prostática endurecida ou com nódulo) ou alteração na dosagem do PSA se faz necessário retirar amostras de tecido prostático para análise patológica. Essas amostras são colhidas por meio de biópsia a qual é realizada por via retal sob orientação de ecografia. Somente a análise patológica dos fragmentos retirados da próstata é capaz de fornecer diagnóstico definitivo da presença de câncer. Nenhum tratamento pode ser instituído sem essa comprovação.

Tratamento do câncer de próstata

O tratamento a ser realizado depende da extensão da doença. Para os casos em que a doença está restrita a próstata existem três opções: 1) cirurgia, que consiste da retirada da próstata e vesículas seminais, podendo ser realizada por via aberta, laparoscópica ou robótica; 2) radioterapia externa e 3) braquiterapia. Quando a doença é localmente avançada e não existem evidências de metástases o paciente pode ser submetido a cirurgia e radioterapia. Para os pacientes com metástases no momento do diagnóstico do câncer de próstata emprega-se o bloqueio hormonal que consiste na supressão da produção de hormônio masculino (testosterona)

Tratamento cirúrgico do câncer de próstata

Após a introdução do PSA na rotina de detecção precoce do câncer de próstata houve mudanças significativas nas características dos pacientes: a idade no momento do diagnóstico foi reduzida, em média, 3 anos; o número de casos com diagnóstico somente por alteração do PSA (exame de toque normal) passou para 73-76% e o câncer passou a ser clinicamente restrito à próstata em 75% dos casos. Com o estágio da doença sendo mais favorável surgiu importante tendência ao tratamento curativo do câncer da próstata em detrimento da paliação e observação. Assim, a cirurgia radical passou a ser o tratamento de escolha. Elevadas taxas de cura do câncer são obtidos com tratamento cirúrgico quando a doença é restrita à próstata. As principais complicações da cirurgia são a disfunção erétil que ocorre em graus variados e a incontinência urinária

DR. BERNARDO PASSOS SOBREIRO

CRM/PR 16098 - RQE 10339 Urologia

CURRÍCULO

• Mestre e Doutor em Clínica Cirúrgica - UFPR • Fellow Urologia Hospital das Clínicas - FMUSP • Professor Adjunto de Urologia - UEPG (observada em menor número de pacientes). Contudo, essas complicações são passíveis de tratamento com bons resultados. Após a cirurgia o paciente deverá realizar dosagens periódicas do PSA, para controle. Radioterapia

externa no tratamento do câncer de próstata

Os equipamentos de radioterapia avançaram de forma expressiva nas últimas décadas. Atualmente a radioterapia conformacionada tem condições de aumentar a dose de radiação sobre a próstata com redução significativa de dano aos tecidos vizinhos. Isso é obtido graças ao planejamento prévio realizado por meio de tomografia computadorizada. Todavia, os efeitos da radiação sobre a bexiga, reto e nervos responsáveis pela ereção ainda são observados em número considerável de casos. A escolha do tratamento cirúrgico ou radioterápico no câncer restrito à próstata deve levar em consideração, além das expectativas do paciente, fatores como: idade, condições clínicas e características da biópsia da próstata (volume e agressividade do tumor).

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Quais os cinco cânceres mais comuns no homem. Saiba mais sobre cada um deles abaixo:

De acordo com dados do INCA (2020), os cinco cânceres mais comuns são os de Próstata (29%), Cólon e Reto (9%), Pulmão (8%), Estômago (6%) e Cavidade oral (5%). Abaixo falaremos um pouco mais sobre cada um deles:

CÂNCER DE PRÓSTATA

Este câncer se desenvolve na maioria das vezes a partir dos cinquenta anos, tendo o seu pico de incidência ao redor dos 66 anos. Estatísticas mundiais revelam um risco de até 1 em cada 9 homens desenvolverem a doença. O comportamento do câncer de próstata é pouco agressivo, e quase sempre é tratado no início, sendo curável. Nos casos onde ele se encontra avançado, o tratamento também é muito eficaz hoje em dia e os pacientes vivem durante muitos anos com a doença; sendo que muitas vezes eles vão falecer de outras causas que não propriamente o câncer de próstata.

Os fatores de riscos não modificáveis para desenvolver câncer de próstata incluem o avançar da idade, a etnia (mais prevalente em negros), e o histórico familiar (ter um irmão ou o pai diagnosticados com a doença eleva o risco de alguém também desenvolvê-la), incluindo mutações genéticas em BRCA2.

Dentre os fatores de risco modificáveis estão o alto consumo de carne vermelha e gordura animal, baixo consumo de frutas e vegetais, a obesidade e sobrepeso. Estes fatores podem todos ser combatidos e modificados para reduzir a chance de um paciente ter câncer de próstata. As medidas mais recomendadas para a prevenção do câncer de próstata são a prática de atividade física, a perda de peso e o consumo de alimentos saudáveis.

CÂNCER DE CÓLON/RETO

A grande maioria dos cânceres de cólon/reto nasce de um pólipo que se desenvolve ao longo de anos. Dentre os fatores de risco modificáveis nós temos o sobrepeso/obesidade, o sedentarismo, dietas ricas em gorduras animais, alimentos processados e o tabagismo. Dentre os fatores de risco não-modificáveis, está o histórico de pólipos colorretais, doença inflamatória intestinal, história familiar de câncer colorretal, algumas síndromes genéticas como Polipose Adenomatosa Familiar e Síndrome de Lynch. Novamente, a medida de maior impacto no tratamento do câncer colorretal é o diagnóstico precoce. Para isso ocorrer, é necessária a realização de exame de rastreio, que pode incluir colonoscopia, retossigmoidoscopia e pesquisa de sangue oculto nas fezes. Estes exames visam encontrar e até mesmo tratar cânceres em estágio inicial.

O câncer colorretal pode se manifestar através de sintomas como alternância de hábito intestinal, sangramento nas fezes, estiramento abdominal, dor abdominal, perda de apetite, perda de peso e fraqueza. Após a confirmação do diagnóstico de um câncer de cólon/ reto, o oncologista vai solicitar exames para definir a extensão da doença e a melhor opção de tratamento.

As opções de tratamento variam entre o câncer de cólon e reto nos seus estágios iniciais, podendo o tratamento do câncer de reto ser amparado em três pilares principais (radioterapia, quimioterapia e cirurgia) e o câncer de cólon tratado basicamente com cirurgia e quimioterapia. Na doença avançada/disseminada as opções de quimioterapia e tratamento sistêmico de que o oncologista clínico irá dispor são basicamente as mesmas.

CÂNCER DE PULMÃO

O câncer de pulmão geralmente se desenvolve em pessoas de maior idade, sendo mais comum a partir dos 65 anos. O câncer de pulmão possui a maior letalidade entre todos os cânceres. Isso significa que um paciente diagnosticado com câncer de pulmão possui uma chance de morrer maior do que pacientes com câncer de próstata ou mama, por exemplo.

O principal fator de risco para câncer de pulmão é o tabagismo. E sendo um hábito corrigível, é muito importante que pessoas com o hábito de fumar tentem reduzir ao máximo ou suspender esse vício. Isso é importante não somente para a pessoa que fuma, mas também para a pessoa que fica ao lado, pois os chamados tabagistas passivos (aqueles que respiram a fumaça liberada pelo cigarro do outro) também têm um risco aumentado de desenvolver um câncer de pulmão. Outros fatores de risco modificáveis incluem a exposição a substâncias tóxicas como asbesto, radônio e diversas outras, muitas vezes no trabalho, sem a devida proteção.

O câncer de pulmão não causa sinais e sintomas no início. Geralmente, quando ele incomoda, encontra-se em estágio mais avançado. Pacientes que possuem uma alta carga tabágica podem ser submetidos a exames de rastreamento para câncer de pulmão, como Raio-x e Tomografias de tórax, que permitem encontrar nódulos pulmonares antes de o paciente ter sintomas. Os sintomas mais comuns são tosse crônica, com ou sem sangue, dor no peito, perda de peso e apetite, perda de fôlego, cansaço, rou-

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quidão, e até surgimento de infecções pulmonares como pneumonias.

O tratamento do câncer de Pulmão envolve cirurgia nos estágios iniciais, seguido ou não de quimioterapia e radioterapia. Nos estágios mais avançados o tratamento pode envolver radioterapia, quimioterapia, drogas em comprimido chamadas drogas alvo-moleculares e imunoterapia.

CÂNCER DE ESTÔMAGO

O câncer de estômago costuma acometer homens após os 60 anos. Dentre os fatores de risco que podem ser modificados sabemos que a infecção pela bactéria H.pylori, caso não tratada, aumenta o risco de desenvolver câncer de estômago. Fatores alimentares também estão relacionados a um maior risco para o câncer gástrico, como carnes e alimentos defumados, comidas conservadas em sal, legumes em conserva, e alimentos com conservantes, ricos em nitratos e nitritos. O hábito de fumar também está relacionado a um aumento dos casos de câncer de estômago, assim como sedentarismo, sobrepeso e obesidade. Por razões desconhecidas, sabemos que pessoas com o tipo sanguíneo A também possuem risco aumentado de terem câncer de estômago, assim como pessoas que herdam algumas alterações genéticas de seus antepassados com histórico de câncer.

Para ajudarmos a prevenir o câncer gástrico é importante consumirmos alimentos frescos, verduras, frutas e legumes, mantermos o controle do peso adequado e praticarmos atividade física, evitando o hábito de fumar e tratando a infecção pelo H.pylori.

O câncer de estômago raramente causa sinais/sintomas no estágio inicial, por isso a dificuldade de detectá-lo precocemente. Conforme vai crescendo, a doença pode causar sintomas como perda de apetite e perda de peso, sensação de destacamento abdominal ou dor, náusea, fraqueza e alteração na cor das fezes. Caso o câncer de estômago seja uma suspeita, o médico irá solicitar uma endoscopia digestiva, o qual é o exame de escolha para diagnosticar o câncer de estômago.

Quando diagnosticado em estágios precoces, o câncer de estômago pode ser tratado apenas com cirurgia, podendo receber como tratamento complementar radioterapia e/ou quimioterapia dependendo de cada estágio. Quando detectado com doença metastática, o tratamento baseia-se, na sua grande maioria, em quimioterapia, drogas-alvo e imunoterapia dependendo das características moleculares de cada tumor.

CÂNCER DE CAVIDADE ORAL

Como regra geral, o câncer de cavidade oral apresenta como principais fatores de risco o tabagismo e o etilismo. Esses dois hábitos costumam ser os responsáveis pela grande maioria dos cânceres de cavidade oral em nossa realidade. Em alguns casos, cânceres

DR. PEDRO GRACHINSKI BUIAR de cavidade oral e faringe podem estar relacionados à infecção pelo HPV (Papiloma Vírus Humano), adquirida através da prática de sexo oral desprotegido entre pessoas. Alguns outros fatores como desnutrição, exposição a poluentes e substâncias tóxicas e até mesmo algumas síndromes genéticas podem predispor a pessoa ao câncer de cavidade oral.

O diagnóstico do câncer de cavidade oral, em sua maioria, é feito após o paciente começar a sentir dor local ou quando alguma alteração ou “nódulo” é notado pelo próprio paciente ou pelo dentista. Quando em estágios mais avançados, o câncer de cavidade oral pode causar dificuldade para engolir, para abrir a boca, causar sangramentos, grandes tumores na região do pescoço, falta de ar, cansaço e tonturas. O diagnóstico de confirmação se dá através de biópsias realizadas a olho nu.

O tratamento do câncer de cavidade oral em seus estágios iniciais pode ser feito por cirurgia ou radioterapia, podendo-se complementar um método pelo outro em casos de necessidade. Em estágios mais avançados, o tratamento pode ser realizado com cirurgia seguida de radioterapia e/ou quimioterapia ou radioterapia e quimioterapia associados. E quando a doença já se disseminou, o tratamento costuma ser realizado com medicações endovenosas que hoje incluem quimioterapia, imunoterapia e drogas alvo específicas.

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