Revista subversa vol 5 n2ago2016

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SUBVERSA Vol. 5 | n.º 02|agosto de 2016

ISSN 2359-5817

Ilustração | ANDRÉA MARTAU

DANIEL TOMAZ WASHOWICZ LIGIA S. IKEDA ANAEL SANTALUCIA FERNANDO CANHOS RAFAEL SIMEÃO EBER S. CHAVES MANDU HOLANDA NITIREN QUEIROZ ANA GABRIELA REBELO SÉRGIO SANTOS


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Subversa | literatura luso-brasileira | V. 5 | n.º 02

© originalmente publicado em 15 de agosto de 2016 sob o título de Subversa ©

Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito

Ilustrações Andréa Martau | andreamartau@gmail.com

Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados como autores desta obra. Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem com a realidade.


SUBVERSA VOLUME 5 | NÚMERO 2 ANA GABRIELA REBELO|XIXI SENTADO_CONTOS DE VERÃO| 06 ANAEL SANTALUCIA | BICHOS DE LUZ | 10 DANIEL TOMAZ WASHOWICZ| COSMOGONIA | 14 EBER S. CHAVES | HOMEM-MACACO | 16 FERNANDO CANHOS | NOME | 18 LIGIA S. IKEDA | IMPASSE | 20 MANDU HOLANDA | QUERER | 26 NITIREN QUEIROZ | VERBO VÍRUS | 28 RAFAEL SIMEÃO | O MELHOR SEXO DAS NOSSAS VIDAS | 30 SÉRGIO SANTOS | GLÓRIA | 35

SOBRE ANDRÉA MARTAU| 38

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EDITORIAL

“Não é a beleza, mas sim a humanidade o objetivo da literatura” Salamah Mussa

A discussão sobre a função da arte está sempre presente na sociedade, ainda que de maneira não aparente aos olhos de todos. Eventualmente, diante de espetáculos mundiais, como na abertura dos Jogos Olímpicos, a questão se torna objetivamente visível. A partir de um uso mais específico, é impossível negar que precisamos e dependemos das manifestações artísticas mais do que imaginamos. De maneira geral, podemos dizer que a função artística vai além de tornar a vida mais bela e dar alguns minutos de distração diante das mazelas humanas. É função da arte também a de criticar, de fazer o sujeito e as sociedades pensarem o contexto no qual estão inseridos. Ter os olhos abertos para arte é também ter os olhos abertos para si mesmo, para a própria cultura que se constrói, afirma e homenageia. É sempre mais fácil enxergar o mal-estar alheio; ele nos previne de ver o mal-estar mais íntimo individual e cultural. Todos, eventualmente, passam por situações difíceis e a arte pode servir como a luz na escuridão. São momentos em que paira no ar a célebre pergunta de Sá de Miranda: “Que farei quando tudo arde?” Algumas chances de resposta, talvez, possam ser encontradas algures nas páginas que seguem, com a ilustração de Andréa Martau. Desejamos uma boa leitura a todos. As editoras

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XIXI SENTADO_CONTOS DE VERÃO ANA GABRIELA REBELO | Rio de Janeiro, RJ.

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Escrevo. Escrevo, durmo, espero. Procuro um jeito de me levantar sem acordar do sonho. O dia começa em algum lugar do meu relógio. Eu não quero saber. Não sei que horas são. Eu só escrevo. Tarde da noite para o senhor que assiste novelas. A última novela é às 21h. A mulher pobre e bonita se apaixona por um homem rico e bondoso que se casa com uma mulher rica e malvada. No intervalo o senhor se levanta para fazer xixi. Sentado na privada ele reflete sobre um antigo amor. As contas de gás e água, a obra por terminar no corredor, o desejo, velozmente reprimido, de beijar um outro homem na fila do ponto de ônibus. Homem não faz xixi sentado. Homem não dá o rabo. Mas homem também não vê novela,.... _"então foda-se! Faço xixi sentado e vejo a merda que eu quiser!" Às dez da noite, o senhor vizinho do prédio ao lado dorme. Na frente da TV, esticado e mole, como um boneco de pano frouxo numa tarde de calor e sofá bagunçando a sala. O que uma sala tem? O que compõe uma sala? No verão a sala é composta de calor. Sofás cobertos de um fino lençol amenizam o desconforto causado pela sensação de suor em demasia no corpo quente. Brinquedos se acumulam docemente pelos cantos. Na casa moram crianças. Um coelho azul, uma chaleirinha de borracha, umas pedras verdes turquesa. O som do ventilador é contínuo e forma uma teia estática sobre o tempo. O trânsito entre a sala e a geladeira

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marca um percurso contínuo pelo mesmo ladrilho quebrado. A geladeira está cheia. Toc, toc, toc, toc-tlac! Toc, toc, toc, geladeira. A porta da geladeira abre. Frescor na cara. Na cara mesmo, porque rosto é coisa de moça. Cara é de cavalo, de homem, de palhaço, de pau. Não sabia bem o que cairia melhor naquele momento. Talvez nenhum desses. Talvez tivesse cara de saco, talvez estivesse de saco cheio pelo calor daquele verão dos infernos! Nunca se acostumara com aquilo. Nunca se sentia tão desalmado como no verão. Não desalmado de desumano, mas desalmado de sem alma mesmo, como se tivessem lhe amputado o espírito como a um órgão. A geladeira. O que vim pegar na geladeira? Não lembro.... Deixa chegar mais perto e fechar os olhos e sentir a pele querendo resfriar. Que delícia. Acho que aqui deve ser o melhor lugar do mundo. Acho que as pessoas deveriam viver assim. Deveríamos instituir um estado de pessoas que seriam infinitamente mais interessantes e frescas. Pessoas que se declarassem odiosamente contra o calor doentio e marcassem encontros na sessão de iogurtes do mercado. Para os carnívoros poderiam haver belas histórias de amor nos frigoríficos de açougue. Pão, couve, bananas, chocolates, salsichas, biscoitos... Um copo de água e um pacote de biscoitos frio. Tudo é melhor frio. Voltou à sala. Iria ajeitar o fino lençol sobre o sofá amassado, deitar o corpo torto novamente, apoiar o pacote de biscoitos na barriga e comer aqueles farelos até começar a ressonar.

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Não acredito que pudesse não sonhar. Não acredito também que um dia o calor vai passar. Sei racionalmente que o verão são quatro meses, sei também que da sala a geladeira são sete passos e um ladrilho quebrado. Não acredito que dias de sonhos ressonados e novelas requentadas sejam algo para cedo mudar.

ANA GABRIELA REBELO é pesquisadora em Produção de Subjetividade na UFF. Como artista, trabalha com escrita, performance, imagens e instalações. Colaboradora da Revista Obvious e autora do blog Gatos, caramelos e remédios para dormir. | ANAGABRIELAREBELO@GMAIL.COM

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BICHOS DE LUZ ANAEL SANTALUCIA | São José do Rio Preto, SP.

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Fuma um cigarro de cravo na sacada e observa os bichos na lâmpada do poste. Rotação caótica. Ultimamente, tem feito coisas alheias aos trinta e seis anos de mesmices. Cortou o cabelo bem curto, pagou cento e cinquenta numa tatuagem de asas na nuca. Segue comprando caixas e caixas de cigarros de cravo. Aos sábados, faz todos os jogos da loteria. Parcelou dois tênis de corrida e odeia a simples ideia de movimentar-se à toa. Permanece on-line durante a noite, dorme à tarde (quando dá), toma banho frio. Come demais, fala pouco e evita a bondade alheia. Assiste a filmes psicológicos e não tira nada deles que lhe sirva. Quando olha pela janela, os bichos estão lá, firmes, na dança circular, cortejando a luz do poste. Cumpre seus afazeres com ineficiência. Negligente com os horários, mais ainda com as contas. Descobriu que dever é bom, assim é possível fazer coisas boas e únicas, como uma viagem de sete dias à Paris e Madri ou comprar um Ifone última geração. O cigarro de cravo é doce. Lembra-se de que fumava cigarros de canela no campus universitário. Era mais gente. Fumava muitos cigarros de canela com amigos de carne e osso. A pia da cozinha está entupida. O ralo do banheiro também (há uns cinco meses). Há dois, não paga o condomínio. Na TV, um japonês vence o concurso de xadrez num programa da madrugada. São mesmo inteligentes os japas! Em Brasília, lambança atrás de lambança. Agora é escancarado. E o povo segue rindo das piadas, indignando-se pouco, esperando as emendas dos feriados. Todos conectados. Cinco mil e quinhentas pessoas morrem num desastre no Nepal. Terremoto devastador... O estado islâmico avança, metralhando a Europa... uma barragem se abre e soterra uma cidade. A água contaminada avança pelo mar… reticências, reticências. Até quando

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reticências, meu Deus? Sente fome. Vai preparar macarrão instantâneo com salsichas picadas em rodelas. Amanhã sairá pra trampar. Dizem os cientistas que os bichos se orientam pela luminosidade, mas a lâmpada artificial os confunde. Essa desorientação os leva à morte, quando chocam com a fonte cegadora e quente. Leva a rotina no piloto automático: trabalhar, tomar banho, comer, internet, televisão, dormir. Dá graças por não ter que limpar bundas, lavar roupas sujas de outros corpos, obturar dentes podres ou carregar pedras numa mina, por mais dignas que possam ser essas coisas. Seu trabalho é satisfatório. Seu trabalho até que é bom. É isso... melhor que muitos... ser homem-bomba, por exemplo... O que importa é a grana no fim do mês. Prefere seguir enganando, enganando-se. E os cupins alados voam em movimentos rotatórios porque as ondas emitidas pela luz se assemelham às das fêmeas. Olhe só! Por isso eles rodam, rodam, rodam... até colidir. Nascer, crescer, reproduzir, morrer. Sempre será isso. Sempre. Na televisão e internet, fartura de horrores. Alienação. Miséria. Exploração da miséria. Corrupção. Desastres. Violência. Incentivo à violência. Fofocas. Novelas. Sexo tosco. Música tosca. Todo

tipo

de

bestialidade.

E

todos

assistem.

uma

necessidade...

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A TV, o notebook e o Ifone estão ligados. Conecta-se à rede dos três. Interessante: no mundo real não acontece. A nada e a ninguém. A luz satura suas conexões. Curto circuito sináptico. Transe. Permanece na superfície das coisas e de si. Não pensa em nada que não seja emitida pelos retângulos. Quando as luzes cessam, é sinistro. Insustentável. Uma ausência diabolicamente sentida. Sente-se bicho ou coisa. Corpo estranho. Corpo morto. Desespera-se. Quer abrir asas, atravessar a janela e girar na luz. E são tantos! Quase não há mais espaço...

ANAEL SANTALUCIA é professora e tem 38 anos. Residente em São José do Rio Preto, SP. Escreve contos e poesias. | ANAELSANTALUCIA@GMAIL.COM

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COSMOGONIA DANIEL TOMAZ WACHOWICZ| São Paulo, SP.

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Selo rompido, sangue brota, touro, Vespa, cavalo, cobra, sapo, verme E escorpiões emergem da epiderme Num cataclismo abrupto... Grande estouro... Desta ferida brotam mundos velhos, Mundos insanos, reluzentes mundos Toscos e turvos, foscos, tão profundos Mares escuros, negro sol, espelhos Esmigalhados, embaçados, homem Coisa sem forma, transformado em lava Árvore mundo brota em homem mente... Homem de seres anormais que somem E reaparecem transformados. Cava, Escava e cava até surgir ardente...

DANIEL WASHOWICZ (Taboão da Serra, SP) é formado em Letras e é professor de português e inglês, tendo feito diversos cursos de produção literária. Em 2014 fez o lançamento de seu primeiro livro de poesias “Convite ao abismo”, pela Multifoco. | D.CROWLEY@HOTMAIL.COM

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HOMEM-MACACO EBER S. CHAVES | Vitória da Conquista, BA.

O homem-macaco em pé em Fort Ternan Um fêmur, três dentes, braço, cabeça oca... O típico ancestral brioso de fama científica. E a marcha bípede bagunçada desfilando pelas savanas O primeiro ato social e não se sabe de suas reivindicações Esquerda Centro Direita...

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E há incêndio na floresta hoje Faíscas pulando no musgo seco das árvores – o churrasco tá garantido! Naquele outro grupo tem um que aprendeu a fazer fogo – curso técnico incendiário, carga horária de 800 h, matrículas abertas. Grande agitação tectônica – e a crosta terrestre dança Hoje vai ter festa na caverna de Taung, mas não vai ter suruba Todo bando tem um líder e ele sempre estraga a festa. E as coisas estranhas vão tomando formas mais estranhas ainda O bicho homem com essa mania de fabricar utensílios regularmente Três milhões de anos se estressando com disciplina e trabalho. Diga-me se tu sabes o que ninguém sabe responder: Quem foi o primeiro homem-macaco alienado da história? Quem dessa pilha de ossos foi o primeiro a procurar um analista?

EBER S. CHAVES (Itaquara, 1979), atualmente, reside em Vitória da Conquista/BA. Graduado em Administração, é blogueiro, apreciador de psicanálise, filosofia, história, poesia, literatura fantástica, filmes de ficção e fantasia, rock’n’roll, cervejas especiais e feijoada. | EBER.CHAVES79@GMAIL.COM | Blog: http://eber-chaves.blogspot.com.br/

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NOME FERNANDO CANHOS | Jaú, SP.

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Certo dia acordei e me vi sem memória. Me vi sem memória porque olhei para o espelho e não reconheci a face que estava ali. Contudo eu me lembrava de todos os acontecimentos que precederam esse momento. Só não me lembrava do rosto que sempre disseram ser meu. Pergunto-me se não apenas me esqueci do fato de nunca olhar para o espelho. O que também explicaria a condição de me ver sem memória. Depois disso percebi que as pessoas me olhavam na rua. Algumas com cara feia, outras com boa cara. Algumas só olhavam. Penso que talvez meu rosto tenha algo de estranho. Talvez esse algo seja o motivo de eu não me lembrar. Talvez seja o motivo de não olhar no espelho. Mas penso também que como sei que as pessoas me olham, devo olhar para elas também, e talvez seja por isso que me olham. Passo por um número infinito de pessoas todos os dias (alguns dizem quatorze) e sempre penso em conhecê-las. Mas do jeito que algumas me olham, penso que não querem o mesmo. Essas infinitas pessoas, entretanto, podem ser fruto da minha cabeça. Sendo apenas uma forma de expressar a minha falta de lembrança ou o fato de não me olhar no espelho. Mas pode ser, também, apenas um fruto da minha cabeça, a ideia de que elas o são. Levando tudo isso em conta, chego a conclusão de que o meu rosto não me importa tanto. Por isso eu prefiro falar português a falar inglês. Em português eu posso dizer que "estou fernando", como um tipo de gerúndio. Em inglês, se eu tentar dizer isso as pessoas vão entender que "eu sou fernando", e não é essa a ideia que eu quero passar; para aquelas que querem me conhecer.

FERNANDO CANHOS atualmente mora em São Paulo e cursa Artes Visuais na UNESP (terceira graduação a qual eu dou início). Gosta de escrever crônicas, contos, poesias e relatos curtos, que costuma publicar em um blog que possui com dois amigos: tudodefinido.blogspot.com.br | FPMCANHOS@GMAIL.COM

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IMPASSE LIGIA S. IKEDA | São Paulo, SP.

Ali está o homem novamente. Sentado em meio ao caos matinal, com as mãos segurando o rosto. Apresenta uma expressão de sofrimento. Algumas pessoas observam o homem, no curto espaço de tempo entre a abertura da porta do metrô, a massa compacta que sai, a massa compacta que entra. Ouve-se a buzina, e as portas fecham num

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estrondo. Outras pessoas observam o homem; ninguém lhe pergunta como está. É japonês. Raramente vi um japonês sofrer. Sempre estoicos, sempre kamikazes, sempre de acordo com o resto do ambiente. Se estava ali sentado, sofrendo num lugar tão inapropriado, é que devia sentir uma dor aguda. Pela expressão não era possível saber se se tratava de uma dor da alma, ou de uma dor do corpo. Talvez fosse apenas uma dor nos ouvidos, daquela que desce pela garganta, ou na direção inversa, que começa atrás da língua, e sobe até os ouvidos. Uma inflamação. Uma bactéria. Ou talvez sentisse uma dor tão profunda (uma separação? Uma decepção? Uma traição?), que ela lhe dobrava em dois, encurvando-lhe as costas, fraquejando os joelhos. Tentava reencontrar um equilíbrio, um esboço de estabilidade. Para solucionar o primeiro problema

bastaria

um

“anti”

alguma

coisa...

Anti-inflamatório,

antibiótico, um anti-dor. Mas se o problema tivesse origem num sentimento, o caminho tendia a ser tortuoso. Seria preciso mais do que uma solução para alcançar a superfície. Isso foi na primeira vez em que o vi. Observei-o uns instantes, mudando a duração do trajeto cotidiano. Esperei que alguém fosse vê-lo, falar com ele, consolá-lo, chamar o bombeiro. Ou que uma pessoa, dessas que cruzavam o seu caminho, apressadas, de repente se postasse diante dele. Sentindo outro corpo onipresente, o japonês sairia do próprio torpor, abaixaria as mãos, levantaria a cabeça, e frente aos traços conhecidos, sua boca se abriria num sorriso. Foi o que eu esperei que acontecesse, no fundo por uma razão extremamente egoísta: que eu pudesse seguir caminho tranquilo. Mas ninguém veio lhe tirar a angústia das mãos. Ele permaneceu ali, escondendo o rosto, franzindo a testa numa expressão de dor, o corpo contraído, imóvel, destoando da massa informe que se infiltrava metrô adentro. Depois de alguns instantes a participar da sua imobilidade, e de sua dor, eu resolvi

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mergulhar no momento seguinte, deixando o homem para trás, sem lhe prestar qualquer tipo de ajuda. Nos dias que se seguiram sua imagem me voltou à cabeça, cada vez que passei pelo mesmo corredor, acompanhando o fluxo, apressado. Eu assim, uma molécula, uma partícula, o menor pedaço de um grande bicho, que se movimentava sem hesitação. Ele, desintegrando-se, deixado de lado, desaparecido. E se tivesse conversado com ele, esparramando uma partícula na outra? O homem teria algum dia pertencido ao fluxo de passageiros, ou era a primeira vez que se encontrava naquele corredor de metrô? Porque sofria? Durante uma semana, tentei reconhecer sua feição nos inúmeros rostos que cruzaram o meu caminho, em vão. Quando o vi pela segunda vez, pensei num déjà vu. Fechei os olhos. Tentei imaginar outro lugar; uma floresta densa, um céu estrelado. O cheiro do metrô me trouxe de volta ao momento presente. Ele estava realmente ali, sentado no mesmo lugar, na mesma posição, as mãos segurando a expressão de dor. Exatamente a mesma dor. Como podia uma dor se repetir duas vezes, com a mesma intensidade? Tratava-se certamente de uma dor física. Ou, ápice da desgraça, teria perdido duas pessoas queridas num curto espaço de tempo. Ou o homem terminara uma relação, se arrependera, e terminara a mesma relação de maneira definitiva, tudo em uma semana. Ou simplesmente fingia... Esperava ansiosamente que alguém, uma única alma, se desgrudasse do hábito da pressa, do cotidiano, e viesse lhe perguntar: “está bem?”. Talvez tenha sido a dúvida, ou o espanto em rever a mesma cena, tão peculiar, que me acompanhara e me entristecera. Não me decidi a falar com ele. Durante uma semana eu repetira a mim mesmo uma questão que permanecia sem resposta: porque não o tinha abordado? Porque deixei aquele homem sentado, sofrendo sozinho?”. E agora, face à mesma cena, numa expressão de estupor, eu me preparava

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para continuar o caminho com passos apressados. Foi o que fiz. Ao passar pelo homem, que não pareceu se dar conta do meu olhar insistente, ou da minha presença a poucos centímetros de onde sentara, pude sentir a estoicidade que lhe era própria. Um japonês envolto num envelope. Ela lhe guardava a alma, o corpo, sem deixar que se desvencilhassem de uma certa maneira de lidar com a realidade. Me pareceu então que aquele homem realmente sofria. Talvez encenasse, imaginasse uma história, um drama. Repetia a si mesmo uma mentira. Talvez viesse todas as semanas sentar naquele mesmo lugar, punha as mãos no rosto e mergulhava na mais profunda desordem, própria à sua ficção. Já ia se formando em mim a resolução da ação, quando me veio à ideia uma explicação, tão clara quanto uma certeza. Tratava-se de uma pessoa nada mais ordinária. Um homem, que acompanhava a amálgama e que passava por aquele lugar todos os dias. Entrava e saía do vagão do metrô, apressado, como os outros. E foi num dia como os outros, um dia sem indícios nem dobras, que o fato de uma tristeza infinita sobreveio bem ali, naquele exato lugar, bem em frente ao homem de estoicidade nipônica. Aquele mesmo homem que, sem suspeitar do que estava por acontecer, e de como o que se daria uns minutos mais tarde mudaria sua vida para sempre, tirou os olhos do telefone que segurava nas mãos, impaciente, esperando que a porta do metrô se abrisse. Foi uma questão de segundos, ao que parece, a duração máxima dos acontecimentos fundamentais. Sem uma razão certa, o homem olhou para o lado e percebeu uma moça, nova, vestida de azul turquesa. Pairou alguns segundos sob o encanto da jovem mulher. Era como se ela atirasse o seu olhar. Durante muito tempo tentou se lembrar no que pensou naquele momento; conseguiu apenas resgatar o vestígio do encantamento que sentiu. No instante seguinte, percebeu sem se ater ao fato, que o metrô se aproximava. Como se mergulhasse numa piscina, e sem mudar a expressão de

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serenidade que o seu rosto imprimia na realidade, a moça se jogou na frente do metrô. Passaram-se meses. Eu descia na mesma estação, e todo começo de semana, às 9h20 da manhã, o homem se encontrava ali, escondendo o rosto com as mãos. Na primeira vez em que o vi, achei que escondia a dor intensa que sentia. Mas na medida em que se tornou mais familiar, o seu ato tomou outro sentido para mim: o japonês segurava o próprio rosto com as mãos porque conversava com a jovem. Um dia resolvi chegar mais cedo, e observar o seu ritual. Ele vinha com uma maleta, vestia um terno, afirmava a expressão de quem se encaminha para o trabalho. De repente, parava de frente ao banco, se tornava outra pessoa. Seus olhos se fechavam, sua testa enrugava, no momento em que se sentava já não era mais o mesmo. Aquilo durava dez minutos. Depois se levantava, maleta na mão, e seguia caminho. Certamente ele desconhecia as razões da moça; qual impasse tinha resultado no ato extremo? Ao observá-lo, me veio à cabeça uma curiosidade: o que dizia à jovem? À que se assemelhava essa curiosa comunicação? Ou talvez fosse ela que lhe sussurrava algumas palavras de consolo... Num dia em que o hábito já tinha tomado o lugar da surpresa e da descoberta, fazendo da presença do japonês um dos elementos imperceptíveis do entorno, avistei uma moça sentada no banco. Despreocupada, procurava algo dentro da bolsa. Nada dele. Nem nos outros bancos, nem no corredor, de pé, esperando pelo lugar que parecia lhe pertencer. Nenhum sinal de sua estoicidade, nem do drama ocorrido naquele curto espaço de tempo. Como se a moça vestida de azul turquesa nunca tivesse existido, e outras moças tomassem o seu lugar. As pessoas seguiam, apressadas. A realidade continuava a insistir, apresentando-se

àqueles

que

nela

se

colavam

de

maneira

incontestável. A ausência do homem provocou em mim a vertigem do efêmero. Sua história, um dia, me alçara feito laço. Agora já não

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pertencia mais à totalidade, que se movimentava entre os corredores, de um metrô ao outro, de forma sólida e convicta. Me aparentava mais a uma poeira, desapegada, flutuando pelo vento canalizado. Na semana seguinte, exatamente às 9h20 da manhã, desembarquei na estação como de costume com o intuito de fazer uma baldeação. A visão do banco vazio resultou numa vontade irresistível de sentar-me. Hesitei: um impasse. Fechei os olhos, cobri meu rosto com as mãos, e como se me tocasse, um pedaço de tecido se insinuou a mim. Era seda, azul. Não sabia o que viria em seguida, mas experimentava a fascinação, o encantamento.

LIGIA S. IKEDA é formada em Filosofia e Ciências Políticas. Há dez anos na França, trabalha atualmente numa ONG ligada à educação. Sempre lhe encantou a possibilidade de mexer com as palavras, inventar histórias, mexer com a realidade. Fã de livros de bolso, Ligia S. Ikeda segue criando veredas através da escrita. | LIGIAIKEDA@HOTMAIL.COM

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QUERER MANDU HOLANDA| Itapipoca, CE.

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Quero arrasar tua distopia Quero destruir tua pretensão Quero a atenção que te atenta limpar a pasmacenta lama que em ti pesa Quero te atirar mil pensamentos Quero te acertar em cheio com uma ideia Quero te deixar atordoada e nocautear em ti a indiferença Quero te causar o asco Quero que vomite e expila Quero que queira ser inteira e não só essa fração que te tornastes Quantos quereres tenho em ti, e como queres que eu não queira tanto assim? Quero te soprar os olhos, tirar a poeira que te cega.

MANDU HOLANDA (Iguatu/Ce,1968) é pedagogo por formação, oficial de Justiça por profissão, músico por diversão e boêmio por vocação. Casado com Lene, pai de Yorrana, Gabriel e Ariadna; Avô de Maria Clara. |

MANDUHOLANDA@HOTMAIL.COM

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VERBO VÍRUS NITIREN QUEIROZ| Carapicuíba, SP.

para Rodrigo Inácio Ronca e corta: palavra perfura a carne, oráculo a queima-roupa abrasa olhos, arrasta corpos, decepando membros.

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Corta, corta e ronca um ronco chato preso entre os dentes, que trituram as línguas dos amantes. Triunfa sobre músculos já flácidos, o sangue ralo. Goza na cara, entala gargantas rotas dos sábios. A palavra dança. Repetida três vezes gera um mundo novo, e lá pela décima terceira costuma matar.

NITIREN QUEIROZ nasceu em Carapicuíba (Brasil) em 1980, onde mora atualmente. Educador e psicopedagogo. Membro do coletivo de Hip-Hop Guetto Freak desde 1995, foi a partir de suas vivências nas linguagens do Breaking e do Rap que adentrou o universo da poesia. Em 2014 publicou seu primeiro livro: “Nefêsh”, pela Dobra Editorial.

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O MELHOR SEXO DAS NOSSAS VIDAS RAFAEL SIMEร O | Nova Iguaรงu, RJ

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Você mora sozinha agora, ia ser fácil. A gente podia se esbarrar na rua de madrugada, cada um segurando seu copo, cantando feliz em alguma roda de samba, seria legal esse golpe do acaso. Mas talvez também fosse romântico, e eu não sei se você está disposta. Então podia ser na fila do banco. Já pensou? Muito improvável, mas seria perfeito, porque nenhum acaso na fila do banco é romântico. Pode ser até consolo encontrar um conhecido, mas acho que não beira nem ao prazer, quem dirá ao romantismo. Aí a gente se esbarrava na fila do banco quarta-feira às 14h17, dia de sol, entabulava uma conversa sem jeito. Não, conversa sem jeito não levaria a um convite pra eu ir ao teu apartamento algumas semanas depois, e é isso que tem que acontecer no fim, nós dois repetirmos a experiência do melhor sexo das nossas vidas, coisa que ambos sabíamos, mesmo naquela quarta na fila do banco pairava no ar, mas que nunca tínhamos dito um pro outro. Então a gente fica, além de aliviados, felizes em nos vermos, sorrimos um pro outro. Falamos da vida pra passar o tempo, mas realmente com vontade de falar da vida um pro outro, e quando chega a tua vez, você diz pra gente se falar depois, continuar a conversa. Eu levo a sério, eu quero repetir o melhor sexo da minha vida. Aí a gente conversaria um pouco online, marcaria uma cerveja, sem muita enrolação, e eu ficaria absolutamente feliz porque sei que você sabe que cerveja sempre é sinônimo de sexo depois. Pra nós sempre foi. Você chegaria com uma cara de cansada, olheiras, desalinho, e um corte de cabelo novo que todo mundo estava achando esquisito, e comentavam que corte diferente, um lado maior que o outro?, e eu diria que você estava bonita, porque eu verdadeiramente acharia seu novo corte diferente bonito, combinando com teu rosto, abraçando tuas bochechas, te deixando a nuca sensualmente exposta. Sempre gostei da tua nuca, eu diria lá pela terceira cerveja, abrindo campo pras intimidades, pras lembranças das partes do corpo de cada um, que são já a senha pra pensarmos, então, neles juntos, o que leva ao sexo, posteriormente.

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Enquanto mijava olhando pra parede até me questionaria se isso daria mesmo de novo no melhor sexo das nossas vidas,

numa reedição

daquilo, porque você não estava me parecendo muito disposta, reclamava tanto do trabalho, do quão cansativo era ter que atravessar a ponte, acordar cedo com tua insônia, ler com o óculos que você deveria já ter trocado, almoçar com a azia que te consumia, e ainda esse terçol que estava querendo sair mas nunca que saía de uma vez, estava tudo tão sem sentido na tua vida que quando eu voltei pra mesa você me olhou sorrindo, fez um carinho no meu rosto e me deu o beijo que eu nunca tinha chegado a esquecer. Aí eu ficaria pensando, porra, porque foi mesmo que não deu certo entre a gente... Por causa daquelas coisinhas miúdas acumuladas, que de perto são gigantes, mas que o tempo e a perspectiva certa tratam de colocar com o devido tamanho e nos deixar sem entender mais nada. Só que essa constatação, tão triste, tão frustrante, passaria logo, logo que eu passasse a mão pela tua coxa lisa e você não ensaiasse a mínima resistência, e inclusive suspirasse mais fundo no meio do beijo. Até que algum de nós, não importava quem, faria a proposta lá pela sexta cerveja, vamos dormir juntos, como se isso já não estivesse indicado desde o sorriso na fila do banco, e como se eu não soubesse que você me convidaria pra ir ao teu apartamento, que eu inclusive não conhecia ainda, apesar de você ter dito que me convidaria pra conhecer logo assim que se mudou pra lá, nem sei porque você tinha dito isso naquela época, acho que porque sabia que se me convidasse eu não iria mesmo, mas aí dessa vez eu iria, cheio de expectativa pelo melhor sexo das nossas vidas acontecer de novo. A essa altura, a gente já estaria no táxi, eu com o nariz enfiado na tua nuca recentemente exposta, você fechando os olhos de tesão até chegarmos ao teu apartamento novo, que era um quitinete velho num bairro fodido. Eu não gostaria muito da tua casa, tropeçaria numa cadeira posta quase atrás da porta de entrada, praticamente colada no sofá que mal

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deixava espaço pra atravessar pra cozinha por causa da mesa de centro e o rack com a pequena tevê velha de 14 polegadas que tu me contaria que comprou numa feira de rua por cinquenta pratas e ainda funcionava perfeitamente pro que você fazia com ela, no máximo assistir ao jornal pra não ficar totalmente alienada do mundo, apesar de você ler bastante e acompanhar as notícias pela internet. Você já estaria falando demais, isso era certo depois da quarta cerveja, e me irritava um pouquinho, porque não me deixava brecha nem pra pensar e absorver direito o que você dizia, quem dirá pra conversar. Eu dizia que urrum, era muito legal sua televisão retrô, urrum, tapete maneiro, urrum, já li esse, urrum, aceito água, urrum, pode ir tomar um banho. Não, não tô com fome e só queria ir ao banheiro e lá, o tapete da saída do box estaria encharcado, o que eu também não gostava muito, e teria vontade de falar que aquilo não é legal porque se alguém entra no banheiro calçado e pisa naquilo ele fica logo todo encardido e sujo, dando a impressão de que o banheiro é pouco asseado e tal, e que você é porca, mas eu não diria nada não, porque eu te encontraria já no quarto deitada de bruços vestindo uma camisola curta que deixava à mostra a polpa da tua bunda, tua bunda a parte do teu corpo que eu sempre mais amei e quis, você me seduzindo, e de repente eu já estaria mordendo aquela carne toda e você reclamaria, porque você sempre reclamou, que te machucava, que te deixaria roxa e dolorida, mas porra, tua bunda não fica exposta, eu dizia antes quando nós dois erámos namorados, e você respondia, quando ainda era minha namorada, foda-se mas eu vejo e acho feio, só que nessa noite eu não diria nada, só desculpa, é que tô com saudade, e você também não criaria muito caso, só me devolveria com um sorriso safado e nós faríamos de novo, depois de alguns anos, o melhor sexo das nossas vidas. Até que o outro dia amanhecesse com você me cutucando que já estava atrasada, que tinha marcado com tua mãe de ir a uma feira de antiguidades no centro da cidade, e já estava tarde, ela já tinha

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ligado pra você dizendo que estava saindo e, apesar de ela morar longe e demorar bem mais do que você, você já estava atrasada, repetiria, insistente e apressada sem motivo, me acordando às sacudidas, como sempre odiei, e mal daria tempo de lavar a cara na pia pequena do seu banheiro de tapete encardido, muito menos de um café, e eu sairia às pressas, ganharia um beijo no rosto depois de você me perguntar se eu sabia como ir embora dali pra minha casa. Eu me viro, eu diria, eu sempre digo, mesmo que não tenha a mínima convicção, e sairia do elevador primeiro no play, depois na garagem e enfim na portaria, pra dar um joia pro porteiro e ganhar a rua meio perdido com o sol já quente na cabeça e nem um pouco ansioso pelo nosso próximo encontro ao acaso, que se daria, no futuro, durante um colóquio sobre literatura contemporânea numa universidade particular no subúrbio da cidade, quando marcaríamos de novo uma cerveja e repetiríamos o melhor sexo das nossas vidas no seu novo endereço, um quarto e sala mais próximo do trabalho, com espaço pra sentar no chão da sala e sua nuca ainda exposta, apesar do corte um pouco mais convencional.

RAFAEL SIMEÃO, 28, Rio de janeiro. Não quis nos contar muito sobre ele, mas fornece algumas pistas quando escreve. | RAFA.SIMEAO@GMAIL.COM

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GLÓRIA SÉRGIO SANTOS | Barreiro, Portugal.

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Toscamente pressentes que estão atrás de ti, incapaz de disfarçares o teu alarme, desmascaras-te de forma evidente. Apesar da chuva irritante, dois asnos continuam a seguir-te desde há horas. O mais gordo é o teu amante, o mais alto o teu deputado, conversam de forma entusiasmada e nunca param de olhar para ti. Elogiam as tuas pernas esguias, o teu cabelo dourado farfalhudo, os lábios carnudos e o teu inspirador decote. Já sem muita paciência, perdes uns momentos a concentrar-te e depois atiras sem pestanejar o teu olhar fatal. Os pobres coitados caem no chão em êxtase, digníssimos espasmos trespassamlhes a mente e o corpo, não há dúvida o contacto divino faz mal à saúde. - Que foi aquilo? Ainda tremo! - Vi uma luz. Meu Deus! O paraíso afinal existe! Uma multidão de pessoas olha estupefacta para aqueles dois palermas deitados no chão com ar ganzado, ninguém percebeu bem o que aconteceu. - Ela era linda! Compreendi naquele momento o que tenho que fazer. Tudo faz agora sentido. - Eu disse-lhe. Há anos que eu ando enrolado com ela. Aquela musa inspira os homens a fazerem grandes feitos. O amante fala com uma convicção apaixonada, só de pensar nela. Várias pessoas procuram levantá-los do chão, eles mexem-se, mas continuam com aquele sorriso ridículo, completamente alienados em relação

aos

outros.

O

deputado

de

forma

pouco

educada

desembaraça-se dos que o auxiliaram e começa a andar em grande velocidade. Sem grandes veleidades despede-se também do seu camarada. - Agora que conheci a Glória, compreendo o que tenho que fazer para a alcançar. Agradeço-lhe muito a ajuda que me deu. Acho que nos despedimos aqui. - Mas o que pretende fazer?

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- Tudo! Assassinar, mentir, roubar, manipular, enganar... preciso voltar a ver a Glória novamente seja qual for o custo! O deputado mostra um olhar sinistro, convicto. Está disposto a tudo e percebe-se que está orgulhoso dele próprio. - Eu disse-lhe. A Glória não deixa ninguém indiferente, você nunca mais voltará a ser o mesmo homem! Adeus! Continuas a andar fingido que és indiferente a tudo isso, os teus admiradores adoram-te selvaticamente, eles ficam deslumbrados com o teu encanto. Não consegues deixar escapar um sorriso de satisfação por constatar a força do teu poder. Pobres homens, perdem-se em devaneios, veem um futuro radioso e em nome deste sacrificam a alma. O teu antigo professor de música desde que descobriu o teu poder nunca mais te largou. Viu nos teus olhos aquela força imersiva, esmagadora que seduz os fracos a devaneios épicos. Desde então descontrolado, tornou-se no profeta da Boa Nova, procura aliciar a todo o custo novos apóstolos à sua causa, esse é o desígnio dele. Entretanto colecionas troféus. O sem-abrigo que transformou-se num líder mafioso, o vendedor de pipocas que tem hoje uma rede de cinemas pornográficos, o canalizador que virou um top-model, o velhote da mercearia que foi para o Big Brother... Até onde poderás ir? Quem mais vais inspirar a fazer grandes feitos?

SÉRGIO SANTOS é formador e webdesigner. Fundador do colectivo albatrós dedicado à escrita ficcional colaborativa. Editor da revista digital de BD H-alt. Adora escrever ficção e criar BD. | SERGUS@GMAIL.COM

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ANDRÉA MARTAU SITE PESSOAL | FACEBOOK | ANDREAMARTAU@GMAIL.COM

Andréa Martau é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é especialista na área de desenho animado e ilustração de livros. Conta que, entre suas técnicas preferidas estão o clássico lápis/caneta sobre papel, a partir de onde todas as ideias criam vida. Também utiliza bastante o desenho e a pintura digitais, principalmente nos cenários para animação. Sobre o trabalho com a arte, Andréa apresenta sua visão dinâmica e otimista: "Ser artista requer versatilidade. Conheço muitos artistas que ilustram livros e revistas, expõem em galerias e coletivos de arte, trabalham com publicidade e animação e dão aulas em oficinas, cursos, etc, além de tocar projetos pessoais. Tudo ou quase tudo ao mesmo tempo. Sendo freela você nunca sabe quando e o que vai aparecer pela frente. Você pode ficar meses sem um trabalho que te pague e, do dia pra noite, entrar em três projetos diferentes dentro de um prazo curto. Pra mim essa é a maior questão".

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Edição e Revisão Morgana Rech e Tânia Ardito MORGANA RECH & TÂNIA ARDITO Recepção de originais: CONTATO.SUBVERSA@GMAIL.COM

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