Revista Sol Brasil - 9°edição

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Índice

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Rumo aos 15 milhões m2 de coletores solares até 2015 Desafios para atingir meta vão desde a divulgação da tecnologia à qualificação de mão de obra e etiquetagem compulsória dos sistemas de aquecimento solar

Empresas Associadas

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Editorial

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Case Solar Projeto da Transsen aquece 25 mil litros de água no Hospital da Unimed Sistema de aquecimento solar é solução econômica e sustentável para atender demanda de 204 leitos em Piracicaba

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Entrevista José Ronaldo Kulb CB-SOL uniu toda a cadeia produtiva em torno das questões centrais do setor de aquecimento solar, diz presidente do DASOL

Um grande desafio para a indústria nacional

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CB-SOL

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CB-SOL Mais informação técnica Participantes avaliam resultados do CB-SOL e aguardam próximo congresso

Novotel Morumbi utiliza tecnologia Jelly Fish Projeto abastece reservatório de 12 mil litros de água e garante conforto a 5 mil hóspedes por mês

Atualidades Tarifa branca, oportunidade para o aquecimento solar Energia elétrica ficará mais cara para quem usa o chuveiro no horário de pico. Mais do que nunca, aquecedor solar é aliado do consumidor para se defender da nova tarifa

Expediente Revista SOL BRASIL Publicação bimestral do Departamento Nacional de Aquecimento Solar (DASOL) da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condi­cio­nado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA). Conselho Editorial: Luís Augusto Ferrari Mazzon, Marcelo Mesquita, Nathalia P. Moreno e Sara Vieira Edição: Ana Cristina da Conceição (MTb 18.378) Projeto gráfico e editoração eletrônica: Izilda Fontainha Simões Foto de capa: Transsen

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Mundo Verde Pensando grande Sun & Wind Energy descreve os desafios do mercado francês de aquecimento solar

Diretoria DASOL Presidência - José Ronaldo Kulb VP Relações Institucionais (VPI) - Amaurício Gomes Lúcio VP Operações e Finanças (VPOF) - Edson Pereira VP Tecnologia e Meio Ambiente (VPTMA) - Carlos Artur A. Alencar VP Marketing (VPM) - Luis Augusto Ferrari Mazzon Gestor - Marcelo Mesquita DASOL/ABRAVA Avenida Rio Branco, 1492 – Campos Elíseos – São Paulo – SP – CEP 01206-905 - Telefone (11) 3361-7266 (r.142) Fale conosco: solar@abrava.org.br


Editorial

Um grande desafio para a indústria nacional Muitas vezes nos perguntamos: qual é a fórmula do sucesso? Motivação, treino, autocontrole, sorte e perseverança. Sem dúvida, estes são ingredientes essenciais para alcançarmos o sucesso. Mas como podemos medir nosso índice de sucesso? Tudo começa com o estabelecimento de objetivos em consonância com os interesses dos associados, priorizando os projetos que tragam maior benefício ao setor, dividindo-os em metas claras e mensuráveis através de indicadores de fácil compreensão. Neste momento de desafios para o aquecimento solar no Brasil, temos como objetivo o crescimento sustentável do setor, passando em quatro anos a marca dos 15 milhões de m2 de coletores instalados. Este objetivo está não só atrelado ao nosso objetivo associativo mas também em linha com o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que busca a redução das emissões de gases de efeito estufa, e com o recém-publicado Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf), com suas metas de redução de consumo de energia, principalmente nos horários de ponta. É um forte desafio para a indústria nacional que tem não só a necessidade de ampliar e modernizar seu parque fabril, como também de formar mão de obra qualificada (instaladores, projetistas e engenheiros de aplicação). Nossa indústria precisa também desenvolver novas tecnologias e materiais que aumentem a eficiência dos sistemas de aquecimento solar e reduzam custos, integrando sistemas de automação que otimizem o consumo de energia complementar fora dos horários de ponta. Com foco nestes desafios, o DASOL/ABRAVA, juntamente com a UNICAMP, reuniu em Campinas mais de 250 pessoas no maior evento da história do aquecimento solar no Brasil, o CB-SOL, Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar. Durante o CB-SOL, foram discutidas estratégias para vencer esses desafios nos próximos anos. Paralelamente ao Congresso, tivemos a exposição tecnológica EXPOSOLAR, onde fabricantes e fornecedores do setor apresentaram soluções inovadoras para o aquecimento solar. E, finalmente, pensando nas novas gerações, responsáveis pelas ações futuras, realizamos uma exposição na Praça José Bonifácio, centro de Campinas, sobre a aplicação dos sistemas de aquecimento solar, com demonstrações e experiências tecnológicas que utilizam da luz do sol. Sem dúvida, o sucesso absoluto do evento foi mais um passo rumo aos objetivos do setor, em um trabalho integrado entre associações de classe, universidades, institutos de pesquisa e governo. Compartilhamos esse sucesso com a dedicada e perseverante equipe do DASOL, cujo trabalho tem proporcionado à ABRAVA projeção internacional.

José Ronaldo Kulb Presidente do DASOL

Divulgação

Temos a certeza de que, juntos, fortalecendo as instituições, chegaremos lá.

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Case Solar

Transsen aquece 25 mil litros de água no Hospital da Unimed Sistema de aquecimento solar é solução econômica e sustentável para atender demanda de 204 leitos em Piracicaba

Divulgação: Transsen

Um dos maiores e mais modernos centros de saúde do Estado de São Paulo, o Hospital da Unimed de Piracicaba escolheu a Transsen para implantar seu sistema de aquecimento solar e atender à demanda de água quente em uma obra de grande porte, que conta com 22 mil m2 de área construída, sete pavimentos e 13 salas cirúrgicas. A alternativa ao aquecimento solar seria o uso de gás GLP como combustível para o aquecimento da água. O aquecimento solar mostrou-se, porém, mais vantajoso, tanto pela economia como pela sustentabilidade. O hospital apresenta gestão ambiental: além do aquecimento solar, há estação de tratamento de efluentes, central de descarte de resíduos, poços de iluminação natural e proteção termoacústica na fachada. O projeto apresentou um alto nível de complexidade devido à sua grande proporção: são 25 mil litros de água quente armazenados em cinco reservatórios térmicos de 5 mil litros cada e um conjunto de 180 coletores solares verticais de dois metros. O sistema de aquecimento solar atende a demanda por água quente de 204 leitos do hospital e também do Serviço de Nutrição e Dietética (SND). Outra característica importante da obra foi a instalação

Projeto conta com exclusivo sistema de monitoramento remoto

do LabTranssen, exclusivo sistema de monitoramento da eficiência do aquecimento solar. O LabTranssen permite o acesso remoto a informações sobre o funcionamento do sistema, possibilitando identificar eventuais manutenções necessárias, além de aferir temperaturas atingidas, consumo de água, energia e gás e cálculo da economia gerada pelo sistema solar. Neste projeto, a Transsen utilizou 180 coletores solares do modelo Itapuã V2.0, com classificação A no Inmetro, Selo Procel (alto nível de eficiência energética), produção média mensal de energia de 155,7 kWh/mês por coletor, perfil extrudado (que oferece maior robustez ao produto) e isolamento térmico duplo. Os cinco reservatórios de 5 mil litros cada um apresentam pressão de trabalho de 10 m.c.a., fabricados em aço inoxidável AISI 304, isolamento térmico progressivo em poliuretano expandido rígido e capa externa em alumínio naval, mais resistente à corrosão. A obra foi concluí­da em Transsen Aquecedor Solar outubro de 2010 e, desde então, apresenta perfeito Associada do DASOL/ funcionamento. “Estamos ABRAVA desde 30/11/92 satisfeitos com o sistema de aquecimento solar www.transsen.com.br da Transsen. No geral, o sistema funciona muito bem e gera a economia esperada”, confirma Alessandro Silva, gerente de Apoio e Infraestrutura do Hospital da Unimed de Piracicaba/SP.

José Edgar Romero Trigo (Engenharia de Aplicação Transsen) Fabíola Lanzara (Marketing Estratégico Transsen)


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Case Solar

Novotel Morumbi tem economia de 80% com solução da Jelly Fish Aquecimento solar de água garante conforto a 5 mil hóspedes/mês vel de serviço. Ao mesmo tempo, modernizou sua estrutura de forma a se alinhar às novas expectativas de sustentabilidade e consciência ecológica graças à tecnologia utilizada. Focada na criação de alternativas para o aquecimento de água para o mercado, a Jelly Fish Soluções Térmicas, parte da Indústrias Tosi, é uma empresa sempre em busca de novas tecnologias.Todos os produtos da Jelly Fish foram concebidos com foco em inovação, desempenho, respeito ao meio ambiente e ao consumidor.

Energia solar reduziu consumo de gás em 65%

Divulgação TOSI

A Jelly Fish, divisão de aquecimento de água da Indústrias Tosi, trouxe ganhos à unidade Novotel Morumbi, um hotel do grupo Accor, com suas soluções para aquecimento de água. O complexo conta com 190 quartos e está localizado em um dos centros comerciais de São Paulo, próximo à Ponte Estaiada. O hotel utilizava originalmente uma estrutura baseada em aquecedores a gás GLP, popularmente tida como uma solução de baixo consumo energético. Entretanto, o custo ainda era alto e o hotel buscava uma forma de utilizar energia renovável. A Jelly Fish então apresentou algumas de suas soluções para aquecimento de água. O sistema apresentado é híbrido, composto por coletores solares e bombas de calor. Os coletores utilizam energia solar para o pré-aquecimento da água, que posteriormente é enviada a reservatórios. Quando utilizada pelos usuários, a água passa por bombas de calor. A maior parte da energia usada para o aquecimento é proveniente do sol, o que conseqüentemente reduz o consumo de energia elétrica. Foram instalados 93 painéis solares cobrindo uma área de 149 m², que abastecem um reservatório de 12 mil litros de água e cinco bombas de calor, além de um sistema CLP para controle de demanda. Entre redução de gastos de energia, água e gás, foi gerada uma economia de 80%. Com foco em sustentabilidade e consciência ecológica, outro benefício foi a redução de emissões de CO². Mais de 14 mil quilos do gás deixaram de ser produzidos por ano. A instalação foi feita em 90 dias e o novo sistema atende às necessidades de 5 mil hóspedes por mês. O consumo de gás foi reduzido em 65%. O Novotel Morumbi foi capaz de fazer essa transição sem trazer impactos aos hóspedes, mantendo um excepcional ní-

Jelly Fish Soluções Térmicas Indústrias Tosi Filiada ao DASOL/ABRAVA desde 19/11/1998 www.jellyfish.com.br


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Atualidades

Tarifa branca, uma oportunidade para o aquecimento solar Energia elétrica ficará mais cara para quem usa o chuveiro no horário de pico. Mais do que nunca, aquecedor solar é um aliado do consumidor para se defender da nova tarifa

Marcelo Mesquita

A combinação de energia solar e da Tarifa Branca, criada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 22 de novembro, pode ser uma interessante oportunidade tanto para a indústria de aquecimento solar como para os consumidores de energia elétrica. A Tarifa Branca é uma modalidade tarifária que prevê tarifas de energia elétrica mais baixas nos horários em que o sistema elétrico é menos demandado e tarifas mais altas nos períodos de pico (horário de ponta). Aguardada pelo setor elétrico há mais de 20 anos, a Tarifa Branca deverá entrar em fase de testes em 2013 e será oferecida facultativamente aos consumidores (residenciais, comerciais e industriais) a partir de janeiro de 2014. Estão previstas três cobranças diferenciadas. Uma tarifa mais cara para o consumo nas três horas do horário de ponta definido pela concessionária. Uma tarifa intermediária a ser cobrada pelo uso da energia uma hora antes e uma hora depois do horário de ponta. E uma tarifa mais barata, a ser cobrada fora do horário de ponta e do horário intermediário. De acordo com a ANEEL, o objetivo da criação da Ta-

rifa Branca é estimular o consumo nos horários em que a energia custa menos, diminuir o valor da fatura no fim do mês e a necessidade de expansão da rede da distribuidora para atendimento no horário de pico. Mas para isso, será necessário que o consumidor abra mão de algum conforto e altere sua rotina. O conceito da Tarifa Branca é “possibilitar o gerenciamento do gasto de energia por parte do consumidor e otimizar o uso da rede de distribuição”, defende a ANEEL. Assim como nas Tarifas Azul e Verde (calculadas em função do consumo e da demanda de potência), a proposta da Tarifa Branca está diretamente relacionada com o perfil dos consumidores de energia (residenciais, industriais, comerciais etc). Essa tarifa exige atenção redobrada do consumidor para evitar impactos na conta de luz ou malabarismos no seu cotidiano – imagine, por exemplo, o consumidor residencial ter que tomar banho de madrugada para pagar a tarifa mais barata. Embora a medida seja nobre e bem justificada, o risco de a conta de luz ficar mais cara para os consumidores é real, principalmente para o consumidor residencial. O horário de

Principal carga elétrica da residência, chuveiro representa 30% da conta de energia


Atualidades

pico é fruto da atual organizasolar é mais vantajoso do que ção da sociedade e, quando se aplicar na poupança. Com a fala em domicílios, o uso do nova modalidade tarifária, as chuveiro elétrico é de longe vantagens serão ainda maioo mais representativo no hores porque o uso da energia rário de ponta. É o momento solar não impõe restrição em que as pessoas voltam do de horários e presta efetiva trabalho e têm no banho uma contribuição para o meio fonte de relaxamento ou de ambiente. renovação para um segundo Com a implantação da compromisso, seja em casa, nova tarifa, o aquecimento na escola, no clube com os solar poderá colaborar de amigos e até em um segundo diversas maneiras com os emprego. consumidores: não consome Porém, se os consumidoenergia elétrica para aquecer res residenciais mantiverem a água; disponibiliza água seus hábitos atuais de tomar quente em qualquer horário banho com chuveiro elétrico do dia, sem qualquer custo de no final da tarde e início da operação; permite associação noite, a conta de luz certacom dispositivos eletrônicos mente irá subir. Isso porque no gerenciamento de energia, o chuveiro elétrico, principal se for o caso. carga elétrica da residência, A energia solar também representa 30% da conta de traz benefícios para o meio energia sem tarifas diferenambiente. A redução da deciadas. manda de energia elétrica Para evitar sustos na conno horário de pico significa ta de luz, os consumidores redução do uso de usinas terteriam que tomar banho em moelétricas, acionadas pelo Energia solar garante água quente em qualquer horário do dia, outros horários e conciliar a sistema elétrico interligado sem alterar hábitos do consumidor alteração dessa rotina com as nacional para garantir o suoutras atividades da família. primento de eletricidade. O A estratégia para aproveitar as tarifas mais baratas sem acionamento dessas usinas, alimentadas por combustíveis grandes alterações no dia-a-dia é minimizar o uso do chufósseis, impacta o meio ambiente com a emissão de gases veiro. Como a implantação da Tarifa Branca, neste primeiro de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global momento, será por opção do consumidor, algumas oportue colocam em risco o futuro da vida no planeta. nidades podem ser interessantes quando combinadas com Portanto, os consumidores residenciais terão no aquecio uso de aquecimento solar. mento solar um importante aliado para manter sua rotina Um estudo do Departamento Nacional de Aquecimento atual, economizar energia e ainda reduzir a despesa com Solar da ABRAVA demonstra que investir em aquecimento energia elétrica.

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CB-SOL

Rumo aos 15 milhões m² de coletores instalados Desafios para atingir meta até 2015 vão da divulgação da tecnologia à qualificação de mão de obra e etiquetagem compulsória dos SAS O Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar (CBSOL) reuniu mais de 250 pessoas nos dias 9 e 10 de novembro em Campinas (SP) para discutir os desafios de chegar a 2015 a com 15 milhões m2 de coletores solares instalados no país. A meta, indicada no Plano de Ação Para Incentivo ao Uso do Aquecimento Solar de Água no Brasil (2007) do Ministério de Minas e Energia, equivale ao crescimento de 2,5 vezes a atual área instalada. Especialistas do governo, pesquisadores das universidades, empresários e profissionais do setor debateram as iniciativas, soluções técnicas e estratégias durante o Congresso, organizado pela Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) e o Departamento Nacional de Aquecimento Solar (DASOL). O CB-SOL teve o apoio técnico da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e contou com a presença de convidados internacionais da Alemanha e da Áustria que falaram sobre a experiência acumulada em outros mercados. No evento, os participantes debateram a experiência dos programas de eficiência energética, as oportunidades de programas habitacionais como Minha Casa Minha Vida e CDHU, a proposta de etiquetagem compulsória do Inmetro e a qualidade dos materiais para melhor eficiência dos sistemas de aqueGilberto Jannuzzi

cimento solar. Na abertura do Congresso, Samoel Vieira, presidente da ABRAVA, e José Ronaldo Kulb, presidente do DASOL, enfatizaram o papel da indústria na preservação dos recursos naturais com o melhor aproveitamento das energias limpas, como a solar. O professor Gilberto Jannuzzi, da UNICAMP, destacou a importância do tema no momento em que o mundo inteiro repensa suas matrizes energéticas. Paralelamente ao Congresso, foi realizada a feira de negócios EXPOSOLAR, com exposição de produtos e serviços de empresas envolvidas com o setor. No dia 10 de novembro, o DASOL promoveu a exposição de experimentos da energia solar, aberta ao público na Praça José Bonifácio, em Campinas. Samoel Vieira


CB-SOL

Minha Casa Minha Vida

a Eletrobras que evidenciou a necessidade de formação. “Observamos, por exemplo, que os moradores de baixa renda não fazem a limpeza das placas por desconhecimento do sistema. Quanto à instalação e manutenção do sistema de aquecimento solar, nem mesmo os bombeiros hidráulicos (encanadores) sabem plenamente o que fazer”, lembrou.

A Portaria 325 do Ministério das Cidades, que determina o uso de aquecimento solar no programa Minha Casa Minha Vida, foi o tema da palestra da gerente executiva da Caixa Econômica Federal, Mara Luisa Alvim Motta. A primeira etapa do programa Eficiência energética ultrapassou a meta inicial de 40 mil moradias com SAS e chegou a quase Desde 2008, as concessionárias de distribuição de 42 mil. O setor vê como oportunidaenergia elétrica e permissionárias já investiram R$ 100 de a Portaria 325, que prevê o aquemilhões em projetos de eficiência energética com sistecimento solar em 860 mil moradias mas de aquecimento solar. A informação é de Sheyla para a faixa 1 (renda até três salários Maria das Neves Damasceno, especialista em regulação mínimos) a serem construídas até da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que 2014. detalhou no congresso os avanços do Programa de Efi“Até 7 de novembro, já tinham ciência Energética das Empresas de Distribuição (PEE). sido construídas 17.413 moradias da Segundo esse programa, as 63 distribuidoras de fase 2 do programa, sendo que 4.971 energia concessionárias e as mais de 30 permissionárias incorporaram coletores solares, o são obrigadas a destinar 1% de sua receita operacional equivalente a 28% do total”, revelou líquida para ações que evitem o desperdício de energia. a gerente da Caixa. São 0,5% para pesquisa e desenvolvimento e 0,5% para Mara Motta recomendou maior Mara Motta projetos efetivos, como a implantação de sistemas de divulgação sobre vantagens do aquecimento solar em conjuntos habitacionais para sistema de aquecimento solar e sua simplicidade de uso e população de baixa renda. manutenção. A gerente da Caixa enfatizou a necessidade de A especialista explicou, porém, que essa ação tem se desticapacitar toda a cadeia produtiva (projetistas, arquitetos e nado a moradias unifamiliares de custo menor e implantação engenheiros, instaladores) e a definição de indicadores para mais simples, dada a exigência de atendimento aos consumimedir o desempenho dos equipamentos. dores inscritos no Cadastro Único com o respectivo Número de Inscrição Social (NIS). Essa exigência necessita de revisão para ampliar os beQualificação nefícios da eficiência energética a outras classes sociais com uso mais intenso de energia e, portanto, maior potencial de Essa necessária qualificação da mão de obra será equacioeconomia. A ANEEL também estuda flexibilizar a aplicação nada pela Rede Procel Solar – Rede Nacional de Cooperação dos recursos do PEE, para contemplar novas edificações em Energia Solar Térmica -, projeto da Eletrobras/Procel, para utilizando a experiência de projetos anteriores. Novas regras a criação de sete centros de capacitação no Brasil. O projeto é nesse sentido poderão ser implantadas a partir de 2012. coordenado pela professora Elizabeth Marques Duarte Perei“A adoção dos SAS torna os sistemas prediais mais ra, do Centro Universitário UNA-MG, que também proferiu complexos, principalmente se aliados a outros recursos palestra no CB-Solar. Segundo a professora, a meta de atingir como reúso de água pluvial e de águas cinzas”, observou o 15 milhões m² de coletores instalados até 2015 promoverá 8,5 professor Orestes Gonçalves, da Escola Politécnica da Unimil empregos diretos e a capacitação de 2,2 mil instaladores versidade de São Paulo. Ao exigir a instalação de medidores em cinco anos. individualizados nos edifícios, o sistema se torna mais caro A professora citou pesquisa realizada há alguns anos para e afugenta os construtores. “Daí”, sugeriu, “a necessidade de maior aproximação entre universidade e fabricantes para a busca de soluções técnicas que viabilizem custos menores”. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), que universalizou em suas

Elizabeth Marques Duarte Pereira

Sheyla Maria das Neves Damasceno

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CB-SOL obras o uso de coletores solares, possui poucas implantações em prédios, num total de 40 mil unidades com SAS já operacionalizadas. “Os recursos da CDHU são destinados para moradias, sem distinção se serão construídos prédios ou casas. Temos subsídio para construir casas e para fazer prédios, mas precisamos que os recursos sejam diferenciados e que o setor fabricante colabore com soluções técnicas”, disse o arquiteto Eduardo Baldacci, gestor do Programa de Eficiência Energética da empresa.

Mercado brasileiro Marcelo Mesquita, gestor do DASOL, fez uma apresentação sobre o mercado brasileiro, lembrando que, em 2010, a indústria produziu quase 1 milhão m² de sistemas de aquecimento solar. “A previsão inicial era de se fechar o ano de 2011 com 7.477 milhões m² de coletores instalados, equivalente a um acréscimo de 20% sobre os atuais 6.238 Marcelo Mesquita milhões m².” Houve, no entanto, uma retração do mercado no primeiro semestre de 2011, motivada principalmente pela transição do governo que descontinuou investimentos em vários setores. “Porém, se mantida essa taxa anual de crescimento, especialmente diante da demanda do programa Minha Casa, Minha Vida, chegaremos a 15 milhões m² até 2015.” “O Sudeste puxa o mercado com 80% das vendas no primeiro semestre de 2011. No período, o segmento residencial continua à frente, respondendo pela aquisição de 59% de todo o mercado nacional de SAS, seguido pela indústria, comércio e serviços com 24%. As construções habitacionais já respondem por 18%”, revelou Marcelo Mesquita. Marcos André Borges, coordenador do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), lembrou que hoje estão etiquetados pelo INMETRO 216 modelos de 40 empresas fabricantes de sistemas de aquecimento solar, num total de 52 marcas. “Não há nada igual no mundo”, garantiu, dizendo que a etiqueta estimula a indústria a fabricar produtos com qualidade crescente, equilibrando a relação de consumo. Fernando Perrone, gerente do Departamento de Projetos de Eficiência Energética da da Eletrobrás, apresentou os resultados do Procel no combate ao Fernando Perrone

desperdício de energia. Ele citou o histórico dos 10 anos da lei 10.295 sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e descreveu o processo de etiquetagem de edificações residenciais, que inclui os sistemas de aquecimento solar, a partir de 2010. O CB-Sol também apresentou projetos de eficiência energética que evidenciaram o forte vínculo do setor de aquecimento solar com as empresas de serviços de conservação de energia associadas à ABESCO e as concessionárias de energia elétrica. Esse vínculo é especialmente oportuno diante da criação da Tarifa Branca da ANEEL (ver página 6). Além da Eletrobras e da ABESCO, participaram desse painel representantes da EDP/Bandeirante (Rodrigo Nogueira), Elektro (Evandro Romanini), AES Eletropaulo (Gabriella Mierel), Light (Antonio Raad), Cemig (Matheus Herzog), Nossa Caixa Desenvolvimento (Rafael Bergamaschi), tendo como mediadores Sheyla Damasceno (ANEEL) e José Carlos Ayres de Figueiredo (Cemig).

Construção sustentável Para que um edifício seja auto-sustentável em energia, a melhor alternativa é a que reúne sistema de aquecimento solar passivo e ativo, painéis fotovoltaicos, sombreamento e iluminação natural. A avaliação é da professora Vanessa Gomes, da Unicamp, que proferiu palestra no CB-SOL sobre construção sustentável. “O SAS é considerado o segundo melhor retorno, ou seja, com menos recurso se obtém maior eficiência energética”, lembrou. Segundo ela, um dos maiores desafios enfrentados em todo o mundo para prover energia às cidades é o investimento. “A relação investimento x consumo é de 1 x 100”, informou, lembrando que de 1960 até agora quintuplicou o número de tomadas numa residência para atender a necessidade dos eletroeletrônicos. Para Carla Achão, representante da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os 2,5% dos domicílios com SAS para banho, dado histórico, precisa ser ampliado. Em 2005 eram 0,15 m²/haCarla Achão bitante e em 2010 esse valor mais do que dobrou, chegando a 0,33 m²/habitante, o que corresponde a 6,2 mil domicílios. Para 2015 a previsão é de 12,2 mil domicílios com SAS em todo o Brasil, com benefícios na redução da demanda de eletricidade no horário de pico, além da economia de energia e do impacto ambiental evitado. Para Hamilton Moss, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do MME, a eficiência energética deve ser uma cultura incorporada ao cotidiano da sociedade brasileira. “O caminho ideal para que programas e ações sejam eficientes é a parceria entre os ministérios do Meio Ambiente e


CB-SOL

Hamilton Moss

Apresentações dos palestrantes estão disponíveis no hotsite cb-sol.org.br

o de Minas e Energia, afirmou. Ele lembrou que o atual Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) tem um capítulo dedicado ao SAS e que o próximo passo será o desenvolvimento de planos de trabalho.

Experiência internacional Especialistas internacionais relataram a experiência da Alemanha e da Áustria no uso dos sistemas de aquecimento solar. Na Alemanha, os SAS têm uso mais amplo, inclusive como matriz energética para os sistemas de ar condicionado. Segundo Jan Knaack, gerente de Projetos da Bundesverband Solarwirtschaft – associação do setor na Alemanha -, as residências detêm a maior fatia do mercado de instalações de coletores para aquecimento de água, com 46%, seguidas pela indústria (31%) e comércio Jan Knaack

(23%). “Temos, na Alemanha, uma longa experiência em energia solar e o Brasil pode buscar entre nós todo o conhecimento de que necessita para ampliar o seu mercado”, propôs Knaack. O arquiteto Christian Holter, presidente da fabricante austríaca Solid, contou que muitos clientes desejam mostrar os coletores no projeto arquitetônico, enquanto outros preferem esconder. “Na sede central do CGD – Caixa Geral de Depósitos –, em Lisboa, uma construção de 100 mil m², onde trabalham 5 mil pessoas, conseguimos esconder os coletores nas faces internas do telhado voltadas para dois átrios descobertos”, relatou. Outro case é o da universidade UWC, em Cingapura, em que foram instalados 3,9 mil m² de painéis solares aparentes. Segundo Holter, os sistemas de ar condicionado respondem pela maior fatia de consumo de energia elétrica nos segmentos de edifícios públicos e comerciais. “Para enfrentar esse que é um verdadeiro problema, cresce o uso da energia solar como fonte para o funcionamento dos condicionadores de ar”, disse. Christian Holter Com informações de Hosana Pedroso (diretora) e de Nathalia Portugal (jornalista) da Via Verbo Assessoria e Comunicação

Inmetro e Eletrobras participam de workshop sobre PBE Solar Na sequência do CB Solar, o Inmetro e a Elebrobras pardisponibilidade de modelos para os programas governamenticiparam no dia 11 de novembro do workshop tais (como o Minha Casa Minha Vida), maior Requisito de Avaliação de Conformidade provelocidade na melhoria tecnológica, maior movido pela ABRAVA e aberto a todo o setor de fiscalização e acompanhamento no mercado aquecimento solar no Royal Palm Plaza Hotel e maior controle de produtos. Resort, em Campinas. O coordenador justificou a oportunidade O workshop foi uma oportunidade para os de rever a regulamentação do PBE Solar lemprofissionais do setor conhecerem e debaterem brando a consulta pública disponibilizada em a proposta do Inmetro para certificação comnovembro de dois projetos para formatar o selo pulsória do setor de aquecimento solar dentro Procel Edifica para residências: o Regulamento do Programa Brasileiro de Etiquetagem Técnico de Qualidade do Nível de Eficiência Durante o workshop, o coordenador do Energética (RTQ-R) e os Requisitos de AvaliaPBE Marcos Borges destacou a necessidade ção da Conformidade para o Nível de Eficiência de revisão do PBE Solar. Ele defendeu a Energética (RAC-R). compulsoriedade de certificação de eficiência O RTQ-R define condições técnicas das energética para os sistemas de aquecimento residências para o recebimento da etiquetasolar, alteração na Declaração do Fornecedor gem. O RAC-R vai definir o modo como as Marcos Borges para a Certificação e revisão do Regulamento edificações serão avaliadas do ponto de vista do PBE Solar. da eficiência energética para obterem o selo. Está prevista Borges observou que a compulsoriedade permite maior audiência pública sobre o PBE Solar no início de 2012.

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Divulgação

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CB-SOL Entrevista

José Ronaldo Kulb, presidente do DASOL

Setor está preparado para crescer O CB-SOL envolveu toda a cadeia produtiva do aquecimento solar em torno das questões mais importantes do setor, tendo como objetivo ampliar o mercado de forma responsável e sustentável. A avaliação é do presidente do DASOL, José Ronaldo Kulb, que na entrevista a seguir faz um balanço do congresso e fala sobre os próximos passos do DASOL. SOL BRASIL - Qual é o balanço do CB-SOL? José Ronaldo Kulb - O congresso, a feira e a demonstração ao público na praça José Bonifácio, centro de Campinas, tiveram um papel fundamental no envolvimento dos atores de toda essa cadeia produtiva do aquecimento solar. Conseguimos reunir concessionárias de energia elétrica, que são grandes consumidoras de aquecimento solar nos programas de eficiência energética; universidades como a UNICAMP, UNA, Federal de Santa Catarina, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; e todos os envolvidos na cadeia da indústria, dos fabricantes aos fornecedores de matéria-prima e revendas. Em um único evento conseguimos reunir mais de 250 pessoas, que são responsáveis por toda essa cadeia de desenvolvimento. SOL BRASIL - Quais os objetivos do DASOL e do congresso? Queremos disseminar a tecnologia do aquecimento solar no Brasil. A meta estipulada é muito ambiciosa: em quatro anos, é mais do que dobrar o parque instalado. Hoje estamos com 6,2 milhões m² de aquecimento solar instalados e pretendemos chegar a 15 milhões m² em 2015. Parte desse

crescimento será consequência do programa Minha Casa Minha Vida. Por outro lado, há um grupo de trabalho interministerial, capitaneado pelo Ministério do Meio Ambiente e do qual participam os ministérios de Minas e Energia, das Cidades e da Ciência e Tecnologia, EPE, entre outros colaboradores. O grupo criou um Plano Estratégico para disseminação da tecnologia solar térmica no Brasil com diversas ações que garantam seu crescimento sustentável pelos próximos anos. O congresso foi importante para que todos esses


CB-SOL Entrevista

“stakeholders” tomassem conhecimento desse desafio e começassem a trabalhar juntos para conseguir ampliar o mercado de forma responsável e sustentável. SOL BRASIL - Quais são os desafios para alcançar a meta de crescimento? Alguns dos desafios estão voltados para o desenvolvimento de materiais mais resistentes e de menor custo. Quando a economia começa a se recuperar, os preços das commodities, como o cobre e o alumínio, disparam porque esses recursos naturais vão se tornando cada vez mais es­ cassos. A busca de materiais alternativos, baratos, mais resistentes e de maior vida útil é um desafio natural para o setor. SOL BRASIL - Como fica a questão da qualificação de profissionais? Provavelmente este é um dos nossos maiores desafios: formar e qualificar mão de obra especializada para conseguir instalar esses quase 8 milhões m² em quatro anos. Com esse crescimento de mercado, é preciso ter centros de treinamento para projetistas e instaladores para garantir à obra, de uma forma integrada, não só o bom produto, mas a boa qualidade da instalação. Vimos em algumas palestras essa preocupação, tanto da Caixa Econômica Federal como da CDHU. Para ajudar nesta questão foi criada a Rede Procel Solar (Rede Nacional de Cooperação em Energia Solar Térmica), projeto da Eletrobras/Procel, para a criação de sete centros de capacitação no Brasil. SOL BRASIL - E como fica o fomento? A partir do momento em que se tem um crescimento tão acentuado desse mercado, algo acima de 20%, precisamos de linhas de crédito mais eficientes, mais competitivas, com taxas de juros mais atraentes como nos mercados internacionais. Estamos buscando bancos como a Caixa Econômica Federal, que já se colocou à disposição para estudar linhas específicas, tanto para a indústria quanto para o consumidor, a exemplo do que já fez para outros setores da economia. SOL BRASIL - Como será o processo de etiquetagem compulsória pelo INMETRO?

Serão nomeados OCPs (Organismos de Certificação de Produtos), que são empresas certificadoras como a da ISO 9001, para acompanhar, monitorar, prestar consultoria e certificar os produtos do mercado em conformidade com as normas vigentes, com acompanhamento dos processos produtivos e do sistema da qualidade. Essas empresas serão os olhos do INMETRO no mercado. Teremos também, no mínimo, dois laboratórios, o que é uma premissa para que haja compulsoriedade. SOL BRASIL - O que mais é preciso fazer? É fundamental o estabelecimento de políticas governamentais de incentivo ao uso de aquecimento solar. Já temos algumas leis, por exemplo, de obrigatoriedade na cidade de São Paulo e de incentivos em alguns municípios, como os que dão desconto no IPTU para o consumidor que adotar o SAS. Mas, apesar das leis, não temos visto um crescimento significativo do mercado. A lei é feita, aprovada e regulamentada, mas é preciso monitorar para que seja efetivamente aplicada. Realizamos no DASOL uma pesquisa com resultados bastante frustrantes, mostrando que muitas das leis municipais de incentivo não estão surtindo os efeitos esperados. SOL BRASIL - Qual a importância da universidade? O papel da universidade como parceira da indústria é determinante na pesquisa e desenvolvimento, ou seja, se o Brasil quiser ser um país desenvolvido, tem que investir em pesquisa, inovação e tecnologia. Por isso, é muito importante que a universidade atue junto à indústria, usando linhas como FINEP e FAPESP, entre outras. SOL BRASIL - O setor está organizado para esse novo cenário? O setor nunca esteve tão organizado e o CB-SOL é uma clara demonstração dessa organização setorial. Conseguimos trazer praticamente todos os atores do setor, além de palestrantes estrangeiros que mostraram para o Brasil uma visão de mercados mais maduros. Durante o CB-SOL, participantes visitaram a Exposolar

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Setor quer mais informação técnica Participantes do Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar elogiaram a organização do evento e o nível técnico dos palestrantes. Também fizeram sugestões e confirmaram que uma das grandes demandas do setor é por mais informação e capacitação técnica. Para Jamil Hussni Jr., da Tosi, o CBSOL trouxe informações importantes sobre ações de investimento para aumentar a tecnologia dos produtos do setor. Além disso, “este evento aumenta a visibilidade dos fabricantes junto ao mercado. Isto faz com que tenhamos um aumento da qualidade dos produtos e a inserção de novas empresas informais no Departamento”. O vice-presidente de Operações e Finanças do DASOL Edson Pereira (Transsen) destacou a programação do CB-SOL, que abordou temas como mercado, perspectivas e oportunidades. Edson Pereira

“Foi um marco para o setor em um momento especial, quando o aquecimento solar ganha projeção e sinaliza como alternativa para contribuir com a matriz energética, com fortalecimento da iniciativa privada e também do governo nos programas habitacionais e leis de incentivo”, observou. Oscar de Mattos, da Heliotek, sugeriu que, nos próximos eventos, as empresas fornecedoras de matéria-prima e componentes invistam mais em informação técnica sobre a aplicação de seus materiais nos sistemas de aquecimento solar. O participante destacou também a necessidade de mais fóruns técnicos. O vice-presidente de Marketing do DASOL Luís Augusto Ferrari Mazzon (Soletrol), salientou a aproximação entre os diversos agentes envolvidos,


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o amadurecimento do setor e a importância Opinião do Comitê Técnico de mostrar o potencial de crescimento desse mercado. Ele fez sugestões de melhoria na A professora Elizabeth Marques Duarte organização do evento que, na sua opinião, Pereira, do Centro Universitário UNA-MG, deveria ser intercalado com a Febrava. destacou a pluralidade de stakeholders no Hans Rauschmayer, da Solarize, consideCB-Solar, com representantes de ministérios rou muito rica a discussão sobre programas e instituições nacionais e, pela primeira vez, governamentais e certificação, mas sentiu internacionais. No entanto, a professora confalta do debate sobre tecnologias inovadoras siderou pequena a participação de estudane sistemas populares. tes e professores de universidades e escolas O coordenador da Rede Procel Solar da técnicas. “Isso dificulta a disseminação da Eletrobras, Emerson Salvador, agradeceu tecnologia”, avaliou. pela oportunidade de colaborar na iniciatiOpinião semelhante é compartilhada va do DASOL, enquanto o gerente de meio por Carlos Artur Alencar, vice-presidente ambiente da Caixa, Jean Benevides, reforçou de Tecnologia e Meio Ambiente do DASOL que a instituição está sempre disponível para e integrante do comitê técnico do CB-SOL, apoiar ações que promovam a eficiência que defendeu maior estruturação da cadeia Carlos Artur Alencar energética e as energias renováveis. de atendimento e qualificação profissional. Para Danielle Assafin, do Inmetro, o Segundo ele, o congresso evidenciou as muitas e diverevento proporcionou sas possibilidades para um grande aprendizado. o setor solar térmico, “Achei a programação como maior demanda bem elaborada e gostei para alguns segmentos das palestras sobre o se(como os programas gotor na ótica das políticas vernamentais). “E tampúblicas. Gostei também bém novas fronteiras de do painel com empresas aplicação industrial e fornecedoras, que pocomercial, especialmendem contribuir para a te a temperaturas mais melhoria dos produtos.” elevadas.”

Luís Augusto Mazzon

Emerson Salvador

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Mundo Verde Foto: Viessmann

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Pensando grande Ina Röpcke Da Sun & Wind Energy

O mercado francês de aquecimento solar recupera-se lentamente da retração dos últimos anos. A grande esperança dos fabricantes é o crescimento do sistema doméstico para prédios de apartamentos e a nova Lei de Aquecimento por Energias Renováveis

Foto: Viessmann / Atelier Michel Jolyot

O reservatório térmico solar fica no interior da casa e não no jardim. “Afinal de contas, queremos aquecer a casa e não o jardim.” Foi o cliente Jean Frédéric Stambach, de Roeschwoog, Alsácia, França, quem teve que dizer isto ao arquiteto responsável por melhorar a performance do aquecimento solar na casa da família em 2005/2006. Naquela época, o conceito de aquecimento envolvendo grandes sistemas solares térmicos abriu uma nova fronteira para o arquiteto. Isto porque inicialmente ele pretendia instalar um reservatório de 11 mil litros na área externa. Vizinhos e conhecidos também tinham suas dúvidas. “Você está louco. Nunca irá funcionar.” Stambach ouvia frequentemente afirmações como essa. Hoje, aos 39 anos de idade, lembra que seus pais já possuíam um pequeno sistema de aquecimento de água instalado em 1981. Ele diz que o sistema com área coletora de 36 m² funciona perfeitamente desde a sua instalação em 2006. Por que essa motivação pela

energia solar térmica, apesar de todas as probabilidades? “Conscientização ambiental. E nós queríamos reduzir os custos”, responde ele, sem mais delongas. Como está atualmente, a indústria de aquecimento solar francesa vai certamente necessitar de mais pessoas como Stambach e seus pais. Desde o recorde de 2008, o mercado de sistemas de aquecimento solar está em declínio. Apenas o segmento de sistemas coletivos para prédios de apartamentos continua crescendo graças ao programa de financiamento Fonds Chaleur (Fundo para Aquecimento). É neste programa que a indústria coloca agora a sua esperança – e em uma nova Lei de Aquecimento por Energias Renováveis.

Plano Soleil “O mercado solar térmico reiniciou do nada a partir de 1999, com uma abordagem global: os subsídios, treinamento de instaladores para se tornarem membros da Rede Qualisol, seleção de sistemas completos (coletores, reservatórios, bombas e tubulações) e marketing”, diz Richard Loyen, diretor da Enerplan, associação francesa dos negócios de energia solar. “Naquela época, aplicações solares térmicas foram consideradas uma nova solução para a habitação. A tendência era para se instalar um único sistema térmico solar.” As medidas idealizadas por Loyen foram lançadas como parte do Plano Soleil. O governo

Construído em Bétheny em 2010, prédio com 13 apartamentos tem 211 coletores solares para aquecimento de água


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Condições favoráveis Quando a campanha terminou em 2005, as organizações e as instituições recém-criadas mantiveram as ações lançadas com sucesso, aproveitando as condições favoráveis. Para dar continuidade ao Qualisol, a Enerplan criou a organização Qualit’EnR juntamente com três organizações da indústria, comércio e construção (CAPEB, UCF-FFB e UNCP-FFB) e a Associação Francesa da Indústria de Energia Renovável (SER). Esta organização dedica-se ainda mais à garantia da qualidade. Uma medida para esta finalidade é o selo Ô Solaire. Este documento atesta que os pequenos componentes etiquetados dos sistemas de água quente atendem a todas as normas da União Europeia e aos regulamentos franceses. Muitos fabricantes concordaram em aderir ao selo. Já havia precursores do Ô Solaire durante o Plano Soleil. Naquela época, a Ademe determinou os critérios para os componentes de sistemas elegíveis em casas particulares. A Qualit’EnR também tem como objetivo que cada operador interessado seja capaz de encontrar mão de obra qualificada na vizinhança. Esta mão de obra pode ser encontrada por meio do portal da internet de mesmo nome. Segundo o site, mais de 13.000 empresas já pertencem à rede Qualisol.

Instalação coletiva típica, apoiada pelo Chaleur Fonds. Construída em 2010 em Estrasburgo, habitação pública tem 300 coletores solares instalados

A Qualit’EnR continua fornecendo mão de obra treinada e assistência para controlar seu trabalho. Além disso, peritos formam instrutores para oferecer treinamento solar térmico avançado e supervisionam as instalações de treinamento.

Formação avançada De acordo com Richard Loyen, existem atualmente mais de 70 centros de capacitação para Qualisol, geralmente localizados nas indústrias do setor. “Temos um centro no grupo Giordano, chamado BE Solar, que organiza treinamentos para instaladores”, diz Pascale Bonnoure, vice-presidente das Indústrias Giordano, um dos quatro principais fabricantes da França. Quando perguntado se considera significativas e bemsucedidas as medidas do Qualisol, ele responde com um sonoro sim. Nicolas Flament, gerente de marketing da marca Saunier Duval, do Grupo Vaillant, acrescenta: “Em relação ao segmento residencial individual, Qualisol e Ô Solaire são ferramentas adequadas para facilitar as decisões dos usuários”. Mas também critica o fato de que o selo Qualisol é por vezes muito fácil de se obter. Como os centros de capacitação estão geralmente localizados nos fabricantes e seus participantes são também seus clientes, as empresas dificilmente irão negar-lhes o certificado ao verificar inconformidades aqui ou ali. Com o fim do Plano Soleil, os requisitos de elegibilidade também mudaram. Em vez de subsídios fornecidos pela Ademe, operadores do sistema emitem notas de crédito no imposto de renda. Inicialmente, o benefício era de 40% dos custos do investimento. Em 2006, o benefício subiu para 50%. Desde abril de 2009, os investidores no setor doméstico também se beneficiam de um empréstimo sem juros para a renovação de edifícios existentes. Além disso, os compradores podem tirar partido dos lucrativos subsídios regionais e municipais. Desde 2006, as subvenções diretas do governo central estão disponíveis apenas para grandes sistemas solares térmicos para construções multifamiliares, edifícios de

FFoto:Viessmann / Geneviève Engel

francês iniciou uma campanha solar térmica nacional em 1999 e a agência ambiental e de energia Ademe implantou o plano. Até a década de 90, muitas piscinas ainda eram construídas na França. Elas tinham sido fortemente promovidas na década de 80. Então os sistemas domésticos de aquecimento de água tinham que ser promovidos também para atingir o mesmo sucesso. O Plano Soleil tinha dois pilares principais. Com o subsídio para investimento em aquecimento de água e sistemas centralizados completos, a Ademe tentou inicialmente criar um incentivo para os consumidores comprarem esses sistemas. Um mercado novo e próspero atrai muita mão de obra e, em muitos dos casos, uma mão de obra não qualificada. Para garantir qualidade suficiente nas instalações, a Ademe definiu o padrão de qualidade Qualisol juntamente com a organização de intercomércio francesa Enerplan. Seus objetivos eram a capacitação avançada de instaladores e controle de qualidade. As medidas funcionaram. Ente 2000 e 2005, o número de novas instalações cresceu de forma contínua. Os relatórios de Richard Loyen indicam mais de 500 mil m² de área de coletores instalados durante a campanha.

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Foto: Giordano Industries

Na França, instalações com telhado integrado são mais comuns que em outros países

aplicações coletivas”, confirma Flament. Gilles Walterspieler, diretor de relações públicas da Viessmann France, em Faulquemont, também diz que os sistemas de médio a grande porte, edifícios residenciais e prédios novos são os segmentos em que a empresa vem experimentando crescimento recentemente.

apartamentos e instalações do setor de serviços (sistemas coletivos). O termo sistema de grande escala geralmente indica sistemas com área de 25 m² ou mais. Em 2008, a instalação de novos coletores atingiu o seu pico. De acordo com a Federação da Indústria Solar Térmica Europeia (ESTIF), 313 mil m² de área foram instalados naquele ano. A queda em todo o mercado europeu de energia solar térmica no ano seguinte também atingiu a França. A área de coletores novos instalados caiu para 265 mil m² na França continental em 2009. Contra essa tendência, o mercado de sistemas coletivos cresceu em 2009. De acordo com a Enerplan, 68 mil m² de área de coletor (47,6 MWth) foram instalados nesse ano, cerca de 10 mil m² a mais que em 2008. Em 2010, a indústria francesa teve que lidar com uma nova redução para 256 mil m² (179 mil kWth). Isto correspondeu a uma queda de 3,4% em relação ao ano anterior.

Sistemas coletivos O crescimento no segmento de sistemas coletivos de mercado baseia-se principalmente no Chaleur Fonds (Fundos para Aquecimento). O programa de financiamento para usinas de energia solar térmica, biomassa, geotérmica e biogás foi criado em 2009. Assim como o Plano Soleil, a agência francesa de energia e meio ambiente Ademe é responsável pela sua implantação. O financiamento é aberto aos proprietários de prédios de apartamentos e fabricantes de sistemas para o setor de serviços, por exemplo, hospitais, enfermarias e edifícios em locais de camping. São reembolsados com estes fundos de 70% a 80% do total do investimento. “Para o segmento residencial coletivo e para aplicações específicas, como a agricultura e a indústria, algumas operações foram possíveis graças ao Chaleur Fonds”, afirma Nicolas Flament sobre a eficácia desta medida. A tendência do mercado que surgiu em 2009 continua. Enquanto o mercado de sistemas simples ou combinados está em queda, o segmento de sistemas coletivos continua a crescer. “Assistimos a um mercado em declínio para a energia solar como suporte de aquecimento. Já para água quente sanitária, vemos uma tendência positiva para as

Razões para o declínio Há um consenso sobre o motivo de o mercado estar em queda. As empresas pesquisadas concordam que uma das principais razões é a crise econômica de 2008 e suas consequências, tais como o declínio do setor da construção. Outra razão é que o mercado de energia solar térmica tem sido superado pelo mercado de energia fotovoltaica. A concorrência com a energia fotovoltaica foi crescendo na França devido às lucrativas tarifas praticadas na compra do excedente dessa energia desde 2008. As bombas de calor são consideradas também como outra tecnologia concorrente no setor de energia renovável. Além disso, as tarifas de eletricidade na França são muito favoráveis. Esta é uma das razões pelas quais os aquecedores elétricos são a fonte de calor mais comum. Segundo alguns fabricantes, os principais obstáculos são a política de “stop-and-go” do governo e o retorno persistentemente longo sobre o investimento nos sistemas, devido aos custos de produto em relação às energias tradicionais. Eles também citam os preços em queda do petróleo e do gás como outra barreira naquele mercado. Esses fabricantes acreditam que a imagem de sistemas de energia solar tenha sido danificada devido a uma campanha negativa da mídia francesa no final do ano passado, mostrando defeitos em instalações fotovoltaicas. Eles indicam que a maioria dos consumidores ainda não sabe a diferença entre coletores solares e painéis fotovoltaicos. Dessa forma, a imagem negativa dos sistemas de fotovoltaicos foi transferida para sistemas térmicos solares.

Crescimento esperado No momento, a esperança é de que o mercado possa, pelo menos, ficar no mesmo nível de 2010. Para os anos seguintes, no entanto, a indústria espera novamente um crescimento de modo que, em 2020, 20% do total de energia venham de fontes renováveis. A primeira implementação da diretiva da União Europeia já seria o Grenelle de I’Environnement. Esta lei ambiental prevê que o armazenamento de água quente dos prédios habitacionais administrados pelo governo, com cerca de 4,2 milhões de apartamentos, deve ser renovado até 2020. Os sistemas de aquecimento central de grande porte para


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essas habitações não teriam o financiamento do Chaleur Fonds. É por isso que o mercado de energia solar térmica deve lucrar com isso. Outro vislumbre de esperança para a indústria é a nova regulamentação térmica RT 2012. Dependendo do uso do edifício, a lei entra em vigor em momentos diferentes. Para edifícios residenciais este é o caso já em 1º de janeiro de 2013. A lei estipula que novos prédios só podem ter uma demanda de energia primária de no máximo 50 kWh/m². O antecessor RT 2005 admitia 150 kWh/m² e beneficiava sistemas de energia solar no setor da construção, pois a redução da demanda de energia primária requer aquecimento eficiente da água quente.

Novo certificado Fabricantes vêem outra inovação com sentimentos contraditórios. A nova certificação para sistemas solares de água quente, chamada NF CESI, está em preparação. Para os fabricantes, isso significa que eles precisam ter uma certificação completa do sistema de energia solar incluindo os coletores, tanque, controlador, tanque de expansão e tubulações. Quando fizerem mudanças em um componente, o teste de certificação – pelo menos em parte – tem de ser repetido. Os críticos desta nova certificação apenas viram outro fator de custo e de tempo para os fabricantes. Eles a comparam com as certificações do instituto CSTB que muitas vezes são necessárias na França, além da certificação solar europeia Keymark. Flament, de Vaillant, no entanto, considera o novo certificado uma coisa boa. Ele acredita que é mais um elemento da garantia da qualidade e que irá tornar a escolha mais fácil para os usuários finais.

Foto: Jean Frédéric Stambac

Tradução e adaptação: Paulo Bezerra Herebia, engenheiro do DASOL

Mais telhados Mas também existem outros problemas com que os fabricantes têm que lidar. Na França, a proporção de sistemas de telhados integrados a sistemas térmicos solares é maior do que em outros países. Isso vale principalmente para o sul da França. Ali, existem muitos telhados no estilo espanhol. A integração do teto (forro) com telhado, com garantia de impermeabilidade, é significativamente mais exigente do que um sistema de telhado convencional. Exige também um sistema de montagem para telhado integrado. Fabricantes que até agora eram especializados em sistema convencional de telhado montado agora também devem definir se querem desenvolver e oferecer sistemas para o crescente segmento de teto integrado. Sistemas de telhadomontado em formato padrão são mais econômicos. Além disso, o mercado de energia solar térmica na França é altamente diferenciado. A gama de produtos abrange sistemas de alto desempenho, seja com coletores planos ou tubo, e sistemas de termossifão de menor custo. O mercado para sistemas de termossifão está localizado principalmente no exterior. Membros da indústria dizem que o mercado é “pequeno e difícil”. Embora o número de sistemas “não seja insignificante” a partir de uma perspectiva de receita, o mercado externo continua sendo “insignificante”. O fabricante terá, contudo, que decidir quais segmentos do mercado de energia solar térmica devem ser atendidos no futuro.

Fornecedores de energia O número de fabricantes e fornecedores de componentes para sistemas térmicos solares ainda é moderado na França. Em relação a novos desenvolvimentos, as oportunidades se voltam para os grandes sistemas. Aqui, as características especiais de fornecimento de calor apresentam um desafio para os fabricantes. Em prédios de apartamentos e grandes edifícios, muitos moradores usam a eletricidade para aquecer a água. Se seus sistemas de aquecimento devem ser suportados por energia solar, surge a questão de como e onde serão melhor instalados. Mas o dono da casa solar Jean Frédéric Stambach não está interessado nessas oportunidades. Ele está plenamente satisfeito com o seu sistema. Quando ele reconstruiu sua casa, simplesmente colocou coletores em cima do telhado novo.

Casa de Jean Frédéric Stambach, construída em 2006 em Roeschwoog, Alsácia, tem 36 m2 de coletores solares, o que permite cobertura solar de 80%

Mais informações: Ademe: www.ademe.fr Enerplan: www.enerplan.asso.fr Qualit’EnR: www.qualit-enr.org SOCOL: www.solaire-collectif.fr

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