Revista subversa v 2 n 8 2015

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SUBVERSA Volume 2 | n.º 8 | Maio de 2015

ISSN 2359-5817

fotografia GUILHERME WENDT

ESTEVAN KETZER | RIBAMAR JÚNIOR JOSÉ EUGÉNIO DE ALMEIDA | DIEGO PETRY VIEIRA | ANA LUIZ | JORDANO SOUZA | GEOVANE KUBIAKI MIRNA BISPO SANTIAGO | ANDRÉ VICTOR MARQUES DANIELLE RONALD | PAULO GABARDO HEITOR DE LIMA | PEDRO BELO CLARA


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Subversa | literatura luso-brasileira |

V. 2 | n.º 8

© originalmente publicado em 01 de Maio de 2015 sob o título de Subversa ©

Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito

Fotografia: GUILHERME WENDT guilhermewwendt@gmail.com

Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados como autores desta obra. Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem com a realidade.


SUBVERSA V. 2 | N.º 8 | 01 DE MAIO DE 2015

ESTEVAN KETZER | © QUATRO HÉLICES PARA O ELEFANTINHO DE EMÍLIA | 5 RIBAMAR JÚNIOR | © BEM-TE-VI|12 JOSÉ EUGÉNIO DE ALMEIDA | © LEONOR| 14 DIEGO PETRY VIEIRA | © FONTE |19 ANA LUIZ | © O COELHO ROMEU | 22 JORDANO SOUZA | © PEITO DA PONTE | 25 GEOVANE KUBIAKI |© CONTROLE DEMOGRÀFICO | 27 MIRNA BISPO SANTIAGO | © OS MEUS AMIGOS DO TEMPO | 30 ANDRÉ VICTOR MARQUES | © MUNDO MEU | 32 DANIELLE RONALD | © EGOCENTRISMO | 34 ESPECIAIS PAULO GABARDO | © EPIGRAMAS ÉPICOS DE UMA ÉTICA GRAMÁTICA | 36

HEITOR DE LIMA | © RAMO-GINECEU | 41 PEDRO BELO CLARA | © DIAS ASSIM| 44


EDITORIAL Hoje é Dia do Trabalho e, para nós, indiscutivelmente, é dia de homenagear o time de escritores com quem estamos, felizmente, trabalhando. A escrita, como tudo que é intenso e subjetivo nesta vida, evoca muitas vezes o melhor e o pior de cada um e, por isso, não é problema nenhum admitir que existam várias formas de exercê-la. Por exemplo, o escritor disciplinado, que tem hora para escrever e convive bem com a estabilidade. O rebelde, que vive negociando consigo mesmo o seu processo criativo e os rituais que o envolvem, desafiando-se a todo o momento. O observador, que senta-se à mesa do bar/café preferido para escrever. O sensual, que recita poemas indecentes nos ouvidos alheios. O melancólico, que não acredita na própria literatura. O exagerado, que sai para comemorar a cada capítulo novo. O somático, que tem dores no estômago se não escreve. Os donos das melhores histórias que jamais serão escritas. Os que dão com a cabeça na parede. Os que querem mudar tudo. Os que ensinam. Que aprendem. Mas, sobretudo, Os que deixam a alma aberta para o mundo entrar e sair em forma de palavras, uma atrás da outra, mesmo que não seja, Necessariamente, Nesta ordem. As editoras.


Foto © GUILHERME WENDT

QUATRO HÉLICES PARA O ELEFANTINHO DE EMÍLIA ESTEVAN DE NEGREIROS KETZER Porto Alegre, RS.

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- Checagem do sistema respiratório: o sistema está integrado e em funcionamento. Como era longo o alcance dos movimentos de sua mão, ela se impressiona. Era incrível escutar as hélices girarem, assim, tão rápido. Agora, tudo está tão lento... - Sistema auditivo: checado. Era o mesmo repertório de gestos e brincadeiras com seus muitos amigos. - Sistema endócrino: checado. O relatório não registra avarias. Como a pele pode ser o maior dos órgãos? O mais profundo que se pode chegar até um sorriso e o aroma morno da maresia. Era areia em seu baldinho, uma pequena pá de plástico, e o sol radiante. Lembrou das conchas que abertas pareciam querer abocanhá-la. De repente você sente algo caindo, logo ali, num dia tão quente. - Inicializando o processamento de imagens. Sistema visual: checado. Qualidade da dimensionalidade óptica: checado. O sinal não possui avarias nem no nervo ótico. Não há avarias no recebimento do cabo neuroanatômico. O esquadrão de resgate devia ter chegado muito rápido. Ela lembra do olhar assustado de seu pai, poucas horas antes de irem para a praia. O pai sabia muito, sempre enfurnado no trabalho. Depois veio o fogo, mas como se vê o fogo queimando na sua pele? Parece algo tão calmo e contido para ser lembrado. Ela brincava sem reparar na quantidade de vento pouco antes. Afinal, sempre venta muito na praia. De repente, uma sombra negra encobriu a visão do mar. O pai se levanta de sobressalto e olha assustado para a filha que está em pé, com o baldinho e o elefante de pelúcia nas mãos. Ela estava tão suave e feliz com seu chapéu de praia. Naquele instante a menina acorda, e não entende bem por que o elefantinho está dentro de um aquário. - Inicializar integração sináptica. Sinais cognitivos: checados. A interação dos sinais emite resposta com o ambiente. Operação bem sucedida.

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A alegria do elefante ao vê-la era o movimento que ela, surpresa, não esperava. Ela pensa por um instante que o elefantinho precisava muito dela. E ali, no quarto, todos registraram muito bem o pequeno sorriso que ela mostrou, esboçando-o ao ver o pequeno elefante do outro lado do vidro, dentro de um aquário cheio de um líquido rosa. Os cientistas haviam criado uma placenta sintética, própria para a regeneração de tecidos. Um homem de guarda-pó se aproxima, observando o monitor de modo incisivo. Enquanto isso, senta-se uma mulher, também de guardapó e fala com Emília. Sua voz melodiosa era entendida como alguém que a menina podia confiar, sendo clara e calma. - Olá, Emília! Que bom te ver tranqüila e bem! Estamos aqui para te ajudar– diz uma voz feminina. Emília percebe que aquela voz e aquela imagem eram a mesma pessoa. Isso significa que ela era algo como um pensamento fora da cabeça de elefantinho? Não isso, mas sim um cérebro! Mas como é ser um cérebro? Sabia que o papai fabricava coisas assim, para pessoas que não tinham autonomia, mas pareciam ter muita calma para falar. E entretanto, o papai vivia fugindo... Emília percebe a direção do eixo sináptico com tanta clareza, acompanhando a formulação da resposta, sem esforço como se aquilo tudo fosse algo extremamente natural. Mas nunca antes pensou que poderia falar consigo pelos pensamentos. De algum jeito estes mesmos pensamentos realizavam adaptações na sua maneira de espacializar seu corpo e novos pensamentos que surgiam. De algum jeito aquele espaço não despertava dúvidas. Por quê? Agora ela falava com clareza, uma certa euforia e um desembaraço impressionantes para sua idade. E o branco guarda-pó do homem à sua frente era o mais branco que jamais viu na vida! Os pigmentos eram nítidos e eram distintos

de

outros

ao

seu

redor,

quase

imperceptíveis,

mas

completamente diferentes. Parece que agora era claro que o cérebro

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do elefante era o seu próprio e que ele não estava no aquário, mas sim, e amargamente, era ela ali dentro. - Sabemos que é tudo muito novo para você... Pois você já está conosco há três meses em estado de recuperação – diz a voz feminina. Lembrou do baldinho mais uma vez... E depois mais nada! O que seria? Voltou sua memória para o baldinho, como numa foto o baldinho possuía um brilho diferente. Brilhava de cima algo, uma luz como uma bola de fogo, caindo, lentamente, deslizado sobre o baldinho e quatro hélices girando lentamente, isso não tem explicação. Ela vê o baldinho no monitor de plasma à sua frente. A imagem meio borrada, mal definidas as linhas, elas provinham de seus pensamentos e eram renderizadas como padrões matemáticos no monitor ao lado. Era tudo tão veloz e automático, processado tão velozmente, que os cientistas se admiraram de que aqueles dígitos aproximassem tanto a experiência humana aliada à interface com o sistema computacional que imagens pudessem ser recriadas. Emília percebe sua respiração, é fácil. Mas por que não pode sair do aquário? Ao olhar para seu corpo encontra uma série de tubos presos nela e, sem entender bem, está sem as pernas. Elas eram um sistema mecânico que a prendia à base do aquário. Não sente dor qualquer e por isso parece tão calma. Ela só queria parar de pensar ou tentar entender o que era aquilo tudo. Aqueles números infinitos na tela de plasma pareciam cálculos e operações que sem lógica, aglomeradas em uma interface que trabalhava de modo seqüencial. Ali o seu próximo núcleo criava a imagem. - Senhores: estamos observando nesta tela que o pensamento tem autonomia temporária, até indicarmos um novo caminho cognitivo para a paciente. – disse o homem que não desgrudava do monitor. 6753

95-30-2-1

47

562

8


2.123,9

15-79-216678 (66)

(7)

(12)

8,654267

56-76-09

“Mãe? Pai? Onde estão todos?” - Calma, Emília. As coisas aconteceram muito rápidas na praia – disse a voz feminina. Sentiu os olhos quentes e o corpo pesado. Era a primeira vez que experenciava

o

contato

de

uma

corrente

elétrica

e

surpreendentemente ela não a feria. Pelo contrário, sabia com exatidão em quais neurônios ela poderia atuar, para obter determinados efeitos emocionais, porém, não conseguia ir mais à fundo na averiguação daquela imagem do baldinho refletindo a bola de fogo. Diante disso ela se sentia completamente impotente. Ela repara no ambiente e percebe tubos presos ao seu corpo. Nota que seu pensamento aparecia escrito na tela de um terceiro monitor: “Ser um objeto é isso?” A partir daquele momento ela soube que era tudo apenas um problema a ser respondido a partir de corrente elétrica, um impulso que produz uma intenção de resposta e termina por ser refletido nas possibilidades adequadas a determinados padrões para resoluções de problemas registrados pelo software Imago.ltda, uma vez ligado à rede internacional as respostas eram acessadas instantaneamente. Essa aparelhagem toda permite que Emília se sinta dignificada, podendo pensar como um sujeito humano. - Ainda deve ser ajustada a intensidade do padrão de resposta – responde o homem que agora está totalmente inclinado para o display à sua frente. – Deve haver algo como um tempo de reação... Caso contrário, não alcançaremos o sistema e ela pode...

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“Então, me retiraram com vida depois da explosão. As hélices devem ser a imagem cristalizada entre o momento entre a consciência do baldinho e a...” - Viram! Ela está alterando a natureza da memória! Contudo, há algum problema com a recapitação da serotonina que não podemos controlar sem interferência direta de neurotransmissores sintéticos. - Emília, precisamos conversar... – insiste a voz feminina. A atenção de Emília se dirige para a mulher à sua frente. - Sobre seu pai, mãe e irmão. Tentamos de todos os modos resguardar seus sinais vitais quando chegaram ao hospital... Ainda assim ela não tirava os olhos do elefante azul, preservado pertinho dela para brincarem juntos. Ela respirava com esforço agora, sem entender quais tecidos nervosos eram preservados por aquele líquido rosa que a cercava. Começou a tocar seu rosto, com a impressão dos dedos passarem por dentro de si mesma. Seriam dedos também? Pareciam tão reais quanto o ar em seus pulmões, tanto quanto os pensamentos ou a sensação de que circulava sangue por seu corpo. Pena que apesar de toda essa aparência o que alterava seu ânimo sempre tinha origem em uma corrente elétrica desconhecida. Por mais perfeita que fosse a sensação, ainda assim seus olhos se enchiam de outro líquido, mais branco e brilhoso que o guarda-pó dos cientistas à sua frente. A textura ela não sentia, mas seu pensamento identificava como sendo uma lágrima, aquela mesma que ela teve inúmeras vezes quando aborrecida ou triste. E esse pensamento fez os sinais serotoninérgicos baixarem até níveis alarmantes. Quando o homem ia transmitir um novo impulso elétrico para a correção do organismo de Emília, a mulher ao seu lado lhe segurou a mão. - Não! Acho que ela é capaz de fazer isso... sozinha. Recolhida entre seus braços fechou os olhos e pensou com a velocidade hipersônica dos novos potenciais químicos de seu cérebro: o aquário de plasma era agora seu novo lar. Emília era diferente de seu

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elefantinho de pelúcia. Afinal, existir ali dentro seria parte da descoberta de sua nova espécie.

ESTEVAN KETZER é psicólogo clínico. Doutorando em Letras pela PUCRS. Pesquisa a relação entre poesia, filosofia e psicanálise na obra do poeta Paul Celan. Além de ensaísta, é poeta.

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Foto © GUILHERME WENDT

BEM-TE-VI RIBAMAR JÚNIOR Crato, CE.

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O carnaval passou Esqueci a máscara Batuque o tambor Que eu entrarei na avenida Procurando nos cabelos a tua fita Unida No laço da minha fantasia Agora se apresse Antes que o bem-te-vi puxe a linha E faça do meu coração uma marchinha

RIBAMAR JÚNIOR é estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, fotógrafo, amante da poesia e sonhador.

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Foto © GUILHERME WENDT

LEONOR JOSÉ EUGÊNIO BORGES DE ALMEIDA Maragogi, AL.

Espremi minha máquina de fazer sonhos acordados e nada de lá saiu, nem uma linha sequer. Levantei-me, dei voltas ao corpo, tornei a sentar, pernas irrequietas. Dali via a parede de pedra coberta

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de hera, aquela raiada de branco de folhas espiculadas fininhas. A pedra descoberta de hera tinha musgo incrustado e a compor o cenário, muitos insetos rastejantes e voadores, estão ali desde a minha infância, imutáveis ao longo desses anos todos. Hoje uma réstia de sol frio de inverno desenha figuras estranhas que não se parecem com nada (não é como os psicólogos que nos espetam na cara figuras borradas querendo significados para elas e nós no medo de dizer a verdade, inventamos significados inexistentes e é ver a cara de satisfação daqueles profissionais, que vão nos traçando perfis de mentira). Dei voltas e mais voltas e nem uma linha surgia no ecrã do meu velho computador. Tenho que comprar um tablet, para aproveitar aqueles lampejos geniais que só surgem quando estou no café da esquina e que quando chego e me sento à frente do branco ecrã, não consigo

me

lembrar

daquelas

coisas,

que

de

tão

profundas,

afundaram-se nessa memória que já ensaia algum Alzheimer. Ainda há dias, neste afã de compor coisas, tentando não misturar as estranhas coisas que me ocorrem com uma boa estória que conte alguma coisa que valha a pena ser lida, começou a se formar no branco do computador uma estória incrível de uma doninha, (tenho aos montes no meu quintal a esburacarem toda a minha relva) que começou a falar comigo, como no tempo em que os bichos falavam e contou-me como sua vida era difícil, quando tinha que procurar insetos e raízes tenras no subsolo e eu a tentar matá-la com a enxada. Lógico, apaguei a estória do computador antes que alguém a lesse, mas a partir deste dia, nunca mais chateei as doninhas. Teria sido um sonho? É que às vezes o real já vai se confundindo com o imaginário e tenho dificuldade em destrinçá-los. Parece que minha vida começa a entrar num surrealismo real. Só tenho medo que as pessoas achem que enlouqueci. Tenho dificuldade em me policiar, escolhendo palavras com medo que possam sair de minha boca e soar esquisitas e

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inadaptadas ao quotidiano das pessoas ditas normais, descansem que não vou começar aqui a perguntar onde está a barreira do normal e do anormal, que isso já está muito batido e é uma verdadeira falácia. A propósito de falácias que os jornais exploram no seu dia a dia, encontrei uma notícia, que de certeza foi inventada para vender mais jornais, em que um bebê de nove meses foi abandonado numa mata do Rio e sobreviveu dois anos sozinha. Como eles sabem quando foi abandonada e quanto tempo esteve sozinha? Parecem aquelas especulações na imprensa que os paleontologistas fazem quando encontram uma porra dum pedaço de osso, conseguem datá-la com carbono 14 e depois montam uma estória incrível, mas que toda gente acredita: aquele osso era dum antepassado que viveu há xis anos e tinha hábitos sedentários, que era recoletor e caçador e vivia numa pequena aldeia, situada em tal lugar e já tinha hábitos familiares e por aí vai, montando uma estória que ninguém duvida e por ninguém será provada, mesmo porque não existe maneira de prová-la, é aceitar e pronto. Mas voltando à estória da criança, comecei logo a compor uma trama incrível e, portanto crível pelo comum dos mortais, em que a criança falava uma língua estranha que só os animais entendiam, que estavam a ensinar o português à criança, para que ela nos ensinasse a língua dos animais. Mais tarde essa criança tornou-se muito importante com a sua capacidade de falar com alguns animais, mas só com aqueles que conviveu, assim ratos, preás, cotias e outros pequenos roedores. Havia já um plano a nível mundial, para se abandonar crianças em determinadas partes do mundo para que no futuro o homem conseguisse falar com todos os animais. “Que bobagem”, diria o Jô Soares. Mas realmente perante tanta falácia e na necessidade que as pessoas sentem em acreditar no incrível, seria uma boa medida a tomar. Principalmente com os filhos dos outros, os meus deixem-nos quietos que estão bem.

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Senti o cheiro e o som de tua passagem pela sala e nem sequer um, - Olá, dormiu bem? e eu a responder, - Não, continuo com essa dor na coxa esquerda que começou desde ontem quando subi nas escadas para tirar o gato da árvore. E tu, - Chatice, não tomas um comprimido? e logo a fazer desaparecer o corpo arrastando-o para a cozinha no barulho dos chinelos trec, trec, trec, nem sequer um esboço de intenção de massagem, que tão bem fazes. De novo em frente ao ecrã e só vejo a hera da parede, se não me doesse tanto a coxa imaginária, dava uma volta ao bairro com meu velho guarda-chuva para aparar essa chuva rala, mas gelada. Mas mesmo cheio de dores na imaginária perna, saí sem guarda-chuva, água fria na cara. Entrei no único café que permitia fumantes, não fumo, só venho à procura do ambiente dos fumantes, é sempre mais rico de mentalidades que pensam e trocam

ideias

interessantes

de

se

ouvir.

Não

vejo

caras

conhecidas e sento-me estrategicamente naquele cantinho, onde visiono todo o café. De novo a obsessiva ideia de escrever sobre os clientes do café, imagem já tão gasta pelos escritores de cafés. Volto para casa tentar a minha sorte com Leonor, antes que ela invente uma saída daquelas que demora um dia inteiro e na volta uma desculpa esfarrapada, - Encontrei a fulana e almoçamos juntas naquela marisqueira que gostas.

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mentindo, só para provocar minha inveja na gula de mariscos e eu a responder, - Podias ter-me convidado. E tu, - Tás sempre em frente ao computador. Seu horizonte é branco com letras pretas, ao menos veja se escreves noutras cores, caramba! Mas na maioria das vezes nem esses parvos diálogos existiam, só um regressar cansado com ida direta para a cama nos chinelos, trec, trec, trec. E a parede cheia de heras noturnas a mirar-me indiferente a tudo o que comigo se passa. Nesta solidão de paredes, ecrãs brancos e indiferenças da Leonor, tomo um diazepam 10mg e vou para o outro quarto, pois se vou para teu lado Leonor, vou chorar tanto que até vais notar a minha presença.

JOSÉ EUGÊNIO BORGES DE ALMEIDA é médico e começou a escrever há quatro anos, com 64. Nesta jornada, já reuniu 39 prêmios em concursos literários diversos, publicou o romance juvenil “Uma Luz no Fim do Túnel” e está em fase final de edição de “Labirinto Eterno”, finalista do Prêmio SESC 2014, a sair pela Editora W5).

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Foto © GUILHERME WENDT

FONTE DIEGO PETRY VIEIRA Joinville, SC. A casa era branca. Totalmente branca. Das paredes aos azulejos no chão, do forro de PVC no teto à maioria dos móveis e eletrodomésticos. A decoração também possuía uma brancura que era extremamente opressora, com destaque para os quadros, que eram todos, sem exceção, brancos e sem imagem alguma. E tudo era

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simétrico, detalhadamente ajustado e posicionado na devida ordem. Não havia um grão de poeira em canto algum, nenhum inseto pousava nas paredes e nenhum ruído era produzido sem necessidade. As janelas nunca eram abertas e a porta somente em raras ocasiões. Um vento frio saía de grades de plástico no teto e congelava todo o ar nos recintos. A iluminação era toda em néon claro durante o dia, mas à noite a escuridão era predominante. Esta casa abrigava um único morador: um poeta sem voz, um músico sem braços e um dançarino sem pés. Este homem não tinha nome, pois não necessitava de identidade para governar seu alvo palácio, e tampouco tinha família, pois ter companhia significaria o fim de seu amado silêncio. Apenas a amizade de seus monstros internos lhe interessava. Seus monstros eram os guardas de sua cela, mas também eram aqueles que o alimentavam de coisas brilhantes, difíceis de tocar, mas de sabor inigualável. Os monstros lhe banhavam e limpavam seus pecados na água fria, lhe punham para dormir sob cobertores ardentes e lhe moldavam a face de acordo com o clima. Mas os monstros internos também sabiam ser cruéis, pois quando o homem dormia, eles lhe falavam de mundos vastos e sem dor, onde o céu era o limite e os mares traziam esperanças aos injustiçados. Os monstros lhe prometiam levá-lo até estes mundos coloridos, mas quando o homem abria seus olhos, louco de ansiedade, constatava que seus guardiões haviam pintado o planeta de branco novamente. Porém um dia este homem, cansado de morrer por overdose todas as manhãs, decidiu se rebelar. Criou braços imaginários, e sangrou por isso, mas seu sangue azul foi lavado pelas águas que invadiram o lugar quando abriu a porta. Com alegria jamais conhecida, o homem escancarou as janelas e cada uma tornou-se uma fonte. Em minutos a casa estava inundada, e após alguns dias o homem nadou para longe dali, para nunca mais voltar.

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Tornou-se um mergulhador, e assim, visitou o oceano, de onde vieram seus amores e seus sacrifícios em nome da liberdade. Suas visões de mundos perfeitos foram aprimoradas e suas conquistas o levaram para mais perto da costa e mais distante dos monstros que o mantinham limpo. O oceano era seu céu, sua casa, seu planeta, sua alma. O homem nunca parou de mergulhar.

DIEGO PETRY VIEIRA é estudante do primeiro ano de Letras Português/Inglês em Joinville, Santa Catarina. Escreve porque desde pequeno é bom em inventar histórias, e seu maior sonho é dominar o mundo usando a arte.

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Foto © GUILHERME WENDT

O COELHO ROMEU ANA LUIZ Lisboa, Portugal

Romeu era um coelho diferente de todos os outros. Costumava sentar-se do lado de fora da janela da casa, a ouvir as histórias que a senhora Maria contava às crianças. Certa vez, ouvira

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uma história sobre um coelhinho. Chamavam-lhe “coelhinho da Páscoa” e punha ovos coloridos que eram depois escondidos para as crianças os procurarem. Esta história nunca mais saíra da cabeça de Romeu. Queria conseguir por ovos, para ser um coelhinho da Páscoa. Apesar

de

todos

os

outros

animais

da

quinta

o

chacotearem por esse motivo, ele passava grande parte dos seus dias a tentar. Contudo, e apesar de muito esforço, parecia ser incapaz de o fazer. Apesar dos conselhos das galinhas, todos os seus esforços se revelavam gorados. Um dia, estava ele no seu ninho de por ovos, fazendo como era seu hábito muita força para por um ovo, quando subitamente sentiu qualquer coisa. Assustado, levantou-se de imediato e viu um lindo ovo no ninho. - Pus um ovo! Pus um ovo! – gritou, tentando cacarejar imitando as galinhas, mas isso pareceu-lhe ainda mais difícil do que por o ovo em si. Contudo, de repente calou-se envergonhado. O ovo que jazia no seu ninho era estranho e diferente de qualquer ovo que tivesse alguma vez visto. Os coelhinhos da Páscoa punham ovos coloridos e aquele seu ovo, era amarelo e muito brilhante, mas não era colorido. O resultado não era de todo aquilo que antecipara. Continuou assim a tentar. Tinha que conseguir por ovos, mas coloridos. Passava os dias no ninho, sem o conseguir. Continuava no entanto a por dos outros amarelos brilhantes. Já tinha tantos que resolveu fazer uma brincadeira da Páscoa para as crianças da aldeia. Escondeu-os nas traseiras ajardinadas da quinta e fez saber pela aldeia que havia ovos lá escondidos. Os pais começaram a aparecer com as crianças, mas num instante a confusão se instalou. Quando o primeiro ovo foi encontrado, era visível para todos os pais de que se era de ouro. Todos se atropelavam e até as crianças eram deitadas ao chão, na ânsia de encontrar os outros. As crianças não entendiam porque motivo os adultos tinham ficado loucos de um momento para o outro. Havia lutas no meio das flores, pontapés,

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e uma grande confusão geral. O senhor Manuel, dono da quinta, dando-se conta da confusão nas traseiras, pôs fim a tudo com três tiros de caçadeira, que assustaram adultos e crianças. Chamou Romeu e pediu-lhe explicações. Mas Romeu não tinha entendido o que se passara e nenhum ovo sobrara. Manuel deu então uma tareia em Romeu, pensando que este lhe estava a mentir. Romeu, com a dor da tareia, e no meio de muitas lágrimas, pôs um ovo. - Olha mésta! – disse Manuel – Atão na tá bonito isto hã? Um coelho dos ovos de oiro… - e começou a dançar alegremente, rodopiando por todo o lado. Esta alegria contrastava visivelmente com o sofrimento de Romeu. – Com cantão... se te der tareias, tu dás-me ovos de oiro…sim senhora! Que belo contrato que aqui temos… Durante os dias que se seguiram, Romeu levou tantas tareias e pôs tantos ovos, que já nem sentia. Estava praticamente desmaiado e achava que ia morrer de um momento para o outro. Manuel continuava deliciado a arrancar ao pontapé os seus preciosos ovos. Nesse dia, entrou de novo no barracão onde tinha prendido Romeu e exclamou: - Hoje quero dois! - E deu-lhe uma tareia com o dobro da violência. Romeu sabia que não conseguiria resistir muito mais. - O que é esta porcaria??? - Disse Manuel, irado. Romeu viu-lhe nas mãos um ovo colorido. Sorriu apesar de sorrir lhe fazer doer, e sentiu-se finalmente feliz. - Finalmente sou um coelhinho da Páscoa

- gemeu,

enquanto Manuel furioso por ter um ovo colorido e não um de ouro nas mãos, jogava um derradeiro pontapé na cabeça de Romeu.

ANA LUIZ escreve desde sempre, mas apenas começou a publicar no ano de 2013. Tem um livro a solo intitulado “O Quebra-Montras” e já participou em diversas antologias e colectâneas.

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Foto © GUILHERME WENDT

PEITO DA PONTE JORDANO SOUZA São Gotardo, MG.

ao lado do córrego despiu-se da lingerie. tirou peça por peça sem desatar um botão,

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e as pendurou no peito da ponte.

à direita, esticou num varal improvisado sua vergonha, seu açoite, seu medo. mergulhou então, no córrego gelado e putrefato.

lavou-se, saiu mais pura que nunca. porém, manteve sujas as solas dos pés e as palmas das mãos para lembrar da noite anterior.

tirou a lingerie do peito da ponte arrancou todos os botões e a jogou no córrego.

vestiu sua vergonha seu açoite seu medo desamarrou o varal improvisado e se viu mulher.

JORDANO JOÃO BATISTA DE SOUZA escreve desde a adolescência, já publicou vários poemas em blogs e revistas digitais, tendo alguns textos classificados em concursos. Atualmente o autor se dedica aos Haicais e poemas sobre o cotidiano. Depois de passar por Goiás e Brasília, voltou a morar em Minas Gerais, onde continua escrevendo.

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Foto ツゥ GUILHERME WENDT

CONTROLE DEMOGRテ:ICO GEOVANI KUBIAKI Sテ」o Bento do Sul, SC.

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Sério?! eu seria capaz de entender o que a areia do deserto persa soterrou?

Vidas curdas esgotadas sob armas de mãos infantis do califado Damasco destruída abandono desumano Cantos xiitas calados hoje espalhados pelos ventos cinzas que o norte soprou

Diante dos meus olhos vermelhos imagem da cristã que grita um corpo escravizado marido na cruz dependurado

Primavera sem flores Jihad não as deixou crescer todo verde em duas estrelas céu da noite iluminado bomba sangue a escorrer

Poderia resumir conflitos do Oriente

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ao Ocidente

em puta matemática? Certo! Nada serve te serve? onde estou?

Aritmética –certeira- só aquela que da alma vem cada número um ser irmão

Síria em meu poema não cabe paz ao menos enquanto não olhar como filho para as mães de Aleppo

GEOVANE KUBIAKI é graduando de História. Esta é sua segunda publicação em revista especializada em literatura. Mantém um blog pessoal, com poemas inéditos, chamado Silente Devaneio.

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Foto © GUILHERME WENDT

OS MEUS AMIGOS DO TEMPO MIRNA BISPO SANTIAGO Salvador, BA.

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O tempo disse que não iria passar Se sucedeu, porém, que passou, levou todos os meus amigos junto a ele Sinto falta hoje como nunca senti antes E andar pela Rua Amazonas, Oswaldo Cruz e Laura, como andávamos, sozinha, não poderia Foi sendo assim Alguns dos amigos queridos, o tempo se encarregou de deixar no passado Ou em um futuro distante, além do Oceano Atlântico, nos ares da Europa Os amigos poucos que fiz, por fim, me fugiram todos Até eu, estou quase fazendo as malas e esperando o tempo passar outra vez

MIRNA BISPO SANTIAGO

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Foto © GUILHERME WENDT

MEU MUNDO MEU ANDRÉ VICTOR MARQUES Rio de Janeiro, RJ.

Sonho com o sucesso, com o dinheiro, com o estrelato. Ao menos me lembro do simples, do dia a dia, da vida. Penso sempre na frente, no alto, avante.

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Esqueço de todo o agora, de todo o antes, de tudo. Vivo pro mundo, “pros” outros, “pra” todos. Quero o tudo, o todo, o nada. Sei o verdadeiro caminho pela estrada. Danço lindamente bem, respiro o ar estranhamente zen. Tricoto a vida inteira e não construo nada. Vivo andando na chuva, vivo sentindo o ar frio. Vivo sentindo o vazio. Me prendo aos piores defeitos, me rendo aos terríveis anseios. Invento as piores invenções, destruo as melhores construções. A tentação é sempre meu ponto de caída. Os pecados? Meus grandes amigos. Eu? Meu próprio inimigo. Sintetizo alegria e tristeza, verdade e mentira. Ambas em conjunto, se relacionam, amigas, inimigas, se amam. Favoreço ao eterno, mas, simpatizo muito com o breve. Não entendo nada e sei de tudo. Percebo tudo e não compreendo nada. Presumo o futuro e almejo o passado. As lembranças? São fortificantes de alma, de vida, de mente. Percebo o mundo vivendo consciente.

ANDRÉ VICTOR MARQUES é estudante de letras – literaturas e obsessivo por livros. Com o grande sonho necessário de escrever e somente escrever. Externar os sentimentos reprimidos, a angústias isoladoras, as felicidades estranhas. Escreve, por amor, no blog Prazer em dizer.

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Foto © GUILHERME WENDT

EGOCENTRISMO DANIELLE RONALD Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Enamorado de ti, encastelado sob as ruínas da tua persona, giras sobre o teu eixo solitário

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e enalteces o teu ego com uma reverência. - Como és belo, diz o reflexo, à esquerda de ti. À direita de ti há um castelo de cartas. Um sopro de vento e o mundo vem abaixo. O amor próprio despenca em queda livre, narcisismo de ponta cabeça, formando 90 graus. Confuso, voltas-te para o espelho, agora à direita de ti, ajeita-o, limpa a tua imagem. Há algo de distorcido. O espelho cai. Há cacos por toda parte refletindo fragmentos de ti. Quem sou eu?

DANIELLE RONALD DE CARVALHO é poeta, bisneta do então poeta modernista Ronald de Carvalho e neta do contista, cronista e romancista Helio Pólvora. Começou a escrever seus poemas ainda criança, incentivada por seu avô, Arthur Augusto Accioly de Carvalho. Com uma veia mais simbolista e existencialista, ela segue escrevendo o seu primeiro livro. Estuda Biomedicina na UFRJ e atuou como pesquisadora na áreas de Biologia celular e Morfologia. Também trabalha como designer e modelo.

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Foto © GUILHERME WENDT

EPIGRAMAS ÉPICOS DE UMA ÉTICA GRAMÁTICA PAULO GABARDO Brasília, DF.

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I Elevo Enlevo E levo Ali Alívio Ao Livro Entrego Ego E trago Estrago Ao apanágio À página Enfarto Farto Fátuo Fato Entorno Trono E torno Tomo Escrevo Crês?

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II Estude história Pois nomear comida É tarefa inglória Talvez geografia Caso algum ingrediente Seja não residente Não me apetito Eu admito Se o nome for feio Até se o recheio É bom e bonito Engasgo e vomito

III Em Java li Que ele Alvejava ali O Javali À aljava E o alijava

Agora que Já jaz Javali

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Jamais IV Se é-se são À regra Tem-se Exceção E esses são Consoantes Que consoante À justaposição Esse e Esse são Senão dígrafo Se não não

V

O mesmo nasceu revirado Mesmo antes de grafado O mesmo não tem referente E mesmo assim segue presente O que se vê é mais do mesmo Mesmo que seja usado a esmo Pois mesmo no lugar errado O mesmo não fica calado

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E não fica calado mesmo! VI Eu outro Não fraco Eu oco Não fato Eu ovo Não favo Eu osso Não faço Eu ouço Não falo

PAULO GABARDO é brasileiro nascido em Curitiba, Paraná. É poeta, cantor e compositor. Desde 2011 reside em Brasília, Distrito Federal. É autor dos livros Dobras no Tempo e Poesias para quem escreve cartas de amor, lançados simultaneamente em 2014 pela editora Chiado, de Portugal. Suas composições vão do samba ao rock, passando pelo blues e pela música folk.

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Foto © GUILHERME WENDT

RAMO-GINECEU HEITOR DE LIMA Fortaleza, CE, Brasil

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I Dar à flor e ter no pólen o amor que outrora pétala, decanta mordido, cuspe. o sopro lapidado desce em orvalho e espinho roto no cálice xerófilo da sépala, descasca o cinzento, coral de lânguidos saberes. Tombo nouveau de próteses desnudas, centopeia: o furo torto e oco do endosperma, a flor desloca o escroto, tessitura de ambíguas coronárias, e furta a espuma e pega à mão um alvo, dente-de-leão, leve peludo pendurado no ar, no destilado escudo de umidade, corcunda sereníssima, (assinatura de ilustre candelabro) móvel, estojo escondido no outono. Incerta e folha, menina II A flor estanca seca barrando a exatidão que em si conserva cínica, obesa, colorida flor de esguelha, vacila e se desloca orelha a orelha, no ramo digital da mão estranha, dos namorados curvos, condensados, esquálidos urbanos. Pote de vácuo, piolho súbito, a flor descalça no diadema silábico, de espirros e batuques. mirrados colibris na copa descoberta

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se estiram pelo fogo sensorial, sem cinto, sem mensagem. No parto este elástico de pele, o coma e a sudorese sensitivos. contida flor, explode flor, uníssona, e é flor forçada a ser não mais que um sexo e fere a vã vontade deste branco, recolhida, figurada, adolescente III Cromo em faísca, este breu de Eros e óleo no visível. flor que anda preguiçosa perto do êxtase, acima do estio: séria, rútila, centrífuga, mulher que habita o som

HEITOR DE LIMA é estudante e rabisca em versos desde os nove anos de idade. Acredita na poesia, pois que é resposta elementar, e não espera eterno, assim como o niilismo veloz que povoa a atmosfera do mundo.

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Foto © GUILHERME WENDT

DIAS ASSIM PEDRO BELO CLARA Lisboa, Portugal

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Em dias assim, de cálidas brisas e trigo maduro, despojávamos a brancura das casas para tatuar nos corpos a imensidão do mundo.

As crianças por caminhos de terra voavam como aves num entardecer de fogo.

Os jovens amantes suspiravam p'la canção que éramos, embalando os vividos a recordação sustida p'lo lento movimento dos lábios.

A todos acenavas com tuas mãos de andorinha, a todos concedias o sol que só tu sabias despertar.

Rendido, queria ser água do fresco rio do teu riso.

Entre altas sombras de fulminantes pinheiros,

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deixávamos enfim os passos diluírem-se no vazio do tempo.

Nada mais amparava a leveza invadindo os peitos.

E assim, de mãos casadas e corações caiados de silêncio, bebíamos beijo a beijo a rumorosa eternidade das fontes e dos olhares em flor.

PEDRO BELO CLARA é autor das obras “A Jornada da Loucura” (2010), “Nova Era” (2011), “Palavras de Luz” (2012) e “O velho sábio das montanhas” (2013). Além de prelector de sessões literárias, é actualmente colaborador e colunista de publicações literárias. Outros trabalhos seus poderão ser encontrados no seu blogue pessoal, “Recortes do Real” (crónicas diversas).

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Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito

Recepção de originais: CONTATO.SUBVERSA@GMAIL.COM

Colaboração especial: GUILHERME WENDT

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