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CIÊNCIA E TECNOLOGIA O câncer não deve ser o
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Cientistas investigam possível tratamento através de molécula de cobre
No dia 13 de janeiro de 2022, o Comunica UFU publicou uma matéria que agitou o dia dos jornalistas. Após a publicação da reportagem sobre a possível cura para o câncer que vinha sendo desenvolvida na Universidade, inúmeras mensagens do público começaram a chegar nos telefones da Divisão de Divulgação Científica. Jader de Oliveira poderia ser um deles, contudo, foi diagnosticado com melanoma em 2008, quando a descoberta da molécula inédita de um complexo de cobre ainda não havia sido idealizada. Por trabalhar no sol há 28 anos como lavador de carros, Jader descobriu que estava com o tipo de câncer de pele mais agressivo.
Ao pensar em pessoas como Jader, Robson de Oliveira Junior — biologista e professor no Instituto de Biotecnologia da UFU — começou a se aprofundar nos estudos sobre o câncer. Na graduação, após presenciar o câncer em sua família, sentiu-se motivado a estudar genética e se especializar em biologia molecular e celular da doença. “Comecei estudando o câncer em duas vertentes. A primeira é entender quais são os mecanismos genéticos que fazem com que uma célula normal se transforme em uma tumoral. A outra é descobrir drogas que podem ser utilizadas para o tratamento.”
É pela segunda vertente que Robson e Pedro Henrique Alves, seu orientando no Programa de Pós-graduação em Genética e Bioquímica, conseguiram, junto de outros colaboradores, criar uma molécula inédita. “Essa pesquisa é um protótipo de um fármaco. É inédita porque ela é sintética, ou seja, construída em laboratório.”
Apesar de terem pensado nessa droga há quatro anos, a pesquisa necessita passar por três etapas. Na primeira, perceberam que a molécula pode contribuir para a menor ocorrência de efeitos colaterais que seria possível devido ao fato de que há cobre no organismo humano, logo, o corpo estaria mais apto a receber o metal.
Para decifrar os mecanismos de ação, eles começaram o processo in vitro e depois seguiram para o in vivo em um modelo experimental de drosophila (espécie de mosca). O orientador explica que testaram em células de camundongo, células humanas isoladas e em organismo vivo na drosophila, e percebe- ram que a droga não é genotóxica e mutagênica (não causa danos à molécula de DNA das células), algo observado nos quimioterápicos. Ele comenta que o efeito também pode ser carcinogênico (com o tempo, o próprio medicamento induz outros tipos de câncer) e esse fármaco parece não ser assim.
Outro ponto importante da pesquisa está relacionado à toxicidade. Atualmente, os medicamentos utilizam uma droga chamada Cisplatina. Apesar de ser efetiva, ainda é um pouco tóxica para o organismo. Por isso, é associada a outro elemento, a fim de reduzir o nível de toxicidade no organismo. O oncologista Rogério Araújo conta que, no início, a Cisplatina era muito nefrotóxica (tóxica sobre os rins), então foi associada a um manitol (diurético) para au-
ROGÉRIO ARAÚJO morais de três tipos de câncer: sarcoma, pele e útero. Dentre eles, o câncer de pele é o mais comum, já o sarcoma está entre os cânceres mais raros, enquanto o de colo de útero tem dois tipos frequentes que estão associados ao HPV, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Seja qual for o tipo, o câncer ainda é um tabu.
Alguns consideram importante falar sobre, como Iêda Teixeira, que foi diagnosticada com câncer de colo de útero. A diarista tenta manter o alto-astral e levar a situação com leveza, após saber que havia 80% de chance de cura. Por mais que Iêda lide com a doença da melhor forma possível, ela não escapa da aflição. “Estou ansiosa. Essa semana ainda não chorei. É uma doença que a gente não espera, mas, eu tenho fé que vai dar tudo certo.”
Assim como Iêda, Jader presenciou essa tensão ao saber que precisaria fazer uma cirurgia. O pai de duas meninas não queria deixá-las abaladas com o diagnóstico e até tentou manter segredo. “No dia anterior à cirurgia, minha filha escutou eu conversando com a minha esposa. Ela ficou chateada e falou: ‘Pai, você me ensinou a vida inteira que a família tem que cuidar um do outro e, quando eu preciso te apoiar, você não me falou’. Na cirurgia chorei muito pensando nisso.” mentar o fluxo de água no rim e os sais de platina não precipitarem no órgão.
Segundo Robson, quando essa toxicidade não é regulada e afeta as células normais, as lesões causadas no DNA e as alterações genéticas que ela induz nas células normais faz com que essas células tornem-se um tumor. “A gente viu que essa droga aparenta não ter essa característica, porque ela vai direto na célula tumoral”, conta o cientista. Nos testes realizados notaram que a molécula age mais efetivamente sobre células tu-
Apesar da doença causar medo, Rogério diz que muitos deles podem ser evitados com hábitos saudáveis. Além da prevenção, pesquisas como essa podem mudar o cenário da ciência, mesmo que o pré-fármaco não chegue ao mercado. Isso porque os estudos servirão de base para outras pesquisas. Caso a molécula não funcione para o câncer, ela será reaproveitada na genética: “Pensamos em testá-la em protozoário, como a Leishmania. Podemos ver se essa droga consegue agir sobre eles”, concluiu Robson.