Revista subversa v 2 n 12 2015

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SUBVERSA ISSN 2359 – 5817

Vol. 2 | n.º 12 | Julho de 2015

DAVID COUTINHO VALCIÃN CALIXTO LUCIENE BERNARDES ANA CRISTINA TIETZMANN SUSANA VIEIRA DANILO AUGUSTO GLAUBER COSTA FERNANDES HEITOR DE LIMA CRISTIANO JESUS MARIANA BASÍLIO SAMUEL H. DIAS ANDRÉA MASCARENHAS SOUZA DE 1 MELO


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Subversa | literatura luso-brasileira | V. 2 | n.º 12

© originalmente publicado em 01 de julho de 2015 sob o título de Subversa ©

Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito

IMAGENS Marilia Moser | Guilherme Wendt | Karolina Whoo | Déb Dorneles | Daniel Drumond | A. Mimura | Juliê Caroline | Francisco Bem | Caroline Aguiar | Pedro Fernandes | Luciana Belinazo | Sílvia Carreira

Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados como autores desta obra. Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem com a realidade

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SUBVERSA DAVID COUTINHO | © EXÍLIO | 6 VALCIÃN CALIXTO | © NOTÍCIA |8 LUCIENE BERNARDES| © O BALÃO | 9 ANA CRISTINA TIETZMANN| © QUEDA LIVRE | 12 SUSANA VIEIRA| © O HOMEM | 13 DANILO AUGUSTO |© OS SEM FILHOS | 19 GLAUBER COSTA FERNANDES|© OLHOS SELVAGENS | 22 HEITOR DE LIMA| © ELEGIA VEGETAL | 26 CRISTIANO JESUS| © LAREIRA | 29 MARIANA BASÍLIO| © O XXVII | 31 SAMUEL H. DIAS|© SINCEREMANTE CONFORTO | 33 ANDRÉA MASCARENHAS |© PREZADA DESARMONIA | 35 SOUZA DE MELO| © TRAUMA| 38

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EDITORIAL Eis o último número do volume 2. Chegamos ao final de mais um ciclo

que

mudou

definitivamente

os

rumos

da

revista.

Muitos

colaboradores novos, um acervo lindíssimo de imagens e o primeiro volume impresso, que tem conquistado os leitores por onde passa. Não foi fácil, mas ninguém disse que seria fácil e nós aprendemos a encarar as dificuldades como um excelente combustível. A partir de agora, iniciaremos o planejamento e a expectativa em comemorar o primeiro ano da Subversa e em traçar os novos moldes do Volume 3. Para este número, foram reservados textos tão intensos e carregados de emoção que traduzem o que para nós foram estes últimos seis meses, em que desafiamos não só as fronteiras literárias lusobrasileiras, mas as fronteiras intelectuais e criativas de duas jovens editoras que aprendem diariamente com o andamento da própria revista. A partir de agosto, a revista entra numa nova fase, seguindo a permanente consolidação e busca em defender os nossos ideais e princípios do labor literário e artístico. Fica registrada aqui a nossa homenagem a todos os fotógrafos, pintores e ilustradores que gentilmente cederam as suas imagens que conversaram lindamente com os textos dos colaboradores da Subversa. O nosso próximo encontro será na edição de aniversário, para a qual estamos preparando algo muito especial. Obrigada.

Boa leitura e até breve. As editoras.

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SUBVERSA # 1 – Versão Impressa | Volume 1 (2014) Adquira já a sua, leia um excelente material e participe do crescimento da revista. 5


EXÍLIO DAVID COUTINHO | Rio de Janeiro, RJ.

Num exílio escarnecido chegou ao mar. De pé, sobre a linha das ondas na areia, contemplou a paisagem enegrecida. O limite entre céu e as águas, delimitado pela lua alta no infinito, se desfazia nos borrões azuis dos seus olhos, trazido por lágrimas atônitas de alguém que reconhece a verdade. Seu coração era pequeno, e ainda assim trazia a plenitude e os mistérios daquele oceano. Quantos não içaram velas, levantaram âncora e se atiraram no obscuro da incerteza, das idas sem porto, sem retorno? Ah, seu peito era um cemitério de naus enrugadas, envoltas em algas e musgos, que cortou montes, mundos e partiu corações. Sim, uma fotografia, uma poesia, uma miragem, pois deveria conceber alguma beleza em todo aquele peso que queimava os músculos de suas pernas; assim como o mar que é belo na superfície,

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reluzindo a luz da lua, das estrelas e das cidades. Sorria da própria ideia de si e do que sentia ali, tão estática, no limite da terra e da água. O limiar da vida a empurrava para onde o Sol se punha, e porque não descobrir a queda vertical que engole o Sol, a qual tanto temia Colombo e os grandes navegadores? Ícaro desejava voar, mas talvez devesse ter navegado para leste, a todo pano. Era para lá que guinava seu coração, por mais que os pés estivessem embebidos de água, sal e areia. Se lhe batessem a porta, de agora em diante, deixaria entrar. Acomodaria em seu lar, naquela velha cadeira, de velho estofado, dado por seu velho avô, qualquer faminto que precisasse. Perguntaria, para descontrair “entende alguma coisa de alma?”, “e de coração?”, “é possível que entendas de barcos...”, e cairia no riso que há tempos não ria.

DAVID BARRETO COUTINHO é professor e pesquisador por ofício, escritor por prazer. É formado em História e possui mestrado em História Política, tendo assim alguns artigos publicados em revistas especializadas nesse meio. Atualmente, dedica-se à pesquisas na área de Ciência da Informação e a divulgação de seus textos literários.

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NOTÍCIA VALCIÃN CALIXTO | Teresina, PI.

à Weslayne Sales

Bibica, 19 anos, Havia começado a usar drogas. Todo o Memorare já sabia. Até que a mulher de um policial foi assaltada, Isso em plena luz do dia. Bibica foi morto no início da noite. Disseram que nem foi ele. Depois ninguém nem quis mais saber, Ainda tentou pular o muro...

VALCIÃN CALIXTO é autor de Reminiscências do caseiro Genival (Ed. Kazuá, 2015), guitarrista/compositor na banda Doce de Sal, integrante do coletivo Geração TrisTherezina do Piauí e formando em Comunicação Social pela UESPI.

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O BALÃO LUCIENE BERNARDES | Belo Horizonte, MG.

No parque era apenas um em uma multidão de balões. Ficavam amarrados todos juntos, próximo ao vendedor, admirados com o vento que soprava suavemente movimentado as nuvens no azul do céu. Quando uma criança se aproximava apontando para eles, ficavam todos eufóricos se empurrando para ver quem se destacava mais a ponto de ser o novo brinquedo escolhido por algum menino ou menina. Então o balão vestido da personagem cor de rosa-choque foi escolhido pela criança que também trajava rosa-choque. A mãe deu uma moeda para o vendedor que separou e desamarrou o balão entregando-o para a menina. Então o balão se sentiu feliz e se despediu dos velhos companheiros. Saltitante seguiu junto com a menina rua

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afora enquanto que os outros balões ficaram de longe se balançando debaixo do Sol. O balão chegou na casa da menina que logo se deitou no sofá deixando-o solto pela sala. Ele ficou ali parado e surpreso por estar em um lugar tão diferente de tudo o que vira até então. Mas o que realmente o intrigou foi o branco duro parado em cima de sua cabeça, o que o fazia tentar entender para onde teria ido todo o azul do céu. A moça das pernas finas que passava pela sala se assustou com o objeto parado sob o teto e disse que aquilo era a coisa mais feia que já havia visto. O balão também ficou assustado e se perguntando como ele poderia ser feio se ainda a pouco era a luz dos olhos de uma criança. Então os dias se passaram e o balão ficou preso na maçaneta da porta do quarto da menina. Às vezes ficava solto no quarto, às vezes passeava pelo corredor, outras vezes parava na sala assustando sempre a moça das pernas finas, que resmungava e maldizia o balão. O balão cada dia mais sozinho e entristecido pelos cantos começou a murchar. Um dia a mãe da menina vendo o balão caído pela casa o pegou pela cordinha e o levou para fora. O balão deu um suspiro profundo e arregalou os olhos surpreso ao ver a luz do sol. Quando a mãe o soltou sob o teto da varanda retornando para o interior da casa, o balão começou a arfar o peito e foi se enchendo por dentro com vontade de ver e chegar mais perto do azul do céu. Ele não desistiu de lutar em nenhum momento contra o teto branco e quando a mãe da menina se deu conta já era tarde demais. Ele começou a subir devagarzinho pelo céu enquanto a mãe corria e gritava pelo balão. A moça das pernas finas foi a primeira a chegar para ver o que havia acontecido e não segurou a imensa gargalhada pela situação. O balão ficou enganchado nos fios de iluminação da rua e quase chegou a zombar da situação. A velha saiu de casa enxugando as mãos no avental e rindo virou criança. Por último chegou a menina que até

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então não sabia de nada. Ela começou a chorar e a mãe a consolar dizendo que compraria outro balão. Preso na iluminação o balão via a todos assustado com muita comoção. Então soprou um vento mais forte que o desvencilhou e ele subiu mais alto cheio de frescor. Já era um pontinho rosa-choque rindo e assoviando deitado nas nuvens macias no azul do céu quando ainda avistou o velho saindo da casa que para disfarçar acendeu um cigarro enquanto procurava a razão de toda aquela confusão.

LUCIENE BERNARDES é belo-horizontina, escritora independente e autora do blog O véu de Isis ´quando brotam as palavras´. Escreve porque se sente encurralada, porque as imagens pululam ao seu redor querendo existir aos olhos do mundo.

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QUEDA LIVRE

ANA CRISTINA TIETZMANN | Porto Alegre, RS, Brasil

pulo no azul o corpo paira em busca de sentido e vislumbro o inevitável chão suspiro sossego adiado preciso aprender a voar

ANA CRISTINA TIETZMANN é médica psiquiatra e psicoterapeuta. Para desenvolver-se como poeta, participa dos grupos de criação literária da Professora Léa Masina. Vive em Porto Alegre, RS.

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O HOMEM SUSANA VIEIRA | Lisboa, Portugal

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(Primeiro o Homem, o Homem é sempre o primeiro; as coisas vieram depois e, com as coisas, surgiu a vontade e a ação, ou - posto de outro modo – a vontade de agir. Se a vontade já veio com o Homem, antes de estar nas coisas, isso já é um outro assunto: polémico – que coloca a Discórdia no centro de tudo: são as coisas que criam as necessidades ou é o Homem, em si mesmo, a necessidade?)

Então, como ele não sabia ser outra coisa senão isso – um homem -, fechou os olhos e rendeu-se, silenciosamente, a essa condição; ele pensou que tinha feito tudo o que esperavam de si: tudo o que se espera de um homem bom e honesto. Invariavelmente levantava-se cedo, saía de casa quando a mulher e os filhos ainda dormiam, chegava ao escritório antes de toda a gente e começava a trabalhar sem que alguém lhe indicasse os objetivos a cumprir nesse dia. Almoçava em quinze minutos e raramente, em mais de dez horas de trabalho, se levantava para beber um copo de água ou ir à casa de banho. Saía depois de todos os seus colegas e chegava a casa quando a mulher acabava de lavar o chão da cozinha e os filhos já se tinham deitado. Ainda se lembrava de como tinha sido o início de tudo. Tudo começara com a afirmação Tu és um homem, que, na altura, poderia ter-lhe soado a uma provocação ruidosa e dura que o agredisse, de algum modo, em alguma parte de si. No entanto, continuava intacto; nada em si indiciava que alguma parte se tivesse quebrado; e, como a altura podia medir-se em unidade de tempo e de espaço, a intensidade com que a recebeu foi a mesma com que passaria a receber, daí em diante e - à medida que crescia - em graus diferentes, os primeiros momentos de todas as coisas recém-descobertas – depois do poder impactante inicial que o feriria sempre, entenderia cada afirmação como um momento forte. Em meio de uma vida tão pobre de sensações, agradeceria a grandiosidade da oferta que lhe caberia – precisamente

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a si, escolhido, no meio de tanta gente, para receber o que lhe pudesse,

em

algum

momento,

transformar

a

perspetiva

dos

acontecimentos. Medindo a altura em unidade de tempo, entendia-se a época em que a afirmação fora proferida e rapidamente interiorizada para, numa idade posterior, vir a ser lembrada – a infância principiava, logo, ele ainda era um menino. Quanto ao resultado da sua medida em unidade de espaço, a altura era vencedora na matéria, porque estendia-se para cima. Estendia-se, sim – ele não se enganara; ela não se erguia, assim, tão simplesmente; para além de subir, a altura – que, com

grande dificuldade, o menino obstinado

tentava

acompanhar – também se alargava. Ela era mais do que uma linha esticada e comprida no espaço: a altura ocupava uma área mais avantajada nessa dimensão onde o menino era um ponto difícil de se imaginar. Para conseguir reter todo o conteúdo da afirmação - que, na sua grandeza, lhe parecia cheia como um fruto maduro - o menino tinha de se fixar atentamente nos lábios grossos que a sentenciavam; então, eralhe inegável que não virasse para trás, num ângulo quase inadmissível, o pequeno pescocinho e que não esticasse o queixo na direção de quem estava acima de si. Desse modo, ele sentia o poder que explodia da

afirmação

fremente

nos

lábios

grossos

e

que

retumbava

vibrantemente nos seus incautos ouvidos de menino. O poder da sentença pronunciada, ao contrário da altura mensurável, não tinha medida: ela articulava-se individualmente e era indiferente a quem a transmitisse; não obstante exigindo obediência, dependia impiedosamente de quem cabia recebê-la – e era a ele, menino, que pediam que respeitasse as alíneas subliminares da afirmação, na tentativa futura de as decifrar. Dessa compreensão e da elaborada execução da sentença dependia a continuação da ordem do mundo, ou seja, a gravitação que garante a sobrevivência do seu lugar no escuro. Ele, o menino, recebia duplamente o importante poder

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de um efeito – o de restabelecer a ordem do mundo – e de uma causa - realizando plenamente a função que a afirmação lhe dava. Enquanto menino, tudo tinha um tamanho maior do que o crescimento do mundo. Ao realizar essa função, ele passava também a fazer parte do crescimento do mundo – cresceria com ele e tornar-se-ia seu eterno aliado. O que o deixava mais perplexo, e incomodamente orgulhoso, em toda aquela estranha situação era que a afirmação precipitava um futuro aparentemente remoto, forçando-o a acontecer de facto e mais cedo. Tu és um homem destinava-se a elucidá-lo que no seu mimoso presente ele já era um homem e, portanto, não teria de esperar por nenhum fundamento para o vir a ser. Mas já tinha fundamentos para deixar a infância apodrecer na terra, sem regar as suas raízes e sem deixar que ela se levantasse e fizesse o seu caminho. Nesse momento fosforescente ele ascendia precipitadamente à adulta classe dos humanos que cruza os dados e os mistura, de tal forma suspeita, até um se submeter fracamente a outro que passa a assumir o peso de o aceitar, terminando, assim, os dois por desaparecerem. Depois da força do primeiro momento, foram muitos anos a instruir-se na grande tarefa; se agora lhe dissessem que ele era outra coisa – ele não saberia reagir a esse novo desafio: lembrou-se, mais uma vez, que tinham sido muitos anos. Homem! A palavra furiosa do início tinha amadurecido e dado lugar a uma palavra amansada. Tudo na sua vida, desde menino, havia sido criteriosamente decidido para o conduzir a um único e concreto fim: o de desempenhar com dignidade e fidelidade a função de ser um homem.

Contudo, nessa manhã – ou porque o sol forte conseguira atravessar os buracos dos estores, ou porque se esquecera do que significava ser um homem -, ele não se levantou. Em vez disso, deixou

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que as ondas do sol lhe entontecessem os pensamentos que, como um girassol, se abriam e se fechavam e deixou-se envolver pela vontade de escutar o mundo sussurrante que submergia lentamente. A mulher, sentindo o volume ao seu lado, sobressaltou-se e gritou como se o mundo sofresse um terrível abalo que invertesse toda a ordem conhecida das coisas. As crianças assustaram-se e saltaram da cama. Mas aquele que havia sido instruído para ser um homem permaneceu no seu mutismo. Todos se entreolharam sem nada perceberem: a mulher desviava os olhos do marido para as crianças e encolhia os ombros estreitos; o filho mais crescido olhava o pai e depois a mãe e, não conseguindo encontrar nenhuma salvação em nenhum dos dois, deixava que o olhar recaísse sobre o irmão; o filho mais pequenino olhava o pai e sorria, porque era o único que conseguia entender a alegria de, pela primeira vez, encontrar o pai pela manhã e dar-lhe um beijo antes de sair para a escola; quanto a si, o homem permitia que a vontade dos seus pensamentos de se fecharem e abrirem dominasse toda a situação. A mulher e as crianças recolheram o seu mutismo e, sendo-lhes fiéis, nada disseram, também. Depois de perceber que nada havia a entender, a família tentou normalizar a nova situação, parametrizando um novo modelo para um melhor e mais harmonioso convívio possível. A cada dia, a família, tentando que a vida retomasse uma rotina normal, amparava-lhe o mutismo e, antes e depois dos afazeres diários de cada um, rodeava-o como a um pequeno altar onde se fazem as oferendas em troca de favorecimentos maiores. O filho mais crescido fazia os trabalhos da escola junto do pai e sentia-se satisfeito por o pai não exigir mais de si. A mulher limpava o quarto à sua volta e, sentada a seu lado, telefonava às amigas a gabar-se das delícias da vida conjugal, porque tinha um marido que não a maçava em nada. O filho mais pequenino fazia-lhe desenhos em bocados de papel que as suas mãozitas desajeitadas conseguiam, a muito custo, rasgar. Por vezes, só conseguia rasgar um fio

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de papel – era o suficiente para o lápis deslizar num risco torto: ele, embora pequeno, já conseguia adivinhar que o simples gesto de um risco torto pode conter toda a precisão do mundo e tudo o que é importante conhecer. Ele, no princípio, ficava horas a olhar o pai e fazia igual – ficava calado. Nessas horas de ensinamento aprendeu o que era o silêncio e dedicou-se a aperfeiçoar a nova aprendizagem. Quando pensava que já sabia tudo sobre o silêncio, percebeu uma coisa nova. Um dia, seguiu a linha do silêncio do pai e, numa outra dimensão, muito atrás do mundo, muito atrás das asas negras e pesadas dos pássaros, muito atrás das regras da mãe, muito atrás das ordens do irmão crescido, muito atrás das vogais aborrecidas da professora, havia o que descobriu ser o seu mundo, que se abria e se fechava conforme bem entendesse. O menino deitou-se junto do pai e aconchegou-se no seu peito. Mais tarde, o filho crescido chamou a mãe e, ambos, abraçaram os outros dois elementos com o mesmo carinho com que o seu abraço fora recebido. No seu mutismo, a família procurou, na linha do silêncio – nessa clara direção -, o seu mundo perfeito. Tudo à volta desse pequeno tubo se enevoou.

SUSANA VIEIRA é licenciada em língua e cultura portuguesas pela Faculdade de Letras de Lisboa. É redatora e revisora editorial.

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OS SEM FILHOS DANILO AUGUSTO | Salvador, BA. poetas críticos outrora malditos artistas docentes revolucionaríssimos do amor justíssimo a terceiros de terceiros suas estantes são árvores genealógicas seus corpos são velas sobre a mesa porém onde encontrar

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entre os livros de filosofia um filosofo que o conforte quando passado o dia restar um corpo interrompido em um quarto de hotel em um país estrangeiro? e quando pensar nos filhos como não sabê-lo nos dos seus amigos aquele não tido por ganas de expansão? mas por fim abreviado restar neste quarto o inacessível de um fruto amadurecido? e nesta já comum vigília da velhice sentir por não colhido dentro do próprio peito o desconhecido de um segundo corpo que se desfaz? DANILO AUGUSTO é poeta baiano, ensaísta, tradutor e professor. Publicou os livros Poemas (2014, edição do autor), Zumbi (2014, Coisa Edições) e Sonhos e outros Sonos (2005, Luripress). Teve seus poemas traduzidos para o inglês, espanhol e italiano e colabora rotineiramente com revistas e espaços como Escamando, Modo de Usar, Pessoa, Musa Rara, Mallamargens e Jornal Relevo. Em 2015 publicará Estar na Grama, poemas contra a terra devastada, a incompletude, a desesperança e o lugar nenhum.

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OLHOS SELVAGENS GLAUBER COSTA FERNANDES | Ubatã, BA. Fechando o portão, apressado, para voltar ao computador, percebeu a presença, na rua, das borboletas. Elas passavam de um lado para o outro, mesmo quando passavam carros. E circulavam, uma solitária ali, outra voando mais alto, por entre as pessoas, as motos, as bicicletas e os outros animais. O que faziam? O que será que fazem as borboletas? Pensou. Enquanto a vida humana se ansiava, elas estavam tão perto. Procurariam algo? Algum tesouro esquecido? Algo debaixo da terra, que não dá mais para cavar?

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Recordou que à noite passavam sempre uns morcegos. Refletiu se os bichos de asas não seriam menos perceptíveis. Pela manhã, havia os passarinhos no quintal. O que faziam ali, naquela cidade tão entediante, aqueles bichos com asas? Por que não voavam para longe, para outros lugares maiores, alguma floresta, um jardim? Mas não, ficavam ali. Filosofou. E subitamente sentiu-se acompanhado. Depois, suspirou tranquilo, como se anjos estivessem pousados para fazer companhia a ele. Como se eles estivessem tecendo, pacientemente, o tempo para ele, e para todos os que moram ali, um dia poderem voar. Chegou, enfim, de volta ao computador e logo viu na tela inicial uma paisagem campestre. A tela estava assim já fazia dias, muitos dias, e ele não tinha percebido nada de especial. As paisagens e as asas estavam camufladas, constatou. E nem era uma cidade grande, acinzentada. Era um interior dentro da mata mesmo. Árvores para todo lado. Mas ele não havia notado. Será que era pela abundância? Existiria, então, um mundo por baixo do outro, que ele só estava vendo agora, assim, de repente, na pressa de fechar o portão? Aquela mente teria enlouquecido de fechar portões e guardar-se na sala, no quarto, na própria intimidade? Olhou, nos olhos, o gato da casa, mas seus olhos não diziam nada do que ele queria saber. Aqueles olhos reptilianos e frios. Que tipo de sentimentos existiria neles? Existiria culpa? Ou culpa, talvez, seja uma invenção humana? Ficou sem resposta, aflito, procurando alguma coisa naqueles olhos amarelos. Eles estavam vivos, assim como ele também está vivo. Pensou: Serei eu o que o meu corpo é? É dos meus olhos negros, então, que brota toda essa agonia? Olhou ao redor para as paredes e espantou-se de ver o mundo dividido em dois: o das paredes e o das pedras sobre pedras. Levantou-se. Caminhou até o portão, novamente. Olhou a rua e viu as pedras, os paralelepípedos, o vegetal entre eles. Sentiu que sua

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casa esmagava alguma coisa viva, com a ajuda do seu peso dentro dela. Saiu. A rua estava vazia. O céu imenso. A tarde terminava. Andou. Começou uma caminhada. Por vários minutos não pensou em nada. Calou-se. Ficou mudo pelo que via. Era tudo muito frágil e vivo. Dos insetos aos urubus. Foi andando tanto que o seu corpo começou a suar. Aí sentiu mais o corpo, ou melhor, flagrou-se sentindo, com consciência. Estava pulsante. A mente esgotou-se. Consumiu-se em uma vertigem de cansaço. A noite já estava esfriando. E isso lhe causou um calafrio. A lua estava cheia. Iluminava a sua face quente, os seus olhos selvagens. Sentiu que o sangue circulava. Tocou mentalmente cada ponto do seu corpo, usou o pensamento. Raciocinou aquele mistério. Onde estava mesmo? Dois mundos se dividiam, como águas que se desencontram. Sua cabeça se repartia. Ele sabia que era impossível existir dois mundos assim, sem que ninguém notasse. Impossível, dois mundos. Resistia. Foi ao fim da cidade. Olhou o céu, encarou a lua, ouviu os grilos. Era já outro mundo, longe do portão. Era também uma outra vida? Estancou. Estagnou, pensativo, hipnotizado. Ouviu um barulho de rio. Depois, de mato. Havia algo no mato. Seus olhos estavam firmes, como os do gato. Seguiu os rastros sonoros. Entrou no mato escuro, iluminado pelo céu da noite, e viu. Viu um menino magro, assustado como um cego, girando para todo lado, procurando algo para se encostar, com as mãos para trás. Quem seria ele, não pensou. Avançou. O menino ficou mais agressivo, defensivo. Fez gestos bruscos para afastar o invisível. Então, ele tocou o ombro do menino. Um pulo. Um salto para trás e os dois ajeitavam os corpos para a briga. Encararam-se. O menino via. Desfez-se o susto. Fez-se um riso. Conhecia-o. Você veio, o menino disse. Você chegou. Eu, que estava cego, agora posso enxergar. Todos nós ganhamos olhos a ver mais, algum dia. Venha, vamos ao fundo. Tens que quebrar o meu esqueleto. Foste sequestrado pelas borboletas. Faça-o e minha pele será tuas asas.

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O homem assustou-se, ofegante. Um susto, um delírio, uma urgência. Onde ele havia ido parar? Sentiu-se um intruso. Não sabia o que fazer. Esperou. Aguardou que aquilo se desfizesse. Mas o menino continuava ali, parado, também no aguardo. Estou perdido, pensou. E o menino escutou. Sim, estás. O besouro daqui é mais letal. Tudo aqui vai ser visto por ti como quem é olhado por um enfermo. Aqui é o mundo dentro do mundo. Aqui é o perto e o longe. Por isso, estás perdido. Mas é assim perdido que se encontra o jardim, disso o menino, quase sorrindo. Quebra-me, salva-se, é a lei. E prossiga. Ele ouvia e não entendia. Quis voltar, mas algo o paralisava. Nem olhar para trás ele conseguia. O coração estava ligeiro, ele ouvia. E aquele som se confundia com um tambor distante, que parecia que vinha, que se aproximava. O menino fez um gesto de quem ouvia. Está ouvindo? O teu coração é quente, cai bem para o estômago de um faminto. Quebra-me. Sentiu-se preso. Aprisionado. A noite inteira era uma prisão. Desapareceu a ideia do amanhecer. Era o mundo uma grande noite, e ele precisava reagir. Deu um passo para trás. Pisou uma folha barulhenta. O menino silenciou. Parecia algo esperar. Não aconteceu nada. Deu outro passo para trás. As folhas eram o próprio chão. O menino gritou. Um grito horripilante. Um salto de medo levou o homem para trás de uma vez. Caiu. Quando levantou, o menino já estava caído. Olhou ao redor. Nada. Ventava mais frio. Era um vento frio, muito frio. Sentiu a sua pele fria. Foi até o menino jazido. Morto. Ele estava morto, meu Deus! O que faria? Olhou novamente ao redor. Aquilo tinha que ser um pesadelo. Tocou. Estava tudo frio. Chegou o medo. Quis fugir. Por impulso, correu. Se algo havia matado o menino, poderia matá-lo também. Correu. Correu o mais rápido que pôde. Sentiu o coração bater. Correu até sentir calor novamente. E sentiu. Encontrou, sem procurar, a cidade outra vez. Saiu de um beco. Parou, respirou ofegante. Ninguém. Alta madrugada.

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Voltou para casa. Perplexo. Fechou o portão. Dormiu cansado. E sem sonhar. No dia seguinte, quando saiu para trabalhar, e uns poucos carros passavam para lá e para cá, viu que, no meio deles, uma borboleta girava no vento. Parou e ficou na calçada a olhá-la. O que ela fazia? Viu um cachorro passar. Imaginou o corpo dele como algo quente e alerta. Voltou o olhar novamente para a borboleta, que já não estava. Suspirou, com medo, ao restar apenas o próprio corpo para a sua atenção. Estremeceu ao se imaginar quebrando o esqueleto do menino. Um arrepio. Que mundo era aquele que podia se camuflar ou se revelar em um

segundo

de

distração?

O

que

criaturas

aladas

estariam

aguardando, assim, tão perto e aqui? Distraiu-se. Seus olhos estavam fisgados por dois mundos simultâneos. Que isso se espalhasse para os braços e, depois, para as mãos, o frio, de algum jeito, o alcançaria; e ele precisaria sempre de ter asas, sentenciado por um invisível quente, lutando para ser quente. Sentia. Era o que agora pulsava em sua mente, no escritório, em frente à tela bucólica do computador. E do mesmo modo que nada dizia, não sabia o que fazer. Não sabia agora e sentia bem forte que nunca saberia.

GLAUBER COSTA publicou as crônicas “No longe, no dentro” e “Gênese”, ambas pela Coletânea Eldorado, da Celeiro de Escritores. Publicou o conto “Meu velho” na Revista Subversa, texto que faz parte do primeiro volume impresso. Teve o conto “A locomotiva” aceito para publicação pela Editora Editus. Escreve no blog http://glaubermanuscritos.blogspot.com.br/

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ELEGIA VEGETAL HEITOR DE LIMA | Fortaleza, CE.

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Rogo a ti, linda flor, sobre o jardim de agosto erguido nesta relva de rubi entre colunas de sono onde a calma se esvai como teu corpo, pisoteada pelo halo das rochas. Desperta deste verde decrescente Entre colinas de aurora e sangue. Vê neste cansaço de estátua o riso que te perdeu nas veredas de ar. Vê teu riso que te perdeu no vento que se estica no horizonte como um músculo de cera envolto em rosas de chumbo. O tempo se esvai como teu corpo. Preso nesta argila de antes à beira da loucura mais serena Na tarde amarga sem sinônimo. Eu que não me ouço nem contemplo, Escuto tua voz de fogo quebrada Sobre este lago espesso e reticente e a brasa escorre de um ouvido. Os homens sobre tua sombra ressecada colhem frutos de silêncio. As mãos desentendidas levam o sumo à boca e tudo assenta mudo. A Pedra mordisca teu anel de pó A tarde arranca teus pelos de ouro sobre o marulho do espaço e leva esta música oculta que exala das ancas do lago. Desperta deste verde hálito baço entre oceanos de lírios. Pequenas folhas de areia

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caem sobre teus olhos que choram Círculos de anil encerrados em teias de cobre crepuscular; No outono de árvore salina, raízes débeis procuram um pedaço de angústia, um sepulcro de pássaros, guardados no desperdício da paisagem. Rogo a ti, linda flor, sobre o jardim de agosto, sobre teu choro ensimesmado e grave, verbos que façam o medo desatar num pano aquoso onde a súplica de desvanecer não seja ouvida. Ouve-me, Que a forma tua concreta, como o cheiro da carne já medrosa relembra a costura do ano em vultos de poemas. Rogo a ti, linda flor, sobre o negro suspenso: Ouve-me, que te amo em susto, olhado de forma inesperada sobre o jardim de agosto em sonho.

HEITOR DE LIMA rabisca em versos desde os 9 anos de idade, espera que o mundo escolha a poesia, mesmo que inconsciente. Vive a heterogeneidade de ser quem é.

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LAREIRA

CRISTIANO JESUS Paredes do Bairro, Aveiro, Portugal

Sentei-me à lareira como quem esperava a morte E bebi a amargura com que me ardia a alma por ter falhado em tudo. Fechei os olhos porque fui sempre senhor enquanto sonhei, Mas a gravata que me compunha desfez-se E não houve nó que soubesse dar. Sonhei ser o perfume que toda a gente quisesse cheirar, Sonhei ser a filosofia que qualquer filósofo desejasse escrever, Sonhei ser D. Sebastião e salvar a pátria, Mas não houve mais ninguém na história Que tivesse tantos exércitos derrotados como eu. E o regresso nunca existiu, Estive sempre no mesmo sítio, Debaixo da carroça do que era.

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Fui ingénuo para a vida e ela não me perdoou. Lançou-me com violência Contra as coisas que desconhecia E perdi-me na brutalidade do mundo. A tempestade que se formou à minha volta Incomodou-me tanto que saí por aí correndo À espera que de uma porta aberta numa parede que nem sequer porta tinha. Fiquei molhado pelos meus problemas e sequei-os na lareira que estava apagada. Se hoje fosse ontem, Quereria apenas ter existido, Como a lenha que ardeu e restou-lhe apenas ser se não cinzas.

CRISTIANO ANTÓNIO MARQUES DE JESUS nasceu em Coimbra, freguesia de Sé Nova. Entre 2011 e 2014, frequentou o curso de Artes Visuais na Escola Secundária de Anadia e, paralelamente ao liceu, aprendeu música no Conservatório Artes e Comunicação, em Oliveira do Bairro e na Escola Artes da Bairrada, no Troviscal, onde tirou o sexto grau de conservatório, como clarinetista. Atualmente, estuda Som e Imagem, na Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha.

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XXVII MARIANA BASÍLIO | São Carlos, SP.

O réquiem nasceu-me dos sangues. O réquiem morreu-me em instantes. -Suave é a noite que o réquiem canta! Em costelas, cantou-me em serenos: “Não te ponhas a questionar o porquê eclipses solares. Não te abras a questionar o porquê lágrimas incolores. Não te firas a questionar o porquê veias azuladas. ” De nossas falas, há nossas falhas. De nossos pés, há nossas patas.

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O réquiem subiu-me as veias vermelhas, traçando reluzentes granizos, e soprou soprou aos montes de bronzes, réquiem. Em D menor, réquiem. Em D menor. Disse eu, morta de amores, disse eu. Apertando os cravos que voavam borboletas aos meus sentimentos, cravos. Por safiras, em elipse sufocou-me os ares. Com bordas feito pedras-lipses, dizia ele: “E não te ponhas mais a reclamar das veias postas às esferas periespirituais. Tu aceitas o silenciar dos dentes e eles te aceitam em litúrgicas róseas rosas.” A nascer de prantos. A morrer de frutos. Eu parti. Inteira como cachos de melancia rasteiras. Inteira como seitas em vinícolas de água. A nascer das dores. A morrer de sedas. Eu parti. E se tiveres as veias cheias de sangue se tiveres os caramujos em estômago se tiveres unhas e dedos desbotados se estiveres a cumprimentar querubins, -Suave é a noite que o réquiem canta!

MARIANA BASÍLIO é autora de Nepente (Giostri Editora, 2015), reunião de seus primeiros poemas. Atualmente, se dedica à escrita do segundo livro, sombras & luzes. Seus versos são inspirados em poetas como William Blake, Percy Shelley, Walt Whitman, Herberto Helder, Ruy Belo, Luiza Neto Jorge e Hilda Hilst.

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SINCERAMENTE CONFORTO SAMUEL H. DIAS Muzambinho, MG, Brasil

As fadas voam perto de mim. Colocam suas mãos sobre meu rosto. Uma nova visão surge e repetidamente eu ouço uma bela voz. A figura pálida em minha frente é meu futuro eu. Podemos amarrar essas figuras podres e conseguir formar um único pensamento. A gaiola que antes te prendia... As unhas quebradas estão no chão. Jovem donzela Se recomponha. Sorrindo e se levantando vagarosamente.

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A oferenda a uma personificação. Metade do corpo para o sul a outra metade para o norte. A tarântula em sua doce boca. Esvazia sua mente. Sacrifício, Sacrifício e Sacrifício. Tendo ouvido repetidamente. Até a sua suposta felicidade me enoja. Isto é o suficiente para nos tornarmos ricos. O louco aqui é um manto vermelho de pequenos espaços entre os nós. Volta e Meia. Tottem.

SAMUEL H DIAS é colaborador frequente da Subversa e dispensa biografia.

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[prezada desarmonia] ANDRÉA MASCARENHAS | Salvador, BA.

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I venho por meio deste por meio d'isto pensar um monet de rua enfim um monet desavisado desqualificado com pincéis de flores com sprays de animação logo tópicas mal'amadas de pouco a mais barrado no sarau do desespero

II um monet de quinta essência (des)guarida apaixonado por efêmeros e fuga.cidades

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III para os devidos fins de esquerda pelas cores.suportes e pintura de teto.céu deixo estatuído em epígrafes de chão pisado que a beleza pode ser gratuita fluida fru.ida e flutuante em meio a sexta e sétima avenidas inclusive a que pede esmolas em chapéu puído à beira da instabilidade de um meio fio <Registre-se e cumpra-se> ANDRÉA DO NASCIMENTO MASCARENHAS SILVA é docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), da área de Literatura. Doutora em Comunicação e Semiótica - PUC-SP. Edita o Blog literário ..Arquivos.. impertinentes. Publicou textos poéticos na Revista Cultural Artpoesia (2012) e na Revista Subversa (2015 / edições 10, 11 e 12). Pela Pastelaria Studio (Portugal) participou de três antologias (2015). Pela Editora Pragmatha (Brasil) participou do Caderno Literário n. 66 e da Antologia 'Sou Poeta Com Orgulho 2' (2015).

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TRAUMA SOUZA DE MELO | Belo Horizonte, MG.

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O sangue secando Na ponta do nariz Escurece E perde O gosto Cristaliza Quase protegendo a carne Da lembrança do murro.

SOUZA DE MELO nasceu em um vilarejo português, em agosto de 1991. No entanto, vive em Belo Horizonte desde os seis anos de idade. Ao longo da infância, foi descobrindo seu gosto pela literatura e pela música, seus principais vícios criativos. Atualmente cursa Letras na UFMG e estuda música por conta própria.

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PARCEIROS:

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Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito

Recepção de originais: CONTATO.SUBVERSA@GMAIL.COM

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