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CONCURSO PÚBLICO – SOLDADO PM GEOGRAFIA - PROFESSOR: WALTER SOARES

GEOGRAFIA GERAL O ESPAÇO GEOPOLÍTICO: Da velha a nova ordem mundial O choque de imperialismo na Europa Na Segunda metade do século XIX surgem novas potências industriais no espaço mundial: EUA, Alemanha e Japão. E as rivalidades entre ingleses e alemães ocasionam a grande guerra, período de crescimento para a economia norte-americana, que passa a abastecer os europeus durante o conflito e torna-se após a guerra a maior potência econômica mundial. § segunda Guerra mundial (1939-1945) foi na realidade, um desdobramento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e a Alemanha novamente foi o pivô do conflito. Como resultado das sanções impostas pelo Tratado de Versalhes (1919), em conseqüência de sua derrota no conflito, o país mergulhou numa profunda crise econômica e social. Criaram-se, assim, condições favoráveis para a ascensão do nazismo. A grave crise econômica facilitou a aceitação pela população de idéias de cunho nacionalista. Muitos culpavam a democracia implantada em 1918 como responsável pelas conseqüências da derrota na guerra e estavam descontentes com o acordo de paz assinado em Versalhes. Havia ainda um medo difuso do comunismo como resultado da Revolução Russa de 1917. Tudo isso abriu espaço para a implantação de um governo autoritário e militarista. Adolf Hitler chegou ao poder, em 1933, com um discurso nacionalista, racista e imperialista que encontrou grande aceitação na sociedade alemã . Na tentativa de conquistar o espaço vital para o povo alemão, lançou o país num projeto expansionista que desencadeou a Segunda Guerra Mundial, da qual sairia derrotado. Mesmo os países vitoriosos, como o Reino Unido e a França, ficaram enfraquecidos econômica, militar e politicamente. Esse quadro favoreceu a ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética. O primeiro foi o maior beneficiado pela guerra, consolidando o seu papel de líder do bloco capitalista. Paralelamente, a União Soviética, que surgia em 1922 como resultado da Revolução Russa, não só expandiu o seu território, como também sua área de influencia, definindo, mais tarde o bloco socialista. A VELHA ORDEM MUNDIAL: a guerra fria Com o final da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética acirraram a disputa pela hegemonia no globo. Deram início, assim, à Guerra Fria, um dos períodos mais tensos da história, que se estendeu do imediato pósguerra até o final da década de 1980. Em 1946, o exprimeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965), em viagem aos Estados Unidos, lançou o termo "Cortina de Ferro" para delimitar, na Europa, a fronteira entre o Leste socialista e o Oeste capitalista. No entanto, considera-se que a Guerra Fria teve início mesmo em 1947. Nesse ano, os Estados Unidos lançaram as bases da Doutrina Truman e do Plano Marshall.

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Em 11 de março de 1947, o presidente Harry Truman (1884-1972) fez um discurso aos congressistas norteamericanos propondo a concessão de créditos para a Grécia e a Turquia, com o objetivo de sustentar governos pró-ocidentais naqueles países. Ao proferir esse discurso, lançava a doutrina que levaria seu nome. Truman governou os Estados Unidos de 1945 a 1952. O pressuposto geopolítico fundamental da Doutrina Truman era impedir o expansionismo da União Soviética, fazendo alianças com outros países para isolá-la. Complementando a Doutrina Truman, o secretário de Estado norte-americano George C. Marshall idealizou um plano de ajuda econômica para acelerar a recuperação dos países da Europa ocidental, o Plano Marshall. Ao consolidar as economias capitalistas européias, ele poria fim a à influência comunista e recuperaria mercados para produtos e capitais norteamericanos. De 1948 a 1952 foram canalizados 13,3 bilhões de dólares, beneficiando 18 países da Europa ocidental. Para administrar e distribuir a ajuda recebida por intermédio do Plano Marshall entre os países europeus ocidentais, foi constituída, em 1948, a Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE). Em 1961, transformou-se na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pois além dos países europeus beneficiados pelo Plano Marshall passaram a fazer parte da entidade os Estados Unidos e o Canadá. Com o tempo, outros países, como o Japão (1964) e a Austrália (1971), foram admitidos na entidade. O mundo da Guerra Fria foi marcado pela bipolarização de poder entre Estados Unidos e União Soviética, que buscavam ampliar suas respectivas zonas de influência. Mergulharam em uma acirrada corrida armamentista, na tentativa de chegar a um equilíbrio de forças. Como bem definiu o cientista político francês Raymond Aron: "Guerra Fria, paz impossível, guerra improvável". A paz era impossível porque as superpotências apresentavam, sob vários aspectos, um antagonismo insuperável e um conflito de interesse. No entanto, a guerra era improvável, pois um enfrentamento direto entre as superpotências poderia significar o fim de todos. Na América Latina, após a Revolução Cubana (1959). Os EUA apóiam ditaduras anti-socialistas consideradas regime de segurança nacional como estratégia para conter a expansão do modelo soviético em sua periferia latinoamericana (décadas de 60 e 70). De 1947 a 1991 (ano em que a União Soviética foi desmembrada), ocorreram cerca de 150 conflitos no planeta e em nenhum deles foram utilizadas armas nucleares. Em todos os conflitos, direta ou indiretamente, havia o envolvimento das superpotências, cada uma apoiando um dos contendores, seus aliados na Guerra Fria. Os Estados Unidos emergiram como os grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial. Acumularam vultosas reservas durante o conflito e mantiveram intactas suas cidades, indústrias e propriedades agrícolas. Vitoriosos, empenharam-se, então, na tarefa de reorganizar o mundo capitalista sob sua hegemonia: aumentaram suas

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GEOGRAFIA exportações, difundiram sua tecnologia, sua cultura e sua moeda pelo mundo ocidental. O mundo foi dividido em blocos geopolíticos e ideológicos: o bloco ocidental designava os países capitalistas alinhados aos Estados Unidos; o bloco oriental tornou-se sinônimo de países socialistas, ou de economia planificada, alinhados à União Soviética. Era o conflito Leste x Oeste, marcado pelo antagonismo entre os blocos liderados pelas duas superpotências. Durante a Guerra Fria, os interesses geopolíticos e econômicos dos Estados Unidos eram complementares. Os melhores exemplos foram, na própria origem da Guerra Fria, a elaboração da Doutrina Truman, de cunho geopolítico, e o Plano Marshall, de cunho econômico. Os norte-americanos constituíram blocos militares com o objetivo de impedir a expansão da zona de influência da União Soviética. Naquela época, muitos setores da sociedade norteamericana acreditavam que, se a União Soviética estendesse sua influência a outros países além do Leste europeu e da China (que aderiu ao socialismo em 1949), todos, sucessivamente, acabariam caindo nas "garras" do inimigo. Esse pressuposto geopolítico, inspirador do Plano Marshall, ficou conhecido como "efeito dominó". Estabeleceu-se, na Europa e na Ásia, um cordão de isolamento em torno da superpotência rival: o "cordão sanitário". Atribuiu-se uma conotação geopolítica a um termo nascido na Idade Média para designar a prática de isolar áreas disseminadoras de doenças contagiosas. Aos olhos ocidentais, a economia planificada, ou socialismo, era associada de forma figurativa a uma doença contagiosa e, portanto, deveria ter sua expansão contida. A mais importante das organizações militares foi a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), criada em 1949 para defender a Europa ocidental da ameaça soviética. Sua sede fica em Bruxelas (Bélgica) e seus países membros são os Estados Unidos, o Canadá e vários países europeus ocidentais. Sua criação foi a resposta norte-americana ao bloqueio a Berlim ocidental, implementado por Stálin entre Junho de 1948 e maio de 1949. Serviu para delimitara zona de influência norte-americana na Europa ocidental, por intermédio da construção de uma série de bases militares e a constituição de um gigantesco mercado de armamentos convencionais e nucleares para o complexo industrial-militar dos Estados Unidos e também de seus aliados. Outra conseqüência importante do bloqueio a Berlim foi a criação da República Federal da Alemanha (RFA), ou Alemanha Ocidental, em maio de 1949, nas zonas ocupadas pêlos Estados Unidos, Reino Unido e França desde o final da Segunda Guerra Mundial. Os setores norte-americano, britânico e francês de Berlim, embora encravados na área de influência soviética, permaneceram ligados à Alemanha Ocidental (capitalista). A resposta soviética viria em outubro daquele mesmo ano, com a criação da República Democrática Alemã (RDA) em sua respectiva zona de ocupação. Até a década de 1960, a Alemanha Oriental atravessou períodos de crise econômica. Muitos berlinenses deixaram o setor oriental em busca de melhores oportunidades no setor ocidental. Para acabar com esse êxodo de trabalhadores e reafirmar sua soberania, as autoridades orientais construíram o Muro de Berlim. Na noite de 13 de agosto de 1961, a parte ocidental de Berlim foi isolada: arame farpado e soldados armados impediam a passagem. A partir de então, foi erguido um muro de concreto de 159 quilômetros de extensão dividindo a cidade. Quando a Alemanha Ocidental ingressou na Otan, em 1955, a resposta soviética veio com a criação de sua aliança militar, o Pacto de Varsóvia. A União Soviética

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delimitava, assim, sua respectiva zona de influencia e seu principal mercado de armas. Com o fim da Guerra fria , o Pacto de Varsóvia foi extinto, em abril de 1991. Assim, a Otan passou a ter uma nova atribuição formal: garantir a paz na Europa. A aliança está se expandindo com a incorporação de países que pertenciam ao antigo Pacto de Varsóvia. Em março de 1999, entraram na organização a Hungria, a Polônia e a República Tcheca. A Rússia tem se posicionado frontalmente contra essa política, alegando ser essa expansão contrária à sua segurança. Para apaziguar essa posição, os Estados Unidos aceitaram a participação da Rússia nas reuniões do G-7, que desde 1997 passou a ser denominado G-8. O MUNDO PÓS-GUERRA FRIA: o fim da velha ordem bipolar Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, um dos assuntos mais discutidos, na imprensa e nos círculos acadêmicos, é a emergência de uma nova ordem mundial. O termo foi lançado por George Bush, presidente dos Estados Unidos de 1989 a 1992. Trata-se de um arranjo geopolítico e econômico internacional que permeia as relações entre os países. A nova ordem mundial apresenta basicamente duas facetas, uma geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, a grande mudança foi o fim da Guerra Fria e, portanto, da bipolarização de poder entre as duas superpotências e dos blocos por elas comandados. Na economia, os fatos novos são o processo de globalização e a tendência de formação de blocos econômicos regionais. Desde 1989, a humanidade tem assistido perplexa a uma série de acontecimentos, até então impensáveis. A queda do Muro de Berlim era um fato inimaginável, pelo menos a curto prazo, da mesma forma que a reunificação da Alemanha, ocorrida em 1990. Em julho de 1991, outro símbolo da Guerra Fria desapareceu. Reunidos em Praga, na então TchecoEslováquia, representantes dos países membros do Pacto de Varsóvia formalizaram a sua dissolução. Era o fim do conflito Leste x Oeste. Esses pontos cardeais deixavam de ter uma conotação ideológica e retomavam seu significado intrinsecamente geográfico. Finalmente, em dezembro de 1991, foi selada a desagregação política e territorial da União Soviética. Era o fim do Império Vermelho, a superpotência que aterrorizava os capitalistas do mundo inteiro. Após declarar a independência da Rússia, o presidente Boris Yeltsin reuniuse com os chefes de Estado da Ucrânia e de Belarus. Nesse encontro, foi firmado o Acordo de Minsk, criando a Comunidade de Estados Independentes (CEI) em substituição à extinta União Soviética. Composta por 12 exrepúblicas soviéticas, a CEI não é um Estado, mas um acordo econômico e geopolítico entre Estados independentes. Depois de todos esses acontecimentos, pode-se afirmar que a Guerra Fria chegou ao fim; no entanto, permanecem tensões na relação entre as atuais potências do mundo, que continuam investindo em seu poder militar, como ilustra o texto a seguir: ►Proposta chinesa aumenta perigo de corrida armamentista A proposta do governo chinês de aumentar seu orçamento militar em quase 18% para modernizar suas Forças Armadas intensifica a preocupação da comunidade internacional em relação a uma nova corrida armamentista. Desde que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou sua intenção de criar um sistema de defesa antimísseis balísticos para proteger o país de ataques de

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GEOGRAFIA "Estados irresponsáveis", a proliferação de armas de destruição em massa voltou a ser um tema central na cena internacional. E as grandes potências começam a preparar-se para a nova ordem militar mundial. Há duas semanas. Moscou propôs aos países europeus a criação de um escudo antimísseis continental. Embora tenha poucas chances de sair do papel, pois boa parte dos países europeus faz parte da Otan (aliança militar ocidental), que é dominada pêlos Estados Unidos, a proposta demonstra que a Rússia procura formar alianças para não se ver isolada no novo cenário geoestratégico mundial. Apesar de negar oficialmente, a China não demorou a tomar uma medida em resposta à proposta dos Estados Unidos, pois teme que o escudo possa ser usado contra ela caso haja problemas diplomático-militares entre Pequim e a "Província rebelde" de Taiwan. "A China e a Rússia se opõem ao projeto dos Estados Unidos e estão começando a preparar-se para enfrentá-lo, pois sabem que não podem fazer nada para impedir sua implementação", afirmou à Folha Joseph Nye, reitor da Kennedy School of Government da Universidade Harvard (Estados Unidos). Além dessa iniciativa, o chanceler chinês, Tang Jiaxuan, anunciou ontem que o presidente Jiang Zemin vai assinar um tratado de amizade e cooperação com a Rússia durante sua visita a Moscou, que ocorrerá em julho. O anúncio é preocupante. Afinal, a Rússia já é o maior fornecedor estrangeiro de equipamentos militares para a China. "Com a criação do escudo antimísseis dos Estados Unidos, será difícil convencer a Rússia e a China da necessidade de controlar a proliferação de armas", disse à Folha Olé Holsti, cientista político e professor da Universidade de Duke (Estados Unidos). (...) MORAES, Márcio Senne de. Proposta chinesa aumenta perigo de corrida armamentista. folha de S.Paulo, São Paulo, 7 mar. 2001.

A NOVA ORDEM MUNDIAL Durante a guerra fria, num mundo bipolar, o poder esteve assentado essencialmente na capacidade militar das duas superpotências. Embora o poderio militar não pudesse ser separado da capacidade econômica, em última análise o principal atributo de poder no período era o bélico. No mundo pós-Guerra Fria, o poder é medido mais pela capacidade econômica: disponibilidade de capitais, avanço científico-tecnológico, qualificação da mão-de-obra, nível de produtividade e índices de competitividade. Isso explica a emergência recente do Japão e da Alemanha à posição de potências, apesar de serem tutelados militarmente pelos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a Rússia encontra-se em decadência. Embora seja a principal herdeira do poderoso arsenal nuclear soviético, seu parque industrial é, em geral, obsoleto e pouco produtivo. O país passou por um acentuado processo de empobrecimento na década de 1990 devido à profunda crise econômica resultante do desmantelamento da economia planificada. Assim, de longe, os países mais poderosos do mundo hoje são os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha (que, juntamente com a França, lidera a União Européia). A Tríade deve ser orbitada pelos demais países ainda por um longo tempo. Assim, do ponto de vista econômico, o mundo pós-Guerra Fria é multipolar. Mas e do ponto de vista geopolítico? O Japão é um anão geopolítico devido à derrota na Segunda Guerra Mundial e às limitações impostas pelos Estados Unidos no período de ocupação (1945-1952), muitas das quais registradas em sua constituição. Por

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exemplo, o país não pode manter forças armadas que atuem fora de suas fronteiras, apenas forças de autodefesa. Isso limita muito o poder geopolítico do país. Apesar de continuar como a segunda economia do mundo, o Japão perdeu fôlego ao longo dos anos 1990, alternando anos de crescimento irrelevante e anos de recessão. Na média, o país cresceu apenas 1,4% ao ano, entre 1990 e 1998 (os Estados Unidos cresceram 2,8% ao ano no mesmo período). Isso indica que o Japão não tem potencial para superar a economia norte-americana, como foi aventado ao longo da década de 1980. Por outro lado, o Japão, apesar da crise, possui alguns dos maiores bancos do mundo. Os investidores japoneses são os principais credores dos Estados Unidos, detendo cerca de um quarto dos bônus do tesouro norte-americano, que são emitidos para financiar a dívida pública daquele país. Isso evidencia que a relação nipo-americana é mais de complementaridade do que de enfrentamento. A Alemanha, embora tenha se fortalecido politicamente após a reunificação, também carrega as marcas da Segunda Guerra Mundial. As Forças Armadas do país continuam sob o comando da Otan. O país vem apostando forte na consolidação da União Européia, a ponto de abrir mão de sua poderosa moeda, o marco, em prol da consolidação do euro (moeda do bloco econômico) e recuperando sua histórica influência cultural na Europa central. Entretanto, uma retomada do militarismo alemão não seria bem recebida pelos Estados Unidos nem pelos seus sócios da União Européia e seus vizinhos do leste. A Rússia continua com boa parte de seu poderio militar, inclusive com muitos dos mísseis de longo alcance armados com ogivas nucleares. No entanto, a grave crise que o país atravessa limita suas ações e tende a restringir sua influência às suas fronteiras euro-asiáticas. Dessa forma, a única nação com status de superpotência na atualidade são os Estados Unidos. O país detém todos os atributos para o exercício do poder em escala mundial: capacidade bélica (inclusive nuclear), capacidade econômica e científico-tecnológica, influencia política e domínio da produção e difusão de informações. Por isso muitos analistas alegam que, em vez de um mundo multipolar, vivemos num mundo unipolar, sob avassaladora hegemonia dos Estados Unidos. O único país que talvez possa, no futuro, fazer frente aos Estados Unidos é a China. Como abriga a maior população do planeta, possui um gigantesco mercado consumidor potencial e mão-de-obra numerosa e barata. Esses fatores explicam a sua capacidade de atrair capitais estrangeiros. A economia chinesa foi a que mais cresceu nas duas últimas décadas do século XX. Segundo o Relatório sobre o desenvolvimento mundial 2000/2001 do Bird, a taxa média de crescimento econômico no período 1980-1990 foi de 10,1% ao ano e no período 1990-1999, de 10,7%. Além disso, a China é uma potência militar, inclusive detendo arsenais nucleares. O governo comunista tem uma clara política de fortalecimento militar e um projeto de exercício de poder em escala regional e mundial. As devoluções de Hong Kong (1997) e de Macau (1999) à China indicam o fortalecimento internacional do país. Fica faltando, na perspectiva de Pequim, a anexação de Taiwan (ver box). Caso o projeto de integração da União Européia continue avançando e o bloco consiga independência militar, com a consolidação da União da Europa Ocidental (UEO) em detrimento da Otan, também estará capacitado a rivalizar com os Estados Unidos do ponto de vista geopolítico. Mas esse parece ser um cenário ainda muito distante devido à forte presença militar norte-americana na Europa, por meio

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GEOGRAFIA da Otan, e ao receio dos países europeus de enfrentar os Estados Unidos e sua aliança militar. A criação do euro, a moeda única da União Européia, também faz parte da estratégia de fazer frente aos Estados Unidos, mas do ponto de vista econômico. Os europeus esperam que o euro possa enfrentar o dólar como moeda mundial, equilibrando a hegemonia da moeda norteamericana. Entretanto, desde que foi instituído como moeda de referência no início de 1999, até o início de 2001 (a circulação efetiva só ocorreu a partir de 2002), o euro vive uma trajetória bastante instável e nos útimos anos passa por uma séria crise com reflexos na estabilidade do próprio bloco europeu. Muitos já questionam a troca de moedas nacionais pelo euro, cujo futuro ainda é incerto. Também na frente econômica não tem sido fácil para os europeus questionarem a hegemonia dos Estados Unidos. Como se vê, a única certeza até o presente é que no mundo da nova ordem as polaridades não são ainda claramente definidas como eram no período da Guerra Fria.

1979, viajou para este país para combater os invasores com o apoio da CIA, a Agência Central de Inteligência americana. Sua organização, Al-Qaeda ("A Base"), foi fundada em 1988, ou seja um ano antes da retirada soviética do Afeganistão. Em 1989 voltou à Arábia Saudita. Após o estouro da guerra do Golfo em 1991, ele criticou a família real por ter autorizado o desdobramento de soldados americanos em território saudita, o que o fez ser declarado persona non grata no país.

O MUNDO PÓS 11 DE SETEMBRO DE 2001.

Instalou-se então no Sudão, onde os serviços americanos de inteligência o acusaram de financiar campos de treinamento de terroristas. Em 1994, foi definitivamente privado da nacionalidade saudita. Em 1996 o Sudão, submetido à pressões americanas e da ONU, pediu a Bin Laden que fosse embora do país. Ele foi então para o Afeganistão, onde fez funcionar uma dezena de campos de treinamento e lançou apelos contra os Estados Unidos. A ação mais espetacular que lhe foi atribuída antes do dia 11 de setembro foi um ataque contra as embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, no dia 7 de agosto de 1998, que causou 224 mortos e milhares de feridos. Em 1999, ele foi incluído na lista da Birô Federal de Investigações americano (FBI) entre as dez pessoas mais procuradas do mundo. Bin Laden também foi acusado de ter ordenado o ataque contra o navio americano "USS Cole" no Iêmen, que fez 17 mortos em outubro de 2000. Seu nome foi conhecido no muno inteiro no dia 11 de setembro, com os atentados contra as torres gêmeas em Nova York e contra o Pentágono. Logo após os ataques, o governo do Afeganistão solicitou provas ao governo americano sobre a autoria dos ataques por Bin Laden, caso fossem apresentadas estas provas este iria detê-lo e entregá-lo às autoridades americanas. O governo dos Estados Unidos nunca apresentou publicamente tais provas. Após os ataques de 11 de setembro de 2001, o Afeganistão foi escolhido como primeiro alvo da ―cruzada contra o terror‖, conduzida pelo governo de George W. Bush (filho). O suposto objetivo da operação era desmantelar a organização terrorista Al-Quaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. Acreditava-se que estaria escondido em algum lugar da fronteira montanhosa entre o Afeganistão e o Paquistão. Os Estados Unidos, que o acusam de ter planejado do Afeganistão os ataques suicidas de Nova York, Washington e Pensilvânia no dia 11 de setembro, chegaram a oferecer 25 milhões de dólares por qualquer informação que permitisse capturá-lo. No dia 1º de maio de 2011 à noite, um comando especializado da Marinha dos Estados Unidos capturou Osama Bin Laden na cidade de Abbottabad, próximo a Islamabad, capital do Paquistão. O presidente dos EUA, Barack Obama, dirigiu-se à nação americana para anunciar que Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda, teria sido morto com um tiro na cabeça, e que seu corpo, seguindo tradições islâmicas, teria sido ―sepultado‖ no mar. Porém, não foram divulgadas imagens detalhadas da operação e nem do corpo de Bin Laden, fato que gerou especulações sobre a veracidade do ocorrido. Na página de mais

O dia 11 de setembro marcou o início de uma nova era no pensamento estratégico norte-americano. Os ataques terroristas daquela manhã tiveram impacto comparável ao ataque a Pearl Harbor em sete de dezembro de 1941, que lançou os Estados Unidos para a Segunda Guerra Mundial. Antes de 11 de setembro, o governo Bush encontrava-se na fase de desenvolvimento de uma nova estratégia de segurança nacional. Isso estava sendo feito com a Análise Quadrienal da Defesa, bem como em outros cenários. Em um momento, entretanto, os ataques de 11 de setembro transformaram o ambiente de segurança internacional. Uma ameaça totalmente nova e perniciosa subitamente tornouse realidade e ditou uma nova e importante estratégia para os Estados Unidos. Esta nova política, agora cognominada "Doutrina Bush", concentra-se no combate a ameaça do terrorismo e das armas de destruição em massa em qualquer parte do mundo. A MORTE DE OSAMA BIN LADEN O líder islamita Osama Bin Laden, instigador declarado dos atentados do dia 11 de setembro de 2001 e objeto da maior caçada humana da história foi morto, quase dez anos depois dos ataques que deixaram 3.000 mortes nos Estados Unidos. Desde o fatídico 11/9, o milionário de origem saudita, líder da rede terrorista Al-Qaeda e cujos rastros se perderam no sul do Afeganistão e na fronteira com o Paquistão, reaparecia episodicamente em gravações de áudio e vídeo ao longo dos anos. Alto, magro, sempre usando barba, Bin Laden nasceu em Riad. Filho de um magnata saudita da construção próximo da família real, utilizou sua fortuna para financiar o Jihad (guerra santa) contra os soviéticos e depois contra os americanos. Em 1973, Bin Laden entrou em contato com grupos islamitas. Após a invasão soviética do Afeganistão em

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GEOGRAFIA procurados do FBI, Osama Bin Laden já aparecia como morto. www.brasilescola.com/historia/osama-bin-laden.htm A ONU E A POLÍTICA INTERNACIONAL A ONU foi criada com o objetivo de preservar a paz e a segurança num mundo traumatizado pela Segunda Guerra Mundial. Além disso, tem a função de promover a cooperação internacional para resolver problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários. Também como conseqüência das atrocidades da guerra, em 1948, os países membros da ONU votaram a Declaração dos Direitos do Homem, uma proposta de ação para nortear as relações entre os seres humanos. Sediada em Nova York, a ONU substituiu a Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra Mundial. Conta com várias agências especializadas, que atuam em diversos setores. Os dois órgãos mais importantes da entidade são a Assembléia Geral e o Conselho de Segurança. A Assembléia Geral congrega as delegações de todos os países membros. Reúne-se a cada ano ou em sessões de emergência, mas não decide sobre questões de segurança e cooperação internacional; apenas faz recomendações. Assim, o órgão de maior poder da ONU é o Conselho de Segurança. Formado por delegados de 15 países membros, dos quais cinco são permanentes e dez eleitos a cada dois anos, concentra o poder da entidade, sobretudo nas mãos dos cinco membros permanentes. Qualquer decisão do Conselho de Segurança só é colocada em prática se houver consenso entre as cinco potências – Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Federação Russa, substituindo a extinta União Soviética -, o que, na prática, lhes assegura um poder de veto. O Conselho de Segurança pode investigar disputas e conflitos internos ou entre países, recomendando soluções que visem a acordos de paz. Também pode adotar sanções, que vão desde o corte das comunicações ou das relações diplomáticas até o bloqueio econômico. Em último caso, pode autorizar o uso da força militar, como ocorreu nas intervenções no Iraque, no Haiti e na Somália, ao longo dos anos 1990, sob a liderança dos Estados Unidos. A ONU, na prática, ficou desprestigiada no mundo bipolarizado da Guerra Fria. Nesse período, todas as decisões que tomava contrariavam interesses norteamericanos ou soviéticos. A superpotência que se sentia prejudicada vetava qualquer resolução tomada pela entidade. Durante as comemorações dos 50 anos de fundação da ONU, em 1995, veio à tona uma campanha liderada por países interessados em ampliar o número de membros permanentes do Conselho de Segurança. Essa instância de poder ainda espelha o resultado da Segunda Guerra Mundial. Com o fim da Guerra Fria, a distribuição de poder no Conselho não reflete a atual correlação de forças existente no mundo. Reivindica-se a entrada dos perdedores da Segunda Guerra Mundial –Japão e Alemanha -, que agora são grandes potências, e de representantes do mundo subdesenvolvido, como Brasil, África do Sul e Índia, para mencionar apenas os que têm mais peso regional em seus continentes. Os Estados Unidos são favoráveis apenas à entrada do Japão e da Alemanha. O ingresso de países do mundo subdesenvolvido, além da resistência norte-americana, encontra outra dificuldade. Quem deve decidir quais são os novos membros, representantes da América Latina, África e Ásia?

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Na América Latina, além do Brasil, têm pretensões de ser membro permanente o México e a Argentina. Quem deverá ser o representante africano: África do Sul, Nigéria ou Egito? E na Ásia, como uma possível entrada da índia seria encarada pelo Paquistão, seu inimigo desde a independência dos dois países, em 1947, e também candidato potencial? Os Estados Unidos defendem que, no caso de expansão do Conselho de Segurança, os novos representantes (além de Japão e Alemanha) devem ser indicados pelos países do continente ou região que representam. Essa saída é muito difícil em todos os continentes e praticamente impossível no Sul da Ásia. A PRIMAVERA ÁRABE Primavera árabe corresponde ao conjunto de manifestações contra os regimes ditatoriais e autoritários dos países do Norte da África e Oriente Médio. Egito , Líbia , Bahrein , Tunísia , Marrocos, Síria, onde a população vem sofrendo desde muitas décadas , violência , falta de liberdade eleitoral, sem direito a voto , inclusive com o poder sucessivos de uma única família. Em 2011, com a utilização da internet, pela redes sociais a população vem buscando mudar essa tradicional situação, em busca do liberalismo e dos direitos humanos, em alguns desses países, já ocorreu a queda dos presidentes, como no Egito (Rosnir Mubarak) e na Líbia (Muamar Kadaf). No momento em que o mundo passa por um processo de avanços sociais, econômicos e políticos, com o advento da globalização, o mundo árabe também busca abandonar o tradicionalismo das ditaduras, no campo político e religioso, buscando exemplo do mundo Ocidental, onde a população vive a democracia, o liberalismo e buscando a plenitude dos direitos humanos. Se formos comparar o mundo Ocidental e mundo Oriental, no caso aqui, o mundo árabe, vamos observar algumas diferenças abismáticas, como por exemplo: o direito ao voto, o liberalismo feminino, o direito a educação, os movimentos sociais e sobretudo o direito a democracia, com liberdade de imprensa, isso tudo existe no mundo ocidental e inexiste no mundo árabe. O mundo assiste atualmente uma das mais interessantes revoluções, pois a história árabe, ao longo dos tempos mostrou sempre a submissão incondicional desse povo, tanto no aspecto político-social, quanto religioso. Mas o que já se vê em alguns desses países é a amplitude da mídia, a internet, a televisão a cabo, a imprensa internacional transitando e informando e, sobretudo a indignação reativa

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GEOGRAFIA das populações locais buscando movimentos a favor da queda dos tradicionais líderes políticos. Assim, já se pode imaginar a queda de mais uma fronteira da antiglobalização, pois aberta a porta, para o capitalismo, o mundo árabe constrói a ponte para a ocidentalização. Fonte: http://pt.shvoong.com/socialsciences/education/2216005-primavera%C3%A1rabe/#ixzz1e4xdTre0 A PRIMAVERA ÁRABE ACABOU? Carta capital: Politike 12/02/2015 Há exatos quatro anos, o mundo tremia com os acontecimentos que vinham do Oriente Médio e do Norte da África. Em um movimento que não havia sido previsto por nenhum analista político, a população egípcia tomou as ruas do Cairo e, após pouco mais de duas semanas de protestos e de ocupação da Praça Tahrir, finalmente conseguiu tirar do poder o presidente Hosni Mubarak, que governara o Egito com mão de ferro por quase três décadas. A inesperada queda de Mubarak – no dia 11 de fevereiro de 2011 – era o ápice de uma onda que tivera início no mês anterior, na Tunísia. Na capital Túnis, a auto-imolação do jovem camelô Tarek Mohamed Bouazizi serviu como faísca para uma série de manifestações populares que resultaram na renúncia do ditador Ben Ali em janeiro de 2011, após mais de vinte anos no poder. Como um tsunami, protestos começaram a se espalhar pelo mundo árabe. Na Líbia, demonstrações iniciadas em fevereiro de 2011 levaram a uma guerra civil que resultaria na morte de Muammar Kaddafi, em agosto. No Iêmen, Abdullah Saleh foi deposto após 33 anos no poder. Na Síria, rebeldes chegaram a ameaçar o poder do ditador Bashar al-Assad, em uma guerra que ainda está por ser finalizada. A inesperada série de deposições de regimes autoritários que dominavam o mundo árabe há tantos anos foi comemorada por políticos e analistas ocidentais, vista como o início de uma onda de democratização no Oriente Médio. Para alguns, o fato dos protestos terem sido organizados por jovens utilizando como ferramentas as redes sociais e a internet significava o início de uma nova era, em que movimentos sociais horizontais e desvinculados de partidos iriam transformar o mundo. Cenário desolador Quatro anos depois, no entanto, o cenário não poderia ser mais desolador. Enquanto a guerra civil na Síria já deixou mais de 210 mil mortos, partes do país e do Iraque hoje são dominadas por militantes do autointitulado Estado Islâmico, que vêm chocando o mundo pela forma bárbara como tratam prisioneiros, mulheres e crianças de minorias étnicas e religiosas. No Egito, a situação também não é animadora. Após um golpe de Estado que depôs o presidente Mohammed Morsi, eleito em 2012, o novo presidente egípcio Abdul Fattah alSisi vem jogando opositores do regime nas cadeias, em uma escalada autoritária alarmante. Já a Líbia pós-Kaddaffi tornou-se um Estado praticamente sem governo, onde líderes tribais, milícias e grupos extremistas disputam hegemonia. A única exceção é a Tunísia, mais estável e onde eleições livres no final de 2014 deram vitória a um partido secular com membros que, no entanto, têm ligações com o regime de Ben Ali. Diante deste cenário, surge a pergunta óbvia: Como toda aquela esperança trazida pelas ondas de protestos se

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desvaneceu dessa forma, poucos anos depois de seu início? Como movimentos populares espontâneos que foram capazes de derrubar poderosos ditadores falharam em trazer mais avanços, abrindo espaço para extremistas e líderes autoritários? Só o tempo irá nos responder. O ESTADO ISLÂMICO (ISIS) BBC BRASIL 15/11/2015 O grupo autodenominado "Estado Islâmico", que assumiu a autoria dos atentados que deixaram pelo menos 129 pessoas mortas em Paris, despontou na cena internacional em 2014, quando conquistou grande parte do território da Síria e do Iraque. Nas últimas semanas, porém, o grupo aumentou seu escopo de ações e assumiu a autoria de grandes ataques internacionais: a derrubada de um avião no Egito, bombardeios em Beirute e, agora, atentados em Paris. Os ataques ocorrem no momento em que o grupo está sendo atacado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, com efeitos sobre os territórios controlados pelo grupo no Oriente Médio. Qual o tamanho do território controlado pelo EI? Em setembro de 2014, o então diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA, Matthew Olsen, disse que o EI controlava grande parte da bacia dos rios Tigre e Eufrates - uma área do tamanho do Reino Unido, com cerca de 210 mil quilômetros quadrados. Sete meses depois, militares americanos disseram que o "Estado Islâmico" perdeu cerca de um quarto de seu território no Iraque - equivalente a entre 13 mil e 15 mil quilômetros quadrados - mas que sua área de influência na Síria continuava a mesma, com perdas em outras áreas compensadas com ganhos em outras. Mas esses dados não necessariamente refletem a situação em terra. Na verdade, militantes do EI exercem controle absoluto apenas sobre uma pequena parte deste território, que inclui cidades e vilarejos, ruas principais, campos de petróleo e instalações militares. Eles têm liberdade de movimento nas vastas áreas inabitadas fora do que o Instituto para Estudos da Guerra chama de "zonas de controle", mas ele teriam dificuldades se fossem forçados a defendê-las de uma ofensiva. Também não há informações precisas sobre o número de pessoas que vivem atualmente em áreas sob controle total ou parcial do EI na Síria e no Iraque. Em março de 2015, o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha estimou-as em cerca de 10 milhões. Nas áreas em que o EI implementou sua rígida interpretação da sharia (lei islâmica), mulheres são forçadas a usar véus completos, decapitações públicas são comuns e não muçulmanos são forçados a escolher entre pagar um imposto especial, se converter ou morrer. E os alvos fora da Síria? Nas últimas semanas, o EI começou a reivindicar autoria de ataques fora de seu território. Um grupo egípcio ligado ao EI, a Província do Sinai, disse que derrubou um avião de passageiros na península do Sinai, matando as 228 pessoas a bordo. Eles não deram detalhes sobre o ataque, mas Reino Unido e Estados Unidos disseram que provavelmente a queda da aeronave foi causada por uma bomba. O "Estado Islâmico" também diz ser autor de explosões simultâneas na capital do Líbano, Beirute, que deixaram 41 pessoas mortas. Militantes do movimento libanês Hezbollah estão lutando na vizinha Síria ao lado do presidente Bashar al-Assad, inimigo do EI.

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GEOGRAFIA E agora, pelo menos 129 pessoas morreram em uma onda de ataques em Paris. O "Estado Islâmico" disse estar por trás da onda de violência, e o presidente da França, François Hollande, descreveu os atentados como um "ato de guerra". Quantos combatentes o 'Estado Islâmico' tem? Em fevereiro de 2015, o diretor de Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, disse que o EI poderia reunir "algo entre 20 mil e 32 mil militantes" no Iraque e na Síria. Mas ele ressaltou que houve uma "desistência substancial" em suas frentes desde o início dos ataques da coalizão liderada pelos EUA em agosto de 2014. Em junho de 2015, o vice-secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que mais de 10 mil combatentes do EI haviam sido mortos. Para diminuir os efeitos das perdas humanas, o EI teria recorrido à conscrição obrigatória em algumas áreas. Mas um grande número de combatentes não é nem iraquiano nem sírio. Em outubro de 2014, o diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, Nicholas Rasmussen, disse ao Congresso americano que o grupo havia atraído mais de 28 mil combatentes estrangeiros. Pelo menos 5 mil seriam ocidentais. De onde vem o dinheiro do grupo? Acredita-se que o "Estado Islâmico" seja o grupo extremista mais rico do mundo. Inicialmente, eles dependiam da riqueza de doadores privados e instituições de caridade islâmicas no Oriente Médio que desejavam retirar Assad do poder. Apesar de este dinheiro ainda ser usado para financiar a ida de combatentes estrangeiros para a Síria, o grupo consegue se financiar sozinho. O Tesouro americano estimou, em 2014, que o EI poderia ganhar US$ 100 milhões por semana com a venda de petróleo cru e produtos refinados para intermediários que os contrabandeavam para a Turquia e o Irã, ou os vendiam para o governo da Síria. Mas acredita-se que ataques aéreos contra a infraestrutura petroleira impactaram essa renda. O pagamento de resgate de sequestros também gerou cerca de US$ 20 milhões para o EI no ano passado. Mas o grupo também arrecada milhões de dólares por mês extorquindo pessoas que vivem em áreas sob seu domínio, além de realizar roubos e saques. Minorias religiosas são obrigadas a pagar um imposto especial. O EI também lucra com roubos a bancos, venda de antiquidades e ao roubar e controlar a agricultura e criação de animais. Mulheres e garotas sequestradas também são muitas vezes vendidas como escravas sexuais. Qual o objetivo do EI? Em junho de 2014, o EI declarou oficialmente o estabelecimento de um "califado" - um Estado governado segundo a sharia, pelo representante de Deus na Terra, o califa. O EI pediu que muçulmanos pelo mundo jurassem fidelidade a seu líder - Ibrahim Awad Ibrahim al-Badri alSamarrai, mais conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi - e migrasse para o território sob seu controle. O "Estado Islâmico" também disse que outros grupos jihadistas pelo mundo deveriam aceitar sua suprema autoridade. Muitos já o fizeram - entre eles, vários ramos da rival al-Qaeda. O grupo afirmou que viu com bons olhos a possibilidade de enfrentar diretamente a coalizão liderada pelos EUA, vendo isso como um anúncio do confronto do fim os tempos entre muçulmanos e inimigos descrita em profecias apocalípticas islâmicas.

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O grupo afirma que seu objetivo é erradicar obstáculos para restaurar a ordem de Deus na Terra e defender a comunidade muçulmana contra infiéis. GLOBALIZAÇÃO: A mundialização do capitalismo O SISTEMA CAPITALISTA O Capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção (terras, máquinas e infra-estrutura) e parte da propriedade intelectual, objetivando o lucro através do risco de investimentos, nas decisões quanto ao investimento de capital feitos pela iniciativa privada, e com a produção, distribuição e preços dos bens, serviços e recursos humanos afetados pelas forças (LEI) da oferta e da procura. ANTECEDENTES HISTÓRICOS O surgimento dos primeiros comerciantes e artesãos livres nas pequenas cidades medievais e nas feiras em torno dos burgos, foi o germe de uma nova sociedade, que no decorrer de alguns séculos, substituiria o sistema feudal. O feudalismo foi o modo de produção que antecedeu ao capitalismo, dominou parte do mundo, em especial o ocidental entre os séculos V e XV. Esse modo de produção determinava uma organização espacial muito específica em que predominavam as atividades rurais, o poder político era descentralizado, havia uma tendência nos lugares pela auto-suficiência, as classes sociais se relacionavam pelo vínculo da servidão e os feudos eram quase sempre isolados daí a ordenação espacial fragmentada. A partir do século XI, ocorreram grandes transformações sociopolíticas que culminaram com o declínio do feudalismo. O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO O capitalismo, como sistema econômico e social, passou a ser dominante no mundo ocidental a partir do século XVI. A transição do feudalismo para o capitalismo, porém, ocorreu de forma bastante desigual no tempo e no espaço: foi mais rápida na porção ocidental da Europa e muito mais lenta na porção central e na oriental. O Reino Unido foi, por várias razões, o país no qual a transição foi mais acelerada. O capitalismo evoluiu gradativamente e foi se transformando à medida que novas dificuldades surgiam. O sistema capitalista sempre apresentou, ao longo de sua história, grande dinamismo. Isso se explica devido ao seu profundo enraizamento histórico e cultural, pois sua origem é muito antiga (final da Idade Média) e sua evolução histórica foi muito lenta, particularmente na Europa Ocidental e na América Anglo-saxônica. Gradativamente, ele foi se sobrepondo a outras formas de produção, até se tornar hegemônico, o que, em âmbito mundial, ocorreu em sua fase industrial. Didaticamente, considerando seu processo de desenvolvimento, costuma-se dividir o capitalismo em três fases: CAPITALISMO COMERCIAL – considerada como a primeira etapa do capitalismo, teve início com a expansão marítima no final do XV e se estendeu até o século XVIII. Nesse período, ocorreram as Grandes Navegações, o seu desenvolvimento está relacionado a busca de caminhos alternativos para as Índias, que pudessem escapar das áreas conquistadas pelos turcos otomanos e da hegemonia das cidades italianas no comércio mundial naquela época. No Capitalismo Comercial as relações Europa -mundo assumem o padrão dominação-subordinação, isso ocorre pelas conquistas territoriais (colonialismo) e pelos mecanismos para mantê-las tais como: escravização de índios e negros na América e África.

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GEOGRAFIA Durante esse período, o grande acúmulo de capitais se dava na esfera do comércio, portanto, no espaço da circulação. A doutrina vigente era a mercantilista, que defendia a intervenção dos Estados na economia, a fim de promover a prosperidade nacional e aumentar o poder do Estado. Nesse sentido, defendia a acumulação de riquezas no interior dos Estados, sendo assim a riqueza e o poder de um Estado eram medidos pela quantidade de metais preciosos que possuía (metalismo). O Estado era protecionista em relação às manufaturas existentes, restringindo a importação de manufaturados. Uma característica deste período, o Estado forte (Absolutismo Monárquico), para sustentar e dar apoio à expansão marítima e comercial, pois dessa forma se estabeleceria o pacto colonial, uma vez que, as colônias tinham que obrigatoriamente manter relações comerciais com as metrópoles, sendo essas relações marcadas pela dominação, em que a colônia tinha que vender seus produtos a preços baixos e comprar produtos a preços altos. O processo de evolução do capitalismo é considerado lento, pela maioria dos estudiosos, isso porque ele vai ocorrer dentro das classes sociais e na política dos Estados, é importante observar, o quanto o papel da cidade foi fundamental na etapa de transição, pois, durante a Idade Média na vigência do feudalismo, nos burgos é que viviam os comerciantes e estava aí a riqueza por eles acumulada ao mesmo tempo em que se concentravam os artesãos, que produziam o necessário à atividade comercial. Portanto, o capitalismo surge na cidade, no centro da economia urbana, ainda no seio da sociedade feudal. A etapa acima descrita é conhecida como acumulação primitiva de capital, é exatamente ela, que prepara, com uma conjugação de fatores, a próxima etapa do capitalismo, que 1. a industrial. CAPITALISMO INDUSTRIAL - É a etapa de consolidação do modo de produção capitalista, uma vez que consagra o trabalho assalariado e desvenda a essência do sistema que é o lucro, é exatamente nesta etapa, que a transformação fica mais evidente, com as mudanças definitivas nas relações econômicas, políticas, sociais e culturais. 2. 1ª Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII até meados do século XIX. A mecanização se estendeu do setor têxtil para a metalurgia 3. 2ª Revolução Industrial ocorreu no século XIX e promoveu a reconfiguração da Europa e de parte do mundo sob sua influência. A 2ª revolução industrial implicou na expansão do fenômeno por outros países europeus e ainda EUA e Japão. Foi um período marcado pela intensificação da rivalidade política e econômica nos chamados países centrais do sistema gerando uma era conhecida como IMPERIALISMO. Nesta fase ocorreu a consolidação do Sistema, grande impulso a urbanização, período de grandes inovações tecnológicas como trens a vapor, automóveis que revolucionaram os transportes. Surgimento das formas de concentração econômica como trustes, holdings, cartéis e oligopólios, não podemos esquecer a Partilha Afro-asiática ou Conferência de Berlim. CAPITALISMO FINANCEIRO - Desde o final do século XIX, o crescimento das empresas gerou uma forte concorrência entre elas, que promoveu fusões e incorporações, isso resultou então no surgimento dos monopólios e oligopólios. A partir daí surge o Capitalismo Financeiro, que apesar de suas raízes estarem fincadas no

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final do século XIX, só após a 1ª Guerra Mundial é que essa etapa se consolidou, pois aí surgem grandes empresas, que estão presentes até os dias atuais. Estava se delineando a nova realidade do mercado internacional, onde as empresas para poderem se expandir abriam seus capitais, tornando atraente o mercado de ações e esse mecanismo tornou também o banco poderoso, pois representará o próprio investidor. Apesar de ter vários sócios a empresa tem um controlador, que é o sócio majoritário, que pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas, uma empresa ou um banco. O contexto tornou o liberalismo econômico um plano ideológico, uma vez que a cada momento o monopólio tornava-se cada vez mais presente, substituindo a livre concorrência e o livre mercado. A disputa entre as potências econômicas europeias acabou por acirrar as disputas internas o que desencadeou a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), cujas consequências foram importantes mudanças geopolíticas no continente europeu. Nesse período, vale destacar que ocorreu em 1917 a Revolução Russa, que implantou pela primeira vez o modo de produção socialista, cuja estrutura é oposta a do capitalismo. Além da reordenação política percebem-se pós-1ª Guerra à tentativa clara americana de ampliar a presença no território europeu, o que só acontece parcialmente, pois a crise de 1929 abalou as estruturas do capitalismo, levando a profundas modificações no sistema, que buscou novas formas de proteção, uma outra alteração significativa é a troca do modelo liberal pelo modelo Keynesiano (cujo teórico foi John Maynard Keynes). Neste período as conquistas tecnológicas continuaram marcando a economia tanto quanto a instabilidade política, tornava-se cada vez mais acentuada com o crescimento de ideologias extremistas, caminhou-se assim para a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). 11. durante a etapa do Capitalismo Financeiro, que os trustes e cartéis tornam-se cada vez mais presentes. O capitalismo financeiro revela um modo de produção onde os bancos assumem gradativamente o controle de outras empresas, dessa forma funde-se o banco com a indústria e até mesmo com as demais atividades como agricultura, pecuária e mineração. As necessidades do capitalismo industrial-liberal — matérias-primas, fontes de energia e mercados — continuaram existindo no capitalismo financeiromonopolista, a produção industrial, movida pela Segunda Revolução Industrial, aumentou cada vez mais. Até meados deste século, a maior parte do mundo ainda era formada por colônias que apresentavam uma economia complementar à das potências, definindo a tradicional divisão internacional do trabalho. O imperialismo continuou, portanto, garantindo a expansão dos negócios nos países que estavam se industrializando. O desfecho da Segunda Guerra Mundial agravou o processo de decadência das antigas potências européias, que se verificava desde o final da Primeira Guerra Mundial. Aos poucos, elas foram perdendo os seus domínios coloniais na Ásia e na África e, com a destruição provocada pela guerra, houve o deslocamento do centro de poder mundial com a emergência de duas superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética. Do ponto de vista econômico, o período do pós-guerras foi marcado por acentuada mundialização da economia capitalista, sob o comando dos grandes conglomerados, agora chamados de multinacionais ou transnacionais. Foi o período de gestação das profundas transformações econômicas pelas quais o mundo iria passar, principalmente a partir dos anos 80, ou seja, o atual processo de globalização da economia.

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GEOGRAFIA GLOBALIZAÇÃO: O estágio atual do capitalismo Correspondendo à mais recente fase da expansão capitalista, o processo de globalização está para o atual período técnico-científico ou informacional do capitalismo como o colonialismo esteve para a fase do capitalismo comercial (do século XVI ao XVIII), ou o imperialismo para o período capitalista industrial (do século XIX até metade do XX). Como nos outros períodos, busca-se o aumento dos mercados e, portanto, dos lucros. Este período difere dos demais por dispensar a ocupação territorial. Trata-se de uma invasão de mercadorias, capitais, serviços, informações e pessoas, obtida graças à agilidade nos deslocamentos e à eficiência das comunicações e do controle de informações. Os meios físicos que viabilizam a globalização são os satélites de comunicação e de observação da Terra, a informática, a telefonia, os aviões, etc. Como resultado dessa complexa teia, a globalização apresenta várias dimensões - socioeconômica, política, cultural, etc. - e todas elas se manifestam no espaço geográfico. Quando se iniciou o processo de expansão capitalista, com as Grandes Navegações, no final do século XV, o planeta Terra era composto por vários mundos europeu, chinês, árabe, asteca, inca, tupi, etc. - e, muitas vezes, os habitantes de um mundo não sabiam da existência dos outros. Ao atingir o atual período informacional, o capitalismo integrou países e regiões do planeta num único sistema formando o chamado sistemamundo. Mundo e planeta tornaram-se sinônimos. Os lugares que formam o espaço geográfico mundial estão conectados a uma rede de fluxos, controlada a partir de poucos centros de poder econômico e político. Entretanto, não são todos os lugares que estão integrados no sistemamundo O termo globalização começou a ser utilizado na década de 1980 para se referir a um novo e mais avançado estágio na interdependência de todos os povos e economias da superfície terrestre. No entanto, esse processo não é inteiramente novo, pois já vimos que a expansão capitalista iniciada na Europa nos séculos XV e XVI unificou o planeta e criou, pela primeira vez na história da humanidade, um mercado mundial. Resumindo: a Globalização é a mundialização do capitalismo. Aceleração econômica e tecnológica A tecnologia desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial estabeleceu um novo padrão de desenvolvimento tecnológico, que levou à modernização e a posterior automatização da indústria. Com a automatização industrial, aceleraram-se os processos de fabricação, o que permitiu grande aumento e diversificação da produção. O acelerado desenvolvimento tecnológico tornou o espaço cada vez mais artificializado, principalmente naqueles países onde o atrelamento da ciência à técnica era maior. A retração do meio natural e a expansão do meio técnicocientífico mostraram-se como uma faceta do processo em curso, na medida que tal expansão foi assumida como modelo de desenvolvimento em praticamente todos os países. Favorecidas pelo desenvolvimento tecnológico, particularmente a automatização da indústria, a informatização dos escritórios e a rapidez nos transportes e comunicações, as relações econômicas também se aceleraram, de modo que o capitalismo ingressou numa fase de grande desenvolvimento. A competição por mercados consumidores, por sua vez, estimulou ainda mais o avanço da tecnologia e o aumento da produção industrial, principalmente nos Estados Unidos, no Japão, nos países da União Européia e nos novos países industrializados (NPI’s) originários do ―mundo subdesenvolvido‖ da Ásia.

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A GLOBALIZAÇÃO O termo globalização começou a ser utilizado na década de 1980 para se referir a um novo e mais avançado estágio na interdependência de todos os povos e economias da superfície terrestre. No entanto, esse processo não é inteiramente novo, pois já vimos que a expansão capitalista iniciada na Europa nos séculos XV e XVI unificou o planeta e criou, pela primeira vez na história da humanidade, um mercado mundial. A atual etapa do Capitalismo a Globalização, foi consolidada a partir da Revolução Tecnocientífica Informacional ocorrida principalmente na década de 70 do século XX e permanece causando importantes transformações em escala planetária, regional e local. A REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA O aumento da competição levou as empresas a fazer volumosos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Foram auxiliadas pelos Estados nos quais tem sede. Como resultado, houve no pós-guerras importantes avanços científicos e tecnológicos, sobretudo a partir da década de 1970. Outras importantes alavancas para o desenvolvimento tecnológicos foram a corrida armamentista e a disputa aeroespacial. Nas ultimas décadas do século XX, foram desenvolvidos novos ramos industriais e de serviços, que apresentaram crescimento acelerado, como a informática, a robótica, as telecomunicações e a biotecnologia. A utilização de computadores se generalizou. Os robôs passaram a ser utilizados nas linhas de montagem, possibilitando aumento na produtividade. As telecomunicações avançaram de forma vertiginosa e hoje interligam o mundo inteiro. A Internet, a partir dos anos 1980, passou a conectar o mundo todo numa rede de computadores. Informações são trocadas, produtos são vendidos, pessoas entram em contato. Porém a maioria da população mundial não está conectada a rede. Em 2010, segundo relatório da ONU, menos de 30% da população mundial tem acesso a Internet e menos de um terço dela tinha acesso a uma linhas telefônica. Embora a sua difusão ocorra de forma desigual, esse rápidos avanços técnicos e científicos causaram forte impactos na produção e circulação de mercadorias, nos transportes e na cultura. Eles caracterizam a revolução técnico-científica, também chamada de revolução informacional, e em menor escala: terceira revolução industrial. A QUESTÃO AMBIENTAL: Os principais problemas ambientais AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS Os impactos ambientais são causados por modelos de desenvolvimento, tanto o capitalista como o socialista, que encaram a natureza e seus complexos e frágeis ecossistemas apenas como inesgotáveis fontes de energia e de matérias-primas e como receptáculo dos dejetos produzidos por suas cidades, indústrias e atividades agrícolas. Todos esses impactos foram provocados porque a natureza era vista apenas como fonte de matérias-primas e de lucros. A humanidade progrediu tanto em termos tecnológicos que passou a ver a natureza como algo separado dela mesma. Já nos séculos XVIII e XIX, os impactos ambientais provocados pela crescente industrialização eram muito grandes. Entretanto, ainda eram localizados e atingiam basicamente os trabalhadores, as camadas mais pobres da população. Os proprietários das fábricas poluidoras moravam distante das regiões fabris e tinham como se

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GEOGRAFIA refugiar das mazelas da industrialização. Com o passar do tempo, devido à crescente expansão do processo de industrialização e urbanização, os impactos foram aumentando, até que, no pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), passaram a ter conseqüências globais. O alerta foi dado no início da década de 1970. Em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, em Estocolmo (Suécia). Nesse encontro, nasceram as primeiras polêmicas sobre o antagonismo entre desenvolvimento e meio ambiente. Nesse mesmo ano, uma entidade formada por importantes empresários, chamada Clube de Roma, encomendou ao prestigiado Massachusetts Instituto of Technology (MIT), Estados Unidos, um estudo que ficou conhecido como Desenvolvimento zero. Tal estudo alertava o mundo para os problemas ambientais globais causados pela sociedade urbano-industrial e propunha o congelamento do crescimento econômico como única solução para evitar que o aumento dos impactos ambientais levasse a uma tragédia ecológica mundial. Obviamente, essa era uma péssima solução para os países subdesenvolvidos, que mais necessitavam de crescimento econômico para promover as melhorias da qualidade de vida da população. A Conferência Estocolmo-72, como ficou conhecida, foi marcada pela polêmica entre os defensores do "desenvolvimento zero", basicamente representantes dos países industrializados, e os defensores do "desenvolvimento a qualquer custo", representantes dos países não-industrializados. A proposta dos países ricos era congelar as desigualdades socioeconômicas vigentes no mundo; a dos países pobres, implementar uma rápida industrialização de alto impacto ecológico e humano. Nenhuma proposta menos maniqueísta surgiu nessa ocasião, afastando todos de uma solução mundialmente aceitável. Na época, a crise econômica mundial dos anos 1970, provocada em parte pelo choque do petróleo, colocou questões econômicas mais urgentes para os governantes do mundo inteiro se preocuparem. Somente no início dos anos 1980, a polêmica desenvolvimento x meio ambiente seria retomada. Em 1983, a Assembléia Geral da ONU indicou a então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, para presidir uma comissão encarregada de estudar o tema. Em 1987, foi publicado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) da ONU um estudo denominado Nosso futuro comum, mais conhecido como Relatório Brundtland. Esse estudo, que defendia o desenvolvimento para todos, buscava um equilíbrio entre as posições antagônicas surgidas na Estocolmo-72. Tentando conciliar desenvolvimento e preservação do meio ambiente, surgiu pela primeira vez a concepção de desenvolvimento humano sustentável. Leia, a seguir, a definição elaborada pela ONU. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL A razão de ser do desenvolvimento é o ser humano, que o gera. Por isso o desenvolvimento deve ter três atributos básicos: desenvolvimento das pessoas, aumentando suas oportunidades, capacidades, potencialidades e direitos de escolha; desenvolvimento para as pessoas, garantindo que seus resultados sejam apropriados eqüitativamente pela população; e desenvolvimento pelas pessoas, empoderando, isto é, alargando a parcela de poder dos indivíduos e comunidades humanas durante sua participação ativa na definição do processo de desenvolvimento do qual são sujeitos e beneficiários. E são duas as qualidades indissociáveis ao desenvolvimento: ser eqüitativo e sustentável. Ambas manifestam-se na forma

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como se dá sua construção e na distribuição de seus resultados, entre os membros das presentes e futuras gerações. Logo, a sustentabilidade do desenvolvimento é política, social, cultural, econômica e, não menos importante, ambiental - entendendo-se por ambiente os serviços e recursos naturais que dão suporte ao processo do desenvolvimento humano, no presente e no futuro. O processo de desenvolvimento que atenda estes atributos e tenha estas qualidades será denominado Desenvolvimento Humano Sustentável (DHS).PROGRAMA ONU para o Desenvolvimento. l em:<www.undp.org.br/desen.htm As sociedades sustentáveis estariam baseadas em igualdade econômica, justiça social, preservação da diversidade cultural, da autodeterminação dos povos e da integridade ecológica. Isso obrigaria pessoas e países a mudanças não apenas econômicas, mas sociais, morais e éticas. Veremos, a seguir , o que se está tentando fazer para encontrar um equilíbrio entre a necessidade de acumulação de capital - que, em escala mundial, causa impactos ambientais - e a apropriação da natureza de forma sustentável, combinada com a melhoria das condições de vida. RI0-92: PERSPECTIVAS PARA O FUTURO A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, reuniu chefes de Estado da maioria dos países do mundo, além de milhares de representantes de organizações não-governamentais (ONGs), numa conferência paralela. Esse encontro, que na fase preparatória teve como subsídio o Relatório Brundtland, definiu uma série de resoluções, visando alterar o atual modelo consumista de desenvolvimento para outro, ecologicamente mais sustentável. O objetivo fundamental era tentar minimizar os impactos ambientais no planeta, garantindo, assim, o futuro das próximas gerações. Segundo o Relatório da CMMAD: "O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades". Para atingir tal fim, foram elaboradas duas convenções (uma sobre biodiversidade, outra sobre mudanças climáticas), uma declaração de princípios e um plano de ação. O plano de ação, mais conhecido como Agenda 21, é um ambicioso programa para a implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável em todo o mundo durante o século XXI. Esse objetivo, entretanto, requer volumosos recursos e os países desenvolvidos comprometeram-se a canalizar 0,7% de seus PIBs. Com o objetivo básico de fiscalizar a aplicação da Agenda 21, foi criada a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS). O órgão, sediado em Nova York e vinculado à ONU, agrega 53 países membros, entre os quais o Brasil. Os países desenvolvidos, contudo, não estão cumprindo o compromisso, com raras exceções, como os países nórdicos. A Convenção sobre Biodiversidade e a Convenção sobre Mudanças Climáticas têm como agente financiador um organismo denominado GEF (Global Environment Facility) ou Fundo para o Meio Ambiente Global. Criado em 1990, o GEF é dirigido pelo Banco Mundial e recebe apoio técnico e científico dos Programas das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e para o Meio Ambiente (Pnuma). A Convenção sobre Biodiversidade traçou uma série de medidas para a preservação da vida no planeta. Em vigor desde 1993, essa convenção tenta frear a destruição da fauna e da flora, concentradas principalmente nas florestas tropicais, as mais ricas em biodiversidade.

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GEOGRAFIA A Convenção sobre Mudanças Climáticas, em vigor desde 1994, estabeleceu várias medidas para diminuir a emissão de poluentes pelas indústrias, automóveis e outras fontes poluidoras, com o objetivo de impedir a destruição da camada de ozônio, o agravamento do efeito estufa, o avanço da desertificação, etc. Nessa convenção, foi assinado o Protocolo de Quioto (Japão), visando à redução da emissão de poluentes na atmosfera. Com o objetivo de evitar as catástrofes descritas, durante a Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, realizada em Quioto (Japão), em 1997, foi firmado um acordo para a redução da emissão de gases-estufa. O Protocolo de Quioto, com base nos níveis de 1990, definiu uma redução média de 5,2%, meta a ser atingida em 2012. Para os principais países emissores, o índice fixado foi maior: 8% para a União Européia, 7% para os Estados Unidos e 6% para o Japão. Para os países em desenvolvimento, não foram estabelecidos níveis de redução, o que tem levantado muita oposição ao protocolo nos países desenvolvidos. Os Estados Unidos, por exemplo, divulgaram nota oficial em 2001 comunicando que não respeitariam o Protocolo de Quioto, o que, por sua vez, gerou grande polêmica internacional. Alegaram, para tanto, que o cumprimento do acordo limitaria o seu crescimento econômico. A FALÊNCIA DO MODELO CONSUMISTA DE DESENVOLVIMENTO Os países desenvolvidos abrigam em torno de um quinto da população mundial, ou pouco mais de um bilhão de habitantes. No entanto, eles respondem pelo consumo de cerca de 80% de todos os recursos (matérias-primas, energia e alimentos) extraídos da natureza. Apenas as duas maiores potências econômicas do mundo atual. Estados Unidos e Japão, que juntas apresentam uma população de cerca de 402 milhões (6,7% do total mundial, em 2000), consomem aproximada-mente um terço de todos os recursos naturais do planeta. Caso esse padrão de consumo fosse estendido aos dois terços da humanidade que atualmente vivem em condições de pobreza ou miséria, a demanda por matérias-primas e energia e a produção de lixo, etc. levariam as agressões ambientais a patamares assustadores. É por isso que a grande questão que se coloca hoje em dia é a busca de um modelo de desenvolvimento que não cause tantos impactos ao meio ambiente, que seja ecologicamente sustentável e que promova melhor distribuição da riqueza no mundo. Para isso, como já foi discutido, seria necessário um novo modelo de sociedade. Essa discussão já tinha aparecido na Estocolmo-72, permeou a Rio-92 e também foi debatida na Conferência sobre População e Desenvolvimento realizada no Cairo (Egito), em 1994, e na Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos - Habitat II, realizada em 1996, em Istambul (Turquia). Só o fortalecimento da democracia e da cidadania em escala planetária pode levar, pela pressão da sociedade civil organizada, à solução desses complexos problemas. Leia, a seguir, que o consumo envolve muitas variáveis. Rio+20: vinte anos depois Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro voltou a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu na cidade de 13 a 22 de junho, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum

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sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza. Depois do período em que representantes de mais de 100 países discutiram detalhes do documento final da Conferência, o evento ingressou quarta-feira na etapa definitiva e mais importante. Nesta sexta, o Segmento de Alto Nível faz sua última plenária e encerrou a Rio+20 com a aprovação do texto por diversos chefes de Estado e de governo de países-membros das Nações Unidas. Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Kimoon, vários líderes mundiais não vieram ao Brasil, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Ângela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Além disso, houve impasse em relação ao texto do documento definitivo, que segue sofrendo críticas dos representantes mundiais. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro. Rio+20 chega ao fim recheada de elogios e críticas Decepção. Para muitos, em especial organizações ambientais e líderes internacionais, esse é o resumo da Rio+20. Por outro lado, os representantes do governo brasileiro já afirmam ter considerado um sucesso. No meio desse fogo cruzado, a ONU e um texto cheio de promessas de erradicar a pobreza sem prejudicar a natureza, mas poucas metas. A Convenção das Nações Unidas para a Desenvolvimento Sustentável parou o Rio de Janeiro. Cerca de 20 mil homens comandados pelo Exército patrulhavam as ruas, o ar e o mar. O espaço aéreo foi limitado e o trânsito foi modificado para a Rio+20. Nas mesas de discussão, a coisa parecia menos organizada - ou pelo menos, com menos objetivo. Para o diretor do Centro de Informações da ONU para o Brasil, Giancarlo Summa, apesar de ter passado por outras discussões anteriormente, somente 25% do documento a ser discutido estava pronto quando chegou à conferência. E essa falta de decisão foi refletida no evento. Os cerca de 190 países representados deveriam chegar a um consenso entre os dias 13 e 15 de junho, uma sexta-feira. Mas a negociação entrou fim de semana adentro. Foi somente na madrugada de terça-feira que ocorreu o anúncio de acordo no texto base. Com o acordo, vieram as críticas. Com tantos dias de discussão, muitos pontos importantes ficaram de fora e viraram alvo de críticas. Um fundo proposto pelos países em desenvolvimento, por exemplo, texto. Outro ponto, que defendia o direito da mulher à reprodução, foi retirado por pressão do vaticano - já que poderia ser interpretado como apoio ao aborto. As críticas, para a retirada dessa proposta, vieram da ex-presidente chilena Michelle Bachellet e da secretária de Estado americana Hillary Clinton. Mas esses foram apenas alguns dos trechos retirados para que se chegasse a um consenso. O texto final foi alvo de críticas muito mais duras de ONGs. A Amigos da Terra chamou de "atentado" e o Greenpeace classificou o texto da Rio+20 de "tapa na cara", entre outras manifestações. Nas ruas, muitos protestos. Mas ainda havia tempo para mudar. Os três últimos dias de conferência, incluindo esta sexta-feira, reuniriam os chefes de Estado e de governo para discutir o documento. Cada representante que subia ao palco prometia desenvolvimento sustentável, respeito ao ambiente, diminuir as emissões de CO2 e mais. Alguns ainda faziam críticas ao texto acordado. Por outro lado, o governo brasileiro, anfitrião e líder das negociações, e a ONU defendiam o documento, o que dividiu as opiniões em torno do acordo. O ministro Antônio Patriota disse que a conquista foi o consenso em torno do tema. A presidente Dilma Rousseff disse que o texto é

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GEOGRAFIA apenas o começo. O exemplo das opiniões sobre o documento da Rio+20 é o secretário-geral da ONU. Ele reclamou que o texto aprovado previamente e mostrado na terça-feira era pouco ambicioso. Mas, por pressão da presidente Dilma, Ban Ki-moon voltou atrás e defendeu o documento. Após o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, passar o recado de que Dilma estava descontente com a posição, o sul-coreano mudou o discurso e afirmou que tivemos "um grande sucesso". Nesta noite, os críticos do documento viram suas poucas esperanças acabarem de vez. O documento foi aprovado pela Cúpula de chefes de Estado (veja o texto no link www.uncsd2012.org/thefuturewewant.html, em inglês, espanhol, francês, russo, chinês ou árabe). Falta saber se a salva de palmas dos secretários, ministros, premiês, presidentes e até reis que fechou esses 10 dias de discussões e protestos foi merecida. Fonte: Portal Terra 22 de junho de 2012 • 21h37 PROBLEMAS AMBIENTAIS Impacto ambiental deve ser entendido como um desequilíbrio provocado por um choque, um "trauma ecológico", resultante da ação do homem sobre o meio ambiente. No entanto, pode ser resultado de acidentes naturais: a explosão de um vulcão, o choque de um meteoro, um raio, etc. Mas devemos dar cada vez mais atenção aos impactos causados pela ação do homem. Mas quem é esse homem genérico, agente vago que muitas vezes é responsabilizado por tudo? Quando dizemos que o homem causa os desequilíbrios, obviamente estamos falando do sistema produtivo construído pela humanidade ao longo de sua história. Estamos falando particularmente do capitalismo. Podemos diferenciar os impactos ambientais em escala local, regional e global. Podemos também separá-los naqueles ocorridos em um ecossistema natural, em um ecossistema agrícola ou em um sistema urbano, embora um impacto, à primeira vista ocorrido em escala local, possa Ter também consequências em escala global. Por exemplo, a devastação de florestas tropicais por queimadas para a introdução de pastagens pode provocar desequilíbrios nesse ecossistema natural: extinção de espécies animais e vegetais, empobrecimento do solo, assoreamento dos rios, menor índice pluviométrico, etc., mas a emissão de gás carbônico como resultado da combustão das árvores vai colaborar para o aumento da concentração desse gás na atmosfera, agravando o "efeito estufa". Assim, os impactos localizados, ao se somarem, acabam tendo um efeito também em escala global. Veremos agora os principais impactos ambientais no mundo hoje: Desmatamento de florestas As principais conseqüências do desmatamento são: 18. Destruição da biodiversidade; 19. Genocídio e etnocídio das nações indígenas; 20. Erosão e empobrecimento dos solos; 21. Enchente e assoreamento dos rios; 22. Diminuição dos índices pluviométricos; 23. Elevação das temperaturas; 24. Desertificação; 25. Proliferação de pragas e doenças. O efeito estufa O efeito estufa é talvez o impacto ambiental que mais assusta as pessoas. Fazem-se previsões catastróficas acerca do derretimento do gelo dos pólos e das montanhas e a conseqüente elevação do nível dos oceanos e

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inundação de centenas de cidades litorâneas. Talvez o que mais assuste no efeito estufa, ou melhor, nas possíveis conseqüências de uma gradativa elevação das médias térmicas no planeta, é a tomada de consciência, pela primeira vez na história, da possibilidade de destruição do próprio homem. Os impactos ambientais são "democratizados", ou seja, passam a atingir todas as pessoas, sem distinção de cunho econômico, social ou cultural: atingem indistintamente homens e mulheres, ricos e pobres, operários e patrões, negros e amarelos, desenvolvidos e subdesenvolvidos, capitalistas e socialistas, liberais e conservadores. Não há mais refúgio seguro. Todos finalmente passam a Ter plena consciência do óbvio: a Terra é finita e a tecnologia não pode resolver todos os seus problemas. Mas o que é esse tão temido e tão falado efeito estufa? Antes de mais nada, é fundamental enfatizar que se trata, na verdade, de um fenômeno natural e fundamental para a vida na Terra. O efeito estufa, que consiste na retenção de calor irradiado pela superfície terrestre, pelas partículas de gases e de água em suspensão na atmosfera, garante a manutenção do equilíbrio térmico do planeta e, portanto, a sobrevivência das várias espécies vegetais e animais. Sem isso, certamente, seria impossível a vida na Terra ou, pelo menos, a vida como conhecemos hoje. Assim, feita essa importante ressalva, o efeito estufa, de que tanto se fala ultimamente, resulta, a rigor de um desequilíbrio na composição atmosférica, provocado pela crescente elevação da concentração de certos gases que têm capacidade de absorver calor, como é o caso do metano, dos CFCs, mas principalmente do dióxido de carbono (CO2). Essa elevação dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera se deve à crescente queima de combustíveis fósseis e das florestas, desde a Revolução Industrial. Assim, segundo pesquisas feitas, admite-se que uma duplicação na concentração de dióxido de carbono na atmosfera pode provocar uma elevação média de 3ºC na temperatura terrestre, o que poderia elevar em uns 20 centímetros, em média, o nível dos oceanos. Isso seria resultante da fusão do gelo do topo das montanhas, da fusão do gelo que recobre as terras polares e também da dilatação da água dos mares. Uma elevação dos oceanos, ainda que de 20 centímetros em média, já seria suficiente para causar transtornos a cidades litorâneas. Destruição da camada de ozônio A destruição da Camada de Ozônio, localizada na estratosfera, é um dos mais severos problemas ambientais da nossa era, e durante algum tempo foi muito citada na imprensa. Sua destruição ainda que parcial, diminui a resistência natural que oferece à passagem dos raios solares nocivos à saúde de homens, animais e plantas, os chamados raios ultravioletas. As conseqüências mais citadas seriam o câncer de pele, problemas oculares, diminuição da capacidade imunológica, etc. O problema surgiu nos anos 30, quando algumas substâncias foram produzidas artificialmente em laboratório, principalmente para as aplicações em refrigeração. Descobriu-se mais tarde que estas atacam a camada de ozônio, com a tendência de reduzi-la globalmente, e com um efeito devastador que acontece localmente na Antártica, conhecido como o buraco de ozônio da Antártica, aumentando assim a penetração dos raios ultravioleta indesejáveis. Nos anos 80 iniciou-se uma verdadeira guerra para preservação da camada de ozônio, e uma de suas maiores vitórias foi a assinatura do Protocolo de Montreal em 1987. Por este tratado, assinado por vários países, todas as

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GEOGRAFIA substâncias conhecidas por CFC (clorofluorcarbonetos), responsáveis pela destruição do ozônio, não seriam mais produzidas em massa. O trabalho mundial que se realiza para salvar a camada de ozônio continua. Trata-se de uma verdadeira guerra, onde se ganha batalha por batalha (e às vezes se perde uma, como por exemplo a não assinatura do Protocolo por alguns países). O grande problema é que muitas das pequenas indústrias que produziam e ainda produzem substâncias "proibidas" não tem tido capacidade financeira de se adaptar aos ditames do Protocolo de Montreal. A maior vitória nesta guerra foi conquistada em 1987, quando a maioria dos países desenvolvidos parou de fabricar os CFCs. Para não prejudicar os países em desenvolvimento, foi lhes concedido ainda um tempo adicional para se adaptar às novas exigências. Assim é que, 84% da emissão de CFCs já foi eliminada, uma conquista extraordinária. A guerra, porém, ainda não está ganha. A Índia e a China são hoje ainda os maiores produtores e consumidores de CFCs. A redução da camada de ozônio pode ser medida através do tamanho do buraco de ozônio da Antártica. Trata-se de uma região onde os efeitos destruidores dos CFCs são aumentados, pelas condições climáticas do Pólo Sul. Assim é que estamos numa época em que o tamanho do buraco é o maior já registrado. Apesar da vitória alcançada em 87, os problemas ainda não estão totalmente resolvidos para a camada de ozônio, e o motivo é que não existe ainda um substituto ideal para repor o CFC. Hoje se utiliza maciçamente substâncias conhecidas por HCFC, isto é, um CFC melhorado ecologicamente, mas que ainda tem em sua molécula um átomo de cloro, que mais cedo ou mais tarde, vai também atacar a camada de ozônio. Em outras palavras, a situação está teoricamente melhor, mas ainda não está resolvida. A guerra não está ganha ainda. Não se pode esquecer que a camada de ozônio reage muito lentamente aos estímulos externos. O exemplo citado acima ilustra bem o que se afirma. A partir de 87 foi quase eliminada a emissão de novas quantidades de CFC para a atmosfera, mas hoje ainda temos um buraco de ozônio na Antártica que está próximo ao seu tamanho máximo. Os cientistas dizem para explicar isto que a camada tem constante de tempo muito longa. A constante de tempo da camada de ozônio 1. muito grande, isto é, ela só vai reagir a um estímulo após dezenas de anos. A prova é que, há mais de 20 anos após a principal vitória na eliminação da emissão de CFCs, o buraco na camada de ozônio ainda continua próximo ao seu máximo. Em 1998 o tamanho do buraco de ozônio da Antártica foi o maior já registrado, com 27 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, mais de 3 vezes o tamanho do Brasil. Parece que estamos ainda muito longe de um resultado realmente positivo no sentido da recuperação da camada de ozônio, não só na Antártica, mas também em todo o mundo. O Brasil tem participado deste trabalho de avaliação contínua da camada de ozônio não só sobre o Brasil, mas também na Antártica, onde manteve em 1999 uma equipe na base Comandante Ferraz, para medir a camada de ozônio usando balões de pesquisa. Por tudo isto, continua o monitoramento da camada de ozônio em todo o mundo, a partir da superfície terrestre, de satélites, de aeronaves, usando as técnicas mais diversas. Não podemos esquecer que a guerra ainda levará muitos anos, até que finalmente, poderemos de fato não mais nos preocupar com radiação ultravioleta danosa aos seres vivos, quando a camada de ozônio estiver recuperada.

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GEOGRAFIA DO BRASIL AS ATIVIDADES ECONÔMICAS REORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO PÓS-30: DO AGRÁRIO-EXPORTADOR AO URBANO INDUSTRIAL Uma longa fase se estende desde a inserção do país na divisão internacional do trabalho no século XVI até as primeiras décadas do século passado caracterizada por uma economia agrário-exportadora. Essa fase produziu um território nacional que no começo do século XX se apresentava essencialmente desarticulado. Os autores que tem escrito sobre o Brasil associam essa desarticulação à idéia de arquipélago, um "arquipélago econômico" , ou seja, o país possuía uma economia nacional formada por várias economias regionais. Não existia, de fato, uma divisão regional interna do trabalho em dimensão nacional. As diversas regiões se ligavam diretamente a centros do capitalismo mundial. Tinham em comum a valorização do setor externo, realizando um "crescimento para fora". A organização da economia brasileira agrário-exportadora, do início do século XX, estava assim caracterizada: monocultura de exportação (cana-de-açúcar, algodão, cacau, café, além do pólo da borracha); fraco comércio interno; grande importação de produtos industrializados, principalmente para o Sudeste; poder político e econômico centralizado nas mãos dos "barões do café"; . concentração populacional nas áreas rurais; . concentração da terra (latifúndios) em poucas mãos; . desarticulação regional, pois cada área ligava-se diretamente ao mercado externo. O BRASIL E A DTT( DIVISÃO TERRITORIAL DO TRABALHO) A Economia cafeeira em São Paulo lançou as bases para a industrialização do sudeste. A concentração industrial no sudeste transformou toda a economia do país, criando um mercado interno nacional. O sudeste tornou-se o pólo da economia do país, e o estado de São Paulo tornou-se o pólo da economia do Sudeste. A industrialização acelerada no período 1930-1960 rompeu o isolamento dos mercados regionais. Os manufaturados do Sudeste, produzidos com tecnologia superior e em escala industrial, invadiram todo o país. A competição desigual com as mercadorias fabricadas nas outras regiões resultou no predomínio da indústria do sudeste. A marcha da conquista começou na década de 30, quando o governo de Getúlio Vargas eliminou os impostos interestaduais que protegiam os mercados regionais. Na década seguinte, rodovias começaram a interligar os estados de São Paulo e Rio de janeiro ao restante do país, gerando uma expansão inédita do comércio interno Essa política orientou-se pela criação das grandes rodovias de integração nacional. O Nordeste e o Sul foram conectados ao Sudeste através da BR-116 e, depois, da BR-101. Nas décadas de 1950 e 1960, as capitais do Centro-Oeste e Brasília foram conectadas ao Sudeste. Em seguida, Brasília e Cuiabá tornaram-se os trampolins para a integração da Amazônia. Os eixos principais da "conquista da Amazônia" foram a BR-153 (Belém—Brasília) e a BR364, que parte do Mato Grosso e abre caminho rumo a Rondônia e ao Acre. Um eixo secundário foi a BR-163 (Cuiabá—Santarém), cuja pavimentação se interrompe antes da divisa norte do Mato Grosso.

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GEOGRAFIA A integração do país comandada pelo Sudeste eliminou a ―economia de arquipélago‖ e criou uma divisão territorial do trabalho, criando uma estrutura de centro-periferia A INDUSTRIALIZAÇÃO Costuma-se dizer que a indústria brasileira nasceu tardiamente e na dependência de tecnologia externa, pois o primeiro surto industrial do Brasil ocorreu um século depois de deflagrada a Revolução Industrial (segunda metade do século XVIII). O desenvolvimento industrial no Brasil pode ser dividido em duas etapas históricas distintas: o primeiro surto industrial acompanhou o crescimento da economia cafeeira capitalista de São Paulo, e a Revolução de 1930 é o marco para a verdadeira industrialização do país identificada com os governos nacionalistas de Getúlio Vargas. Ainda nessa segunda etapa, uma orientação para a abertura ao capital e indústrias transnacionais, no governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961), configurando a substituição do modelo agrário-exportador pelo urbano-industrial. O primeiro surto industrial tem início a partir de 1890, na região cafeeira do Sudeste, estendendo-se até 1929. E precedido de vários fatos históricos importantes: a imigração estrangeira (1880), representando mão-de-obra especializada para a indústria; a Abolição dos escravos (1888) e a instauração da República (1889). As indústrias predominantes, nessa época, eram as fábricas de bens de consumo não-duráveis (têxteis, vestuários, calçados, alimentos) e as metalúrgicas e químicas (tintas), que se concentravam no Oeste paulista. A concentração industrial em São Paulo pode ser explicada pelos seguintes fatores: 2. A economia cafeeira gerou um mercado consumidor interno (classe média, trabalhadores, imigrantes e escravos recémlibertos); 3. A concentração da força de trabalho (imigrantes, nas épocas de crise do café); 4. A infra-estrutura ferroviária que servia à região cafeeira (transporte de carvão e ferro para as indústrias); ► A concentração de capitais (exportação do café). A relação entre a economia cafeeira dominante e a economia industrial nascente se dava da seguinte forma: 1. as crises de superprodução do café provocavam a queda do preço no mercado mundial, o declínio das exportações, o recuo nas plantações e o êxodo de trabalhadores para as fábricas; verificava-se o crescimento da indústria, via empréstimos bancários. a) recuperação cafeeira fazia com que os empréstimos bancários se destinassem às plantações de café, o retorno à exportação. Retornava-se b) importar produtos industriais (melhores e mais baratos), gerando crises e falências industriais. O início da primeira fase da industrialização brasileira é marcado pela crise da Bolsa de Nova Iorque (1929). Essa crise provocou uma contração dos mercados consumidores dos países desenvolvidos e derrubou os preços das mercadorias de exportação dos países de economia agrária, como o Brasil. Os reflexos dessa crise no Brasil foram desastrosos: além da queda do preço do café, cai também a oligarquia cafeeira, derrubada pelo movimento revolucionário de 1930. A classe média e a burguesia comercial chegam ao poder, juntamente com Getúlio Vargas. A ascensão de Vargas representou o estabelecimento da burguesia de pensamento industrial no poder. No intuito de viabilizar a infra-estrutura para a indústria e garantir a integração nacional, foram desencadeadas as seguintes políticas:

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►criação de empresas estatais:em 1941 a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), com o objetivo de viabilizar a produção de bens de produção e de consumo duráveis. ►centralização política do poder através do Estado Novo, provocando a queda dos poderes locais. ►expansão da fronteira, através da marcha para o oeste, buscando a incorporação das terras do Centro-Oeste (expansão da pecuária extensiva nos cerrados). A indústria começava a reorganizar o território nacional. Nesse período, a industrialização trouxe as seguintes transformações espaciais: ►consolidação do sudeste como centro da economia nacional, com base no modelo de substituições de importações; ►decadência de áreas tradicionais, como o Nordeste, devido à concorrência com o Sudeste; ►expansão da fronteira agrícola para o Centro-Oeste; ► desníveis regionais e desprezo em relação à Amazônia. Pode-se dizer que no período de 1930 até a Segunda Guerra Mundial a indústria nacional cresceu livre da concorrência estrangeira. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao mesmo tempo em que freou o crescimento industrial, devido a redução das importações de máquinas e equipamentos, estimulou a substituição dessas importações por produtos nacionais. A "Era Vargas" foi a "Era das indústrias nacionais": "No pós-guerra, a criação da indústria de bens de produção voltaria a se associar ao nome de Getúlio Vargas. Em, 1951 é inaugurada a usina de Paulo Afonso (...). Em 1953 surgia a Petrobrás e, com ela, um gigantesco esforço voltado para a produção, o refino e o transporte do petróleo organizado sob o signo do monopólio estatal" (MAGNOLI, 2000). A partir da década de 50 a industrialização brasileira sofreu uma forte aceleração (segunda fase). No governo J.K. é reorientada a política industrial brasileira, enfatizando-se a abertura do país aos investimentos estrangeiros diretos. O seu "Plano de Metas" (50 anos em 5) tinha como fundamento a implantação de um sólido parque automobilístico, com tecnologia dos EUA e da Europa. Tal política pode ser apontada como a responsável pela inserção efetiva do Brasil ao capitalismo internacional, através da seguinte dinâmica: ► empréstimos internacionais e abertura da economia para os investimentos estrangeiros a fim de financiar as obras de infra-estrutura (construção de rodovias e hidrelétricas, expansão do refino de petróleo, etc.). ► formação da tríplice aliança, da qual faziam parte o capital estatal (obras de infra-estrutura), os conglomerados transnacionais (setor de bens de consumo duráveis) e o grande capital nacional (setor de bens de consumo não-duráveis). ► integração do território como condição à consolidação da indústria, ganhando importância o planejamento regional, favorecendo a concentração de capital no Sudeste. ► criação de políticas regionais, a exemplo da SUDENE (1959), com o pretexto de reduzir as desigualdades regionais. Os recursos públicos utilizados para criar a infra-estrutura no Nordeste favoreceram a instalação de indústrias paulistas sofisticadas tecnologicamente, dificultando a absorção da mão-de-obra local. ► construção de Brasília (1960), viabilizou o início da geopolítica de integração nacional, com a construção de estradas radiais, responsável pela articulação do território nacional e a superação do "arquipélago econômico". Este ato serviu para dificultar a pressão popular sobre o Governo.

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GEOGRAFIA 1. importante ressaltar que o governo brasileiro estimulou os investimentos estrangeiros de várias maneiras: liberando as importações de máquinas e equipamentos, criando mecanismos de créditos para expandir o consumo interno, instalando programas rodoviários, energéticos e siderúrgicos, dentre outros. As firmas estrangeiras também estavam interessadas na exploração das matérias-primas e da mão-de-obra brasileira (numerosa e mal remunerada). Esse processo de industrialização dependente e acelerado que vai do pós-guerra até meados da década de 70, caracteriza a ruptura com o modelo agro-exportador e encerra a fase típica de substituição de importação (produção interna dos bens industriais que antes eram importados), trazendo como conseqüências: § a divisão territorial do trabalho, com a concentração industrial e financeira em São Paulo; § a integração do território, com a criação de um espaço nacional. A nova forma de organização do espaço orienta-se segundo um esquema de centro (SP e RJ) e periferias (fornecedoras de mão-de-obra e matérias-primas); § o Centro-Sul tornou-se a região mais industrializada e urbanizada do Brasil e surgiu como expressão de modernidade e de integração econômica. § o Nordeste cristaliza-se como região de economia deprimida e como área de emigração intensa para o Centro-Sul. A crise social e bolsões de miséria marcam o espaço geográfico nordestino. § a Amazônia aparece como imensa reserva fracamente povoada e como futura fronteira de expansão da economia industrial nacional. A ACELERAÇÃO DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: o endividamento externo e a dependência econômica Desde o Plano de Metas e até meados da década de 70 houve um acelerado desenvolvimento econômico, baseado nos seguintes fatores: ►entrada de capitais estrangeiros através de investimentos produtivos diretos, ou seja, com a abertura de filiais de conglomerados transnacionais. b) a política internacional de juros baixos favoreceu os empréstimos e não causou entraves ao crescimento econômico. havia um equilíbrio relativo entre as importações de bens industriais e as exportações de matérias-primas. c) a ampliação do consumo interno através de políticas de estímulo ao crédito, garantindo e consolidando o processo de industrialização. A partir de 1964, o Brasil viverá sob o signo da ditadura, os militares no poder aprofundaram o modelo de transnacionalização da economia aliada ao aumento do endividamento externo, tais medidas resultaram num forte crescimento econômico que marcou os anos do “milagre econômico brasileiro-1968/1973” (terceira fase). A partir da década de 70, o modelo econômico apoiado na dependência de empréstimos financeiros externos começou a se esgotar, devido ao "primeiro choque" do petróleo (1973), causando grande recessão na economia mundial e afetando o país em função do aumento dos gastos com as importações de bens de produção (juros elevados) e da diminuição dos ganhos, pois as matérias-primas foram desvalorizadas pelos países desenvolvidos (redução das compras). O saldo negativo na balança comercial forçou o Governo brasileiro a reorientar a economia buscando atingir superávits (saldos positivos) para o pagamento da dívida externa, a partir das seguintes medidas:

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d) redução das importações com o aumento das tarifas alfandegárias. A principal conseqüência foi o atraso tecnológico do parque industrial brasileiro, devido aos poucos investimentos empresarias; e) redução dos gastos governamentais na área social, gerando a desestruturação e sucateamento dos programas de saúde e de educação públicos, ampliando o mercado para a iniciativa privada; f) incentivo às exportações de produtos extrativistas e à agricultura comercial, como a soja. g) aumento dos gastos públicos(endividamento) em grandes projetos voltados à exportação, como por exemplo os grandes projetos agrominerais da Amazônia (Programa Grande Carajás). A partir de 1982 o Brasil passou a incorporar uma sucessão de atrasos de pagamentos da dívida externa, bem como conheceu nessa década uma explosão inflacionária, que refletia a instabilidade geral da economia da América Latina. Os superávits da balança comercial não foram utilizados para sustentar as importações necessárias ao desenvolvimento industrial, mas para pagar os sucessivos rombos gerados pelos juros e serviços da dívida. O país perdeu a capacidade de importar e a base produtiva instalada nas décadas anteriores conheceu um processo de defasagem tecnológica e o crescimento e agravamento das contradições sociais. Vivia-se, nos anos 80, a "década perdida"(quarta fase). Os anos 90 marcam a liberalização da economia e a abertura do mercado interno por conta da implantação de um modelo político-econômico neoliberal, integrando o país definitivamente à economia mundial. Nesse contexto ocorre a queda de juros no mercado internacional, associado aos acordos de renegociação da dívida externa, bem como a atração de capitais internacionais pela abertura dos mercados financeiros e a privatização de Estatais. A orientação exportadora para conseguir divisas para o pagamento dos juros e serviços da dívida, típica dos anos 80, cede lugar à atração de dinheiro novo para cumprir compromissos financeiros. A abertura do mercado interno à concorrência estrangeira tem provocado o aumento das importações de bens de produção necessários à modernização tecnológica do parque industrial nacional. Expõe, ainda, vários ramos da indústria de bens de consumo, como carros, eletrodomésticos, brinquedos e até alimentos a essa competição, impondo novos padrões de concorrência e competitividade para as industrias instaladas no país. BRASIL & GLOBALIZAÇÃO: os novos investimentos Antecedentes históricos O ciclo do "milagre brasileiro" cristalizou um modelo industrial baseado numa tríplice aliança, da qual faziam parte o capital estatal, os conglomerados transnacionais e o grande capital nacional. O tripé conjugava os interesses dos oligopólios que lotearam o mercado brasileiro: as transnacionais dominavam o setor de bens de consumo duráveis, o Estado atuava no setor de bens de produção e o capital privado nacional estava presente, principalmente, no setor de bens de consumo não-duráveis. O Estado desempenhou funções estruturais na tríplice aliança. Ao longo do esforço industrial do pós-guerra e, principalmente, nas duas décadas do regime militar, entre 1964 e 1984, as empresas estatais assumiram a hegemonia na siderurgia, na indústria química e petroquímica e na mineração. Algumas gigantes companhias de holding— como a Siderbrás, na siderurgia, a Embratel e a Telebrás, nas comunicações, e a Eletrobrás, na geração de energia — controlavam setores fundamentais para a modernização econômica do país.

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GEOGRAFIA Produzindo bens intermediários, as estatais forneciam, geralmente a preços inferiores aos de mercado, os insumos e matérias-primas consumidos pelas transnacionais e grandes empresas nacionais. A intensificação das funções produtivas do Estado caracterizou-se pela concentração de recursos em, favor do governo federal e pela descentralização administrativa, posto que as empresas estatais haviam assumido progressiva autonomia financeira e decisória. As estatais "gigantes" adquiriram capacidade de autofinanciamento e de endividamento externo independentemente de aprovação governamental. A poderosa camada de tecnoburocratas que floresceu no interior dessas megaempresas acabou por se apropriar de parcela significativa das decisões sobre a aplicação dos recursos do orçamento nacional. A DÉCADA DAS PRIVATIZAÇÕES O modelo de industrialização por substituição de importações, que durou praticamente meio século, esgotouse na década de 1980. A recessão de 1981-83 anunciou o decênio de turbulência. O endividamento externo, contraído principalmente na década de 1970, tinha atingido o seu limite. As elevadas taxas de juros internacionais interrompiam as fontes de financiamento dos investimentos estatais. A continuidade do esforço de estímulo ao crescimento econômico exigia a emissão descontrolada de dinheiro, com terríveis conseqüências inflacionárias. A recessão de 1988-92 assinalou a emergência de um novo modelo econômico, derivado do desabamento do pilar estatal que sustentava a tríplice aliança. A crise estrutural do modelo econômico acompanhou uma tendência internacional de esgota-mento dos processos de industrialização por substituição de importações. Como no Brasil, a Argentina e o México conheceram as conseqüências do endividamento externo e da incapacidade do Estado de prosseguir financiando a modernização industrial. O pano de fundo dessa tendência é o movimento de globalização da economia mundial, que acompanha a revolução tecnocientífica contemporânea. A intensificação dos fluxos internacionais de capitais nos mercados financeiros e a abertura das economias nacionais ao comércio global são aspectos desse movimento. Em toda a América Latina, os projetos de industrialização protegida deram lugar a dolorosos ajustes destinados a integrar as economias nacionais na nova economia global. No Brasil, os governos Collor de Mello (1990-92) e Itamar Franco (1992-94) iniciaram a abertura da economia nacional. Entretanto, foi durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-98) que se consolidou um novo modelo econômico, assentado sobre a liberalização comercial e a atração de investimentos estrangeiros diretos. A implantação do novo modelo representou a desmontagem, por meio de um vasto programa de privatizações, das estruturas produtivas estatais. A primeira etapa do programa, entre 1991 e 1993, envolveu a venda das siderúrgicas estatais, como a Usiminas, a CST, a CSN, a Cosipa e a Açominas. Nessa etapa, o Estado se desfez também de algumas importantes empresas químicas, petroquímicas e de fertilizantes. Numa segunda etapa, entre 1994 e 1998, passaram para controle privado as malhas ferroviárias regionais da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA), alguns portos e a Embraer, do setor aeroespacial. Mas o marco dessa etapa foi a privatização da CVRD. A gigante da mineração era, ao lado da CSN, um símbolo de valor histórico e emocional do nacionalismo econômico. Depois dessas vendas, a

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Petrobras tornou-se o único monumento remanescente da época das poderosas empresas estatais. Na terceira etapa do programa de privatizações, no final da década, as privatizações atingiram o cobiçado setor das telecomunicações. As estatais da telefonia foram divididas em empresas regionais e vendidas em disputados leilões. A Telesp, de São Paulo, adquirida pelo grupo espanhol Telefônica, foi vendida por quase 5 bilhões de dólares, ficando atrás apenas da CVRD, que custou 6,8 bilhões de dólares. Depois, iniciaram-se as vendas das mais valiosas empresas de energia: Cesp, Furnas, Chesf e Eletronorte. Contudo, mesmo antes de realizadas as vendas das maiores empresas de eletricidade, o quadro de arrecadação global com as privatizações revelava o predomínio dos setores ligados a infra-estrutura sobre os setores industriais (ver gráfico). O programa de desestatização foi acompanhado pela criação de agências de fiscalização das empresas privadas que se tornaram concessionárias de serviços públicos. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tem a função de assegurar a concorrência no setor da telefonia e o cumprimento dos compromissos contratuais de qualidade e universalização dos serviços. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) destina-se a supervisionar a geração e distribuição de eletricidade. Embora a Petrobras não tenha sido privatizada, o monopólio estatal do petróleo foi rompido, com a concessão de áreas para prospecção e exploração por conglomerados internacionais, que também poderão entrar no setor do refino. Para assegurar a concorrência, criou-se a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O modelo econômico em implantação retira o Estado da função de fornecedor direto de bens e serviços. Ao menos em tese, contudo, a desestatização não se destina a substituir monopólios estatais por monopólios privados, mas ao contrário, quer promover o surgimento de mercados concorrências. Nesse contexto, o Estado passa a ter funções de normalização e fiscalização dos mercados ligados aos serviços públicos. As agências reguladoras são os instrumentos dessas funções estatais. A DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL Na década de 1970, a montadora italiana Fiat desafiou uma tradição poderosa e instalou a sua primeira fábrica no Brasil, na cidade de Betim [MG], arredores de Belo Horizonte. Assim, rompia-se o monopólio da metrópole paulista sobre as fábricas de automóveis. Depois, a Volkswagen e a Ford instalaram fábricas em Taubaté [SP] e São José dos Campos [SP], no Vale do Paraíba. O NOVO MAPA DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

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Na década de 1990, a onda, de investimentos das montadoras transnacionais no Brasil pautou-se pela lógica da descentralização. As japonesas Toyota e Honda investiram em pequenas cidades da região de Campinas, no interior de São Paulo. A Volkswagen, em cidades médias do interior de São Paulo e do Vale do Paraíba fluminense. Unidades da Fiat e da Mercedes-Benz optaram por cidades de Minas Gerais, enquanto a Renault, a Chrysler e a Audi preferiram localizações no Paraná. Fora desse anel que circunda o estado de São Paulo, instalaramse apenas duas fábricas no Rio Grande do Sul. Uma unidade da Ford inicialmente prevista também para o Rio Grande do Sul, acabou indo para a Bahia, tornando-se uma curiosa exceção à lógica das localizações no Centro-Sul. 1. URBANIZAÇÃO É um equivoco comum confundir urbanização com crescimento urbano, na verdade, são processos interligados, mas diferentes. O crescimento urbano consiste na expansão das cidades e pode existir sem que, haja urbanização. Esta só ocorre quando o crescimento urbano é superior ao rural, ou seja, quando há migrações rural-urbanas e a população das cidades aumenta proporcionalmente em relação à do campo. BRASIL: TAXA DE URBANIZAÇÃO (%) REGIÃO 1950 1970 2000 Sudeste 44,5 72,7 90,5 Centro-Oeste 24,4 48,0 86,7 Sul 29,5 44,3 80,5 Norte 31,5 45,1 69,7 Nordeste 26,4 41,8 69,0 Brasil 36,2 55,9 81,2

2010 92,9 88,8 84,9 73,5 73,1 84,0

Fonte: IBGE Apesar das diferentes taxas regionais de urbanização apresentadas na tabela abaixo, podemos afirmar que o Brasil, hoje, é um país urbanizado. Com a saída de pessoas do campo em direção às cidades, os índices de população urbana vêm aumentando sistematicamente em todo o país, ao ponto de a região Nordeste, a menos urbanizada, apresentar o significativo índice de 69% de população urbana. As cidades se concentram principalmente na faixa litorânea, mas, desde a década de 1960, núcleos urbanos das regiões Centro-Oeste e Norte têm apresentado um expressivo crescimento. Isso se deve à fundação de Brasília e também à expansão das fronteiras agrícolas. Como podemos observar, já entre 1950 e 1970, a população brasileira deixou de ser predominantemente rural. Esse processo ocorreu de forma acelerada e

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desordenada desde a década de 1930. Por isso, gerou muitos problemas urbanos e agravou as desigualdades sociais no Brasil. A maioria dos migrantes se dirigiu a um número reduzido de cidades, que acabaram se transformando em metrópoles com sérios problemas sociais e ambientais. Possivelmente, se o poder público e as oligarquias locais tivessem descentralizado espacialmente seus investimentos produtivos e a população migrante tivesse se dirigido a um número maior de cidades, nossas regiões metropolitanas estariam menos inchadas, menos caóticas e, certamente, com menos problemas de ordem estrutural. Atualmente, em lugar da velha distinção entre população urbana e rural, usa-se a noção de população urbana e agrícola. É considerável o número de pessoas que trabalha em atividades rurais, mas reside nas cidades. As greves de bóias-frias, por exemplo, ocorrem nas cidades, onde residem. Em virtude da mecanização do campo e do histórico processo de concentração de terras, verificados de forma acelerada em diversas regiões agrícolas, assistiu-se, até meados dos anos 1990, a uma verdadeira expulsão dos trabalhadores rurais, que se dirigiram para as cidades. Como as indústrias estão se deslocando dos grandes centros e absorvendo cada vez menos mão-de-obra, e o setor de serviços apresenta um lado moderno - que exige mão-de-obra especializada - e outro marginal - que remunera mal e não garante estabilidade -, houve deterioração da qualidade de vida nas cidades e aumento das disparidades sociais no país. A partir da segunda metade da década de 1990, a população rural se estabilizou ou sofreu um pequeno aumento em algumas regiões. Isso se deve, em parte, ao programa de reforma agrária, ao aumento da oferta de empregos rurais não-agrícolas em hotéis-fazenda, spas, pesqueiros, pousadas, comércio no entorno de parques e reservas ecológicas, etc. AS METRÓPOLES E AS CIDADES MÉDIAS, OS PRINCIPAIS PROBLEMAS URBANOS. As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional, em 1973, e definidas como "um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infra-estrutura comum". A Constituição de 1988 deixou a cargo dos governos estaduais a prerrogativa de reconhecimento legal das metrópoles (Art. 25 § 3ª): ― Os estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesses comum.‖ 2. medida que cidades próximas vão se expandindo horizontalmente, ocorre a conurbação, ou seja, elas se tornam contínuas, integradas, e os problemas de infraestrutura urbana são comuns ,ao conjunto de municípios conurbados. A partir dessa constatação, foram criados, no Brasil, os conselhos deliberativo (nomeado pelo governo do estado) e consultivo (formado por representantes dos municípios que formam a metrópole) para administrar esses problemas comuns a um conjunto de cidades. Trata-se de uma esfera administrativa acima do poder municipal. No Brasil, até o ano 2000, foram legalmente reconhecidas 19 regiões metropolitanas. Duas deIas - São Paulo e Rio de Janeiro - são nacionais, por polarizarem o país inteiro. É nelas que se encontram as sedes administrativas dos grandes bancos e indústrias do país, os centros de pesquisa mais avançados, os melhores hospitais, etc. As

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GEOGRAFIA outras 17 metrópoles são consideradas regionais, por exercerem seu poder de polarização apenas em escala regional. Além das principais regiões metropolitanas brasileiras, Goiânia (Go), Florianópolis, Vale do Itajaí, Norte-Nordeste catarinense (Santa Catarina), Londrina, Maringá (Paraná), Campinas (São Paulo) e Vale do Aço (Minas Gerais) constituem regiões metropolitanas reconhecidas por lei. Brasília e seu conjunto de 13 cidades-satélites são administrados pelo governo do Distrito Federal. Em 1998, foi aprovado pelo Senado projeto autorizando a Presidência da República a instituir a Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno (RIDE). Ela é composta pelo Distrito Federal e mais 21 municípios, sendo 19 de Goiás e dois de Minas Gerais. Já a Secretaria do Entorno do Distrito Federal é responsável pela política de planejamento integrado de 42 municípios. Manaus, apesar de abrigar mais de um milhão de habitantes e exercer enorme poder de polarização em uma vasta área da Amazônia, não possui nenhum município a ela conurbado e pode, portanto, ser administrada apenas pelo poder municipal. As duas metrópoles nacionais, situadas no Centro-Sul e separadas por apenas cerca de 400 quilômetros, configuram o principal eixo econômico do país. A expansão das suas regiões metropolitanas e das cidades localizadas sobre o eixo de circulação que as conecta está conduzindo ao surgimento da primeira megalópole do país (F-1). A MEGALÓPOLE NACIONAL (F-1)

São Paulo e Rio de Janeiro estão conectados por eixos de circulação rodoviários e ferroviários estabelecidos no Vale do Paraíba. Ao longo desse eixo, adensa-se o espaço urbanizado que está sob o comando das metrópoles. Na parte paulista do Vale, destacam-se como capitais regionais os centros industriais de São José dos Campos e Taubaté. Na parte fluminense, a capital regional é o grande pólo siderúrgico de Volta Redonda. Outros centros industriais — como Jacareí (SP), Guaratinguetá (SP), Resende (RJ) e Barra Mansa (RJ) — dinamizam os fluxos da megalópole em formação. A presença de barreiras físicas muito nítidas — a Serra do Mar, a leste, e a Serra da Mantiqueira, a oeste — contribui para a concentração urbana ao longo do Vale do Paraíba. A expansão das cidades do eixo acarreta processos locais de conurbação, integrando as manchas urbanas de São José dos Campos e Jacareí; de Taubaté e Pindamonhangaba; de Guaratinguetá, Lorena e Aparecida; de Volta Redonda e Barra Mansa. Os problemas de circulação da megalópole decorrem da intensidade dos fluxos gerados pela concentração urbana e industrial. Mas esses problemas são agravados pela presença de pólos de turismo de praia, que geram tráfego através da Serra do Mar, e de turismo de montanha, que

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geram tráfego na Serra da Mantiqueira . A duplicação da via Dutra é insuficiente para conferir fluidez aos deslocamentos de pessoas e mercadorias ao longo do eixo. A ampliação dos serviços da ponte aérea entre as metrópoles está limitada pela capacidade dos aeroportos existentes. O projeto de modernização ferroviária e implantação de um trem-bala surge como alternativa para descongestionar o transporte de pessoas e mercadorias na megalópole. A megalópole distingue-se das regiões metropolitanas pela sua escala espacial e por um grau muito mais baixo de integração funcional entre as cidades situadas no seu interior. Por isso, não constitui uma estrutura territorial de gestão pública, embora deva ser levada em conta no planejamento regional. A REDE URBANA BRASILEIRA A partir da década de 1940, com a industrialização e a instalação ou melhoria de rodovias, ferrovias e portos, integrando o território e o mercado consumidor, é que se estruturou uma rede urbana em escala nacional. Como sabemos, até então, as atividades econômicas, que impulsionam a urbanização, desenvolviam-se de forma independente e esparsa pelo território. As principais atividades econômicas eram voltadas ao abastecimento do mercado externo e, portanto, não era necessário, para as oligarquias regionais, preocuparem-se em integrar o mercado interno. A integração econômica entre o Sudeste (região cafeeira), a Zona da Mata nordestina (cana-de-açúcar, cacau e tabaco), o Meio-Norte (algodão, pecuária e extrativismo vegetal) e o Sul (pecuária e policultura) era pequena. Com a modernização da economia, primeiro as regiões Sul e Sudeste formaram um mercado único que, depois, incorporou o Nordeste e, mais recentemente, também o Norte e o Centro-Oeste. Até a década de 1940, houve forte tendência à concentração urbana em escala regional, que deu origem a importantes pólos. Estes concentravam os índices de crescimento urbano e econômico e detinham o poder político em grandes frações do território. É o caso de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza e Curitiba, todas capitais de estados e, posteriormente, reconhecidas como metrópoles. Em conjunto, as metrópoles abrigavam, em 1950, aproximadamente 18% da população do país; em 1970, cerca de 25%; e, em 1999, mais de 35%. O aumento percentual da última década está associado à formação de novas regiões metropolitanas, como vimos no item anterior. A partir da década de 1940, com a instauração de uma política industrial de substituição de importações, ocorreram investimentos estatais em infra-estrutura de transportes e comunicações por todo o país, unificando o mercado e promovendo a concentração urbano-industrial na região Sudeste. Os pólos industriais de São Paulo e do Rio de Janeiro foram os que mais receberam investimentos públicos e privados. Assim, eles passaram a atrair um enorme contingente de mão-de-obra das regiões que não acompanharam seu ritmo de crescimento econômico e se tornaram metrópoles nacionais. Desde a década de 1870, quando começaram a ser construídas ferrovias para escoar o café para o mercado externo, até meados da década de 1970, o governo federal e investidores nacionais e estrangeiros concentraram investimentos de infra-estrutura industrial (produção de energia e implantação de sistema de transportes e comunicações) na região Sudeste, que, em conseqüência, se tornou o grande centro de atração populacional do país.

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GEOGRAFIA Os migrantes que a região recebeu eram, em sua maioria, trabalhadores desqualificados e mal remunerados, que foram se concentrando na periferia das grandes cidades, em locais desprovidos de infra-estrutura urbana, como favelas e loteamentos clandestinos. Atualmente, esse deslocamento de população em direção à periferia das capitais e regiões metropolitanas continua ocorrendo, porém o Centro-Sul do país deixou de ser o grande pólo de atração. Hoje, predominam fluxos migratórios intra-regionais. De 1991 a 1996, com exceção do Recife e do Rio de Janeiro, as regiões metropolitanas apresentaram índices de crescimento populacional superiores à média nacional (1,38% ao ano). Como nas grandes cidades as taxas de natalidade costumam ser menores que as verificadas na zona rural e nos pequenos núcleos urbanos, esses dados evidenciam que, nesse período, muitos migrantes continuaram a se dirigir para os maiores centros do país. Na atualidade, porém, diferentemente do que ocorria no período de 1930 a 1980, a maioria dos migrantes se desloca dentro de seu próprio estado, mudando apenas de município. Devemos considerar, ainda, que mais de 35% da população brasileira reside em regiões metropolitanas, onde a mudança de município de residência não significa propriamente um rompimento com suas raízes culturais e familiares. Uma pequena parcela da classe média dos centros congestionados tem transferido residência para o entorno das metrópoles, seja em cidades menores ou em condomínios fechados. Os movimentos internos de população se estruturam, na prática, segundo as possibilidades oferecidas pela rede urbana. Por exemplo, na segunda metade do século XX, foram significativas as migrações de nordestinos das pequenas cidades do Sertão semi-árido em direçâo às metrópoles da região Sudeste. Na época, São Paulo e Rio de Janeiro comandavam a industrialização brasileira, empregando mão-de-obra sem qualificação de local e de outras regiões do país. Antes de se instalarem nas metrópoles, muitos migrantes passavam por uma vila, uma cidade local, um centro regional ou uma capital regional. Por exemplo, muitos migrantes que saíam do Sertão paraibano passavam por Campina Grande e João Pessoa antes de se dirigirem às metrópoles do Sudeste. No Centro-Sul do país, onde a rede urbana é mais densa e articulada, as cidades médias e grandes estão plenamente conectadas, o que intensifica a troca de mercadorias e informações entre a população e as empresas. Já nas regiões mais atrasadas, a rede urbana é esparsa e desarticulada, ou seja, a conexão entre as cidades e a relação de trocas são menos intensas. A rede urbana interfere no cotidiano dos cidadãos de acordo com a sua classe social. A AGROPECUÁRIA Rural e agrário O meio rural se opõe ao urbano. Este se refere ao espaço das cidades ou vilas, enquanto aquele diz respeito ao campo, a todas as áreas onde não há cidades nem vilas. O espaço urbano, normalmente mais artificial que o rural, é marcado pelo grande número de construções: casas, lojas, fábricas, avenidas, escritórios, escolas, hospitais, etc. O espaço rural geralmente tem presença maior da natureza (matas ou campos, plantações) e também possui alguns aglomerados de residências e pequenas vendas (ou às vezes até fábricas e hotéis isolados), mas que não são considerados cidades nem vilas. Não se deve confundir rural com agrário, apesar de normalmente eles estarem associados. O rural diz respeito ao campo, ao espaço não urbano, ao passo que agrário se

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refere às atividades primárias: agricultura, pecuária e extrativismo. Essas atividades são realizadas em geral no meio rural, embora possam eventualmente ser encontradas nas cidades (em chácaras dentro do perímetro urbano, em quintais, em algumas áreas urbanas periféricas). São atividades voltadas para a produção de alimentos para a população (ou para o gado) e de matérias-primas a serem transformadas pela atividade secundária (a indústria). Mas o espaço rural não sedia apenas atividades agrárias. Nele também se localizam outras atividades, que vêm se multiplicando nas últimas décadas: hotéis-fazendas, turismo rural e ecológico, clínicas de repouso (spas), colônias de férias, condomínios ou fábricas isolados, pequeno comércio, etc. As atividades primárias foram as primeiras que a humanidade praticou na busca de sua sobrevivência, principalmente a coleta florestal, a pesca e a caça. Mas o desenvolvimento econômico e a industrialização provocaram mudanças nessas atividades, com a mecanização e a produção em grande escala. E a atividade extrativa tradicional tende a desaparecer, substituída pela indústria extrativa ou pela agricultura e pecuária. A mineração passou a constituir um ramo industrial, criado com grandes investimentos de capitais em maquinarias, e a forma tradicional de garimpo tornou-se pouco importante. Em vez de caçar, passou-se a criar animais, que foram domesticados para se conseguir melhor produtividade. E deixou-se de extrair vegetais do interior de florestas para cultivá-los, o que tornou mais racional a sua exploração. A atividade primária fundamental, portanto, é a agropecuária. Mesmo no Brasil, país enorme e que ainda possui vastas reservas florestais, o extrativismo perde cada vez mais a sua importância. Plantações de seringueiras crescem em São Paulo e outras áreas do Centro-Sul, substituindo o já decadente extrativismo da borracha na Amazônia. Um processo desse tipo já ocorreu há muito tempo com o cacau, originário da floresta Amazônica, mas cultivado no sul da Bahia. Já se pensa em fazer o mesmo com o babaçu e a castanha-do-pará. A atividade extrativa tradicional, portanto, possui uma importância pequena na economia brasileira e tende a decrescer a cada dia. Mas a importância ecológica — de preservação das florestas — do extrativismo vegetal é enorme, pois é uma atividade econômica que não necessita destruir a mata e, pelo contrário, procura mantê-la. A importância da agropecuária no contexto econômico do país. Desde o momento em que a indústria passou a ser o setor chave da economia nacional, já há varias décadas, a cidade passou a dominar o campo e a agropecuária a desempenhar um triplo papel: em primeiro lugar, deve gerar divisas por meio das exportações, divisas essas que servirão para ajudar a pagar a dívida externa e para importar maquinarias indispensáveis ao processo de industrialização; em segundo lugar, deve fornecer as matérias – primas ou combustíveis necessários para os bens fabricados pela indústria (o álcool, por exemplo); por fim, deve alimentar os grandes contingentes humanos que se concentram nas cidades e servem de força de trabalho nas indústrias ou no setor terciário da economia. Este último papel tem sido o que ela desempenha mais precariamente, já que os outros dois são bem mais lucrativos. Dessa forma, os cultivos da cana-de-açúcar, da soja, da laranja e do café passaram nos últimos anos por uma grande modernização: multiplicaram – se os tratores e demais máquinas, usam-se cada vez mais fertilizantes e herbicidas. No entanto, produtos

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GEOGRAFIA voltados para o mercado interno de alimentos, como feijão, arroz, mandioca, milho e batata, continuam a ser cultivados com métodos tradicionais, sem conhecerem esse processo de modernização agrícola. AVANÇO DA SOJA NO BRASIL

(http://n.i.uol.com.br/ultnot/Mapa_Brasil2006.gif) O único produto voltado para a alimentação da população nacional que passou por modernização e crescimento da área cultivada foi o trigo. Mas isso só ocorreu porque houve subsídios governamentais para a produção desse gênero alimentício, que aumentava muito as importações do país. Ao longo de duas décadas, de 1970 a 1990, a soja teve uma taxa média de crescimento anual de 10,5%, a laranja de 7,5% e cana – de – açúcar de 4,8%; por sua vez, o feijão teve uma taxa de 2,3%, a mandioca, uma taxa negativa de 0,5% ao ano e o arroz cresceu apenas 1,2% ao ano. Porém, nesse mesmo período, a população brasileira cresceu bastante: 2,4% ao ano de 1970 a 1980, e 1,8% ao ano de 1980 a 1991. Não foi por acaso, portanto, que em alguns anos foi necessário importar alimentos. A subutilização do território para a agropecuária torna-se bastante grave quando recordamos que a maioria da população do Brasil se alimenta mal, com um consumo diário deficiente de proteínas, calorias e sais minerais. Além disso, os melhores solos e as maiores inversões de capitais na agricultura estão voltados para o cultivo de exportação ou para a produção de matérias-primas industriais, em vez da produção de alimentos para ao consumo interno. E é comum que certos produtos cujas exportações aumentem bastante acabem por ter seu cultivo expandido para áreas onde antes se cultivam gêneros alimentícios básicos. Foi o que ocorreu, recentemente, com a valorização da soja e da laranja no mercado internacional e a expansão de seus cultivos no Brasil, em detrimento do feijão e da mandioca. RELAÇÃO CAMPO-CIDADE Nas sociedades antigas a agricultura era a principal atividade econômica. Mesmo naquelas que se celebrizaram pelo esplendor de suas cidades, a grande maioria da população trabalhadora vivia nos campos. Na Antigüidade, o campo era o espaço da produção; a cidade, o espaço da circulação e do consumo das mercadorias produzidas. A cidade foi também o espaço da política, das artes e da ciência, do ócio. Nas sociedades pré-industriais, o campo abrigava a grande maioria da população e era responsável pela quase totalidade da produção de riquezas. Através de diferentes mecanismos de coerção política, o excedente da produção agrícola era canalizado para o sustento das populações urbanas e dos homens em armas.

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A Revolução Industrial transformou radicalmente as relações entre o campo e a cidade. Somente as cidades podiam oferecer condições necessárias para o nascimento da indústria moderna: concentração geográfica de mão-deobra e mercado consumidor, além da possibilidade de uso comum das infra-estruturas necessárias ao funcionamento das fábricas, como os sistemas de distribuição de energia e de abastecimento de água. A urbanização acompanha a industrialização. Ao mesmo tempo em que libera mão-de-obra para as atividades urbano-industriais, a agricultura deve responder pela produção de uma quantidade crescente de alimentos para as populações da cidade. Menos pessoas produzindo no campo, mais pessoas consumindo nas cidades: isso só foi possível graças ao aumento exponencial da produtividade agrícola. Uma verdadeira revolução nas técnicas da agropecuária precedeu, preparou e acompanhou a Revolução Industrial. Nas economias modernas, o consumo urbano de alimentos e matérias-primas condiciona a produção agrícola. De um lado, a economia rural, antes auto-suficiente, se reorganiza e se especializa para atender as demandas da cidade. De outro, passa a depender das cidades, que fornecem maquinário agrícola, insumos e alimentos industrializados. O agricultor moderno é um produtor especializado. Sua produção destina-se exclusivamente ao mercado, do qual ele adquire tudo o que necessita para viver. A cidade, antes espaço de consumo e circulação de excedentes da produção agrícola, se torna o foco de transformação industrial e de redistribuição da totalidade da produção rural. Foi-se o tempo em que a economia rural comandava as atividades urbanas. Atualmente, o que se verifica, em escala planetária, é a subordinação do campo à cidade, uma dependência cada vez maior das atividades agrícolas às máquinas, insumos, agrotóxicos e tecnologia, fatores concebidos e produzidos nas cidades industriais. Nas economias modernas, o consumo urbano de alimentos e matérias-primas condiciona a produção agrícola. De um lado, a economia rural, antes auto-suficiente, se reorganiza e se especializa para atender às demandas da cidade. De outro, passa a depender das cidades, que fornecem maquinário agrícola, insumos e alimentos industrializados. O agricultor moderno é um produtor especializado. Sua produção destina-se exclusivamente ao mercado, do qual ele adquire tudo o que necessita para viver. A cidade, antes espaço de consumo e circulação de excedentes da produção agrícola, se torna foco de transformação industrial e de redistribuição da totalidade da produção rural. Costuma-se dividir os produtos agrícolas do Brasil em duas categorias: as “culturas de pobre”, nas quais se incluem o feijão, o milho, a mandioca e boa parte da produção do arroz; e as “culturas de rico”, como são conhecidas as plantações de cana-de-açúcar, café, soja, trigo, etc. As primeiras, desde a época colonial, são relegadas a segundo plano, cultivadas nas piores terras em pequenas propriedades. As ―culturas de rico‖, ao contrário, destinamse principalmente à exportação ou à transformação industrial (como ocorre com parte da produção da cana, do fumo, do algodão, etc.). Desde o período colonial, ocupam os melhores solos e são cultivadas em grandes ou médias propriedades rurais. Essas diferenças são relativas, pois muitos produtos destinados ao consumo interno podem eventualmente ser exportados se sofrerem uma forte valorização, como ocorreu nas últimas décadas com a laranja. Da mesma forma, os produtos destinados à exportação, como café, soja, algodão, açúcar, etc., são também consumidos dentro do país, mas normalmente exporta-se o melhor produto e deixa-se o pior para o consumo interno. Assim, toma-se um

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GEOGRAFIA cafezinho melhor em Nova York ou em Londres do que em São Paulo ou no Rio de Janeiro, embora o Brasil seja ainda o maior produtor mundial de café. As grandes propriedades cultivam, eventualmente, os gêneros alimentícios, mas em geral essa tarefa cabe às pequenas propriedades. Muitos minifúndios também cultivam o algodão o café e outras ―culturas de rico‖, embora o grosso desses produtos, principalmente a canade-açúcar, se concentre nas grandes propriedades. Os dois produtos extremos são a cana e o feijão. Os imóveis rurais com dimensão de até 100 hectares, que abrangem cerca de 20% da área total das propriedades agrárias, produzem mais de 70% do feijão nacional e apenas cerca de 17% de cana. Já os imóveis com área superior a 1000 hectares, que abrangem cerca de 45% da superfície total dos imóveis rurais, produzem cerca de 42% da cana-de-açúcar e apenas 5% do feijão.

por aí. "Ao utilizarmos fontes de energia produzidas aqui, não dependemos de importação nem ficamos suscetíveis a crises mundiais. Também estamos adiante na discussão ambiental, já que a hidroeletricidade e o etanol são renováveis e poluem pouco", diz. No entanto, ele alerta, a falta de investimentos em tecnologia e pesquisa está mudando o conjunto das fontes utilizadas e pode "sujar" a matriz energética gradativamente. PETRÓLEO Somente em 1938, dez anos após a formação do cartel das "sete irmãs", foi perfurado o primeiro poço de petróleo em território nacional. O evento aconteceu no município de Lobato, na bacia do Recôncavo Baiano, que circunda a cidade de Salvador. A partir de então, o governo brasileiro passou a planejar, organizar e fiscalizar o setor petrolífero, através da criação do Conselho Nacional de Petróleo (CNP).

FONTES DE ENERGIA O Brasil é o 10º maior consumidor de energia do mundo e o maior da América do Sul. Ao mesmo tempo, é um importante produtor de óleo e gás produzido na região e o segundo maior produtor mundial do combustível etanol. As agências governamentais responsáveis pela política de energia são o Ministério de Minas e Energia, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Empresas estatais como a Petrobras e Eletrobrás são os principais intervenientes no setor de energia do Brasil, bem como na América Latina. A matriz energética brasileira O Brasil possui uma estrutura energética privilegiada comparada § de outros países. Seu potencial hidrelétrico é inestimavelmente elevado, as possibilidades de obtenção de energia usando a biomassa como fonte primária são enormes e a produção de petróleo e gás natural vem aumentando de Forma gradual. Quase todos os dias, os jornais estampam notícias sobre a necessidade de mudar a matriz energética mundial, combater o uso indiscriminad Em 1995, com a revisão da Constituição de 1988, foi quebrado o monopólio da Petrobrás na extração, transporte, refino e importação de petróleo e seus derivados. Assim, o Estado pode contratar empresas privadas ou mesmo estatais, nacionais ou estrangeiras, que queiram atuar no setor. o de combustíveis fósseis e utilizar fontes de energia renováveis e menos poluentes. As mudanças climáticas, também causadas pela emissão dos gases poluentes oriundos da produção de energia, e a necessidade econômica e estratégica de depender menos do petróleo e de outros combustíveis fósseis são razões para isso. Não é à toa que entre essas notícias há tantas sobre o Brasil. Nesse assunto, o país possui trunfos importantes e muitos desafios. A matriz energética brasileira, o conjunto de fontes de energia ofertados e demandadas no país, é das mais limpas do planeta. Quase metade da energia (47%) consumida aqui é renovável, ou seja, proveniente de recursos capazes de se refazer em um curto prazo. O número ganha destaque quando comparado à matriz energética mundial, que, em 2010, era constituída de 82% de combustíveis fósseis - fontes não renováveis. Para José Goldemberg, físico, ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo e um dos responsáveis pela criação do Proálcool na década de 1970, as vantagens não param

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Em 1953, apoiado por uma grande pressão nacionalista popular de enfrentamento às empresas estrangeiras que dominavam totalmente o setor e sob o slogan "O petróleo é nosso", Getúlio Vargas criou a Petrobrás e instituiu o monopólio estatal na extração, transporte e refino de petróleo no Brasil. Esse monopólio foi exercido até 1995, embora tenha havido uma abertura às empresas privadas nacionais e estrangeiras no setor de extração durante o período de 1975 a 1988. Com a primeira crise do petróleo, em 1973, houve a necessidade urgente de aumentar a produção interna para diminuir a quantidade de petróleo importado, mas a Petrobrás não tinha capacidade de investimento. Diante dessa realidade, o governo brasileiro viu-se obrigado a autorizar a extração por parte de grupos privados, através da lei dos contratos de risco: inicialmente, foram selecionadas dez áreas com possibilidade de ocorrência de petróleo e abertas à exploração. Caso alguma empresa encontrasse petróleo, os investimentos feitos seriam reembolsados e ela se tornaria sócia da Petrobrás naquela área. Caso a procura fosse feita em vão, a empresa arcaria sozinha com os prejuízos da prospecção, daí o nome "contrato de risco". Foram assinados dez contratos envolvendo empresas nacionais e estrangeiras, mas nenhuma delas achou petróleo. Desde a promulgação da última Constituição, em 1988, esses contratos estão proibidos, o que significou a volta do monopólio de extração às mãos da Petrobrás. Em 1995, com a revisão da Constituição de 1988, foi quebrado o monopólio da Petrobrás na extração, transporte, refino e importação de petróleo e seus derivados. Assim, o Estado pode contratar empresas privadas ou mesmo estatais, nacionais ou estrangeiras, que queiram atuar no setor.

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GEOGRAFIA Possuindo em seu território treze refinarias, onze delas pertencentes à União, o Brasil é praticamente autosuficiente no setor, necessitando importar apenas pequenas quantidades de derivados que não são produzidos internamente. Por uma questão de economia nos gastos com transporte, o petróleo é sempre refinado (o que aumenta seu volume) junto aos centros industriais, ou seja, próximo aos grandes centros consumidores, o que explica a enorme concentração de refinarias no Centro-Sul do país. O consumo interno de petróleo vem diminuindo desde o segundo choque mundial de 1979. No calor da crise, o governo passou a incentivar, através de vultosos empréstimos a juros subsidiados, indústrias que substituíssem esse combustível por energia elétrica. Atualmente, a produção interna de petróleo (780 mil barris/dia) está abastecendo aproximadamente 58% das necessidades nacionais de consumo, e o Brasil importa, portanto, cerca de 42% do petróleo que consome. Estamos, assim, relativamente próximos da auto-suficiência no setor, meta estabelecida desde que a Opep demonstrou seu poder de manipulação dos preços do petróleo a partir da primeira crise, ocorrida em 1973. Nessa época, o Brasil produzia apenas 14% do petróleo que consumia, o que nos colocava em uma posição bastante frágil e tornava nossa economia muito suscetível às oscilações externas no preço do barril do petróleo. Se houver uma nova crise mundial, no setor petrolífero, estaremos muito menos sujeitos às adversidades, já que a produção interna atingiu patamares bastante significativos e a importação diminuiu substancialmente. Essa diminuição da dependência externa, sob o viés do aumento da produção interna nas últimas décadas, relaciona-se à descoberta de uma importante bacia petrolífera em alto-mar, na plataforma continental de Campos, litoral norte do estado do Rio de Janeiro. Essa bacia é responsável por mais de 65% da produção nacional de petróleo. A partir do início da década de 80, mais poços foram perfurados nessa bacia, o que tende a esgotá-la mais rapidamente e impõe a necessidade premente da descoberta de novas jazidas, de preferência no interior do continente, onde a extração é mais barata. Ainda na plataforma continental, destaca-se a produção nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, que, juntos, são responsáveis por cerca de 14% da produção nacional de petróleo bruto. No continente, a área mais importante na extração é Mossoró (Rio Grande do Norte), seguida do Recôncavo Baiano. Recentemente, foi descoberta uma pequena jazida continental em Urucu, a sudoeste de Manaus, onde se detectaram grandes reservas de gás natural. O gás pode se tornar importante fonte de energia para o parque industrial da Zona Franca de Manaus. Para finalizar, uma última questão: mais da metade do petróleo consumido no Brasil é queimado no setor de transportes, cujo modelo de desenvolvimento é o rodoviarismo. Essa opção é a que mais consome energia (óleo diesel) no transporte de mercadorias e pessoas pelo território. Há a necessidade urgente de o país substituir esse modelo pelos transportes ferroviário e hidroviário para, além de rebaixar custos, diminuir o consumo de uma fonte não-renovável de energia, que o país ainda tem de importar. CARVÃO MINERAL E XISTO O carvão encontrado em território brasileiro acha-se em uma fase inferior de transformação geológica e não atingiu o estágio de hulha*. Não é, portanto, coqueificável, havendo a necessidade de importar o carvão consumido nas siderúrgicas brasileiras. Do carvão importado é possível a obtenção do coque siderúrgico, cuja queima aquece os altos-fornos que processam a depuração ou redução do

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minério de ferro e dão continuidade ao processo de produção de aço. A modesta produção nacional de carvão energético, consumida principalmente em usinas termelétricas e fábricas de cimento, é obtida na formação Irati, com destaque para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O carvão gaúcho é utilizado somente em usinas termelétricas locais, como as de Canoas e de Candiota, e seu consumo se restringe às cercanias das áreas de extração, no próprio estado. Ainda na formação Irati, encontramos o xisto betuminoso (folhelho piro-betuminoso) em grandes concentrações, no vale do Paraíba paulista e na região de São Mateus do Sul (PR). Nessa última localidade, a Petrobrás instalou uma usina experimental de extração de óleo combustível a partir do xisto, com a finalidade de desenvolver tecnologia na extração de uma fonte de energia disponível no país. Após alguns anos de produção modesta, o projeto foi abandonado por apresentar altos custos de extração (34 dólares o barril de óleo) e acarretar sérios danos ao meio ambiente. No processo químico de separação do óleo da rocha sedimentar, o resultado era um enorme buraco de um lado e uma "montanha" artificial de areia do outro. Constatado o alto custo econômico e ambiental da extração, a usina foi desativada em 1993. ENERGIA ELÉTRICA Em 2000, estimava-se o potencial hidrelétrico brasileiro em mais de 250 mil MW e a produção encontrava-se na casa dos 55 512 MW de energia elétrica. Desse total, 50 687 MW (91,3%) eram obtidos em usinas hidrelétricas e 4825MW (8,7%) em termelétricas. Pode parecer estranho, à primeira vista, que um país como o Brasil, que possui um enorme potencial hidrelétrico, bem distribuído por todo o seu território, instale usinas termelétricas, cujo funcionamento depende, na maior parte dos casos, da queima de combustíveis fósseis, como carvão mineral ou petróleo. USINAS HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS

No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, porém, a disponibilidade de carvão mineral justifica a instalação dessas usinas nos arredores das áreas de extração de carvão, já que os gastos com transporte tornam-se baixos. Além da região Sul, há usinas termelétricas que consomem óleo diesel espalhadas pelo território nacional, e com destaque para o estado de São Paulo, por apresentar duas vantagens: o custo de instalação de uma usina hidrelétrica é muito maior do que o de uma termelétrica e, além disso, a

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GEOGRAFIA localização de uma usina hidrelétrica é determinada pela topografia do terreno, enquanto uma termelétrica pode ser instalada em locais mais convenientes para o homem. Assim, em regiões que apresentam baixo consumo de energia e topografia plana, é viável, em termos econômicos, a instalação de termelétricas. Atualmente, no estado de São Paulo, muitas usinas de álcool estão usando a queima do bagaço da cana-de-açúcar como fonte primária para a produção de energia e tornaram-se auto-suficientes, não dependendo mais do fornecimento promovido pelo Estado. O maior potencial hidrelétrico instalado no Brasil encontrase na bacia do rio Paraná, com destaque para os rios Grande, Paranapanema, Iguaçu e Tietê. Esses rios drenam a região onde se iniciou efetivamente o processo de industrialização brasileiro e que, portanto, conseguiu exercer maior pressão política na alocação de recursos investidos em infra-estrutura. O maior potencial disponível do país encontra-se nos afluentes do rio Amazonas, na região Norte, onde o baixíssimo adensamento de ocupação humana e econômica não atraiu investimentos. Desde a segunda metade da década de 80, o Brasil tem investido muito pouco na construção de novas hidrelétricas, embora as potencialidades do território sejam enormes e a opção por essa matriz energética seja a mais apropriada à nossa realidade. Como o país passou, desde esse período, por drástica estagnação das atividades econômicas, o consumo de energia quase não aumentou, o que veio acontecer na década de 90, o resultado foi a crise vivenciada no final desta década que ficou conhecida como ―apagão‖, impondo à sociedade racionamento e aumento nas tarifas. PRINCIPAIS USINAS E INTEGRAÇÃO DO SISTEMA

energia, que chega a estender-se por um raio de mais de 2 mil quilômetros. Dentre as grandes obras, a usina de Balbina, construída no meio da bacia sedimentar amazônica, a aproximadamente 200 quilômetros ao norte de Manaus, foi a que causou os maiores prejuízos. Por ter sido construída em terreno plano, sua represa, que inundou 2 360 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica, produz somente 250 MW, energia suficiente para abastecer apenas 50% das necessidades de consumo de Manaus. Em suma, Balbina possui uma represa com dimensões comparáveis às de Tucuruí, mas sua energia potencial é irrisória. A construção de pequenas e médias usinas ao longo da área atendida pelos grandes projetos de extração mineral e de siderurgia (para produção de aço e alumínio) causaria um impacto ambiental menor e diminuiria as perdas na transmissão da energia. A partir do iminente esgotamento das possibilidades de construção de grandes usinas na região Sudeste, embora o potencial de pequenas e médias instalações ainda seja enorme, passou a ocorrer uma descentralização em direção às regiões marginalizadas ao longo do século XX, propiciando o desenvolvimento das atividades econômicas em áreas historicamente desprovidas de infra-estrutura básica. Assim, está ocorrendo a descentralização do crescimento relativo (percentual) do parque industrial, principalmente nas regiões Sul, Nordeste e Norte. O PROGRAMA NUCLEAR O programa nuclear brasileiro teve início em 1969, quando o Brasil comprou a usina de Angra l da W. Westinghouse (Estados Unidos), com capacidade de produção de 626 MW (5% da capacidade instalada de Itaipu), sem haver transferência de tecnologia. A usina foi instalada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, sobre uma falha geológica, e foi apelidada de "vaga-lume", tal é a incidência de problemas técnicos que obrigam que ela seja desligada.

Programa Nuclear Brasileiro: produção desprezível de energia ao custo de bilhões de dólares. Na foto. Angra I, em Angra dos Reis (RJ). No entanto, durante a década de 70 e início da de 80, foi dado grande impulso ao setor. A partir dos choques do petróleo de 1973 e 1979, a produção de energia elétrica passou a receber grandes investimentos, por se tratar de fonte alternativa ao petróleo. A política governamental estabeleceu como prioridade a construção de grandes usinas. No Centro-Sul, destaca-se Itaipu, no rio Paraná, a maior usina brasileira. No Norte e no Nordeste, destacamse Tucuruí, no rio Tocantins, Boa Esperança, no rio Parnaíba, e Sobradinho, no rio São Francisco, entre outras menores. Essas grandes obras são muito polêmicas e questionáveis quando analisamos seus aspectos técnicos. Usinas com o potencial de Itaipu, Tucuruí e Sobradinho exigem a construção de uma enorme represa, que causa sérios danos ambientais, além de exigir a instalação de uma extensa, sofisticada e caríssima rede de transmissão de

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Em 1975, o Brasil assinou um acordo nuclear com a Alemanha, através da Siemens. Previa-se, inicialmente, a construção de oito usinas, com transferência de tecnologia. Após consumir bilhões de dólares, apenas se iniciaram as obras de Angra II e III. Em 1993, a participação da usina de Angra l na produção nacional de energia elétrica foi nula. O ÁLCOOL O álcool é uma fonte renovável de energia e sua queima em motores a explosão é menos poluente, se comparada à queima dos derivados de petróleo. O que será questionado, nas linhas a seguir, não é a utilização do álcool como fonte de energia, mas o programa implantado no Brasil visando à sua utilização em substituição à gasolina. Em 1975, na busca de saídas para o primeiro choque do petróleo, o Brasil criou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), com a intenção de substituir o petróleo por outras fontes de energia. Tratou-se de um programa muito

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GEOGRAFIA oneroso aos cofres públicos, que só se estruturou e continua existindo à custa de enormes subsídios. Além disso, o programa não garantiu a economia de gastos com petróleo, à medida que só substitui o consumo de gasolina, a qual, após esse programa, o Brasil passou a exportar. A partir de 1989, quando o governo diminuiu os subsídios para a produção e consumo de álcool, o setor entrou em crise e o país passou a importar o combustível da Europa. No ímpeto de enfrentar a crise do petróleo, foram dados vultosos empréstimos a juros subsidiados aos maiores produtores de cana-de-açúcar, para que construíssem usinas de grande porte para a produção de álcool. Esses atraentes financiamentos estenderam-se, em volumes menores, a peque-nos e médios produtores agrícolas. Esses, na implantação do projeto, substituíram suas culturas diversificadas por cana-de-açúcar e se tornaram fornecedores de matéria-prima aos usineiros. Ob-serve, no gráfico, os enormes saltos na produção de álcool verificados a partir de 1977. Também na esfera do consumo, os subsídios foram enormes: de 1976 a 1989, o IPVA (Imposto de Propriedade de Veículos Automotores) cobrado de carros movidos a álcool foi equivalente a 50% do valor correspondente ao de carros movidos a gasolina e o valor do litro de álcool era limitado, por lei, a 65% do preço da gasolina. O preço do combustível 3. determinado, até hoje, por razões políticas, e não econômicas, e quem arca com o prejuízo é uma empresa estatal, a Petrobrás. O prejuízo mensal da Petrobrás com a manutenção do programa é de 140 milhões de dólares. Atualmente, a relação de preços atingiu o limite mínimo de 80% para a sobrevivência do Proálcool. Como há uma diferença de desempenho e de autonomia de 20% entre um tanque de combustível com álcool em relação a um tanque com gasolina, a atual relação de 20% a menos no preço do álcool igualou a despesa de consumo entre os dois combustíveis e o consumidor passou a preferir veículos movidos a gasolina. Por conta disso, apenas cerca de 3% dos veículos são fabricados para rodar com álcool, enquanto em 1982 esse percentual era de 90%. Mais de 60% do petróleo consumido no Brasil é queimado na forma de óleo diesel, que não é substituído pelo álcool. Nas refinarias brasileiras, a obtenção do óleo utilizado pelas indústrias e o setor de transportes produz, necessariamente, um percentual muito grande de gasolina (18%) que, substituída pelo álcool em veículos de passeio, passa a ser exportada, já que seu armazenamento é economicamente inviável. A substituição do petróleo passa pela substituição do óleo diesel, não da gasolina. Em função do Proálcool, as alterações ocorridas no campo para que alguns cidadãos circulassem com carros a álcool foram desastrosas. Em primeiro lugar, ao não estabelecer preço mínimo para a tonelada de cana-de-açúcar até 1989, o governo abandonou os pequenos e médios produtores à mercê da ganância dos grandes usineiros. O governo não compra cana, apenas o álcool produzido nas usinas. Assim, quem não as possui é obrigado a vender sua produção aos usineiros. Estes, por sua vez, costumavam pagar valores muito baixos pela cana-de-açúcar, levando milhares de pequenos e médios pro- prietários à falência, obrigando-os a vender suas terras. Essa dinâmica agravou substancialmente os problemas relacionados ao processo de concentração de terras: aumento do número de trabalhadores diaristas, incentivo maior à monocultura e êxodo rural. Embora a fonte de energia — álcool — seja eficiente, o programa foi implantado, em escala nacional, em uma época em que sua produção e consumo apresentavam custos maiores que os verificados pela gasolina, daí a

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necessidade de subsídios. Atualmente, após o grande desenvolvimento tecnológico obtido no setor, o álcool tornou-se economicamente viável, caso seja consumido próximo às regiões produtoras. Seu consumo, porém, está espalhado pelos quatro cantos do país e a distribuição de álcool pelo território nacional, feita em caminhões movidos a diesel, analisada em sua totalidade, causa enormes prejuízos aos cofres públicos. A POPULAÇÃO BRASILEIRA A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO : Índios, negros, brancos, amarelos e mestiços Somos 190.732.694 pessoas em todo o Brasil. Esse é o resultado do Censo 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dez anos, o aumento da população foi de 12,3%, em números absolutos isso significa 20.933.524 pessoas. O crescimento foi inferior ao observado na década anterior. Entre 1991 e 2000, a população brasileira aumentou 15,6%. Não há consenso entre os especialistas sobre o número de indígenas que ocupavam o atual território brasileiro antes da chegada dos portugueses: as estimativas vão de 1 a 6,8 milhões de nativos. Apesar das controvérsias, é inquestionável que, de 1500 aos dias de hoje, os indígenas sofreram intenso genocídio (extermínio físico) por transmissão de doenças trazidas pelos europeus e para as quais não tinham imunidade, e pelas guerras com os colonizadores, que tentavam aprisioná-los como escravos. Havia, ainda, guerras entre diferentes nações indígenas, principalmente quando fugiam das regiões ocupadas pelos europeus em direção a terras de outros povos, ou quando se aliavam militarmente a portugueses, franceses e holandeses para lutar contra nações inimigas. Principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, encontram-se muitos mestiços descendentes de índios (mamelucos ou caboclos e cafuzos), que são classificados, juntamente com os mulatos, como pardos nos censos demográficos. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, em seu livro O povo brasileiro, no ano de 1500 encontravam-se no que corresponderia ao atual território nacional mais de 5 milhões de nativos. Em 1998, seus descendentes estavam reduzidos a 362 890 indivíduos, ou 0,23% da população total do país (PNAD-IBGE/1999), concentrados principalmente nas regiões norte e centro-oeste. Somente no final do século XX, verificou-se uma tendência de aumento desse contingente, principalmente em função da delimitação de reservas indígenas, que atualmente ocupam mais de 11% do território brasileiro, em vários pontos do país. No início da década de 90, apenas um terço do território indígena estava regulamentado. Atualmente, metade de seu território está regular. Os restantes 99,77% da população brasileira são descendentes de colonos portugueses, de imigrantes livres ou de negros africanos trazidos para cá como escravos. Entre 1532 e a segunda metade do século XIX, houve a transferência forçada de povos africanos para o Brasil. A partir de 1870, aumentou a imigração livre de europeus, americanos e asiáticos, que povoaram o território e miscigenaram entre si e com negros e indígenas. Quanto às cores ou raças que compõem a população brasileira, conforme se verifica na tabela abaixo, 47,73% são brancos e 7,61%, negros (dados de 1999). Esses percentuais vêm diminuindo rapidamente, enquanto o número de pardos 43,13% tem aumentado. Esses dados demonstram que continua havendo intensa miscigenação entre as raças, já que os grupos originais foram o indígena, o branco europeu e o negro africano.

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GEOGRAFIA Posteriormente, houve pequena participação de asiáticos. POPULAÇAÕ RESIDENTE POR COR OU ETNIA (%) Cor ou etnia

1950 1980 20002010

Branca

61,7 54,7 54,0 47,73%

Negra

11,0 5,9

Parda

26,5 38,5 39,9 43,13%

Amarela

0,6 0,6

0,5 1,9%

Indígena

-

0,2 0,43%

-

Sem declaração0,2 0,3

5,4 7,61%

-

-

Fonte: IBGE/CENSOS Os dados da tabela, entretanto, não refletem a real distribuição da população por cor ou raça. Durante a coleta dos dados do Censo de 2000, os recenseadores foram instruídos a mostrar, em 25% dos domicílios pesquisados, um cartão com as opções de cor (branca, preta, amarela, parda e indígena). Nem sempre os mestiços ou pardos se declaram como tal, o que ficou evidente na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 1976. Nesse ano, os recenseadores foram instruídos a marcar a resposta espontânea dada pelo entrevistado, sem apresentar nenhuma opção, e o resultado foi a coleta de 136 cores diferentes, algumas curiosas: amarela-queimada, bem branca, bem morena, branca-suja, chocolate, galega, pálida, queimada-de-praia, roxa, sapecada, verde, vermelha, etc. Crescimento vegetativo ou natural O crescimento vegetativo ou natural corresponde à diferença entre as taxas de natalidade e de mortalidade. No Brasil, embora essas duas taxas tenham declinado no período de 1940-1960, foi somente a partir da década de 60 que o crescimento vegetativo passou a diminuir. A taxa de mortalidade apresentar uma queda maior que a verificada na taxa de natalidade, o crescimento vegetativo aumenta. Para que ele diminua, a queda da natalidade tem de ser mais acentuada que a de mortalidade. Logo após a Segunda Guerra Mundial, em todos os países, houve uma queda brutal nas taxas de mortalidade, graças aos progressos obtidos na medicina durante o conflito. A taxa de crescimento vegetativo, portanto, aumentou significativamente. A partir da década de 60, com a urbanização acelerada no Brasil, a taxa de natalidade passou a cair de forma mais acentuada que a taxa de mortalidade. Conseqüentemente, o crescimento vegetativo começou a diminuir, embora ainda apresentasse valores muito altos, típicos de países subdesenvolvidos. A taxa de mortalidade brasileira já atingiu um patamar próximo a 6%o, tendendo a se estabilizar por algumas décadas e, posteriormente, crescer, chegando a 8 ou 9%o, quando o percentual de idosos no conjunto total da população aumentar. Esperança de vida e mortalidade infantil A esperança ou expectativa de vida ao nascer e a taxa de mortalidade infantil são importantes indicadores da qualidade de vida da população de um país. Analisando os dados da população brasileira, verificamos que, principalmente na região Nordeste ( EV=65,8 e MI=44,7%0) , os indicadores brasileiros são parecidos com os de países africanos , enquanto nas regiões Sul e Sudeste as taxas podem ser comparadas às de países desenvolvidos ( EV=71,0 e MI=18,9%0). O censo de 2010 apontou uma taxa de 22 mortes para cada mil nascimentos.

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O censo de 2010 apontou uma expectativa de vida do brasileiro de 73 anos ( 70 para os homens e 76 para mulheres). Lembre-se de que esses indicadores correspondem a uma média e, portanto, não apresentam as grandes variações existentes entre as classes sociais em cada região. Para se ter uma idéia enquanto um brasileiro que ganha mais de 20 salários mínimo vive,aproximadamente, 75,6 anos, quem ganha até um salário vive em média 56,9. CRESCIMENTO VEGETATIVO NO BRASIL (1940-2010) Taxa de taxa de Crescimento Período natalidade mortalidade natural (%) (%0) (%0) 1940-1950 44,4 20,9 2,35 1950-1960 43,2 14,2 2,90 1960-1970 38,7 9,8 2,89 1970-1980 33,0 8,1 2,49 1980-1991 26,8 7,9 1,89 1991-2000 24,1 7,8 1,63 2000-2010 20,4 6,3 1,17 Fonte: IBGE. A ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA Com a queda das taxas de natalidade e de mortalidade, acompanhada do aumento da expectativa de vida da população brasileira, a pirâmide de idades vem apresentando uma significativa redução de volume na base, onde se encontram os jovens (40,5%), e um aumento da participação percentual das pessoas adultas (50,6%) e idosas (8,9%) – censo de 2000. A redução da participação dos jovens no conjunto total da população, porém, foi acompanhada pelo esfacelamento dos sistemas públicos de educação e saúde e de um brutal agravamento do processo de concentração de renda. A conseqüência, óbvia, é que, num futuro próximo, grande parcela desses jovens se transfor- marão em mão-de-obra desqualificada e mal remunerada, despreparada para o desempenho de atividades que envolvam domínio de novas tecnologias e incapaz, portanto, de sustentar maiores índices de crescimento econômico acompanhados de desenvolvimento social. Quanto à distribuição da população brasileira por sexo, o país se insere na dinâmica global: nascem cerca de 106 homens para cada 100 mulheres, mas a taxa de mortalidade masculina é maior e a expectativa de vida, menor. Assim, embora nasçam mais homens que mulheres, é comum as pirâmides apresentarem uma quantidade ligeiramente superior de população feminina, já que as mulheres vivem mais - quatro anos em média. Segundo o censo de 2000, o Brasil tinha 83,4 milhões de homens (49,2%) e 86,1 milhões de mulheres (50,8%). Existem, 96,9 homens para cada 100 mulheres no país. Mas essa proporção entre os dois sexos varia muito de acordo com a área. Normalmente, nas áreas de imigração — as que estão recebendo novos contingentes pelas migrações internas —, a proporção de homens é superior a) de mulheres, como no Acre, Amapá, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Roraima. E nas áreas de emigração — locais de onde se originam migrantes —, como Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, a porcentagem de mulheres é maior que a de homens, superando a média nacional. Contudo, essas diferenças raramente ultrapassam 2% ou 3% a mais ou a menos entre um sexo e outro. Elas demonstram um progressivo amadurecimento populacional nas últimas décadas: a de 1990 constitui uma típica pirâmide etária de país jovem; a de 2010 já sinaliza um avançado estágio de transição; e a projetada para 2030 evidencia uma população não mais jovem, na qual há

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GEOGRAFIA considerável porcentagem de idosos e uma menor proporção de crianças. Contudo, em 2010 o Brasil já poderá ser considerado um país maduro Com o tempo praticamente todos os países deixarão de ser jovens no sentido de predomínio da faixa etária com menos de dezenove anos de idade. Isso porque até mesmo nos Estados mais pobres a tendência é haver diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade e aumento da expectativa de vida, o que leva a um progressivo envelhecimento da população. Por isso, a expressão "pirâmide etária" vai perdendo a sua razão de ser. Ela foi criada há cerca de um século, em uma época em que até os países desenvolvidos tinham grande proporção de jovens no seu efetivo demográfico — e, portanto, esse gráfico tinha formato piramidal para toda as nações, o que deixou de ser verdadeiro para muitas delas. DISTRIBUIÇÃO E MOVIMENTOS: MIGRAÇÕES Histórico: No processo de povoamento do Brasil, as migrações internas sempre tiveram um papel de destaque. A ocupação das áreas marginais à região açucareira do Nordeste ainda no século XVI assinalou o início do movimento migratório interno. No século seguinte, foi a atividade pecuária nas regiões do agreste e do sertão do Nordeste que atraiu a população, seguindo o eixo do vale do São Francisco e vindo a definir os contornos do Maranhão e Piauí, numa ocupação do interior para o litoral, singular na história do Brasil. A descoberta de jazidas de metais e pedras preciosas atraiu populações e investimentos no planalto Mineiro, no Mato Grosso e em Goiás no século XVIII. Para lá afluíram grupos do Nordeste e do planalto Paulista, efetivando a ocupação do interior do Brasil. No século XIX, a migração interna foi motivada pela expansão da fronteira agrícola a partir do Rio de Janeiro. A cafeicultura expandiu-se através do vale do rio Paraíba do Sul, entre 1810 e 1860, e em 1850 foi levada para o oeste de São Paulo, prosseguindo até o norte do Paraná. Nesse processo de expansão, atraiu populações do Nordeste e de Minas Gerais para o estado de São Paulo, estabelecendo importante fluxo migratório. Outro movimento populacional interno que merece destaque resultou do ciclo de desenvolvimento econômico da Amazônia entre 1870 e 1912, baseado na produção da borracha natural. A expansão dessa atividade coincidiu com um momento em que o Nordeste enfrentava longo período de seca, que arrasou a produção algodoeira. Essa situação estimulou o deslocamento de mais de 200 mil nordestinos em direção ao oeste para trabalhar como seringueiros, extraindo látex para a produção da borracha. Entre 1935 e 1940, a expansão da produção algodoeira em São Paulo também contribuiu para atrair um grande contingente populacional da Bahia e de Minas Gerais. O mapa da página ao lado apresenta os principais fluxos migratórios do país. A mobilidade da população brasileira aumentou na segunda metade do século XX. Entre a década de 1940 e o final dos anos 80, aproximadamente 57 milhões de brasileiros mudaram de cidade ou região. De acordo com o IBGE, de cada 100 brasileiros, 16 moram em estados em que não nasceram. São ao todo 23,6 milhões de pessoas, pouco mais que a população da região Sul (22,7 milhões). A proporção de imigrantes aumenta quando se avalia o número de brasileiros que moram fora de seus municípios: 40 em 100. Entre as razões dessa mobilidade está a diferença de desenvolvimento econômico existente no país, que leva a população a se deslocar para aquelas regiões que

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oferecem maiores oportunidades de trabalho e melhor qualidade de vida. Um exemplo é a recente onda migratória para a cidade de Curitiba, no Paraná. Apontada como a capital de melhor qualidade de vida no Brasil, Curitiba recebeu 297 mil migrantes em apenas cinco anos. Nesse aspecto, a diversidade regional no país pode ser confirmada pela tabela a seguir: NATURALIDADE EM RELAÇAO AO ESTADO (%) Regiões Norte Nordeste Sudeste Sul oeste Naturais 73,7 93,0 81,5 87,3 63,8 Não naturais 26,6 7,0 18,5 12,7 36,2 Percebe-se, portanto, que o histórico fluxo migratório interno, que marcou a saída dos nordestinos para outros estados em que pudessem obter melhores condições de vida, apesar de sofrer profundas modificações nas últimas décadas, ainda faz com que a região Nordeste detenha a mais baixa proporção de pessoas não naturais do estado de residência (7,0%). Outra constatação importante é que nos últimos anos as regiões Centro-Oeste e Norte foram as que mais receberam migrantes de outras áreas do território brasileiro. Os movimentos migratórios na atualidade Na história das migrações internas do Brasil, os maiores contingentes partiram do Nordeste. Na década de 1950, para a construção de Brasília; entre 1950 e 1985, para as grandes cidades do Sudeste, contribuindo para a expansão da economia urbano-industrial; e a partir da década de 1970, para a Amazônia. BRASIL: MIGRAÇÕES INTERNAS

No entanto, de acordo com o último Censo do IBGE, o padrão de migrações internas alterou-se profundamente na última década. A emigração do Nordeste apresentou uma drástica redução e verifica-se um movimento de retorno do migrante à região de origem. Esse processo, e o crescimento populacional resultante na região, refletem a crise econômico-social da década de 1980, que limitou as oportunidades de trabalho no Sudeste, e a expansão da economia urbana nas grandes cidades nordestinas, onde aumentaram as oportunidades de trabalho. Com isso, algumas cidades que apresentaram crescimento significativo, como Recife, Fortaleza e Salvador, passaram a receber migrantes de outras regiões.

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GEOGRAFIA Outra alteração significativa no perfil migratório do Brasil é a redução do fluxo populacional para as grandes capitais e o aumento do fluxo inverso, ou seja, cada vez mais pessoas estão deixando as grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, em busca de melhores condições de vida nas cidades médias. Na década de 1980, o saldo migratório de São Paulo foi surpreendente: saíram da cidade 750 mil pessoas a mais que o total de pessoas que entraram no mesmo período. Atualmente, a Amazônia constitui um grande pólo de atração migratória. Esse não é um movimento recente, pois acompanhou a expansão da fronteira agrícola brasileira em direção ao Centro-Oeste e à Amazônia. Foi estimulada pelas políticas desenvolvidas pelo governo federal a partir do início dos anos 70, como a construção de grandes rodovias, o apoio à implantação de projetos agropecuários, os incentivos ao desenvolvimento das atividades de mineração e os programas de venda de pequenos lotes de terra coordenados pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Tais estímulos atraíram migrantes de vários pontos do sul do país. Esse deslocamento ainda ocorre, e hoje podemos observar que grande parte da população do estado de Rondônia é paranaense. Também do Rio Grande do Sul partiram grupos em direção à Amazônia, Centro-Oeste e Bahia, em conseqüência do desemprego na zona rural, causado pela mecanização da agricultura. Outro fator que explica o deslocamento é o processo de concentração de terras que acompanhou a modernização da agricultura e levou ao esgotamento da estrutura fundiária da região Sul.

conjunto de cidades interligadas, onde ocorre uma migração diária entre os municípios, fenômeno conhecido como migração pendular. .Para a população que realiza esse movimento diário, a reestruturação dos transportes coletivos metropolitanos é urgente. EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA NO BRASIL (%) ANO 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 36% 45% 56% 68% 75% 81% 84% Fonte: IBGE Transumância (movimento temporário) A transumância é um movimento populacional sazonal, ou seja, que ocorre em certos períodos do ano e que sempre se repete. No Brasil, já é considerada histórica a transumância da população que mora no polígono das secas, na região Nordeste. Os órgãos públicos responsáveis pelo combate à seca atendem prioritariamente aos interesses dos latifundiários, excluindo os despossuídos do acesso freqüente a açudes e sistemas de irrigação. A conseqüência óbvia e previsível é que em março, quando pára de chover no Sertão, os pequenos e médios proprietários são obrigados a migrar para o Agreste ou para a Zona da Mata, em busca de uma ocupação que lhes permita sobreviver até dezembro, quando volta a chover no Sertão e eles retornam às suas propriedades. Também é comum a transumância praticada pêlos bóiasfrias volantes, que não possuem residência fixa. O trabalho volante é temporário, só ocorre durante o período do plantio, da colheita, ou do corte da cana-de-açúcar, por exemplo. Tal situação obriga os trabalhadores a migrar de cidade em cidade atrás de serviço. A partir da década de 80, nas regiões do país em que os sindicatos rurais se fortaleceram, esse movimento periódico passou a ser programado com antecedência, de forma a manter os bóias-frias com ocupação ao longo de todo o ano, em locais preestabelecidos. Migração urbana-urbana Atualmente, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, é significativa a saída de população das metrópoles em direção às cidades médias do interior. A pausa desse movimento é que as metrópoles estão completamente inchadas, com precariedade no atendimento de praticamente todos os serviços públicos, altos índices de desemprego e criminalidade. Já as cidades do interior desses estados, além de estar passando por um período de crescimento econômico, oferecem melhor qualidade de vida à população. A NATUREZA BRASILEIRA

POPULAÇÃO RURAL E URBANA Êxodo rural e migração pendular De meados da década de 50 até o final dos anos 70, período em que foram muito acelerados o processo de industrialização nas grandes cidades e a concentração de terras no campo, o Brasil sofreu um intenso êxodo rural, ou seja, a saída de pessoas do campo em direção às cidades. Como essas cidades não receberam investimentos públicos em obras de infra-estrutura urbana (habitação, saneamento básico, saúde, educação, transportes coletivos, lazer e abastecimento), passaram a crescer em direção à periferia, onde eram construídas enormes favelas e loteamentos clandestinos, sobretudo ao redor dos bairros industriais. Esse processo levou ao surgimento das metrópoles, um

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RELEVO O relevo corresponde às formas assumidas pelo terreno (planaltos, planícies, serras, montanhas, depressões, chapadas, etc.) após serem moldadas pela atuação de agentes internos e externos sobre a crosta terrestre. Os agentes internos são as forças tectônicas (movimentos orogenéticos, epirogenéticos, terremotos e vulcanismo), que se originam dos movimentos das placas tectônicas, alterando as formas do terreno na superfície terrestre. Os escudos cristalinos (serras), por exemplo, formam-se nas eras Pré-cambriana e Paleozóica. Suas formas atuais são resultado da modelagem exercida pela ação dos agentes externos ou agentes erosivos (chuva, vento, rios, gelo, neve, etc.), atuando durante milhões de anos sobre as formas definidas pelos agentes internos. Já as cadeias montanhosas terciárias são resultantes da ação dos agentes internos (orogênese).

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GEOGRAFIA O Brasil é um país de altitudes modestas. Cerca de 40% do seu território encontra-se abaixo de 200 m de altitude, 45% entre 200 e 600 m, e 12%, entre 600 e 900 m. Apenas 3% constituem área montanhosa, ultrapassando os 900 m de altitude. Os agentes responsáveis pela modificação do relevo brasileiro, com exceção do ser humano, são: o clima (chuvas, temperaturas) e a hidrografia (rios). Embora existam classificações anteriores, somente na década de 1940 foi criada uma classificação do relevo brasileiro considerada coerente com a realidade do nosso território. Ela foi elaborada pelo professor Aroldo de Azevedo e levava em conta as cotas altimétricas, definindo planalto como um terreno levemente acidentado, com mais de 200 metros de altitude, e planície como uma superfície plana, com altitude inferior a 200 metros. Os planaltos ocupam 59% da superfície do território, e as planícies, os 41% restantes. Em 1962, o extraordinário geógrafo Aziz Ab'Sa-ber, usando outro critério, o morfoclimático (que explica as formas de relevo pela ação do clima), ampliou a classificação de Aroldo de Azevedo, acrescentando novas unidades ao relevo brasileiro. Ab'Saber baseou-se nos processos de erosão e sedimentação para diferenciar planalto de planície, abolindo o nível altimétrico usado por seu antecessor. Segundo ele, todas as superfícies onde predominam agentes da erosão são consideradas planaltos, e as superfícies onde a deposição de sedimentos é maior que a erosão são classificadas como planícies.

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O PROJETO RADAM O RADAMBRASIL E A NOVA CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO Até a década de 1960 era total o desconhecimento sobre os recursos naturais e o uso da terra na Amazônia. A região não estava integrada ao país e não havia como controlar sua ocupação. Para fazer um levantamento que permitisse esse conhecimento e controle, foi criado, em outubro de 1970, o Projeto Radam (Radar da Amazônia}. O objetivo desse projeto era detalhar a geologia, o relevo, os solos e a cartografia da Amazônia e do Nordeste brasileiro. Em 1971, aviões equipados com radar em sua parte inferior começaram a sobrevoar a região. Aos poucos o projeto foi ampliado e, em 1973, já englobava toda a Amazônia e a maior parte do Nordeste. Em 1975, foi estendido a todo o território nacional e passou a se chamar Radambrasil. O trabalho dos dois projetos foi essencial para o estudo do território brasileiro. Em 1999, os mosaicos de radar obtidos durante os trabalhos realizados foram transformados em sistema digital, o que ampliou muito o seu uso no estudo dos recursos naturais do Brasil. Tendo participado do Projeto Radam e levado em consideração a classificação de Ab'Saber, o conceituado prof. Jurandyr Ross, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, propôs, em 1989, uma divisão do relevo do Brasil tão detalhada quanto os novos conhecimentos adquiridos sobre o território brasileiro nos projetos que acabamos de ver. Por isso, ela é mais complexa do que as anteriores. Sua proposta é importante porque resulta de um trabalho realizado com o uso de técnicas ultra-modernas, que permitem saber com mais conhecimento como é formado o relevo brasileiro. Esse conhecimento é fundamental para vários projetos econômicos (exploração de recursos minerais, agricultura) desenvolvidos no país. Nessa nova classificação são consideradas três principais formas de relevo: planalto, planície e depressão. As classificações anteriores consideravam apenas a existência de planaltos e planícies. Ross aprofundou o critério morfoclimático da classificação de Ab'Saber, que passou a fazer parte de um conjunto de outros fatores, como a estrutura geológica e a ação dos agentes externos do relevo, passados e presentes. Essa terceira classificação considera também o nível altimétríco, já utilizado pelo prof. Aroldo de Azevedo, embora as cotas de altitude sejam diferentes das anteriores.

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GEOGRAFIA No território compartimentos:

brasileiro

distinguem-se

três

2. Planalto: é um compartimento de relevo com superfície irregular e altitude superior a 300 metros, no qual predominam processos erosivos em terrenos cristalinos ou sedimentares. Compreendem a maior parte do território brasileiro, sendo a grande maioria considerada vestígios de antigas superfícies erodidas. Os planaltos são chamados de "formas residuais" (de resíduo, ou seja, do que ficou do relevo atacado pela erosão). 3. Planície: é um compartimento de relevo com superfície plana e altitude igual ou inferior a 100 metros, no qual predominam acúmulos recentes de sedimentos. Nessa classificação grande parte do que era considerado planície passou a ser classificada como depressão marginal. Com isso a unidade das planícies ocupa agora uma porção menor no território brasileiro Na Amazônia, são consideradas planícies apenas as terras situadas junto aos rios. O prof. Aziz Ab'Saber já fazia essa distinção, chamando as várzeas de planícies típicas e as outras áreas de baixos-platôs. 4. Depressão: é um compartimento de relevo mais plano que o planalto, no qual predominam processos erosivos, com suave inclinação e altitude entre 100 e 500 metros. Localizadas nos limites das bacias sedimentares com os maciços antigos, processos erosivos formaram áreas rebaixadas, principalmente na Era Cenozóica definem as principais depressões. HIDROGRAFIA De acordo com mapa abaixo, existem no Brasil oito grandes bacias hidrográficas, sendo que cinco têm o nome de seus rios principais. Amazonas, Paraná, Tocantins, São Francisco, e Uruguai; as outras são agrupamentos de vários rios, não tendo um rio principal como eixo, por isso são chamadas de bacias agrupadas que são: Bacia do Norte-Nordeste, Bacia do Leste e Bacia do Sudeste-Sul. O Brasil possui uma das mais amplas, diversificadas e extensas redes fluviais de todo o mundo. O maior país da América Latina conta com a maior reserva mundial de água doce e tem o maior potencial hídrico da Terra.

Paraguai ocupam extensões de planícies, mas as bacias hidrográficas do Paraná e do São Francisco são tipicamente de planalto. Merecem destaque as quedasd'água de Urubupungá (no rio Paraná), Iguaçu (no rio Iguaçu), Pirapora, Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso (no rio São Francisco), onde estão localizadas usinas hidrelétricas. Os rios brasileiros apresentam regime de alimentação pluvial, ou seja, são alimentados pelas águas das chuvas. Em decorrência de o clima tropical predominar na maior parte do território, as cheias ocorrem durante o verão, constituindo exceção alguns rios nordestinos, cujas cheias ocorrem entre o outono e o inverno. Os rios do sul não tem vazante acentuada, devido à boa distribuição das chuvas na região, assim como os da bacia Amazônica, também favorecidos pela uniformidade pluviométrica da região. No Brasil, predomina a drenagem exorréica, ou seja, os rios correm em direção ao mar, como o Amazonas, o São Francisco, o Tocantins, o Parnaíba, etc. Pouquíssimos são os casos de drenagem endorréica, em que os rios se dirigem para o interior do país, desaguando em outros rios, como o Negro, o Purus, o Paraná, o Iguaçu, o Tietê, entre outros. Em sua maior parte, os rios brasileiros são perenes, isto é, nunca secam. Mas na região semi-árida do Nordeste há rios que podem desaparecer durante uma parte do ano, na estação seca: são os chamados rios temporários ou intermitentes. O Brasil possui poucos lagos, classificados em: Lagos de barragem, que são resultantes da acumulação de materiais e subdividem-se em lagunas ou lagoas costeiras, formadas a partir de restingas, tais como as lagoas dos Patos e Mirim, no Rio Grande do Sul, e lagoas de várzea, formadas quando as águas das cheias ficam alojadas entre barreiras de sedimentos deixados pelos rios ao voltarem ao seu leito normal. São comuns na Amazônia e no Pantanal Mato-Grossense; Lagos de erosão, formados por processos erosivos, ocorrendo no Planalto Brasileiro. Os centros dispersores — ou seja, as porções mais altas do relevo que separam as bacias fluviais — que merecem destaque no Brasil são três: a cordilheira dos Andes, onde nascem alguns rios que formam o Amazonas; o planalto das Guianas, de onde partem os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas; e o Planalto Brasileiro, subdividido em centros dispersores menores. Os rios, ao desembocarem em outro rio ou no oceano, podem apresentar-se com uma foz do tipo estuário, com um único canal, ou do tipo delta, com vários canais entremeados de ilhas; ocorre, excepcionalmente, o tipo misto. No Brasil, predominam rios com foz do tipo estuário, com exceção do rio Amazonas, que possui foz do tipo misto, e dos rios Paranaíba, Acaraú, Piranhas e Paraíba do Sul, que possuem foz do tipo delta. CLIMA O que é clima? Segundo Max Sorre: “É a sucessão habitual dos tipos de tempo em determinado local da superfície terrestre”. Por apresentar dimensões continentais o Brasil apresenta seis tipos de climas:

A maior parte dos rios brasileiros é de planalto, apresentando-se encachoeirados e permitindo, assim, o aproveitamento hidrelétrico. As bacias Amazônica e do

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GEOGRAFIA atlântica, que determina temperatura média de 18°C e amplitude térmica anual elevada para padrões brasileiros, de cerca de 10°C. As chuvas variam dos 1000 mm aos 2000 mm/ano, e bem distribuídas anualmente. Há geadas com frequência e eventuais nevadas.

O clima equatorial ocorre na região Amazônica, ao norte de Mato Grosso e a oeste do Maranhão e está sob ação da massa de ar equatorial continental – de ar quente e geralmente úmido. Suas principais características são temperaturas médias elevadas (25°C a 27°C); chuvas abundantes, com índices próximos de 2.000 mm/ano, e bem distribuídas ao longo do ano; e reduzida amplitude térmica, não ultrapassando 3°C. No inverno, essa região pode sofrer influência da massa polar atlântica, que atinge a Amazônia ocidental ocasionando um fenômeno denominado "friagem", ou seja, súbito rebaixamento da temperatura em uma região normalmente muito quente. O clima tropical abrange todo Brasil central, a porção oriental do Maranhão, grande parte do Piauí e a porção ocidental da Bahia e de Minas Gerais. Também é encontrado no extremo norte do país, em Roraima. Caracteriza-se por temperatura elevada (de 18°C a 28°C), com amplitude térmica (de 5°C a 7°C), e estações bem definidas – uma chuvosa e outra seca. Apresenta alto índice pluviométrico, em torno de 1.500 mm/ano. A estação de chuva é o verão, quando a massa equatorial continental está sobre a região. No inverno, com o deslocamento dessa massa, diminui a umidade e então ocorre a estação seca. O clima tropical de altitude é encontrado nas partes mais elevadas, entre 800m e 1000m, do planalto Atlântico do Sudeste. Abrange trechos dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, norte do Paraná e o extremo sul de Mato Grosso do Sul. Sofre a influência da massa de ar tropical atlântica, que provoca chuvas no período do verão. Apresenta temperatura amena, entre 18°C e 22°C, e amplitude térmica anual entre 7°C e 9°C. No inverno, as geadas acontecem com certa frequência em virtude da ação das frentes frias originadas da massa polar atlântica. O clima tropical atlântico, úmido ou litorâneo Estende-se pela faixa litorânea do Rio Grande do Norte ao extremo leste de São Paulo. Sofre a ação direta da massa tropical atlântica, que, por ser quente e úmida, provoca chuvas intensas. O clima é quente com variação de temperatura entre 18°C e 26°C e amplitude térmica maior à medida que se avança em direção ao Sul -, úmido e chuvoso durante todo o ano. A maior concentração de chuva ocorre no verão. O índice pluviométrico médio é de 2000 mm/ano. O clima subtropical Também pode ser classificado como temperado. O clima das latitudes abaixo do trópico de Capricórnio: abrange o sul do estado de São Paulo, a maior parte do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o extremo sul de Mato Grosso do Sul. É influenciado pela massa polar

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Em termos de temperatura, apresenta as quatro estações do ano relativamente bem marcadas. Os verões são quentes, na maior parte da Região Sul (Cfa, segundo a Classificação climática de Köppen-Geiger), enquanto os verões são amenos nas Serras Gaúcha e Catarinense, além do extremo sul do país, nas partes mais elevadas das Serras de Sudeste (caracterizado por Köppen como Cfb), com média anual de temperatura inferior aos 17°C. Os invernos são frescos (frios para os padrões brasileiros), com a ocorrência de geadas em toda a sua área de abrangência, havendo a ocorrência de neve nas partes mais elevadas da região. A neve ocorre com regularidade anual apenas acima dos 1.000 metros de altitude (constituindo uma pequena área entre os estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina), sendo, nas áreas mais baixas, de ocorrência mais esporádica, não ocorrendo todos os anos. Nos pontos mais altos do planalto, onde pode ocorrer a neve durante os dias de inverno, estão situadas as cidades mais frias do país: São Joaquim e Urupema, em Santa Catarina, e São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, as três com temperatura média anual de 13°C. O local mais frio do país é creditado ao cume do Morro da Igreja, no município de Urubici, próximo a São Joaquim, o ponto habitado mais alto da Região Sul do país. O clima tropical semiárido é típico do interior do Nordeste, região conhecida como o Polígono das Secas, que corresponde a quase todo o sertão nordestino e aos vales médio e inferior do rio São Francisco. Sofre a influência da massa tropical atlântica que, ao chegar à região, já se apresenta com pouca umidade. Caracteriza-se por elevadas temperaturas (média de 27°C) e chuvas escassas (em torno de 750 mm/ano), irregulares e mal distribuídas durante o ano. Há períodos em que a massa equatorial atlântica (superúmida) chega no litoral norte de Região Nordeste e atinge o sertão, causando chuva intensa nos meses de fevereiro, março e abril. VEGETAÇÃO A Floresta Amazônica, também conhecida como Hileia ou floresta latifoliada equatorial, recobre cerca de 40% do território nacional, estendendo-se pela Amazônia e parte

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GEOGRAFIA das regiões Centro-Oeste e Nordeste. Constitui uma das mais extensas áreas florestais do mundo. Muito densa e fechada, com grande variedade de espécies, a Floresta Amazônica caracteriza-se por grande umidade, elevadas temperaturas e pequena amplitude térmica. O nome latifoliada deriva do latim (lati = "largo") e indica a predominância de espécies vegetais de folhas largas. Acompanhando essa floresta há uma emaranhada rede de rios, que correm num relevo onde predominam terras baixas (planícies e baixos-planaltos). Os solos são, em geral, pouco férteis.

motosserras até produtos para manejo e manutenção de áreas verdes. A Floresta Amazônica é uma verdadeira farmácia natural ao ar livre, cujas árvores, cipós e outras espécies fornecem remédios para todos os males do corpo humano, desde [18] doenças do coração até diabetes. Por isso tem sido cobiçada pelos maiores laboratórios do mundo, que têm extraído dela uma infinidade de medicamentos. O fenômeno dos “rios voadores” ―Rios voadores‖ são cursos de água atmosféricos, invisíveis, que passam por cima de nossas cabeças transportando umidade e vapor de água da bacia Amazônica para outras regiões do Brasil. A floresta Amazônica funciona como uma bomba d’água. Ela ―puxa‖ para dentro do continente umidade evaporada do oceano Atlântico que, ao seguir terra adentro, cai como chuva sobre a floresta. Pela ação da evapotranspiração da floresta, as árvores e o solo devolvem a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água, que volta a cair novamente como chuva mais adiante. O Projeto Rios Voadores busca entender mais sobre a evapotranspiração da floresta Amazônica e a importante contribuição da umidade gerada por ela no regime de chuvas do Brasil.

Apesar de sua aparente uniformidade, a Floresta Amazônica abriga três tipos de associações, assim divididas: mata de igapó: constantemente inundada, é formada principalmente por palmeiras e árvores não muito altas, emaranhadas por cipós e lianas. É bastante rica em espécies vegetais; mata de várzea: mais compacta, sofre inundações periódicas (cheias). Apresenta árvores maiores, sobressaindo as seringueiras, por seu valor econômico; mata de terra firme: não é inundada, é a que apresenta árvores mais altas. Nela são comuns o castanheiro, o guaraná e o caucho.

As queimadas para a abertura de pastos, instalação de fazendas para criação de gado e plantações de diversos produtos agrícolas, os desmatamentos para retirada de madeira e a mineração são os principais impactos provocados pela ocupação humana na Amazônia. A empresa culpada por esse impacto ambiental é a Husqvarna, uma marca sueca que fabrica desde

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A Mata dos Cocais abrange predominantemente os estados do Maranhão e Piauí (Meio-Norte), mas distribui-se também pelo Ceará, Rio Grande do Norte e Tocantins. Está numa zona de transição entre os ecossistemas da Floresta Amazônica e da caatinga. É classificada como uma formação florestal, mas, na realidade, constitui uma formação vegetal secundária, por seu acentuado desmatamento. Nesse ecossistema predominam dois tipos de palmeira muito importantes para a economia local: Babaçu, de cuja amêndoa se extrai o óleo; as folhas são usadas para a cobertura de casas e o palmito como alimento para o gado. Um rico artesanato emprega suas fibras para confeccionar esteiras, cestos e bolsas. Da casca do côco, podem ser retirados o alcatrão e o acetato. Carnaúba, cujo produto mais conhecido é a cera. Como tudo dessa palmeira pode ser aproveitado (folhas, caule, fibras), o nordestino denominou-a "árvore da providência". Na Mata dos Cocais, as altas temperaturas são constantes. As pastagens representam o principal impacto ambiental nesse ecossistema.

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GEOGRAFIA Mata Atlântica. A floresta latifoliada tropical úmida da encosta estendese desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, junto ao litoral, quase sem interrupções. Predominando em regiões de clima quente e úmido, com verões brandos, surge nas encostas das serras litorâneas. Topograficamente, surge em serras elevadas (escarpas do Planalto Atlântico) e formas arredondadas, chamadas "mares de morros". Esta formação vegetal apresenta-se muito densa, emaranhada e com grande variedade de vegetais higrófilos (adaptados a ambientes úmidos) e perenes. Devido à sua localização geográfica é a formação vegetal brasileira que mais devastações sofreu, principalmente em trechos menos elevados do relevo. Esse impacto ambiental é uma das consequências da intensa urbanização e industrialização que ocorreram no Brasil. A floresta latifoliada tropical é a mesma floresta úmida da encosta, mas se desenvolve nas vertentes das serras, à retaguarda do mar, não influenciadas diretamente pela umidade marítima. Muito densa, apresenta espécies bastante altas e de troncos grossos. No entanto, quando se desenvolve em solos areníticos, ou de calcário, o aspecto da floresta modifica-se completamente: ela se torna menos densa, com árvores mais baixas e de troncos finos. Quase inteiramente devastada, por possuir solos férteis para a agricultura, restam, de sua formação original, apenas, alguns trechos esparsos. O nome latifoliada deriva do latim (lati = "largo") e indica a predominância de espécies vegetais de folhas largas. Mata de Araucárias. A Mata de Araucária, predominando em regiões de clima subtropical e tropical de altitude, que apresentam regular distribuição das chuvas por todos os meses do ano, estende-se desde o sul de São Paulo até o norte do Rio Grande do Sul, em trechos mais íngremes do relevo (Campos do Jordão, por exemplo). É muito comum no planalto Meridional, nos estados do Paraná e Santa Catarina. O nome aciculifoliada vem do latim (aciculi = "pequena agulha") e indica o predomínio de espécies que apresentam folhas pontiagudas. Destaca-se a Araucaria angustifolia, mais conhecida como pinheiro-do-paraná, mas aparecem ainda outras espécies, como a imbuia, o cedro, o ipê e a erva-mate. Os solos em que se desenvolve, em geral de origem vulcânica, são mais férteis que os das áreas tropicais o que explica a grande devastação sofrida por essa vegetação para o aproveitamento agrícola. Além dessas formações florestais aparecem ainda no Brasil alguns outros subtipos, merecendo destaque a mata dos Cocais e as matas galerias ou ciliares. A mata dos Cocais é uma formação de transição entre a Floresta Amazônica e a Caatinga, abragendo áreas do Maranhão, Piauí e Tocantins. O babaçu é a espécie predominante. As matas galerias ou ciliares são florestas que se desenvolvem ao longo dos cursos de água, cuja umidade as mantém. Praticamente devastadas pela ocupação humana, restringem-se a trechos do cerrado ou dos campos do Rio Grande do Sul. Calcula-se que 5% da área original dos pinheirais esteja preservada. A retirada da madeira, para a produção de móveis e papel de jornal, e a agropecuária são os principais fatores de sua devastação acentuada. Formações complexas Cerrado. Depois da Floresta Amazônica, o Cerrado é a formação vegetal brasileira que mais se espalhou, predominando no

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planalto Central, mas aparecendo também como manchas esparsas em outros pontos do país (Amazônia, região da caatinga do Nordeste, São Paulo e Paraná), recobrindo mais de 20% do território nacional. Predomina em áreas de clima tropical, com duas estações: verão chuvoso e inverno seco. Não é uma formação uniforme, o que permite identificar duas áreas: o cerradão e o cerrado propriamente dito. No cerradão existem mais árvores que arbustos. No cerrado, bastante ralo, aparecem poucos arbustos e árvores baixas, de troncos sinousos e casca espessa, que apresentam galhos retorcidos, com folhas muito duras; entre as árvores e os arbustos, espalha-se uma formação contínua de gramíneas altas. O cerrado espalha-se pelos chapadões e por algumas escarpas acentuadas. Dentre os fatores que explicam a fisionomia do cerrado, além da escassez de água, destacam-se a profundidade do lençol freático e a natureza dos solos, ácidos e com deficiências minerais. A expansão agropecuária, os garimpos, a construção de rodovias e cidades como Brasília e Goiânia, são os principais aspectos provocados pela ação humana, que reduziram esse ecossistema a pequenas manchas distribuídas por alguns estados brasileiros. O cerrado foi declarado "Sítio do Patrimônio Mundial" pela Unesco em 13 de dezembro de 2001. Caatinga: formação vegetal xerófila que aparece no Polígono das Secas. Predominando na região de clima semi-árido do Nordeste, a Caatinga é uma formação vegetal tipicamente xerófita, ou seja, adaptada à escassez de água. É uma vegetação esparsa, que se espalha pelos maciços e tabuleiros, por onde correm rios, em geral intermitentes. Desenvolvendo-se em solos quase rasos e salinos, apresenta-se muito heterogênea: em alguns trechos, predominam árvores esparsamente distribuídas; em outros, arbustos isolados; e em outros, ainda, apenas capões de gramíneas altas. A falta de água impõe múltiplas adaptações aos vegetais na caatinga, que vão desde a perda das folhas na estação mais seca até o aparecimento de longas raízes, em busca de lençois subterrâneos de água. Entre as principais espécies de árvores, estão o juazeiro, o angico, a barriguda, e, entre os arbustos, as cactáceas, como o xiquexique e o mandacaru. Atualmente, a Caatinga vem sendo agredida ao sofrer o impacto da irrigação, drenagem, criação de pastos, latifúndios e da desertificação. Aspecto do Pantanal MatoGrossense, cuja vegetação reúne espécies da floresta, dos campos, do cerrado e até mesmo da caatinga. Ocupando a planície do Pantanal MatoGrossense, o Pantanal é uma formação mista que apresenta espécies vegetais próprias das florestas, dos campos, dos cerrados e até da caatinga. Podem-se identificar nessa formação três áreas diferenciadas: as sempre alagadas, nas quais predominam as gramíneas; as periodicamente alagadas, nas quais se destacam diversos tipos de palmeiras (buritis, paratudos e carandás); e as que não sofrem inundações e são mais densas, aparecendo nelas o quebracho e o angico. Formações campestres Os campos meridionais, conhecidos como formações de campo limpo, ou seja, constituídos predominantemente por gramíneas, aparecem em manchas esparsas, a partir da latitude de 20ºS. Em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina recebem a denominação de campos do planalto; no Rio Grande do Sul, são conhecidos como campos da Campanha ou Campanha Gaúcha; e em Mato Grosso do

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GEOGRAFIA Sul, onde aparecem em trechos esparsos, são chamados de campos de vacaria. No sudoeste do Rio Grande do Sul, os campos meridionais surgem num relevo dominado por colinas suaves e de vertentes pouco acentuadas conhecidas como coxilhas. Os campos sujos apresentam uma emaranhada mistura de gramíneas e arbustos, geralmente decorrente da degradação dos cerrados. Seus limites são bastante indefinidos. Os campos da Hileia, conhecidos como campos da várzea, caracterizam-se por serem inundados na época das cheias. Aparecem no baixo Amazonas e em trechos do estado do Pará, principalmente na parte oeste da ilha de Marajó. Os campos serranos surgem em porções mais elevadas do território nacional, em pontos onde o relevo ultrapassa 1.500 m, como nas serras da Bocaina e do Itatiaia. Menos densos que as outras formações campestres, apresentam algumas espécies vegetais adaptadas à altitude. Formações litorâneas Mangue. Os manguezais ocupam porções mais restritas do litoral, em reentrâncias da costa, onde as águas são pouco movimentadas, como os pântanos litorâneos, os alagadiços e as regiões inundadas pela maré alta. Neles predominam vegetações halófitas (que se adaptam a ambientes salinos), com raízes aéreas e respiratórias, dotadas de pneumatóforos que lhes permitem absorver o oxigênio mesmo em áreas alagadas. Conforme a topografia e a umidade do solo, é possível distinguir o mangue-vermelho, nas partes mais baixas, o mangue-siriúba, onde as inundações são menos frequentes; e o mangue-branco, em solos firmes. No que tange às formações dos litorais arenosos, as praias e as dunas aparecem em vastas extensões de nosso litoral e nelas surgem formações herbáceas e arbustivas. Nas praias, essas formações são pouco densas, mas, nas dunas, são relativamente compactas. Geralmente, entre o litoral arenoso e a serra aparece também o jundu, formação de transição da floresta ao solo salino, ao alcançar o litoral.

1 – Domínio Amazônico 2Domínio da Caatinga 3 – Domínio do Cerrado 4 – Domínio dos Mares de Morros 5 - Domínio das Araucárias 6 – Domínio das Pradarias OBS: Em tons claros estão representadas as faixas de transição. A delimitação dos domínios morfoclimáticos brasileiros – grandes domínios paisagísticos do país – busca expressar essa constante interação entre os elementos da natureza. Ela considera a importância do relevo e do clima na definição das paisagens naturais. As formações vegetais são o elemento-síntese dos domínios, pois alterações pequenas nos outros elementos provocam mudanças bruscas na cobertura vegetal. A delimitação dos domínios morfoclimáticos é resultante de uma abordagem integrada da dinâmica da natureza. Seis grandes domínios paisagísticos foram identificados no Brasil: três deles abrangem áreas originariamente florestadas (AMAZÔNICO, MARES DE MORRO e ARAUCÁRIAS) e os restantes correspondem a áreas com predomínio de espécies vegetais herbáceas e arbustivas (CERRADO, CAATINGA e PRADARIAS).

OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO BRASIL Tomados isoladamente, cada um dos elementos naturais – estrutura geológica, relevo, clima, e vegetação – apresenta características peculiares no que diz respeito a sua gênese e sua dinâmica. Contudo, na natureza eles nunca se apresentam separados, e a dinâmica real de cada um deles depende de todos os outros. O relevo, por exemplo, interfere nos climas direcionando o movimento das massas de ar e fazendo variar as temperaturas com as altitudes. Por outro lado, os climas modificam o relevo. As enxurradas tropicais intensificam o processo erosivo e modelam formas arredondadas, enquanto os climas secos conservam as formas abrutas do relevo. As formações vegetais influenciam o clima. A evaporação e a transpiração das plantas são um dos fatores condicionantes do regime pluviométrico e das temperaturas médias; o desmatamento pode causar alterações climáticas significativas. Os domínios morfoclimáticos brasileiros são uma forma de regionalização do território brasileiro com base nos dados naturais dominantes em cada área. São levados em conta nessa divisão o clima, vegetação, relevo hidrografia.

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