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Afinal, os peixes sentem dor?

Afinal, os peixes sentem dor?

A opinião pública ficou sensibilizada pelos oceanos, tudo devido ao documentário Seaspiracy

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por João Lara Mesquita

Esta é a discussão do momento. Ela chegou à tona depois do sucesso do documentário Seaspiracy qule escancara o que se vem dizendo há anos sobre os maus tratos impostos aos oceanos pela indústria da pesca mundial, ou as fazendas de criação de peixes, a poluição por plástico, pesca incidental, poluição po esgoto, etc.

Seaspiracy

Seaspiracy mostra barbaridades como a morte maciça de tubarões que têm suas barbatanas decepadas e depois são jogados de volta ao mar para morrerem, e ainda registra cenas de mortes de baleias no litoral das Ilhas Faroe a poder de machadadas. O diretor, então, levanta a questão dos grupos que defendem os direitos de todos os animais vivos no planeta.

O documentário não aborda a questão dos direitos dos animais diretamente, mas deixa implícito. Para quem não sabe, eles são “protegidos’’ até em fóruns internacionais como a ONU. Em 1978 foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação e a Ciência.

Em seu artigo três está escrito: “Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis’’ e ‘Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor ou angústia como é feita atualmente”.

No Brasil são comuns as polêmicas levantadas por grupos de defesa de animais. O ápice aconteceu em 2013, quando ativistas invadiram o laboratório Royal, em São Roque, para soltar cachorros da raça Beagle, supostamente sofrendo maus tratos (mas deixaram os ratos intactos em suas gaiolas dentro de laboratórios).

É oportuno lembrar que as atividades essenciais com animais em laboratórios são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também são comuns nas redes sociais os questionamentos sobre a morte de animais em abatedouros, ou discussões sobre a “justiça” de se matar pintinhos machos em granjas (próxima matéria explica melhjor esse tópico sobre os pintinhos machos que são sacrificados apenas por não serem capazes de botar ovos assim como as fêmeas de sua espécie, que são utilizadas para indústria de ovos).

Mas afinal, os peixes sentem dor?

Mas, e os peixes? Seaspiracy levanta a questão depois que o diretor diz, em off, que sempre pensou apenas na sustentabilidade da pesca, mas depois dos horrores que testemunhou ele se pergunta o quanto os peixes podem sentir?

Em seguida, surge na tela a figura carismática de Sylvia Earle, uma das maiores referências na ciência marinha mundial. “Peixes sentem dor? Acho espantosa a pergunta. Como cientista, é senso comum. Peixes têm um sistema nervoso e têm os elementos básicos que todos vertebrados têm, então o que o diferencia dos demais?”

Sylvia prossegue dizendo que fingir não saber disso nada mais é que “uma justificativa para fazer coisas covardes com criaturas inocentes”. E finaliza, “é a única explicação que encontro para tratarem os peixes com uma atitude tão cruel. Peixes sentem dor e medo e, assim como mamíferos marinhos, também têm uma vida social. Mas diferentes de alguns mamíferos que possuimos mais contato, os peixes também são capazes de demonstrar essas emoções eventualmente.

Os problemas nas fazendas de criação de peixes

Um relatório, publicado na revista Science Advances, descobriu que a falha em fornecer o ambiente certo e no manejo correto dos animais aquáticos pode levar a defeitos congênitos, mobilidade restrita, comportamento agressivo e dor extrema durante o abate, desta forma apresentando características de que eles realmente podem possuir sentimentos.

E recomenda que a indústria da aquicultura se concentre no cultivo de espécies mais simples, com menos bem-estar e riscos ambientais – algas marinhas e bivalves como ostras, mexilhões e amêijoas.

A Falta de ética está na raiz da indústria mundial da pesca

Segundo o Guardian, a indústria de aquicultura global, avaliada em US$ 250 bilhões, cresceu muito nas últimas décadas. Embora tenha sido enquadrada como uma resposta à exploração das populações de peixes selvagens, a aquicultura tem sido criticada por impactos negativos, incluindo poluição, dependência de peixes selvagens para alimentação e uso excessivo de antibióticos implementados na sua alimentação diariamente.

O estudo diz que o bem-estar também deve ser considerado. Os peixes têm memória de longo prazo, podem resolver problemas, cooperar entre espécies e – ao contrário do que se acreditava anteriormente – sentir dor. E conclui:”Embora existam padrões de bem-estar legalmente consagrados para animais de criação terrestre, o relatório diz que os padrões são frequentemente fracos ou ausentes para animais aquáticos. Muitas das espécies cultivadas geralmente não são biologicamente adequadas para a vida em cativeiro, diz o relatório”. Lynne Sneddon, bióloga da Universidade de Gotemburgo ouvida pelo Guardian, declarou: “Esses animais são seres sencientes, eles são capazes de sentir dor, medo, estresse e, ainda assim, nós os criamos em condições que não seriam aceitáveis ​para mamíferos ou quaisquer outros pássaros”.

Com estas informações, a matança anual de milhares tubarões amputados de suas barbatanas, e devolvidos ao mar para morrerem, é não só antiética mas cruelPor falar nisso, a falta de ética está na raiz da indústria mundial da pesca

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