Paradoxo do cotidiano II - Gerson de Sousa - PARTE 1

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Gerson de Sousa

As implicações da cultura no processo de construção de identidade do jornalista: memória de formação teórica e experiência profissional no cotidiano de Uberlãndia

Parte 1

PARADOXO DO COTIDIANO II

As implicações da cultura no processo de construção de identidade do jornalista: memória de formação teórica e experiência profissional no cotidiano de Uberlândia

Gerson de Sousa 2022

PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Gerson de Sousa PESQUISA

Brunner Macedo Guimarães (bolsista Fapemig)

Mariana de Almeida Valderramos (bolsista Fapemig)

Bruna Pratalli Tarcitano (colaboradora)

Josielle Ingrid de Moura Soares (colaboradora)

Letícia Pereira de Brito (colaboradora)

Paula Maria Nascimento Teixeira (colaboradora)

Talita Vidal Gonçalves (colaboradora)

TRANSCRIÇÃO E FOTOGRAFIA

Gerson de Sousa

Mariana de Almeida Valderramos (bolsista Fapemig)

Bruna Pratalli Tarcitano (colaboradora)

Talita Vidal Gonçalves (colaboradora)

REDAÇÃO

Gerson de Sousa PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E E-BOOK

Ricardo Ferreira de Carvalho

REVISÃO

Carine de Freitas Berto

Livro produzido como resultado da pesquisa As implicações da cultura no processo de construção de identidade do Jornalista: memória de formação teórica e experiência profissional no cotidiano de Uberlândia.

PRODUÇÃO E REALIZAÇÃO

Curso de Jornalismo – Faculdade de Educação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Financiamento: FAPEMIG

2022

Agradecimentos

Introdução

Justificativa

Metodologia

Capítulo 1 - TV

O desafio de lutar contra o tempo na produção de sentido

Capítulo 2 - TV

A produção de sentido do conhecimento

Capítulo 3 - Rádio

Os incômodos da paixão na prática vivenciada no Jornalismo

Capítulo 4 - Rádio

A subversão da linguagem poética na rotina jornalística

Capítulo 5 - Assessoria

A interrogação do eu provocado na produção de sentido

Capítulo 6 - Assessoria

A narrativa em tempos de consciência histórica

Capítulo 7 - On Line

A tensão da teoria na prática bruta do jornalismo

Capítulo 8 - On Line

Os dilemas da emoção na arte de interpretar a notícia

Capítulo 9 - Impresso

Narrativas da realidade: O gosto pelo Jornalismo

Capítulo 10 - Impresso

A maturidade da liberdade criativa na prática jornalística

Capítulo 11 – Considerações finais

Considerações finais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Índice

Agradecimentos

Aos homens e às mulheres jornalistas que aceitaram o convite de vivenciar a dialética no processo de entrevista, cujo paradoxo está em contribuir para o desvelar de que a vida tem de ser compreendida em sua complexidade na produção de sentido no cotidiano. Os sorrisos, as angústias, o silêncio na pausa para pensar sobre si, entre outros, sinalizam o diálogo possível em que a entrevista ultrapassa o procedimento para se configurar como método. Sendo assim, a compreensão da identidade do jornalista só foi possível por meio do trabalho de construção de memória desses sujeitos: Erivelton Rodrigues, Sandra Satiko Kikuchi, Matheus Malaquias Silva, Mônica Cunha Ferreira, João

Fernandes, Renata Maria de Oliveira Neiva, Igor Custódio Miranda, Palmira Ribeiro da Silva, Fernando Boente, Gleide Correa.

Aos discentes do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia, em especial aos bolsistas Fapemig Brunner Macedo Guimarães e Mariana de Almeida Valderramos; como também aos voluntários Bruna

Pratalli Tarcitano, Josielle Ingrid de Moura Soares, Letícia

Pereira de Brito, Paula Maria Nascimento Teixeira e Talita Vidal Gonçalves, que se empenharam desde a análise bibliográfica, a definição de entrevistados, produção de entrevistas e transcrição.

À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) pelo apoio financeiro concedido para a realização da pesquisa.

À Faculdade de Educação e à Universidade Federal de Uberlândia por possibilitar o espaço, tempo e condições para o desenvolvimento da pesquisa em seu trabalho de campo e edição.

Em especial ao técnico de Planejamento Gráfico Ricardo Ferreira de Carvalho por contribuir com o projeto gráfico e edição do livro.

INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA / METODOLOGIA

Este livro é resultado da pesquisa realizada no período de dois anos e tem por objetivo identificar as implicações da cultura na construção de identidades do jornalista a partir de dois aspectos fundantes: a memória da formação teórica, seja educação formal seja informal, e a experiência vivida na atividade profissional no cotidiano de Uberlândia (MG). A proposta é identificar os conflitos vivenciados por esses profissionais no mercado de trabalho em um momento histórico em que a cultura como política passa a definir o contexto de pós-modernidade. Desse modo, este livro-reportagem é resultado desse processo e entrevistas realizadas na pesquisa e tem como foco analisar a temática para entender as relações e os contrapontos possíveis entre o processo de formação dos recém-profissionais (nos últimos cinco anos) e de profissionais formados há mais de 30 anos (com ênfase em sua formação prática e teórica).

O objetivo geral é registrar as reflexões produzidas pelos entrevistados e estabelecer um sentido que responda as problemáticas de partida da pesquisa, assim como observar o cotidiano como espaço e tempo de produção de sentido, a forma com que os profissionais lidam com os desafios da atividade jornalística, desde suas possíveis dificuldades até seus possíveis êxitos. Esses fatores serão correlacionados ao contexto sóciohistórico que compreende: o processo de formação dos respectivos entrevistados, o panorama da formação jornalística no Brasil a partir da discussão e implantação das novas diretrizes e as tendências observadas nessa área do conhecimento no que se refere ao seu ensino nas universidades.

Sendo assim, a partir das definições da pesquisa este livro tem por objetivos específicos:

Introdução

• Contribuir para a reflexão teórica e profissional sobre as implicações da formação jornalística;

• Analisar a relação que se estabelece de hierarquização do ensino técnico em detrimento ao teórico (ou vice-versa);

• Investigar como as reformas dos currículos definem uma identidade dos cursos de Jornalismo no Brasil;

• Utilizar a memória como proposta teórica-metodológica para a narrativa da micro-história do jornalismo em Uberlândia;

• Produzir um livro-reportagem com narrativa dos sujeitos jornalistas para contribuir com a discussão social.

Justificativa

Aimportância deste livro está definida pelo contexto histórico: vivenciamos um período em que as políticas públicas e a sociedade defendem o incentivo ao ensino técnico, voltado especialmente à capacitação profissional dos estudantes de Jornalismo para que estejam atualizados no mercado de trabalho a partir das inovações das tecnologias. A investigação presente neste livro segue no contraponto teórico do que se vislumbra como pós-modernidade: a cultura enquanto manifestação política exige, de forma intensa desde a década de 60 do século XX, uma mudança de significado e, porque não considerar, uma formação universitária plural e teórica para entender a produção de sentido no cotidiano popular.

Esse embate se estabelece ora impondo o pragmatismo na formação técnica do estudante, ora exigindo do profissional atualizado um arcabouço teórico para o exercício do ser jornalista como responsabilidade social. Este livro se propõe a ser um importante exercício teórico-metodológico para avaliar as consequências trazidas pela priorização ou abdicação deste modelo educacional na construção da identidade do sujeito jornalista e nas tensões durante o exercício profissional cujo propósito é representar o plural.

A área do jornalismo é um tênue campo de confronto entre essas duas frentes. Há quem defenda que o curso deva sair do interior da formação denominada “Comunicação Social” porque se perde em temáticas de outras áreas das quais a generalização só se compromete com a formação prática do jornalista. Há quem defenda o contrário: o aprendizado técnico pode ser feito durante o exercício da redação, mas a base conceitual que remete ao jornalista como intelectual deve ser construído na academia.

Todavia, este debate, muitas vezes, acontece de forma superficial e desconsidera todo o macroambiente do jornalismo.

Para mergulhar neste confronto dialético, cabe questionar: Qual é realmente a realidade enfrentada pelos estudantes formados ao entrarem no mercado de trabalho? Em que momento a universidade ao reduzir a formação acadêmica à atualização tecnológica não compromete a própria construção social de identidade do jornalista enquanto responsabilidade pública? Em que momento a recusa ao outro extremo, de incentivar somente o conceitual, leva o recém-profissional a ser marginalizado pelo discurso do progresso irreversível? Quais são realmente as tensões e conflitos vivenciados pelos jornalistas e inscritos na memória diante dessas duas esferas de valores que passam a ser exigidos no contexto de pós-modernidade? Essas discussões, portanto, não coloca em questão apenas uma nomenclatura, mas uma gama de conceitos, vivências, ideias e teorias.

As discussões sobre a presença de componentes práticos e teóricos nos cursos de jornalismo não são recentes. O ensino de Jornalismo tem passado por transformações ao longo dos anos, principalmente após ter se “profissionalizado” no século XX. No Brasil, esteve fortemente influenciado pelas correntes europeias até o período da ditadura militar, quando aproximou-se mais do modelo estadunidense.

“A atividade jornalística é comercial e burguesa desde sua origem, em Gutemberg. Entretanto, com o advento do Jornalismo

Informativo no Brasil instaurou-se o processo de profissionalização da área. O fechamento do mercado de trabalho em jornalismo vinculou o exercício da profissão aos portadores de diploma universitário. A demanda por jornalistas com formação universitária era procedente de uma orientação americana da nova técnica de se fazer jornalismo. Contudo, as universidades brasileiras possuíam uma estrutura européia de ensino. Desta forma, os cursos de

formação em Jornalismo foram estruturados em dois eixos de ensino: o técnico e humanístico.” (DIAS, 2012, p. 7)

Em que momento a hierarquização da prática sobre a teoria, vislumbrando uma lógica de mercado, define os graus de conflito enfrentados pelo sujeito na sua construção prática como jornalista? Este é um ponto de inevitável convergência das reflexões deste estudo. O que se pretende aqui é observar, dentre outros aspectos, as consequências da dissociação da teoria e da prática na construção dos profissionais que ocupam, hoje, cargos jornalísticos em emissoras de TV, de rádio, da mídia impressa, da mídia online e de assessorias de imprensa. Ao mesmo tempo em que mergulhamos no processo de formação, este livro contribui para refletir sobre os atuais currículos dos cursos de jornalismo e o processo, pelo qual estão passando, de reformulação de suas propostas curriculares.

“O jornalismo não é, e possivelmente nunca será, encarado como uma ciência. (...) Não se faz nenhum tipo de concessão ao admitir que o jornalismo comporta uma dimensão técnica, mas isto não significa ruptura com a teoria. O jornalismo tem tudo a ganhar em contato com um saber comunicacional, tal como este também tira proveito desse contato, na medida mesmo em que alimenta boa parte do material de sua reflexão. Essa relação entre comunicação e jornalismo (e mesmo com as outras habilitações profissionais, já que não se trata de um caso isolado) relança o problema da epistemologia da comunicação, não a nega” (MARTINO, 2009, p. 29)

A importância deste livro, contudo, transpassa a reflexão acerca da formação jornalística e sobre os componentes curriculares desse processo. O que se almeja é alcançar o debate sobre a própria constituição dos indivíduos enquanto jornalistas, seja a partir de seu conhecimento intelectual, seja por meio das suas experiências, seja pela prática cotidiana. A memória e o pensamento de cada um dos entrevistados é um ponto de partida

fundamental na elaboração deste livro, que visa conceder um tratamento humanístico ao assunto e fugir das concepções meramente teóricas.

O objetivo de problematizar a construção de identidade por meio da memória está justificado pelo contexto histórico em que denominamos como pós-modernidade. Ao priorizar a cultura como produção de sentido no cotidiano e na prática política nos defrontamos com a irrupção dos movimentos sociais, no contexto de comunicação, que exigem entender a realidade a partir de dois campos de luta. O presente, destituído do futuro como espaço de realização das promessas iluministas, torna-se o período de enfrentar a violência simbólica a partir da produção midiática realizada pelos próprios grupos sobre si mesmos. E o passado que, desvalorizado ideologicamente por ter sido ultrapassado pelo progresso econômico-tecnológico, configura-se como elemento essencial para se contrapor à violência física sofrida pelos sujeitos.

O passado e o presente se configuram como problema conceitual no contexto de hegemonia da comunicação. Por isso, o conceito de memória se funda como mediação para esse período de crise da modernidade ou pós-modernidade. É preciso estabelecer a importância de entender a memória no seu sentido metodológico e teórico. O primeiro aspecto, metodológico, está em entender o seguinte pressuposto: o pesquisador, ao se utilizar da memória, principalmente por meio de relatos obtidos de sujeitos como a identidade jornalista, deve estar consciente de que a profundidade da entrevista está fundamentada em como ele estabelece a relação com o outro. A proximidade do diálogo conquistada durante o processo comunicativo da entrevista se difere da atitude do comportamento profissional em que a impessoalidade é apresentada com teor de objetividade.

Entretanto, a concretização dessa distância objetiva na prática da entrevista revela o descompromisso do pesquisador em relação aos sujeitos. Descompromisso diante do seguinte problema: como qualificar essa distância diante da recusa em considerar a emoção dos depoimentos na narrativa, o silêncio, a pausa, o choro, a ansiedade, o sorriso, e a confiança depositada pelos entrevistados ao definir o melhor momento para tornar dizível o indizível? A intensidade da relação se dilui na lógica positivista da objetividade. Nesse processo, o sujeito é novamente objetivado e o valor da memória, que deveria ser o contraponto da coisificação sofrida por ele, perde-se em seu próprio reducionismo.

Por isso, é importante precisar que as emoções registradas nas entrevistas com os recém-formados ou com os profissionais com mais de 30 anos de formação não são considerados como acidente de percurso ou estratégia para fechar a imagem em close para “sensibilizar” o público. Ato contrário: o mergulho nas aflições vivenciadas pelos sujeitos deve ser estabelecida como material para pensar o sentido da sociedade e a responsabilidade social do processo de formação do jornalista na sua produção dialógica com a comunidade.

Um conceito fundamental neste livro é o de memória coletiva. Tanto Ecléa BOSI (1994) quanto Michel POLLAK (1992; 1989) utilizam-se da concepção de HALBWACHS (1990) de que a memória da pessoa está ligada à memória do grupo e das relações sociais que construímos. Esse processo modifica a percepção da memória e da realidade devido às diferentes relações sociais. BOSI cita que “lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. [...] A lembrança é uma imagem construída pelas matérias que estão, agora, à nossa disposição” (1994:55).

Assim, a memória deveria ser entendida “como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes.” (POLLAK, 1992: 201), pois é ela que constrói o sentimento de identidade, individual ou coletiva, “na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si” (POLLAK, 1992: 204).

Outro aspecto teórico importante é que a análise dos conceitos de cultura, cotidiano e identidade no contexto de pósmodernidade estão articulados na Teoria dos Estudos Culturais e na produção de quatro autores como referência: Raymond

HOGGART. E como nos narra Agger apud ESCOSTEGUY, há uma concepção de cultura da qual marca a particularidade dos Estudos Culturais: ESCOSTEGUY:

“O grupo do CCCS amplia o conceito e cultura para que sejam incluídos dois temas adicionais. Primeiro: a cultura não é uma entidade monolítica ou homogênea, mas, ao contrário, manifesta-se de maneira diferenciada em qualquer formação social ou época histórica. Segundo: a cultura não significa simplesmente sabedoria recebida ou experiência passiva, mas um grande número de intervenções ativas – expressas mais notavelmente através do discurso e da representação – que podem tanto mudar a história quanto transmitir o passado” (HOHLFELDT, 2001, p. 156)

Metodologia

Anatureza da pesquisa para a produção deste livro pode ser entendida enquanto uma pesquisa aplicada. A proposta é identificar as relações entre a formação prática e teórica do jornalista e a vivência dele no mercado de trabalho, que permitirá a construção de conhecimentos úteis para o avanço das discussões sobre esta temática, sem, contudo, oferecer uma previsão de aplicação prática. No que se refere à abordagem do problema, o estudo se construiu por meio de uma pesquisa quantitativa e qualitativa. A pesquisa quantitativa, que visa tabular as grades curriculares de cursos de jornalismo cursados por profissionais de Uberlândia, é um método que quantifica as informações coletadas mediante técnicas estatísticas.

Neste método também mapeamos o número de jornalistas em atividades nos meios de comunicação em Uberlândia e o tempo de formação. Já o método qualitativo será explorado para o entendimento e aprofundamento nos sujeitos de estudo, desse modo, dos recém-formados e dos que já atuam há mais de 30 anos no mercado de trabalho, por meio de entrevistas em profundidade. A partir dos objetivos deste estudo é possível classificá-lo como uma pesquisa explicativa, já que ele busca proporcionar maior conhecimento e familiaridade com o problema tratado, lançando mão de recursos como o levantamento bibliográfico, sendo por isso considerado como uma pesquisa documental.

Para a produção deste livro foram selecionados dois profissionais em cada um dos meios de comunicação supracitados, sendo que um deles com formação em até cinco anos e o outro superior ao tempo de quinze anos. As entrevistas foram realizadas em profundidade, analisando a base do currículo de formação do profissional, juntamente com as dificuldades

encontradas por ele no campo do jornalismo. A memória do entrevistado se tornou fator imprescindível ao valor da pesquisa para atingir a profundidade exigida pelo estudo, já que as experiências vividas pelos sujeitos são a principal fonte de informações.

Este livro está constituído de dez capítulos, sendo eles divididos em: o primeiro e o segundo sobre os profissionais da televisão, o terceiro e o quarto sobre os profissionais do rádio, o quinto e o sexto sobre os profissionais de assessoria de imprensa, o sétimo e oitavo sobre os profissionais do meio digital (web) e o nono e o décimo sobre os profissionais da televisão.

Capítulo 1 - TV

Erivelton Rodrigues

Entre a docência e concretização da perspectiva de ser jornalista. É nesse estado de conflito que Erivelton Rodrigues narra sua experiência vivida durante a entrevista realizada em uma das salas da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Não se trata de um sonho antigo ou de um testemunho que se refere somente ao passado, pelo contrário: essa dimensão conflitiva se estende para o presente do sujeito, que ora se reveza em certeza sobre o caminho a ser seguido profissionalmente como jornalista, ora é deslocado somente como plano para atuar na área de ensino. O ponto central para entendermos o dito e o não-dito de Erivelton Rodrigues é que as profundezas deste dilema foram tomando corpo no decorrer do próprio processo de entrevista.

Primeiro é necessário entender qual fato ou contexto Erivelton Rodrigues releva da memória coletiva para materializar a definição de realizar o curso de Jornalismo. Era adolescente, estudante de uma escola pública estadual, quando uma tragédia remeteu uma mudança na atitude do cotidiano que conduziu à redefinição de seu futuro profissional:

Há muitos anos assim, tipo, eu era criança, eu pensava em seguir pro lado de docência e tal. Mas, na adolescência, eu já enxergava a possibilidade de cursar Jornalismo. Eu estudava em uma escola pública estadual. Houve uma tragédia e aí, ali com 15, acho que menos um pouco, menos, uns 14, 13 anos, eu escrevi o primeiro texto jornalístico. Era criticando uma falta de uma duplicação na BR 050. Na época morreram 11 pessoas e umas 8 eram do meu colégio. E aí, esse texto, a gente utilizou ele na escola só, num mural, a gente estava indignado com a situação, que a duplicação não saía... e alguém da escola, da direção da escola ali, fez com que esse texto de alguma forma fosse parar no jornal de Uberaba. Eu morava lá. E aí eles publicaram o texto na íntegra, tal, ali eu já vi que era por ali que eu ia seguir, que eu gostava daquilo: dos noticiários, de dar opinião sobre o que estava

O desafio de lutar contra o tempo na produção de sentido

acontecendo, enfim... E aí foi meu primeiro texto. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A publicação do primeiro, na íntegra, no Jornal de Uberaba adicionou ao seu processo de definição na adolescência para uma outra profissão. E ao mesmo tempo trouxe consigo uma justificativa plausível: a luta do jornalista contra a violência e o descaso público com a sociedade, pois o texto que deveria ficar restrito ao jornal mural da escola, como um exercício de cidadania resultante de uma indignação de determinada escola, transferiu-se para um plano maior: o da cidade. Até porque a morte dos colegas de escola e a crítica a demora na duplicação da rodovia deixou de ser um fato de preocupação específica de uma diretora de ensino para se transcender como problema social.

A dimensão profunda da produção de sentido de Erivelton não pode ser medida somente pela divulgação do texto, como se estivéssemos realizando somente análise de conteúdo; na verdade ela toma corpo no sentido produzido no cotidiano ao ponto de seu próprio eu ser levado a um estado de compreensão sobre a realidade. Os noticiários para ele deixaram de ser somente entendidos naquele momento como ato receptivo, para ser articulado no presente como possibilidade de ser sujeito emissor. Mas o que significa essa mudança de concepção teórica? Erivelton Rodrigues materializou a importância de dar opinião sobre o que acontece na realidade. Esse estado de reconhecimento de si como valor para o outro iria conduzi-lo para os dilemas que vivenciaria em tempos curtos.

E assim temos de entender o segundo elemento de análise de Erivelton: ser docente. Trata-se de um sonho que o acompanha desde criança. A frase, embora reconheça o sentido afirmativo do sujeito, deixa ainda um espaço para mergulharmos na experiência vivida do entrevistado e reconhecer a origem concreta desse desejo. A questão primordial nesses dois embates é que esses dois

elementos fizeram parte da sua dimensão aflitiva ao ter de tomar a decisão sobre qual curso realizar na graduação.

A sua narrativa explica que a vinda para Uberlândia, então com 19 anos, o levou primeiro a cursar Filosofia. A justificativa para os dois anos neste curso estava mais na perspectiva de ser docente, mas adicionado agora por outro fator: por ser um curso que estava dentro de suas possibilidades financeiras. Porém, a abertura do curso de Jornalismo na Faculdade Católica de Uberlândia o levou a repensar o caminho. E, nesta redefinição, a memória precisa reformular e refazer as experiências de vida para traçar, na decisão do presente, o sentido do ato de deixar a Filosofia para ingressar no curso de Jornalismo.

Por ironia, ou qualquer outro nome que possamos estabelecer sobre determinados acontecimentos, o fato é que a abertura do curso na mesma faculdade em que estava cursando Filosofia trouxe materializado a perspectiva de realizar outro de seus desejos. E a frase de Erivelton Rodrigues percorre esse florescer do caminho: “ah, não, parece que o curso está vindo na minha direção...” (risos) e batia mais forte o coração pelo curso, aí eu fui e comecei a cursar Jornalismo. Aí formei em 2011, estagiei, aí do estágio eu já fiquei na área... no estágio na TV Paranaíba, ai fiquei lá 4 anos.” (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Os dilemas dos sujeitos e a sua luta para se manter coerente têm outra reconfiguração depois do momento do ato da matrícula. E esse aspecto está subscrito na pergunta da entrevista que busca defrontar qual a perspectiva de realizar o curso de graduação. Poderíamos considerar que há determinado peso na perspectiva sobre o curso na mesma medida em que o sujeito toma a decisão de deixar outros cursos para percorrer o matriculado? Para onde são direcionados àquelas outras potencialidades que interligam os sujeitos em propostas hoje consideradas díspares por ele, neste caso como a Filosofia?

Quando optou por deixar a Filosofia para o Jornalismo, Erivelton Rodrigues não tinha ciência do fato que iria marcá-lo para sempre no futuro: de que seria a única turma formada em Jornalismo da Faculdade Católica. Ele responde que teve se defrontar com a visão romântica do ser jornalista – indício esse que pode ser apalpado, entre outros motivos, para o sentido da justiça aplicada como instrumento de resolver a indignação pública do seu primeiro texto jornalístico, redigido aos 13 anos, pois é preciso sempre se questionar de onde nasce esse sentimento que nos remete a perspectiva, e que possibilita estabelecer sentido à realidade.

Então, eu pensei que ali eu ia receber pelo menos a essência da coisa, de como lidar, de como fazer, umas questões éticas. A gente tem uma visão muito rasa quando né, você só quer fazer, uma visão muito romântica. Eu pensei que a gente ia ter um direcionamento do que podia fazer, de como que ia fazer... em parte, tive, é... mas eu tive um.. no meu caso é uma questão acho que a parte do mercado geral, a gente teve um problema com o nosso curso, na época, na faculdade (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Esse anseio pela profundidade do jornalismo tinha que ser superado em esforço teórico e prático, para ao final do processo, ter elementos para considerar que o curso foi bom. Mais do que isso: de que a decisão da troca do caminho futuro está correta. A imediaticidade da faculdade trouxe consigo o pensamento da ausência de referências para se vestir e atuar no mercado. Assim, será que a crise de ensino-aprendizagem da universidade se reflete no mercado de trabalho? A primeira reflexão crítica de Erivelton Rodrigues esteve no enfrentamento da experiência vivida sobre a crise daquele presente na Faculdade Católica. Não seria exagero aproximar a indignação dos 13 anos, agora transposta para outro espaço, como indicativo para considerar como crítica este ato de entender que a faculdade deve ser tratada com peso maior de ser do que restringi-la para uma funcionalidade da lógica de consumo.

Não sei se reflete o mercado, na verdade, a universidade que tem por aí, mas no nosso caso foi um curso problemático... então tinha uma expectativa e ela não foi atendida, assim, da forma que a gente pensou que fosse. Mas era um problema da faculdade, de investimento no curso, o curso acho que não foi visto da mesma forma que a gente via pela gestão, é, não teve o investimento que a gente esperava, mas o que não impediu que a gente lutasse pra que desse certo e viesse pro mercado depois lutar pelo nosso espaço e tal (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Há uma contradição aqui exposta e que está relevada ou submersa no conceito de investimento. A mera descrição do depoimento de Erivelton considera a diferença de entendimento do valor do jornalismo entre o rumo do curso e o horizonte dos jornalistas em formação. A luta tem início para ser formado e poder estar ciente de que o reconhecimento de ter se constituído como jornalista lhe será um momento de estar preparado para o mercado. Ele reconhece que a faculdade é boa, tem cursos bons, e que o acontecido com a escolha do jornalismo foi pontual. Porém, nada disso alivia o impacto que sofreu quando entrou na redação e descobriu, em outra realidade, que o conhecimento produzido na universidade era insuficiente para esse outro dia a dia.

Eu acho que apesar de tudo, apesar das dificuldades, do sofrimento que foi formar lá, é, tinham alguns professores que faziam valer a pena né? Que traziam conteúdo que valia a pena e que iam somar aqui no mercado depois. É... que a gente guarda umas coisas, alguns conselhos, né, até hoje. Mas faltou muita coisa de prática, por exemplo, é.. e que fez falta. Quando eu cheguei na redação eu falei “nossa, onde que eu tô?” e eu acho até que faz falta mesmo pros que tem um laboratório bacana e que tentam ali, praticar de alguma forma. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A revelação de estar em algum lugar distante do que se efetivou na academia leva, ao primeiro momento, a uma análise do percurso pessoal. Mas, em seguida, é direcionada para um todo, em que a própria teoria é colocada em análise de ser, em sua própria natureza

constitutiva, como insuficiente para que o formando atinja a sua totalidade. Ou, em outras palavras: a faculdade não tem estrutura para deixar o discente pronto para o mercado de trabalho.

Acho que qualquer profissional, você chega no mercado, é outra coisa, assim, é um pouco diferente ou muito diferente, você não vai, ah, chegar e achar que já tá pronto ali... Mas no meu caso, por a gente ter essas dificuldades, ai foi muito difícil, foi um choque muito grande, mas mesmo assim, a gente ainda teve um conteúdo que valeu a pena, pela luta, pela garra de alguns professores que fizeram valer a pena e que a gente carrega até hoje. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A luta de Erivelton inicia em sua formação acadêmica para depois se estender ao mercado tendo sempre, como aliado, a memória coletiva. Quais são os materiais disponíveis para Erivelton no presente e que o remete ao pensar em sua formação, o choque na redação do não estar pronto para o mercado? Certamente é o que parece revelarmos: a resposta dele na entrevista veio com este refazer do passado diante do que se projeta e se aceita como ser jornalista no presente.

A primeira superação no caminho de ser jornalista veio de ordem subjetiva, mais precisamente neste momento em que o sujeito indaga a si mesmo, diante das dificuldades, qual caminho deveria seguir. Pois, ao abandonar o curso de Filosofia, de dois anos concluídos, para o de Jornalismo, Erivelton Rodrigues se depara com a primeira grande crise. A incompatibilidade de investimento da gestão da faculdade no curso de Jornalismo para o investimento subjetivo que o levou a mergulhar em sua nova formação. Será que este fato não o conduziu para alguma indefinição sobre se graduar em Jornalismo?

Entretanto, nem os problemas iniciais, muito menos as questões posteriores levaram o entrevistado a mudar o caminho definido.

Não, já tava bem seguro de que eu queria era isso mesmo. Que de um jeito ou de outro eu ia cursar Jornalismo e que ia me formar em

Jornalismo. Inclusive a reta final, houve uma debandada pra Unitri (Centro Universitário do Triângulo), é... tentei ir pra lá também junto com alguns amigos mas aí já tinha acabado o prazo. A gente acabou ficando ali mesmo e formando ali. A gente é a única turma de Jornalismo da Católica, que formou lá, porque existiam umas três ou quatro turmas, mas elas foram lá pra Unitri e a gente ficou, resistiu e ficou. Aí logo o curso foi rifado lá da grade, não sei o que que fizeram, sei que não abriu mais turmas. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A segurança subjetiva de optar pelo curso de Jornalismo não evita a crítica de denunciar que o curso foi excluído da grade. Qual o sentimento em que mergulha o sujeito quando se depara com a descontinuidade histórica na instituição da qual investe seu tempo de vida? A pergunta parece adequada para entendermos esse fato particular: havia outras turmas, mas que foram transferidas para outra universidade. Do grupo que ficou, em que estava Erivelton Rodrigues, pode ser denominado como ato de resistência, porém, essa historicidade se fragmenta ao ponto de se estilhaçar em uma pequena narrativa, cuja angústia remeteria a desistoricizar o fato e considerá-lo como acidente de percurso à criação do curso de Jornalismo em uma faculdade tradicional.

É provável que este seja o dilema vivenciado por Erivelton durante a sua narrativa, em que a memória de formação teórica e prática na Faculdade Católica parece se confundir com a memória de atuação no mercado de trabalho. Essa identificação é complexa, porque a temporalidade da distância desses dois momentos para o presente da entrevista foi de um curto período de cinco anos. Ao considerarmos essas questões como complexas de se tornarem autônomas em cada período, torna-se sintomático reconhecer os dois fatores importantes que Erivelton recorre para analisar a sua formação teórica.

O primeiro fator importante é a ética. De qual conceito de ética se apresenta na concepção do entrevistado? Erivelton Rodrigues

apresenta como fatores desta discussão de ética a definição e as possibilidades da atuação do jornalista em cada área.

Questão de se ouvir todos os lados, da forma de apurar, até onde que você podia ir pra conseguir uma notícia, as delimitações mesmo. Questão de o entrevistado saber ou não de todo processo ali que você tá fazendo, até onde valia a pena você omitir uma parte de um processo de uma reportagem ali pro entrevistado, se é em nome de um bem maior você podia omitir alguma coisa, ou não. E parte disso a gente vê hoje nesses desdobramentos políticos que tá tendo aí, a gente questiona, por exemplo, questão de gravação de ligação de “ah vaza isso”, “vaza aquilo”, quando que você pode fazer uso desse tipo de ferramenta, por exemplo, sem que outra pessoa saiba ou autorize, enfim, esses detalhes mesmo. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Poderíamos problematizar neste espaço se os detalhes narrados por Erivelton Rodrigues se organizam sob qual conceito de ética: até onde um jornalista poderá ir para que obtenha a notícia? Será plausível que a defesa da notícia se estabeleça como ponto nodal para conseguir o anonimato das suas fontes? O entrevistado tem o direito de saber toda a extensão do que se apura como notícia, já que o ponto de referência para que a responsabilidade de atuação do jornalista seja sempre o bem comum? As perguntas poderiam ser encadeadas de forma natural, mas é importante recontextualizálas neste momento: de que forma essas questões perpassam a produção de sentido do entrevistado ao sabermos que naquele momento ele passava existencialmente por um debate ético?

E novamente, o embate se faz sobre sua formação, mais precisamente, o entrevistado revela uma frustração acadêmica.

Da forma que foi, sim. Eu não me arrependo de ter me formado em Jornalismo, de ter feito esse curso, mas pela forma que foi, sim. E acho que qualquer um que você for perguntar da minha turma, da única turma que formou lá vai dizer isso também. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Há nessa fala um sentimento de frustração que evoca o coletivo e, ao mesmo tempo, ampara uma discussão ética. Essa discussão, materializada como crítica do entrevistado, estende-se para outro horizonte da área quando precisa explicar, pelo cotidiano, os problemas de ética na sociedade.

E parte disso a gente vê hoje nesses desdobramentos políticos que tá tendo aí, a gente questiona, por exemplo, questão de gravação de ligação de “ah vaza isso”, “vaza aquilo”, quando que você pode fazer uso desse tipo de ferramenta, por exemplo, sem que outra pessoa saiba ou autorize, enfim, esses detalhes mesmo. (ENTREVISTA, Erivelton Damião dos Rodrigues, 2016).

Antes de prosseguirmos para o segundo fator, é importante considerar um comentário pequeno, mas que traz toda a simbologia do que representa a memória de formação de Erivelton Rodrigues. No momento em que fazia a afirmativa sobre a Faculdade, ele aponta para a possibilidade de que determinados fatos narrados poderiam ter sido originados em espaços diferentes do qual está atribuindo denominação.

Então isso eu guardo, algumas coisas você guarda, mas é... eu tenho um certo receio de a partir de um certo momento ser... pensando que você tem uma memória que ela te traz quando, na verdade, é algo que você passou a praticar e conhecer, que depois que tá no mercado, disso eu tenho um certo receio. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Esse problema é importante porque estamos diante de dois quadros diferentes que já localizamos na discussão ética. O primeiro é a frustração do sujeito com a instituição por não atribuir o valor merecido ao investimento ao curso. Essa frustração remete a uma produção de sentido de crítica, em que a memória de Erivelton Rodrigues seleciona somente um pequeno grupo de professores que corroboram para o significado profissional dos que se tornaram resistentes.

Por outro lado, a crítica para a marginalização sofrida pelo jornalista, não pode afetar a produção de sentido do sujeito cuja certeza aponta para essa afirmativa profissional. E Erivelton Rodrigues neste embate optou em definir o caminho de reafirmação do seu caminho, cujo sentido esteve revelado quando enfim entrou no mercado de trabalho. A dúvida então do entrevistado se configura dentro deste quadro: será que estou atribuindo valor da experiência de atuar no mercado para a universidade diante dessas respostas? Até onde o refazer da memória, sendo coerente com sua experiência vivida, pode definir e separar os sentidos do significado que traz no presente sobre o que é ser jornalista?

Por meio das respostas podemos identificar o segundo fator importante da memória teórica do entrevistado cujo referente é o textual. Nas duas questões em que a resposta era sobre a memória de formação teórica, o elemento citado pelo entrevistado demarcou a produção de texto como ponto central para se chegar ao conhecimento. O elemento de origem para atribuir importância ao texto, se buscarmos no dito da memória de Erivelton Rodrigues, nasce da publicação do seu primeiro texto que do jornal mural da escola foi publicizado no Jornal da Cidade. Talvez por considerar esse fator como principal característica em que se materializou a perspectiva de ser jornalista, o entrevistado não só o rememora como traz esse aprendizado na faculdade diante da exigência que sofreu no mercado de trabalho.

Logo, a pergunta era: as disciplinas práticas contribuíram para a sua formação como jornalista? Erivelton Rodrigues é enfático:

Pouco. Contribuíram pouco. Porque foram pouquíssimas aulas, pra se ter uma ideia, a gente fez, cada um, cada aluno fez uma matéria, agora quando que você vai pensar que você vai fazer uma matéria, por exemplo, usando aqui como modelo a TV, você vai estar preparado pra fazer centenas, milhares, depois que você for pro mercado. Aí eu te repasso a pergunta: é suficiente? Eu acho que não. Então contribuiu pouco. Fui aprender a fazer e mesmo assim estou num processo de

aprendizado que acho que é contínuo, né? Mas no mercado. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A frase exposta na resposta de Erivelton Rodrigues nos obriga a revisitar suas primeiras declarações quando indagado da perspectiva de cursar jornalismo. Entre outros trechos, consta dele ter pensado que na faculdade iria receber pelo menos a essência da coisa, de como lidar, de como fazer, umas questões éticas. Da ética já tratamos anteriormente. O problema está nesse “como fazer” do ponto de vista prático, que aqui ganhou corpo no texto. E o relato desvela esse sentimento de frustração: fazer somente uma matéria na disciplina de Telejornalismo, justamente para quem está vivenciando a realidade da TV.

É sintomático a pergunta que o entrevistado leva como crítica ao entrevistador: “Aí eu te repasso a pergunta: é suficiente?”. O que significa esse ato de deslocar ao outro o problema da história vivida? Este é o momento em que a entrevista deixa de ser o encadeamento de resposta para se configurar como testemunho. O entrevistador, neste complexo dialético diálogo, passa a ser a escuta da qual irá edificar o sentimento de angústia vivenciado pelo entrevistado para o social. De certa forma, há uma analogia da realidade que se pode arriscar em estabelecer neste momento: no passado, a direção da escola do Ensino Médio passou do jornal mural para o jornal da cidade; no presente, o depoimento sobre as dificuldades de sua formação deverão ser levadas por este entrevistador da limitação da cidade de Uberlândia para o conhecimento nacional.

Foi um semestre de Telejornalismo e no decorrer deste semestre, entre as atividades que existiam ali, a gente elaborou um jornal, e aí dentro desse jornal cada aluno fazia uma reportagem. Pro mercado é pouco, pra você encarar o mercado é pouco. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

O outro sentido do “suficiente” está amparado já pelo problema da experiência vivida do entrevistado no mercado de trabalho. Pois

o numeral singular, uma reportagem da formação teórica-prática, está confrontada com as centenas que teve de fazer para poder atuar no mercado de trabalho. A conclusão desse enfrentamento é que a faculdade não o deixou preparado para atuar no mercado de trabalho. Portanto, o “como fazer”, o aprendizado sobre como construir o texto está sendo realizado somente agora no mercado de trabalho.

Quando precisou encarar o mercado de trabalho, atuando na área de TV, Erivelton Rodrigues se deparou diretamente com outro fator que não havia experenciadona aprendizagem da faculdade: a luta contra o tempo. Podemos qualificar com isso o testemunho de centenas de matérias dentro desta tônica. De uma matéria para o semestre, para várias matérias durante o dia. E assim a questão do texto passou a ser problematizada neste novo horizonte demarcado pela concepção de jornalismo.

A primeira parte do depoimento do entrevistado se refere ao choque ainda da correção de texto no mercado de trabalho:

Então, começa que você chega e aí você percebe que tem tudo pra melhorar com relação ao próprio texto. Embora você tenha considerado que talvez a parte textual tenha sido a melhor que você conseguiu captar lá na sala de aula (risos). Em alguns casos chega lá e você percebe que você precisa melhorar muito seu texto e isso é algo que você vai trabalhando diariamente. Senão, não haveria necessidade de um editor de texto, então todo dia que você chega com um material, o editor vai lá e fala “ó, não acho que você podia ter feito assim, podia ter dito isso, acho que você podia ter sido mais claro aqui, mais direto ali” enfim, texto mais curto, enfim, toda hora te passando esse tipo de orientação, mas isso foi mais na frente quando eu comecei a fazer texto pra TV. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Eis nesse trecho o sentido de estar sendo formado pelo mercado de trabalho. Embora tenha considerado e estabelecido prioridade sobre a questão textual na faculdade, Erivelton Rodrigues se defronta com o seu próprio limite. Esse é o fator contido em sua frase que remete ao perceber que tem tudo para melhorar. A

percepção do entrevistado está diretamente vinculada a outro ato perceptivo: as correções diárias realizada pelo editor de texto. Qual o sentido de manter um funcionário como editor de texto em uma redação de TV? É então pelo retorno do editor que as matérias vão ganhando o sentido de ser publicável. Esse é o aprendizado manifesto de Erivelton Rodrigues sobre o mercado de trabalho.

O problema que se encaminha na experiência vivida de Erivelton Rodrigues é como unir a ética com o aprendizado da produção de texto diante da luta contra o tempo. Talvez seja por isso que ele relate que se trata de seu maior desafio:

Quando eu entrei na produção, o maior desafio foi a questão de lutar contra o tempo. Parece que jornalista luta contra o tempo. Você ali no meio de uma redação, ao vivo e você tendo que... nesse trabalho por exemplo de querer ouvir todos os lados. Então o repórter fez uma matéria X denunciando tal coisa e sai atrás do outro lado e nem sempre esse outro lado te respondia no tempo que você queria e ia sendo aquela batalha, ao mesmo tempo você marcando matérias, falando com todas as fontes que você precisava falar no teu dia a dia, tendo as ideias pra vivos e pra reportagens. Então essa luta pelo tempo já te causa um impacto logo no começo, porque faculdade pode ter ali um certo acesso à prática, mas num tempo muito bem programado. É muito, sabe “ah, não deu hoje a gente faz amanhã”. Lá não meu filho, você tem um jornal pra colocar no ar e você tem que correr. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Ah, essa luta contra o tempo! Uma verdadeira batalha a ser enfrentada todos os dias. O tempo programado da faculdade se esvai, evapora, e o presente demarca um tempo sólido. O hoje, a presentificação do trabalho exige outra compreensão da realidade. Quando, em seu processo de formação, a dificuldade de realizar a matéria na edição do hoje poderia ser deslocado para o amanhã, como na faculdade, era possível dominar o tempo nesta longitude temporal. No entanto, agora, é necessário realizar outro dimensionamento. Há outro problema adicional: Erivelton Rodrigues descobre que não se trata de um movimento restrito ao

subjetivo, ao eu, para dominar o tempo. Porém, há o tempo dos entrevistados; o tempo de resposta das fontes; o tempo das ideias para as pautas; o tempo de entrega da produção para ir ao ar.

E nesse círculo de aprendizado de lutar contra o tempo, é preciso interrogar qual qualificadora se pode apontar para o tempo do público, do telespectador. Será que há um tempo em que se pensa no público em meio a todo esse processo de luta? Eis o novo dilema. Erivelton Rodrigues reformula a concepção de jornalismo diante do tempo e se esvai, dessa maneira, com a visão romântica nascida da adolescência. Em seguida, a pergunta, levada ao entrevistado, é direcionada especificamente para o mercado de trabalho: a imagem que você tinha do mercado de trabalho quando era estudante de graduação alterou depois que você entrou na TV?

A resposta é exteriorizada por dois sentidos. O primeiro de que é necessário percorrer os dilemas de formação e constatar que é possível identificar nas discussões postas pelo entrevistado. Outro questionamento, para quem escreve o jornalista: para sua satisfação pessoal, para a empresa ou para o público? A resposta parece ser materializada na figura do editor de texto. E então uma das perspectivas que conduziu Erivelton Rodrigues ao jornalismo é colocada em debate em seu íntimo ao ponto de identificá-lo com frustração:

Sim, mudou. Eu acho que acontece com a maioria, primeiro sob o aspecto ideológico mesmo, que você entende que você está trabalhando pra alguém, que aquela empresa tem ali, sua ideologia, política ou não. E ali você vai atendê-los em parte. Se achar que não tá bom pra você, que você não consegue, ai você tem que puxar o barco. Então essa ideia romântica você já quebra um pouco na hora que chega no mercado. Você vai fazer jornalismo e acha que nossa eu vou mudar o mundo, fazer não sei o quê, “ah, não sei quê”. Você pode até dentro desses limites que o próprio mercado impõe, você tentar trabalhar pra mudar a vida das pessoas. E aí você não deixa de tudo aquela essência que era tentar mudar alguma coisa ou pelo menos mudar a vida de alguém, né? Mas que você vai ter a liberdade pra isso sempre, você

não vai ter. A cima de você tem muita gente pra decidir o que que vai ou não ao ar e aí, não que isso seja um erro ou um acerto, mas é a realidade e a gente tem que trabalhar com ela. Então houve frustração sim. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A realidade do mercado conduz o recém-formado à frustração ao ter de enfrentar no cotidiano a posição ideológica da empresa. Finda a visão romântica é hora de se perguntar: fazer jornalismo possibilita mudar a vida das pessoas? Erivelton Rodrigues revela que esse sentimento de mudar o mundo vai sendo delimitado até o ponto de conseguir entender que está sob um conflito de determinação hegemônica. O que significa que é preciso considerar que não se é livre para fazer o que quiser no mercado de trabalho. Mas que, por outro lado, não há um determinismo hierárquico que o remeta somente a reproduzir a lógica ideológica da empresa. O mais importante é não perder “a essência” que conduz o jornalismo para mudar as pessoas.

Essa nova realidade, da luta contra o tempo, não alivia em qualquer momento. Entrar em uma redação é instigante porque você desconhece o que irá encontrar no seu dia de trabalho. Essa imprecisão traz também como decorrência esse sentimento de luta diária. E o sujeito nutre em si mesmo um sentimento contraditório: para se firmar profissionalmente, seu mergulho no cotidiano o leva a investir e com isso a gostar do tempo; por outro lado, nesse tempo que se estabelece o prazer não é o mesmo tempo controlado pelo outro. A imprevisibilidade não está somente nos fatos, mas mesmo na enumeração das vitórias que se conseguirá para que o cotidiano não passe a ser transfigurado em rotina.

Às vezes você pensa que é uma coisa mais calma, mais tranquila. E aí você chega naquele ambiente de tensão, que você aprende a gostar com o tempo e a lidar com ele com o tempo, mas você chega naquele ambiente que eu te falei, você lutar contra o tempo é muito difícil e quase sempre a gente perde, né (risos). Então é muito difícil, então mudou muito também sob esse aspecto. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

O riso seguido da confissão, “quase sempre a gente perde”, revela o quadro de memória de tensão e conflito em que o entrevistado dimensiona sua historicidade. A questão agora é interrogar se nesta concepção, em que a empresa muito mais define o texto e o subjetivo quase sempre se perde, será que o jornalista não perde a defesa da causa social enquanto mergulha nesta luta contra o tempo? Para qual público escreve o jornalista? A afirmativa vem com o estado condicional já revelado aqui por Erivelton Rodrigues:

Eu acho que você... que a gente consegue ter uma certa visão de pra quem a gente está escrevendo. Tem uma certa autonomia, de que forma vai escrever pra esse público, mas sabendo que vai passar por alguém que vai avaliar aquilo. Aí a decisão de ir ao ar, daquela forma ou não, é uma outra questão, mas é que a gente tem essa consciência de pra quem a gente está escrevendo. A gente tem e o que a gente quer colocar naquele texto, mesmo que tenha uma direção ou outra ali já pré estabelecido. A questão do tempo influencia nesse resultado final também, apesar da gente ter essa consciência nem sempre a gente consegue fazer exatamente da forma que você gostaria de fazer, com todos os detalhes, de contar aquela história que você queria, por conta do tempo as vezes você não consegue. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A retomada da consciência de que o trabalho jornalístico é dedicado para mudar a realidade do social, mas não se tem essa autonomia. A atuação está definida pela determinação hegemônica. E atrelado ao caráter ideológico da empresa, há o fator tempo. Para que o jornalista consiga vencer é preciso atuar com ética, ouvir todas as partes, produzir um ótimo texto que contribua para a crítica da realidade social dentro do espaço ideológico e ter tempo de experiência vivida suficiente para que consiga atingir a profundidade. Essa é a consciência que demarca o desafio da profissão.

Torna-se importante, diante desta discussão, passar ao questionamento que demarca esse debate: o trabalho do jornalista

pode ser considerado como histórico? Erivelton Rodrigues afirma que sim. O primeiro aspecto é entender quais elementos ele traz como justificativa para responder esse dilema:

Ainda seguindo aquela ideia de que denunciando as coisas, trazendo algumas coisas pra discussão, você consegue mudar muita coisa, trazer coisas novas... seja em qualquer área, na saúde, na política e isso faz parte da história, né? Fica tudo registrado e acho que o jornalista tem um papel importante nisso, e eu vejo esse papel como parte da história. Cada coisinha que você consegue mudar, seja numa discussão micro ali ou macro, faz parte da história gente. O que as pessoas tão vivendo é o que vai ficar. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Esse trazer algumas coisas para discussão está diretamente vinculado ao anseio trazido da adolescência ao ressignificar o sentido da matéria publicada do Jornal Mural e no Jornal da Cidade. No entanto, a complexidade da fala reside da passagem da afirmativa do sujeito jornalista que denuncia para o sentido do “tudo fica registrado”, como se estivéssemos recaindo no tema do suporte tecnológico em vez da pessoa. O questionamento sobre esse dilema segue porque não se trata de responder a pergunta de forma genérica, mas a partir do contexto narrado pelo sujeito entrevistado. E, desse modo, o questionamento se efetiva: e você acha que na velocidade com que são produzidas as informações, como você nos narrou, será que o jornalista quando está produzindo a matéria, tem consciência de que está fazendo história?

Eu acho que nem sempre. Vez ou outra, num assunto mais relevante, talvez, mas essas pautas cotidianas, eu acho que talvez passe batido, você tá preocupado em chegar ali, entregar o produto e pronto.

(Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

É provável que as pautas cotidianas passem batido, ou seja, que se produza jornalismo com ausência da consciência de que se faz história. E, dessa forma sobrevêm o diálogo entrecortado por duas respostas que parecem díspares. A afirmativa anterior de que acredita que o jornalismo é histórico. E depois, que nem sempre

está consciente que se faz história pois está preocupado em entregar o produto e pronto. Todavia, como é possível afirmar que o jornalismo é histórico se o jornalista que produz o jornalismo, não tem consciência de que ele está fazendo história? A história é o registro do tempo ou é o processo de construção textual no momento em que se escreve?

Aí é que tá, é... talvez por essa questão de eu falar de... de não haver é... um... deixa eu ver como que eu vou explicar... das coisas ocorrerem de maneira parcial, em alguns momentos a gente tem consciência de que faz história, em outros não. Às vezes, na correria do dia a dia, em algumas coisas, a gente deixa passar batido, em outras não, a gente tem consciência de que tá fazendo história, por exemplo, num processo eleitoral que chama mais atenção, você sabe que você tá... da responsabilidade sua ali num debate, numa matéria. Assuntos políticos, por exemplo, sempre, por exemplo, chamam atenção nessa parte, nesse tipo de responsabilidade do que que você vai cativar ali, e às vezes alguma outra pautinha cotidiana por conta da correria pode ser que passe batido, e aí como eu disse: pode ser, que passa batido (risos). Então acho que como não tem um 8 e nem um 80, por isso, é possível fazer história dessa forma. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A resposta não estava sendo elaborada para se recair num maniqueísmo, em que a tônica poderia ser materializada “ou oito ou oitenta”, mas sim ia no caminho dialético em que o sujeito entrevistado percorreu até este momento. O problema que se efetiva é entender o que se refere à pauta do cotidiano, que pela correria passa batido em relação às pautas do que se identifica como assuntos políticos. É provável que não se trate de assuntos políticos mas de personalidades políticas, uma vez que é justamente o cotidiano, a cultura como política, que se efetiva como um posicionamento do sujeito diante da realidade. Em vista disso, a finalização deste embate veio com outra resposta inesperada em que o entrevistado conceitua esse problema teórico.

O que edifica a produção jornalística como história seria então o suporte na qual se faz o registro? Seria porque se faz dez anos que

foi publicado que se torna história? Se no momento que se produz, o jornalista não tem consciência de que faz história e realmente para ele foi batido, por que daqui a 10 anos se tornará história? E a resposta veio em tom de mudança conceitual da percepção, que até aquele momento sustentava o discurso de Erivelton Rodrigues para o da experiência vivida.

Mas eu não diria que história é feita só de ato consciente, não, né? É de vivência, não importa se tem consciência ou não daquilo, mas é de vivência... Ainda que fosse sinalizado um problema, mesmo que fosse na imprensa, em determinado período, acho que faz parte da história. É preciso discutir isso entendeu, com tempo, e ver que rumo seguir, né? Também é história, ainda que fosse um problema, a gente constatasse um problema na imprensa como pode ser sugerido, é história. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

A história não é feita somente de ato consciente, é de vivência. A justificativa dele em um primeiro momento se apresenta plausível, pois traz para a produção de sentido outros elementos para além da razão. É assim que Erivelton Rodrigues estabelece a vivência como ponto nodal. O fator primordial em sua experiência é compreender os limites dessa vivência no processo de produção jornalística já relatado pelo entrevistado. E que sinaliza que nem sempre se consegue vencer ao enfrentamento da determinação hegemônica. A resposta traz a tônica novamente a pergunta: se é história, que narrativa histórica estamos contando por meio do jornalismo?

É sintomático que durante o diálogo, o entrevistado tenha citado a crise do jornalismo atual em que o público começa a fazer crítica sobre determinadas coberturas. É provável que esse seja o caminho estratégico para que ele possa sair desta cilada teórica em que se mergulha ora pelo cotidiano, ora pela rotina. Se o jornalismo é produzido para o bem comum, nada melhor do que o público realizar produção de sentido oposicional ao que é produzido na redação, para assim se contrapor às grandes derrotas ideológicas no espaço comunicativo. É claro que será um embate a ser ainda

provocado na realidade do entrevistado e que a Filosofia, cursada em dois anos, possa lhe ajudar como pensamento crítico. Logo, qual o conceito de jornalismo de Erivelton Rodrigues? A resposta é simples em sua complexidade:

O que é jornalismo? Eu não iria muito além do que eu disse sobre a essência não. Acho que é você informar e ir em busca do bem comum, acho que é por aí. Quando você tiver pensando que aquele tipo de informação vai trazer benefícios pros outros e talvez pra você mesmo, acho que tá indo no caminho certo, quando algo te impede de fazer isso, talvez seja o momento de repensar. (Entrevista, Erivelton RODRIGUES, 2016).

Quando determinado obstáculo te impede de fazer o que acredita estar certo é o momento de repensar. As fissuras identificadas no mercado de trabalho estão sendo, aos poucos, coladas. O ponto de referência revela ser ainda aquele texto da adolescência do Ensino Médio. Jornalismo, na essência do conceito do entrevistado, é informar e ir em busca do bem comum. Na fissura do informar, Erivelton Rodrigues deu o primeiro salto para a resolução. No período da entrevista, ele cursava o segundo período da graduação de Letras. A proposta era a de ajustar aquilo que faltou na primeira graduação para que pudesse utilizar no mercado com qualidade. Melhorar o texto, portanto, é um primeiro passo para se posicionar na profissão.

Como as atitudes nem sempre são isoladas, justamente no momento em que busca se qualificar para o jornalismo, a graduação em Letras revigora o sonho de criança de ser docente. O entrevistado procura esclarecer que não há aqui qualquer possibilidade de deixar o jornalismo. No ent, sabemos que por se tratar de história vivida, de experiência, de dialética do cotidiano, a resposta não pode ser desferida como se optasse por “oito ou oitenta”, como havia dito. Os caminhos serão definidos nesta produção de sentido em que o sujeito, no presente, irá problematizar a sua vida. A luta contra o tempo, a ressignificação

das grandes derrotas e das pequenas vitórias serão o peso para que a narrativa de sua história de vida tome outros sentidos. E por sinal, estenda, para além da redação, em outro espaço, agora da faculdade, para que possa utilizar como campo nesta luta. Assim como o tempo na redação, o futuro se apresenta imprevisível para o presente, porém, é no movimento da memória de analisar esse passado que Erivelton Rodrigues vai desvelando os conflitos que se lançará para que o seu conceito de jornalismo se concretize como consonância da sua produção de sentido da realidade vivida.

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Table of Contents

1. Agradecimentos

2. Introdução

3. Justificativa

4. Metodologia

5. Capítulo 1 - TV

1. O desafio de lutar contra o tempo na produção de sentido

6. Capítulo 2 - TV

1. A produção de sentido do conhecimento

7. Capítulo 3 - Rádio

1. Os incômodos da paixão na prática vivenciada no Jornalismo

8. Capítulo 4 - Rádio

1. A subversão da linguagem poética na rotina jornalística

9. Capítulo 5 - Assessoria

1. A interrogação do eu provocado na produção de sentido

10. Capítulo 6 - Assessoria

1. A narrativa em tempos de consciência histórica

11. Capítulo 7 - On Line

1. A tensão da teoria na prática bruta do jornalismo

12. Capítulo 8 - On Line

1. Os dilemas da emoção na arte de interpretar a notícia

13. Capítulo 9 - Impresso

1. Narrativas da realidade: O gosto pelo Jornalismo

14. Capítulo 10 - Impresso

1. A maturidade da liberdade criativa na prática jornalística

15. Capítulo 11 – Considerações finais

1. Considerações finais

16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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