Revista Subjetiva - Edição N° 5

Page 1

SUBJETIVA

JULHO| AGOSTO | SETEMBRO

EDIÇÃO N.º5


REVISTA SUBJETIVA 01 Como ser homem em uma cultura do estupro 02 Minha primeira vez no ginecologista 03 (Se) mudar 04 Subjetivo 05 Infidelidade 06 Quantas vezes a palavra “Amazônia” aparece no Plano Bolsonaro? 07 O Meio Ambiente no Plano de Governo de Bolsonaro 08 Quem disse que branco não pode ser zoado? Entrevistando a White People Problems 09 A geração que acha “descolado” trabalhar demais 10 Você não sabe foder

EDITORES Mayra Chomski @maychomski

Medium @mayrachomski

Lucas Machado @luquismos

@luquismos Medium


COMO SER HOMEM EM UMA CULTURA DO ESTUPRO Escrito por Tales Gubes Recentemente conheci um moço num desses aplicativos de flerte que existem aos montes para o público gay. Conversamos bastante, gostamos do papo e decidimos nos encontrar. Fomos ao shopping e depois viemos para a minha casa. Conforme migramos da conversa para uma interação mais sexual, ele compartilhou comigo que preferia não ser penetrado naquela noite porque não havia se preparado e não estava confortável com essa ideia. “Se preparar” significa higienizar o ânus, o que chamamos vulgarmente de “fazer a chuca”. Essa é uma prática comum entre pessoas que curtem ser penetradas porque ajuda a evitar qualquer resquício de fezes durante a penetração. Isso por si só já seria uma questão para um texto próprio, já que a chuca é um procedimento invasivo, que acho chato de fazer e que tem a ver com uma noção de higiene muito distante do que me parece a realidade do que é ser humano. Eu disse que tudo bem. Havia tantas outras coisas que poderíamos fazer juntos sexualmente, inclusive sem envolver penetração anal. Seguimos transando e depois fomos para o banho. E lá, embaixo da água quente, ele soltou um comentário: “achei que você ia me comer…”. A primeira coisa que eu lembrei foi de um comediante (cujo nome me fugiu da memória). Ele conta sobre uma moça com a qual ele interaje intensamente numa festa. Uma ou duas vezes ele tenta escorregar a mão para dentro da roupa dela e ela recusa, então ficam apenas nos beijos pelo resto da noite e era isso. No dia seguinte, eles conversam e ela fala que queria que eles tivessem feito sexo, mas gostaria que ele tivesse forçado. O final da piada foi algo como “eu deveria te estuprar baseado na remota chance de que você gostasse disso?”. Isso não tem graça, especialmente porque nós homens somos treinados a pensar que o “não” de uma pessoa na verdade significa “tenta mais um pouco que rola”. Porque nós homens em geral somos ensinados que podemos tudo e que todos os nossos desejos devem ser servidos. Se possível, imediatamente. E sempre é possível, no máximo o que falta é um pouco de força.


De volta ao banho com o moço, respondi que ele havia me sinalizado que não estava confortável com ser penetrado naquele momento e que por isso não pensara em tentar. Aí ele disse algo que me roubou o chão: “é que os caras nunca respeitam quando eu falo isso…”. Passei meses digerindo essa conversa. Ainda sinto um embrulho no estômago sempre que penso em quão fácil é violentar uma pessoa. Porque eu também sinto vontade de tentar só um pouquinho mais pra ver se rola. Na hora do tesão, quando minha parte mais bicho fica aflorada, é justamente quando o piloto automático — aquele que age sem o filtro da consciência — ganha força. Esse piloto automático é a soma dos meus desejos com as estratégias que me foram ensinadas e reforçadas culturalmente ao longo da vida. É no piloto automático que minha formação como homem numa sociedade machista ganha vida e força. O que dá pra fazer frente a isso é respirar, sair do piloto automático e ganhar consciência sobre o quanto é fácil reproduzir comportamentos violentos. Esses comportamentos nem sempre são óbvios. Às vezes eles estão na sutileza de um comentário que escapa num momento de raiva, ou na intensidade de um não ignorado. E aí a gente marca a vida de alguém, às vezes ao ponto de esse alguém acreditar que isso é normal. Dois dias depois do nosso encontro, o moço me escreveu dizendo que saiu com um outro cara. “Foi uma merda e a culpa é sua”, ele disse. Perguntei o motivo. “Ele me tratou ma e eu não aceitei”. Respirei um pouco mais aliviado. Às vezes a gente marca a vida de alguém de forma positiva, lembrando que ser violentado não é aceitável.


MINHA PRIMEIRA VEZ NO GINECOLOGISTA A virgindade recém perdida, um puta medo de engravidar e uma médica babaca.

Escrito por Ana Clara Barbosa Eu tinha 18 anos. Era solteira, doida pra dar e acabar logo com o fantasma da virgindade. Nunca foi do tipo que idealizei “a noite perfeita”, com o príncipe encantado e luz de velas. O requisito era básico: não ser um idiota que fizesse eu me arrepender pelo resto da minha vida. Por incrível que pareça, não é tão fácil assim encontrar alguém que se enquadre nessas exigências quando você é uma mulher heterossexual. Mas eu achei. Aí foi dito e feito. E refeito. Feito mais algumas vezes. “Bom, agora que eu transo, preciso ir no ginecologista e começar a tomar pílula”, pensei eu. Afinal, se eu queria transar, tinha mais é que me preocupar em não ficar grávida, não é mesmo? E que maneira melhor para fazer isso, a não ser enfiando um monte de hormônio no meu corpo sem pensar exatamente quais as consequências disso para a minha saúde? Eu era meio idiota, mas sempre fui minimamente responsável — e medrosa. O primeiro desafio foi marcar a consulta sem contar nada pra minha mãe. Eu já tinha 18 anos, é verdade, mas o fato é que ninguém aceita muito bem quando a sua história sobre a primeira transa não envolve um amor verdadeiro e muito romantismo. Por isso, procurei a única pessoa próxima que não me julgaria: minha irmã. Arquitetamos um plano juvenil, mas perfeito. Ela, com seus 20 anos, iria numa consulta de rotina, e eu iria acompanhá-la. Fomos lá. Eu tava nervosa, é óbvio. Até hoje eu fico constrangida nas minhas idas à ginecologista, apesar de tentar disfarçar falando sobre assuntos banais enquanto tô de perna aberta, com uma médica enfiando o dedo na minha pepeca. Enfim. Naquele dia eu tava com a mão tremendo, sem saber o que iria dizer, na esperança de que a doutora conduziria a consulta e entenderia, apenas pelo meu olhar inseguro, o que eu tava fazendo ali. Entramos na sala e a médica nem olhou na minha cara. Normal, relevei. E aí ela começou com aquele montão de pergunta:


Qual seu nome? Quantos anos você tem ? Quanto você pesa? Você namora? Fui respondendo tudo meio no automático, corroída pela vergonha, esperando que ela perguntasse da bendita virgindade. Mas esse momento não chegou. Não teve nenhuma brecha, nenhuma pergunta que fizesse eu me sentir confortável o suficiente pra dizer que tinha transado e que tava ali pra ter certeza de que tava tudo bem. Então foi do jeito que deu mesmo, falei que queria começar a tomar pílula, sem explicar muito o porquê, e juro que ela me disse:

“Ué, mas você disse que não namora, pra quer quer tomar pílula?” Sim. Foi isso mesmo. Eu, me sentindo um lixo, a pior mulher da face da terra, a maior puta da história, consegui responder que sim, eu tinha dito que não namorava, mas não que não transava. Como se precisasse de justificativa, falei mais um monte de coisa do tipo “quero regular meu ciclo, melhorar minha pele, etc, etc”. Ela me olhou com uma baita cara de “você devia explicar direito”, me indicou uma pílula aí, sem sequer perguntar muita coisa, e eu saí do consultório com o coraçãozinho cheio de ódio e vergonha. Isso faz uns sete anos, mas essa história tem passado pela minha cabeça nos últimos dias. A gente acha que as coisas vão evoluir, que nossas escolhas serão respeitas e que nós, mulheres, poderemos ser, enfim, donas dos nossos próprios corpos. Eu não tinha exatamente esse discurso aos 18 anos de idade, mas sabia que não precisava seguir um protocolo repleto de romantismo pra transar se eu sentisse vontade. Isso nunca me serviu. Ainda assim, sempre tive impressão de que tava fazendo alguma coisa errada quando transava, até começar a namorar, dois anos depois. Hoje, com 25 anos, solteira, consciente das minhas escolhas e minhas vontades, ainda tenho que trabalhar isso na minha mente, porque, por mais que eu seja livre pra fazer o que eu quero, uma voz ainda grita “puta” na minha cabeça se eu dou no primeiro encontro. Ainda penso que nenhum cara vai me levar a sério por eu não ficar “regulando” sexo pra terceira ou quarta vez que eu sair com ele.


É claro que nada disso é culpa única e exclusivamente dessa médica, mas aquele era o tipo de ambiente em que esse julgamento não deveria existir, pelo menos na teoria. E isso reforça, sim, a ideia de que uma mulher não pode fazer aquilo que bem entender, que existem regras que devem ser seguidas e de que você não presta caso não aja de acordo com elas. Eu nunca mais pisei naquele consultório. Passei em diversas médicas depois, e me senti respeitada por todas elas — menos quando dizia que não queria mais tomar anticoncepcional, mas isso é história pra outro texto. Eu gosto de pensar que essa primeira doutora foi uma exceção, mas é importante saber que essas pessoas existem. Elas vão te julgar sim. Vão encher o caralho do seu saco, vão fazer você se sentir mal. Mas eu te garanto: a resposta não é deixar de agir, de falar ou de sentir. Na verdade, é exatamente o oposto. E por isso eu tô aqui expondo essa história, que parece boba, mas que diz muito. Na ocasião, eu me senti mal, me senti julgada e inferior. Nenhuma mulher deveria passar por isso, mas parece que sempre vai existir um ser humano babaca (inclusive, outras mulheres) que não vai saber lidar com a sua liberdade. Mas aí é aquela coisa, né? Foda-se ¯\_( )_/¯.


(SE) MUDAR

Quanta vida cabe em uma casa? Das coisas que fazem um lar.

Escrito por Yasmin Narcizo Morei em mais casas nos últimos anos do que em toda a minha vida. Logo eu, que nunca fui lá muito fã de mudanças (de todos os tipos, não só as de pertences de um lugar para o outro). Comecei a vida em apartamento, poucos anos depois fui para outro e lá permaneci por 21 anos, só saindo para ter o meu próprio canto: um apê alugado e dividido por três meninas que me rendeu as melhores histórias da vida. E, dos 26 aos 29, idade que tenho agora, já posso contar 3 apartamentos nessa lista das casas que habitei, todas acompanhando mudanças significativas também em mim. O apartamento anterior ao que vivo agora era realmente especial. Tinha um vaso na cozinha cheio de rolhas. Em cada rolha, uma data importante para nós. Aniversários, novos empregos, viagens, casamentos, momentos. Tinha uma planta linda, que era uma Peperomia, mas ganhou o apelido mesmo de Pepe em homenagem ao Mujica. Tinham duas marantas com o nome de Gaby e eu ficava chateada quando alguém não entendia a referência. Tinha um terrário que parecia a floresta amazônica, mesmo depois de ser assassinado quando colocaram álcool por engano no borrifador de água. Tinha um manjericão que virou um baita pesto por causa de uma praga e uma hortelã que escalava redes, como uma trepadeira. Tinham também uns passarinhos que vinham visitar todos os dias, sem falta. Um sanhaçu com um canto fofíssimo todas as manhãs, beija-flores de todos os tamanhos e uns outros pequenininhos que lá passavam a tarde roubando a água do bebedouro dos beija-flores. Até uma família de maritacas já tinha dado as caras algumas vezes.


Tinha um vento fresquinho o ano todo, tinha uma rede pra tomar vinho ouvindo música e curtindo um momento a dois na varanda. Tinha vida, tanta vida! Nossa, das plantas, dos bichos e dos amigos que estavam sempre por perto, bebendo cerveja, ouvindo música e contando histórias por todos os cômodos. Era uma casa rica de tudo que nos alimentava: comidas gostosas, carinho e presenças.

Uma parte da nossa casa antiga ❤

Uma casa só se torna um lar quando está cheia de vida. Tem lugares que parecem casas porque têm gente dentro, mas que, na verdade, são só tetos. Essa, não. Ela foi o nosso refúgio, o nosso conforto, o nosso lar e o nosso abrigo desde o primeiro dia. Nos piores e nos melhores momentos, chegar em casa sempre foi um alívio naquele lugar. Ela nos viu aprender a cozinhar, cantar e dançar às gargalhadas, chorar com as séries mais bobas, brincar com os filhos dos amigos, casar, fazer planos, trabalhar até a madrugada e tantos outros marcos que nem consigo pensar. Sair de lá foi como deixar um pedaço de mim para trás e fechar a porta para um futuro que nunca viria, mas que seria incrível se viesse, tenho certeza.


Mas, como eu estava dizendo, um imóvel só é uma casa quando a vida pulsa entre as paredes. Quando começamos a tirar as coisas lá de dentro, eu chorei várias vezes, mas vê-la sem os quadros nas paredes, a varanda sem rede e a cozinha sem os apetrechos para fazer as nossas melhores receitas me fez entender que ela não seria mais a nossa casa, quando a mudança acabasse. Seria só um lugar (maravilhoso e que vai fazer muito feliz aos próximos que ali construírem um lar). Entramos na nossa casa atual no exato dia em que completamos um ano de casados. Como meu pai mesmo disse, dia auspicioso para um recomeço! Trouxemos conosco pouco do apartamento antigo, mas tudo de nós. Aos poucos, lavamos os novos pratos, furamos paredes e seguimos ajeitando o lugar para ele ter tanto de nós quanto possível. Se faltar espaço, vai sobrar amor — tanto, que nem sei onde vamos guardar. Escrevo esse texto para vocês olhando pela janela que dá pro quintal. Lá fora, o dia está ensolarado e o maridão tenta dominar as plantas que insistem em crescer demais. Não está tudo pronto, mas já nos sentimos em casa. Os objetos que ficaram para trás já nem fazem mais tanta falta (as pessoas, sim, essas fazem uma falta danada). Sei lá, não dá pra explicar como. Já queremos receber os amigos, já queremos mostrar pra família, já queremos tornar o nosso lugar quase que sagrado novamente. Esse lugar já tem vida. No fim das contas, mudar não é tão difícil. Dói, mas passa. Tudo na vida muda o tempo inteiro, mudar é inerente à condição de estar vivo. Antes de sair encaixotando as coisas, o importante é entender que a mudança precisa, primeiro, estar em nós.


SUBJETIVO Escrito por Leonardo Gonçalves Não sei se a humanidade um dia chegará a um determinado ponto onde as razões da vida e da existência façam algum sentido. Viver ainda é subjetivo. Questionar a existência dentro de seus “porquês” é insano. Não há nada que justifique o nosso processo vital. O fato é que aqui estamos e temos que arcar com as consequências da vida. Lutar pelo nosso espaço, liberdade, direitos e tantas outras batalhas individuais e coletivas que nos cercam, sem esquecer de fazer com que a vida seja suportável, agradável, significativa e feliz. Dentre tantas nuances da vida existe uma que em particular me intriga, aliás me desconcerta e me faz crer que nunca estaremos preparados para absolutamente nada. Falo do imprevisto. Não falo de um imprevisto qualquer como o de um voo cancelado, de um ônibus quebrado ou da luz que acabou em algum momento inoportuno. Falo daqueles imprevistos que mudam o rumo da vida, aqueles que tiram o nosso eixo do lugar, que nos jogam ao relento da vida e nos fazem notar que não somos nada, absolutamente nada. Tudo está por um triz, viver é frágil, um dia acordamos com a certeza de que a vida está dentro do esperado e no outro tudo mudou. O imprevisto nos acontece sem o anúncio. Nos é negado a chance de diminuir os impactos causados, ele simplesmente acontece, muda onde estamos, muda quem somos, altera o futuro. Parece que o tempo e o imprevisto são forças antagônicas que conduzem a humanidade em seu insano desfecho. Talvez encontrar razões para vida não seja um caminho muito eficiente, mas trabalhar o indivíduo em sua individualidade e evolução seja um caminho recompensador. Sempre que me deparo com o imprevisto tento retomar o segundo que o antecedeu, o silêncio que o precedeu, o estado das coisas que se alteraram. Não que alguma coisa se resolva mas fica claro a dimensão da mudança. Mesmo diante dos imprevistos não devemos temer que as coisas mudem, mudar se faz necessário é um dos caminhos para evolução. Existir talvez seja o imprevisto da vida.


INFIDELIDADE PESSOAL Você tem sido… você?

Escrito por Rafael Oliveira No ponto de ônibus, ele refletiu e percebeu suas pequenas incoerências pessoais. Sua personalidade não estava coincidindo com o que ele (a versão verdadeira dele) é. Coisas como essa que vem sem aviso e te fazem questionar os passos de uma longa jornada (a dele própria, até o presente momento). Há algum tempo ele tem vivido a sombra de uma versão falsa dele, uma persona. Ele negou, inconscientemente, a si mesmo, e não viu tudo que se sucedeu Imediatamente veio a pergunta, Há quanto tempo isso se sucedeu? Quem ele era, na verdade? Há quanto tempo o espelho mentiu e ele mentiu e o outros acreditaram na mentira? Logo todo o questionamento se desfez porque o ônibus chegou e é hora de cochilar no transporte em movimento.

...

Ele viu, ao olhar para trás e para tudo que fez, que há algum tempo ele não tem sido ele mesmo. Ou quem queria ser. Já faz um tempo que uma certa insatisfação foi tomando conta do seu peito, aquela pontadinha que diz “algo não está certo”, mas que não se sabe exatamente o que é. Ele não sabia de onde partir. Orbitando e orbitando e orbitando em si mesmo, na busca de se descobrir, de se refazer e de se manter fixo em algo. Ele seguiu assim ao longo desses dias de confusão mental. Foi descobrindo quem era e quem queria ser. Seguiu um tempo olhando apenas para si mesmo, com bastante cuidado. Há tantas camadas que foram construídas em cima de sua pele, uma por cima da outra, que ele não vê a si mesmo no seu reflexo.


E essas camadas vão se desmanchando a medida que são colapsadas e são refeitas conforme necessárias. Ele de súbito parou. Inspirou e expirou. Observou as peculiaridades sutis que passaram despercebidas por tanto tempo. Aquelas mesmas mentiras… aquelas personas… Pensou em que era e quem queria ser. Se esse escopo de pessoa é palpável ou se estava usando parâmetros injustos e se comparando aos outros em busca de algo que não é adequado. O pé no chão se torna imprescindível nesses momentos. Entrou na busca incessante para se conhecer. E nada mais importou. Viu os momentos onde perdeu seu norte, onde uma versão que não condizia assumiu o controle. Viu que a partir desses momentos, se tornou um expectador passivo de suas próprias (próprias?) ações. Pequenas traições pessoais que se tornaram recorrentes. Momentos onde faltaram freios. Em que ele tentou ser um gás, sem volume, e foi tirando de si para caber em espaços diminutos e dando o que não tinha para preencher esse vazio. “Quando saio da minha casa (a que não é espaço físico com paredes e tetos) para procurar abrigo em uma morada que não dá conforto, que não me afaga. Onde a cama é pequena demais e os moveis empoeirados atacam a rinite.” Nesses momentos, ele vislumbrou-os, tudo deixa de fazer sentido. Porque tudo isso faz parte de uma esfera pessoal (em desordem no momento) onde só ele habita e só ele respira e só ele cuida e só ele. E apenas ele. “Dói ser você mesmo?”. Dói ter a certeza de que o mundo contínua o mesmo, mesmo quando você não é mais você. De resto, corresponder a si mesmo, e sem aquelas falsas camadas, é no mínimo reconfortante. Ele escreveu um auto recado para lembrar de não esquecer dos dias escuros e ao mesmo tempo não se fragmentar neles. Ele é mais que um corpo físico e uma crise e algumas contradições, embora tudo isso seja imprescindível para ele se constituir.


É uma resultante de milhares e milhares de vetores. No fim de tudo, ele entrou em uma ressonância pessoal. Destruiu todos os estratos superficiais que pôde, a medida do possível, e jogou fora tudo que não servia, ou que já deixou de servir. Sua esfera pessoal estava completamente em ordem (e demorou tanto tempo para tal…). Pelo menos, por ora. A verdade é que ele (todos nós), depois de tudo isso, se tornou uma casa recém limpa e arrumada que irá ficar empoeirada e bagunçada dias depois (não se sabe quando) porque as coisas não são estáticas e as vezes não temos tempo para por tudo em ordem. E fica tudo uma rebordosa novamente. Mas agora ele tem seu eixo de rotação bem firme e sabe girar ao redor dele. Sabe ao menos de onde partir. Seguiu com uma máxima pessoal absoluta: “Mostrar como é, ser como puder” e o mundo continuou exatamente o mesmo, só que para ele tudo adquiriu uma nuance mais aprazível. Daquelas de quem só quem está bem consigo possui.


QUANTAS VEZES A PALAVRA “AMAZÔNIA” APARECE NO PLANO BOLSONARO? Escrito por Peterson Fernandes

Nenhuma.


O MEIO AMBIENTE NO PLANO DE GOVERNO DE BOLSONARO Escrito por Peterson Fernandes A palavra “Meio Ambiente” aparece apenas uma vez nas 81 páginas do Plano de Governo do presidente Jair Bolsonaro. Pesquise você mesmo no arquivo oficial e comprove.

Além disso, uma série de palavras relativas ao assunto simplesmente não existem no documento, como por exemplo: Amazônia Floresta Árvore Mata atlântica Bioma Desmatamento Indígena Ecologia Queimadas Natureza Todas essas palavras não são citadas. Em contrapartida, você encontrará as palavras abaixo pelo menos 5 vezes: Armas Foro de São Paulo EUA Doutrinação


Curioso, né? Portanto, quando você se perguntar “O que Bolsonaro tem a ver com as queimadas?”, lembre-se: se você não planeja nada sobre um determinado assunto, ele certamente não faz parte das suas preocupações.


QUEM DISSE QUE BRANCO NÃO PODE SER ZOADO? ENTREVISTANDO A WHITE PEOPLE PROBLEMS Escrito por Victor Hugo Liporage Encontrei Erinaldo na Praça Mauá, centro do Rio de Janeiro, para que me contasse sobre sua página no Facebook, a White People Problems (“Problemas de Gente Branca, em tradução livre). Ele veio de Santa Cruz da Serra (município a quase 40 km de distância), desceu na Central do Brasil e disse que teve um leve problema com o patinete elétrico que iria alugar pelo seu iPhone (“fala iPhone, não fala celular”) para me encontrar. Um White People Problem. Mas afinal, o que são White People Problems? Segundo Erinaldo, é “alguma reclamação muito fútil, boba e que dá pra resolver rápido. Meu patinete não funcionou aqui agora. ‘Caramba, vou fazer um post no Facebook de superação porque eu troquei o patinete por uma bicicleta’. Paga.” Mas por que “white”, se nem Erinaldo é branco (apesar de algumas pessoas dizerem que ele é “claro demais”)? Ele conta que a grande maioria de reclamações fúteis que recebe são de pessoas brancas ou “lidas como brancas”.


Erinaldo Ribeiro é um homem negro, de 25 anos, formado em publicidade e trabalha como Monitor de Operações. Simpático mas debochado na mesma medida, solta sua timidez através de seu humor ácido, característica da página que gerencia, sozinho, há quase 4 anos. Segundo ele, a White People Problems surgiu quando fazia faculdade, com o nome “White Girl Problems”. À época, a inspiração foram alguns tuítes da apresentadora Ana Hickmann. Hoje, a página tem mais de 700 mil curtidas no Facebook, 100 mil seguidores no Instagram e alcança milhões de pessoas mensalmente.

A questão racial é um recorte claro da página. Como Erinaldo disse, o deboche em relação aos problemas fúteis são universais, mas as pessoas brancas são quem mais os protagonizam — e, quase sempre, quem os critica. Quando perguntado se a página é acusada de “racismo reverso”, ele diz:

“Todos os dias. Virou até piada interna: não posso passar um dia sem ser acusado de racismo reverso. Posso até apoiar alguma postagem sobre racismo reverso, que vou ser acusado disso. É engraçado ser acusado de alguma coisa que não existe (risos)” Também há muitas críticas supostamente construtivas. “Muito daquela: ‘olha eu gosto muito da página, mas se você mudar o foco, se você não for tão agressivo nos seus posts, acho que ela vai crescer muito, acho que ela vai ter muito sucesso…’ Aí eu: ‘Ok, obrigado’.”


Erinaldo Ribeiro é um homem negro, de 25 anos, formado em publicidade e trabalha como Monitor de Operações. Simpático mas debochado na mesma medida, solta sua timidez através de seu humor ácido, característica da página que gerencia, sozinho, há quase 4 anos. Segundo ele, a White People Problems surgiu quando fazia faculdade, com o nome “White Girl Problems”. À época, a inspiração foram alguns tuítes da apresentadora Ana Hickmann. Hoje, a página tem mais de 700 mil curtidas no Facebook, 100 mil seguidores no Instagram e alcança milhões de pessoas mensalmente.

A questão racial é um recorte claro da página. Como Erinaldo disse, o deboche em relação aos problemas fúteis são universais, mas as pessoas brancas são quem mais os protagonizam — e, quase sempre, quem os critica. Quando perguntado se a página é acusada de “racismo reverso”, ele diz:

“Todos os dias. Virou até piada interna: não posso passar um dia sem ser acusado de racismo reverso. Posso até apoiar alguma postagem sobre racismo reverso, que vou ser acusado disso. É engraçado ser acusado de alguma coisa que não existe (risos)” Também há muitas críticas supostamente construtivas. “Muito daquela: ‘olha eu gosto muito da página, mas se você mudar o foco, se você não for tão agressivo nos seus posts, acho que ela vai crescer muito, acho que ela vai ter muito sucesso…’ Aí eu: ‘Ok, obrigado’.”


Apesar das críticas, Erinaldo conta que recebe comentários positivos. “Pessoas com dinheiro, no auge dos seus privilégios, dizendo que um post de humor fez ela repensar sobre o que posta no Facebook.” Muitas pessoas também o pedem ajuda para entender se são brancas ou não. “Aí manda a foto, conta história de família… Normalmente, são da minha cor. Essa é a confusão que acontece com as pessoas: eu me leio como negro, porque a maioria das pessoas e os lugares que eu frequento, me leem como negro.”

...

“aconselho da melhor forma: ‘Olha, lê esse artigo aqui…’. Pra mim, já foi muito difícil me identificar como pessoa negra, sabe? Eu passo por esse dilema, às vezes. Sofro, de um lado, o racismo, mas tenho um amigo de uma pele mais escura que sofre mais do que eu e, ao mesmo tempo, tenho um privilégio de ter uma pele um pouco mais clara.” Apesar das críticas, Erinaldo conta que recebe comentários positivos. “Pessoas com dinheiro, no auge dos seus privilégios, dizendo que um post de humor fez ela repensar sobre o que posta no Facebook.” Muitas pessoas também o pedem ajuda para entender se são brancas ou não. “Aí manda a foto, conta história de família… Normalmente, são da minha cor. Essa é a confusão que acontece com as pessoas: eu me leio como negro, porque a maioria das pessoas e os lugares que eu frequento, me leem como negro.”


Coloquei meu @ lá e disseram “olha, que legal saber que você não é um branco”, mas outras falavam “ah, ele é branco”. Falaram “poxa, mas você é tão claro.” É o tipo de coisa que não me afeta mais, sabe? Duvidarem da minha cor, duvidarem do que eu já passei, do que eu passo…

...

Quando perguntado sobre que tipo de valor a página tem nas discussões raciais em rede, Erinaldo diz que é bastante cobrado. “As pessoas que querem que denuncie alguma coisa, seja racial ou de gênero. Não tenho esse propósito, que a página tem que se meter nisso, tem que levantar uma bandeira, porque já é uma bandeira. Recebo de pessoas falando ‘se fosse Black People Problems seria um problema’, ‘vocês são muito mimizentos’… Então, o fato dela existir com esse nome e com conteúdo que eu posto, falando de humor e de algumas coisas sérias, acho que já vale muito sabe. acho que já fala por si próprio.”

...

Pro futuro, Erinaldo quer expandir a página pro Instagram, visando aumentar seu público e, quem sabe, gerar renda. Além disso, planeja um canal no YouTube, assim que tiver tempo para investir. E, claro, tenta manter-se vivo onde a página nasceu: o Facebook. Na luta contra o “racismo reverso” e o algoritmo.


A GERAÇÃO QUE ACHA “DESCOLADO” TRABALHAR DEMAIS "Trabalhe enquanto eles dormem". Isso é frase pra coach ver.

Escrito por Alefy Soares Já perdi as contas de quantas vezes me vi passando noites em claro escrevendo textos, organizando matérias e com um copo de café ou energético ao lado. A clássica cena de filmes norte-americanos que não cansamos de ver, não é mesmo? Mas tudo isso serve apenas para esconder que, na verdade, estamos apenas tentando ser descolados. Já perdi as contas de quantas vezes me vi passando noites em claro escrevendo textos, organizando matérias e com um copo de café ou energético ao lado. A clássica cena de filmes norte-americanos que não cansamos de ver, não é mesmo? Mas tudo isso serve apenas para esconder que, na verdade, estamos apenas tentando ser descolados. Nas últimas semanas, um tweet viralizou nas redes sociais, do qual uma internauta diz: “Você não é um workaholic, você é um explorado mesmo”. Bom, acho que nem precisamos dizer o quão correta a frase é. Com o passar do tempo, estamos tentando glamorizar cada vez mais o excesso de trabalho e um dos exemplos é você a sensação de “tomo energético para ser mais produtivo”. Não, você toma energético para ferrar aguentar uma quantidade de trabalho tão grande, mas tão grande, que o seu próprio organismo não aguenta mais. Conforme o tempo passa, as empresas estão colocando coisas para que o funcionário possa ter a falsa impressão que está em casa, mas tudo não passa de uma estratégia para que você mantenha o seu tempo ali, produzindo e tomando energético. O jovem quer um trabalho com videogame? Ping Pong? Não, o que o jovem quer é um emprego com uma quantidade de trabalho que seja possível para um ser humano e com um salário bom. Atualmente, temos grandes ferramentas nas mãos, acessos mais fáceis, agenda no celular, mas ainda não aprendemos a viver. Produzir e mudar o mundo é importante, mas passar a sua vida tentando passar a ideia do “trabalhe enquanto eles dormem”… É patético. É triste. É conversa para coach ver.


VOCÊ NÃO SABE FODER Contos “eu já amei muita gente”

Escrito por Bia Quadros Certa vez eu escrevi um texto sobre uma pessoa que fodia muito bem. O texto está aqui para quem quiser ler. O que farei hoje é escrever sobre o ser antagônico, este que não sabe transar e não gosta do que está fazendo.

...

Aqui em Dublin está um marasmo. Sei que se eu procurasse, encontraria. Sexo por aqui não é fácil. Primeiro você precisa de um lugar e a capital da Irlanda vem enfrentando uma das suas piores crises imobiliárias. Para transar ou você arruma alguém com um quarto só seu, ou conversa com todos na sua casa e reserva um horário e um canto. Se não for desse jeito você não transa. Há a opção de você pagar um hotel, mas não é barato. 100 euros não é barato. Eu transei duas vezes por aqui na base do esquema. Um quarto na minha antiga acomodação estava vazio, avisei ao menino com quem saia às vezes e transamos à noite toda. Eu que achava que ele duraria 3 minutos por ter 22 anos, entretanto me surpreendeu positivamente. Após isso ele não quis mais saber e prosseguimos. Eu sem ninguém, ele com duas pessoas. Deste então estava de boas vivendo a minha rotina: Trabalho/estudo/dormir. Não criei nenhum crush, nenhuma vontade de ficar com ninguém. Vale dizer que neste meio tempo criei uma paixonite num Chileno, que também me deu um fora. Não sou interessante, deve ser Dublin que me tornou assim. Algo mudou quando conheci o personagem dessa história. Quando vi Hélio pela primeira vez o achei bem bonito. Ele é, afinal. Olhos grandes e verdes, cabelo loiro, alto, um belo sorriso e uma conversa envolvente. A minha intuição dizia que a gente ficaria. A minha intuição dizia que ele não era bom de nada. Esta última, ignorei. Depois de muita conversa, ele me chamou para sua casa. Fez questão de dizer que estava vazia. Comprei uma bebida (5 euros,mesmo não podendo gastar, mas a promessa óbvia de sexo me fez pensar “porque não”), me depilei (fazia tempo), botei uma bela lingerie e andei até a sua casa, numa região perigosa de Dublin.


Depois de alguma conversa nos beijamos. Achei que as coisas estavam indo muito rápido mas novamente, ignorei os sinais. Podia ser só impressão, ora ora. Logo peguei no seu pau e lhe bati uma punheta. No meu ouvido ele sussurra - Vou pegar a camisinha, porque já vou gozar já que você é muito gostosa. Nesse exato momento, estava com meus peitos de fora e somente isso. Não estava com a minha boca no seu pênis tamanho médio, só estava lhe batendo uma punheta. Então eu entendi no que estava me metendo. Eu estava diante de um

cara que não sabe foder.

Com 30 eu entendo que sexo não é feito às pressas, não quando você não conhece a pessoa. Claro que com namoros longos e muito tesão, só um beijo já me faz molhada que nem Veneza. Com 30 eu sei quem transa mal e nem preciso tirar a roupa. Só não queria ter gastado 5 euros comprando Smirnoff para descobrir isso. Depois de muita insistência, tirei minha calça mas não minha calcinha. - Tira sua calcinha…

não cara, nem molhada eu to - …que eu quero meter..

Eu não to excitada não -… e você não vai se arrepender. Nesse momento ele estava com o pinto na minha mão, eu meio pelada e sem um pingo de tesão e o único estímulo que tinha recebido era algumas tocadas no seio. Assim não vai dar. Confessei que só tiro a calcinha se for por merecimento. Ele disse que dormiria para acordar cedo. Eu disse que tinha que ir. embora porque o lugar era perigoso. Não transamos. Mas transamos. Sexo não começa quando rola penetração. O sexo começa na intensão, no beijo, no pinto duro e na buceta molhada. Se eu botei a mão no seu penis, a gente já começou os trabalhos. Bobo você achar que “vou meter minha piroca na sua buceta” é o melhor que se pode fazer no sexo.


Não precisei que ele enfiasse o penis meio flácido em mim para saber que ele fodia mal. Era só ver a sua atitude, ou melhor, a falta dela. Ele não é o único que eu transei que não foi bom, este número cresce a cada dia que fico mais velha. Deve ser porque eu sei o que é bom. Ou porque os caras não sabem o que é sexo. Mas eu não tenho paciência para ensinar a ninguém, e ainda bem. A vida me ensinou se não tá bom, boto minha roupa e desejo boa noite. Obrigada a maturidade.


AUTORES DESTA EDIÇÃO Alefy Soares @alefy_soares

Ana Clara Barbosa @_anaclarabarbosa

Medium @AlefySoares

Medium

Bia Quadros

@anaclarabarbosa

Leonardo Gonçalves

@nomeindisponivel

@leo_gon

Medium @bebedisco

Medium @leo_gon

Peterson Fernandes

Rafael Oliveira

@petcafer

@rafafai

Medium @petcafer

Medium @rafafai

Tales Gubes

Victor Hugo Liporage

@talesgubes

@liporageosexy

Medium @talesgubes

Medium @Liporage

Yasmin Narcizo @minnarcizo Medium @yasminnarcizo

NOSSAS REDES SOCIAIS @revistasubjetiva @revistasubjetiva @subjetivamag

Medium

medium.com/revista-subjetiva


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.