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SÃO PAULO, SEXTA-FEIRA, 15 DE MARÇO DE 2019 www.metrojornal.com.br
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Para estudiosos, games não causam massacres Discussão em alta. Pesquisa de Oxford divulgada nesta semana não comprova a relação entre jogos e impulsos violentos nos jovens Uma persistente ideia assombra o mundo dos videogames desde, pelo menos, a virada do século, quando a modalidade alcançou o mesmo patamar do cinema e das séries no campo do entretenimento: a de que jogos de combate físico ou armado estimulam a violência entre os jovens. Casos como o do massacre em Suzano inevitavelmente suscitam a acusação, e dessa vez não tem sido diferente. Mas ocorre que, de acordo com os estudiosos do comportamento humano, esta correlação nunca pôde ser de fato comprovada. Um estudo divulgado nesta semana, o mais completo já realizado, conduzido pelo Oxford Internet Institute, analisou uma amostra representativa de mil britânicos, de 14 e 15 anos. Segundo o
Cenas de Call of Duty, Counter Strike e Mortal Kombat, games praticados pelos autores do massacre | REPRODUÇÃO
pesquisador-chefe Andrew Przybylski declarou ao jornal britânico The Independent: “Apesar do interesse no assunto pelos pais e políticos, a pesquisa não demonstrou que há motivo para preocu-
pação.” Já a co-autora, Netta Weinstein, da Universidade de Cardiff, afirma: “Nossas descobertas sugerem que os vieses de pesquisadores podem ter influenciado estudos anteriores sobre esse assun-
to e distorceram nossa compreensão sobre os efeitos dos videogames.” Psicóloga pela PUC-SP, Ana Luiza Mano, que já deu palestras a respeito, declarou que, na verdade, “nos
Escola abre para dar suporte psicológico para a comunidade A Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, não terá aulas na próxima semana, mas será aberta para acolher professores, alunos e funcionários com atividades livres como oficinas, apoio psicológico e rodas de conversa. De acordo com a especialista em lutos e tragédias do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), Elaine Alves, isso é importante pois a rotina traz segurança. “É importante ter essa questão de que você pode voltar para escola porque a escola está lá, mas também é importante respeitar o tempo certo de cada um”, afirmou em entrevista à Rádio Bandeirantes. Segundo ela, é importante permitir a vivência da dor e do sentimento de perda, que nem sempre é respeitada. “Entender o que eles estão vivendo agora é muito difícil para eles. A ficha vai demorar para cair”, completa a psicóloga. “Não sabem se ficam felizes por sobreviver ou se sentem culpados por isso. É um momento de muitas emoções que vêm a tona.”
Um dia depois
Vídeo causa tumulto entre alunos em Manaus
Homenagem às vítimas no muro da escola | LUIZ CLAUDIO BARBOSA/FUTURA PRESS
Doutor pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e colunista da Rádio BandNews FM, Daniel Barros acredita que para o futuro, mais do que reforçar a segurança das escolas, é importante se preocupar com o comportamento e a relação com os alunos. “Talvez a gente deva colocar menos energia em pensar em detector de me-
tal na porta da escola e mais energia em ver a dinâmica das relações que acontecem lá”, afirmou Barros. Na segunda-feira, a Escola Estadual Raul Brasil receberá apenas professores e funcionários para preparação e apoio psicológico. A partir de terça-feira, a unidade será reaberta para a participação da comunidade nos projetos pedagógicos. METRO COM BAND E BANDNEWS
Estudantes do Instituto de Educação do Amazonas, em Manaus (AM), foram liberados da aula ontem após princípio de pânico que começou quando um aluno compartilhou o vídeo do massacre em Suzano. O jovem teria dito que a mesma coisa poderia ocorrer no colégio e ameaçado colegas e professores. Ele foi levado à delegacia. Também ontem, no Rio de Janeiro (RJ), um aluno de 15 anos foi esfaqueado por outro de 16 durante uma briga em uma escola pública. A vítima passa bem e o agressor foi levado para delegacia após a chegada dos pais. METRO
games você vive muito mais experiências do que assassinatos. Situações que nos ensinam um pouco das mesmas coisas que aprendemos na vida. Certo e errado, justiça e injustiça, perder e
ganhar, poder tentar de novo... não tem como correlacionar. Se a pessoa já tem o potencial violento, ela canaliza isso no jogo, o que seria uma forma de tirar essas energias de dentro de você, de fazer você relaxar.” Beatriz Blanco, professora universitária e produtora de conteúdo sobre games, aprofunda: “A pergunta deveria ser qual a posição dos videogames em uma cultura de glorificação da violência, Jogar FPS (jogos de tiro em primeira pessoa) não lhe torna um assassino, mas que tipo de cenário e contexto está sendo construído ao redor dos games? Onde esses jovens se inserem nele?”. Eis a questão. EDUARDO RIBEIRO
METRO SÃO PAULO
SP oferece indenização de R$ 100 mil às vítimas O governo do estado vai pagar indenização de cerca de R$ 100 mil para as famílias das vítimas dos cinco adolescentes e das duas funcionárias assassinadas pelos dois jovens na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano. O pagamento, porém, está condicionado a uma exigência: a família que aceitar a indenização deverá assinar um documento se comprometendo a não processar o estado no futuro em função da morte. O governador João Doria (PSDB) anunciou ontem que irá oficializar hoje no Diário Oficial a criação de um comitê para acelerar os processos. O grupo será responsável por determinar o valor
exato do benefício – que segundo o governador será de cerca de R$ 100 mil – e encaminhar os pagamentos, que serão feitos em até 30 dias. “Nenhuma ação do governo poderá compensar vidas perdidas, mas em um momento de tamanha dor e tristeza, é fundamental que essas famílias não enfrentem burocracia e processos lentos para terem acesso aos recursos. É hora de solidariedade”, afirmou Doria. O governador disse que a decisão de aceitar a indenização proposta ou acionar o governo do estado na Justiça é voluntária. “Evidentemente, qualquer familiar pode tomar sua decisão. Está no seu direito.” METRO
Doria esteve na escola em Suzano anteontem | HENRIQUE BARRETO/FUTURA PRESS