Zás! Edição #008

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A Revista Zás! chega a sua oitava edição trazendo novidades. Pela primeira vez publicaremos uma crônica, nesta edição o convidado foi Ricardo Maciel. Esta edição traz também uma página de tirinhas, o personagem Clovis, do artista Paulo Stocker, estreia a seção. Nesta edição você também encontra um especial sobre a série de quadrinhos The Umbrella Academy, uma entrevista com a vocalista da banda Drenna Rock e um especial sobre a série Game of Thrones, veja o mapa de Westeros e conheça os principais personagens. Na seção portfólio conversamos com Rafael Anderson, inclusive a arte da capa desta edição foi produzida por ele. A Zás traz resenhas de discos lançados recentemente, como o Wasting Light, do Foo Fighters. Os filmes que entram em cartaz nos cinemas e algumas dicas de livros que chegaram recentemente às prateleiras das livrarias. Boa leitura. Não deixem de comentar...

Zás

Capa Rafael Anderson

Contatos revistazas@gmail.com www.revistazas.com.br


tirinhas

Veja outras tirinhas de Paulo Stocker aqui.



nos cinemas

por Artur Guimarães

Piratas do Caribe 4 Novo filme da franquia mostra que Sparrow não perde o controle mesmo em águas misteriosas A Disney até que tentou dar um novo fôlego à série ao convidar Rob Marshall (Chicago e Nine) para dirigir e apresentar uma série de novos personagens. Mas, no fim, o resultado acabou sendo muito parecido com os anteriores. Comédia e ação cheia de malabarismos, uma fórmula que se mostrou bastante eficiente. Jack Sparrow (Johnny Depp) é capturado pelo Rei George II, obcecado com a fonte da juventude. Logo no início do filme, temos uma boa sequência de imagens que mostram o plano de fuga de Sparrow. Liso como sempre, o Capitão escapa por sua genialidade com pitadas de sorte.

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Quando encontra Angélica (Pelélope Cruz), filha do lendário Barba Negra e antiga paixão, Jack dá início a sua nova aventura. A dupla Depp-Cruz funcionou muito bem. A moça não foi ofuscada pelo personagem cheio de tiques de Depp e tem um papel importante no filme. Angélica também está atrás da fonte da juventude para tentar por fim a uma profecia que diz que um homem de uma perna só - o Capitão Barbosa (Geoffrey Rush) - iria matar o seu pai, Barba Negra (Ian McShane). O problema, porém, não é encontrar o local onde está escondida a fonte da juventude, mas fazê-la funcionar. Para isso, Jack precisa de uma sereia, dois cálices e tirar os soldados ingleses e espanhóis de seu encalço. Mais um filme divertido assinado pela Disney e mais uma prova do talento de Johnny Depp, que já deveria ter sido premiado com um Oscar pelo papel.


Não seja apressado! Espere até o final da exibição para ver uma cena divertida.

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Mel Gibson interpreta Walter Black, um homem em depressão que encontra em um fantoche a sua chance de recomeçar. Walter descobre um novo sentido para vida através das dicas do ‘Castor’. Tudo vai bem até que o fantoche começa a tomar o controle de sua vida. O filme é o terceiro dirigido pela atriz Jodie Foster, que vive a mulher de Walter Black na trama. O elenco conta ainda com o promissor Anton Yelchin.

Se Beber, não Case 2 (The Hangover 2)

O premiado filme argentino O Homem ao Lado conta a história de Leonardo, um designer industrial reconhecido internacionalmente pelo bem sucedido projeto de uma cadeira. A rotina de Leonardo é afetada quando um vizinho resolve construir, de forma ilegal, uma janela com vista para dentro de sua casa. Com Daniel Araoz e Rafael Spregelburd, o filme foi dirigido por Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Um Novo Despertar (The Beaver)

O Homem ao Lado (El Hombre de al Lado)

Namorados para Sempre (Blue Valentine)

nos cinemas Um romance que começa cheio de paixão se transforma em um casamento desastroso. Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) resolvem reservar um quarto em um motel na esperança de se reencontrarem. O filme narra de forma não cronológica momentos importantes da vida do casal. Passado e presente se alternam para tentar responder qual foi o erro no meio do caminho.

Alan Garner (Zach Galifianakis), Phil Wenneck (Bradley Cooper) vão à Tailândia para o casamento de Stu Price (Ed Helms). Após a última despedida de solteiro nada convencional em Las Vegas, Stu opta por um café da manhã tranqüilo e seguro. No entanto, nem sempre tudo ocorre como o planejado e as histórias de Las Vegas vão parecer piada perto do que ocorre com o trio em Bangkok.


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documentรกrio


por Artur Guimarães

A história de Anvil

Documentário mostra a luta para continuar na ativa de banda que influênciou grandes bandas do metal Anvil! The Story of Anvil é um documentário que mostra a essência do espírito rock ‘n’ roll. Sacha Gervasi acompanhou a difícil batalha da dupla de membros originais da banda - Steve ‘Lips’ Kudlow (Vocal e Guitarra Solo) e Robb Reiner (Baterista) - para continuar na ativa.

pedreiro e ganha a vida manipulando uma britadeira. Nos períodos de folga eles trabalham em novas músicas e tocam onde exista uma alma sequer que queira ouvir o som deles.

No início do documentário, o diretor seleciona ícones do heavy metal como Lemmy (Motörhead), Lars Ulrich (Metallica) e Scott Ian (Anthrax) que dão depoimentos que mostram como a banda inovou e influenciou os roqueiros. Assistimos a trechos de um show que aconteceu no Japão em 1984, o auge da carreira do Anvil. Milhares de pessoas cantavam os sucessos do grupo. No entanto, o grupo caiu no esquecimento e isso afetou a vida dos personagens do documentário.

Acompanhamos momentos decisivos na vida da dupla. Turnês fracassadas e tentativas frustradas de conseguir contrato com gravadoras fazem a dupla atingir o limite, mesmo assim a vontade de fazer música e a amizade os impede de desistir.

A dupla Lips e Robb mostra que depois de mais de 30 anos - a maioria deles tocando para meia dúzia de pessoas em bares minúsculos - o sonho de voltar a ter destaque na cena heavy metal não morreu. Os dois levam vidas simples, Lips trabalha entregando merenda escolar e Robb é

O documentário é uma linda lição de amizade e de que se você persegue seu sonho com garra, acaba sendo recompensado. Mostra que mais importante que a conquista, é a árdua jornada que atravessamos até alcançá-la.

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entrevista

O som e a cara da

Drenna Rock por Karina Francis fotos Luciano Oliveira

De Santa Catarina à Pernambuco eles estão percorrendo o Brasil fazendo um rock que antes de tudo tem um toque feminino. A banda Drenna é do Rio de Janeiro e lançou o primeiro álbum, com produção assinada por Fred Inglez e gravado no estúdio Observatório dos Ecos, do músico Marcelo Yuka. A vocalista Drenna assina oito faixas do disco, só não são dela “Desenho de Giz” e “Siga”. Também gravou o backing vocal e a guitarra. O grupo é composto por Drenna (vocal/guitarra), Milton Carlos (bateria), Rodrigo Pex (guitarra) e Rafael Gama (baixo). O álbum também conta com a participação dos músicos Jamaica, no baixo e Ronald Salles, na terceira guitarra. Com cabelos vermelhos e um olhar forte, a vocalista Drenna cumpre bem seu papel de frontwoman da banda. Confira nas próximas páginas uma entrevista com a vocalista da banda.

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Karina Francis: Vocês pretendem disponibilizar o CD para download gratuito? Qual o pensamento em relação ao movimento pró-download? Drenna: Penso em fazer isso sim, mas quando lançamos o próximo álbum, mesmo assim eu já sei que tem na internet o disco pra download, mesmo não sendo nós que postamos, eu não ligo muito pra isso, tem pra download no trama virtual

foto Luciano Oliveira

entrevista

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Karina Francis: Vocês lançaram recentemente o primeiro disco autoral. Como foi o processo de criação e produção deste álbum? Drenna: A parte de criação foi bem simples, já tínhamos as músicas então começamos uma pré-produção em casa, é claro que tivemos que escolher quais músicas que iriam entrar no disco, esse processo é que foi mais delicado, mas conseguimos chegar a um consenso. Quando fomos ao estúdio já sabíamos exatamente o que fazer, com a entrada do Fred Inglês na produção do disco, acabamos anexando novas texturas as músicas, o que as tornou mais atraentes, como se trata do nosso primeiro disco, queríamos que ficasse muito bom, mas acho que superou nossas expectativas.


produziu o disco, também participou das gravações, colocou o último solo de “Então me diga”. Sabíamos que Fred é guitarrista e como ficamos amigos no decorrer das gravações sugerimos a ele colocar um solo em alguma das músicas. Ronald Sales e JaKarina Francis: Há alguns anos atrás, a possi- maica, são nossos amigos de esbilidade de ser músico profissional se dava por trada então queríamos que eles meio de gravadoras comerciais. Hoje a realida- participassem do nosso álbum. de que vocês vivem é bem diferente. Cada vez mais gravadoras independentes estão abrindo, Karina Francis: O que esperar e a o cenário da música alternativa se fortalece. de Drenna esse ano? Drenna: Estamos trabalhando Como avaliam essa transição? Drenna: Artistas sempre existiram, talvez es- mais do que nunca, semana tivessem mais ofuscados pelas grandes indús- retrasada estivemos em Santa trias, mas com o enfraquecimento delas eles Catarina, semana passada em começaram a dar as caras, e poder mostrar seus Pernambuco, e nesse fim de trabalhos, dando ao público novas opções, acho semana vamos pra Petrópolis. bom, por que não devem existir barreiras pra Queremos continuar assim na estrada tocando que é o que música e nem outro tipo de arte. fazemos de melhor. Queremos Karina Francis: O disco conta com algumas par- lançar um vídeo clip pro meio ticipações especiais. Fale um pouco sobre isso? do ano, estamos estudando as Drenna: Quando iniciamos as gravações no estú- possibilidade e vamos começar dio Observatório dos Ecos, tínhamos em mente , a trabalhar as música já pra um a possibilidade de colocarmos algumas partici- próximo álbum. pações especiais no disco, então pensamos em alguns nomes, entre eles o Marcelo Yuka, com Karina Francis: Qual a inspirao decorrer das gravações tivemos o prazer de ção para as composições? conversar com ele e então ele topou, escolheu Drenna: A inspiração vem de a música que mais o agradava, e colocou um lin- tudo, de um momento que estedo teclado em “Gelo Coração”. Fred Ingles, que ja passando, de algo que ouviu alguém falar ou de um groove de bateria, não se tem uma fórmula exata tem que estar com os ouvidos abertos, pois pode acontecer a qualquer momento. Clique aqui e leia a entrevista que paga alguma coisinha pras bandas relativos aos downloads executados. Quando me pedem as músicas eu sempre indico o trama virtual. Como disse não sou contra o download, isso é inevitável, mas se tenho uma forma mais digna tanto pro artista quanto pro público então é claro que vou preferir esta alternativa.

completa no site do Rockazine

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Consideravelmente mais alegre que o álbum anterior, Toque Dela mostra um Marcelo Camelo maissolto, mais romântico. Nem por isso, o disco destoa tanto assim de Sou, é o Camelo de sempre só que um pouco mais a vontade. Meus momentos prediletos estão nas canções “A Noite”, “Acostumar”, “Pretinha” e “Meu Amor é Teu” - faixa que fecha o disco.

Matanza (Odiosa Natureza Humana)

O 11º disco de canções inéditas dos veteranos do Whitesnake é muito diferente dos que foram lançados nos anos 1980. Isso não significa que o disco seja ruim, mas que ao contrário de outras bandas, David Coverdale e companhia não pararam no tempo. “All Out of Luck”, com seu riff sacana é a minha preferida do disco. Ouça também: “Love Will Set you Free”, “I Need You (Shine a Light)” e “Lova and Treat me Right”.

Marcelo Camelo (Toque Dela)

Whitesnake (Forevermore)

Adriana Calcanhoto (O Micróbio do Samba)

resenhas Não é que o jeitinho intimista e doce da Adriana Calcanhoto tem tudo a ver com samba. O disco tem uma pegada gostosa, vontade de ouvir a toda hora. A maior parte das canções são historinhas que criam imagens interessantes na cabeça, como em “O Mais Perfumado” e “Vem Ver”. Destaque também para as canções “Beijo Sem” e “Vai Saber?”, as duas já foram gravadas por Marisa Monte.

O Matanza é sem dúvida umas das bandas de rock nacionais mais irreverentes. Bebida, excessos e mulheres são mais uma vez os temas das canções do novo disco. O grupo, que não lançava um álbum de inéditas desde 2006, continua com seu som sujo, forte e mal-humorado. Ouça: “Remédios Demais”, “Em Respeito Ao Vício”, “Saco Cheio e MauHumor” e “Carvão, Enxofre e Salitre”.


O Foo Fighters divulgou um vídeo de quase uma hora no qual o grupo toca o disco Wasting Light na íntegra. Clique aqui para assistir.

Wasting Light

por Artur Guimarães

Depois de quatro anos, Foo Fighters grava disco de inéditas que marca diversos reencontros Depois de um período de folga de quatro anos, o Foo Fighters volta a gravar um disco de inéditas. Wasting Light é o sétimo álbum da banda, que agora conta com cinco integrantes. Pat Smear, que gravou os primeiros discos com a banda, retoma o posto de guitarrista e se junta a Dave Grohl e Chris Shiflett. Os reencontros não param por aí. Butch Vig, que produziu o disco Nevermind do Nirvana, foi convidado por Grohl para trabalhar no disco, que também contou com a participação especial de Krist Novoselic, ex-baixista do Nirvana, na faixa “I Should Have Know”. Sem dúvida, as experiências que Dave Grohl teve nas bandas

Queens of the Stone Age e Them Crooked Vultures influenciaram no som do Foo Fighters. As faixas “Rope”, “White Limo” e “Arlandria” são prova disso. Wasting Light foi gravado à moda antiga, na garagem de Dave Grohl, utilizando processos analógicos. As imperfeições decorrentes deste processo fazem com que o disco soe mais forte, a energia emanada por Wasting Light é incrível. Meus momentos preferidos estão nas canções “These Days” e “A Matter of Time”, que não consigo tirar da cabeça.

Foo Fighters (Wasting Light)

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especial


Umbrella Academy

por Caio Valiengo

O rockstar Gerard Way e o quadrinista paulista Gabriel Bá juntam forças novamente em The Umbrella Academy Gerard Way ficou mundialmente famoso por ser o vocalista da banda My Chemical Romance, mas poucos sabiam que seu talento se estendia para o mundo dos quadrinhos. Gabriel Bá, ao lado de seu irmão Fábio Moon, trilhou uma ascendente carreira no universo das HQs até atingir fama internacional - reflexo desta fama é o reconhecimento do último trabalho da dupla, Daytripper, que figurou em primeiro lugar na lista dos mais vendidos do New York Times. Da união de esforços do rockstar e do quadrinista paulista surgiu a Umbrella Academy, que chega ao Brasil pela segunda vez sob o selo da Devir. Em seu primeiro volume, The Umbrella Academy – Suíte do

Apocalipse, nós somos apresentados a uma estranha equipe de superheróis: um grupo de crianças com super-poderes, comandadas por um renomado cientista que se limita a chamá-los por números. O arco da história não é nada complexo, mas a originalidade do projeto como um todo faz com que você devore o quadrinho em uma lida. É somente em The Umbrella Academy – Dallas que o roteiro dá um salto qualitativo, e a história se desenvolve de maneiras prazerosamente bizarras e surpreendentes. Após os desastrosos eventos da primeira série, cada um dos superheróis está passando por momentos difíceis. O ex-líder do grupo,

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especial

Spaceboy, não sai da frente da televisão, e engorda cada vez mais com leite e biscoitos. O paranormal Seánce está aproveitando seus dias de fama com programas superficiais, enquanto tenta superar a morte de seu companheiro chimpanzé Pogo. Rumor perdeu seus poderes após ter a garganta cortada por Violino Branco, que está insana após sofrido na primeira edição. E Kraken está investigando uma série de assassinatos em massa, e desconfia que por algum motivo seu irmão, Número Cinco, é o centro de todos estes acontecimentos estranhos. Realmente, Dallas é baseada na história de Número Cinco, o herói que ficou preso em sua forma de criança após ter voltado no tempo de um futuro apocalíptico. Nós conhecemos uma organização chamada Temps Aeternalis, uma

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espécie de polícia do tempo, que garante que a linha do tempo e espaço seja preservada. Se aproveitando da capacidade de viajar no tempo de Número Cinco, a organização o transforma no agente perfeito. O dever do Número Cinco é voltar ao tempo, e lutar contra ele próprio para tentar impedir o assassinato do Presidente Kennedy. Viagens no tempo, chimpanzés vestidos de Marilyn Monroe, personagens bizarros como Hazel e Cha Cha, Guerra do Vietnã, sarcasmo e um humor um tanto quanto original: estes são alguns dos motivos para acompanhar a série The Umbrella Academy. Para completar, a arte inspirada do quadrinista brasileiro Gabriel Ba. E para colocar a cereja no topo do bolo: você pode ganhar as duas edições da série, saiba como clicando aqui.


PROMOÇÃO

Clique aqui e saiba como concorrer a kits com os dois volumes da série

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Uma das histórias em quadrinhos mais polêmicas dos anos 1980, Black Kiss conta a história de Cass Pollack, um músico recém saído de uma clínica de recuperação para drogados e metido com o submundo do crime. Ele dá carona para uma loira estonteante e acaba se envolvendo numa trama macabra cheia de pornografia, cultos satânicos, prostituição, drogas, sociedades secretas, corrupção, violência, muito sexo, morte… e vida eterna!

A Divina Comédia de Dante (Seymour Chwast - Cia. das Letras, 128 páginas)

Edwin Williamson narra a vida de Jorge Luis Borges, o consagrado autor argentino responsável por belíssimas obras como Ficções e O Aleph. Borges, que sempre foi visto como um homem de vida pacata, viveu imerso no mundo dos livros, sem maiores aventuras, e morou com a mãe até os 75 anos. O autor da biografia mostra um lado mais passional do escritor, revelando seus romances, e tentando fazer uma série de conexões entre a vida pessoal e a obra do argentino. Interessante imersão para aqueles que admiram sua obra.

Black Kiss (Howard Chaykin, Editora Devir, 152 páginas)

(Edwin Williamson, Companhia das Letras, 672 páginas)

Borges – Uma Vida

Castro (Reinhard Kleist, Editora 8Inverso, 288 páginas)

livros Autor das biografias em quadrinhos de Johny Cash e Elvis Presley, o autor alemão Reinhard Kleist se aventura em terras cubanas para contar a vida do controverso político Fidel Castro. “Castro” é narrado por um jornalista que, na Cuba de 1958, pesquisa a vida de um líder rebelde chamado Fidel Castro. Subitamente, o jornalista vê-se envolvido na revolução que mudaria Cuba e marcaria o mundo para sempre.

Dante Alighieri escreveu a Divina Comédia no século XIV, e desde então tem servido de inspiração para artistas de todos os tipos. É a vez de o designer norte-americano Seymour Chwast apresentar sua versão da história, com a adaptação A Divina Comédia de Dante. O poema épico ganha um tom mais moderno, com uma pegada noir. Essa pode ser uma grande chance para os viciados em HQs caírem nas graças deste clássico da literatura.



crônica

Fumaça

por Ricardo Maciel

Ele estava sentado na sarjeta, fumando um cigarro barato, bem no centro do distrito onde morava. Ao longe, velhos conversavam sobre futebol e bebiam cerveja direto de um barril aos sonoros goles. Alex era alto, moreno e tinha cabelos bastante desgrenhados. “Eu tenho mesmo que cortar esse troço”, dizia ele, mas nunca o fazia. Talvez, no fundo, ele achasse aquele não-corte um tanto quanto sexy. Talvez fosse preguiça mesmo, o que era mais provável. De um lado para o outro as pessoas corriam, andavam, se arrastavam, cada qual no seu ritmo. Todos tinham suas tarefas e isso lhes era muito importante. Uma velhinha tentava carregar todos os seus pacotes de compras com apenas uma mão. Ela tinha feito a feira e havia esquecido de trazer seu antigo carrinho de metal carcomido pela ferrugem. Um senhor andava vagarosamente, apoiando-se em um bengala que parecia tão velha quanto ele. Os meninos andavam chutando lata pelas ruas e faziam daquilo seu jogo e passatempo. As meninas fofocavam sobre tudo e todos, com olhos curiosos observando cada movimento alheio.

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Algumas crianças – coitadas – eram obrigadas a ficar em frente ao banco, à igreja e à loja de ferramentas fazendo caras de sofrimento para conseguir alguma esmola para ajudar no orçamento da casa. Tinham o rosto meio sujo e suado. Nem sempre os transeuntes colaboravam, mas elas não desistiam. Afinal, era melhor receber vários “não” e alguns “sim” do que voltar para casa sem nada. Elas tinham certeza que seu pai, sempre amoroso,

haveria de lhes esperar com a cinta na mão e isso significaria ficar uns bons dias sem poder sentar, e tendo a dor da surra atravessando-lhes a espinha, de cima a baixo. O dono do açougue vira e mexe parava de cortar suas carnes para pedir dinheiro trocado ao dono da venda. Eles não tinham muitos funcionários, ambos. Dizia-se que era tanto para não ter que dividir os lucros quanto por achar que ninguém faria o serviço tão bem quanto eles mesmos. A senhora que vendia churros trazia o carrinho de sua casa bem cedo. O sol estava ainda a bocejar quando ela começava a esquentar o chocolate e o doce de leite que usaria para rechear os famosos doces. E as crianças, por sua vez, ficavam, como abelhas nas rosas, rondando o lugar em que ela costumava estacionar, esperando, ansiosos e gulosos. Alex era jovem, forte de carregar sacos de farinha, cimento e batatas. Um tio seu havia lhe arrumado um


emprego como faz-tudo no armazém do seu Anido. Ele descobriu que ser um faz-tudo significava fazer tudo mesmo. Outro dia seu Anido teve a pachorra de lhe pedir para escolher os ovos que ele comeria no almoço. E ele nem havia convidado Alex para almoçar! “Velho safado, o que é seu está guardado, pode esperar”, reclamava ele, com raiva. Ele sempre dizia que andava com todos os seus pertences, sendo esses um relógio, que seu pai havia lhe dado antes de morrer e um anel, que estava na família desde não sabia quando. O relógio lhe servia muito bem, pois, apesar de Alex saber o horário olhando o sol (anos e anos de prática sem ter relógio nenhum), gostava de ver os ponteiros girarem. Já o anel dava-lhe um ar importante. Era de latão, bem simples, com detalhes circulares, mas era o grande tesouro do rapaz. E pronto. Nada mais era dele nesse mundo de meu Deus.

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crônica

Em poucos minutos, as pessoas se multiplicavam em muitas. Era um distrito um tanto afastado da cidade grande, o que dava um ar de vila para tudo. Era mesmo uma vila que não podia se assumir como cidade por questões políticas de arrendamento, hectares e várias outras coisas com as quais Alex não se importava. O cigarro já lhe queimava o dedo quando ele despertou de seus pensamentos. Jogou fora a bituca com um peteleco, levantou-se e limpou as calças com as mãos. De longe ele via o armazém e seu Anido fazendo contas na máquina registradora. Decidiu que não iria trabalhar naquele dia. O velho que se virasse sozinho. Protegeu-se do vento com seu casaco preto de camurça inglesa. A tia Júlia havia passado um tempo na Inglaterra e resolvera trazer o tal casaco para o sobrinho. Coisa curiosa era Alex ter vários tios e tias, mas ser filho único e sem primos. Sua mãe e seu pai tinham vários irmãos e irmãs. Isso fazia com que Alex fosse protegido de vários deles, que davam-lhe, além de emprego e casaco, almoço, livros, discos, e até castigos, quando merecidos.

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Foi assim sendo criado por todos e amando o distrito em que vivia. Naquele dia, porém, acordou com uma sensação estranha, como se algo de muito diferente de tudo


estivesse para acontecer. Se fosse supersticioso, até poderia dizer que os ventos estavam apontados para lugares diferentes e talvez seu signo e ascendentes estivem alinhados, mas Alex não acreditava em nada daquelas bobagens. Desceu a rua principal com passos rápidos e certeiros, pois não queria que ninguém o interpelasse para perguntarlhe porque não havia ido trabalhar. Esse era o grande problema. Como havia sido criado por muita gente, todos achavam-se no direito de cuidar da sua vida e isso metialhe raiva até a raiz dos cabelos. Não sabia aonde iria, mas sabia que não poderia ficar aos olhos de todos. Cantarolando mentalmente uma velha cantiga de rádio, chegou a um entroncamento de ruas no qual nunca havia estado antes. Teria ele andado demais e chegado a outro lugar? “Que estranho”, pensou ele, “achei que conhecesse tudo por aqui como a palma da minha mão. Talvez tenha que olhar para ela com mais freqüência, pois não faço idéia de onde estou.” As casas foram rareando, tornando-se mais velhas e abandonadas. “Minha avó sempre dizia que quanto mais longe do centro, menos as pessoas cuidam das aparências... Estava certa ela”. Sentou-se no banco da pracinha, tirou o casaco, colocou-o a seu lado e ficou parado por um momento. À espera. Sua intuição dizia que algo iria acontecer e ele resolveu dar asas à imaginação fértil que tinha. “Talvez a cidade seja invadida por alienígenas, como naquele livro. Pode ser também que os russos espiões apareçam interrogando todos atrás do grande James Bond. Quem sabe pessoas rodem por aí atrás de voluntários para fazer uma pirâmide humana.”. Enquanto ria-se sozinho de suas hipóteses mais do que enlouquecidas, Alex enfiou a mão no bolso do casaco para tirar mais um cigarro. Depois de acendêlo, entreteu-se fazendo formas com a fumaça e

dando risadinhas coloridas quando conseguia algo interessante. Quando aconteceu, ele estava tão distraído que demorou a notar. Da fumaça que se esvoaçava pelo ar, baixou os olhos para a rua e encontrou os dela. A moça descia a ladeira em direção à pracinha. Em poucos segundos, Alex já havia registrado cada pequeno centímetro de seu corpo. Ela vinha com uma sandália, fechada nos dedos, calça jeans simples e uma blusa de alcinha preta. Os cabelos presos em um rabo-de-cavalo e óculos escuros, o que atrapalhava o rapaz, que queria ter visão completa daquela que descia a ladeira. O caimento da blusa revelava os contornos dos seios da moça e isso atiçava a mente de menino de Alex e ele precisou de um momento antes de tomar qualquer decisão de qual seria a reação que ele teria. Magra, alta, rosto desfocado em pensamentos e passos retos. Assim era a maravilha que descia a ladeira. Vinha provavelmente de casa para comprar algo no centro do distrito. Talvez viesse visitar alguém, uma amiga ou algum parente. Talvez estivesse apenas exercitando as pernas depois de ficar horas em casa. Alex não sabia o que fazer e também não conseguia tirar os olhos dela. Sua angústia foi tornando-se cada vez mais insuportável, pois a moça aproximavase mais e mais a cada segundo.

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crônica

Ele apagou o cigarro no chão, chacoalhou a camisa, como se querendo que o cheiro em pó se tornasse para ser limpo apenas com chacoalhões, passou a mão nos cabelos e limpou a garganta. Mexeu a língua para conferir se todos os dentes estavam limpos e sorriu. A moça sorriu também, divertida. Ela não esperava tamanha preparação para uma reação tão simples e comum. As frases se formavam e sumiam na mente de Alex como bolhas de sabão e ainda não estavam prontas quando ela passou por ele e disse-lhe: “Olá”, com a voz doce de pássaros. O rapaz sentou de novo no banco para se recobrar da visão e, como em um filme, viu a moça seguir seu caminho. Ficou observando-a subir a ladeira em direção ao distrito até que ela virasse a esquina. Muitos pensamentos vieram à sua mente, temas variados, alguns sobre a efemeridade dos encontros na vida e também sobre o quão bela era a moça e também a dúvida se ela teria notado o sentimento que havia provocado em Alex. Pensamentos eróticos também se-lhe passaram pela mente e ele deu um sorriso malandro. Esses pensamentos se esfacelavam em vários outros menores, tudo muito rápido e ele teve um estalo. Ele tinha de ver a moça novamente, tinha de responder-lhe àquele “olá” tão suave e musical. Se saísse correndo, a moça provavelmente se assustaria e ele também chamaria a atenção de todos, além disso com certeza uma das crianças acabaria por contar ao seu Anido o que Alex estava fazendo ao invés de estar trabalhando. Resolveu então caminhar e procurá-la, mas mantendo um passo tranqüilo. Quando os pés tentavam enganar o cérebro e correr, seus neurônios faziam com que fossem mais devagar, tudo isso em microssegundos.

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Virou na mesma esquina em que a moça havia virado, mas o que viu não era o esperado. Milhares de


transeuntes passando de um lado para o outro e nem sinal da alcinha. Alex virou ruas, entrou em lojas, até no armazém – onde deixou seu Anido falando sozinho – chegou à beirada do rio, atravessou a ponte, procurou, procurou, tentando não dar muita bandeira de estar procurando. Todas as moças agora pareciam estar com a mesma roupa e ter o mesmo rosto. Ele precisava encontrá-la. Ele não conhecia seus rosto, pois ela usava óculos escuros. Desesperou-se. O coração batia forte, descompassado. A moça havia-lhe aberto mundos novos com aquele simples “olá” em uma praça afastada. E ela era linda, peitos e lábios, como diria Caetano – não sem um quê de malícia. Alex queria estar com ela só para ouvi-la dizer “olá”, com sua voz doce de pássaros em bando. Seu rosto, como era seu rosto?! Nem isso ele sabia, mas poderia propor casamento, fugir, abandonar aquele distrito, os parentes, seu Anido e tudo o mais. Ela não teria mais que andar tanto para fazer as coisas. Eles teriam uma casa no centro da cidade grande com um jardim na frente e as crianças pulando no quintal de trás - Norma, Lúcio e Dave, o caçula, sempre com seus cabelos espetados. Agora tudo o que conhecia era uma grande bobagem. Ele só queria beijar aquele rosto perfeito.

Depois de tanto tanto tanto rodar o distrito, sentou-se no banco da praça central e pôs a cabeça entre as pernas, derrotado. Devia ter sido uma miragem, uma alucinação. “Impossível haver moça assim tão bonita”, pensava ele, tentando se animar. Pegou um cigarro, acendeu e pôs no canto da boca. Olhando para o chão, viu formigas coletando alimentos para levar para a Rainha. Uma formiga levava um pedaço de folha três vezes o seu tamanho. Deixava cair vez ou outra, mas não desistia. Era uma força e coragem além das forças do pequenino animal, mas o seu foco era absoluto. Era seu dever e a formiga o fazia com vigor. Aquilo deu um novo ânimo ao rapaz e ele, em um ímpeto de bravura, ficou de pé. Ao longe, observando-o, estava a moça. Ele ficou estático. Ela veio em sua direção e ele apreciando cada movimento. Ela também estava com cara de quem andava procurando algo. Ele tentou formar alguma frase de efeito, mas ela fez um sinal com a mão para que se calasse. Estendeu um cigarro e disse: “Tem fogo?”. E naquela pergunta e na conseqüente resposta afirmativa estavam implícitos filhos casa carro contas felicidade. Ela sentou no banco a seu lado. Ela escolheu sentar no banco a seu lado. Os dois ficaram ali fumando, enquanto seu Anido pegava os sacos de feijão e distribuía pelas prateleiras, enquanto a moça dos churros se confundia nas contas com tantas crianças querendo os doces, enquanto o açougueiro fazia um enorme pedaço de carne em fatias, enquanto o sol se punha, ao longe.

Ricardo Maciel Formado em Letras, é músico, ator e escritor. Devora livros, discos e filmes. Apaixonado por artes em geral, tenta ser um pouco de tudo e por enquanto tem dado certo! Atualmente dedica-se ao seu livro de contos, à espera de publicação.

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sĂŠries


por Artur Guimarães

O Inverno está chegando Nova série da HBO mostra disputas de poder em universo criado por George R. R. Martin Baseado na série As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, Game of Thrones mostra as disputas por poder nos Sete Reinos de Westeros.

que buscam reconquistar o trono que acreditam ser de sua família por direito. E, no Norte, um grupo violento de bárbaros ameaça a fronteira dos Sete Reinos.

Quando o homem de confiança do rei Robert Baratheon morre, Eddard Stark, o senhor do castelo de Winterfell, é convidado para assumir o cargo. Em uma trama recheada de traições, a paz entre os reinos é quebrada.

O mais interessante da série é a riqueza dos personagens. Todos são imprevisíveis e a todo o momento somos surpreendidos por suas atitudes. Nunca sabemos ao certo o que vai acontecer a seguir. Não é a básica história de mocinho contra vilão. Cada um persegue as suas ambições de acordo com as próprias regras e código de ética.

A situação política em Westeros fica bem complicada, os principais senhores do lugar entram em guerra na disputa pelo Trono de Ferro. Enquanto cada um luta por seus interesses, duas grandes ameaças surgem. Uma pelo mar, os exilados irmãos Targaryen,

Diferente de séries como Roma e The Pacific, não é resgatado um período específico no tempo. Por se tratar de uma obra de fantasia, os produtores, que contam com a ajuda do autor da série, têm licença poética para mesclar elementos de diversas culturas criando um universo novo e fantástico. Os detalhes foram pensados com tanto cuidado que você acredita ser espectador de uma história real.

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Stark

Tully

Geyjoy

Arryn

Lannister Baratheon

Mar Estreito


Mapa de Westeros

Stark Eddard “Ned” Stark

Senhor de Winterfell, ajudou a colocar o rei Robert Baratheon do trono

Catelyn Stark

Senhora de Winterfell e irmã de Lysa Arryn

Benjen Stark

Irmão mais novo de Eddard Stark e Primeiro Guardião da Patrulha da Noite

Robb Stark

Filho mais velho de Eddar Stark. Herdeiro de Winterfell

Sansa Stark

Filha mais velha de Eddard Stark. Prometida ao príncipe Joffrey Baratheon

Arya Stark

Filha mais geniosa de Stark. Prefere espadas a vestidos e bordados

Bran Stark

Jovem filho de Eddard Stark. No começo da série sofre um ‘acidente’ que o impede de andar

Rickon Stark

Filho caçula de Eddard Stark

Jon Snow

Filho bastardo de Eddar Stark, se une a Patrulha da Noite

Baratheon Rei Robert Baratheon

Governante de Westernos, conquistou o Trono de Ferro com a ajuda de Eddard Stark

Príncipe Joffrey Baratheon

Filho mais velho do rei e herdeiro do Trono de Ferro

Targaryen

Lannister Rainha Cersei Baratheon

Casada com o rei Robert para unir as famílias Lannister e Baratheon

Jaime Lannister

Irmão gêmeo da rainha e herdeiro dos Rochedos Castelry

Tyrion Lannister

Irmão mais novo dos Lannister é conhecido por sua inteligência e baixa estatura

Targaryen Targaryen Príncipe Viserys Princesa Daenerys Targaryen

Exilada com o irmão além do Mar Estreito, casa-se com Khal Drogo.

Casa a irmã com o líder Khal Drogo para usar seu exercíto para retomar o trono

Khal Drogo Líder do povo Dothraki


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Rafael Anderson Em primeiro lugar quem é Rafael Itinen? Me fale um pouquinho sobre você, onde você nasceu, como começou seu gosto pela arte, os primeiros trabalhos? Eu sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo de um “quase” interior...(risos). Profissionalmente eu assino Rafael Anderson (que é o meu primeiro e o segundo nome), o Itinen é um termo budista no qual um dos significados é “uma única mente ou único pensamento”, que eu uso no meu e-mail e portfólios onlines para focar e representar o meu principal objetivo que é o trabalho com quadrinhos e ilustração. Nasci em Paulista/PE, em 12 de setembro de 1985. Desde cedo fui incentivado pela minha mãe a aguçar a minha sensibilidade, ela sempre leu muito para mim e comprou quadrinhos (tanto que já sabia ler antes de ir para a alfabetização). E

como minha mãe também desenhava, começar a desenhar foi um passo muito rápido e natural. Os primeiros trabalhos surgiram entre os brinquedos, deitado no chão criando aventuras em folhas de caderno, papel pautado e sulfites, depois passaram para os cantos dos cadernos de escola, na adolescência fiz muitos fanzines e só com 17 anos foi que comecei a fazer os primeiros trabalhos com remuneração financeira. De lá até hoje foi um longo caminho de erros, acertos e acima de tudo de muito aprendizado. Quando se descobriu como artista? Para ser sincero me considero mais Autista do que artista (risos).Desde que me lembro faço histórias em quadrinhos, comecei a desenhar para fazer quadrinhos. Na infância minha maior diversão era criar personagens e histórias. Acho que só quando eu tinha uns 14 anos, foi que decidi realmente que queria viver do desenho,



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desde esse dia nunca mais pensei em fazer outra coisa além do que amo. Sinceramente, não gosto muito desse rótulo “artista” (porém não critico quem o usa), acho que ele limita as pessoas quanto a sua necessidade de expressão. Desenho e faço quadrinhos, por que é a maneira com a qual tenho mais facilidade em me expressar. Umas pessoas escrevem, dançam, cantam, outras conversam e eu faço quadrinhos e ilustro. Tudo é expressão e todos são capazes de fazê-lo (e já o fazem sem ter esse rótulo), o que não acho legal é quando usam esse termo como se só algumas poucas pessoas é que possuíssem essa “habilidade”. O que inspira você? Sentimentos e sensações, me interesso bastante pelo lado humano das coisas. Os erros e acertos, o modo de ver e sentir que fazem de cada pessoa

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única. Todo quadrinho ou ilustração que faço geralmente passa uma opinião, é uma visão minha de algum assunto, embora muitas vezes não esteja tão explicito. Os artistas preferidos e por quê? São tantos que é difícil dizer, me influencio por diversas coisas como: quadrinhos, cinema, livros, música e games. E dentro disso, por diversos gêneros e estilos. No desenho posso citar quadrinistas como Miguelanxo Prado, Matoti, Peter Kuper, Will Eisner, Ashley Wood pela força e síntese do traço, o construtivismo russo e os expressionistas alemães pela elegância e estética dos trabalhos, diversos desenhistas de mangá pela narrativa e estilização dinâmicas, da estilização da obra de Abelardo da Hora, da naturalidade do quadrinho underground


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americano e da força dos trabalhos de artistas de concept art de games. Em filmes sou fã do estilo narrativo do Sergio Leone e do Akira Kurosawa, dos filmes noir, western e os dramas europeus, na literatura gosto muito do David Goodis, Charles Bukowski, da poesia de Manuel Bandeira. De música escuto desde Ramones (cresci ouvindo punk rock e hardcore), passando por Belle and Sebastian, Belchior, Lounge Lizards, Chet Baker e música francesa de diversos estilos. E diria que o que todos têm em comum seria a visão do ser humano com suas falhas e qualidades. Você trabalha exclusivamente com sua arte, ou tem um emprego “alternativo”? Hoje vivo exclusivamente do desenho, sou ilustrador do Jornal Folha de Pernambuco e faço trabalhos freelance. Nesse sentido posso dizer que sou feliz por conseguir viver do que amo num país como o nosso. Mas o meu sonho mesmo é poder viver exclusivamente dos meus quadrinhos, escrevendo e desenhando. Um dia chego lá. Você tem alguma formação em design ou aprendeu sozinho? Não sei se poderia dizer que aprendi tudo sozinho, mas posso dizer com

certeza que aprendi na prática. Quando terminei o colégio, já sabia o que eu queria, então foi só ir atrás do meu objetivo. Não fiz uma faculdade por achar mais importante correr atrás da prática, uma vez que não havia nada diretamente relacionado a área aqui em recife na época e minha família não tinha dinheiro para me mandar estudar fora, então fiz um monte de oficinas e cursos rápidos, sempre que podia tentava falar e observar profissionais da área para aprender cada vez mais. Não digo que não é importante se ter um ensino superior, mas foi a decisão que achei que mais se adequava a mim na época. E acredito que colhi bons frutos com essa experiência.

links Conheça melhor o trabalho de Rafael Anderson

Acha que os artistas de modo geral são valorizados no Brasil? Não como deveriam, sempre achei estranho as coisas que se valorizam (e muitas vezes supervalorizam) aqui no Brasil. Mas acho que o negócio é produzir independente de qualquer coisa. Vejo muita gente perdendo tempo apenas reclamando ao invés de produzir. Se você for sincero consigo mesmo e com o seu trabalho, tiver foco e saber o que quer. O resto é conseqüência e todos os seus objetivos virão, o grande segredo é a persistência.

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