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Uma barreira de cada vez
Um sentimento estranho que não se conseguia nomear. Uma palpitação que paralisava os sentidos e que, por vezes, parecia que ia sufocar. Um medo às vezes incontrolável. É a ansiedade, a doença do século que acomete mais de 18 milhões de brasileiros, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Se no cenário pré-pandemia a aflição já era emergente, com a chegada de uma crise sanitária o enredo ficou mais dramático. Ainda segundo números da OMS, a pandemia da COVID-19 fez aumentar em mais de 25% a quantidade de casos de ansiedade e depressão mundialmente.
Esta é uma estatística que a estudante de Administração pela USP e esportista, Larissa Cristina Domingues, queria contrariar, mas não conseguiu. No fim de 2021, na fase branda da pandemia, ela foi diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Embora entendamos a ansiedade como aquela expectativa que nos faz mexer os pés freneticamente, este transtorno funciona de forma mais intensa e paralisante.
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Em meio a fortes crises, Larissa buscou tratamento especializado. Começou a terapia comportamental cognitiva, em companhia de medicamentos sob orientação psiquiátrica, porém foi difícil aceitar a necessidade dos remédios para se manter em ordem. Então, ela foi em busca de algo, em paralelo ao tratamento, para se sentir acolhida, e encontrou isso no esporte, especificamente no atletismo.
dades esportivas cresceram de 58% em 2018 para 69% em 2020. Os dados ainda revelam que o aumento da prática foi para além da estética, com enfoque na saúde mental e no bem estar. Assim, combinado a tratamentos médicos, o esporte promove melhorias em certos transtornos. Larissa é um dos casos que teve o esporte como um aliado na diminuição da dosagem de seus remédios. Com o retorno das aulas presenciais, os esportes oferecidos pelas atlé- conhecido pela sua hospitalidade e pelo sorriso fácil. Durante a quarentena, ele se manteve fiel aos protocolos de segurança e ao isolamento social, sem nenhum deslize. Este comportamento era motivado pelo medo da perda, uma vez que ele morava com avós e ambos são do grupo de risco. Ele só não esperava ser diagnosticado com fobia social no
Mãos frias e suadas, o coração
Nesse contexto, o psicanalista e educador físico, Samuel Vinicius, aponta que a relação do esporte e saúde mental é uma forma de reabilitação para a gestão de qualidade de vida. “O indivíduo tende a iniciar atividades esportivas como forma de reabilitação. Isso aumenta a disposição e a capacidade de resistir a outras demandas”, avalia.
A torcida como acolhimento
O esporte, por mais abrangente que seja, cria seus nichos internos. Esses, baseados no amor por uma equipe ou indivíduo, são chamados de torcidas, espaços nos quais essas figuras compartilham e se relacionam com outras pessoas que pensam da mesma forma. Tais espaços, muitas vezes são amigáveis e receptivos por aqueles que dividem o amor pelo mesmo esporte.
Em um contexto de caos generalizado, o esporte é uma das principais ações em busca de qualidade de vida. De acordo com a análise feita pela consultoria especializada Sport Track, as ativi- ticas da faculdade também voltaram à ativa, e foi neste contexto que iniciou o que ela chama de terapia fora do consultório.
"A corrida com obstáculos me acolheu em um momento de desordem mental. São processos, no caminho consegui diminuir a dosagem do meu remédio para o TAG, e tenho tido um controle maior em relação às crises. São dias e dias, uma barreira de cada vez, como costumo dizer. Mas é um processo terapêutico fora do consultório que dá resultado quando ambos caminham por um mesmo propósito”, ressalta.
A situação de Larissa não é um caso isolado no pós-pandemia. Gustavo Ferreira, estudante de Ciência do Esporte pela UFSCAR, sempre foi sociável e era te de toques repentinos, esses foram os sintomas que Gustavo sentiu quando saiu de casa pela primeira vez. Ao tentar se inserir novamente em coletivo, teve várias tentativas falhas. Apenas com o retorno das aulas presenciais, o estudante voltou à prática esportiva, aconselhado pela sua psicóloga e familiares. "Eu precisava desse impulso para sugar tudo o que a universidade tinha a me oferecer, e ela me ofereceu o basquete. No começo, eu falava aos meus colegas de time: ‘Abraçar não, hein!’”, conta aos risos.
Atualmente ele segue em tratamento, mas, em vez de quatro sessões de terapia no mês, sua terapeuta reduziu a quantia pela metade para analisar o suporte das atividades físicas.
Ao participar do Agita UFU, a caloura de Direito, Annalise Moura, se sentiu pertencente à Universidade. Quando estava na arquibancada, a discente pôde perceber como o esporte influencia e nutre a comunidade universitária: “Momentos como esse fazem a diferença no final do dia e dão uma sensação de bem estar social e coletivo aos estudantes.”
Ruan Carvalho, estudante de Geografia na UFU e presidente da Atlética Humanas, aponta que o esporte nunca foi só sobre vestir a camisa do time, mas também sobre acolhimento, inclusão e pertencimento. “Desde quando eu entrei na atlética, tive a oportunidade de ver os movimentos que surgem no esporte universitário, seja dentro ou fora de campo, a integração, a união que se forma nas torcidas e grupos de amizade se formando.”