Revista Zás! Edição Zero (Baixa)

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José Saramago

Pela maneira como lê o mundo, autor é uma voz que merece ser ouvida

revista

Zás!

Revista Zás! ● Edição Zero | Agosto/Setembro 2009

Especial U2

Vik Muniz

Irmãos Coen

Lançamentos da música e do cinema


s ço Artista o espa á d ! s á para OZ recisa p ê c o que v talento u e s o r mostra mundo. o pra tod eu material s Envie o il. a por e-m

.br zas.com a t is v e r falaai@

2 Zás! | agosto - setembro 2009


Editorial

Mais do que uma revista e um site, o Zás! é uma ideia. Com o intuito de fomentar a cultura, no Zás! você encontra de tudo um pouco: Música, Cinema, Literatura, TV, Games, Teatro e Exposições. O ecletismo e a pluralidade são as palavras da vez aqui. Ao lado da notícia da banda de metal, você fica sabendo onde rola um bom show de samba. O filme que não chega ao grande público recebe o mesmo destaque que a milionária produção Hollywoodiana. Entre um clique e outro você fica sabendo as novidades da literatura ou de uma peça que está para estrear. Desprendido do imediatismo do novo, o Zás! relembrará clássicos que marcaram época no mundo da arte. A Edição Zero, enfim, está aí. Nela você encontra uma matéria especial em comemoração aos 40 anos de Woodstock, um marco na história da música e da contracultura. O U2, que está na turnê mundial de divulgação do disco No Lines On The Horizon, ganhou um especial. Na parte de música, você também pode ler sobre alguns dos discos lançados nos últimos meses. Na seção de cinema, a trajetória dos Irmãos Coen é contada, relembrando toda a filmografia da dupla. Você também fica sabendo dos lançamentos nos cinemas e dos filmes que chegam em DVD. Em literatura, José Saramago prova que é possível filosofar em português, e o Zás! ainda dá algumas dicas de obras recentemente lançadas. O trio por trás do espetáculo Mágica Para Maiores nos conta um pouco mais sobre suas experiências nesse mundo fascinante. A equipe do Zás também conferiu algumas das peças que passaram por São Paulo. Conheça o incrível trabalho de Vik Muniz, artista brasileiro que transforma lixo em arte, e saiba de algumas exposições que acontecem na cidade.

AGO/SET 2009

revista

Zás! Ilustração de capa e da matéria “40 anos de Woodstock” Daniel Kano Projeto Gráfico e Diagramação Artur Guimarães Reportagem Artur Guimarães Caio Valiengo Sersi Bardari Contatos artur@revistazas.com.br caio@revistazas.com.br www.revistazas.com.br

Fique a vontade para sugerir pautas e dar palpite no que quiser, a gente quer que o Zás! fique com a sua cara. Desejamos um bom passeio pela Revista Zás!

Zás! | agosto - setembro 2009

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capa

54 Woodstock 40 anos

Foto: divulgação


24 Especial Irmãos Coen

06 24

Cinema

Em DVD 30 O Equibilbrista 32 The Spirit 34 Frost / Nixon 36 Gran Torino 38 Caos Calmo 40 Um Ato de Liberdade 42 Che: O Argentino

Sumário

Lançamento de CDs 14 Luiza Possi 15 Kiko Loureiro 16 Ben Harper 17 Stratovarius 18 Dream Theater 20 Marcos Sacramento 22 Dave Matthews Band

Música

06 Especial U2

AGO/SET 2009

Nos Cinemas 44 Inimigos Públicos 46 Paris 48 Marido Por Acaso 50 O Grupo Baader Meinhof Em Breve 52 O Solista

Livros 74 Mia Couto 78 Saramago 82 Xinran

exposição

100 Especial Vik Muniz 108 Gameplay 114 Ocupação: Zé Celso

teatro

84 Mágica Para Maiores 90 A Bela e A Fera 98 Beatles Num Céu de Diamantes

66 84 100 literatura

66 Especial Saramago


U2

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Foto: divulgação

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U2 Há mais de 30 anos na estrada, banda irlandesa figura entre as mais importantes na história do pop rock. No Lines On The Horizon, seu novo disco, prova que criatividade e gás não faltam a banda que tenta inovar a forma de se ouvir música

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Por Artur Guimarães e Caio Valiengo |

alguns casos, como no disco “Pop”, desagradou aos fãs mais xiitas.

E

m 1976, o jovem Larry Mullen Jr. fixa um cartaz em sua escola convocando pessoas para formar uma banda de rock. The Edge e Bono Vox respondem ao chamado e formam a banda “Feedback”, que mais tarde mudaria de nome para “U2”, uma das bandas mais influentes da história. Mais tarde Adam Clayton entra para o grupo e fecha a formação que segue em atividade. O primeiro show da banda fora da Irlanda foi em 1979, no Hope And Anchor Pub, na Inglaterra, para um incrível publico de 9 pessoas. Em 1980, o grupo assina contrato com a gravadora Island Records e lança o disco “Boy” em outubro do mesmo ano. Em 1987 a banda lança o excelente “The Joshua Tree” em meio a rumores da separação do grupo. Resultado: primeiro lugar nas paradas, Grammy de melhor álbum do ano e 26 milhões de discos vendidos. Doze discos e 145 milhões de cópias depois, o U2 já experimentou de tudo. Experimentou tanto que em

Música e Ativismo A banda sempre se destacou não somente pela sua qualidade musical, mas pelo seu ativismo no cenário internacional. Músicas com temas políticos fazem parte do repertório do U2, como a belíssima “Miss Sarajevo”, cantada ao lado de Pavarotti, protestando contra a execução de um concurso de Miss em meio à guerra da Bósnia, ou quando ofereceram a música Walk On para um líder a favor da democracia em Burma. Apesar de católicos fervorosos, a banda defende a tolerância religiosa, como quando iniciaram a campanha “Coexistence”. Bono hoje é um ícone da luta contra a fome e a miséria no continente africano, apesar de suas medidas serem questionadas por muitos. Em suas últimas ações, a banda participou da gravação de um álbum de covers de John Lennon pela Anistia Internacional, para chamar a atenção da mídia para a crise em Darfur. >>>

Discografia

Boy

October

War

Under a Blood Red Sky

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09.

01. Gloria 02. I Fall Down 03. I Threw A Brick Through A Window 04. Rejoice 05. Fire 06. Tomorrow 07. October 08. With a Shout (Jerusalem) 09. Stranger in a Strange Land 10. Scarlet 11. Is That All?

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10.

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08.

(1980) I Will Follow Twilight An Cat Dubh Into The Heart Out Of Control Stories For Boys The Ocean A Day Without Me Another Time, Another Place 10. The Electric Co. 11. Shadows and Tall Trees

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(1981)

(1983) Sunday Bloody Sunday Seconds New Year’s Day Like A Song Drowning Man The Refugee Two Hearts Beat As One Red Light Surrender 40

(1983)

Sunday Bloody Sunday I Will Follow Gloria 11 O’Clock Tick Tock New Year’s Day Party Girl 40 The Electric Co.


Foto: divulgação

AO Vivo A turnê Kiss The Future do álbum no Lines On The Horizon traz um novo conceito de espetáculo, onde o público cerca a banda em 360º

The Unforgatable Fire

The Joshua Tree

Rattle A nd Hum

01. A Sort Of Homecoming 02. Pride (In The Name Of Love) 03. Wire 04. The Unforgettable Fire 05. Promenade 06. 4th Of July 07. Bad 08. Indian Summer Sky 09. Elvis Presley And America 10. MLK

01. Where The Streets Have No Name 02. I Still Haven’t Found What I’m Looking For 03. With Or Without You 04. Bullet The Blue Sky 05. Running To Stand Still 06. Red Hill Mining Town 07. In God’s Country 08. Trip Through Your Wires 09. One Tree Hill 10. Exit 11. Mothers of the Disappeared

01. 02. 03. I’m 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17.

(1984)

(1987)

(1988)

Achtung Baby (1991)

Helter Skelter 01. Zoo Station Van Diemen’s Land 02. Even Better Than I Still Haven’t Found What The Real Thing Looking For 03. One Pride (In The Name Of Love) 04. Until The End Of The World Desire 05. Who’s Gonna Ride Hawkmoon 269 Your Wild Horses Bullet The Blue Sky 06. So Cruel All Along The Watchtower 07. The Fly Silver & Gold 08. Mysterious Ways Freedom For My People 09. Tryin’ to Throw Your Angel Of Harlem Arms Around the World Love Rescue Me 10. Ultraviolet (Light My Way) When Love Comes To Town 11. Acrobat Heartland 12. Love Is Blindness God Part II The Star Spangled Banner Zás! | agosto - setembro 2009 9 All I Want Is You


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U2

Curiosidades O novo álbum “No Line on the Horizon” ilustra bem a competência da banda ao experimentar elementos da música eletrônica, do soul e até da música africana. O disco começou a ser produzido em 2006 e, segundo The Edge, foi inspirado nos trabalhos de Jimmy Page (Led Zeppelin) e Jack White (White Stripes). Preste atenção na inspirada “Moment of Surrender”, onde Bono mostra que continua incrível.

“I Will Follow”, “Tomorrow” e “MoFo” são algumas das canções que Bono escreveu em homenagem a mãe, que falaceu quando ele tinha apenas 14 anos. Experimente virar a capa do álbum Pop em 90 graus, no sentido horário, o olho do baterista lembra o logotipo da Playboy, alguns acreditam que seja uma referência à faixa “The Playboy Mansions” presente no disco

No Palco A última vez que os caras estiveram no Brasil foi em 2006, pela “Vertigo Tour”, onde realizaram dois shows no estádio do Morumbi, sendo que o primeiro deles foi mostrado pela TV Globo para todo Brasil. A turnê “Kiss The Future”, do novo disco “No Line on the Horizon”, já começou e a banda deve passar pelo Brasil, pela quarta vez, no final de 2010. O palco foi desenhado num modelo em que o público cercará a banda em 360 graus. Todos os shows serão feitos em estádios e segundo o guitarrista The Edge: “É difícil fazer algo que seja realmente diferente, mas nós conseguimos, eu acho, com essa turnê. O que faremos com essa produção nunca foi visto por ninguém e é incrível poder dizer isso”.

Durante a turnê pelos Estados Unidos do disco The Joshua Tree, a banda de abertura faltou na apresentação. O grupo não teve dúvida, se disfarçou com barbas postiças e foi ao palco para se apresentar como a banda country Dalton Brothers

Discografia

Zooropa

Pop

(1993)

(1997)

01. 02. 03. 04. 05.

01. Discotheque 02. Do You Feel Loved 03. Mofo 04. If God Will Send His Angels 05. Staring At The Sun 06. Last Night On Earth 07. Gone 08. Miami 09. The Playboy Mansion 10. If You Wear That Velvet Dress 11. Please 12. Wake Up Dead Man

06. 07. 08. 09. 10.

Zooropa Babyface Numb Lemon Stay (Faraway, So Close!) Daddy’s Gonna Pay For Your Crashed Car Some Days Are Better Than Others The First Time Dirty Day The Wanderer

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All That You Can´t Leave Behind (2001)

01. Beautiful Day 02. Stuck In A Moment You Can’t Get Out Of 03. Elevation 04. Walk On 05. Kite 06. In A Little While 07. Wild Honey 08. Peace On Earth 09. When I Look At The World 10. New York 11. Grace


Foto: divulgação

COEXIST

How to Dismantle An Atomic Bomb (2004)

01. Vertigo 02. Miracle Drug 03. Sometimes You Can’t Make it On Your Own 04. Love And Peace Or Else 05. City Of Blinding Lights 06. All Because Of You 07. A Man and A Woman 08. Crumbs From Your Table 09. One Step Closer 10. Orignal Of The Species 11. Yahweh

Apesar de serem católicos fervorosos, a banda defende a comunhão entre as diferentes religiões

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ão

fotos divulgaç

U2 em sua melhor forma

No Line On The Horizon (U2)

The Horizon 01. No Line On t 02. Magnificen Surrender 03. Moment of ller Ca n ow 04. Unkn If I Don’t Go y az Cr Go l I’l 05. Crazy Tonight Boots 06. Get On Your medy 07. Stand Up Co Born g in 08. Fez -- Be ow Sn As 09. White 10. Breathe Lebanon 11. Cedars Of

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Depois de quase cinco anos sem gravar um disco de estúdio, a banda volta com tudo com No Lines on The Horizon. O álbum, que contém 11 faixas, aparece novamente como uma agradável surpresa para os fãs. A mistura de estilos e gêneros é perceptível logo de cara, e de acordo com Bono, as musicas trazem temas do que têm acontecido no mundo nos últimos tempos. Músicas como “Magnificent” e “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight” se tornaram hits imediatos, e já ganharam videoclipe. “Momento of Surrender” emociona com a paixão de Bono nos vocais e uma guitarra com muito feeling de The Edge. “Cedars of Lebanon” é praticamente o relato do turbilhão de sentimentos de um soldado na guerra.

Além das inovações musicais, o álbum foi lançado juntamente com o filme “Linear”, dirigido por Anton Corbijn. Ao tentar explicar o conceito do projeto, a banda diz que isso não se trata de um grande videoclipe, nem de simplesmente um filme, mas de uma nova forma de se escutar um disco, conectando imagem com som. O filme conta a história de um policial francês cansado de sua vida, que ateia fogo em sua moto de trabalho, e decide fazer uma viagem pela costa da França até a Itália para encontrar sua namorada Trípoli. A trilha sonora do filme é composta por 11 faixas, sendo dez delas de No Lines on The Horizon, mais uma faixa que foi excluída do disco, que se chama “Winter”.


Perfil lifreP

o

lgaçã

: divu

Fotos

Adam Clayton O baixista nasceu no dia 13 de março de 1960, em Chinnor, na Inglaterra. Ainda jovem se mudou com a família para a Irlanda e foi parar no mesmo colégio de The Edge. Adam nunca estudou música.

Bono Vox (Paul David Hewson) O líder da banda irlandesa é um dos vocalistas mais versáteis da atualidade, nascido no dia 10 de Maio de 1960, em Dublin, na Irlanda, é um símbolo da luta contra a pobreza no mundo. Em 2005, foi indicado ao Nobel da Paz. Seu apelido “Bono Vox”, é traduzido como boa voz, mas significa literalmente “a voz do homem bom”.

The Edge (David Howell Evans) O guitarrista do U2, nasceu no dia 8 de agosto de 1961, em Essex, Inglaterra. Começou a estudar guitarra em 1970 e ganhou sua primeira Gibson X-Plorer em 1976. Mudou-se com a família para Irlanda com apenas um ano de idade. Também em 1976, responde ao aviso que Larry Mullen Jr. colou no mural e forma a banda Feedback.

Larry Mullen Jr. O baterista da banda nasceu no dia 31 de outubro de 1961 em Artane, na Irlanda. Foi ele quem colou, em 1976, um aviso no mural da Mount Temple High School procurando pessoas para formar uma banda. Larry é fã de Elvis Presley.

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Lançamentos CDs

Foto: divulgação

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Bons Tempo s Sempre Volt a

(Luiza Po ssi)

01. Vou Adiante 02. Tudo Ce 03. Queix rto o Caído 04. Toda Vez 05. Eu E spero 06. Pode m 07. Canta e Dar r 08. Minh aM 09. Pipoca ãe C 10. Agora ontemporânea É Tarde 11. Ao M eu Redor 12. De G raça 13. Paisa gem 14. Eu E spero (A cústica) 15. Regis tro 16. Desc ulpe Bab y (Ao Viv o)

Luiza Possi demonstra amadurecimento

Por Artur Guimaráes | Pode parecer esquisito o que você vai ler a seguir, mas, sim, eu gostei do disco da Luiza Possi. Ta certo que chega um ponto de “Bons Tempos Sempre Voltam” em que a impressão é de que as músicas são muito parecidas, mas, a banda é boa e a Luiza é muito talentosa. É o quinto trabalho da 14 Zás! | agosto - setembro 2009

cantora e, possui seis músicas de sua autoria. O novo disco é bem intimista, em algumas músicas se destacam voz e violão, e é ai que Luiza pode mostrar a que veio. A verdade é que a cantora tem uma voz muito gostosa de ouvir e que as canções do disco são bacanas. Destaque para “Agora Já é Tarde”, “Ao Meu Redor” e “Cantar”, onde a Luiza transborda emoção.


Kiko Loureiro explode miolos em “Fullblast” Por Artur Guimaráes | Mais uma vez o guitarrista do Angra mostra todo seu virtuosismo em “Fullblast”, seu novo CD instrumental. Kiko Loureiro deixa mais que claro que não deve em nada para os gringos. Pegada, velocidade, técnica e criatividade, rolam soltas pelo disco, seu 3º lançamento solo (antes disso o guitarrista lançou “No Gravity” e “Universo Inverso”). “Headstrong” abre o álbum com uma pitada de tudo que se ouvirá a seguir: bends firmes, riffs bacanas, belíssimos solos com wha-wha. Dá até pra imaginar os fãs mais malucos gastando horas e horas tentando, sem sucesso, reproduzir os sons da fantástica “Cutting Edge”. O estudioso Kiko não deixa de lado elementos da música brasileira nas bacanas “Se Entrega, Corisco!” e “Mundo Verde”. O guitarrista segura a mão nas músicas “A Clairvoyance”, “Whispering” e “Pura Vida”, e mostra que lento é tão bom quanto ao fritar o instrumento. Em “As It Is, Infinite”, faixa que fecha o disco, Kiko larga a guitarra e mostra que arrebenta no violão de nylon. Em “Fullblast” Kiko demostra amadurecimento musical em gravações inspiradas. Só é uma pena que certamente esse disco vai ser mais ouvido no Japão do que aqui, e que a mulecada “Guitar Hero” cultue a fraca “Dragon Force” com tantos guitarristas como Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt e Edu Ardanuy, arrebentando por aqui.

Fullblast

(Kiko Loureiro) 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12.

Headstrong Desperado Cutting Edge Excuse Me Se Entrega, Corisco! A Clairvoyance Corrosive Voices Whispering Outrageous Mundo Verde Pura Vida As It Is, Infinite Foto: divulgação

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Lançamentos CDs

Foto: divulgação

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Ben Harper White Lies for Dark Times (Ben Harper and Relentless7) 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11.

Number With no Name Up to You Now Shimmer & Shine Lay There & Hate Me Why Must You Always Dress in Black Skin Thin Fly One Time Keep It Together (So I Can Fall Apart) Boots Like These The World Suicide Faithfully Remain

encarna Lenny Kravitz em novo álbum

Por Artur Guimaráes | O novo CD de Ben Harper começa bem, mas logo dá a impressão de que o músico tenta encarnar Kravitz. Pode parecer um elogio, mas na verdade não é. Harper encarna um Kravitz com azia e pouco inspirado. Não que a galera do Relentless7 mande mal, pelo contrário, mas o CD “White Lies For Dark Times” termina e alguma coisa parece que não se encaixa. O disco tem seus melhores momentos no refrão melado e na bateria bacana da acelerada “Shimmer & Shine”, na levada blues de “Why Must You Always Dress in Black”, na poderosa - aqui vocês vão concordar sobre a comparação com Lenny Karavitz - “Keep It Togheter (So I Can Fall Apart)” e o melhor fica mesmo para a balada intimista “Skin Thin”, voz e violão de um jeito que só Harper sabe fazer. Mesmo assim, Harper sempre surpreende ao vivo. Quem sabe ele não compense com sua energia a música pouco inspirada.

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Stratovarius

Depois da tumultuada saida de Timo Tolkki, banda filandesa lança “Polaris” Por Artur Guimaráes |

varius Strato is) (Solar

Foto: divulgação

own 01. Deep Unkn ar St g 02. Fallin thing 03. King Of No 04. Blind s 05. Winter Skie Today 06. Forever Is Go 07. Higher We Precious 08. Somehow sk ion Suite I: Du 09. Emancipat wn Da : II ite su n io 10. Emancipat ll’ ntains Fa 11. When Mou

Chega a ser louvável ver a banda seguir tentando, apesar de não mostrar nada bacana há muito tempo. Tretados com o ex-guitarrista Timo Tolkki, agora líder da recente “Revolution Renaissance”, o Stratovarius tenta resgatar a essência dos tempos de “Visions” e “Episode”. Mais incrível é o fato de em menos de um ano a banda recrutar o guitarrista Matias Kupiainen, se trancar em um casebre e partir do zero até o resultado final de “Polaris”. O próprio vocalista da banda finlandesa, Timo Kotipelto, assumiu as dificuldades enfrentadas pelo grupo, “foi um milagre termos sido capazes de fazer este álbum, (...) um ano atrás nós não tínhamos uma banda. Não tínhamos um guitarrista, não tínhamos nenhuma música, nós não tínhamos um futuro”, declarou ao site Metal Insider. O disco começa bem com a “Deep Unknown” e suas dobras entre teclado e guitarra características dos finlandeses. Segue com as boas “Falling Star”, “King of Nothing” e “Blind”. Destaque para a melodia gruda na cuca e para os solos de “Higher We Go”, cantada do jeito que Kotipelto gosta. Apesar de não ser um disco incrível, ainda é Stratovarius, é sem dúvida nenhuma o novo guitarrista deu conta do recado e nem mesmo os fãs mais xiitas poderão torcer o nariz. Apesar disso, quem surpreende mesmo é o tecladista Jens Johansson, antes ofuscado pelo excêntrico Timo Tolkki, que pôde mostrar seu talento. E, talvez, esse seja o principal motivo pelo qual o álbum mereça ser ouvido.

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Lançamentos CDs

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y

dreamtheater Nem prog, nem metal, “Black Clouds & Silver Linings”, fica no meio termo e divide opinião de fãs

Fotos: divulgação

Black Clouds ings & SailmveTrheLain ter) (Dre

ber are to Remem 01. A Nightm e ag ss Pa 02. A Rite of 03. Wither ss tered Fortre 04. The Shat t X. Restrain XI. Receive ble XII.Responsi of Times st Be e 05. Th t of Tuscany un 06. The Co

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Por Artur Guimaráes |

M

uito prog para os fãns de metal, muito metal para os fãs de prog. É assim que o baterista Mike Portnoy define o Dream Theater ao lançar o décimo álbum da carreira. “Black Clouds & Silver Linings” traz o que a banda tem de melhor, guitarras e teclados pegando fogo, linhas de bateria e baixo inexplicáveis e o vocal, as vezes chato, as vezes genial, de James LaBrie. Sem dúvida o melhor disco desde o espetacular “Scenes From a Memory”. Agora na Roadrunner, tradicional selo de heavy metal, o Dream Theater já mostra a que veio na arrasadora “Nightmare to Remember”, 14 minutos pra deixar qualquer baterista alucinado. Aos 7 minutos e 36 segundos da mesma faixa, John Petrucci e Jordan Rudess, guitarrista e tecladista respectivamente, mostram o que é virtuosismo de verdade para a garotada que acha que o Dragon Force é uma banda sensacional. Na ainda mais longa “The Count of Tuscany” (19 minutos) a banda pira e resgata os bons tempos de “Metropolis” misturado com o que deu certo no disco “Train of Tought”. “A Rite of Passage”, primeiro single do álbum, começa com o nervosismo do Pantera, mas logo, melodia e harmonia se unem de volta ao som característico do DT, se é que dá pra falar que existe um som característico de uma banda que já experimentou de tudo ao longo de mais de 20 anos de estrada. Destaque também para a lenta “Whiter”, com melodia pegajosa e belos vocais de LaBrie. Como sempre a banda surpreende quando já não se espera mais nada de novo. Ao lado de Symphony X, o Dream Theater é a banda mais criativa das últimas décadas de prog, metal, ou seja lá como Mike Portnoy prefira definir.

Zás! Recomenda

Images and Words

1. Pull Me Under 2. Another Day 3. Take The Time 4. Surrounded 5. Metropolis - Part I - The Miracle And The Sleeper 6. Under A Glass Moon 7. Wait For Sleep 8. Learning To Live

Falling Into Infinity) 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11.

New Millenium You Not Me Peruvian Skies Hollow Years Burning My Soul Hell’s Kitchen Lines in the Sand Take Away My Pain Just Let Me Breathe Anna Lee Trial of Tears

Metropolis PT.2: Scenes From a Memory 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07.

Scene Scene Scene Scene Scene Scene Scene

One: Regression Two: Part I. Overture 1928 Two: Part II. Strange Deja Vu Three: Part I. Through My Words Three: Part II. Fatal Tragedy Four: Beyond This Life Five: Through Her Eyes

Ato 08. 09. 10. 11. 12.

dois Scene Six: Home Scene Seven: Part I. The Dance of Eternity Scene Seven: Part II. One Last Time Scene Spirit Carries Zás! Eight: | agosto Zás!The |-novembro setembro 2009 2008 On19 Scene Nine: Finally Free


Lançamentos CDs

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Bom samba na

Cabeça Por Artur Guimaráes |

A

primeira coisa que passa na cabeça quando o CD de Marcos Sacramento termina é: o que falta para o grande público abraçar a beleza do samba do músico carioca? Nenhuma resposta me ocorre, apenas a decepção de ainda me deparar com música de qualidade questionável presente na grande mídia. Reverencio Ruy Castro e concordo com o que disse “acho que Marcos Sacramento é um dos segredos mais bem guardados da MPB”. As belas canções do disco misturam a competência dos vocais de Marcos com a harmonia precisa dos violões de Zé Paulo Becker, Luis Flavio Alcofra (violões de 6) e Rogério Caetano (violão de 7 cordas). Destaque para as canções inéditas, entre elas a canção que abre e dá nome ao álbum “Na Cabeça”, que o músico fez em parceria com Luiz Flavio Alcofra, e “Pavio”, outra canção de Luiz, com letra de Sergio Natureza, onde Marcos canta com ternura as indignações com os problemas do Rio. Além das inéditas, Marcos consegue a proeza de revisitar, com maestria, grandes clássicos do samba. O disco traz as sensacionais “Último Desejo”, de Noel; “Sim”, de Cartola; “Minha Palhoça”, de J. Cascata, e por fim o som arrasador dos violões em “Rosa”, de Chico Buarque. A verdade é que Marcos é memorável, assisti-lo ao vivo é uma experiência inacreditável. O que me intriga agora é o seguinte, como vou conseguir dormir com esse samba todo na cabeça?

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Marcos Sacramento lança um dos melhores discos de samba do ano; melodias precisas ao som de três violões


Fotos: edu monteiro | divulgação

Na CoasbSeaça cramento) (Marc

ça 01. Na cabe ba m sa m U 02. 03. Pavio lhoça 04. Minha pa do mar iro ne io is 05. Pr mbém ta o 06. Dia sant jo se de o m lti Ú 07. 08. Morena 09. Calúnia quero mais 10. Canto de 11. Sim 12. A Rosa

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Lanรงamentos CDs

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Dave Matthews Band homenageia LeRoi

Moore

o

Fotos: divulgaçã

Por Artur Guimaráes |

O

novo álbum da Dave Matthews Band, “Big Whiskey & The Groogrux King”, é um tributo ao saxofonista LeRoi Moore, que morreu em um acidente de moto no final de 2008, logo depois que a banda entrou em estúdio para gravar o disco. “GrooGrux” é referência ao apelido dado ao saxofonista, desenhado na capa pelo próprio Dave Matthews. No novo álbum o grupo dosa com maestria uma parada experimental misturada com o pop-elétrico característico da banda.

Big Whiskey & ogruxBaKndin) g The GMro atthews (Dave

Like A Monkey 01. Shake Me Way It Is e 02. Funny Th d e Hands Of Go Th In g in Ly . 03 Am I 04. Why 05. Dive In 06. Spaceman 07. Squirm 08. Alligator Pie 09. Seven 10. Time Bomb 11. Baby Blue 12. You And Me

Um belo solo do saxofista pode ser ouvido em “Grux”, faixa que abre o álbum. Logo depois vem a cheia de energia “Shake Me Like a Monkey”. O disco tem bons momentos em “Lying in the Hands of Gods”, homenagem a LeRoi e na “Why I Am”, que tem bem a cara da banda. Considerado pela Billboard o melhor CD da banda, e pela revista Rolling Stone “mais pesado musicalmente e emocionalmente”, o álbum é um belo tributo onde o grupo expressou com sabedoria a dor da perda de um amigo querido. E, apesar do tom triste de certas canções, o álbum também fala de amor, alegria e superação. Um exemplo de como encarar as curvas no caminho sem perder a essência em tudo aquilo que carregamos no coração.

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IrmĂŁos Coen

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Duas cabeças pensam melhor do que uma Joel e Ethan Coen é a dupla a frente de alguns dos filmes mais originais e esquisitos do cinema contemporâneo

fotos: divulgação

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Irmãos Coen

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Por Artur Guimaráes | Tá ai uma dupla que faz valer a velha máxima que diz que duas cabeças pensam melhor do que uma. Joen e Ethan Coen, mais conhecidos como irmãos Coen, já abocanharam diversos prêmios em tudo que é festival de cinema pelo mundo e escreveram e dirigiram alguns dos filmes mais esquisitos e geniais do cinema contemporâneo. Suas obras não costumam render grandes bilheterias, mas retratam de forma magnífica a vida de humanos comuns que se desviam em momentos de desespero e vêm suas vidas transformadas por uma série de acasos. Os filmes da dupla possuem alguns dos enredos mais criativos e esquisitos dos últimos tempos, tanto, que é bem comum a película acabar e a gente não entender nada (assista a “O Grande Lebowski”, e tente discordar). Os longasmetragens imprimem um ritmo angustiante, como se uma bomba fosse explodir a qualquer momento. E, o mais bizarro é que as personagens não compartilham dessa ansiedade, parecem não reagir ao destino ine-

vitável. O momento de catarse parece nunca acontecer e a sensação é de: O que eles quiseram dizer? Será que eles quiseram dizer alguma coisa? Qual é a desse filme? Ao final de cada exibição fica difícil expressar de forma precisa a impressão que tivemos de cada obra. Se ficamos chocados com o descaso dos personagens com relação à morte, se nos ofendemos com a violência natural empregada nas obras ou se acabamos comovidos com a má sorte das personagens, que se digladiam antes de sair de uma guerra sem vencedores. O Início Quando ainda eram pequenos, Joel economizou uns trocados e comprou sua primeira câmera. Não demorou muito para recrutar o irmão mais novo para refilmar tudo o que era filme que viam na televisão. As estrelas eram as crianças do bairro, e, entre uma brincadeira e outra, a coisa ficou séria. Em 1983, a dupla atuou como assistente no filme “Evil Dead”, estreia trash do cineasta Sam Raimi (O Homem-Aranha). Um

Filmografia Coen

Gosto de Sangue (1984)

O filme de estreia da dupla foi filmado de forma indepedente e ganhou notoriedade após receber Prêmio no Festival de Sundance. Lento e sangrento, o filme possui o humor negro peculiar dos Coen. Um início e tanto.

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Arizona Nunca Mais (1987)

Nicolas Cage interpreta o ladrão Hi, que acaba se casando com Edwina, a policial que tirava as fotos para fazer o seu fichamento na polícia. Frustados por não conseguirem ter um bebê, o casal resolve raptar uma criança e descobrem que a vida de Pai e Mãe não é nada fácil.

Ajuste Final (1990)

O primeiro filme de época da dupla é ambientado durante a Lei Seca, onde gângsters se digladiam em um filme cheio de reviravoltas, em que aos poucos é revelado o caratér obscuro e violento das personagens. Como todo bom diretor que se preze, um filme sobre gângsters é indispensável.

Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991)

John Turturro interpreta um dramaturgo que, após obter sucesso no teatro, é convidado para escrever roteiros para o cinema. O autor encontra uma industria fria e cruel e sofre de um terrível bloquei criativo, referência aos problemas enfrentados pelos Coen no decorrer de Ajuste Final.


Perfil Joel Coen

Nascimento: 29/11/1954 País de nascimento: Estados Unidos Local de nascimento: Minneapolisl

Ethan Coen

Nascimento: 21/09/1957 País de nascimento: Estados Unidos Local de nascimento: Minneapolis A dupla recebeu 4 Oscars e mais de 50 outros prêmios. Atualmente estão envolvidos nas produções de “Bravura Indômita”, “Gambit”, “Suburbicon”, “True Grit”, “Gambit”, “The Yiddish Policemen’s Union” e em “Hail Caesar”.

Na Roda da Fortuna (1994)

Uma homegem às comédias românticos dos anos 30, o filme tem como protagonista o ator Tim Robbins, que vive um rapaz simples que se muda para a cidade grande carregado de sonhos e esperanças até ser engolido por uma grande corporação corrupta. Destaque para as atuações de Paul Newman e Jennifer Jason Leigh.

Fargo (1996)

ano depois, foi a vez dos irmãos debutarem em “Gosto de Sangue”, que conta a história perturbadora de uma mulher que trai o marido com um de seus empregados. Quando o marido descobre a traição, contrata um detetive inescrupuloso para matar o casal. “Fargo” (1996), outro filme importante da dupla, e que rendeu o Oscar de melhor atriz para Frances McDormand, conta a história de Jerry Lundegaard (William H. Macy), gerente de uma revendedora de automóveis que, para sair do aperto, resolve seqüestrar a própria esposa, filha de um milionário e, como bom filme dos Coen que é, tudo dá errado e a coisa fica cada vez mais feia, com um rastro de sangue pelo caminho. Os cineastas conseguiram a proeza de escrever o papel mais esquisito que Tom Hanks já viveu. Em “Matadores de Velinhas” (2004), filme repleto de sarcasmo e humor-negro, o ator interpreta o professor G.H. Dorr, que aluga um dos quartos da casa de uma senhora evangélica e passa a >>>

Um gerente de uma concessionária de véiculos resolve sequestrar sua própria esposa para arrancar alguns doláres do pai rico da moça. As coisas não saem como o planejado e os bandidos contratados para o sequestro acabam deixando um rastro de sangue por onde passam.

O Grande Lebowski (1999)

Sem dúvida é um dos filmes mais esquisitos da dupla. O jogador de boliche e preguiçoso profissional Jeff Lebowski, interpretado pelo inspirado Jeef Bridges, é confundido com uma pessoa com o mesmo nome que o seu e acaba se envolvendo com bandidos atrapalhados. Destaque para John Goodman, genial na pele de um veterano da Guerra do Vietnã.

E aí, meu Irmão, Cadê Você? (2000)

Repleto de referências a cultura do sul dos Estados Unidos, o filme narra a história de três bandidos que se envolvem em várias roubadas na tentativa de sair da prisão. John Turturro está impagável e George Clooney, e Tim Blake Nelson, támbem fazem bonito. Mais um filme essencial dos Coen.

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Irmãos Coen

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usar o porão do lugar, com a desculpa de usá-lo para os ensaios de sua banda. Tudo não passa de parte de um plano para assaltar um cassino. O caricato professor se veste de forma impecável e cita passagens de Edgar Allan Poe, o que faz com que Hanks chame toda atenção com sua interpretação excêntrica, repleta de tiques nervosos e com direito a corte de cabelo e cavanhaque “sensuais”. Várias figuras aparecem com freqüência nos filmes dos caras, entre elas Frances McDormand, casada com Joel; o competente John Turturro, genial no filme “E aí, meu irmão, cadê você?” (2000); Steve Buscemi, John Goodman, Jon Polito e George Clooney, que até agora, e já foram 3 filmes, só fez papel interpretando sujeitos babacas. No último deles viveu o cafajeste Harry Pfarrer de “Queime Depois de Ler”. Nos extras do mesmo filme, a dupla promete que na próxima parceria escreverá um papel sério para Clooney. Perseguição Implacável Com uma obra tão extensa e diversificada fica

difícil entrar em um consenso quando o assunto é o melhor filme dos Coen. Mas, apesar de não ser meu preferido, “Onde os Fracos Não Tem Vez” (2007), é a produção mais premiada da dupla. No filme, os cineastas transformam o matador Anton Chigurh, interpretado de forma brilhante pelo espanhol Javier Barden, em um verdadeiro mito. Desde o jeito durão e corte de cabelo ridículo até o cilindro de ar comprimido, arma que utiliza para fazer suas vítimas. Chigurh é mostrado como um ser muito distante dos homens reais: sem alma, sem consciência, com um código de conduta difícil de descrever. Llewelyn Moss (Josh Brolin) é outro personagem importante na trama, e, por obra do acaso, vê sua vida transformada por uma maleta com dois milhões de dólares que faz dele a caça do frio Chigurh ao longo do filme. Tommy Lee Jones vive o xerife Ed Tom Bell, que não entende a banalização da violência ao seu redor. Não notou as mudanças no comportamento das pessoas, que deixaram de dizer “senhor” e “senhora” e passaram a pintar os cabelos e fazer furos no nariz. O xerife serve como mediador entre o espec-

Filmografia Coen

O Homem Que Não Estava Lá (2001)

Billy Bob Thornton interpreta um barbeiro que resolve dar uma lição na esposa infiel. Personagens excêntricos e desfechos imprevisíveis. Um típico explemplar Coeniano, onde homens comuns acabam sendo levados a situações incomuns.

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O Amor Custa Caro (2003)

A dupla consgue imprimir suas caracteristicas em uma comédia romântica, quem diria? George Clooney e Catherine ZetaJones protagonizam um filme com a boa intenção de fugir das baboseiras Hollywoodianas previsíveis do gênero. Clooney mais uma vez se mostra a escolha ideal para interpretar personagens canastrões e cafajestes.

Matadores de Velinhas (2004)

Tom Hanks interpreta o personagem mais bizarro de sua carreira na cómedia mais bacana dos irmãos Coen. Um professor une uma equipe de “especialistas” para roubar um cassino. O grupo se instala na casa de uma velinha evangélica com a desculpa de usar o porão (onde constroem um túnel para o cassino) para os ensaios de uma banda gospel erudita

Paris, Te Amo (2006) Os irmãos Coen estão entre os diretores que produziram 18 curtas para formar um filme onde a pluralidade impera devido a visão e tratamento pessoal de cada um dos 20 diretores que tiveram apenas 5 minutos para imprimir suas impressões sobre a cidade do amor.


tador e a perseguição frenética que Chigurh imprime a Llewelyn. Mais do que um faroeste moderno, o filme sem dúvida sintetiza a obra dos irmãos Coen. O Retorno “A Serius Man”, novo filme da dupla, estreará no dia 2 de outubro nos Estados Unidos e no dia 4 de dezembro no Brasil. Por enquanto, foi divulgado que a história ocorre em 1967, onde o professor de física Larry Gopnik vê sua vida desabar (divórcio, emprego por um fio, irmão que vive as suas custas). A dupla agora se prepara para refilmagem de “Bravura Indômita”, filme de faroeste clássico que rendeu o Oscar de Melhor Ator para John Wayne. O filme conta a história de uma adolescente que caça os assassinos de seu pai com a ajuda de um xerife. Diferente do longa de Henry Hathaway, de 1969, que centralizava a história no xerife interpretado por Wayne, os irmãos pretendem ser mais fiéis ao livro de Charles Portis e privilegiar o ponto de vista da menina. A refilmagem ainda não tem a data de estreia confirmada.

Premiações Oscar de Melhor Roteiro Original (Fargo | 1996) Oscar de Melhor Filme (Onde os Fracos Não Têm Vez | 2007) Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (Onde os Fracos Não Têm Vez | 2007) Globo de Ouro de Melhor Roteiro (Onde os Fracos Não Têm Vez | 2007) Palma de Ouro, no Festival de Cannes (Barton Fink | 1991) BAFTA de Melhor Diretor (Fargo | 1996) BAFTA de Melhor Diretor (Onde os Fracos Não Têm Vez | 2007)

Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)

O filme mais premiado da dupla conta a perseguição implacável do sociopata Anton Chigurh ao caçador Llewelyn Moss, que por acaso encontra uma maleta recheada de dólares. Tommy Lee Jones interpreta o xerife Ed Tom Bell, que serve como mediador entre o persiguidor e a presa.

Queime Depois de Ler (2008)

Acidentalmente, um livro escrito por um ex-integrante da CIA, cai nas mãos de Linda e Chad, funcionários de uma academia do suburbio de Whasington. Com o intuito de pagar as cirurgias plásicas da quarentona Linda, a dupla resolve chantagear o ex-agente e a coisa perde o controle.

Bodil de Melhor Filme Americano (Fargo | 1996) Melhor Diretor no Independent Spirit Awards (Gosto de Sangue | 1984) Melhor Diretor no Independent Spirit Awards (Fargo | 1996) Grande Prêmio do Júri, no Sundance Film Festival (Gosto de Sangue | 1984) Zás! | agosto Zás! |-novembro setembro 2009 2008

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Em DVD

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Por Caio Valiengo |

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m 1974, um homem francês chamado Philippe Petit cruzou as Torres Gêmeas do World Trade Center, utilizando somente um cabo de aço e muita audácia. Esta não é somente uma história, mas sim o sonho de um homem que acreditava que nada é impossível, que não conhecia seus limites, que realizou um feito histórico e memorável na história da cidade de Nova Iorque e do mundo todo. Dirigido por James Marsh, O Equilibrista nos mostra toda preparação, planejamento e discussões sobre o projeto que este grande homem teve com seus companheiros para a realização de seu

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objetivo. O documentário reúne relatos de praticamente todos que fizeram parte deste audacioso plano, e quase como num filme policial, nos mostra como este grupo de pessoas conseguiu realizar esta façanha às margens da lei. O entusiasmo da narração de Petit nos leva a uma Nova Iorque onde as Torres Gêmeas não são um fantasma, mas alvo de veneração. Os depoimentos emocionados de seus companheiros são suficientes para que possamos imaginar a cena: um engraçado francês deitado sob um cabo de aço, entre os maiores edifícios do mundo até então construídos, nos provando que nós somos donos de nosso próprio destino e de nossas escolhas.


Man On Wire Gênero: Documentário Duração: 90 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Diretor: James Marsh Elenco: Philippe Petit, Annie Allix, Jean-Louis Blondeau, Ardis Campbell, David Demato, David Forman, David Frank¹, Barry Greenhouse, Aaron Haskell, Jean François Heckel, Paul McGill, Jim Moore, Joel Ney, Alan Welner, Laurence Gates

© Discovery Films, British Broadcasting Corporation, Red Box Films, UK Film Council, Wall to Wall

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Em DVD

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© Canal+, France 2 Cinéma, Studio Canal, Ce Qui Me Meut Motion Pictures, TPS Star, Uni Etoile 4, StudioCanal Image

The Spirit

Minha cidade. Ela está sempre a me esperar. Toda noite solitária, ela está a me esperar. (...) Ela dorme. Depois da meia-noite até o amanhecer, só sombras se movimentam no silêncio.(...) Minha cidade grita. Ela precisa de mim. Ela é minha amante Ela é minha vida. E eu, sou o espírito dela.


The Spirit Gênero: Ação, Drama Duração: 108 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Frank Miller Roteiristas: Frank Miller, Will Eisner Elenco: Jaime King, Gabriel Macht, Dan Gerrity, Arthur the Cat, Kimberly Cox, Brian Lucero, David B. Martin, Larry Reinhardt-Meyer, Frank Miller (2), Eva Mendes, Eric Balfour, Samuel L. Jackson, Louis Lombardi, Scarlett Johansson, Sarah Paulson

Por Artur Guimaráes |

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oloque em um recipiente um visual extraordinário, adicione belas mulheres e uma dúzia de frases de efeito, misture tudo e coloque no forno. Um hora e meia depois, o resultado é The Spirit, primeiro longa-metragem comandado por Frank Miller, sim, o próprio, craque dos quadrinhos responsável por Sin City e 300. No filme, Denny Colt (Gabriel Match) é um policial que volta do mundo dos mortos e passa a combater o crime sem os limites impostos pela lei. Colt é ousado e galanteador, sempre rodeado de mulheres perigosas e sedutoras. Miller criou um detetive mais violento que o original dos quadrinhos, e o representou à sua maneira, com All Star no pé e língua afiada, uma tentativa de modernizar o personagem criado na década de 40. O roteiro é bem modesto, apresentação, conflito e conclusão, e parece sempre preso à estética. Tudo parece girar em torno das belas imagens.

Separados na Infância Fala se o Gabriel Match náo tá a cara do do detetive Máscara do Rá-Tim-Bum

Mesmo assim, o filme carrega a essência, apesar das diferenças estéticas, da história dos gibis, com equilíbrio competente entre sarcasmo e inocência. O filme conta com a presença do veterano Samuel L. Jackson, sensacional na pele do vilão Octopus, e das beldades Eva Mendes e Scarlett Johansson. A adaptação da obra do também quadrinista Will Eisner é divertida, mas não pode ser levada a sério. Repleta de personagens caricatos e adaptações exageradas, o filme deve ser visto como bom entretenimento, o problema é que tem um monte de crítico chato que quer caçar pêlo em ovo pelado. “O diretor errou nisso”, “blasé pra cá, blasé pra lá”. Poxa, o visual é incrivelmente fantástico. É verdade que Miller requentou a fórmula de Sin City, e que as imagens beiram o exibicionismo, mas e daí. The Spirit é mais uma prova de que o cinema nem sempre precisa ser levado tão a sério, e de que as personagens absurdamente exageradas e fora do real são imprescindíveis para levar a linguagem dos quadrinhos para as telonas.

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c i Em n e DVD ma

© Imagine Entertainment, Working Title Films, Studio Canal, Relativity Media

Frost/Nixon Frost / Nixon Orçamento: US$35.000.000 (estimado) Gênero: Biografia, Drama, História Duração: 122 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Ron Howard Roteiro: Peter Morgan Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Kevin Bacon, Matthew Macfadyen, Oliver Platt, Rebecca Hall (1), Toby Jones, Andy Milder, Kate Jennings Grant, Gabriel Jarret, Jim Meskimen, Patty McCormack, Geoffrey Blake, Clint Howard

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Ron

Por Artur Guimarães |

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o dia 9 de agosto de 1974, o então presidente Richard Nixon renuncia ao mandato devido ao envolvimento no escândalo Watergate, considerado o pior incidente na história da democracia norte-americana. Em 1977, Richard Nixon resolve quebrar o silencio e concede uma entrevista para o apresentador britânico David Frost, conhecido pelo seu carisma e fama de mulherengo. O embate entre o apresentador e o político foi de maneira precisa comparado a uma luta de boxe. Antes da entrevista a mídia fazia suas apostas, os competidores se preparavam com garra e na hora do combate utilizaram toda sua técnica e astúcia. Breves pausas para ouvir os comentários dos treinadores, de volta à luta. A entrevista era vista como a oportunidade perfeita para Nixon confessar alguns erros e dar satisfações ao povo americano, o ex-presidente sequer foi a julgamento devido ao perdão presidencial concedido por Gerald Ford. O filme, dirigido pelo competente Ron Howard, reconstrói os eventos como um documentário, com direito a depoimentos que ajudam a contextualizar os acontecimentos. No filme, David Frost assiste a renuncia do presidente e imagina quantos expectadores acompanham aquele momento ao redor do planeta. É então, que surge a idéia da entrevista. Frost viaja aos Estados Unidos e convence Nixon, pela bagatela de 600 mil dólares, a ceder a entrevista. Um acordo rígido é feito e o evento é dividido em quatro encontros de duas horas, sendo que em apenas um deles será permitido falar sobre o escândalo Watergate. Frost contrata uma equipe de pesquisadores para se preparar para o acontecimento. Nixon se mostra confiante nos primeiros encontros e desbanca o apresentador com respostas vagas e divagações. Tudo parece ir bem para o ex-presidente até que na última sessão da entrevista o apresentador David Frost põe a tona novas revelações sobre os escândalos envolvendo o presidente. Nixon perde a pose e se deixa levar pela emoção. No mundo minimizado da TV, os poucos segundos que mostram um close de Nixon devastado e exausto fizeram da entrevista uma das mais importantes na história da televisão norte-americana. Um roteirista embarcou na idéia do filme e propôs um seriado para mostrar as sujeiras que envolvem políticos brasileiros. Após uma rápida pesquisa o roteirista preparou cerca de 142 episódios (o suficiente para 12 temporadas). O projeto só não foi pra frente porque as empresas brasileiras não quiseram apostar em um seriado que prometia ficar por tempo indeterminado no ar, talvez o primeiro capaz de desbancar o folheteen Malhação.

Howard

Cocoon (1985)

A Luta Pela Esperança (2005)

O Código Da Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008 Vinci (2006)

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Gran Em DVD

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Torino

Š Warner Bros., Malpaso Productions, Village Roadshow Pictures, Gerber Pictures, Double Nickel Entertainment, Media Magik Entertainment

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Por Artur Guimarães |

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filme “Gran Torino” reúne diversos elementos recorrentes na obra de Clint Eastwood, só que com um contexto moderno e acessível para o grande público. O estereotipo de homem durão que é transformado pela força da amizade é transportada para um típico subúrbio norte-americano, onde diferentes etnias e culturas encontram dificuldades para conviver. Walt Kowalski (Eastwood) vive um veterano de guerra que passa a viver sozinho após o falecimento de sua esposa. Harry é um velho metódico e durão, carregado de preconceitos e indignado com a degradação do seu bairro, corrompido pela criminalidade, Kowalski se vê incapaz de entender o mundo em que vive. Após a aposentadoria, o veterano se dedica ao seu jardim e a um Gran Torino, carro que mantêm como uma jóia. A vida previsível muda quando o chinês Thao (Bee Vang) é obrigado, pelo primo, a roubar o carro do velho ranzinza. A tentativa fracassa e Kowalski dá a Thao uma segunda chance. Uma amizade improvável acontece e o velho passa a rever antigos preconceitos. A relação com Thao e sua irmã Sue Lor (Ahney Her) amolece o coração do veterano, transformando-o em outro homem. Algumas dos diálogos mais interessantes acontecem na barbearia de Martin, interpretado pelo competente John Carroll Lynch. O filme de Eastwood dialoga a respeito da capacidade do ser humano de se tornar melhor, mesmo depois das cicatrizes impostas pela vida. Mostra que respeito e solidariedade são os caminhos para um mundo mais digno e menos intolerante. As câmeras do diretor exploram as linhas no rosto do protagonista de maneira precisa, acentuando a carga dramática. Eastwood é responsável pela produção e direção do filme rodado em Michigan. Mais uma prova de que o ator/ diretor merece papel de destaque na história do cinema.

Eastwood

Sobre Meninos e Lobos (2003)

Menina de Ouro (2004) Gran Torino Orçamento: US$35.000.000 (estimado)

Roteiristas: Nick Schenk, Dave Johannson

Gênero: Ação, Drama, Suspense

Elenco: Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes, Dreama Walker, Brian Howe, John Carroll Lynch, William Hill (1), Brooke Chia Thao, Chee Thao, Choua Kue, Scott Eastwood (1), Xia Soua Chang

Duração: 116 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Clint Eastwood

A Troca (2008) 37

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fotos: © Fandango, Portobello Pictures, Rai Cinema, Ministero per i Beni e le Attività Culturali, Phoenix Film Investment

Caos Calmo

Em DVD

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Por Caio Valiengo |

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o-produção entre Inglaterra e Itália, o drama Caos Calmo nos mostra o efeito da morte de um ente querido em nosso cotidiano. Pietro Paladini (Nanni Moretti) é um executivo de sucesso que está passando o fim de semana com sua mulher, filha e familiares, em sua casa de praia. Quando uma desconhecida se afoga, ele e seu irmão se esforçam para salvá-la na praia, enquanto isso, sua própria esposa morre em um acidente na casa. Sem saber como encarar a realidade, Pietro tenta se aproximar mais de sua filha Marta (Valeria Golino), e um dia ao levá-la para o colégio, o homem decide esperar a filha em uma praça localizada em frente à escola. Sem perceber, Pietro faz daquela praça seu refúgio, o único lugar onde ele pode fugir dos problemas de seu trabalho, de sua família, e dele mesmo. Pietro começa a observar os personagens da praça, como um velho na varanda, assiste uma bela moça que passeia todos os dias com seu cachorro, o dono de um restaurante, e percebe que ele também faz parte agora deste pequeno universo, ele é o homem que todos os dias lê o jornal na praça e espera a filha sair da escola. É dessa forma que ele combate seu luto, fazendo suas reuniões comerciais na praça, conversando frivolidades com as mães das colegas de sua filha, reclamando do molho de sua massa para o dono do restaurante. Tudo isso um reflexo de sua completa incapacidade de expressar seus sentimentos relacionados à perda de sua esposa. O título do filme é simplesmente perfeito: um turbilhão caótico de sentimentos aprisionados na calmaria de um universo criado pelo próprio Pietro.

Caos Calmo Gênero: Drama, Romance Duração: 105 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Antonello Grimaldi Roteiristas: Sandro Veronesi, Nanni Moretti, Laura Paolucci, Francesco Piccolo Elenco: Nanni Moretti, Valeria Golino, Alessandro Gassman, Isabella Ferrari, Silvio Orlando, Blu Yoshimi¹, Hippolyte Girardot, Roberto Nobile, Alba Rohrwacher, Manuela Morabito, Kasia Smutniak, Beatrice Bruschi, Sara D’Amico, Babak Karimi, Tatiana Lepore

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Š Grosvenor Park Productions, The Bedford Falls Company, Pistachio Pictures

Em DVD

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um ato de

Por Artur Guimaráes |

Liberdade

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cinema há muito tempo retrata a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, filmes onde os judeus são oprimidos e esmagados de forma cruel pelos alemães, em que aceitam passivamente a realidade a que são submetidos e aguardam o fim do caos sustentados apenas pela fé. “Um Ato de Liberdade”, do diretor Edward Zwick é diferente no sentido que mostra um grupo que resolveu lutar. A fé aliou-se ao desejo comum de sobreviver, a comunhão proporcionou uma nova esperança. A película conta a história verídica dos irmãos Bielski, fazendeiros judeus do interior da Bielorrússia, que se refugiaram na floresta para escapar da perseguição alemã depois que seus pais são assassinados. A cada dia novos grupos de judeus conseguiam escapar dos guetos e se unir ao acampamento dos Bielski, onde pessoas de diferentes classes sociais se vêm lado a lado em busca de um interesse comum: a vida. As cenas de ação protagonizadas pelos irmãos Tuvia (Daniel Craig) e Zus (Liev Schreiber) são filmadas de forma previsível e segura pelo diretor, Orçamento: mas dão o tom certo a trama. O mais US$50.000.000 (estimado) bacana no filme é o toque próximo do Gênero: real, na história, seres humanos coAção, Drama, Guerra muns, repletos de defeitos e pecados, Duração: mostram que mesmo na situação ca137 min. ótica sempre aparecerão aqueles que Tipo: só conseguem pensar em si mesmos Longa-metragem / Colorido e no próprio estômago. Em uma das Direção: cenas mais fortes do filme, os judeus, Edward Zwick que não se consideravam assassinos e Roteiristas: ladrões, extravasam, de forma cruel, Clayton Frohman, Edward Zwick, todo seu sofrimento em cima de um Nechama Tec soldado alemão. As tomadas de algumas passagens Elenco: são belíssimas e o diretor conseguiu Daniel Craig, Liev Schreiber, Jamie arrancar boas atuações do elenco. O Bell (1), Alexa Davalos, George que faz com que “Um Ato de LiberdaMacKay, Allan Corduner, Mark Feuerstein, Tomas Arana, Jodhi de” deixe de ser apenas mais um filme May, Kate Fahy, Iddo Goldberg, sobre e o Holocausto.

Defiance

Iben Hjejle, Martin Hancock, Ravil Isyanov, Jacek Koman

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fotos: © Wild Bunch, Telecinco, Section Eight, Estudios Picasso, Laura Bickford Productions, Morena Films

Em DVD

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Che: Part One Orçamento: US$30.000.000 (estimado) Gênero: Biografia, Drama, Guerra Duração: 126 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Steven Soderbergh Roteiristas: Peter Buchman, Ernesto ‘Che’ Guevara Elenco: Benicio Del Toro, Santiago Cabrera, Demián Bichir, Kahlil Mendez, Rodrigo Santoro, Yamil Adorno, Jorge Alberti, Marisé Alvarez, Ricardo Alvarez, Fernando Arroyo, Juan Carlos Arvelo, Jose Caro, Jose Cotte, Vladimir Cruz, Alfredo De Quesada 42 Zás! | agosto novembro - setembro 2008 2009


Steven

Che O Argentino

Sodenbherg

Traffic (2000)

Por Caio Valiengo |

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teven Sodenbherg chama para si a difícil responsabilidade de relatar a vida de um homem que virou ícone, amado e odiado pelo mundo afora. Baseado nos próprios diários de Ernesto “Che” Guevara, o roteiro de Peter Buchman e Benjamin A. van der Veen é no mínimo, excelente. Sodenbergh retrata Che como um homem com um ideal, deixando as romantizações mais comerciais de lado, o que vemos é um líder revolucionário que pode ser julgado como herói ou assassino. O filme, que na verdade possui quatro horas, foi divido em duas partes: Che, o Argentino e Che, Guerrilha. Em O Argentino, vemos os primeiros contatos de Che com Fidel Castro em 1956, o planejamento da guerrilha, a viagem de barco para Cuba, e finalmente as batalhas para a derrubada do governo de Fulgencio Batista. O filme possui uma linha do tempo irregular, saltando entre as batalhas contra o exercito nacional, e o lendário discurso que Che fez em Nova York como porta-voz de Cuba nas Nações Unidas, filmados em preto e branco, exaltando os ideais que Che tinha para toda América Latina. A atuação de Benicio Del Toro como Che é impecável, e o elenco de uma maneira geral não deixa nada a desejar. Este é um filme para todos que desejam conhecer a história das lutas e derrotas de um homem que lutou por um mundo mais humano, e também para entender o nosso próprio continente.

Onze Homens e Um Segredo (2001)

Bubble (2006)

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Nos Cinemas

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Inimigos Públicos Por Artur Guimarães |

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ãos ao alto! Você, pro chão, agora! Agora! Você pode ser um herói morto ou um covarde vivo. Johnny Depp interpreta mais um papel forte no cinema. Dessa vez, o ator vive, em Inimigos Públicos, o personagem Johnny Dillinger, um famoso ladrão de bancos que atraiu admiração da opinião pública por sua ousadia. A história baseada em fatos reais é dirigida por Michael Mann, o mesmo de “Colateral” e “Miami Vice”. No filme, J. Edgar Hoover (Billy Crudup) e o obcecado Charles Makley (Christian Bale), organizam uma caçada frenética pelas ruas de Chicago para captar Dillinger e seus capangas. Chicago dos anos 30 O Estados Unidos sofria o auge da Grande Depressão e Dillinger era romantizado nas páginas dos

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jornais que lhe deram a fama de Robin Hood moderno, pelo fato de que o criminoso roubava apenas os bancos e fazia questão de não tocar no dinheiro dos clientes. A população abraçou a idéia e a fama se tornou inevitável. Os bancos, por sua vez, eram vistos como os grandes culpados pela crise enfrentada pelo país. O filme conta os últimos 14 meses da vida do ladrão, que, junto a Ma Baker, Bonnie e Clayde, fazia parte do grupo apelidado de Inimigos Públicos. O longa-metragem enfatiza a história amorosa do bandido e explora as suas fugas freqüentes da prisão, motivo pelo qual ganhou o apelido de “Jackrabbit”. Dillinger se mostra sempre confiante quanto à ineficácia da policia, que tentou se modernizar ao criar o Bureau de Investigação Federal (FBI), que buscava unificar as operações policiais por todo o país, onde assaltantes comuns davam lugar a praticas criminosas cada vez mais organizadas. Os trajes impecáveis, os cabelos engomados e a trilha sonora competente nos transportam para a cidade


Fotos: © Universal Pictures, DreamWorks SKG, Working Title Films, Studio Canal, Participant Productions, Krasnoff Foster Productions, Participant Media

Public Enemies Orçamento: US$80.000.000 (estimado) Gênero: Biografia, Crime, Drama

Michael

Mann

Duração: 143 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Michael Mann Roteiristas: Ronan Bennett, Michael Mann, Ann Biderman, Bryan Burrough Elenco: Christian Bale, Johnny Depp, Channing Tatum, Emilie de Ravin, Leelee Sobieski, Marion Cotillard, Billy Crudup, Giovanni Ribisi, David Wenham, Stephen Dorff, Rory Cochrane, Lili Taylor, Stephen Lang, Shawn Hatosy, Stephen Graham

de Chicago dos anos 30, onde homens, os de dentro e os de fora da lei, seguem um código de conduta. São leais aos parceiros e justos em relação aos mais fracos. A equipe do Zás contabilizou 8.345 disparos durante a exibição do filme, número que deve desbancar facilmente “Os Intocáveis” e “Os Bons Companheiros”, de Brian De Palma e Martin Scorsese respectivamente. Quem tem dificuldade de chamar a gatinha pra sair, pode se inspirar na cena em que Dillinger conquista Billie Frechette, interpretada por Marion Cotillard, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por “Piaf: Um Hino ao Amor”. Inimigos Públicos é o típico filme em que você torce desesperadamente pelo bandido, mesmo sabendo que inevitavelmente, devido a moral hollywoodiana, o bandido é sempre cobrado pela vida de transgressões. O longa-metragem de Michael Mann é uma grata surpresa entre as diversas promessas fracassadas do cinema em 2009. Adeus, Black Bird!

O Informante (1999)

Colateral (2004)

Miami Vice (2006) Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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Nos Cinemas

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© Canal+, France 2 Cinéma, Studio Canal, Ce Qui Me Meut Motion Pictures, TPS Star, Uni Etoile 4, StudioCanal Image

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Paris Por Caio Valiengo |

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ilme dirigido por Cédric Klapisch (O Albergue Espanhol e As Bonecas Russas), Paris aparece como uma boa opção para quem quer fugir dos filmes hollywoodianos que lotam as salas de cinema. Com uma peculiar sensibilidade, o filme parece ter como protagonista o personagem Pierre (Romain Duris), um dançarino profissional que descobre que sofre de uma doença no coração, que provavelmente o matará caso ele não faça um transplante. Sabendo de sua iminente morte, Pierre passa então a observar de sua sacada os moradores da cidade, e começa a ver o ordinário de forma bela e única. Mas, na verdade, o personagem principal do filme é a própria cidade, com seus vícios e diferentes moradores. De Pierre, emprestamos apenas o olhar, e podemos dizer que ele é o ponto de referência do filme: olhamos para as diferentes vidas e histórias com os olhos de alguém que espera a morte, e como ele, sentimos que pe uma sorte o simples fato de termos nossos pequenos problemas, constrangimentos e perspectivas. É com esta visão que conhecemos diferentes histórias, numa narrativa fragmentada, mas muita bem trabalhada pelo diretor. Entre as tramas que melhor se desenvolvem, estão a de Roland Verneuil (Fabrice Luchini), um professor de História que parece não suportar a felicidade alheia, principalmente a de seu irmão, e que acaba se apaixonando e tendo um caso com uma aluna sua, Laetitia (Mélanie Laurent). Ela por sua vez, representa a beleza e a independência da juventude, e mora em um apartamento em frente ao de Pierre.

Paris Gênero: Comédia, Drama, Romance Duração: 130 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção Cédric Klapisch Roteiro: Cédric Klapisch Elenco: Juliette Binoche, Romain Duris, Fabrice Luchini, Albert Dupontel, François Cluzet, Karin Viard, Gilles Lellouche, Mélanie Laurent, Zinedine Soualem, Julie Ferrier, Olivia Bonamy, Maurice Bénichou, Annelise Hesme, Audrey Marnay, Xavier Robic

Elise (Juliette Binoche), irmã de Pierre, tem três filhos e se muda para o apartamento do irmão para lhe fazer companhia. Marcada por desafetos amorosos, ela acredita que nunca mais se envolverá com ninguém. É dessa forma que os diversos personagens nos são apresentados, a partir de sua rotina, de seus medos e imperfeições, de seus desejos e suas esperanças. Algumas histórias parecem se perder ao longo do filme, mas nos deparamos com um universo de pessoas que têm na cidade o palco de suas vidas: o feirante, o imigrante, o professor, a estudante, a modelo, o arquiteto, a dona de uma padaria, etc. E, é com a simplicidade de alguns fragmentos que podemos perceber a complexidade do viver de cada um deles. Não espere por grandes desfechos, ou pela costumeira “amarração” que vemos em filmes que mostram histórias paralelas, que em certo ponto se encontram, dando sentido à trama no geral. Paris não propõe isso, e alguns personagens não têm ligação nenhuma com Pierre e sua doença terminal. O único ponto em comum que essas diferentes histórias de vida têm é o olhar que você deposita em cada uma delas e, assim como Pierre, pensar: “Eles não sabem a sorte que têm”.

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o d i r Ma

o s a c A r o P

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Por Artur Guimaráes |

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mpressionante como um bom roteiro e um casal improvável podem transformar uma comédia romântica em uma experiência singular. Em Marido Por Acaso, novo filme de Griffin Dunne, Uma Thurman (Kill Bill e Pulp Fiction) vive a Dra. Emma Lloyd, uma radialista respeitada que dá conselhos sentimentais para mulheres. É nessa que o bombeiro Patrick Sullivan vê seu casamento ser cancelado depois que sua pretendente a esposa liga para a Dra. Emma e é aconselhada a romper o compromisso. Sullivan fica desconsolado e com a ajuda de um amigo hacker encontra a forma perfeita de se vingar. Entra nos arquivos do governo e muda o estado civil da doutora sabe tudo. Num clique de um botão Emma Lloyd passa a ser casada, legalmente, com Patrick. O filme rouba boas risadas e Uma Thurman mostra que sóbria é tão engraçada quanto bêbeda. Colin Firth (O Diário de Bridget Jones e Mamma Mia!), interpreta o noivo da doutora, um editor inglês que possui tudo sobre um rígido regime controlado. O típico britânico certinho e previsível. Jeffrey Dean Morgan (Supernatrual e Watchman), por sua vez, é um bombeiro divertido e apaixonado. O filme mostra que quando o assunto é amor, nem mesmo uma especialista, como Emma Lloyd, está sujeita a sentir duvida e medo como qualquer ser humano comum. Humor com boas sacadas e personagens engraçados fazem de Marido Por Acaso uma das melhores comédias românticas de 2009.

Accidental Husband Gênero: Comédia, Romance

Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Griffin Dunne Roteiristas: Mimi Hare, Clare Naylor, Bonnie Sikowitz Elenco: Uma Thurman, Colin Firth, Jeffrey Dean Morgan, Sam Shepard, Lindsay Sloane, Justina Machado, Keir Dullea, Sherman Alpert, Himad Beg, Devika Bhise, James Thomas Bligh, Jay Charan, Sarita Choudhury, Hudson Cooper, Gary Cowling

fotos: © Team Todd, Yari Film Group, Blumhouse Productions

Duração: 109 min.


Nos Cinemas

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© Nouvelles Éditions de Films, Constantin Film Produktion

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O Grupo Baader Meinhof Por Caio Valiengo |

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etratado em uma Alemanha dos anos 70, o filme nos mostra o surgimento do grupo de extrema esquerda RAF (Facção do Exército Vermelho), mais conhecido como Grupo Baader Meinhof. Nas primeiras cenas, assistimos angustiados a um protesto de estudantes contra o xá do Irã, que está de passagem na Alemanha, que não respeita e não liga para o sofrimento da maioria de sua população. A manifestação vira um caos, e os estudantes são perseguidos e espancados pela polícia, até que um deles é morto por um tiro de um policial. Após isso, somos espectadores de uma assembléia de estudantes que discursam de forma inflamada contra o capitalismo, o imperialismo norte-americano, e o Estado policial alemão. Vemos também um líder estudantil ser baleado diversas vezes por um jovem intolerante. É essa a imagem que o diretor Uli Edel quer nos passar nos primeiros momentos do filme: uma juventude que está cansada da barbárie estado-unidense no Vietnã e de seu imperialismo legitimado pelo Estado alemão, inconformados com o consumismo, e todas as formas de dominação da sociedade capitalista. E, é nesse espírito que conhecemos os personagens reais que têm suas histórias contadas ao longo do filme: o radical Andreas Baader (Moritz Bleibtreu) e sua

The Baader Meinhof Complex Orçamento: US$ 20.000.000 (estimado) Gênero: Biografia, Crime, Drama Duração: 150 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Uli Edel Roteiristas: Stefan Aust, Bernd Eichinger Elenco: Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu, Johanna Wokalek, Bruno Ganz, Simon Licht, Jan Josef Liefers, Alexandra Maria Lara, Heino Ferch, Nadja Uhl, Hannah Herzsprung, Niels-Bruno Schmidt, Stipe Erceg, Daniel Lommatzsch, Vinzenz Kiefer, Volker Bruch

namorada Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek), a jornalista de esquerda Ulrike Meinhof (Martina Gedeck), e mais uma porção de jovens insatisfeitos. Acompanhamos então a formação do grupo terrorista Baader Meinhof, cujos membros fizeram um treinamento militar na Jordânia com a Frente Popular de Libertação da Palestina. Segue-se então uma série de assaltos a bancos, ataques contra edifícios militares dos EUA, postos militares e jornais de direita que retratavam uma realidade diferente da vista pelo grupo – tudo sempre justificado pelo combate ao imperialismo e a favor da humanização da sociedade. Paralelo a isso, os membros do RAF vão sendo presos e mortos, até finalmente a prisão dos líderes Andreas, Gudrun e Ulrike, que são levados para uma prisão de segurança máxima. Enquanto eles são levados à um longo julgamento, novas células do grupo surgem e novos atentados são feitos, da explosão de uma embaixada alemã, até o seqüestro de um avião da Lufthansa. Sem sucesso nas trocas, o grupo permanece na prisão, até o momento em que desistem de sua liberdade. O filme é muito bem produzido e vale a pena ser visto por aqueles que não são familiarizados, ou que querem entender melhor os grupos de ativistas dos anos 60 e 70, pacíficos ou violentos, mas todos dividindo objetivos e uma visão de mundo muito similar.

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O Solista The Solist Orçamento: US$60.000.000 (estimado) Gênero: Biografia, Drama, Musical Duração: 109 min. Tipo: Longa-metragem / Colorido Direção: Joe Wright Roteiristas: Susannah Grant e Steve Lopez Elenco: Robert Downey Jr., Jamie Foxx, Catherine Keener, Stephen Root, Tom Hollander, Nelsan Ellis, Angela Featherstone, Justin Martin, Rachael Harris, Lisa Gay Hamilton, David Jean Thomas, Meggan Anderson, Matt Besser, Susane Lee, Hallie Lambert

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Por Artur Guimarães |

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música sem dúvida é uma das formas de expressão mais emocionantes do homem. Ela une pessoas e transforma estados de espírito. O novo trabalho de Joe Wright (Desejo e Reparação) mostra como a música pode transformar a vida de alguém. O filme conta a história verídica de Steve Lopez (Robert Downey Jr.), jornalista do Los Angeles Times que, em busca de uma boa história, constrói uma amizade improvável com o sem-teto Nathaniel Ayers (Jamie Foxx). Ayers é um prodígio musical apaixonado por Beethoven, que desenvolveu esquizofrenia enquanto estudava na Julliard, importante escola de arte de Nova York. A doença impediu o crescimento do músico que largou a carreira e passou a morar na rua. Os dois personagens se encontram quando Lopez é seduzido pela música de Ayers, tocada em um violino velho com apenas duas cordas. A aproximação é inevitável, e o jornalista encontra nas ruas de Los

Angeles a sua nova história. Durante o filme Lopez faz o possível para tirar Ayers da rua e para ajudá-lo a enfrentar a doença, o interessante, porém, é que quem acaba com a vida transformada é o próprio jornalista, tocado pelo talento e simplicidade do músico e pela devastação das ruas de Los Angeles. A cidade é uma das importantes personagens da trama. Em suas ruas, 90 mil desabrigados convivem com o crime e a prostituição em um mundo sem perspectivas e oportunidades. Cenário pouco retratado no cinema hollywoodiano, onde a desigualdade dá a alguns homens a condição de animais. Apesar da história pesada, o filme tem seus momentos engraçados, tudo equalizado de maneira precisa por Joe Wright. Downey e Foxx nos presenteiam com atuações impecáveis, o que faz com que o filme mereça ser visto. “O Solista” é mais um filme baseado em pessoas de verdade que nos faz abrir os olhos para problemas sociais. Um verdadeiro tapa na cara de um mundo repleto de gente egoísta e indiferente aos problemas ao seu redor.

Fotos: © Universal Pictures, DreamWorks SKG, Working Title Films, Studio Canal, Participant Productions, Krasnoff Foster Productions, Participant Media

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40 anos de

Woodstock

Texto: Caio Valiengo | Design: Artur Guimarães | Ilustrações: Daniel Kano

Há quatro décadas, 500 mil pessoas se reuniram para um momento singular da história da música e da contracultura

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Cena do filme Across The Universe

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Foto: divulgação

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Anos e

contracultura

Por Caio Valiengo |

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60

década de 60 foi marcada por grandes acontecimentos no mundo da cultura e da política. Enquanto os EUA e a União Soviética faziam uma corrida armamentista como nunca se viu antes, o mundo ocidental era cada vez mais pressionado e influenciado pelo american way of life, que impunha os valores do Capitalismo com seu consumismo desenfreado, e junto com ele, um esvaziamento e desencantamento das pessoas com o mundo. Durante toda década de 60, os jovens recriavam e reconstruíam sua visão de mundo, contestando os valores tradicionais imposto pela cultura de massa.

Exemplo disso foi o Grupo Beatnik, jovens intelectuais que contestavam as formas de se fazer arte, fugindo de academicismos, contestando o consumismo e a falta de pensamento crítico. No Reino Unido, os Beatles passavam mensagens de paz e amor, e criavam uma legião de fãs pelo mundo todo. Na França, os estudantes, junto com outros setores da sociedade, tomavam as ruas e davam novo sentido a expressão “movimento social”. Na Alemanha dividida do pós-Guerra, se criava o ambiente de opressão necessário para o surgimento de grupos radicais como a Facção do Exército Vermelho. No Brasil, a juventude que se contagiava com os festivais e com o Tropicalismo, viu suas poucas liberdades serem tomadas com a emissão do AI-5 pelo regime militar. >>>

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To Love Somebody (Janis Joplin)

There’s a way, oh everybody say You can do anything, you can do everything, yeah. But what good, what good, Honey, what awfully good can it ever bring ‘cause i ain’t got you, honey, my love, Foto: divulgação

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I said and i can’t find you baby, but i been lookin’ around for you, yeah.


sem entraves

Psicodelismo e muito rock Enquanto a maioria das pessoas olhava para o céu e esperavam que Neil Armstrong pisasse na Lua, John P. Roberts e Joel Rosenman buscavam oportunidades interessantes para investir seu capital. Atendendo a um anuncio feito pela dupla, Michael Lang e Artie Kronfield propuseram a idéia da criação um estúdio de música. Após uma reunião, os quatros acharam

Gozem ntraves Gozem sementeraves

Gozem sem ntraves Gozem sem e raves

nt Gozem sem e Nos EUA, crescia um movimento que marcou essa época: os hippies. Contestando os tabus culturais, morais e estéticos da sociedade ocidental, os hippies defendiam um estilo de vida que negava os valores vigentes na época, como a família, o trabalho e o nacionalismo. Ao invés disso, propunham uma vida com mais contato com a natureza, se distanciando dos grandes centros metropolitanos, onde a família era substituída pela comunidade, e os tabus sexuais eram deixados de lado, permitindo o sexo livre. Algumas correntes do movimento hippie negavam o cristianismo, e se aproximaram de religiões orientais como hinduísmo e budismo. A racionalidade, base do pensamento ocidental, era negada através do uso de drogas alucinógenas. Os hippies promoviam manifestações pacifistas, e se opunham fortemente à Guerra do Vietnã. Devido à uma visão de um mundo sem tabus, suas passeatas abriram margem para discursos que defendiam a liberdade sexual e o homossexualismo, a igualdade de gênero, e o respeito à minorias raciais, principalmente pelos negros, que eram abertamente marginalizados na época. Independente das críticas atribuídas ao movimento hippie, o fato é que eles contribuíram grandemente para o pensamento crítico dos dias de hoje, tentando construir uma visão de mundo mais humana e ambientalmente sustentável.

que seria melhor a promoção de um evento de musica e artes ao ar livre, que foi anunciado como “Uma Exposição Aquariana”. O quarteto alugou uma enorme fazenda na cidade de Ethel, zona rural de Nova Iorque, e os ingressos para o festival passaram a ser vendidos em lojas de discos nas regiões centrais da cidade, e através do correio. 180 mil ingressos foram vendidos antecipadamente, atendendo a expectativa de um festival com aproximadamente 200 mil pessoas, como os organizadores esperavam. O que eles não imaginavam é que no dia 15 de agosto de 1969, primeiro dia do festi-

>>>

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Paz e Amor Paz e Amor Paz e Amor Paz e Amor

Paz e Amor

val, mais de 500 mil pessoas compareceria ao evento. Resultado: um congestionamento jamais visto na Via Expressa do Estado de Nova Iorque, e mais pessoas do que as bilheterias poderiam dar conta, ou seja, as cercas da fazenda foram derrubadas, e um enorme número de pessoas entrou no festival de graça. O festival ocorreu entre os dias 15 e 18 de agosto, e se apresentaram bandas e músicos de grande renome, que até hoje são lembrados como ícones de uma geração, como Janis Joplin, Jimmy Hendrix, The Who, Credence, Joe Cocker e Carlos Santana. Apesar do mau tempo e das chuvas constantes, o público do Woodstock conseguiu criar durante três dias um ambiente de paz, onde os tabus e regras da sociedade foram esquecidos. Apesar de muitos considerarem suas ações sem valor social, os presentes provaram que poderiam fazer o que bem entendessem com seus corpos, de modo que o livre arbítrio fosse uma realidade. A filosofia do sexo e do amor livre era praticada, e o uso de drogas leves e alucinógenos eram feitos sem censura. Momentos marcantes da história da música ocorreram naqueles palcos, como o hino americano interpretado por Hendrix em sua guitarra. Sem se dar conta, os organizadores do evento e as 500 mil pessoas que compareceram a fazenda em Ethel criaram e participaram de um momento singular na história da música e da contracultura. Altamont: a ovelha negra da contracultura Os Rolling Stones foi um dos grupos que recusou o convite de tocar no Woodstock porque planejava fazer uma turnê mais lucrativa e bem sucedida que o evento. E de fato o fizeram, e para comemorar o sucesso, a banda decidiu fazer um show gratuito para seus fãs no final de 69, convidando grandes artistas como Santana e Gratteful Dead. Muitos esperavam que este fosse um festival nos moldes de Woodstock, mas o que realmente aconteceu foi o uso exagerado de ácido e anfetamina, com muita violência e discussões. Quatro pessoas morreram, sendo que uma delas foi esfaqueado por um dos Hell’s Angels, grupo de motoqueiros que foi contratado para fazer a segurança do evento. Para muitos, este triste episódio manchou a história da contracultura e dos movimentos jovens que lutavam por um mundo menos alienado. Porém, mesmo que desastroso, Altamont não conseguiu apagar a marca que o festival de Woodstock deixou na história. >>>

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Persuasion (Santana)

Foto: divulgação

You got persuasion I can’t help myself You got persuasion I can’t help myself Something aboutyou baby Keeps me from goin’ to somebody else Yeah, any way you want Now, now baby You put mein a daze All the time Look whacha got for me baby Like the devil in disguise Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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With a Little Help From My Friends (Joe Cocker)

Yes, I’m certain that it happens all the time What do you see when you turn out the light I can’t tell you but I know it’s mine, Oh, I get by with a little help from my friends Mm, I get high with a little help from my friends Mm, gonna try with a little help from my friends

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Fotos: divulgação


Outras edições Depois do festival de 1969, foram diversas as tentativas de fazer outras edições do evento. Em 1994, foram reunidas 40 bandas em uma fazenda na zona rural de Nova Iorque para comemorar os 25 anos do festival. O público de 250 mil pessoas assistiram aos concertos de bandas como Red Hot Chilli Peppers, Mettalica, Aerosmith, e artistas que se apresentaram na primeira edição, como Carlos Santana e Joe Cocker. Uma outra edição foi realizada em 1999, que acabou não seguindo as palavras de ordem pacifistas defendidas pelo público do Woodstock de 69, o que culminou em violência e muitas brigas.

Nos Cinemas

970) Woo,dumsantoo apcósko(1 festival, foi

Em 1970 ”. tário “Woodstock lançado o documen e h, ig le l Wad Dirigido por Michae nomes como s de an gr r editado po s o filme recebeu trê Martin Scorcese, r ho el “M Oscar: indicações para o ilha Sonora”, Tr r ho el Edição”, “M ria “Melhor e venceu na catego Documentário”. mo o é considerado co Até hoje, o projet filmes sobre um um dos melhores ão , foi lançada a vers concerto. Em 1994 s. minutos adicionai do diretor com 40

Taking Woodstoc k

(2009)

Dirigido por Ang Le e (Brokeback Mou ntain), o filme é baseado no livro de memórias de El liot Tiber, e conta como o rapaz, qu e na época trabalh ava no hotel de seus pais, ajudou a trazer o evento para sua cidade. Tiber, que era o re sponsável pelas lic enças municipais para eventos públ icos, ficou sabend o que o festival teve seu pedido ne gado na cidade viz inha, e conseguiu entrar em contato com os organizado res para que ele ocorresse em sua cidade. Tiber, um homossexual não assumido, se sent ia atraído pela prop osta do festival, e toda a ideologia qu e o permeava. O longa-metragem tem data de estre ia marcada para o dia 15 de janeiro de 2010 no Brasil.

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Curiosidades Pessoas que assistiram 500 mil Pessoas que dizem que foram ao festival 1 milhão Pessoas que não chegaram devido ao trânsito 250 mil Número de disparos para o alto do fazendeiro vizinho que não gostava de rock 13 tiros

Número de mortes 3 confirmadas

Quantidade de nudistas Pelo menos 200 % de consumidores de maconha 90 Quantidade de “Toca Raul” Zero

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o r p

Purple haze are in my brain Lately things don’t seem the same Acting funny but I don’t know why Excuse me while I kiss the sky

Purple haze all around Don’t know if I’m coming up or down Am i happy or in misery? What ever it is that girl putt a spell on me Help me ... help me oh I don’t know Purple haze was all in my eyes Don’t know if it’s day or night You’ve got me blowin’, blowin’ my mind Is it tomorrow or just the end of time Who knows? Help me Yeah Come on know Tell me Tell me

(Jimi Hendrix)

Número de nascimentos durante o concerto Dois

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Purple Haze

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Saramago

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É possível filosofar em português

Por Sersi Bardari

Muito mais do que primeiro escritor em língua portuguesa a ganhar o Nobel de literatura, José Saramago, pela maneira como lê o mundo, é uma voz que merece ser ouvida no cenário da cultura e da política internacional Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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Saramago

Foto: lia costa carvalho

Romances

Terra do Pecado (1947)

Manual de Pintura e Caligrafia (1977)

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Levantando do ChĂŁo (1980)

Memorial do Convento (1982)


J

osé Saramago você já conhece ou, pelo menos, já ouviu falar. É o primeiro, e único até agora, escritor em língua portuguesa a receber o Nobel de Literatura, no ano de 1998. Ele também ganhou o Prêmio Camões, o mais importante reconhecimento literário em nosso idioma. Além disso, na opinião de Harold Bloom, famoso crítico norte-americano, Saramago é “o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje”. Toda essa aclamação talvez justifique o fato de que várias das obras do autor figurem na lista daquelas a serem lidas por quem vai prestar vestibular. Indicações à parte, Saramago é alguém que merece ser lido, escutado e até mesmo estudado. A própria biografia do escritor já é uma verdadeira lição de vida. Nascido em Portugal, numa pequena aldeia do Ribatejo, de nome Azinhaga, teve pais e avós muito pobres. Ainda com dois anos de idade foi morar em Lisboa, onde cresceu. Sem recursos para ingressar em uma universidade, cursou escola técnica e trabalhou como serralheiro mecânico. A paixão pelos livros, no entanto, não foi deixada de lado. À noite, após o trabalho, Saramago frequentava a biblioteca municipal de Lisboa. Lá, entre uma leitura e outra, desenvolveu-

O Ano da Morte de Ricardos Reis (1984)

se sozinho na arte de escrever. Tão aplicados foram seus estudos, que logo se tornou funcionário público, tradutor e jornalista. Em 1947, aos 25 anos de idade, já havia publicado o primeiro romance – Terra do pecado. Em seguida, dedicou-se a escrever crônicas, contos e peças de teatro. A fama como escritor de estilo único e engajado, entretanto, só começaria a despontar a partir de 1980, com o livro Levantado do chão, no qual retrata a vida sofrida de trabalhadores rurais da região do Alentejo. Desde então, passou a produzir um romance atrás do outro, que identificam diferentes fases do modo como ele enxerga a realidade. Em O ano da morte de Ricardo Reis (1984), A jangada de pedra (1986), História do cerco de Lisboa (1989) e O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), Saramago lança dúvidas sobre a interpretação oficial da história. Após esses, seus textos revelam uma nova ótica, sob a qual passa a investigar os rumos da sociedade contemporânea e o comportamento do ser humano ante as rápidas transformações das formas do viver. Nessa linha escreve Ensaio sobre a cegueira (1995), Todos os nomes (1997), A caverna (2001), O homem duplicado (2002), Ensaio sobre a lucidez (2004) e As intermitências da morte (2005). >>>

A Jangada de Pedra (1986)

História do Cerco de Lisboa (1989)

O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991)

Enloucresça Zás! | novembro | fevereiro 2009 2008 Zás! | agosto - setembro 2009

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Saramago

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No livro, A viagem do elefante (2009), Saramago conta a história da viagem de Solimão, elefante dado de presente pelo rei de Portugal D João III ao arquiduque austríaco Maximiliano II, no século XVI. Com essa obra, o escritor parece iniciar nova fase literária, em que leveza e bom humor dão o tom da narrativa. Estilo inovador Os romances de José Saramago, sempre surpreendentes pelo próprio conteúdo, despertam a atenção também pelas técnicas discursivas apresentadas e pela imagem de autor que deles emerge. Na maioria de seus textos é possível encontrar, implícita ou explicitamente, referências à história, à mitologia, às religiões, às artes plásticas, ao cinema e a várias outras formas de expressão artística. Um recurso a que o narrador de Saramago lança mão com bastante freqüência é o da utilização de clichês, ou seja, das frases prontas, dos ditos populares, muitas vezes empregados em circunstâncias completamente novas, diferentes daquelas em que aparecem no cotidiano das pessoas. Com isso, consegue trazer à tona a voz da coletividade e a lógica da consciência social, que passa a se expressar nas entrelinhas do enredo, por meio de uma linguagem figurada, na qual as me-

táforas aparecem em profusão. Algumas características muito marcantes do estilo do autor – e que têm afastado de seus livros os leitores mais apegados às formas narrativas tradicionais – dizem respeito à organização da linguagem. Nos textos de Saramago são encontrados parágrafos e períodos longos, nos quais estão ausentes os sinais de pontuação, tanto aqueles que marcam pausas e finais das orações, quanto os que indicam a emoção de quem faz uso da palavra. A fala das personagens, por exemplo, é introduzida no fluxo do discurso do narrador, marcada apenas pela inicial maiúscula e, muitas vezes, sem o verbo “de dizer” indicativo de quem esteja falando. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 16 de novembro de 1995, Saramago explica o modo como escreve. “No meu processo narrativo, adoto os mecanismos do discurso oral, em que também a pontuação não existe. A fala compõe-se de sons e pausas, nada mais. O leitor dos meus livros deverá ler como se estivesse a ouvir dentro da sua cabeça uma voz dizendo o que está escrito”, aconselha. Outro procedimento bastante utilizado pelo autor diz respeito àquele a que os estudiosos de literatura chamam de “desconstrução narrativa”. O que vem a

Romances

Ensaio Sobre a Cegueira (1995)

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A Bagagem do Viajante (1996)

Cadernos de Lanzarote (1947)

Todos os Nomes (1947)


Prêmios Em 1995, o autor lusitano recebeu o prêmio Camões, distinção máxima oferecida à um autor de língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra Saramago se tornou, em 1998, o primeiro autor (único, até agora) de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel da Literatura Prêmio Internacional Literário Mondello (Palermo), 1992 Prêmio Literário Brancatti (Zafferana/Sicília), 1992 Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (APE), 1993 Prêmio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995

A Caverna (2000)

O Homem Duplicado (2002)

ser isso? É quando quem escreve comenta, dentro do texto, sobre o seu próprio modo de escrever. Saramago deixa claro para o leitor as opções que faz sobre o uso desta ou daquela palavra, as dificuldades que sente quanto à colocação das idéias em uma determinada ordem, como imaginou uma ou outra personagem, entre outras revelações interessantes, que denunciam o pensamento do escritor no exato instante da escrita. Personalidade polêmica Como se não bastasse o reconhecimento literário, o nome de José Saramago também passou a ser associado no mundo todo a temas polêmicos. Ideologicamente falando, a obra do escritor deixa entrever uma voz argumentativa que não pode deixar de ser levada em consideração. Essa voz faz pressupor que, por trás de suas narrativas, esteja alguém cético com relação aos rumos da sociedade, por um lado, mas que, por outro, também acredita na capacidade do ser humano de se reconstruir constantemente. Há nos livros de Saramago um narrador que é, ao mesmo tempo, tenso e lírico; mordaz e terno; irônico e afável. De modo geral, alguns assuntos podem ser apontados como recorrentes na obra do autor. Entre >>>

Ensaio Sobre a Lucidez (2004)

As Intermitências da Morte

(2005)

Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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Saramago

Nos Cinemas Em 2008, o diretor brasileiro Fernando Meirelles adaptou Ensaio Sobre a Cegueira. Uma co-prudução entre Brasil, Japão e Canadá, o filme teve sua cidade fictícia ambientada por fragmentos de Osasco, São Paulo, Toronto e Montevidéu. Muitos diretores haviam tentado adaptar a obra para os cinemas, porém, Saramago se recusava a conceder autorização O autor português aprovou a adaptação e disse que ao ver o filme, teve a mesma sensação de felicidade de quando terminou a obra. A única ressalva levantado pelo escritor foi em relação ao cachorro, dócil e bonitinho demais: “Em uma cidade reduzida ao caos, o cão não poderia ser um cachorrinho”, disse. O filme conta com atores do gabarito de Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover e Gael García Bernal.

Foto: divulgação

Romances

A Viagem do Elefante (2009)

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O Caderno (2009)

esses, estão as relações entre identidade e alteridade, realidade e fantasia, pensamento racional e irracional ou ilógico, ciência e crença; a articulação entre o homem e a terra; a falsa legitimidade do poder do Estado; a luta de classes sociais, a religião como forma de alienação popular; os ideais progressistas contra as forças conservadoras; o papel e a condição da mulher na sociedade; a reflexão sobre a precariedade da vida humana e a eterna busca do homem por uma justificativa e por um sentido para a própria existência. Um dos romances de Saramago que causou bastante estranhamento foi O Evangelho segundo Jesus Cristo, pelas proposições que apresenta de confronto com os dogmas da igreja católica. Também a posição radicalmente comunista do autor e algumas de suas declarações na imprensa sobre assuntos de repercussão internacional provocam muita discussão. Entre essas, são notórias as acusações que faz contra o modo como Israel atua com relação aos palestinos. Outra opinião que causa controvérsias é a defesa que Saramago faz da integração entre Portugal e Espanha. Seja qual for a visão que se tenha das idéias e dos livros de José Saramago, é impossível deixar de reconhecer na vida e na obra desse famoso escritor a história de força e determinação de um homem autodidata que, de serralheiro mecânico, se tornou cidadão do mundo e importante voz no cenário mundial contemporâneo. Saramago prova para todos os falantes de língua portuguesa que é possível filosofar em português.


o n e i c Anun om.br

s.c falaai@revistaza

Zรกs!


Livros

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Resgate

da

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Tradição


Por Caio Valiengo | O escritor moçambicano Mia Couto, um dos grandes nomes da literatura africana contemporânea em língua portuguesa, esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro no começo do mês de Julho para lançar seu novo livro “Antes de Nascer o Mundo”, pela Companhia das Letras. O livro, que recebeu o nome de “Jerusalém” em Portugal, Moçambique e Angola, conta a história de Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, do Tio Aproximado e do serviçal Zacaria. Os cinco têm em sua memória a misteriosa morte da mãe da família, e Silvestre conta à seus companheiros que a desgraça do homem é a mulher, e é precisamente uma bela mulher que entra na vida desses cinco homens, abalando a inércia da vida na savana. Adepto dos neologismos e da escrita inventiva, Mia Couto mistura realidade e fantasia, trazendo sempre muitos elementos da cultura africana, cheios de misticismo e tradições do continente, principalmente de Moçambique, cuja história trágica e poética sempre fazem parte da narrativa de Mia Couto.

Antes de Nascer o Mundo • Autor: Mia Couto • Editora: Ci a. das Letras • Ano: 2009 • Número de páginas: 280

Fotos: divulgação

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Livros

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Mia

Couto

Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra

A Var

Mariano é um jovem universitário que mora na cidade, e deve voltar para sua terra natal, a ilha chamada Luar do Chão, para o enterro do avô, que também se chama Mariano. Mesmo que separadas apenas por um rio, a Ilha e o Continente se apresentam como dois mundos completamente distintos: enquanto o Continente vive uma modernidade dolorosa forjada pelos tantos anos de guerra, a Ilha parece ser um dos últimos locais onde a tradição moçambicana ainda sobrevive. Chegando a ilha, Mariano se depara com hábitos e tradições que até então tinha esquecido, e deve entrar em contato mais uma vez com seu verdadeiro eu. Para resgatar os costumes que estão se perdendo também na ilha, e para cicatrizar antigas feridas e segredos familiares, o avô Mariano, que se encontra num estado de semi-morte, aparece para Marianinho em sonhos e em cartas, e é a partir destes pedidos que a trama se desenvolve, e conhecemos os diferentes personagens que compõe a família do Avô Mariano, e dos habitantes da ilha – todos envoltos em histórias misteriosas, que resgatam em muito tradições africanas, e também alguns horrores da guerra que tentam ser deixados no esquecimento. Mia Couto mais uma vez nos leva para um local onde racionalidade e um universo de espiritualidades se confrontam e se sobrepõem, salienta o crescente distanciamento entre uma elite cultural da cidade e a maioria da população rural. Como reflexo das constantes mudanças vividas pela sociedade moçambicana atual, nos deparamos com uma colcha de retalhos de tradições, costumes, e traços de modernidade herdados de anos de guerra e de contato com o mundo ocidental.

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• Autor: Mia Couto • Editora: Ci a. das Letras • Ano: 2003 • Número de páginas: 264


randa do Frangipani O livro se passa vinte anos após a independência de Moçambique, e nos traz como narrador o carpinteiro Ermelindo Mucanga, que morreu nos primeiros anos da independência, e se vê transformado em “xipoco”, fantasma que não consegue morrer por não ter sido enterrado e velado de acordo com as antigas tradições africanas. Mucanga “vive” embaixo de uma árvore de frangipani, típica de Moçambique, em uma antiga fortaleza colonial, quando descobre que o Governo pretende transformá-lo em herói nacional, para forjar uma nova identidade ao país que recentemente se tornou independente.

Mia

Couto

Para evitar a mentira, Mucanga decide remorrer, e seguindo os conselhos de seu pangolim, um espírito ancestral que tem forma de um animal escamoso, ele reencarna no corpo do inspetor de polícia Izidine Naíta, que de acordo com o animal morrerá em cinco dias. A fortaleza colonial, que se transformou num asilo de idosos, é palco de um crime: mataram o diretor do asilo, Vasto Excelêncio. Por isso se faz necessária a presença de Izidine Naíta, que conduzirá uma investigação para descobrir como o diretor foi assassinado. O livro é divido em capítulos que se intercalam entre o depoimento de um velho do asilo, e a narração de xipoco, que retrata como ele está encarando esta sua nova vida, e como o inspetor de policia reage a cada entrevistado. Os depoimentos são construídos a partir da visão de cada velho, cada qual com sua verdade, baseada em antigas tradições africanas, e também marcadas pela história sangrenta do país. Característica constante nos livros de Mia Couto, a fortaleza isolada do mundo representa um dos últimos lugares onde a tradição vive, e o inspetor, um moçambicano da cidade, deve entrar em contato com este mundo, pois ele está morrendo junto com os velhos do asilo.

o • Autor: Mia Cout Letras s da a. Ci : ra • Edito • Ano: 2007 nas: 152 • Número de pági

Podemos dizer que Mia Couto é um defensor da tradição, mas não da tradição num sentido paralisante, estático, apático, mas uma tradição que dá vida, que revigora, e que como um impulso, dá sentido à identidade de um povo. Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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Livros

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O Incansável Fotos: divulgação

Posts do blog de Saramag o são reunidos em O Cader no Por Caio Valiengo |

“O Caderno” reúne textos do autor lusitano vencedor do prêmio Nobel de Literat ura que foram postados em seu blog entre o períod o de Setembro de 2008 e Março de 2009. Autor de inúmeros romances, Saramago mostra que pode se adaptar às novas tecnologias, e posta diariament e em seu blog, falando de literatura, de política, art e, de sua própria vida, e da morte.

O Caderno

• Autor: José Saramago • Editora: Cia. das Letras • Ano: 2009 • Número de páginas: 224

Em declarações e entrevista s recentes, o autor comenta fenômenos da Inte rnet, como os blogs, e diz que pelo fato de se ter um novo espaço para tal, nunca se escreveu tan to. Porém alerta que as pessoas estão escrevendo despreocupadas com a estética e beleza da grafia. Saramago também comenta o fenômeno que é o Twitter, e a condição de se expressar em apenas 140 caracteres, e afirma que isto é apenas um reflexo par a algo que já conhecíamos, a tendência para o mo nossílabo como forma de comunicação. E mais, diz que de degrau em degrau, desceremos até o grunhido. “O Caderno” é uma boa ref erência para conhecer o processo criativo do aut or, que diz que se inspira em situações do seu cotidia no, e nele podemos ver o Saramago escritor, po lêmico, que olha para a morte como algo iminen te, ligado sempre a cena internacional, ou seja, podem os ver um dos grandes escritores de nossa época. Para ler os escritos diários de Saramago, acesse seu blog em: http://caderno.jo sesaramago.org/

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Livros

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Duplicado O Homem Duplicado José

Saramago

Tertuliano Máximo Afonso é um professor de história de 38 anos que vive infeliz, não vê mais prazer em seu trabalho, não têm recordações felizes (ou talvez nenhuma) de seu antigo casamento, nem seus hobbies os satisfazem mais. Cansado da monotonia de sua rotina, certo dia Máximo Afonso aluga um filme por recomendação de um colega seu, um professor de Matemática, e ao assisti-lo, percebe que um dos contra-regras é muito parecido com ele, na verdade, poderia se dizer que o homem que aparece no filme é uma cópia exata dele. Intrigado com isso, Tertuliano pesquisa mais sobre o ator, e decide alugar todos os filmes em que o contra-regra tem algum papel: e em todos eles a semelhança é inquestionável. Ademais, Tertuliano percebe que a semelhança entre os dois é datada, ou seja, em filmes em que o homem aparece usando uma barba, ele mesmo usava uma na época. E isso se dá para cortes de cabelos, estilos do visual, tudo: o homem inclusive envelhecia junto com Tertuliano. Esse fato transforma a vida de Tertuliano, que está obstinado cada vez mais a em encontrar seu sósia. Até o momento em que ele realmente encontra sua cópia, que se chama Antonio Claro, o que traz sentimentos angustiantes para ele. O desfecho do livro se dá de forma surpreendente.

Saramago • Autor: José s Letras a. da • Editora: Ci 02 20 o: An • páginas: 320 • Número de

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Saramago nos surpreende em cada livro, e em “O homem duplicado” ele aplica um ritmo à sua narrativa que nos tira o fôlego, e dá um quê de thriller para o romance. Trazendo a tona questões de identidade e alteridade, o autor nos faz pensar: o que você faria se existisse alguém exatamente igual à você?


As Intermitências

da Morte

“No dia seguinte ninguém morreu”. É assim que começa a obra de Saramago onde a Morte é a personagem principal. Passada em um país fictício, a história se inicia quando a Morte decide não realizar mais seu trabalho, e as pessoas deste país deixam de morrer, e quando deveria chegar sua hora, elas entram em um estado vegetativo de semi-morte.

José

Saramago

Cheio de ironia, Saramago retrata como as autoridades tradicionais da sociedade moderna respondem a este acontecimento sem precedentes: a posição da Igreja, que se vê em meio a uma nova discussão sobre a vida e morte; o Estado, que passa a praticar políticas publicas para que seus cidadãos se mantenham dentro de suas fronteiras, e ao mesmo tempo, manter boas relações com seus vizinhos; e da própria família, que de repente tem um membro que não morre, e se obrigada a cruzar as fronteiras do país para que seu ente querido finalmente parta. Além disso, nós vemos os impactos que o não morrer causa em diversos setores econômicos da sociedade, como as seguradoras, funerárias e hospitais. Após momentos de intensas discussões feitas pela sociedade sobre o novo fato, e de diversas pitadas sarcásticas do autor, a Morte decide voltar ao seu trabalho, porém, muda seu modus operandis. Ela envia uma carta para uma grande emissora de TV do país, e anuncia que a partir de agora, todas as pessoas que irão morrer no futuro, receberão uma carta com um aviso prévio, e ela terá sete dias para por em dia todas suas responsabilidades e afazeres. Mais uma vez, a resposta da sociedade é pavorosa. Num último momento, a Morte recebe uma carta que retorna ao remetente, e intrigada pela situação, ela decide ir conhecer esta pessoa que deveria morrer em sete dias. Saramago passa então a mostrar um lado mais humano da morte, que como todos nós, possuí seus receios e insatisfações com o mundo. O autor lusitano nos traz um dos temas mais recorrentes na história humana de uma forma inusitada, cômica, e com um olhar crítico de dar inveja.

ramago • Autor: José Sa s Letras da a. Ci : ra • Edito • Ano: 2005 nas: 208 • Número de pági

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Livros

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Testemunhas

da

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China


fotos divu lgação

Testemunhas da China Xue • Autora: Xinran s Letras da a. Ci : ra ito • Ed • Ano: 2009 nas: 482 • Número de pági

Por Caio Valiengo | A jornalista e escritora Xinran tenta em seu novo livro Testemunhas da China: Vozes de uma geração Silenciosa passar para as gerações mais novas e ocidentalizadas a experiências dos mais velhos, aqueles que viram a China moderna ser construída, com todas suas mudanças e feridas abertas pelo governo de Mao Tse-Tung. Conversando com homens e mulheres com mais de 70 anos, a autora resgata relatos de situações vividas por pessoas com diferentes histórias, desde o trabalhador da casa de chá até o geofísico, e cada qual com seu olhar, nos conta o que foi viver na China do começo do século, e principalmente, sobreviver a grandes e difíceis eventos, como as constantes fomes, a invasão japonesa, perseguições políticas, etc. A grande dificuldade da autora foi conseguir depoimentos autênticos e espontâneos, uma vez que a grande maioria dos chineses se sentem receosos em falar abertamente, com medo de que isso possa prejudicar seus familiares e descendentes. Num país da proporção da China, com sua variedade de costumes e culturas, a autora luta por uma sociedade mais aberta, onde as sombras que escurecem a história chinesa se desmanchem.

Sobre a

Autora

Nascida em Pequim em 1958, Xinran Xué se tornou umas das jornalistas mais conhecidas no país, com um programa de rádio que discutia os abusos e diversos tipos de opressão que as mulheres chinesas sofriam. Proibida de publicar seu livro, As boas mulheres da China, que é uma compilação dos relatos de mulheres em seu programa de rádio, Xinran se mudou para Londres, onde conseguiu lançar o livro. A escritora possuía uma coluna no jornal inglês The Guardian, que acabaram por serem publicadas no livro O que os chineses não comem. A jornalista também escreveu Enterro Celestial, e foi destaque na Festa Literária Internacional de Paraty deste ano com seu inédito Testemunhas da China: Vozes de uma geração silenciosa. Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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Teatro

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Mágica Para M Por Artur Guimarães e Caio Valiengo |

P

ara aqueles que pensam que mágica é coisa de criança, o Mágica Para Maiores aparece para acabar com esta idéia. Até os mais céticos ficarão surpresos com a apresentação do trio de mágicos paulistas. Em quase uma hora de show, o MPM (Mágica para Maiores) mostra com muita qualidade truques envolvendo cartas, adivinhação, e até o assustador número de hipnose. O espetáculo é bastante interativo e o público é convidado a participar a todo o momento. O mais bacana da apresentação dirigida por Ozcar Zancópe, que trabalha com mágica há mais de

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40 anos, é a diferença de estilos dos artistas, o que forma um espetáculo que contempla vários tipos de mágica. O carismático Cláudio Henrique é especialista no estilo parlor magic (mágica de palco), e abusa dos números visuais para chamar a atenção da plateia. Felippe Fábbi deixa todos intrigados com seus truques de adivinhação e leitura de pensamento. Já Fernando Ventura, campeão brasileiro de mágica, deixa todo mundo assustado com o truque de hipnose. Todas as apresentações contam com pitadas de humor, e alguns momentos cômicos, como quando o ajudante de palco demonstra todo seu poder de adivinhação em um truque quase que sobrenatural. Brincadeiras a parte, os truques dos mágicos encantam e


Foto: divulgação

A equipe do Zás! conversou com o trio de Mágica Para Maiores que nos contou como foi parar no mundo da mágica

Maiores deixam a todos perplexos. Inclusive a equipe do Zás, que foi para o espetáculo se achando perspicaz e malemolente, prontos para desvendar todos os mistérios do show, saiu de lá desconcertados. Na verdade, é quase impossível sair do espetáculo com um ar cético, porque de uma forma ou outra, todos acabam participando dos truques. Apesar de se tratar de um espetáculo de entretenimento, o trio leva a mágica muito a sério, e a apresentação é fruto de muita dedicação e estudo de cada um dos rapazes. Se você tem curiosidade, ou ainda pensa que mágica se resume a tirar coelhas de uma cartola, não deixe assistir o show Mágica para Maiores. E não se esqueça: nunca jogue cartas com esses caras!

Revista Zás!: Como começaram a trabalhar com mágica, sempre tiveram facilidade? Cláudio Henrique: A mágica é uma paixão que me acompanha desde criança. Com cinco anos de idade já me apresentava nas festas de família com pequenos números (a boa e velha caixa de mágica que os pais dão para os filhos). Com o passar dos anos, aumentei o repertório, comprei uma roupa adequada para as apresentações e montei um show para os amigos. Devido ao sucesso das apresentações comecei a investir na carreira de mágico. Fellipe Fábbi: Comecei por um hobby na época da faculdade e acabou como profissão dois anos após. Fácil dizem que é. Na minha opinião, fácil é fazer truques. Fazer Mágica é bem difícil. Fernando Ventura: Comecei a trabalhar profissionalmente em 1998, sempre assistia na televisão um especial de David Copperfield que passava aos domingos, nunca perdia um. Comecei no ramo infantil e após 2 ou 3 anos comecei meu trabalho corporativo. Não é um mercado fácil de se entrar e quando entra nele o mais difícil é se manter entre os melhores. RZ!: Quais os requisitos básicos para ser um bom mágico? CH: Um bom mágico precisa estudar, participar de congressos e conversar com outros mágicos. Com isso estará sempre atualizado e buscando inspiração para seu show. FF: Nos dias de hoje: curiosidade, auto-didatismo, vontade de querer mostrar algo pela Arte. FV: Estudo, persistência, carisma, dinamismo e principalmente talento. RZ!: Um bom mágico precisa estudar quanto tempo por dia? CH: Não existe uma regra para isso. Mas com certeza quanto mais estudo e ensaio, melhor será o resultado da apresentação. Gosto de comparar o mágico a um pianista. Um pianista pratica uma determinada música durante várias horas ao dia para, posteriormente, apresentá-la ao público por, talvez, dois minutos (“n” horas de >>>

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Teatro

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ensaio para uma apresentação de 2 minutos). Com o mágico deve acontecer o mesmo. FF: 1 hora de estudo já e ½ hora de treino seria o suficiente. Arrisco dizer que 1% dos que se intitulam mágicos nos dias de hoje segue isso à risca. FV: Depende muito de pessoa para pessoa e da área em que pensa atuar. No começo de minha carreira, treinava cerca de 4 horas por dia, hoje com um volume razoável de trabalho ensaio apenas novas mágicas quando necessário.

MPM Da esquerda para direita: Claudio Henrique, Fernando Ventura e Felippe Fábbi

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RZ!: De onde vem inspiração para criar um novo número? CH: A inspiração vem da conversa com os amigos e/ou do desejo de realizar um número. E se eu fizesse...E se ao invés disso....No começo é complicado, as ideias não vem, mas depois elas surgem naturalmente. E é preciso anotar, pois elas podem desaparecer da mesma maneira que apareceram. FF: O que mais me inspira são situações corriqueiras do cotidiano e músicas. FV: Na verdade as idéias não tem momento certo


para aparecer, às vezes assistindo um filme ou um documentário vc percebe que aquela imagem pode virar uma mágica. A maior parte das idéias que tenho curiosamente acontecem quando estou dirigindo meu carro, pois, é um momento onde estou sozinho e me permito literalmente viajar. RZ!: De Qual a reação mais surpreendente que alguém teve na plateia durante uma apresentação? CH: No final do ano passado montamos um show >>>

Fotos: divulgação

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Foto: divulgação

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especial de natal. Uma das mágica que eu apresentava contava a história de como comecei a acreditar em mágica - a narração de como minha mãe me mostrou o que era a mágica. No final do número vi que as pessoas estavam emocionadas e algumas com lágrimas no rosto. FF: Um espectador me dizer ao final de um show que seu dia melhorou bastante após ter visto a apresentação, que seu humor tinha mudado para melhor. FV: Durante um evento corporativo todos estavam preocupados em agradar o presidente da empresa e logo na primeira mágica eu coloquei um baralho nas mãos dele e pedi que pensasse numa carta, disse que imaginasse a carta virando sozinha no meio do baralho. Ele me disse que se isso acontecesse de verdade ele iria embora naquele momento e aconteceu! RZ!: Já aconteceu alguma coisa engraçada ou fora do comum durante uma apresentação? CH: Sim. Coisas engraçadas sempre acontecem. Neste show do MPM que estamos apresentando atualmente, em um dos meus números peço para um espectador vir me ajudar e ao final todos estão dançando macho-man. Isso, com certeza, é fora do comum para uma apresentação de mágica - além de ser engraçado. FF: Ter de parar um show para atender alguém que estava passando mal. FV: Recentemente fui contratado para fazer mágicas no aniversario em um restaurante chique em São Paulo, tinham apenas 6 convidados e era uma surpresa para a aniversariante. Comecei minha apresentação e logo no começo dois seguranças enormes correram para mesa e me pegaram pelo braço me arrastando para fora do restaurante e dizendo que eu não poderia entrar no restaurante para pedir dinheiro. Meu cliente veio em meu socorro e no final deu tudo certo. RZ!: Quais os seus ídolos na mágica e por que? CH: Nacionais: Ozcar Zancopé (nosso diretor) - além de um grande amigo é um grande conhecedor da arte mágica. Ricardo Harada - criador de um dos atos mais bonitos que vi até hoje. Internacionais: Gaetan Bloom - acredito que o mágico mais criativo do mundo. Tommy Wonder - sua filosofia sobre o que é a arte mágica fez com que eu repensasse como atuar. Juan Tamariz - simplesmente um gênio. FF: Eugene Burger e Juan Tamariz. Elevam a Mágica à condição de Arte. FV: Com certeza David Copperfield, foi através das apresentações dele que me interessei pela mágica e ainda hoje é um dos artistas mais completos que conheço.

MPM Casa Espaço Morumbi www.casaespacomorumbi.com.br Rua Vicente Feola, 93 21 e 28 de agosto Bar Fim do Mundo Rua Alfredo Pujol, 403 www.nofimdomundo.com.br 22 de agosto 2, 11, 18 e 25 de setembro 2, 9, 16, 23 e 30 de outubro


A Bela e A Fera

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Foto: luiz caldas | divulgação

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A Bela e A Fera

Espetáculo que ultrapassou 16 milhões de espectadores pelo mundo está em cartaz até novembro no Teatro Abril

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A Bela e A Fera

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Fotos: lu

bril

Local: Teatro A

iz caldas

Serviço

| divulgaç

ís Brigadeiro Lu Endereço: Av. Bela Vista Antônio, 411 – s: Quartas, Dias e Horário s, às 21h; Quintas e Sexta h e 21h; Sábados, às 17 16h e 20h Domingos, às

ão

petáculo: Duração do es rvalo de 20 2h40 (com inte minutos) rtir Ingressos: a pa de R$70,00 530 lugares Capacidade: 1. Até o dia 1º de

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Por Artur Guimarães |

Fotos: luiz caldas | divulgação

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m 1756, Madame de Beumont escreve “A Bela e A Fera”. Em 1930, a obra chega às mãos de Walt Disney. A princípio, as tentativas de transformar o texto em desenho são frustradas. Em 1991, o desenho é finalmente lançado e se torna o único, até agora, a concorrer na categoria de Melhor Filme do Oscar. Em 2009, o musical da Broadway volta a ficar em cartaz no Brasil. Os primeiros acordes começam, o regente Paulo Nogueira comanda a orquestra com energia. As cortinas se abrem para um espetáculo inesquecível. A história, conhecida pela maioria, ganha vida. Nas três horas seguintes, quarenta atores, dentre eles Lissah Martins (Bela), Ricardo Vieira (Fera), Murilo Trajano (Gaston), Marcos Tumura (Lumiere), Rodrigo Miallaret (Maurice) e Jonathas Joba (Dindon) - se revezam como cantores e bailarinos, prendendo a atenção de todos na sala de espetáculos – crianças, adolescentes, adultos e idosos. Todos se deixam levar pela magia do espetáculo. Não sei o que impressiona mais, as vozes impecáveis ou a orquestra comandada por Paulo Nogueira, que sussurra cada sílaba junto com os atores. A verdade é que o musical é incrível. Os cenários são muito bonitos e a as mudanças entre as cenas são imperceptíveis. Quando a Fera luta com Gaston em cima de uma plataforma em uma das cenas finais, é de saltar aos olhos. Até os mais velhos ficaram admirados com a transformação da Fera em príncipe em meio a fumaça e cambalhotas no ar. As coreografias são belíssimas e as pitadas de humor dos personagens Lefou e Lumiere são precisas. Rostos fascinados por todos os lados, e aqui ou ali, a gente encontra alguém cantando junto com os atores. O preço do espetáculo é meio salgado, mas se puder não deixe de ver, se você for estudante dá pra pagar meia-entrada. A peça fica em cartaz até o dia 1º de novembro, no Teatro Abril.

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A Bela e A Fera

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Elenco Completo

Bela (Lissah Martins), Fera (Ricardo Vieira), Lumiere (Marcos Tumura), Gaston (Murilo Trajano), Maurice (Rodrigo Miallaret), Dona Cômoda (Andrezza Massei), Babete (Gianna Pagano), Sra. Potts (Paula Capovilla), Dindon (Jonathas Joba), Roberto Rocha (Lefou), Gianna Pagano (Babette), Andréia Vitfer, Brenda Nadler, César Moura, Daniel Monteiro, Daniele Perez, Daniela Veja, Fernando Belo, Fernando Palazza, Guilherme Ribeiro, Fabiane Bang, Francine Lobo, Helcio Mattos, Jana Amorim,

Foto: luiz caldas | divulgação

Luciana Milano, Marcelo Freire, Mariana Barros, Milena Lopes, Marlei Santos, Mário Américo, Ney Roalla, Nick Vila Maior, Nathalia Mancinelli, Philipe Azevedo, Renata Sampaio, Rodrigo Vicente, Rafael Machado, Vanessa Costa, Vandson Paiva. Zás! Enloucresça | agosto Zás! |-novembro setembro 2008 2009

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Teatro

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Beatles Num Céu de Diamantes Por Caio Valiengo |

J

unte 11 atores/cantores, um piano, um violoncelo e percussão. Coloque todos em um palco sem cenários extravagantes, com poucos objetos cênicos. De trilha sonora, o melhor de Beatles com toques de brasilidade. Isso tudo é Beatles num céu de diamantes. O espetáculo encanta em sua simplicidade, sem falas nem um enredo linear, as músicas imortais de Paul Macrtney e John Lennon nos transportam para lugares distantes, e ao mesmo tempo tão próximos que nos são familiares. Entre medleys e solos, os cantores nos apresentam diversas músicas do quarteto de

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Liverpool em uma variedade de ritmos, como salsa, tango, samba, bossa nova, soul, de um jeito que só os latinos conseguem assimilar. De uma triste despedida à momentos surreais de um sonho, os cantores e cantoras encanam a todo público. É comum você olhar para o lado, e ver várias pessoas cantando junto com o elenco. Ao fim do espetáculo, o que temos na platéia é um mix de sentimentos: para os mais velhos, o saudosismo de uma época que parece ter sido única e nunca mais voltará; já para os mais jovens, podemos perceber um olhar de curiosidade e encanto, revelando uma vontade de ter participado desse fenômeno que foi os Beatles.


Falando Nisso...

Across The Universe Em 2007, a diretora Julie Taymer levou aos cinemas o musical Across The Universe, um retrado dos anos 60 ambientado pelas músicas dos Beatles. O musical trata de temas como a Guerra, a liberdade sexual e a escolha por um estilo de vida alternativo. O filme faz referência a artistas como Jimi Hendrix e Janis Joplin, e conta com a participação de Bono Vox e Joe Cocker.

Fotos: divulgação

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Vik Muniz

fotos: divulgação

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RECRIANDO O INIMAGINร VEL Artista brasileiro conquistou o mundo ao transformar materiais improvรกveis em arte Zรกs! Enloucresรงa | agosto Zรกs! |-novembro |setembro fevereiro 2009 2008

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Vik Muniz

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Por Caio Valiengo e Artur Guimarães |

D Diamantes

esde os primórdios, quando o homem dividia a terra com dinossauros, alienígenas e a Dercy Gonçalves, o ser humano se expressa através da arte. Quem nunca esboçou uns rabiscos durante aquela aula que não tava dando pra ver. O que acontece é que alguns privilegiados conseguem transformar uma tela em branco em desenhos incríveis. Alguns conseguem até fazer arte do lixo, sério. Não acredita? Então procure dar uma olhada no que o brasileiro Vik Muniz anda fazendo por ai. As viagens de Muniz vão desde obras feitas de lixo até quadros de celebridades montados com diamantes. Vik nasceu em São Paulo e começou a desenhar

Vik Muniz utilizou diamantes para reproduzir o retrado de diversar celebridades como Elizabeth Taylor (foto), X e Y. A ideia de luxo e ostentação também é encontrada na série de retratos em que o artista utilizou caviar para composição da obra

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quando se viu incapaz de se expressar quando escrevia. Extremamente visual, o artista se deu bem na área de publicidade, mas suas loucuras começaram mesmo depois de ter sido baleado ao apartar uma briga no Brasil. Pra abafar a treta e não precisar ir à policia Vik recebeu uma grana. Com o dinheiro que ganhou de forma inesperada resolveu ir até Nova York. E não é que ele se deu bem! Encontrou um cenário onde vários artistas começavam as explorar a tecnologia para produzir suas criações. Essa nova forma de ver a arte levou o artista a pesquisar materiais e buscar uma concepção de imagens impossíveis e cheias de significados. Vik Muniz trabalha com a efemeridade de suas obras, por isso fotografa tudo assim que pronto. A plasticidade também é levada em conta, como na co-

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Foto: divulgação

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Lixo Tecnológico

Vik Muniz

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O artista reproduziu o mapa mundi utilizando todo o tipo de lixo tecnológico, como teclados, chips, monitores e outras peças de computador

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Repare que cada país é representado por um tipo e volume diferente de material


leção em que Vik utiliza o mesmo pedaço de massa para esculpir diversas figuras: após a finalização de cada obra, ele a fotografava, a desmanchava, e recomeçava o processo. Do lixo à arte Os materiais utilizados são os mais inusitados, desde os cenários cuja profundidade é construída a partir do acúmulo de fios, até nuvens para os desenhos onde o céu é sua tela de pintura. Além de original, Vik Muniz possui uma história para cada trabalho, como os retratos feitos com açúcar, inspirados pelas crianças que trabalhavam no cultivo de cana no Caribe. O material sempre se comunica com o objeto de seu trabalho: o caviar e os diamantes para os artistas internacionais, os recortes de revista para as celebridades, os mini-soldadinhos de plástico para o rapaz que voltou da guerra, e o lixo para aqueles que são esquecidos na sociedade. Independente da mensagem ou do material utilizado, o fato é que cada obra do artista nos surpreende, e quando percebemos, estamos praticamente com o nariz colado na tela para não perder nenhum dos detalhes das incríveis montagens feitas pelo brasileiro.

Comida Vik utiliza diversos tipos de alimentos em suas coleções, como quando representou o pintor Jackson Pollock com chocolate (veja na página XX), a medusa com espaguete e a Monalisa, de Leonardo Da Vinci, com geléia e creme de amendoim

Fotos: divulgação

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Vik Muniz

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B ri n q u e d o s O artista utiliza miniaturas de soldados de plástico para recriar pessoas comuns

Fotos: divulgação

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Exposições

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Gamepl Fotos: Divulgação

Interatividade movimenta a exposição em cartaz no Itaú Cultural

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Exposições

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Quadro Sonoro

(Carlos Praude, 2008) Crie desenhos com uma caneta eBeam, as propiedades da cor e a área das figuras vão servir de parâmetro para o cálculo que criará sons

Fotos: Divulgação

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Por Caio Valiengo |

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m 1958, um físico que participou da construção da primeira bomba atômica transformou um ponto e duas retas na primeira febre de games na história do homem, o clássico Pong. Desde então, a maioria das pessoas teve em algum momento de sua vida uma relação com um vídeo-game, seja aquele Mega Drive empoeirado, ou o fliperama do barzinho da esquina. É claro que a maioria das crianças e jovens de hoje não fazem idéia do que seja um Super Nintendo ou um Game Boy em pre-

to e branco, e isso se torna óbvio se observarmos a evolução pela qual o mundo dos games passou: hoje a palavra da vez é interatividade. E é neste ponto que a exposição que está rolando no Itaú Cultural até o dia 30 de Agosto explora: o conceito de gameplay, ou seja, a relação entre dois ou mais sistemas, sejam eles humanos (nós, meros mortais), ou artificiais (nesse caso, o próprio videogame). A mostra possui 11 jogos mais atuais, entre eles os populares Mario Kart Wii, Halo 3, LittleBigPlanet e Fifa Street 3, e mais alguns joguinhos bem divertidos, como o Crayon Physic Deluxe, onde você desenha com um giz de cera figuras geométricas >>>

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Serviço · Itaú Cultural · até 30 de Agosto · Gratuito Terça à Sexta, das 10h às 21h Sábado, Domingo e Feriados, das 10h às 19h Av. Paulista, 149 (próximo à estação Brigadeiro do metro)

www.itaucultural.org.br/gameplay/

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Exposições

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para resolver alguns puzzles, e também o Electroplancton, jogo do DS onde você desenha figuras abstratas, e interage com elas, e a partir disso, criando sons correspondentes. Interatividade A mostra também conta com trabalhos selecionados pelo programa Rumos Itaú Cultural Arte Cibernética, como o interessante Kino Arcade Machine, onde o usuário comanda um fliperama que passa o filme russo O Encouraçado Potenkim, e pode remixar sua narrativa em tempo real. Outras atrações são o World Skin, onde o jogador interage com cenas reais de conflitos, tirando fotos e capturando momentos tristes da história do homem. Numa linha mais pacifista, encontramos o Velvet Strike, uma modificação do popular CounterStrike, onde podemos ver mensagens de paz espalhadas pelo jogo.

Destaque para as atrações Quadro Sonoro e Biobody Game. Na primeira, você desenha (ou pixa) em uma telaem branco, e de acordo com seu desenho, uma sequencia musical é criada, dependendo das cores e quantidade de preenchimento da obra. Em Biobody Game, você veste um traje inteligente que faz leituras de seu corpo, e se diverte com uns joguinhos bobinhos. No final, o jogador recebe um relatório com seu desempenho, como nível de ansiedade e capacidade de concentração. Infelizmente, a Equipe do Zás apresentou rendimento insatisfatório em todos os quesitos. A mostra conta também com eventos paralelos, como um simpósio de palestras, um festival de GameMusic (músicas sintetizadas a partir de chips de video-games), um festival de Machinimas (curtasmetragens criados a partir de jogos de video-games), e um GameJam (concurso onde equipes deverão desenvolver um jogo novo em 48 horas).

Foto: divulgação

ByoBodyGame

(Rachel Zuanon, 2009) Vista um traje cibernético e mande ver em jogos que tem seu gameplay alterado pelas leituras que a roupa faz dos seus sinais vitais

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informe publicitário

Esta revista não é a favor da violência, mas confia em Chuck Norris

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Exposição

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Fotos: divulgação

Ocupação

Zé Celso O espaço Itáu Cultural homenageia José Celso Martinez Corrêa, uma das figuras mais importante do teatro nacional Por Artur Guimarães |

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multiartista Zé Celso Martinez Corrêa protagoniza exposição em cartaz no Itaú Cultural. O diretor, autor e ator de teatro tem sua trajetória exposta como um mosaico formado por vídeos, fotos (algumas inéditas) e sons, que fazem com que o expectador submeta-se a diferentes sensações. Tudo escolhido com cuidado e disposto de forma criativa.

Uma ótima oportunidade para estabelecer um dialogo entre artista e publico, de mostrar a importância de personalidades como Zé Celso para movimentar o cenário político e cultural do Brasil. O artista é um dos fundadores do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona (conhecido popularmente como Teatro Oficina), criado em 1958 por alguns alunos de Direito do Largo São Francisco. O grupo teatral ajudou a parir o movimento Tropicalista, que mesclou elementos tradicionais da cultura brasileira com inovações radicais.

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Exposição

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Foto: divulgação

A montagem anárquica de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, encenada em plena ditadura, irritou os militares que incendiaram o palco do Teatro Oficina. Zé Celso é o responsável por algumas das mais importantes montagens teatrais brasileiras: O Rei da Vela (1967), Roda Viva (1968), Ham-let (1993 e Cacilda! (1998), estão entre as mais louváveis. Os ambientes criados para a exposição estão repletos de referências à obra do artista. Se puder passar com calma pela exposição, não deixe de assistir aos vídeos com algumas entrevistas que Zé Celso concedeu. Deixar sua marca na parede também é de lei. A exposição segue até o dia 6 de setembro.

Ocupaçao Zé Celso · Itaú Cultural · até 06 de Setembro · Gratuito Terça à Sexta, das 10h às 21h Sábado, Domingo e Feriados, das 10h às 19h Av. Paulista, 149 (próximo à estação Brigadeiro do metro)

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a r p o d a e c e s r e õ u ç e a s m o s a l e a c d d e n r n i a , v s M a c m i e d r b : b . o e t ã om s n c e . s s g e a z õ t ta s s i e v sug alai@re f

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