SUBVERSA Vol. 5 | n.º 01|agosto de 2016
ISSN 2359-5817
Ilustração | ANANDA KUHN
SABRINA DALBELO ESTEVAN KETZER ANAEL SANTALUCIA YURI PIRES EVANDRO DO CARMO CAMARGO ANDERSON FREIXO CLÁUDIA CAPELA FERREIRA ANDRÉ GUILHERME DE ALMEIDA PATRÍCIA C. BOLOGNA SOTO VIEIRA EDSON AMARO
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Subversa | literatura luso-brasileira | V. 5 | n.º 01
© originalmente publicado em 01 de agosto de 2016 sob o título de Subversa ©
Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito
Ilustrações Ananda Kuhn e Bianca Lana Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados como autores desta obra. Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem com a realidade.
SUBVERSA ANAEL SANTALUCIA | CONSERVA | 6 ANDERSON S. FREIXO | RELAÇÕES HUMANAS | 8 ANDRÉ GUILHERME DE ALMEIDA| PELA PAZ DO SOL QUE SE PUNHA | 12 CLÁUDIA CAPELA FERREIRA | TRIBUTO | 15 EDSON AMARO | POEMA DA GRANDE DÚVIDA | 21 ESTEVAN KETZER | VÉU NO CÉU | 23 EVANDRO DO CARMO CAMARGO | BIFES | 26 PATRÍCIA C. BOLOGNA SOTO VIEIRA | SERÁ QUE SERÁ?| 29 SABRINA DALBELO | BANHO DEMORADO | 32 YURI PIRES | O BICHO DO MUNDO | 34
ANANDA KUHN: A arte como memória fotográfica| 39
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EDITORIAL A Revista Subversa está completando hoje dois anos. Em agosto de 2014, surgia uma ideia que, em formato de revista, hoje conta com mais de 40 números publicados na forma eletrônica e dois em papel. No período de “férias dos números” da Subversa, boas novas como a chegada dos colunistas, produção de resenhas e especiais ajudaram a renovar o espaço e aquecer as máquinas para o dia de hoje. A cada volume que encerramos, o trabalho vai se fixando de maneira mais consistente e permanente, não havendo mais dúvidas de que a revista literária é extremamente necessária na atualidade, de que muitas revistas literárias são necessárias. Iniciamos essa quinta jornada acreditando mais do que nunca que é nas revistas que a vida literária inicia e para onde sempre volta, independente das travessias que faça. Duas capas de duas ilustradoras festejam e homenageiam conosco esses dois anos de recepção, análise, edição e publicação, mostrando que todo o diálogo é possível na comunicação e na valorização da arte. A anatomia do artista (proposta de Bianca Lana) e a confusão de línguas (através da Babel, de Ananda Kuhn) estão sempre expressas nessas páginas que constituem uma forma coletiva de fusão de diversas singularidades artísticas. E, por fim, só podemos reforçar mais uma vez que, se há algo que realmente constrói esse projeto, é a comunicação diária com artistas e leitores. Sendo esta conversa o que nos enriquece como pessoas e como editoras, é o que tentamos passar através de tudo o que é feito aqui na Sub. Por isso, só temos a agradecer a todos e desejar (mais) uma excelente leitura! Bem vindos ao volume 5. As editoras.
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Subversa versĂŁo impressa #2 5 Encomendas pelo e-mail contato.subversa@gmail.com
Tela de Ananda Kuhn
CONSERVA ANAEL SANTALUCIA | São José do Rio Preto, SP.
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Há, na lata de conserva, tipos diferentes de vegetais mergulhados numa salmoura ácida. Fragmentados, misturam-se e colidem uns com os outros, nas laterais, quando são chacoalhados. Todos iguais em sanidade: pasteurizados ou esterilizados. Limpinhos, acessíveis. Bolinhas de ervilha, palitinhos de cenoura, cubinhos de batata, argolinhas de vagem, losangos de palmito... cada um mantendo sua forma. Para a lata isso não importa, são a mesma coisa. São todos conserva. Integram o universo dos homogeneizados para fins práticos. O cheiro é igual, o gosto, igual, e no meio da massa ninguém os distingue. Só servem juntos, em quantidade. Prestam para consumo enquanto conserva pois ninguém quer ter amolação com essas coisinhas. Que se limitem a serem o que são! Ninguém paga muito por elas. São modificadas para durar um tempo razoável. Deve haver uma puta monotonia ali. Sempre a mesma coisa. Um balanço ou outro e muito tempo sedimentados, na habitual mistura de água salgada, ácido e gases. Todos à espera da grande boca. O homem que inspeciona a integridade das latas de conserva se matem, de oito a dez horas, há vinte e um anos, entre a esteira rolante e as caixas de papelão. É baixo, atarracado e careca, tal como as bolinhas de ervilha que embala para despacho. Às vezes, corre os olhos, em panorâmica, pela fábrica. Uma calmaria mórbida envolve os quarenta e tantos operários que, juntos, vivem numa atmosfera imutável que os faz suar nos macacões. Suor que os salga. Já a falta de perspectiva e o baixo salário os acidifica. Vez ou outra um chacoalhão ou uma novidade que dura um átimo. Voltam todos à posição habitual.
ANAEL SANTALUCIA é professora e tem 38 anos. Residente em São José do Rio Preto. Escreve contos e poesias. | ANAELSANTALUCIA@GMAIL.COM
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Ilustração de Bianca Lana
RELAÇÕES HUMANAS ANDERSON S. FREIXO | Salvador, BA.
E eu que nunca me liguei muito nesse negócio de romantismo, senti naquele momento o que costumam chamar de ter o coração partido, eu sei que era isso; disse o homem com as costas apoiadas na
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fria parede de tijolos úmidos enquanto encarava o poste que o escutava em estática comoção. O homem tossiu um pouco e continuou, agora olhando o concreto da calçada: o outro ser humano é um espaço inabitável pra você; você tá aqui dentro de você, mas quer todo aquele corpo, todo aquele território fora de você, e de repente você percebe que além de você e dela existe o mundo. E o impulso natural do mundo é querer te privar dela. O impulso natural do mundo é o de te privar. Um gato passa distraidamente por entre o homem e seu interlocutor, o poste. No final das contas, continuou, tirando sua carteira de cigarros do bolso, não tem como vencer. É a vida que dá as cartas. E se você consegue uma pequena vitória, ela simplesmente embaralha tudo outra vez e te dá outro jogo. Se você dobra suas fichas e comemora, ela permanece impassível na segurança estatística de que a casa sempre ganha. A vida é o crupiê cínico do grande cassino que é o mundo. E nós somos os jogadores idiotas querendo ganhar do mundo com o jogo que a vida nos dá. Mas nossas fichas simplesmente se vão. E seremos todos perdedores vagando lentamente sob o peso de nossos sonhos destroçados, sem mais o que apostar e nem esperança de vitória. O poste nada responde e o homem acende um cigarro. Ele usa a mão livre para espantar algumas moscas que rondavam a ferida de sua mandíbula e impacientando-se encara o poste e recomeça a falar, gesticulando com a mão que segura o cigarro: sendo mais direto: depois de saciado o impulso da foda você não sente aquela perplexidade, aquela angústia de ter ido o mais longe possível não sendo o mais longe possível longe o suficiente; sendo o mais dentro possível ainda muito pouco dentro? quando a gente fode, a foda não basta: é preciso algo que vá além da foda. Substitua foda por qualquer coisa que te dê prazer, e vai dar certo, embora eu realmente estivesse falando de foda, no sentido de que é impossível para dois seres humanos... interrompeu o raciocínio e encarou o poste, que o ouvia
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atentamente. Quanto tempo ainda iria demorar, dois, três dias? Olhou ao redor e encontrou um caco de vidro que reluzia uns dois metros à sua frente. Precisaria se arrastar até lá. Eventualmente encontraria ânimo para fazê-lo. É como se, continuou sem tirar os olhos do caco de vidro, é como se o objetivo primeiro do universo fosse o de conspirar no sentido de foder com o homem sensível, não é? Pegou o isqueiro, acendeu a chama e pôs-se a observá-la. Desejava uma bebida. Não havia bebida. Esticou-se na direção do caco de vidro; não dava. Deitou-se de bruços no chão esticando-se o máximo que pode; não dava. Forçou os pés contra a parede a fim de pegar impulso e conseguiu arrastar seu corpo até o objeto. Sentou-se, colocou o caco de vidro no colo e, erguendo um pouco o corpo com a força dos dois braços, e utilizando as pernas empurrou o corpo para trás até que finalmente alcançou outra vez a parede onde estava encostado e retomou sua posição inicial. O homem agora respirava de forma descompassada, como à beira de um ataque de asma. Acendeu outro cigarro. Mas estou divagando, continuou, com bastante dificuldade. Eu. Falava da. Da.. O homem tossiu forte muitas vezes. Cada tossida parecia puxar uma outra mais forte, de origem mais profunda, até que ele se curvou de lado no chão, sempre tossindo. Seus olhos estavam fechados. Obrigou-se a respirar devagar para não provocar mais tosses. Quando a crise passou, abriu os olhos e viu à sua frente pequenas bolinhas gosmentas de sangue enegrecido. Viu um grande potencial naquilo. Quanto tempo ainda? Dois dias? Não. Haveria de acabar mais rápido. Sentou-se outra vez com as costas contra o muro e fitou o poste, que o encarava com certa perplexidade estática. Não se preocupe, eu estou bem. Eu estava falando da vida em geral, e acabei focando demais nas relações humanas, mas, e nisso você tem uma vantagem, a merda toda é culpa das relações humanas mesmo. Pegou o caco de vidro que havia caído no chão e iniciou um corte vertical desde o
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ombro esquerdo até o pulso com o cuidado de não se cortar muito profundamente. Recebeu a dor como a um amigo. Abandonou o braço como a um fardo, sangrando, à esquerda de seu ser, que não sabia ainda onde se localizava, em meio a toda aquela quantidade desnecessária de matéria orgânica. As pessoas que amei, as pessoas que quis impressionar. O homem sentia agora uma espécie de formigamento constante na língua, e julgou que eram as larvas que eclodiam da ferida da mandíbula, que perdera completamente a sensibilidade. As pessoas que amei. As pessoas que quis impressionar. É incrível como ainda me vem essa vontade estúpida de que elas me vissem agora. Viver deixa esse ranço na gente. Quanto tempo ainda...? Não importa. Viver deixa esse ranço na gente. As pessoas que amei. Já não se importam mais. As pessoas que amei. Já não me importam mais. Entende, poste? Viver é morrer. Não é sintomático que os homens sejam os únicos animais que se suicidam? Imagine um chimpanzé num zoológico cortando os próprios pulsos com uma faca. Não seria a cena mais trágica do mundo? Poste, poste meu, haverá no mundo alguém mais vivo do que eu? Viver é morrer. As pessoas que amei. As pequenas conquistas. O mundo que quis impressionar. Não há mais ninguém. Quando paramos de falar, é o mundo que se cala. As pessoas que amei, o mundo que quis impressionar. Não há mais ninguém, além de mim. Parece que é o sol que já vem vindo.
ANDERSON SOARES FREIXO é carioca, tem 26 anos e reside atualmente em Salvador, onde estuda Letras. Já teve contos publicados por outras revistas, como Mallarmargens, Samizdat e Desenredos. Atualmente publica seus textos no blog zonadofreixo.blogspot.com e em sua página do Facebook (Zona do Freixo). | ANDERSON.FREIXO@GMAIL.COM
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Tela de Ananda Kuhn
PELA PAZ DO SOL QUE SE PUNHA ANDRÉ GUILHERME DE ALMEIDA| Santo Antônio da Platina, PR.
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pela paz do sol que se punha via através desses vidros cores inúmeras lusco-fusco que a lua ofusca farta de tanta brancura, pálida de uma maneira que só ela pode
eu roía as unhas enquanto o mundo ruía
debaixo de um céu coberto de paz plácido palácio onde a guerra se faz
o horror contrasta e arrasta os olhos pro chão à frente o inimigo d e s p e d a ç a d o
debaixo da tez incólume a guerra acende seu lume
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exércitos exercitando batalhas
dos jogos de baralho o blefe uma calma breve enquanto o domingo não chega
aquele cansaço que vem dos dias mais bélicos
porém algumas vezes os dias mais bélicos trazem consigo as noites mais belas
ANDRÉ GUILHERME DE ALMEIDA possui um poema publicado no Concurso Rima Rara de 2013, realizado pela Biblioteca Nacional Brasileira. Atualmente está tentando publicar um livro independente. Cursa o 3° ano de Letras/Inglês na Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP. | ANDREGUILHERME.A@GMAIL.COM
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Ilustração de Bianca Lana
TRIBUTO CLÁUDIA CAPELA FERREIRA | Vila Real, Portugal / Colônia, Alemanha.
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Nascera num dia tórrido, as árvores inertes, ressequindo, a cidade encerrada sobre si mesma, as ruas desterrando os habitantes, o seu pensamento exilado. A mãe mal tivera tempo para se preparar, as dores assaltaram-na e fez-se ao caminho. Sozinha, alcançar a paragem do autocarro foi um martírio. Soltavam-se baforadas do chão, chamuscado o espiche, mais enegrecido a cada passada, e as ervinhas outrora tenras ali definhando. A mãe dizia-a assim morena por essa razão, nascida no dia em que o sol flamejou a rua e a terra expulsou do seu ventre as flâmulas candentes, combinação terrível, ela, tão cândida de pele e de gestos, a quem perguntavam como havia a filha saído assim, tão sólida e trigueira. A mãe dizia, até, que a sua vitalidade e a despudorada violência encarnada na menina do olho lhe vinham de dentro, da fundura do ser, como se o sol lhe tivesse entrado pela boca assim que a abriu e no peito se acomodasse, qual seio da terra, uma fogueira adormecida. O autocarro tardava, contraía-se-lhe o útero, endurecia-se o ventre, e a dor, inicialmente sorrateira, ganhava terreno, apertos cada vez mais longos e menos espaçados. Carminho crescera sob a proteção da doçura da mãe: a roupa branca corando ao sol, a renda que dedilhava como uma harpa, os vapores que se elevavam do ferro queimando, sempre formosa a Carminho. Quando, naquele dia, Carminho desceu a rua, a mesma que a mãe subira a custo para a parir, mal viu que os olhos anguíferos do sujeito que abria a janela a seguiam, concupiscentes. Deixara-se, entretanto, ali ficar, observando a rua ardendo. O cigarro que acendera depois, combustão do olhar que lhe crestava na ponta dos dedos, consumiu-o lentamente, secando-lhe os resquícios de humidade na boca, desértica e infértil, e as baforadas levantavam-se a custo. O ar ressequido sugava-lhe os resquícios humentes e do nariz corria-lhe, agora, um fio de vida, perecendo. A primeira gota desfalecendo já sobre a mão que segurava o cigarro, morrão decadente, e a segunda
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e a terceira, escorrendo pelo pulso até ao chão. Quando Carmo subia a rua novamente, o sol tombando sobre as cabeças descobertas, sailhe à rua o Zé. Ora, boa tarde, menina! Olá. E nem um beijinho?! Que pressa tens, mulher, onde vais? Tenho o que fazer, tenho de me despachar. Hoje é feriado, foram todos à feira, não vês que a rua está deserta? Tem calma, estamos a conversar, por que razão continuas a andar se eu estou a falar contigo? Levo pressa, homem, não vês? Vá, nem te mereço respeito, depois de tudo? Oh Zé, já conversámos, diz-me lá, nestes meus olhos, se não te disse que já não quero? Mas eu tenho-te tanto amor. Vá, não me faças rir. O tempo passou, porque me vens agora atenazar? Mortificas-me com a tua cantiga. Ó Carmo, tu andas metida com outro, não andas? Meneias-te toda pela cidade que eu já vi, e é só sorrisos com aquele cão, bem sabes que não vale nada, e que eu é que sou bom para ti. Bem, agora vou-me, que isto já é suficiente. Carmo, eu digo-te, vamos os dois para fora, eu aceito-te assim, mesmo tendo-me deixado, que foste diabólica, e todos se riram à minha custa. E se tivesses sido tu a deixar-me? Não saías tu, todas as noites, Zé? Oh Carmo, bem sabes que tenho afazeres. Sim, e de bem. Carmo, Carmo, Carmo, sê boazinha, se me conheces o talento. Ó Zé, a tua mãe já te perdoou?
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Mau, Carmo, a minha mãe não tem aqui lugar. Voltemos a falar sobre
mim.
Eu
faço-te
falta
e
quando
perceberes
vai
ser
extraordinariamente tarde, meu jardim e meu pomar. José, tenho-te respeito, deixa-me ir. Ainda temos tempo, olha, deixa-me ver-te outra vez os olhos, sentirte os braços rijos, olha, olha! Saímos os dois, por que raio têm o homem e a mulher de ser opostos? Sempre em batalha? José, fomos inconscientes, nada foi senão guerra desde o início, a ver quem mais podia. Carmo, temos tempo, eu dou-te tempo, vai e pensa, começamos de novo, noutra cidade, eu salvo-te da tua condição, faço-te minha mulher, como deve ser. José, já te dei a minha palavra. Rogo-te que me deixes ir, que me atrasas. O sol das três explodia-lhes sobre as cabeças, o peso do corpo derretia-se, distendendo a matéria, e o brilho perfurante que zunia em torno da cidade desfazia a clareza dos sentidos. Carmo, eu… Não! Carmo… Não! Carm… Não! Estalava o sol como dardos. As mãos de José atiraram-se aos braços de Carmo, as suas faces nacaradas ornadas de vermelho, os olhos intempestivos: Ai, mulher que te mato já aqui, a minha desgraça é a tua. Já te safaste de uma, José, anda, que foi esta a calçada que a minha subiu antes de me dar vida.
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A tua mãe, Carmo, é como tu, e o teu pai, um triste como eu, ou pensas que aquele que te criou, descorado e albino, foi o mesmo pai que te fez? Fez-se silêncio. Ou talvez a rua emudecesse, que o silêncio emprenha. As mãos de José tragando a carne rija de Carmo, seara de trigo madura espraiando-se ao sol. Mais ele apertava, mais ela se enraivecia. Tu larga-me já que eu não te devo nada. Nem eu, nem a mãe das mães. E eu não te obedeço. Mas negas? Ou és também a santa oca? Não te engasguei com a maçã, tu comeste-a por a teres considerado doce. És culpada, e ela também o foi. E tu és o desgraçado, ó homem? Sou. Sempre foste? Sim. Por que vens roçar a bainha da minha saia como um cão? Desertara o raciocínio, exaltava-se o significado daquela palavra aguda. Sempre em oferta, Carmo, sempre em oferta, Carmo. Larga-me de uma vez, e vai à tua vida! Soltando o braço e caminhando sem comiseração, Carmo sacudia com repugnância as ondas da saia. A José escorria-lhe o sangue do nariz, quando do bolso desnudou a mão a navalha fervente, o peito circunscrito pelas ossadas escarpadas, o orgulho finando-se a cada pingo de sangue no chão, escarninho e volátil, desenhando um rasto sanguinolento na direção de Carmo. Salva-te, mulher. Diz sim. Olha que a morte já te sorri. Aproveita e salva a tua mãe, que te pariu e se condenou.
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E, sem que o desvario a toldasse, Carmo recebeu no peito a impetuosidade da lâmina a fazer-se desejada. Diz, mulher. Salva-te. A navalha pendia, na mão de José, tesa e nua, junto à boca do estômago, vaidosa e ávida, e Carmo, lucidamente, dessa mão fez as suas e de um sopro, como uma labareda, enterrou-a na carne mansa, imprudente, de José, e a lâmina lambeu-lhe a vida. E estava realmente salva.
CLÁUDIA CAPELA FERREIRA é trasmontana, mas vive em Colónia. Trabalhou como professora e doutorou-se em Estudos Literários com uma tese sobre a poética torguiana. Mantém um blogue cuja narradora escreve textos de caráter diarístico e autoficcional."Matryoshka" foi a sua primeira narrativa publicada (in O Desassossego da Liberdade). | CLAUDIACAPELAFERREIRA@GMAIL.COM
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Ilustração de Bianca Lana
POEMA DA GRANDE DÚVIDA EDSON AMARO | São Gonçalo, RJ.
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São João Evangelista pontifica (Mesmo não sendo pontífice): – Se não amas teu irmão, a quem vês, Como podes amar a Deus, a quem não vês? E eu, cidadão brasileiro, duvido: – Se não creio nos governantes, a quem vejo, Como posso crer em Deus, a quem não vejo? (2 de abril de 2016)
EDSON AMARO publicou pela editora Buriti sua tradução do romance “Valperga”, de Mary Shelley e sua tradução da peça “O Rei Saul”, de Vittorio Alfieri está disponível em versão digital no site Amazon.com | PLANTEARVORES@GMAIL.COM
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Ilustração de Bianca Lana
VÉU NO CÉU ESTEVAN KETZER| Porto Alegre, RS.
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e junto aos deuses lou (-) cos seus rrr-ooo-nnncos bruscos de um tempo que virou réu lá no meio do céu uma gota toca a
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tela tão velha é a mazela pintada na aquarela onde tu choras sem mim a tristeza que insiste o fim.
ESTEVAN KETZER é psicólogo clínico. Doutorando em Letras pela PUCRS. Trabalha a interseção entre literatura, filosofia e psicanálise.
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Tela de Ananda Kuhn
BIFES EVANDRO DO CARMO CAMARGO| Ilhabela, SP.
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(História contada com alguma frequência por meu mais que saudoso pai.)
Dois jovens amigos do interior tinham ido à capital tentar melhor sorte havia uns quatro meses. Estavam numa pindaíba desgraçada, e o dinheiro que restava não dava sequer pros dois almoçarem naquela tarde quente e ensolarada de outubro (meu pai não mencionava essas minúcias...). Por uma feliz coincidência romanesca, passaram nosso heróis em frente a um restaurante bastante apresentável, em cuja frente se destacava uma placa informando um almoço para duas pessoas por x cruzeiros. Bingo. Era justo o que tinham. Tinham fome. Comeriam seus últimos tostões felizes e o futuro a Deus pertence. Entraram. Sentaram-se. Uma toalha de chita, bonita e simples. Um suportezinho de plástico barato com óleo Maria, sal, vinagre e molho de pimenta. Rústico. Aparece o garçom. “Queremos esse prato pra dois da placa aí fora.” “Perfeitamente, cavalheiros” (óbvio que o garçom não disse isso, mas sempre quis usar “perfeitamente” com esse sentido em algum canto. Cá está). Expectantes encontravam-se os dois. Salivavam, enquanto observavam os comensais devorando avidamente uma comida de aspecto bastante agradável. Espera que espera. Saliva que saliva. Ao fundo, a preocupação com o depois. E depois? Ufhh... Deixa, deixa. O futuro a Deus pertence, talvez... sabe-se lá. Porém, eis que, de repente, não mais que de repente (também tinha ganas de repetir esse trechinho de Drummond, foi mals), surge o garçom com uma bandeja grande e distribui pela mesa uma cumbuca esfumaçante com um feijão de caldo grosso, onde se podia ver pedaços de bacon navegando soberanos. Uma tigela rasa de alumínio trazia uma porção generosa de um arroz branco e igualmente fumarento. Em semelhante
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utensílio vinha uma salada não tão farta de tomate, pepino e cebola, cortados em grossas fatias. Em um pequeno prato, cheios de si, estalados, dois grandes ovos de gema dura. Completando o quadro, dois bifes de mui bonito parecer, suculentos, um com o dobro do tamanho do outro. Agitação à mesa, tilintar de talheres e pratos e eis (exagerei nos “eis”, admito...) que um dos amigos, antes de pegar qualquer outro acepipe, garfa o bife maior e o coloca em seu prato. “Eeeeiiiii!!!”, contesta o outro amigo, indignado. “Que falta de educação”, completa. O amigo do bifão pergunta, tranquilo: “Se fosse você o primeiro a pegar, que bife pegaria?” “O menor”, responde o outro, convicto. “Pois aí o tem.” E passou calmamente a colocar feijão, arroz e um dos ovos, de igual tamanho, agora me recordo, no prato.
Eu e meu pai, 08 de abril de 2016.
EVANDRO DO CARMO CAMARGO | CAMARGO_E_C@HOTMAIL.COM
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Ilustração de Bianca Lana
SERÁ QUE SERÁ? PATRÍCIA C. BOLOGNA SOTO VIEIRA | Pelotas, RS.
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Num dia 13 de um dia 12 Sabendo que nada sabia Dizendo que tudo o que ouvia Falando do pobre que sofria Num dia 13 de um dia 12 Do mês 5 daquele ano Que o importuno azar Daqueles que batiam Doía, doía Saber do que eles não sabiam Sofrer do sim que discursavam Mais que aclaravam Mais que se obrigavam Do não que não surgia Daqueles que não se abalavam Quanta força que tinham Não foi suficiente Ela já sabia Nasceu dia 14 E um dia antes morria Que pena desta gente Não daqueles que riam Ou daqueles que sofriam Mas daqueles que escolheram Apenas este dia Que coisa mais absurda Tanta e tanta gente sabia E nada, nada diziam Que loucura deste dia Sonhar com apologia De um dia que morria
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Ou será que se sabia? Não, não, não Eram todos Todos ligados naquele dia Eu podia ficar aqui Horas e horas e dias Mas não tenho tanta paciência Pra esta podre hipocrisia Ahh sim Podem suspirar Acabou a poesia.
PATRÍCIA C. BOLOGNA SOTO VIEIRA é estudante do curso de Letras, Português/ Espanhol da Universidade Federal de Pelotas. | PATIBOLO@HOTMAIL.COM
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Tela de Ananda Kuhn
BANHO DEMORADO SABRINA DALBELO | Bento Gonรงalves, RS.
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Vou até ali no fim do mundo e já volto não me espere para o jantar Vou despir meu corpo do couro da carne dos ossos passar creolina e talvez voltar É que há um pouco de sujeira uma baboseira que entra pela tv e me encarde aqui em casa não posso evitar
SABRINA DALBELO é escritora de tudo um pouco. Mantém as páginas do facebook “Se Tem Nome Existe” e “Pensamento Sem Moldura”, onde posta comumente online, sem revisão, logo que vem aquela coisa, tipo inspiração. | SABRINADALBELO@HOTMAIL.COM
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Tela de Ananda Kuhn
O BICHO DO MUNDO YURI PIRES |São Paulo, SP.
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Hoje era dia. Sabia porque ela levantava-se apenas depois de eu me esfregar nela, e não antes, como era de costume. Depois, que se deixava em pijamas pela longitude inteira do dia, bebendo líquidos, comendo sólidos e pastosos, demorando para limpar minha caixa de sujidades e completar meus pequenos alimentares. Me fazia saber, ainda, a leveza de seu corpo. Não pesava como nos outros dias, pisando fundo no chão, fazendo, da lisa pedra, percussão. Não deixava de ser uma cerimônia toda própria, pois mesmo naqueles dias, naqueles poucos dias em que levificava-se, seguia à risca seus afazeres, apenasmente com menos pressa. Para mim, que conhecia suas passadas, para além de pressas ou lentidões, pouco distava coisa de outra. Após o quê, uma vida inteira após, pegava um pedaço de branco envolvido em coloridos, no alto do meu lugar preferido de escalar, largava-se em meu maior lugar preferido, preto e liso, que ao peso dela reclinava-se, compenetrava-se uma eternidade, calada. Mas antes, mexia na fronteira do nosso mundo, na parte cinza, que todo o resto era imóvel, sólido e branco. Abria nossos olhos para o outro mundo. Eu já o tinha visto aberto por completo, mas depois de um dia em que tomei de coragens e entrei no lá, num pulo, apenas uma frestinha, tão mínima que não dava para passar a minha cabeça, abria-se. O mundo outro era tão mais iluminado que o nosso, que apenas essa frestinha era suficiente para iluminar toda essa região em que estávamos, muito mais que a chama dependurada em nosso branco céu. O dia, apesar de raro, repetia-se. Dentro do lá, a mesma passante recolhia luminosidades e opacidades pelo chão, o mesmo vermelho empurrava uma caixa branca que produzia sons irritantemente diversos, a mesma pata de panos esfregava a parte cinza que se mexia, fronteira de outro mundo, que eu só conhecia por aquelas patas de pano e por aquele focinho grande. Aquele universo, entre o nosso mundo e o das
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patas de pano, cheirava à luz e à verde, e esse odor lufava. Não como lufava o cheiro de guardado daquele soprador branco que dizia não, mas diferentemente. Mas o de mais que acontecia nessa minha incursão visual, se dava pouco antes dela apagar aquela luz, mexendo novamente no cinza da fronteira. Um gato, preto e branco, lentamente descia de cima de uma enormidade verde para o chão. Dali, ele me via e eu o via, e nos víamos curiosos, por minúsculos segundos que ela interrompia emitindo carinhos entre os sons e afagos de suas patas grandes. Mexia em tudo, nos fechava, acendia a chama que pendia do nosso céu. Eu ficava ansiando pela próxima vez em que mundos se encontrassem. O que demorava muito, muitíssimo. E sempre que eu olhava pelo cinza imóvel daquela fronteira, me via, prisioneira. Sabia que ela também ansiava por aquele momento, mas não entendia seu desprezo para com os movimentos todos do mundo de lá. Me perguntava como podia preferir aquilo que segurava nas patas, aquilo no que mergulhava os olhos voluntariamente e que me parecia parado, inerte e inútil. Mas cada um sabe-se. A última vez que os mundos se tocaram, através de meus olhos, os movimentos
estavam
aleijados.
De
nunca
faltar,
a
passante
recolhedora de luminosidades e opacidades, não passou. Disparei em ansiedades. Me perguntei se o gato dos altos verdes não viria também, se não me olhariam com curiosidades, aqueles olhos felinamente amarelos. Foi a vez primeira em que o contato dos mundos demorou-se tamanhamente. Todo o demais seguia como fosse natural a ausência da passante. Passou o vermelho empurrador de caixa branca fazedora de estridências, passaram as patas de pano pelos cinzas fronteiriços do mundo para além do mundo de lá, passaram, no céu azul e branco de lá, seres alados de muitas penas.
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Eu sabia: quando o de sempre passar não passava, era que não passaria mais. Acontecera isso com o terceiro morador de nosso mundo. Ele também era carinhoso e quente, também limpava minha caixa de sujidades, também emitia afagos pelos sons que fazia dentro de sua boca enorme. Era meu criador, tenho certeza, porque tinha o corpo,
inclusive
o
rosto,
coberto
de
pelos,
como
o
meu
e
diferentemente do dela. Um dia se foi sem adeus. Deixou de entrar para o cá, para sempre. Por um tempo, ela entristeceu-se em ferocidade. Odiava-se. Por mais que me esfregasse nela, acarinhando-a, nada expulsava aquele medo que ela exalava pelos líquidos em que se desfazia. Foi nessa época que eu comecei a vê-lo, atarracado, andando como ela, mas com as patas dianteiras tão grandes que arrastavam-se pelo chão, todo coberto em pelos também, projetado a partir dela nas fronteiras de todas as regiões, um espectro que, apesar de sombra, mantinha dois grandes olhos abertos sobre nós. O ser de estranhar o mundo. Ficou conosco por alguns meses e interrompeu nossa conexão com o lá. Sempre que ela acordava, ele corria em todos os cantos cinzas da casa, quebrando suas capacidades de meximento. Ela aceitava, passando dias todos em pijamas, no escuro do seu abraço. Queria matá-lo, esmagá-lo como fazia com as pequenezas vis que rastejavam pelo nosso chão nos tempos mais quentes, mas ele crescia a cada dia, ficava em tamanhos gigantes, quase tomava conta de tudo, projetando-se sobre fronteiras e lugares de escalar e de deitar. Até um dia em que começou a minguar, e minguou e minguou, até ficar quase do meu tamanho. Um dia passou. O ser e o medo que ela sentia. Naquele momento, o que eu temia era que o gato não viesse. Apesar dele não morar dentro de nossas fronteiras, sentia-me ligada a ele pela via mais profunda, a dos olhos. Do mesmo modo que já me sentia profundamente infeliz pela ausência da passante que recolhia iluminuras e apagamentos. Estavam todos mortos, como estavam o
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meu criador e o ser de estranhar o mundo. O perigo era o mundo de lá, todo ele, atrativo, colorido de cores irrealizáveis, cheiroso à luz e a verdes, mas fatal. Lá morreram o criador, para lá se foi o ser de estranhar o mundo, lá morreu a passante recolhedora e lá havia de ter morrido o gato dos olhos de sal. Só em nosso mundo é que nada morria, e mesmo ela que saía a se aventurar pelo lado de lá, voltava quando em horas das chamas acesas penderem de nosso céu. Todos os dias. Tudo era imóvel e inerte. Só ali me dei conta do perigo que corri ao tentar conhecer pelo tato o mundo de lá, no dia em que pulei a nossa fronteira. Por isso é que ela não me permitia a saída e abria apenas fresta para mim. Sabia que sedução era tamanha e minha mente muito fraca e infantil. Deixavame ver o que apetecia, mas não tudo, que há coisas de se ver com as patas e com o focinho, e ainda outras de se ver com o dentro em nós. Protegia-me, e eu lhe era imensamente grata. A inveja que eu tinha da liberdade toda de lá, certamente era a inveja que, de lá, tinham da minha segurança de não morrer. Quando o gato também não veio, e tudo desconectou-se, ameia mais, apesar da desolação em mim. A morte tem disto, está em todas as coisas vivas, sem deixá-las plenamente livres ante sua iminência. Foi quando percebi, a um canto da região mais úmida do nosso mundo, as enormes orelhas crescendo quase até o nosso céu, o rabo curto e grosso, os dentes ferozes, as atrozes patas projetadas em sombras de. Naquele dia, também eu ganhei o meu ser de estranhar o mundo.
YURI PIRES nasceu em 1986, na cidade do Recife (PE), onde cursou História, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e viveu até 2011, mudando-se para São Paulo (SP), onde publicou seu primeiro romance, O Homem e o Seu Tempo (Chiado Editora, 2014), seu primeiro livro de contos, Fábrica de heróis (apenas em e-book, 2015), e seu primeiro livro de poemas, Artifício (Editora Intermeios, 2015). | PSILONEPIRES@GMAIL.COM
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ANANDA KUHN Ananda Kuhn é uma artista plástica gaúcha que atualmente vive no Rio de Janeiro, tendo vivido um período de sua formação em Lisboa. Com uma trajetória ímpar que abrange exposições nacionais e internacionais, Ananda constrói uma obra que parece ser a extensão de sua própria memória visual. Em um bate papo recente, a artista explica como vê o mundo em forma de desenhos, sobre a capacidade que eles têm de introduzir e fixar em sua história pessoal os lugares onde esteve e, sobretudo, a percepção sensível que teve de cada experiência. Elementos que remetem à construção civil humana surgem na obra em consonância com a construção das fantasias, convivendo através de uma harmonia simultaneamente inquietante e tranquilizadora. Estes elementos, que geralmente levam para uma dimensão superior (escadas, andaimes, material suspenso), fazem das telas de Ananda um degrau e um mergulho para dentro de mundos inacessíveis e, por isso mesmo, repletos das mais infinitas possibilidades. SITE | FACEBOOK | ANANDAZK@GMAIL.COM
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Edição e Revisão MORGANA RECH & TÂNIA ARDITO CONTATO Recepção de originais: CONTATO.SUBVERSA@GMAIL.COM
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