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Metodologia

mações ao longo dos anos, principalmente após ter se “profissionalizado” no século XX. No Brasil, esteve fortemente influenciado pelas correntes europeias até o período da ditadura militar, quando aproximou-se mais do modelo estadunidense.

“A atividade jornalística é comercial e burguesa desde sua origem, em Gutemberg. Entretanto, com o advento do Jornalismo Informativo no Brasil instaurouse o processo de profissionalização da área. O fechamento do mercado de trabalho em jornalismo vinculou o exercício da profissão aos portadores de diploma universitário. A demanda por jornalistas com formação universitária era procedente de uma orientação americana da nova técnica de se fazer jornalismo. Contudo, as universidades brasileiras possuíam uma estrutura européia de ensino. Desta forma, os cursos de formação em Jornalismo foram estruturados em dois eixos de ensino: o técnico e humanístico.” (DIAS, 2012, p. 7)

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Em que momento a hierarquização da prática sobre a teoria vislumbrando uma lógica de mercado define os graus de conflito enfrentados pelo sujeito na sua construção prática como jornalista? Este é um ponto de inevitável convergência das reflexões deste estudo. O que se pretende aqui é observar, dentre outros aspectos, as consequências da dissociação da teoria e da prática na construção dos profissionais que ocupam, hoje, cargos jornalísticos em emissoras de TV, de rádio, da mídia impressa, da mídia online e de assessorias de imprensa. Ao mesmo tempo em que mergulhamos no processo de formação, este livro contribui para refletir sobre os atuais currículos dos cursos de jornalismo e o processo, pelo qual estão passando, de reformulação de suas propostas curriculares.

“O jornalismo não é, e possivelmente nunca será, encarado como uma ciência. (...) Não se faz nenhum tipo de concessão ao admitir que o jornalismo comporta uma dimensão técnica, mas isto não significa ruptura com a teoria. O jornalismo tem tudo a ganhar em contato com um saber comunicacional, tal como este também tira proveito desse contato, na medida mesmo em que alimenta boa parte do material de sua reflexão. Essa relação entre comunicação e jornalismo (e mesmo com as outras habilitações profissionais, já que não se trata de um caso isolado) relança o problema da epistemologia da comunicação, não a nega” (MARTINO, 2009, p. 29)

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A importância deste livro, contudo, transpassa a reflexão acerca da formação jornalística e sobre os componentes curriculares desse processo. O que se almeja é alcançar o debate sobre a própria constituição dos indivíduos enquanto jornalistas, seja a partir de seu conhecimento intelectual, sejam suas experiências, seja a prática cotidiana. A memória e o pensamento de cada um dos entrevistados é um ponto de partida fundamental na elaboração deste livro, que visa conceder um tratamento humanístico ao assunto e fugir das concepções meramente teóricas.

O objetivo de problematizar a construção de identidade por meio da memória está justificado pelo contexto histórico em que denominamos como pós-modernidade. Ao priorizar a cultura como produção de sentido no cotidiano e na prática política nos defrontamos com a irrupção dos movimentos sociais, no contexto de comunicação, que exigem entender a realidade a partir de dois campos de luta. O presente, destituído do futuro como espaço de realização das promessas iluministas, torna-se o período de enfrentar a violência simbólica a partir da produção midiática realizada pelos próprios grupos sobre si mesmos. E o passado, desvalorizado ideologicamente por ultrapassado pelo progresso econômico-tecnológico, se configura como elemento essencial para se contrapor à violência física sofrida pelos sujeitos.

O passado e o presente se configuram como problema conceitual no contexto de hegemonia da comunicação. Por isso, o conceito de memória se funda como mediação para esse período de crise da modernidade ou pós-modernidade. É preciso estabelecer a importância de entender a memória no seu sentido metodológico e teórico. O primeiro aspecto, metodológico, está em entender o seguinte pressuposto: o pesquisador, ao se utilizar da memória, principalmente por meio de relatos obtidos de sujeitos como a identidade jornalista, deve estar consciente de que a profundidade da entrevista está fundamentada em como ele estabelece a relação com o outro. A proximidade conquistada durante o processo comunicativo se difere da ati-

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