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Livros e podcasts para sermos os mesmos
GENÊROS TEXTUAIS E DISCURSIVOS COMO FORMA DE COMPARTILHAR UMA NOVA CONSCIÊNCIA E VIVER A INTEGRAÇÃO
A GERAÇÃO DO QUARTO
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HUGO MONTEIRO FERREIRA
Escrito numa linguagem simples e com fundamento coerente e consistente, A geração do quarto discorre sobre questões fundamentais para se pensar a saúde mental e emocional dos jovens e adolescentes brasileiros. Um ótimo retrato da juventude contemporânea no Brasil, é leitura indispensável para pais, mães, professores, cuidadores, terapeutas e todos que de alguma forma convivem com crianças e jovens. Quando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja? Uma narrativa poderosa sobre a força necessária para fazer as escolhas certas nas situações mais difíceis.
É ASSIM QUE ACABA
COLLEEN HOOVER OS SETE MARIDOS DE EVELYN HUGO
TAYLOR JENKINS REID
Evelyn Hugo, uma das maiores estrelas de Hollywood, agora a aproximar-se dos 80 anos, decide finalmente contar tudo sobre a sua vida recheada de glamour e de uma boa dose de escândalos. Quando escolhe a desconhecida Monique Grant para escrever a sua história, todos ficam surpreendidos, incluindo a jornalista.
Plataforma de conteúdo e informação construída colaborativamente através de vários olhares, que se organizam para se projetar no mundo como um raio de luz. O projeto descende do experimento social AmarElo, proposto por Emicida, e se desenvolve como uma sinfonia, onde nós e o mundo somos os instrumentos. O objetivo é promover uma mudança de comportamento que permita um respeito à pluralidade do Brasil.
AMARELO PRISMA
EMICIDA MEU INCONSCIENTE COLETIVO
TATI BERNARDI
O que os melhores psicanalistas do país têm a dizer sobre remédios, maternidade, depressão, síndrome do impostor e fetiches estranhos? No podcast “Meu Inconsciente Coletivo”, a escritora e colunista da Folha, Tati Bernardi, abre ao público alguns temas recorrentes em suas sessões de terapia. Nos episódios, as neuroses da paciente são as mesmas, mas o analista muda a cada sessão. Diálogos de peito aberto, é um podcast semanal que busca nas redes sociais os temas mais debatidos (polêmicos) e traz para mesa um aprofundamento do assunto com empatia, respeito, bom humor e tolerância. Apresentamos os diversos argumentos e visões para que os ouvintes formem opinião com mais embasamento.
MAMILOS
JULIANA WALLAUER • CRIS BARTIS
AMIZADE NÃO TEM IDADE
FAZER AMIGOS MAIS VELHOS OU MAIS NOVOS TORNA A VIDA MAIS RICA, DESENVOLVE A EMPATIA E AJUDA A MITIGAR PRECONCEITOS ENRAIZADOS
por BETINA NEVES fotos RON LACH
Quando criança, fazer amigos era fácil. Eram os vizinhos, os colegas de escola ou os primos, pessoas da sua idade com as quais você ficava muito tempo e a quem muitas vezes bastava perguntar diretamente se queriam ser seus amigos. Na adolescência e aos 20 anos, a situação continuava propiciando o surgimento de novas amizades: no colégio, à noite, na universidade... No entanto, depois dos 30 anos muita gente começa a sentir que fazer novos amigos é quase impossível. Além disso, muitos dos amigos de toda a vida começaram a desaparecer, exatamente como na canção 20 de abril, da banda espanhola Celtas Cortos: “Hoy no queda casi nadie de los de antes, y los que hay, han cambiado” (Hoje não resta quase ninguém de antes, e os que ficaram, mudaram).
Um estudo realizado pelas universidades de Aalto (Finlândia) e Oxford (Reino Unido) em 2016 confirmou essa sensação de que com a idade nosso círculo de contatos se reduz. Os pesquisadores analisaram os telefonemas feitos dos celulares dos participantes do estudo e concluíram que nossos círculos de amizades atingem seu pico aos 25 anos. A partir daí começa uma queda vertiginosa, especialmente no caso dos homens, que mantêm menos amigos quando entram nos trinta. O problema não é apenas perdermos os contatos, mas também não os substituirmos e não expandimos os nossos horizontes e vínculos sociais.
Natàlia Cantó, especialista em sociologia das emoções e professora da Universidade Aberta da Catalunha (UOC), também confirma que a sensação de que é mais difícil fazer amigos depois dos 30 anos é verdadeira. Mas acredita que “não tem tanto a ver com a idade como com as circunstâncias da vida”. Não perdemos habilidades sociais, mas geralmente “começamos a trabalhar regularmente” e, às vezes, “deixamos de morar com nossos pais, por nossa conta ou dividindo moradia para viver com nosso parceiro e/ou nossos filhos”.
Segundo a pesquisadora, isso faz com que “o horizonte de nossas responsabilidades” mude completamente e “o tempo que podemos dedicar para cultivar novas amizades, e até para cuidar daquelas que já temos, se torna escasso”.
MATERNIDADE E AFINIDADES
Cristina Vidal, psicóloga e diretora do centro PsiCo Lleida, explica que as amizades de adultos vêm mais de afinidades do que dos acasos da infância. “Para conhecer gente depois dos 30 é mais fácil procurar pessoas em contextos afins ou que desempenhem papéis semelhantes aos nossos”, diz ela. “Se temos filhos, com pessoas com filhos, e se não, com pessoas sem filhos.” Da mesma forma, se, por exemplo, você leva “uma vida saudável e pratica esportes”, você se encaixará mais “com as pessoas que têm esse mesmo estilo de vida”.
Borja Carrasco, de 35 anos, de Madri, está ciente de que na sua idade é mais difícil fazer amigos porque socialmente “você se relaciona com menos gente”. No entanto, diz que conseguiu “na base de ir todo fim de semana no mesmo bar” e sempre se encontrar “com as mesmas pessoas”. Agora também estão fora desse contexto: “Saímos para comer e convidamos uns aos outros para aniversários e tudo mais”, diz ele.
Outro local em que as amizades podem surgir a partir dos 30 anos é no trabalho. Embora a pesquisadora Natàlia Cantó
ressalve que “às vezes é um ambiente cheio de armadilhas para a amizade”, é um lugar em que as pessoas passam mais horas do dia. Juan Vázquez, 45 anos, conheceu um de seus melhores amigos assim, de forma inesperada. “No começo eu me sentia péssimo, coisas do trabalho. Depois comecei a perceber que tínhamos um senso de humor parecido, ríamos com as mesmas coisas e tínhamos interesses parecidos. E papo vai, papo vem, chegou à intimidade. E era meu chefe!”
Marta Cabrera é das que fizeram amizades com outras mães. Esta moça de 35 anos da Galícia, morando em Saragoça, cercou-se de “outras mães com as quais compartilha a forma de educar”. No começo da “escola ou música, entre centenas de pais” com os quais convive, os que têm afinidades se aproximam e enfim “surge e amizade”.
Antia Paz, também de 35 anos, está em situação de vida parecida. Para ela, “a maternidade é muito solitária”, especialmente quando não se está perto da família. “Percebi muito a necessidade de criar novas amizades”, conta. E conseguiu um pouco por acaso, quando lhe deram de presente um sling (porta-bebê) e não tinha ideia de como usá-lo. Então, ela foi assistir a uma aula na qual não só aprendeu sobre esse sistema de transporte que garante contato constante entre o bebê e o adulto, mas a garota que dava o curso lhe explicou que as mães constituíam “uma pequena tribo”. Lá ela encontrou pessoas com interesses comuns e, pouco a pouco, a amizade foi surgindo.
Carlos Álvarez, de 46 anos, fez amizades entre os pais dos amigos de escola de seu filho. Além disso, acrescenta uma outra nuance a ser considerada: “A ideia que você tem sobre os amigos que você faz depois de uma certa idade é radicalmente diferente daquela dos de toda a vida, esses amigos nos acompanham e nos apoiam durante a nossa trajetória de vivências e sabem aquilo que passamos e carregamos conosco”.
MAIS IMPROVÁVEL, MAS MAIS SEGURA
As novas amizades de maturidade tendem a ser diferentes das dos jovens. Geralmente, como já mencionamos, são amizades mais baseadas em afinidades. Mas, também, explica a psicóloga Cristina Vidal, nessa idade as pessoas são mais “seletivas” porque cada um “se conhece melhor e sabe melhor o que lhe agrada”.
Isso retarda um pouco a passagem da amizade superficial para a íntima – não se faz amizade com qualquer um –, o que faz com que seja “menos provável”, mas “mais segura”. “Depois dos 30 anos, acumulamos decepções e somos mais cautelosos quando se trata de confiar”, acrescenta Vidal.
Nessas novas amizades, Borja Carrasco, o entrevistado que fez um círculo de amigos frequentando um mesmo lugar, afirma que quando mais velhos temos a vantagem de nos conhecermos melhor e não precisar fingir. “Isso os demais agradecem e você agradece que façam o mesmo. Se você conhece alguém de quem gosta e com quem tem química, é provável que a amizade se mantenha, já que você não vai mudar da noite para o dia”, comenta.
Juan Vázquez, aquele que fez amizade com o chefe, diz que “uma vantagem de ter mais de 35 anos é que se vai deixando de lado algumas pessoas: essas amizades que se faziam aos 20, com as quais nem sequer havia muito em comum, a não ser ir à mesma escola ou faculdade”.
Atividades rotineiras podem se tornam novas vivências quando estamos com diferentes pessoas
Realizar novas atividades ajuda a compreender diferentes percepções
Além disso, com estes novos amigos não há “nostalgia absurda e ninguém julga o outro por ser alguém que não era”.
O designer brasiliense Luís Filipe de Andrade, 23, dedica pelo menos um dia da semana para papear com Vergínio Sbragia, 89, de São Paulo (SP). Luís Filipe curte contar a ele as novidades do mundo da tecnologia (“ele ficou muito impressionado em saber que a Amazon vai começar a fazer entregas com drones”). Já Vergínio gosta de falar de cinema, passar receitas de drinques e dar conselhos de relacionamento. Os dois compartilham o gosto por marcenaria.
Vergínio é uma das três pessoas atendidas por Luís Filipe através do Escutatória, que congrega voluntários para conversar com idosos e ajudar a diminuir a solidão que assola muitos deles. O projeto surgiu no fim de 2019 e veio ainda mais a calhar com o isolamento imposto pela pandemia. “Comecei por causa de uma pesquisa para um trabalho da faculdade e acabei criando uma amizade verdadeira com eles. Foi interessante perceber como a conversa é fluida, com muitas convergências”, conta. “Eles me ensinam muito sobre a importância de cuidar da saúde e de manter laços fortes com família e amigos. Também aprendo a ser mais autêntico e a ter menos pressa na vida.”
Em uma pesquisa da AARP (American Association of Retired Persons) – a associação dos aposentados dos EUA – com pessoas de diferentes gerações, 37% dos entrevistados disseram ter um amigo próximo que é pelo menos 15 anos mais novo ou mais velho. Entre eles, 93% concordaram que são amizades com benefícios diferentes dos que se têm com pessoas da mesma idade. Aqueles com amigos mais velhos destacaram que, com eles, se inspiram e têm referências de vida; já os que convivem com pessoas mais novas apontaram que, com elas, se sentem mais valorizados e conseguem ficar a par do que está rolando no mundo. Em ambas as situações, os participantes disseram que
Compartilhar gostos em comum aproxima diferentes gerações
a relação intergeracional ajuda a enxergar as questões da vida por outras lentes.
“Quem se abre para fazer amizade com pessoas de idades diferentes pode ter experiências muito ricas”, diz a psicóloga clínica e terapeuta familiar Miriam Barros, de São Paulo (SP). Para pessoas de 20 e poucos anos, por exemplo, que muitas vezes têm certa ânsia para encontrar seu caminho, se relacionar com adultos mais velhos – que não sejam os pais – pode ajudar a desconstruir idealizações e criar outras perspectivas de vida. Outro exemplo que ela dá são mães com filhos pequenos, que podem ter boas trocas com mulheres mais velhas que já passaram por essa fase. Ela explica também que pessoas da mesma idade podem tender a se comparar, o que acontece menos com amigos de outras gerações.
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de livros como o recém-lançado “A Invenção de uma Nova Velhice” (Record, 2021), nossa sociedade ainda é muito segregada por idade. “Em outros países já se fala na tendência ‘ageless’, segundo a qual as pessoas não vão mais se agrupar pela idade, mas por seus valores, interesses, lutas e desejos”, diz. Em mais de 30 anos pesquisando felicidade e envelhecimento, Goldenberg transformou as próprias relações: “Hoje tenho 64 anos e meus melhores amigos são nonagenários – é com eles que eu tenho as trocas mais generosas e amorosas. Se não fossem eles, a quarentena teria sido muito triste”.
A antropóloga afirma que a “velhofobia” que existe no Brasil piorou na pandemia. “O desprezo e o estigma em relação aos mais velhos ficou muito evidente nesse período: aquele discurso de ‘velho pode morrer mesmo, vai ser até bom para a previdência’.” Para transformar a situação, ela diz que precisamos quebrar o preconceito dentro de nós e, acima de tudo, ouvir os mais velhos e maduros. Para a psicológica Miriam Bar-
ros, amizades intergeracionais ajudam a desenvolver a empatia: “é uma oportunidade de sair da zona de conforto e se colocar no lugar do outro.” Ela explica que abertura e flexibilidade são essenciais para desenvolver essas relações, inclusive na hora de estar atento aos espaços onde elas podem acontecer. Na pesquisa supracitada da AARP, o modo mais comum de conhecer pessoas de outras idades é no trabalho – em segundo lugar, na vizinhança e, em terceiro, em uma igreja ou outro tipo de encontro religioso. Mas isso também pode se dar em cursos, projetos sociais, através de amigos de amigos e até dentro da própria família.
A saber: assim como o Escutatória, a pandemia fez surgir outras plataformas que fazem contato com idosos, como o Doa Tempo e o Mais Vívida. Diversificar os meios de comunicação para pessoas além da nossa bolha social é algo necessário, além disso acarreta em diversas experiencias interessantes e novos aprendizados. Dessa forma conseguimos expandir as nossas percepções e alterar o nosso ponto de vista.
E OS MAIS NOVOS?
A farmacêutica bioquímica Luizete Adrien, 75, de Ji-Paraná (RO), conta que prefere conviver com pessoas mais novas, dos amigos das netas aos funcionários de sua empresa e as companhias que tem em grupos de viagem. Ela faz amizade inclusive com as filhas das poucas amigas idosas. “Eu gosto do dinamismo, da liberdade e das múltiplas possibilidades da juventude. Até porque eu cresci em uma realidade machista e opressora que não permitia isso.”
Essa ideia também pode se estender a crianças e adolescentes. “É possível criar laços muito puros de amizades com eles”, diz a professora paulistana Carina Fraga, especializada em pedagogia Waldorf. “Aprendo diariamente com as crianças a me relacionar de outra forma com a vida e com o tempo, com mais encantamento, leveza e bom humor.” Esse tipo de relação requer interesse e dedicação por parte do adulto, que precisa estar disposto a entrar no mundo da criança. “Demanda certa energia, mas, quando a gente se propõe a estar presente com eles, pode acessar lugares incríveis.”