problemas brasileiros ANO 58 OUT/NOV 2021
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GESTÃO DE RESÍDUOS EVITA DESPERDÍCIOS PLÁSTICO: MUITO ALÉM DA RECICLAGEM ENTREVISTA
Fábio Barbosa “Os jovens estão mudando o padrão de consumo”, afirma executivo
CRISE HÍDRICA
País reaproveita só 1% Falta de políticas públicas não estimula reúso da água
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Sustentabilidade ampliada pr átic as de governanç a e reduç ão de impac tos so cioa mbientais sensibiliz a m a so ciedade e o setor produtivo
A Paisagem Brasileira – Frans Post (1650)
PRESIDENTE Abram Szajman
problemas brasileiros
SUPERINTENDENTE Antonio Carlos Borges
ANO 58 OUT/NOV 2021
# 466
GESTÃO DE RESÍDUOS EVITA DESPERDÍCIOS PLÁSTICO: MUITO ALÉM DA RECICLAGEM ENTREVISTA
Fábio Barbosa
ACESSE O
“Os jovens estão mudando o padrão de consumo”, afirma executivo
CONTEÚDO CRISE HÍDRICA
País reaproveita só 1% Falta de políticas públicas não estimula reúso da água
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REDAÇÃO
Sustentabilidade ampliada
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POR MEIO DO
PUBLICAÇÕES
#466
DIRETOR DE COMUNICAÇÃO INTEGRADA Demian Russo DIRETORA DE CONTEÚDO Elisa Klabunde EDITOR Lucas Mota MTB 46.597/SP EDITOR‑ASSISTENTE Eduardo Ribeiro REPÓRTERES Filipe Lopes e Gabriela Almeida
O desenvolvimento passa a ser
REVISÃO Flávia Marques
sustentável quando conecta
DIRETORES DE ARTE Clara Voegeli e Demian Russo EDITORA DE ARTE Carolina Lusser
a relação entre crescimento
DESIGNERS Alberto Lins, Cintia Funchal, Estêvão Vieira, Jonia Caon e Paula Seco
e responsabilidade social – hoje,
APOIO CULTUR AL
econômico, conservação ambiental
COLABORAM NESTA EDIÇÃO Agência BORI, Cristiane Cortez (Assessoria Técnica), Guilherme Meirelles, Fernando Sacco, José Goldemberg, Karina Fusco, Luiz Maia, Marcus Lopes, Mônica Sodré e Vinícius Mendes
identificada pela sigla ESG. Da
RELAÇÕES PÚBLICAS Maria Izabel Collor de Mello
como uma prerrogativa a empresas e
sensibilização da sociedade, o conceito de crescimento sustentável se coloca
RE ALIZ AÇ ÃO
governos. Neste cenário, a transparência
CAPA E ILUSTRAÇÕES Paula Seco
perante a opinião pública ganha peso
CONSULTORIA DE CONTEÚDO André Rocha
nas tomadas de decisões estratégicas.
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. Sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.
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Temporada de oito entrevistas com estudiosos de todo o mundo sobre o cenário brasileiro
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OUT–NOV 2021 PROBLEMAS BRASILEIROS #466
INOVAÇÃO CONTRA O DESPERDÍCIO A aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010, simbolizou o avanço de uma consciência de sustentabilidade nacional. Desde então, porém, antigos desafios persistem, como fim dos lixões, ampliação dos sistemas de saneamento, expansão da coleta seletiva e estabelecimento de condições econômicas para o crescimento da indústria recicladora.
texto EDUARDO RIBEIRO | ilustração PAULA SECO
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OUT–NOV 2021 PROBLEMAS BRASILEIROS #466
A gestão de resíduos, no Brasil, é um problema complexo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei 12.305, promulgada em 2010), resultado de longo processo de de‑ bate, previa que, em 2014, apenas rejeitos fossem encami‑ nhados aos aterros sanitários. É tido como resíduo aquele material extraído do lixo com possibilidade de destinação como reúso, reciclagem, compostagem e aproveitamento energético; o que sobra é o rejeito, subproduto inaprovei‑ tável e que deveria ser disposto em aterros. Desde então, cresce a coleta seletiva no País e se consolida um modelo de cooperativas de catadores, além da aprovação dos acordos setoriais e do engajamento empresarial aos compromissos da PNRS. Houve, também, uma maior conscientização da população em relação aos resíduos sólidos – chamado de “lixo”, que produzimos diariamente. Contudo, uma série de percalços forçou a extensão do prazo para 2024. De acordo com a nova lei, as prefeituras têm até 31 de dezembro deste ano para elaborar o próprio plano de gestão dos resíduos sólidos e garantir o descarte correto dos rejeitos. Segundo especialistas, apesar disso, a nova lei não faz grandes modificações nas diretrizes anteriormente previstas na PNRS, somente torna os prazos abrangentes para o cumprimento da meta de eliminar os lixões dentro de nossas fronteiras. O professor Ronan Cleber Contrera, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da
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Universidade de São Paulo (Poli‑USP), apontou que a poster‑ gação dos prazos é advinda da dificuldade de adaptação dos municípios. “Isso já está valendo desde 2010, o problema é que a lei não é cumprida. Há uma falta de comprometimento, porque a lei que existe estabelece toda esta ordem de priori‑ dades. Quem está colocando o resíduo em lixão – se não con‑ siderarmos esta extensão de tempo que foi dada –, está numa situação irregular desde a criação da lei. O marco não muda nada disso.” A despeito do novo marco, a aplicação da PNRS permanece igual; municípios em situação irregular após o término do prazo de adaptação podem ser autuados. Regularizar o descarte do lixo se impõe como espinhoso obstáculo. A quantidade de lixo destinada a aterros contro‑ lados e lixões no Brasil – que trazem efeitos negativos de lon‑ go prazo ao meio ambiente e à sociedade – cresceu 16% entre 2010 e 2019, passando de 25 milhões de toneladas por ano para pouco mais 29 milhões. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrel‑ pe). A mesma política não garantiu um avanço considerável na reciclagem. Soma‑se a este “nó” a questão do desperdício. No Brasil, 40% de todo o alimento produzido são jogados fora, alerta a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), braço da ONU para a alimentação. Uma vez que a geração de resíduos aumenta à medida que as economias avançam, novas barreiras surgem, e soluções inovadoras também. Assistimos a um movimento crescente de empresas que prontamente empregam tecnologias de re‑ síduo zero para alguns produtos. Neste estágio, em que arti‑ culações de tomada de consciência refletem na pressão dos investidores e da sociedade, à luz da importância crescente dada pelo mercado financeiro às práticas em Environmental, Social and Corporate Governance (ESG), o setor privado vem adotando políticas de gestão de resíduos e combate ao des‑ perdício mais rapidamente (e, muitas vezes, mais eficazes) do que as políticas públicas.
REVERTENDO PERDAS EM GANHOS Inteligente estratégia de combate ao desperdício foi encon‑ trada pelo Grupo Carrefour Brasil no lançamento de sua Terra Vegetal. O produto está alinhado ao programa de Desperdício Zero do grupo e ao Act for Food, movimento global da rede de supermercados que tem o objetivo de tornar a alimentação saudável e sustentável acessível a todos. “Uma das frentes deste compromisso é direcionada especificamente ao com‑ bate ao desperdício, com ações voltadas para aproveitamento dos alimentos sem valor comercial, redução do descarte em aterros sanitários e apoio a famílias em situação de vulne‑ rabilidade social”, conta Marie Tarrisse, gerente de Sustenta‑ bilidade do Carrefour Brasil. “Globalmente, temos a meta de reduzir em 50% o desperdício de alimentos e chegar ao nível de aterro zero até 2025.”
À venda em suas lojas, a Terra Vegetal, de marca própria, é gerada da compostagem de frutas, verduras, legumes, ovos e sobras da peixaria e da padaria. Oriundos do setor de pere‑ cíveis de 48 unidades em São Paulo, ao serem adotados como matéria‑prima, os insumos retornam à cadeia de consumo. Isso implica ganhos em todos os aspectos. Além da qualidade da terra, que é enriquecida e resulta em plantas mais viçosas, seu processo de produção representa o combate ao desperdí‑ cio de alimentos e reforça o conceito de economia circular, praticada pelo grupo em suas operações, para a utilização total dos alimentos. O plano é que, mensalmente, de 350 a 400 toneladas de re‑ síduos da rede sejam destinadas à compostagem. Comerciali‑ zada em embalagens de cinco quilos, ela é própria para jardi‑ nagem, horta, gramado e cobertura de solo em geral. Desde o seu lançamento, há um ano, as vendas duplicaram – e, só em 2020, foram vendidos 30,74 mil sacos, o que representa mais de 153 toneladas do produto. “Estamos cientes que, para ser‑ mos líderes da transição alimentar, precisamos desenvolver medidas sistêmicas de diminuição de impactos ambientais”, sublinha Marie. “É por isso que trabalhamos incansavelmen‑ te para reduzir o desperdício de alimento em toda a nossa cadeia de operação. O Atacadão, por exemplo, conseguiu di‑ minuir, desde 2013, 28% das perdas de mercadorias em lojas, assim entendidos os itens que não podem ser comercializa‑ dos em decorrência de avarias ou furtos.” No Grupo Boticário, a gestão de resíduos também visa a gerar impacto socioambiental positivo. Até 2030, o reaprovei‑ tamento de 150% de todo resíduo sólido e a promoção de ini‑ ciativas sociais são algumas das metas. “O Boticário acredita que os resíduos devem ser repensados em toda cadeia de va‑ lor, buscando formas inovadoras de potencializar a economia circular”, afirma Eduardo Fonseca, diretor‑executivo de ESG e Assuntos Institucionais do grupo. “A atuação responsável em relação aos recursos naturais é a única forma de buscar cres‑ cimento econômico. Não existe sucesso nos negócios se não vier acompanhado de sustentabilidade e responsabilidade social. Deste modo, há mais de 15 anos, temos o Boti Recicla, o maior programa de Logística Reversa (LR) do Brasil, com pon‑ tos de coleta nos mais de 4 mil pontos de venda.” Em sua operação, a empresa atingiu 96,9% de reciclagem, em 2020, das embalagens colocadas no mercado – e con tinuará a jornada para alcançar 100%. O portfólio vai prio‑ rizar a não geração de resíduos (desmaterialização), inicia‑ tiva que já faz parte da estratégia: existem refis para várias linhas, as quais utilizam 69% menos plástico que o frasco tradicional. O plano prevê ampliar a refilagem à perfuma‑ ria. A cartela será ainda mais reciclável com o lançamento de maquiagens monomateriais em 2022. Atualmente, 100% das embalagens são produzidas de material reciclado. A empresa estuda materiais alternativos.
JEANS SUSTENTÁVEL Em reflexos ambientais e sociais, outros bens de consumo ocupam o topo da lista quando a indústria têxtil entra em cena. A Riachuelo, uma das maiores varejistas de moda brasileira, apresenta um case de destaque em ações sustentáveis. A plataforma Moda Que Transforma engloba iniciativas para mitigar os impactos ambientais dos processos convencionais das confecções da indústria, principalmente o jeans. A marca conta com o maior parque fabril da América Latina, considerando suas fábricas em Natal e Fortaleza. A fábrica da capital cearense concentra toda a produção de jeans 100% mais sustentável, com energia totalmente renovável e menos químicos e consumo de água nos processos, além de algodão e fibras têxteis mais sustentáveis. Há uma redução de até 90% no consumo da água em comparação aos processos convencionais e diminuição de até 85% na utilização de químicos. “Sabemos como a produção de jeans é ambientalmente impactante. No entanto, adotamos tecnologias inovadoras para esta produção. Em Fortaleza, de toda a água consumida na fábrica, 70% são reutilizados em diferentes áreas da usina: 5% se destinam aos sanitários; 10%, aos jardins; e 55%, novamente à lavanderia industrial”, explica Valesca Magalhães, gerente de Sustentabilidade da Riachuelo. “No quesito energia, em 2020, 48% do consumo total de energia da Riachuelo foram provenientes de fontes renováveis, por meio da aquisição de energia de fontes limpas.”
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“TRABALHAMOS PARA REDUZIR O DESPERDÍCIO DE ALIMENTO EM TODA A OPERAÇÃO. O ATACADÃO CONSEGUIU DIMINUIR 28% DAS PERDAS DE MERCADORIAS EM LOJAS, ITENS QUE NÃO PODEM SER COMERCIALIZADOS POR CAUSA DE AVARIAS OU FURTOS.”
MARIE TARRISSE, gerente de Sustentabilidade do Carrefour Brasil
RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA O Sistema Campo Limpo, uma parceria da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil com o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), evita o descarte de 94% de embalagens plásticas na natureza ou em aterros sanitários. Aqui, a solução encontrada foi implantar códigos de rastreamento no recolhimento das embalagens de defensivos agrícolas em propriedades rurais (@inpev).
Fonseca observa que o público consumidor está cada vez mais consciente e exigente, co‑ brando das empresas uma postura condizente com o que acreditam, com os seus propósitos. Uma pesquisa da Mintel, de 2019, detectou que 57% dos consumidores avaliam valores éticos das marcas antes de adquirir um produto. “Nes‑ te sentido, lançamos a plataforma Beleza Trans‑ parente. Pesquisadores e cientistas transmitem todo o nosso conhecimento à sociedade”, enalte‑ ce o diretor‑executivo. Hoje, o vidro representa 60% do peso das embalagens que o Boticário insere no mercado anualmente. O grupo irá in‑ centivar a coleta, a reutilização e a reciclagem do produto. Ainda, no espectro do amparo social, o programa Empreendedoras da Beleza, lançado no ano passado, até agora promoveu capacita‑ ção e auxílio financeiro para mais de 11 mil mu‑ lheres (cis e trans), autônomas na área da beleza, em situação de vulnerabilidade. Focada em melhorias para o lar, a Leroy Mer‑ lin não deixou de pensar um modo para solu‑ cionar a questão dos resíduos têxteis – no caso, provenientes dos uniformes sem condições de
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uso dos seus colaboradores. Em 2021, 3 mil co‑ bertores populares já foram produzidos com base no material. O projeto Postera, lançado em 2017, garante a reinserção da matéria‑prima no processo de descaracterização. Andressa Borba, diretora de Desenvolvimento Responsável da Leroy Merlin, conta que, desde a implantação, mais de 28 toneladas de resíduos assumiram nova finalidade. “Este projeto é muito impor‑ tante para nós, e, por isso, queríamos encontrar um parceiro que pudesse oferecer a destinação correta para tecidos e EPIs, bem como tivesse um propósito social. A Retalhar foi a parceira ideal.” “Há oito anos”, introduz Jonas Lessa, um dos donos, “detectamos a gravidade dos desperdí‑ cios da indústria têxtil, inclusive nos resíduos pós‑consumo, nos quais nos especializamos. Há um risco latente relacionado à segurança e à reputação das marcas, o que as levam a adotar alternativas à vida útil de um material cuja pro‑ dução demandou diversos recursos e ainda gera mais poluição”. O tecido é triturado e desfibrado; as fibras passam por uma blendagem e, então, são agulhadas para a fabricação dos cobertores. “O mesmo tecido pode, antes do desfibramento, ser transformado em novos produtos pela técni‑ ca do upcycling e até mesmo em um novo tecido para a produção de uniformes”, acrescenta Lessa. A Leroy Merlin implementou também o pro‑ jeto OrgâniCO2, focado em reduzir a pegada de carbono relacionada ao transporte e ao aterra‑ mento de resíduos orgânicos, mediante a criação de centrais de compostagem que possibilitam o tratamento desses resíduos no próprio local. Todo o composto é destinado a hortas orgânicas na mesma unidade de negócio ou na comunida‑ de do entorno. Nas hortas, a colheita é levada a uma feira gratuita, disponível para colaborado‑ res e parceiros de negócio. Em um ano, são mais de 60 toneladas que deixam de ir para o aterro. “Nossos consumidores querem se alinhar a em‑ presas que estejam preocupadas com valores ESG. Estamos em 12 Estados brasileiros e é nosso papel prover o melhor e contribuir para o nosso entorno”, afirma Andressa Borba.
RESÍDUO ZERO
CONSUMO CONSCIENTE O conceito de tecnologia disruptiva é a cartada do aplicativo gratuito b4waste para combater o desperdício de alimentos e cosméticos. Na prática, conecta os estabelecimentos, que precisam encontrar um destino para produtos próximos do vencimento, com o consumidor, que ganha acesso a marcas de prestígio com descontos de, no mínimo, 50%. Com atualização diária, o consumidor pode optar por receber alertas (@b4waste).
Marcelo Montaño, coordenador do Núcleo de Estudos de Política Ambiental da Escola de Engenharia de São Car‑ los/USP e vice‑presidente administrativo da Associação Brasileira de Avaliação de Impacto (Abai), traz ao debate que “as principais mudanças [na PNRS] estão associadas aos estímulos para a promoção da circularidade da eco‑ nomia, com a adoção da visão de ciclo de vida a produ‑ tos e serviços geradores de resíduos perigosos”. Ele comemora o fato de que alguns setores da indús‑ tria vêm estruturando ações e estratégias, em conjunto com órgãos governamentais, para a implantação da LR. Entretanto, com ressalvas: “Os dados apontam para um processo em expansão”, observa Montaño, “mas ainda em via de ser consolidado, principalmente em setores com maior dispersão territorial – pilhas e baterias, lâm‑ padas fluorescentes e medicamentos, por exemplo”. O especialista diz que, da mesma forma, verifica‑se um certo volume de investimentos em pesquisa para o de‑ senvolvimento tecnológico de produtos com menos im‑ pacto ambiental e periculosidade, “mas ainda longe de atingir um patamar significativo em relação à dimen‑ são do País”. Com a tecnologia de reaproveitamento ou mesmo processos não geradores de resíduos disponíveis, atesta Montaño, já é possível a implementação de uma cadeia 100% sustentável, de resíduo zero. Em contrapartida, segundo ele, ainda se verificam dificuldades de cará‑ ter econômico e, principalmente, de governança, para que isso ocorra. “Temos alguns exemplos pon tuais de integração em determinadas cadeias produtivas e setores, chamando a atenção para as iniciativas de implementação de ecoparques industriais concebidos dentro de uma matriz teórica que compartilhe noções da ecologia industrial, simbiose industrial e economia circular”, ilustra. Na avaliação do coordenador, a gestão ambiental deve ser integrada às instâncias decisórias estratégicas das empresas. “Planejamentos baseados nos aspectos ambientais, sociais e de governança são uma possibi‑ lidade às empresas e aos investidores, que passam a depender cada vez mais de um contexto amparado por instrumentos legais consistentes e processos de toma‑ da de decisão transparentes às discussões ambientais relevantes, em suas diversas escalas.”
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INVESTIR PARA MUDAR Confira, a seguir, pequenas empresas que desenvolveram iniciativas contra o desperdício como negócio em diferentes segmentos. Fruta Imperfeita: serviço de assinatura de cestas de frutas e legumes fora do padrão do mercado. Atua com o propósito de diminuir o desperdício de alimentos por meio da disseminação do consumo consciente, conectando produtores e consumidores (@fruta.imperfeita). Gooxxy: uma greentech (startup ambiental) que viabiliza a distribuição dos produtos encalhados para o varejo. A ideia funciona baseada em uma plataforma que conecta comerciantes, grandes e pequenos diretamente aos estoques das fabricantes (@gooxxycom). D4Sign: oferece um serviço de assinaturas eletrônicas que reduz o custo e os resíduos em papel e impressões em 100%. Elimina também os gases do efeito estufa gerados pelos veículos que transportam documentos e contratos entre destinos (@d4sign_). BeGreen: primeira fazenda urbana da América Latina, opera com estufas sustentáveis em grandes centros. Cultiva hortaliças hidropônicas, 100% livres de agrotóxicos e com distribuição local para encurtar distâncias, evitando desperdícios na cadeia (@begreen.farm).
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AMAZÔNIA VIVA Na perspectiva de compensar o carbono, com benefícios para a Amazônia, o grupo Natura & Co (Avon, Natura, The Body Shop e Aesop) mantém uma área preservada de 1,8 milhão de hectares, uma vez e meia o município do Rio de Janeiro, com meta de chegar a 3 milhões até 2030. A empresa defende a regeneração para um desenvolvimento sustentável e o equilíbrio do ecossistema. Já foram criados 39 bioingredientes, e 16,5% dos insumos vêm da região, beneficiando mais de 7 mil famílias e aproximadamente 85 cadeias de fornecimento.
Transportar sem poluir A Via Varejo, dona das Casas Bahia e do Ponto Frio, e a Telhanorte integraram o transporte elétrico à sua logística. Com capacidade para 720 quilos de carga e 300 quilômetros de autonomia, dez veículos da Via Varejo iniciaram sua atuação em entregas na cidade de São Paulo – a expectativa é de que, nos próximos meses, mais 20 carros elétricos sejam acrescidos. Já a Telhanorte é o primeiro home center em São Paulo a realizar entregas por meio de automóveis 100% elétricos para compras via e‑commerce.
Café neutro
Energia renovável
Cada xícara de café Nespresso será neutra em carbono até 2022. Este é o compromisso da empresa, que, para atingir a meta, investe no aumento do uso de biogás no processo de fabricação e amplia o uso de energia sustentável, incluindo uma mudança para energia 100% renovável em todas as suas butiques. Os planos incluem uso de alumínio reciclado nas cápsulas e aumento das taxas de reciclagem, além da redução do número de peças nas máquinas. A marca vai triplicar o plantio de árvores em países produtores.
O setor sucroenergético vem se destacando na geração renovável de energia, seja pela produção de etanol, seja pela geração de vapor e bioeletricidade. As usinas trabalham para inserir a geração de biogás e biometano com base em subprodutos da cana, como vinhaça e torta de filtro. Recentemente, a Raízen inaugurou a maior usina de biogás do mundo em Guariba (SP). A usina tem capacidade para produzir 138 mil megawatts‑hora (MWh) por ano, o suficiente para abastecer uma cidade com, aproximadamente, 250 mil habitantes.
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