Sao Francisco do Sul - Muito além da viagem de Gonneville

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Muito além da viagem de Gonneville Bien au-delà du voyage de Gonneville



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Sílvio Coelho dos Santos, Aneliese Nacke e Maria José Reis, ORGANIZADORES 2004 © Sílvio Coelho dos Santos et al. DESIGN, EDIÇÃO REVISÃO

DO PORTUGUÊS

DE IMAGENS E

/ REVISION

DU

PRODUÇÃO GRÁFICA / DESIGN, ÉDITION D´IMAGES

PORTUGAIS: Renato Tapado - REVISÃO CAPTAÇÃO

DE RECURSOS

/ CAPTATION

DO

ET

PRODUCTION GRAPHIQUE: Renato Rizzaro.

FRANCÊS / REVISION

DE RESSOURCES:

DU FRANÇAIS:

Cláudia Borges De Faveri.

Márcio Godoy.

CAPA / COUVERTURE: Ponte móvel no Canal do Linguado construída no início do século XX. Pont levis au Canal do Linguado construit au début du XXème siècle. REPRODUÇÃO / R EPRODUCTION: Sílvio Coelho dos Santos. ACERVO / ARCHIVES: Museu Histórico de São Francisco do Sul. PRIMEIRA

GUARDA

/ GARDE DE FRONT : Vista geral do Sambaqui de Enseada, no final dos anos 1960. Vue générale di Sambaqui de l Enseada à la fin des années 60.

FOTO / PHOTO: Anamaria Beck. ACERVO / ARCHIVES: Museu Universitário UFSC ÚLTIMA

GUARDA

/ GARDE

DE QUEUE:

Instalações portuárias da Bunge junto ao Porto de São Francisco do Sul. Installations portuaires de la Bunge près du port de SFS. ACERVO / ARCHIVES: Bunge Alimentos S.A.

SUMÁRIO/TABLE

DES MATIÈRES: Vista

panorâmica de São Francisco do Sul, de autoria do pintor italiano Bazilio Ferrari, datada de 1911. Vue panoramique de São Francisco do Sul par Bazilio Ferrari, en 1911. ACERVO / ARCHIVES: Museu Histórico de São Francisco do Sul.

CATALOGAÇÃO

S239

NA

FONTE

DA

BIBLIOTECA

DA

UNIVERSIDADE FEDERAL

DE

SANTA CATARINA / RÉFÉRENCE

DE

CATALOGUE

São Francisco do Sul: muito além da viagem de Gonneville - Bien au-delà du voyage de Gonneville / organizadores Sílvio Coelho dos Santos, Aneliese Nacke e Maria José Reis; versão para o francês Rosa Alice Mosimann. - Florianópolis: Ed. da UFSC, 2004. Texto em português e francês. 1. São Francisco do Sul (SC) - Descrições de viagens. I. Santos, Sílvio Coelho dos. II. Nacke, Aneliese. III. Reis, Maria José. IV. Mosimann, Rosa Alice. CDU: 910.4(816.401.08)

U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E S A N TA C ATA R I N A Lúcio José Botelho, R E I TO R Ariovaldo Bolzan, V ICE -R E I TO R EDITORA DA UFSC / MAISON D ÉDITION DE L UFSC Alcides Buss DIRETOR EXECUTIVO / DIRECTEUR EXÉCUTIF CONSELHO EDITORIAL / CONSEIL ÉDITORIAL: Eunice Sueli Nodari P RES I D E N T E / PRÉSIDENT Cornélio Celso de Brasil Camargo João Hernesto Weber Luiz Henrique de Araújo Dutra Nilcéa Lemos Pelandré Regina Carvalho Sérgio Fernando Torres de Freitas CAMPUS UNIVERSITÁRIO, TRINDADE Caixa Postal 476 - 88010-970 - Florianópolis - SC - Brasil - Fones: 55 (48) 331 9408, 331 9605 e 331 9686 Fax 331 9680 - edufsc@editora.ufsc.br - www.editora.ufsc.br


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Universidade Federal de Santa Catarina Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul

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Alcides Buss, diretor da Editora da UFSC; Alain Moreau, São Paulo; Alexandre M. Mazzer, Secretaria de Desenvolvimento Social, Urbano e Meio Ambiente, Florianópolis; Anamaria Beck, UFSC; André Freyslebem, Florianópolis; Ângela Bastos, Diário Catarinense, Florianópolis; Antônio Augusto Arantes Neto, presidente do IPHAN, Brasília, DF; Arnoldo Alexandre da Costa Filho, Secretário Executivo do Instituto Binot Paulmier de Gonneville, São Francisco do Sul; Associação Comunitária Representativa do Distrito do Saí (Ascoredi), São Francisco do Sul; Belarmino de Borba, Vila da Glória, São Francisco do Sul; Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina, Florianópolis; Carlos da Costa Pereira Filho, Joinville; Cátia Weber, Gerusa Rosa Oliva e Ionara Kuntz, bolsistas AT e IC/CNPq, NEPI/UFSC; Clara Amélia Costa Pereira, diretora do Museu Histórico de São Francisco do Sul; Cláudio Schuster, diretor da TV Alesc, Florianópolis; Conny Baumgart, Museu do Mar, São Francisco do Sul; Christina Pinto e Benedito José dos Santos, Assessoria de Comunicação da Transpetro/SC; Dione da Rocha Bandeira, diretora do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville; Dilney Carvalho (Peri), Departamento de Antropologia, Navi/Labics, UFSC; Eliana Bahia, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina; Esther K. Shulze e Maria Cristina Uriarte, Academia Catarinense de Letras, Florianópolis; Fábio Mafra Figueiredo, Assessoria de Comunicação do BRDE, Florianópolis; Francisco Borghoff, Cônsul Honorário da França, Florianópolis; Françoise David, Adjoint à la Culture et au Tourisme, Honfleur, França; Humberto Sena Santos, estagiário do projeto São Francisco do Sul Memória (Univali); Ivan Brandt, delegado da Comarca de São Francisco do Sul; Jali Meirinho, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina; Jandira Pinheiro Jansson, Itararé, SP; Jociara Maria Vidal da Silva Kubins e Cláudia Garcia de Oliveira, Gabinete do Prefeito de São Francisco do Sul; Jorge Luiz Cevinscki, Secretário de Turismo de São Francisco do Sul; José Antônio de S. Thiago, Florianópolis; José Henrique Vilela, UFSC; José Mendonça, Secretário Regional de Joinville; Juarez Machado, Paris, França; Léo Borba e Francisco Pereira, da TV Alesc, Florianópolis; Luiz Augusto Ozório, fotógrafo, São Francisco do Sul; Marcelo Cabral Vaz e Célia Regina Moraes de Souza Faria, IPHAN-SC, Florianópolis; Marcelo Loeb, Buenos Aires, Argentina; Márcio Godoy, Florianópolis; Marco Aurélio Leite e Pedro Agripino Lopez, Diretoria de Geografia e Cartografia de Santa Catarina, Florianópolis; Maria Cristina Alves, Adriana Pereira dos Santos, Francine Cristina Martins e Gerson Machado do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville; Maria Aparecida Correa Guimarães e Mary Lúcia da Maia Cidral, Museu Histórico de São Francisco do Sul; membros do Conselho Editorial e servidores da Editora da UFSC; Michele Antunes, Secretaria de Turismo de São Francisco do Sul; Myrian G. Oliveira, Instituto Carl Hoepcke, Florianópolis; Mônica Silva, fotógrafa, São Francisco do Sul; Oscar Calávia Saez, Departamento de Antropologia, UFSC; Oscar Joarez Kutscher, Secretaria de Educação de São Francisco do Sul; Paulo Maluchi, fotógrafo, São Francisco do Sul; Paulo Márcio Silveira Brunato, Florianópolis; Rui Arsego, fotógrafo, Joinville; Sílvio da Costa Pereira, jornalista, Florianópolis; Sociedade Amigos da Babitonga; Sueli Miranda de Oliveira, Fundação Cultural Ilha de São Francisco do Sul; técnicos e servidores da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária/Fapeu, UFSC; Tereza Fossari e Cristina Castellano, Museu Universitário, UFSC; Vitor Ackerman, presidente da Colônia de Pesca Z-2, São Francisco do Sul; Waldir Fausto Gil, Florianópolis.


Para as diferentes populações que viveram no decorrer dos séculos na encantadora Ilha de São Francisco do Sul e no entorno da Baía da Babitonga, pelos registros que deixaram e outros tantos que estão construindo, a homenagem dos autores.

Pour les différents peuples qui ont vécu au long des siècles dans la ravissante île de São Francisco do Sul et aux alentours de la Baie de la Babitonga, en raison des registres qu ils ont laissés et tant d autres qu ils sont en train d effectuer, l hommage des auteurs.


Apresentação Présentation Uma viagem para além da cristandade Un voyage au-delà de la chrétienté S Í LV I O C O E L H O

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!' Notícia sobre os Carijó Notice sur les Carijó S Í LV I O C O E L H O

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## Uma história bem mais antiga: a ocupação pré-colonial Une histoire bien ancienne: l occupation pré-coloniale MARIA JOSÉ REIS

%# As múltiplas histórias da Ilha e arredores

Les multiples histoires de l île et ses alentours RAQUEL S. T HIAGO


' A intelectualidade francisquense na definição do Estado Republicano em Santa Catarina

L intellectualité de São Francisco dans la définiton de l État Républicain à Santa Catarina C A R L O S H U M B E R T O P. C O R R Ê A

!% Cartões-postais de São Francisco do Sul Cartes postales de São Francisco do Sul S Í LV I O C O E L H O

DOS

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$# O Porto e sua expressão econômica Le port et sa valeur économique H OY Ê D O N U N E S L I N S

&' Passado e futuro: uma cidade e seu patrimônio Passé et futur: une ville et son patrimoine DALMO VIEIRA FILHO

! São Francisco no início do século XXI São Francisco au début du XXIème siècle ANELIESE NACKE



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pequena cidade de São Francisco do Sul, localizada na Ilha homônima, na região norte do Estado de Santa Catarina, originou-se como conseqüência da expansão portuguesa no litoral sul. Entretanto, essa cidade desenvolveu de forma real e, às vezes, imaginária uma relação recorrente com a França. Primeiro, foi a discutida viagem do capitão Binot Paulmier de Gonneville1, há quinhentos anos. Depois, em 1820, o viajante Auguste de Saint-Hilaire iniciou sua viagem pela Província de Santa Catarina exatamente por São Francisco, e a magistral obra resultante dessa visita, originalmente publicada em Paris em 1851, foi traduzida pelo intelectual francisquense Carlos da Costa Pereira2. Na década de 1840, um grupo de franceses, liderado pelo médico homeopata Benoit Jules Mure e inspirado nas idéias de Charles Fourier, iniciou a implantação de uma comunidade socialista na Ponta do Saí, onde hoje se localiza a Vila da Glória, no lado continental do município. Ainda no século XIX, a doutrina de Allan Kardec, nascido em Lyon (França), teve a adesão de


um pequeno grupo de intelectuais e de líderes comunitários de São Francisco. Com forte oposição da Igreja Católica, foi fundado na cidade, em 1895, o Centro Espírita Caridade de Jesus . Neste início do século XXI, a empresa Vega do Sul, integrante do grupo francês Usinor, começou a operar, na Ilha, sua fábrica de laminados de aço a frio. Paralelamente, nesses cinco séculos de relações ora ocasionais, ora sistemáticas, navios mercantes franceses e suas tripulações estiveram presentes no Porto da cidade; produtos regionais e industriais de cidades próximas foram e são comercializados com a França; a cidade de São Francisco do Sul tornou-se cidade-irmã de Honfleur, na Normandia, de onde partiu o capitão de Gonneville, facilitando o intercâmbio de administradores públicos e empresários locais com seus colegas franceses; e, finalmente, no cenário das comemorações pelos quinhentos anos da viagem de Gonneville ao que é hoje o litoral sul do Brasil, uma intensa programação foi formulada incentivando o intercâmbio cultural entre a cidade e a França. Essa recorrência de presença e de intercâmbio, originalmente circunstancial, outras vezes planejada, hoje tem decisiva importância para a cidade, pois seus administradores têm expectativas crescentes sobre os potenciais benefícios culturais e econômicos dessa relação com a França. Por outra parte, a população do município tem carências sociais e econômicas bem conhecidas. As comemorações dos 500 anos da viagem do capitão de Gonneville, em especial aquelas

Representação do velho Porto de Honfleur, no século XVII. Représentation du vieux port de Honfleur au XVIIème siècle. P ÁGINA

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PRÉCÉDENTE :

Imaginando a arribação do L Espoir. Estudo em aquarela de Conny Baumgart. Imaginant l arrivée de l Espoir. Étude em aquarelle de Conny Baumgart. / P AGE D À

CÔTÉ :

Detalhe do marco criado por Juarez Machado em homenagem aos 500 anos da viagem de Gonneville. São Francisco do Sul, 2004. Détail de la marque historique créé par Juarez Machado em hommage aux 500 ans du voyage de Gonneville. São Francisco do Sul, 2004.


relativas à recuperação arquitetônica do centro da cidade, cujos prédios têm predominância do estilo colonial português, e o incremento das atividades relacionadas ao turismo criaram esperanças de um futuro mais promissor para largas parcelas de diferentes camadas sociais. Este livro-álbum pretende contribuir para a melhor compreensão tanto do passado, como do presente da terra e da gente do município de São Francisco do Sul. Trata-se de uma memória construída sob uma perspectiva interdisciplinar, devidamente enriquecida com uma vasta documentação iconográfica, dedicada, em um primeiro momento, a um passado muito mais longo do que em geral temos conhecimento. Nesse sentido, tomando como referência inicial a extraordinária viagem do capitão de Gonneville, damos especial atenção tanto aos nativos que receberam a tripulação do L Espoir, como aos grupos humanos que os antecederam na ocupação da Ilha e do litoral fronteiro. Assim, fica claro que temos referências de ocupação humana que remontam a cinco mil anos atrás, testemunhada pela existência de um número expressivo de sítios arqueológicos, em particular os sambaquis. Constata-se, através dessas referências, que a ocupação colonial de origem européia é relativamente recente. Constata-se, também, que a Ilha de São Francisco do Sul e seu entorno já no passado distante foram eleitos como um nicho ecológico muito favorável para a ocupação humana, em particular pela abundância de recursos protéicos.

Com a chegada dos europeus, a Baía da Babitonga foi logo reconhecida pelas condições excepcionais para abrigar as embarcações a vela que necessitavam de reparos, descanso das tripulações e reabastecimento. Logo, navios espanhóis, portugueses e de outras nacionalidades começaram a ter a Ilha de São Francisco como uma referência nas cartas náuticas. O Porto tornou-se a razão de ser do povoamento europeu que aos poucos foi surgindo, simultâneo à aniquilação dos nativos. Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco Xavier do Sul, como em certo momento foi conhecida a vila, se consolidou como uma extensão da conquista portuguesa, que tinha como epicentro a cidadela de São Vicente, no litoral de São Paulo. São Francisco antecedeu Laguna e Nossa Senhora do Desterro, outros baluartes construídos pelos portugueses para

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assegurar seu domínio sobre as terras que os espanhóis também pretendiam. São Francisco, dessa forma, se afirmou como cidadela referência para a construção do atual Estado de Santa Catarina. No século XIX, São Francisco do Sul foi porta de entrada para inúmeras famílias de imigrantes, que tinham como destino Joinville, Jaraguá do Sul, São Bento e outras colônias. Ao mesmo tempo, tornou-se o escoadouro natural da produção agrícola e, depois, industrial que começava a se desenvolver na região norte da Província de Santa Catarina. Com a chegada da estrada de ferro nos primeiros anos do século XX, a importância do Porto aumentou pela integração com a malha ferroviária nacional. Depois, foi a vez da integração rodoviária. Nas últimas décadas do século passado, o processo de globalização da economia e o crescimento das exportações determinaram a modernização do Porto, obrigando contínuas ações públicas e privadas para garantir a sua operacionalização e seu crescimento. Porto e cidade se confundiram, exigindo novas definições com o objetivo de evitar o comprometimento do centro histórico e a qualidade de vida dos moradores, devido à ocupação inadequada dos poucos espaços disponíveis para armazenamento e circulação de trens e caminhões, responsáveis pelo transporte terrestre do crescente volume de cargas. A população nativa que recebeu Gonneville e seus companheiros foi vítima do extermínio e da escravidão logo no primeiro século da dominação européia. Com o surgimento da vila, tornou-se "

comum a aquisição, pelos portugueses e paulistas, de escravos negros para o trabalho nos empreendimentos agrícolas e nos serviços domésticos. Aos poucos, o número de pessoas de origem européia foi se ampliando, e gente de outras origens também se estabeleceu na atraente Ilha, contribuindo para a formação do atual mosaico étnico que caracteriza a sua população. A afirmação da cidade no cenário político, cultural e econômico do Estado e do País se deu a partir de meados do século XIX, com o incremento da colonização européia. A pequena cidade serviu de referência inicial para muitos imigrantes, que sobre ela quase sempre se manifestaram positivamente. Com a invenção da fotografia e do cartão-postal, São Francisco passou a ter suas imagens circulando pelo mundo. No decorrer do tempo, a cidade vivenciou também reveses, em particular na área econômica. Todavia, em alguns momentos, tornou-se compulsiva a emigração de parte de sua população, especialmente dos jovens, em busca de trabalho. Assim, as festas tradicionais e outras que foram criadas mais recentemente passaram a ser motivo para viagens de volta , garantindo o reencontro de muitos migrantes com suas raízes. Raízes que este livro-álbum objetiva reafirmar. Cabe, finalmente, registrar que esta obra foi realizada graças ao apoio recebido de várias pessoas e instituições. Ressaltamos, primeiro, o interesse manifesto pelo exReitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, que, por ser originário de São Francisco


do Sul e defensor da relevância dos compromissos sociais da universidade, compreendeu a importância do projeto que lhe apresentamos. Tal postura teve continuidade com o atual Reitor, Prof. Lúcio José Botelho, a quem também agradecemos. Em segundo lugar, destacamos o papel da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu), órgão da UFSC, que viabilizou nossa proposta, administrando os recursos financeiros captados. Agradecemos também as manifestações de apoio recebidas do Prefeito Municipal de São Francisco do Sul, Odilon Ferreira de Oliveira, do VicePrefeito, Arnaldo S. Thiago, e da diretoria do Instituto Binot Paulmier de Gonneville, representada pelo empresário Nelson Gatz. Registramos ainda a colaboração de Sérgio Roberto Waldrich, Presidente, e de Herculano Domício Martins, da área de Relações Institucionais, da Bunge Alimentos S.A.; e do ex-Governador e exSenador Cacildo Maldaner, e do Dr. Geovah

Amarante, respectivamente Presidente e Diretor Financeiro do Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE), pelos patrocínios concedidos através dos incentivos da Lei Rouanet. Finalmente, ressaltamos que em páginas à parte relacionamos os nomes dos autores e colaboradores, e das pessoas e instituições que contribuíram mais diretamente com o fornecimento de dados, informações e documentos para a preparação dos textos, seleção de fotos e produção final desta obra, destacando aqui nossa gratidão pela cooperação oferecida.

Ilha de Santa Catarina, junho de 2004. S Í LV I O C O E L H O D O S S A N T O S , ANELIESE N ACKE E M ARIA J OSÉ R EIS O

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1 O nome correto do capitão era Binot Paulmier. Por viver na Vila de Gonneville-surHonfleur, ficou conhecido como capitão de Gonneville. 2 A publicação original tem o título Voyage dans les provinces de Saint-Paul et de Sainte-Catherine. A tradução feita por Carlos da Costa Pereira, focalizando apenas a parte referente a Santa Catarina, foi publicada com o título Viagem à Província de Santa Catarina 1820, pela Cia. Editora Nacional, São Paulo, em 1936.

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a petite ville de São Francisco do Sul, située sur l île du même nom dans la région nord de l État de Santa Catarina a son origine liée à l expansion portugaise du littoral sud. Cette ville a réellement développé, des fois de façon imaginaire, des rapports récurrents avec la France. D abord, ce fut le débattu voyage de Binot Paulmier de Gonneville1, il y a 500 ans. Après, en 1820, le voyageur Auguste de SaintHilaire a commencé son voyage à travers la province de Santa Catarina, exactement à São Francisco do Sul. Le magistral ouvrage qui en a résulté, publié d abord à Paris en 1851, a été traduit par l intellectuel de la ville de São Francisco, Carlos da Costa Pereira2. Dans les années 40 du XIXème siècle, un groupe de français, lidéré par le médecin homéopathe Benoit Jules Mure et inspiré par les idées de Charles Fourier, a commencé à implanter une communauté socialiste à la Ponta do Saí où se trouve, aujourd hui, la Vila da Glória, du coté continental du município. Toujours au XIXème siècle, la doctrine d Allan Kardec, né à Lyon (France) obtint l adhésion


d un petit groupe d intellectuels et de leaders communautaires de São Francisco. Avec forte opposition de l Église Catholique, le centre spiritualiste «Caridade de Jesus» a été fondé dans la ville. Dans ce début du XXIème siècle, l entreprise Vega do Sul, du groupe français Usinor, a commencé à opérer, dans l île, sa fabrique de laminés d acier à froid. Parallèlement, pendant ces cinq siècles de relations tantôt occasionnelles, tantôt systématiques, des navires marchands français et leurs tripulations ont été présents au port de la ville; des produits régionaux et industriels des villes proches ont été commercialisés avec la France; la ville de São Francisco do Sul a été jumelée à la ville de Honfleur, en Normandie, d où est parti le capitaine de Gonneville, facilitant l échange entre administrateurs publics et entrepreneurs des deux villes et, finalement, dans le cadre des commémorations des 500 ans du voyage de Gonneville à l endroit qui est, de nos jours, le littoral sud-brésilien, une intense programmation a été prévue, encourageant l échange culturel entre cette ville et la France. Cette récurrence de présence et d échange, circonstancielle à ses débuts, des fois planifiée, a, actuellement, une importance décisive pour la ville, puisque ses administrateurs vivent dans l expectative croissante des potentiels bénéfices culturels et économiques de ces rapports avec la France. D autre part, la population du município a des manques sociaux et économiques bien connus.

Les commémorations des 500 ans du voyage du capitaine de Gonneville, en particulier celles qui ont rapport à la récupération architectonique du centre-ville, dont les bâtiments ont, dans la plupart, le style colonial portugais, et le développement des activités concernant le tourisme ont alimenté l espoir d un futur prometteur dans de larges parcelles des différentes couches sociales. Ce livre-album a l intention de contribuer à une meilleure compréhension du passé comme du présent de la terre et du peuple du município de São Francisco do Sul. Il s agit d un mémoire construit dans une perspective interdisciplinaire, dûment enrichi d une vaste documentation iconographique, dédié, dans un premier moment, à un passé bien plus long que celui dont on a connaissance. En ce sens, ayant comme référence initiale l extraordinaire voyage du capitaine de Gonneville, nous nous occupons, de façon spéciale, aussi bien des natifs qui ont reçu la tripulation de L Espoir que des groupes humains qui les ont précédés dans l occupation de l île et du littoral d en face. Nous avons des signes de présence humaine qui remontent à cinq mille années, attestée par l existence d un nombre significatif de sites archéologiques, en particulier les sambaquis3. On constate, moyennant ces références, que l occupation coloniale d origine européenne est relativement récente. On constate, également, que l île de São Francisco do Sul et alentours ont été élus déjà dans un passé lointain- une niche écologique très appropriée à l occupation humaine, en raison de l abondance, en particulier, de ressources protéiques. %


Avec l arrivée des européens, la Baie de la Babitonga a été tout de suite reconnue comme ayant des conditions exceptionnelles pour l abri des embarcations à voile qui avaient besoin de réparation, le repos des tripulations et l approvisionnement. Bientôt, des navires espagnols, portugais et d autres nationalités commençaient à disposer des références de l île de São Francisco sur les cartes nautiques. Le port est devenu la raison d être du peuplement européen qui surgissait peu à peu, en même temps qu ils annihilaient les natifs. Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco Xavier do Sul, nom sous lequel le village a été connu à un certain moment, s est consolidé comme extension de la conquête portugaise qui avait comme épicentre la citadelle de São Vicente, sur la côte de São Paulo. São Francisco a précédé Laguna et Nossa Senhora do Desterro, d autres places fortes construites par les portugais pour assurer leur domination sur les terres que les espagnols prétendaient également. São Francisco, ainsi, s est firmée comme référentiel pour la construction de l actuel État de Santa Catarina. Au XIXème siècle, São Francisco a été la porte d entrée de nombreuses familles d immigrants dont le destin était Joinville, Jaraguá do Sul, São Bento et d autres colonies. En même temps, le port est devenu le point d écoulement naturel de la production agricole et, ensuite, industrielle, avec le développement de la région nord de la province de Santa Catarina. Avec l avènement du chemin de fer aux premières années du XXème siècle, le port a pris de l importance en raison de son intégration avec le réseau ferroviaire national. Après, ce fut le tour de l intégration routière. Aux dernières &

décennies du siècle dernier, le procès de globalisation de l économie et la croissance des exportations ont déterminé la modernisation du port, obligeant l État et l initiative privée à plusieurs actions qui lui garantissaient de rester opérationnel et d assurer sa croissance. Le port et la ville se sont confondus, exigeant de nouvelles définitions dans le but d éviter de compromettre le centre historique et la qualité de vie des habitants, à la suite de l occupation inadéquate des rares espaces disponibles pour le magasinage et la circulation de trains et camions, responsables du transport terrestre du volume croissant des cargaisons. La population indigène qui a reçu Gonneville et ses compagnons a été victime de l extermination et de l esclavage dès le premier siècle de domination européenne. Avec le surgissement du village, il est devenu banale l acquisition, par les portugais et «paulistas», d esclaves noirs pour les travaux agricoles et domestiques. Peu à peu, le nombre de personnes d origine européenne s est agrandi, et des gens d autres origines se sont aussi établis dans l alléchante île, contribuant, ainsi, pour la formation de l actuel mosaïque ethnique qui caractérise sa population. La ville s est affirmée dans les scènes politique, culturelle et économique de l État et du pays à partir de la moitié du XIXème siècle, avec l accroissement de la colonisation européenne. Elle a servi de référence première pour grand nombre d immigrants, qui ont eu avec elle, presque toujours, des rapports positifs. Avec l invention de la photographie et de la carte postale, les images de São Francisco ont commencé à circuler dans le monde. Avec le temps, la ville a vécu, aussi, des contretemps, surtout dans le domaine économique.


À certains moments,cependant, l émigration d une partie de sa population, surtout des jeunes qui cherchaient du travail, est devenue compulsive. Ainsi, les fêtes traditionnelles, et d autres qui ont été créées plus récemment, sont devenues les raisons des «voyages de retour», garantissant la rencontre de beaucoup de migrants avec leurs racines. Des racines que ce livre-album a pour objectif de réafirmer. Il faut, finalement, mentionner que cette oeuvre a été possible grâce à l aide reçue de plusieurs personnes et institutions. Nous mettons en valeur, en premier abord, l intérêt manifeste de l ex-Président de l Université Fédérale de Santa Catarina (UFSC) Rodolfo Pinto da Luz qui, originaire de São Francisco do Sul et défenseur des compromis sociaux de l université, a compris l importance du projet que nous lui avons soumis. Ce compromis a été pris en main par l actuel Président, Prof. Lúcio José Botelho, que nous remercions également. Ensuite, nous soulignons le rôle de la Fundação de Amparo à Pesquisa Universitária (Fapeu), organe de l UFSC qui a garanti la viabilité de notre proposition, en administrant les resources financières. Nous remercions également les manifestations favorables du Maire de São Francisco do Sul, Odilon Ferreira de Oliveira, du Sous-Maire,

Arnaldo S.Thiago, et de l Institut Binot Paulmier de Gonneville en la personne de Nelson Gatz, entrepreneur. Nous registrons, encore, la collaboration de Sérgio Roberto Waldrich, Président, et de Herculano Domício Martins, du domaine des Relations Institutionnelles de la Bunge Alimentos S.A.; et de l ex-Gouverneur et ex-Sénateur Casildo Maldaner, et du Dr. Geovah Amarante, Président et Directeur Financier do Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE) respectivement, en raison de l appui accordé sous forme de patronage accordé avec l aiguillon de la loi Rouanet. Enfin, nous mentionnerons, dans une page à part, les noms des auteurs, collaborateurs et des personnes et institutions qui ont contribué, plus directement, en fournissant des données, informations et documents pour la préparation des textes, sélection des photos et production finale de cet ouvrage, exprimant, ici, notre gratitude pour l aide offerte.

1 Le vrai nom du capitaine était Binot Paulmier. Parce qu il vivait au village de Gonneville-sur-Honfleur, il est connu comme capitaine de Gonneville. 2 L original a pour titre Voyage dans les provinces de Saint-Paul et de Sainte Catherine. La traduction de Carlos da Costa Pereira, concernant seulement la partie consacrée à Santa Catarina, a été publiée sous le titre de Viagem à Província de Santa Catarina-1820 par la Cia Editora Nacional, São Paulo, en 1936.

3 Les sambaquis sont constitués des restes de groupes pré-historiques qui, localisés temporairement sur le littoral, construisirent des sites archéologiques avec les restes de leurs repas, constitués surtout de mollusques. (Il se trouve que) les coquilles de ces animaux représentent le substrat principal des sites de ce type. Beck, thèse de Doctorat (non publiée, texte reproduit avec l aimable autorisation de l auteur.). Traduit en français par A. Prous in PIAZZA. W et A. PROUS, Documents pour la préhistoire du Brésil méridional, 2. État de Santa Catarina, Cahiers d archéologie d Amérique du Sud, Paris, École des hautes études en sciences sociales, Paris, 1977. (Note du traducteur).

Île de Santa Catarina, juin 2004. S Í LV I O C O E L H O D O S S A N T O S , ANELIESE N ACKE E M ARIA J OSÉ R EIS O

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Uma viagem para além da cristandade S Í LV I O C O E L H O

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Ilustração a bico-de-pena de Carlos da Costa Pereira Filho do navio L Espoir. Illustration du bateau L Espoir à la plume de Carlos da Costa Pereira Filho. CÔTÉ :

Detalhe da Carta Marina Nuova Tavola (1561), conforme O tesouro dos mapas. A cartografia na formação do Brasil. São Paulo: Instituto Cultural Banco Santos, 2002. Détail de la Carta Marina Nuova Tavola (1561) d après O tesouro dos mapas. A cartografia na formação do Brasil. SP: Instituto Cultural Banco Santos, 2002. SUIVANTE :

L Espoir em águas da Babitonga. Alegoria em aquarela de Conny Baumgart. L Espoir dans les eaux de la Babitonga. Allégorie, em aquarelle, de Conny Baumgart.

as últimas décadas do século XV, Lisboa tornou-se um centro de referência na Europa. Navegadores, cartógrafos, agentes de casas bancárias, aventureiros e comerciantes se confundiam nas ruas apertadas da cidade. As notícias sobre os avanços dos portugueses na costa da África circulavam céleres e criavam expectativas no imaginário popular. O projeto dos Reis de Portugal de abrir uma rota marítima para as Índias, contornando a África, tornou-se realidade com a viagem de Vasco da Gama (1498). Dois anos depois, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegava à costa ocidental do Atlântico, ou seja, ao Brasil, daí seguindo para as Índias. O império português se expandiu rapidamente nas décadas seguintes, tendo como foco o comércio de especiarias com as Índias, e depois com o Brasil. Os avanços da tecnologia náutica fundamentaram as conquistas dos portugueses. A Escola de Sagres, liderada por Dom Henrique, treinou navegantes, reuniu cartógrafos, armazenou informações e definiu estratégias para estabelecer pontos de apoio ao longo da costa da África e nas


ilhas do Atlântico, especialmente dos Açores, da Madeira e do Cabo Verde. A invenção da caravela e os sucessivos aperfeiçoamentos nos instrumentos náuticos de orientação dos navegadores, como o sextante, a bússola e as cartas de marear , além da persistência, garantiram o sucesso desse projeto de expansão marítima. Os Reis de Portugal, motivados pelas possibilidades de crescimento do império e da fé católica, mas também atentos para resultados econômicos concretos, viabilizaram política e financeiramente diversas expedições. As Índias e suas especiarias, tendo como referências as histórias narradas por Marco Polo e outros viajantes, além das riquezas acumuladas por Veneza e Gênova (Itália), despertavam múltiplos interesses. O Tratado de Tordesilhas (1494), firmado entre Portugal e a Espanha, tendo a intervenção direta do Papa Alexandre VI, dividindo as terras descobertas e por descobrir entre os dois reinos, demonstra o poderio alcançado por Portugal. Os saberes acumulados pelos árabes e judeus, em particular sobre Matemática, Geografia, Astronomia e línguas, indiscutivelmente, contribuíram para o sucesso dos portugueses. Há muito, Lisboa era uma cidade cosmopolita e aberta para inovações, abrigando muitos especialistas, e não poucos aventureiros, originários de diferentes países da Europa. As frotas marítimas e o comércio de especiarias se expandiram rapidamente. A difusão da caravela e o surgimento de barcos com maior capacidade de carga, as naus, facilitaram tanto as expedições em direção às Índias, como a exploração das terras da América. No litoral atlântico da França, seguindo velha tradição de domínio dos mares, comerciantes e navegadores de Honfleur, Dieppe e Rouen estabeleceram relações estreitas com Portugal. As idas de embarcações dessas cidades para Lisboa eram freqüentes, visando ao abastecimento dos mercados do norte da Europa com os novos produtos


originários de terras distantes. Em troca, os franceses levavam para Portugal as especialidades fabris da Normandia, especialmente tecidos, louças, e armas de fogo e de aço. Navegadores e comerciantes desses países falavam rotineiramente sobre suas aventuras e seus interesses sobre as novas terras e rotas comerciais, que estavam sendo alcançadas por Portugal e pela Espanha. Havia uma atração por esses territórios desconhecidos e exóticos, especialmente sobre as suas possibilidades de negócios e de aventuras. O pretenso direito de Portugal e da Espanha sobre as terras descobertas certamente não era compartilhado por outras casas reinantes na Europa, muito menos por comerciantes e aventureiros. Foi nesse contexto que um pequeno grupo de comerciantes de Honfleur, liderado por Binot Paulmier de Gonneville, resolveu adquirir e equipar um navio para realizar uma viagem comercial às Índias, seguindo a rota aberta por Portugal. Para tanto, entre outras providências, os franceses contrataram em Lisboa dois experientes navegadores portugueses, Bastião Moura e Diogo de Couto, para assessorá-los na arrojada expedição. Concretamente, objetivava-se quebrar o monopólio português sobre a rota estabelecida por Vasco da Gama, razão do sigilo que cercou os preparativos da viagem e seu destino. A expedição que se vislumbrava, entretanto, não despertou o interesse apenas de comerciantes e marinheiros. Voluntários, motivados pela aventura, também se candidataram. Entre esses, Nicole Lefebvre, considerado pessoa de saber , que foi aceito com o compromisso de fazer os registros sobre as curiosidades das terras que iriam ser visitadas. No dia 24 de junho de 1503, sob o comando do capitão de Gonneville, o navio L Espoir partiu de Honfleur tendo 60 homens a bordo. Os navegantes seguiram na direção sul, passando pelas Ilhas Canárias 18 dias depois. Daí rumaram para o "


Arquipélago de Cabo Verde, parando depois na costa africana para abastecimento. Em 12 de setembro, passaram pela Linha do Equador, entrando no Hemisfério Sul. O Cruzeiro do Sul passava a ser a referência para a orientação do curso do navio, substituindo a Estrela Polar (da constelação Ursa Menor), velha conhecida dos marinheiros europeus. O mundo da cristandade ficava para trás. Os desafios ao mar oceano , como era conhecido o Atlântico, ainda estavam por vir. A viagem seguiu demorada, sofrendo a tripulação as conseqüências da falta de alimentos frescos. As mortes por escorbuto foram se sucedendo. Muitos foram os dias sem ventos. Depois, se seguiram fortes tempestades. O rumo do navio, em direção ao extremo sul da África, a certa altura foi perdido. Os ventos e as correntes levavam o L Espoir na direção sudoeste. Dias depois, os intrépidos navegantes perceberam pássaros indo e voltando na direção sul, e resolveram mudar de rumo, dando às costas para a África. Foi assim que no dia cinco de janeiro de 1504 se aproximaram de uma grande terra, onde aportaram no dia seis num rio parecido com o Orne . Nos meses seguintes, a estropiada tripulação do L Espoir conviveu com a população nativa que habitava aquela terra estranha, recuperando-se dos desgastes físicos sofridos na longa travessia do Atlântico. O navio foi reparado dos estragos sofridos, num trabalho penoso e demorado. Parte da tripulação realizou algumas incursões ao interior e no litoral da nova terra. Muitos registros foram realizados sobre a fauna, a flora e seus amistosos habitantes indígenas. Na Páscoa, ergueram uma cruz num morro próximo ao litoral, marcando a presença dos arrojados franceses. Em julho, depois de consultados os membros sobreviventes da tripulação, o capitão de Gonneville resolveu regressar a Honfleur, desistindo do intento de seguir em direção às Índias. O L Espoir foi abastecido com água, víveres

frescos e muitos presentes recebidos dos nativos. Como convidados, embarcaram um dos filhos do Rei Arosca, o jovem Içá-Mirim (que os franceses registraram como sendo Essomericq), e o índio Namoa, que iriam conhecer as terras de origem dos navegantes brancos, situadas a leste, e que possivelmente foram confundidas pelos nativos com a terra sem males , base da sua mitologia. Gonneville comprometeu-se em regressar a essas terras austrais, trazendo Essomericq e Namoa, dentro de vinte luas. Isto, como se sabe, não ocorreu. A viagem de volta foi atribulada. A bordo ocorreram novas mortes, inclusive a do índio Namoa. Doente, Essomericq foi batizado, recebendo o nome de Binot, de seu padrinho e protetor, o capitão de Gonneville. No nordeste do Brasil, fizeram paradas para abastecimento de víveres e de produtos comerciáveis. Em mais de uma oportunidade, enfrentaram nativos hostis e sofreram novas perdas em homens. Atravessaram a Linha do Equador e tornaram a ver no horizonte a Estrela Polar. Semanas depois, arribaram na Ilha do Faial, no Arquipélago dos Açores. Era nove de março de 1505. Semanas depois, o L Espoir tomou o rumo da Normandia. Uma tempestade obrigou uma parada na Irlanda para a realização de reparos no barco. Novamente no mar, nas proximidades das Ilhas de Jersey (Canal da Mancha), foram atacados por corsários, tendo o capitão de Gonneville decidido encalhar seu navio para ter chances de salvar a tripulação. Tudo que estava armazenado foi perdido, inclusive o livro de bordo e os preciosos registros feitos por Nicole Lefebvre. Regressando a Honfleur, o capitão de Gonneville e parte de seus companheiros fizeram uma declaração da viagem , no dia dezenove de junho de 1505, junto aos oficiais do Almirantado da França, no Palácio de Rouen, narrando com relativa minúcia as peripécias da expedição e as perdas sofridas em #


vidas e mercadorias. Foi dessa declaração , conhecida como a Relação Autentica , que selecionamos os fatos acima narrados, tendo como referência a tradução feita por Tristão de Alencar Araripe e publicada, em 1886, na Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geographico e Ethnographico do Brasil, tomo XLIX, 2º volume1. Araripe realizou seu trabalho a partir da versão divulgada pelo geógrafo Armando d Avezac, membro do Instituto de França, de um documento localizado na Biblioteca do Arsenal, em Paris, pelo bibliotecário Paulo Lacroix. D Avezac publicou esse documento, em 1869, nos Annales des voyages, com o título Relation authentique du voyage du $

Capitaine de Gonneville ès Nouvelles Terres des Indes publiée intégralement pour première fois avec une introduction et des éclarcissements . O encontro desse documento eliminou grande parte dos questionamentos que existiam sobre a viagem de Gonneville. Foi d Avezac que informou pela primeira vez que os normandos haviam aportado no sul do Brasil, entre as latitudes de 24º por um lado, e de 27º a 30º por outro , com a seguinte complementação: na latitude média entre os dous termos, aos 26º e 10´sul dezembóca o rio de São Francisco do Sul, no paíz abitado pelos Carijós 2. Araripe, em sua tradução, incorporou a versão de d Avezac. Foi a partir daí que se disseminaram as informações sobre a presença dos franceses em São Francisco do Sul. Contudo, como qualquer tema de um passado que já se faz distante, persistiram e persistem dúvidas, por parte de diferentes autores, especialmente sobre o local exato do desembarque dos normandos.


Com sua extraordinária e penosa viagem, Gonneville e seus companheiros tiveram o indiscutível mérito de ter aberto uma rota comercial em direção ao Brasil. Como sabemos, nas décadas seguintes, as expedições francesas para o litoral brasileiro se sucederam, em busca principalmente de pau-brasil. Por sua vez, a Relação Autentica constitui-se, ao lado da Carta de Caminha , num dos documentos fundadores da história de nosso país.

A saga de Essomericq na França

A Declaração de viagem em destaque. À esquerda, documento original conforme Perrone-Moisés (1995). À direita, a primeira versão em português feita por Araripe em 1886. Détail de la «Déclaration de voyage». À gauche, document original d après PerroneMoisés, 1995. À droite, la première version en portugais faite par Araripe en 1886. PÁGINA AO LADO / PAGE D À CÔTÉ :

Placa alusiva à viagem de Gonneville. Plaque allusive au voyage de Gonneville. A CERVO / A RCHIVES : M USEU

DE

H ONFLEUR .

Binot Paulmier de Gonneville regressou a Honfleur com 28 homens, aí incluídos o próprio capitão e Essomericq. Nos meses seguintes, o capitão tentou convencer seus sócios e outros comerciantes para equipar outro navio e voltar às terras austrais. Seus argumentos, entretanto, foram em vão. A prometida volta à terra de Essomericq (agora Binot) não aconteceu. O capitão, porém, não deixou de proteger seu afilhado. Não se têm dados concretos sobre os primeiros anos da vida de Essomericq (Binot) na França. Presume-se que a proteção do padrinho lhe tenha garantido condições para sobreviver e se adaptar aos costumes da nova terra. Esta trajetória não lhe deve ter sido fácil. Essomericq teve de aceitar as imposições de uma nova cultura, de uma nova língua e, também, de diferentes condições sociais, econômicas e ambientais. Viveu, sem dúvida, uma singular saga. À época, era comum aos navegadores aprisionarem nativos para uso como escravos em seus barcos, ou para levá-los para suas cidades de origem como provas de terem visitado terras exóticas. Há muito, os portugueses promoviam o tráfico de negros para a Europa. Colombo, ao regressar de sua primeira viagem à América, levou uma dezena de nativos para a Espanha. Cabral fez o mesmo, despachando com a %


carta de Pero Vaz de Caminha diversas amostras das coisas da terra e um índio do sul da Bahia para conhecimento do Rei D. Manuel. Com os navegadores franceses, aconteceu o mesmo. A diferença é que Essomericq jamais foi tratado como escravo. Na França, sua condição era de um príncipe originário das terras austrais. Certamente, nunca teve de participar de desfiles ou de outras humilhações públicas. Essomericq, por ser apadrinhado de Gonneville e por viver numa pequena cidade da Normandia, acabou conquistando condições excepcionais de sobrevivência no contexto

da expansão européia, que nesse momento acontecia. Nesse sentido, sua vida na Europa tornouse um raro caso de positiva convivência e de tolerância interétnicas. O capitão de Gonneville, em 1521, conseguiu casar Essomericq com uma parenta sua. Deu-lhe também o sobrenome Paulmier e boa parte de seus bens. Binot Paulmier (Essomericq) e sua mulher tiveram quatorze filhos, o que garantiu a presença na França de seus descendentes por diversas gerações. Essomericq viveu até 1583, alcançando mais de noventa anos de idade3.


O antigo Porto de Honfleur no presente. L ancien port de Honfleur actuellement. F OTO / P HOTO : O SCAR C ALÁVIA S AEZ . P ÁGINAS

SEGUINTES

/ P AGES

SUIVANTES :

A Igreja de Santa Catarina em Honfleur. L église de Sainte Catherine à Honfleur. A Ermida de Notre-Dame em Honfleur, local reverenciado pelos navegadores. L Ermitage de Notre-Dame à Honfleur, lieu reverencié par les navigateurs. A Capitania do Porto em Honfleur, contruída no século XVII. La capitainerie du port à Honfleur construite au XVIIème siècle. F OTOS / P HOTOS : O SCAR C ALÁVIA S AEZ .


A comprovação da trajetória de Essomericq acabou acontecendo também por meios transversos. Em 1658, descendentes de Binot Paulmier (Essomericq) tiveram de recorrer ao Rei Luís XIV para serem isentos do imposto de ádvena, que atingia os estrangeiros residentes na França4. A argumentação dos familiares, entre eles o Abade Jean Paulmier de Courtonne, bisneto de nosso personagem, era a de que descendiam de um príncipe originário das terras austrais que fora convidado para vir à França. Na impossibilidade do prometido regresso, seus familiares e descendentes se consideravam convidados do governo francês, e não !

estrangeiros. Como prova, informavam sobre a existência da declaração de viagem depositada no Almirantado, em Rouen, que num primeiro momento recusou lhes fornecer um exemplar do documento. Luís XIV aceitou o pedido, determinando que o Almirantado fornecesse uma cópia da declaração da viagem para os requerentes, o que se efetivou em trinta de agosto de 1658. Além da isenção do imposto, o episódio reavivou a memória dos descendentes de Essomericq, garantindo o surgimento de diversos registros sobre a saga do Guarani que se viu levado das terras do sul do Brasil para a Normandia.


1 Há uma versão atualizada da Relação Autentica publicada por Perrone-Moisés (1992). 2 Araripe (1886, p. 323). 3 Perrone-Moisés, op. cit. (p. 114). 4 Ibidem (p. 109). R E F E R Ê N C I A S ARARIPE, Tristão de Alencar. Primeiro navio francez no Brazil. Revista Trimestral do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brasil, tomo XLIX, vol. 2, p. 315-360 1886. BOUCHON, Geneviève. Vasco da Gama: biografia. Rio de Janeiro: Record, 1997. BOUGERIE, Dominique. Honfleur et les honfleurais: cinq siècles d histoires. Honfleur: Editions Marie Honfleur, 2000. BRÉARD, Charles. Le vieux Honfleur et ses marins: biographies et récits maritimes. Paris: Office d Edition du Livre d Histoire, 1997. BUENO, Eduardo. A viagem do Descobrimento: a verdadeira história da expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. ______ Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. GOES FILHO, Synésio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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Un voyage au-delà de la chrétienté

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endant les dernières décennies du XVème siècle, Lisbonne est devenue un centre de référence en Europe. Navigateurs, cartographes, agents d institutions bancaires, aventuriers et commerçants se confondaient dans les rues étroites de la ville. Les nouvelles sur les avances portugaises sur la côte d Afrique circulaient prestement et créaient des expectatives dans l imaginaire populaire. Le projet des Rois du Portugal, d ouvrir une voie maritime pour les Indes en contournant l Afrique, est devenu réalité avec le voyage de Vasco da Gama (1498). Deux ans après, l escouade commandée par Pedro Álvares Cabral arrivait à la côte occidentale de l Atlantique, c est-à-dire, au Brésil, d où elle est repartie vers les Indes. L empire portugais s est élargi tout au long des décennies, ayant pour but le commerce d épices, d abord avec les Indes, et après avec le Brésil. Les avances de la technologie nautique sont à la base des conquêtes portugaises. L École de Sagres, lidérée par Dom Henrique, a entraîné des navigateurs, réuni des cartographes, emmagasiné des renseignements et défini des stratégies dans le but d établir des points d appui tout au long de la


côte d Afrique et dans les îles de l Atlantique, en particulier les Açores, Madère et Cap Vert. L invention de la caravelle et le successif perfectionnement des intruments nautiques d orientation, comme le sextant, la boussole et les «cartes de navigation en mer», en plus de la persistance, ont garanti le succès de ce projet d expansion maritime. Les Rois du Portugal, motivés par les possibilités de croissance de l empire et de la foi catholique, mais aussi attentifs aux résultats économiques concrets ont viabilisé diverses expéditions, politique et financièrement. Les Indes et leurs épices, ayant pour référence les histoires racontées par Marco Polo et d autres voyageurs, en plus des richesses accumulées par Venise et Gênes (Italie), ont éveillé des intérêts multiples. Le Traité des Tordesillas (1494), firmé entre le Portugal et l Espagne avec l intervention directe du Pape Alexandre VI, partageant les terres découvertes et à découvrir entre les deux royaumes, démontre le pouvoir auquel a accédé le Portugal. Les savoirs accumulés par les arabes et les juifs, en particulier en Mathématiques, Géographie, Astronomie et langues ont contribué, sans aucun doute, au succès des portugais. Lisbonne était déjà, depuis longtemps, une ville cosmopolite et ouverte aux innovations, abritant beaucoup de spécialistes et un nombre non négligeable d aventuriers, venus des différents pays d Europe. Les flottes maritimes et le commerce des épices se sont élargis rapidement. La diffusion de la caravelle et le surgissement de bateaux avec davantage de capacité de cargaison, les vaisseaux, ont facilité aussi bien les expéditions vers les Indes que l exploitation des terres d Amérique. Au long du littoral atlantique de la France, suivant une vieille tradition de domination des mers, commerçants et navigateurs de Honfleur, Dieppe

et Rouen ont établi des rapports étroits avec le Portugal. Les départs des embarcations de ces villes vers Lisbonne étaient fréquents. Ils avaient pour but l approvisionnement des marchés de l Europe du nord avec les nouveaux produits originaires des terres lointaines. En échange, les portugais emmenaient au Portugal les produits fabriqués en Normandie, en particulier des tissus, de la vaisselle et des armes à feu et en acier. Navigateurs et commerçants de ces pays parlaient, habituellement, de leurs aventures et intérêts sur les nouvelles terres et routes commerciales auxquelles le Portugal et l Espagne accédaient. Ils étaient tous attirés par ces territoires inconnus et exotiques et surtout par les possibilités d affaires et d aventures qu ils représentaient. Le prétendu droit de Portugal et de l Espagne sur les terres découvertes n était certainement pas partagé par d autres maisons régnantes de l Europe, et encore moins par des commerçants et aventuriers. Ce fut dans ce contexte qu un petit groupe de commerçants de Honfleur, lidéré par Binot de Gonneville, a décidé d acquérir et équiper un bateau pour réaliser un voyage commercial aux Indes, suivant la voie ouverte par le Portugal. Dans ce but, entre autres dispositions, les français ont embauché, à Lisbonne, deux navigateurs portugais expérimentés, Bastião Moura et Diogo de Couto, pour les aider dans l intrépide expédition. Concrètement, le but était de rompre le monopole portugais sur la voie établie par Vasco da Gama, raison pour laquelle les préparatifs du voyage et son destin ont été tenus secrets. L expédition qu on entrevoyait, cependant, n a éveillé que l intérêt des commerçants et marins. Des volontaires, poussés par l aventure, se sont aussi portés candidats. Parmi eux, Nicole Lefebvre, considéré «personne de savoir», qui a été admis à condition de tenir le registre des curiosotés des terres à être visitées. !!


Le 24 juin 1503, commandé par le capitaine de Gonneville, le vaisseau Espoir est parti de Honfleur avec 60 hommes à bord. Les navigateurs ont suivi vers le sud et sont passés par les îles Canaries 18 jours après. De là ils se sont dirigés vers l archipel du Cap Vert, pour se ravitailler, s arrêtant, après, sur la côte africaine. Le 12 septembre ils ont passé la ligne de l Équateur et sont passés dans l Hémisphère Sud. La Croix du Sud devenait la référence pour orienter le cours du vaisseau, remplaçant l Étoile Polaire (de la constellation de l Ourse Polaire), vieille connaissance des marins européens. Le «monde de la chrétienté» restait en arrière. Les défis de la «mer océan», comme l Atlantique était connu, étaient encore devant eux. Le voyage a traîné et la tripulation souffrait du manque d aliments frais. Les décès, en conséquence du scorbut, se sont succédés. Il y a eu beaucoup de jours sans vent suivis de fortes tempêtes. À un certain moment on a perdu la direction du vaisseau qui devait aller à l extrême sud de l Afrique. Les vents et les courants ont conduit l Espoir dans la direction sud-ouest. Quelques jours après, les intrépides navigateurs ont remarqué des oiseaux qui allaient et venaient en direction du sud, et ils ont décidé de changer de cap tournant le dos à l Afrique. C est ainsi que, le cinq janvier 1504, ils ont approché une grande terre où ils sont arrivés le six «dans un fleuve qui ressemblait à l Orne». Les mois suivants, l estropié équipage de l Espoir a vécu avec la population native qui habitait cette terre étrangère pour se récupérer des dégats physiques, conséquence de la longue traversée de l Atlantique. La réparation du vaisseau a exigé un travail pénible et long. Une partie de l équipage a réalisé quelques incursions à l intérieur et au long de la côte du nouveau pays.Beaucoup de registres ont été réalisés sur la !"

faune, la flore et les amicaux indigènes qu y habitaient. À Pâques, une croix a été levée sur un promontoire proche de la côte; elle signalait la présence des intrépides français. En juillet, une fois consultés les survivants de l équipage, la capitaine de Gonneville a décidé de retourner à Honfleur, renonçant au projet de poursuivre en direction des Indes. L Espoir a fait le plein d eau, d aliments frais et a embarqué beaucoup de cadeaux reçus des natifs. Comme invités, furent embarqués un des fils du Roi Arosca, le jeune Içá-Mirim (que les français ont appelé Essomericq) et l indien Namoa, qui allaient connaître le pays d origine des navigateurs blancs, situé à l est, et qui a été sans doute confondu, par les natifs avec la «terre sans maux», base de leur mythologie. Gonneville a promis de revenir sur ces terres australes avec Issomericq et Namoa, vingt lunes après. Nous savons qu il n est pas revenu. Le voyage de retour fut tourmenté. De nouvelles morts ont eu lieu à bord, y compris celle de l indien Namoa. Malade, Essomericq a été baptisé avec le prénom de Binot, son parrain et protecteur, le capitaine de Gonneville. Au nordest du Brésil ils se sont arrétés pour le révitaillement de vivres et produits vendables. En plus d une occasion ils ont eu à braver des natifs hostiles et ont perdu d autres hommes. Ils ont traversé la ligne de l Équateur, ce qui leur permettait de voir, de nouveau, l Étoile Polaire. Quelques semaines après, ils ont atterri à l île du Faial, dans


l archipel des Açores. Il était le 9 mars 1505. Encore quelques semaines et l Espoir a pris la direction de la Normandie. Une tempête les a obligés à faire halte en Irlande pour réparer le vaisseau. Une fois de plus en mer, aux proximités des îles Gersey (à la Manche) ils ont été attaqués par des corsaires quand le capitaine de Gonneville a décidé de faire échouer son vaiseau pour essayer de sauver l équipage. Tout ce qui était emmagasiné fut perdu, y compris le livre de bord et les précieux registres faits par Nicole Lefebvre. De retour à Honfleur, le capitaine de Gonneville et une partie de ses compagnons ont fait une «déclaration de voyage», le dix-neuf juin 1505, auprès des Amiraux de France, au Palais de Rouen, racontant avec assez de détails les péripéties de l expédition et les pertes subies, en vie et en marchandises. Dans cette «déclaration», connue comme «Rapport Authentique», nous avons sélectionné les faits racontés ci-dessus, ayant comme référence la traduction de Tristão de Alencar Araripe publiée, en 1886, à la Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geographico e Ethnografico do Brasil, tomo XLIX, 2ème volume. 1 Araripe a réalisé son travail à partir de la version colportée par le géographe Armando d Avezac, membre de l Institut de France, d un document trouvée à la Bibliothèque de l Arsenal, à Paris, par le bibliothécaire Paul Lacroix. D Avezac a publié ce document, en 1869, dans les Annales des voyages, sous le titre de Relation authentique du voyage du capitaine de Gonneville ès Nouvelles Terres des Indes publiée intégralement pour première fois avec une introduction et des éclarcissements.

Le fait de trouver ce document a éliminé une grande partie des doutes existants sur le voyage de Gonneville. Ce fut d Avezac qui a informé, le premier, que les normands avaient débarqué au sud du Brésil, entre les latitudes «de 24°, d un côté, et de 27° à 30° de l autre» avec le complément suivant: «à la latitude moyenne entre les deux termes, aux 26° et 10 débouche le fleuve de São Francisco do Sul, au pays habité par les Carijós». Araripe, en sa traduction, a incorporé la version de d Avezac. C est à partir de ce momentlà que se sont disséminées les informations sur la présence des français à São Francisco do Sul. Cependant, comme sur tout sujet d un passé déjà lointain, des doutes ont persisté et persistent, de la part de différents auteurs, en particulier sur l emplacement exact du débarquement des normands. Avec son extraordinaire et intrépide voyage, Gonneville et ses compagnons ont eu le mérite indiscutable d avoir ouvert un chemin commercial en direction du Brésil. Comme nous savons, les expéditions françaises vers le littoral brésilien se sont succédées dans les décennies suivantes, qui cherchaient, surtout, le «pau-brasil»2. De son côté, le «Rapport Authentique» s est constitué, avec la «Lettre de Caminha» un des documents fondateurs de l histoire de notre pays.

La saga d Essomericq en France Binot Paulmier de Gonneville est retourné à Honfleur avec 28 hommes, y compris le capitaine et Essomericq. Les mois suivants, il a essayé de convaincre ses associés et d autres commerçants à équiper un autre bateau et revenir sur les terres australes. Ses arguments, pourtant, ont été inutiles. Le retour promis au pays d Essomericq (maintenant Binot) n a pas eu lieu. Le capitaine, cependant, n a !#


pas manqué de protéger son filleul. Il n y a pas de données concrètes sur les premières années de la vie d Essomericq en France. On suppose que la protection du parrain lui a fourni les conditions de survivre et s adapter aux coutumes du nouveau pays. Cette trajectoire ne dut pas être aisée. Essomericq a été obligé d accepter les impositions d une autre culture, une autre langue et, aussi, de conditions sociales, économiques et ambiantes variées. Il a vécu, sans aucun doute, une saga singulière. À l époque, il était courant que les navigateurs capturent des natifs pour en faire des eclaves dans leurs bateaux, ou pour les conduire à leur pays d origine pour prouver qu ils avaient visité des

contrées exotiques. Cela faisait longtemps que les portugais faisaient le trafic de nègres pour l Europe. Colombo, en revenant de son premier voyage en Amérique, a emmené une dizaine de natifs en Espagne. Cabral en a fait autant, expédiant avec la lettre de Pero Vaz de Caminha plusieurs échantillons des «choses du pays» et un indien du sud de la Bahia pour que le Roi D. Manoel en fasse connaissance. Il a été de même pour les navigateurs français. La différence réside dans le fait qu Essomericq n a jamais été traité en esclave. En France il avait le statut d un prince originaire des terres australes. Il n a sûrement jamais été obligé de participer de défilés ou autres humiliations publiques. Essomericq, du fait d être parrainé par Gonneville et parce qu il vivait dans une petite ville de Normandie, a fini par obtenir des conditions exceptionnelles de survivance dans le contexte de l expansion européenne ayant lieu à l époque. En ce sens, sa vie en Europe est devenue un rare exemple de fréquentation et tolérance entre différentes ethnies. En 1521 le capitaine de Gonneville a réussi à marier Essomericq avec une de ses parentes. Il lui a donné, également, le nom de Paulmier et une bonne partie de ses biens. Binot Paulmier (Essomericq) et sa femme ont eu quatorze enfants, ce qui a assuré la présence de ses descendants en France pendant plusieurs générations. Essomericq a vécu jusqu en 1583, jusqu à l âge de plus de quatre-vingt-dix ans.3 La preuve de la trajectoire d Essomericq a fini par venir à jour, aussi, par des moyens du bord. En 1658,


des descendants de Binot Paulmier (Essomericq) on dû avoir recours au roi Louis XIV pour êtres exemptés du tribut imposable aux étrangers résidant en France4. L argument des familiers, l abbé Jean Paulmier de Courtonne, arrière-petitfils de notre personnage, entre autres, était qu ils descendaient d un prince originaire des terres australes qui avait été invité à venir en France. Dans l impossibilité du retour promis, ses familiers et respectifs descendants se considéraient invités du gouvernement français et non pas des étrangers. Comme preuve, ils informaient

l existence de la «déclaration de voyage» déposée auprès de l Amirauté qui, dans un premier moment, a refusé de leur fournir un exemplaire du document. Louis XIV a accepté la demande, déterminant à l Amirauté de leur fournir une copie de la «déclaration de voyage», fait accompli le 30 août 1658. En plus de cette exemption de l impôt, l épisode a ravivé la mémoire des descendants d Essomericq, garantissant le surgissement de plusieurs registres de la saga du Guarani qui s est vu conduire des terres du sudbrésiliennes jusqu en Normandie.

1 Il existe une nouvelle version du Rapport Authentique publié par Perrone-Moisés, Leyla (1992). 2 Arbre légumineux (Caesalpinia echinata) de bois avec cerne rouge utilisé pour des teintures. En raison de son abondance das les forêts littorales, c était le ème principal article d exportation au XIV siècle. Cet arbre a donné son nom au pays, Brésil. (Note du traducteur). 3 Perrone Moisés, Leyla, op. cit. (p. 114). 4 Ibidem, p. 109.

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Notícia sobre os Carijó S Í LV I O C O E L H O

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SANTOS


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PRÉCÉDENTE :

Destaque de aldeia Carijó (Guarani) no mapa da Ilha de Santa Catarina publicado por Hans Staden em 1557. Village Carijó (Guarani) mis en valeur sur la carte de l île de Santa Catarina publiée par Hans Staden en 1557.

s fontes etno-históricas indicam que foram os índios Guarani, depois denominados Carijó1, que socorreram a debilitada tripulação do L Espoir. Todo o litoral sul, de Cananéia (SP) até a Lagoa dos Patos (RS), os vales interioranos e as margens dos rios da bacia Paraná-Paraguai eram ocupados por esses índios. A denominação Carijó foi dada pelos europeus, nos anos imediatos à conquista. Organizados em subgrupos e distribuídos em diversas aldeias, os Carijó tinham vida sedentária e dominavam técnicas de horticultura, caça, coleta, olaria, cestaria e de fiação do algodão, além de serem profundos conhecedores de toda a região, do seu relevo, da flora e da fauna. Eles é que recepcionaram os franceses, fornecendo-lhes alimentos e dando-lhes condições para se recuperarem da longa travessia do Atlântico. Durante os meses que se sucederam, o capitão de Gonneville e sua tripulação mantiveram uma relação amistosa e respeitosa para com esses indígenas. Na declaração da viagem aparecem referências resumidas sobre as muitas notas e os desenhos que foram feitos por Nicole Lefebvre em relação ao cotidiano dos índios. Gonneville e sua


tripulação fizeram amizades com os nativos liderados pelo cacique Arosca. Ao final da estada, em julho, quando iniciaram a volta para a cristandade, Gonneville conseguiu a autorização de Arosca para levar seu filho, Içá-Mirim (Essomericq), acompanhado de um índio mais velho, Namoa, à França. As observações presentes na declaração da viagem sobre os nativos permitem que se tenha idéia de como viviam os Carijó, seus costumes, sua economia, organização social, festas e atividades guerreiras. Também os índios tiveram enorme curiosidade sobre aqueles estranhos homens brancos, sobre o enorme barco em que navegavam e sobre suas armas de fogo e de aço. Muito provavelmente, Gonneville e seus companheiros foram tomados pelos Carijó como heróis míticos, originários da terra sem males tão presente em sua cultura. A confraternização entre os tripulantes e os nativos não se resumiu à troca de presentes e festas. Poucos certamente não foram os casos de relacionamento sexual. Mais tarde, observações de outros navegadores e padres vão ressaltar tanto os costumes

como a cordialidade e a receptividade dos Carijó para com os brancos. Os Guarani iniciaram um processo de dispersão e de conquistas a partir da Amazônia, por volta de 2.000 anos atrás. Ocuparam, entre outras áreas, a bacia do Paraná-Paraguai. Seguindo alguns dos rios formadores dessa bacia, chegaram ao litoral e, assim, à Ilha de São Francisco do Sul. Datações obtidas em sítios arqueológicos no litoral do atual Estado de Santa Catarina indicam a presença dos Guarani há cerca de 1.000 anos, ou seja, quando da chegada dos europeus eles já estavam ali havia pelo menos 500 anos. Há uma extensa bibliografia sobre os Guarani, e parte dela registra as hipóteses relativas ao centro de origem e às motivações para a sua expansão em direção ao litoral. Em maioria, essas hipóteses remetem ao mito da procura da terra sem males , que ficaria situada a leste, ou seja, além do Atlântico. Dominando a horticultura e contando com contingentes demográficos expressivos, além de forte motivação religiosa, os Guarani avançaram para o litoral sul, exterminando, dominando ou expulsando outros povos, entre eles provavelmente os "


construtores dos sambaquis e de outras tradições culturais, conforme será visto no capítulo seguinte. Cabe aqui um pequeno parêntese para esclarecer que os povos indígenas que se sucederam na ocupação de espaços geográficos como o sul do Brasil mantiveram disputas fortes entre si, principalmente para alcançar os recursos protéicos existentes, tanto no litoral como no interior. A Região Sul, nesse sentido, era privilegiada por contar com a presença periódica de cardumes em seu litoral. Peixes como a tainha e a anchova, em certas épocas do ano, podiam ser capturados em grandes quantidades. Os "

Aldeia Carijó (Guarani). Gravura de Ulrich Schmidl, 1559. (In: Perrone-Moisés, 1995). Village Carijó (Guarani). Gravure de Ulrich Schmidl, 1559. (In: Perrone-Moisés, 1995). P ÁGINA

AO LADO E SEGUINTES

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À D CÔTÉ ET SUIVANTES :

Peças de artesanato dos Guarani contemporâneos. Des pièces artisanales des Guarani contemporains. F OTOS / P HOTOS : R ENATO R IZZARO


moluscos, representados por mariscos, berbigões e ostras, podiam ser coletados o ano inteiro. Baleias e outros animais marinhos de porte tinham presença constante no litoral, e em algumas situações se tornavam bastante vulneráveis à captura. No interior, nas terras altas do planalto, onde as matas de araucária, devido à fartura do pinhão, reuniam extensa e variada fauna, uma outra fonte permanente de proteína estava à disposição de populações especializadas na caça e na coleta. Provavelmente, nesse território do planalto, o domínio foi dos antecedentes dos Xokleng e dos Kaingang, que são referidos na literatura como tendo uma tradição cerâmica que foi denominada pelos arqueólogos como sendo a tradição itararé. As disputas por territórios que tinham fartura de alimentos, portanto, aconteceram entre diferentes povos, muito antes da chegada dos europeus. Depois de Gonneville, diversos navegadores europeus chegaram ao litoral do atual Estado de Santa Catarina, nas primeiras décadas do século XVI. Essa região logo foi reconhecida pela excelência de seus portos naturais, o que era estratégico para o descanso das tripulações, os consertos das embarcações e o reabastecimento de água e de víveres. A partir de uns poucos registros, sabe-se que os náufragos da expedição de Solís (1515), por exemplo, vivenciaram um relacionamento intensivo com os indígenas. Mais raramente, outros marinheiros desertaram de seus navios, ou foram abandonados por seus capitães, e ficaram entre os índios. Os comandantes das diversas expedições que passaram pelo litoral sul deixaram algumas anotações sobre os habitantes da terra. Como estavam em jogo interesses econômicos das coroas ibéricas, a maioria das expedições

era rodeada de um certo sigilo. Essa, talvez, fosse uma razão para a escassez dos relatos. Outras referências foram publicadas por Hans Staden e Cabeza de Vaca, e nas cartas dos primeiros padres aos seus superiores. Mas, sem dúvidas, foram os Carijó que suportaram os primeiros embates com os europeus, tanto na Ilha de São Francisco como em todo o litoral. Da cordialidade e da curiosidade sobre aqueles estranhos homens barbudos, cobertos com roupas malcheirosas, que desciam de barcos enormes usando estrondosas armas de fogo e portando afiadas lâminas de aço, surgiram nas décadas seguintes o temor e o medo, devido à violência e à vontade explícita dos recém-chegados em submeter os nativos. O rapto seguido do trabalho escravo, o abuso sexual das mulheres e o apossamento dos bens indígenas, apesar das convicções cristãs dos conquistadores, tornaram-se rotina. Simultaneamente, os europeus passaram aos índios diversas doenças até então para eles desconhecidas, como a varíola, o sarampo, a gripe, a pneumonia, a tuberculose e a gonorréia. Assim, as epidemias desarticularam o equilíbrio demográfico das aldeias e a sua organização socioeconômica. Ao mesmo tempo, as crenças religiosas que davam suporte à explicação do mundo em que os Carijó viviam passaram a ser desvalorizadas pelos padres que chegaram para catequizá-los. A conquista, portanto, foi violenta, tendo os invasores alcançado resultados rápidos em função do domínio das armas de fogo, do aço e, incrivelmente, dos germes. Trata-se, pois, de um elucidativo exemplo para a compreensão da supremacia de algumas sociedades sobre outras, a partir do exercício da violência. Essa violência foi "!


tal, no caso dos Carijó, que no século seguinte (XVII) já não havia mais aldeias no litoral. Não se pense, entretanto, que a população nativa era pequena. Relatos dão conta de que entre Cananéia e a Lagoa dos Patos (RS) devia haver cerca de cem mil Carijó. Diferentes sítios arqueológicos também sinalizam para uma presença numérica significativa de indígenas. Porém, a Arqueologia ainda não tem dados suficientes para fazer uma estimativa demográfica segura dos povos que aqui viveram antes da invasão européia. A motivação da maioria dos navegadores que exploraram o Atlântico Sul nas primeiras décadas do século XVI era a descoberta de uma passagem para o Pacífico, que permitisse chegar às Índias, ou seja, ao Oriente, pelo oeste. Nessa busca, alcançaram o Rio da Prata, que se tornou uma alternativa para se atingir as terras do Peru e da Bolívia. Interessavamse, antes de tudo, pela conquista de riquezas fáceis, e na falta dessas foi comum a apropriação de seres humanos, ou seja, de índios, para utilizá-los como testemunhos exóticos da estada em terras estranhas, como objetos sexuais ou como escravos. No relato de Pigafeta sobre a expedição de Fernão de Magalhães em torno da Terra (1519-1521), há referências sobre um grupo de mulheres índias que teria sido raptado no litoral do Rio de Janeiro para uso da tripulação. Essas mulheres foram simplesmente abandonadas quando da passagem pela Terra do Fogo. Portanto, é possível pensar que, à época, práticas dessa natureza fossem rotina entre as tripulações, e que este poderia ter sido o cruel destino de muitas mulheres Carijó que viviam no litoral. A passagem do adelantado Cabeza de Vaca na Ilha de Santa Catarina (1541) e, depois, sua incursão ao Paraguai seguindo pelo Rio Itapocu (cuja embocadura está próxima à Ilha de São Francisco do ""

Sul), na mesma rota trilhada anteriormente por Aleixo Garcia e seus companheiros, deixaram ligeiras referências sobre os Carijó e sobre os Guarani que ocupavam o interior, especialmente nas proximidades dos grandes rios formadores da bacia Paraná-Uruguai. Depois, a melhor referência é a de Hans Staden, aventureiro alemão que embarcou como arcabuzeiro numa expedição espanhola que se dirigia para a América do Sul. Dele é a configuração do primeiro mapa da Ilha de Santa Catarina, com destaque para uma aldeia indígena que se localizava no continente fronteiro. As aventuras de Staden foram publicadas em 1557, na Alemanha. Por suas notas, infere-se que os Carijó estavam cada vez mais submetidos aos desígnios dos brancos. Esses tinham crescente interesse na produção indígena para abastecer seus barcos. O papel exercido por aqueles aventureiros que se deixaram ficar entre os indígenas foi fundamental nesse processo, pois, além de aprenderem a língua e servirem de intérpretes, foram eles que estabeleceram relações mais próximas, especialmente aproveitando a instituição do cunhadismo , que era comum entre os habitantes da terra. Através do cunhadismo , o Carijó costumava incorporar o estranho à sua família, entregando-lhe preferencialmente sua irmã como esposa. Ou seja, os indígenas tinham em sua estrutura social um mecanismo de absorção do estranho através do casamento. Como a poliginia era institucionalizada na sociedade carijó, não é de estranhar que muitos brancos fossem contemplados com várias mulheres e, dessa forma, se tornaram aliados de várias famílias. A partir dessas alianças, esses aventureiros tiveram condições de submeter muitos indígenas aos seus desígnios.


Os índios e a cidade Neste início do século XXI, São Francisco do Sul conta no seu cotidiano com a presença dos índios Guarani. Esses indígenas se encontram na aldeia (Tekoa) Laranjeiras , também conhecida como Morro Alto , que está localizada na periferia da cidade. Nessa aldeia, vivem cerca de 60 indígenas que aguardam a demarcação de suas terras pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Ainda na localidade próxima conhecida como aldeia Araçá ou Figueira , vive outro pequeno grupo Guarani. A população dessas aldeias possui como principal fonte de subsistência a confecção de artesanato e o cultivo do milho (avati ete) como complemento para seu autoconsumo. Ambas as atividades são realizadas conforme suas tradições culturais. O artesanato produzido é comercializado nas ruas da cidade, principalmente para turistas que a visitam. Esses indígenas recebem apoio da Funai e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Um programa da Funasa mantém agentes de saúde dentro da própria Terra Indígena (TI), o que facilita a identificação imediata de doenças que exijam maior atenção. A aldeia Laranjeiras conta com algumas casas de madeira e uma escola de alvenaria. Nesta última, através de convênio entre a Funai e a Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul, é promovido o ensino bilíngüe para 36 crianças indígenas, através de dois professores indígenas e duas professoras da rede municipal. Hoje, vivem cerca de 700 índios Guarani no litoral de Santa Catarina, em 18 localidades. Alguns desses locais estão situados nos municípios vizinhos de São Francisco do Sul, como Garuva (aldeia Yakã Porã), Araquari (aldeias Jabuticabeira, Pindoty, Piraí/ Tiaraju, Tarumã e Ilha do Mel), Barra do Sul (aldeia Conquista/ Jataí), Joinville e Guaramirim. Embora a presença desses índios seja visível aos olhos dos residentes e turistas, a dimensão de sua história e de sua cultura é freqüentemente desconhecida da maioria da população de São Francisco do Sul. Cátia Weber

Outras informações, ver: CLASTRES, H. A terra sem mal: o profetismo tupi-guarani. São Paulo: Brasiliense, 1978; LITAIFF, A. As divinas palavras: identidade étnica dos Guarani Mbyá. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1996; SCHADEN, E. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: EDUSP, 1974; e DARELLA, M. D. P. Parecer antropológico relativo às comunidades Guarani da Região Litoral Norte de Santa Catarina e o Projeto de Construção da Linha de Transmissão de Energia Elétrica da Substação de Joinville a São Francisco do Sul (230 kV). Florianópolis: Museu de Antropologia/UFSC, 2001.


As aldeias eram formadas por famílias extensas, nas quais predominavam a exogamia e a reciprocidade nas relações econômicas, ou seja, a circulação dos bens objetivava atender às necessidades de todos, e não apenas de alguns. Praticavam o que se poderia denominar de economia da abundância . Líderes religiosos tinham grande importância na organização social e no cotidiano de cada grupo. Uma forte relação com a natureza, fundamentada no aproveitamento dos recursos disponíveis de forma pouco agressiva, e o domínio das técnicas agrícolas, de caça e de pesca garantiam um extraordinário equilíbrio com o meio ambiente. Conheciam diferentes variedades de milho, de feijão, de mandioca e de abóbora, que cultivavam em pequenas roças de coivara. Plantavam ainda o algodão, o fumo, a cabaça e um número expressivo de plantas medicinais.

Artesanato Guarani comercializado no Mercado Municipal de São Francisco do Sul. Artisanat Guarani commercialisé au Marché Municipal de SFS. F OTO / P HOTO : A NELIESE N ACKE . P ÁGINA

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Mulher Guarani vendendo artesanato no centro de São Francisco do Sul. Femme Guarani en train de vendre de l artisanat au centre-ville de SFS. F OTO / P HOTO : S ÍLVIO C OELHO

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A começar pelo capitão de Gonneville e seus companheiros, foram os Carijó que passaram para os europeus os saberes fundamentais à sobrevivência no espaço geográfico que estavam invadindo. Esses saberes chegaram até nós, absorvidos que foram pela população que acabou dominante. Para ficar apenas em alguns exemplos, lembramos a importância da farinha, do peixe assado na brasa, de ervas, de cipós e de plantas como a mandioca, o feijão e o milho; ou o fabrico de balaios, o uso da canoa de tronco, a arapuca, o mundéu, o covo, o bodoque, o arpão, no cotidiano das gerações que se sucederam no litoral sul. Além disso, os Carijó deixaram como testemunho de sua longa presença na Ilha de São Francisco do Sul e adjacências diversos topônimos, entre os quais destacamos como exemplos: Babitonga, Araquari, Itapoá, Itaguaçu, Iperoba, Itapocu, Ubatuba, Tapera, Una, etc. É evidente que os Carijó não desapareceram por inteiro. Dispersos em pequenos grupos, se refugiaram nos pontos mais inacessíveis da costa e do interior. Outros foram obrigados a conviver com o branco na condição de escravos. O nome


Carijó foi dado pelos europeus para os Guarani que viviam no litoral sul, como já se disse. Esses índios ocupavam um vasto território, incluindo boa parte do que são hoje o Paraguai, a Bolívia, a Argentina e o Uruguai, além do Brasil. Formavam um grande povo. Nos primeiros séculos da dominação colonial, foram objeto do trabalho de catequese dos padres enviados pela coroa portuguesa e, também, pelas iniciativas dos jesuítas espanhóis que fundaram as reduções de Guaíra e, depois, os Sete Povos das Missões, entre os Rios Paraná e Uruguai. Foram eles que, em função dos aldeamentos promovidos pelos jesuítas, sofreram as mais intensas razias dos caçadores de escravos paulistas, que os capturaram aos milhares. Foram eles que serviram de mão-de-obra para as fazendas que foram se instalando em São Vicente (SP) e, depois, em boa parte do litoral sul. Continuamente espoliados, ficaram à margem, em tempos mais recentes, de qualquer política promovida pelos órgãos governamentais, em especial pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) ou pela Fundação Nacional do Índio (Funai). São eles que, num grau extremo de penúria, têm assombrado a mídia com suicídios de crianças e jovens, em particular no Mato Grosso do Sul. São eles que, num lento e inexorável movimento, têm

voltado a circular pelo litoral sul na tentativa de reocupação das terras de seus ancestrais e de uma reaproximação com a terra sem males , como acontece com aqueles que estão aldeados no local denominado Laranjeiras (ou Morro Alto) e na Figueira (Araçá). São esses índios que no diaa-dia expõem de maneira exemplar as contradições de nossa sociedade, ao buscarem ganhar alguns recursos financeiros vendendo artesanato, ou esmolando, tanto na cidade de São Francisco do Sul como nos centros das maiores cidades do Estado. São eles que continuam, de uma forma ou outra, a pretender nos mostrar no dia-a-dia que existem formas alternas de vida social e de sobrevivência humanas que não necessariamente estão baseadas na concentração da riqueza, na exploração agressiva dos recursos da natureza e numa contínua e inglória disputa de todos contra todos , como acontece entre nós. São eles, os mais deserdados entre todos os demais, que clamam por justiça e por definições políticas que lhes assegurem, pelo menos, áreas de terra que lhes permitam a sua reprodução biológica e cultural, no cenário de um país que pretende respeitar as diferenças culturais e garantir condições de sobrevivência às minorias étnicas.

1 A grafia Carijó e de outros povos indígenas está de acordo com o estabelecido na convenção instituída pela 1ª Reunião Brasileira de Antropologia (Rio de Janeiro, 1953), cujo texto se acha publicado na Revista de Antropologia, v. 2, n. 2, dezembro de 1954, São Paulo.

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Notice sur les Carijó

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es sources ethno-historiques indiquent que ce furent les indiens Guarani, appelés Carijó1, par la suite, qui ont porté secours à l affaibli équipage de l Espoir. Tout le littoral sud, depuis Cananéia (SP) jusqu à la Lagoa dos Patos (RS), les vallées continentales et les rivages des fleuves du bassin du ParanáParaguai étaient occuppés par ces indiens. Ce sont les européens qui les ont appelé Carijó dans les années qui ont suivi la conquête. Organisés en sous-groupes et partagés en plusieurs villages, les Carijó menaient une vie sédentaire et dominaient les techniques de l horticulture, la chasse, la collecte, la poterie, la vannerie, la filature du cotton, en plus d être de profonds connaisseurs de toute la région: son relief, ses flore et faune. Ce sont eux qui ont accueilli les français, leur ont fourni des aliments et leur ont procuré les moyens de se récupérer de la longue traversée de l Atlantique. Pendant les mois qui se sont succédés, le capitaine de Gonneville et son équipage ont entretenu des rapports amicaux et respectueux avec ces indiens. La «déclaration de voyage» contient des références résumées des nombreux notes et dessins faits par Nicole


Lefebvre sur le quotidien des indiens. Gonneville et son équipage ont noué de l amitié avec les natifs lidérés par le cacique Arosca. À la fin de leur séjour, en juillet, quand ils ont commencé le retour à la chrétienté, Gonneville a obtenu l autorisation d emmener en France le fils d Arosca, Içá-Mirim (Essomericq), accompagné d un indien plus agé, Namoa. Les observations contenues dans la «déclaration de voyage» sur les natifs permet d avoir une idée de la façon de vivre des Carijó, leurs coutumes, économie, organisation sociale, fêtes et activités guerrières. Les indiens eux-aussi étaient très curieux à propos de ces étranges hommes blancs, l énorme bateau dans lequel ils navigaient et leurs armes à feu et en acier. Très probablement les Carijó ont considéré Gonneville et ses compagnons comme des héros mythiques originaires de la «terre sans maux», si présente en leur culture. L entente fraternelle entre l équipage et les natifs ne se limitait pas à l échange de cadeaux et des fêtes. Les rapports sexuels ne durent pas être rares. Plus tard, des observations faites par d autres navigateurs et des prêtres vont mettre en valeur aussi bien les coutumes que la cordialité et receptivité des Carijó envers les blancs. Les Guarani ont commencé un procès de dispersion et de conquêtes à partir de l Amazonie, il y a 2.000 ans environ. Ils ont occupé, entre autres lieux, le bassin du Paraná-Paraguai. En suivant quelques-uns des fleuves qui formaient ce bassin, ils sont arrivés au littoral et, donc, à l île São Francisco do Sul. Des dates obtenues dans des sites archéologiques à la côte de l actuel État de Santa Catarina indiquent la présence des Guarani depuis 1.000 ans, environ, ce qui veut dire que, quand les européens sont arrivés, ils s y trouvaient depuis, au moins, 500 ans. Il existe une importante bibliographie sur les Guarani dont une

partie avance des hypothèses concernant leur centre d origine et les raisons de leur expansion vers le littoral. La plupart de ces hypothèses renvoient au mythe de la recherche de la «terre sans maux» qu ils croyaient située vers l est, c està-dire, au-delà de l Atlantique. Dominant l agriculture et pouvant compter sur des contingents démographiques importants, en plus d une forte motivation religieuse, les Guarani se sont dirigés vers la côte, dominant ou expulsant d autres peuples, parmi eux, sans doute, les constructeurs des sambaquis et d autres traditions culturelles, ce qu on verra dans le prochain chapitre. Il convient de faire ici une petite parenthèse pour expliquer que les peuples indiens qui se sont succédés à l occupation des espaces géographiques comme le sud du Brésil, se disputaient beaucoup entre eux, surtout en raison des ressources protéiques existentes, aussi bien à l intérieur du pays que sur le littoral. La région sud, en ce sens, était privilégiée, puisqu elle comptait avec la présence périodique de bancs de poissons. Des poissons tels que le mulet et l anchois, à certaines saisons, pouvaient être capturés en grandes quantités. Les mollusques, représentés par les moules de plusieurs sortes et des huîtres, pouvaient être ramassés l année durant. Des baleines et d autres animaux marins de grande taille se trouvaient en permanence près de la côte, et en quelques situations étaient une proie facile. À l intérieur, sur les terres hautes du plateau, où les forêts d araucaria2, en raison de l abondance de ses fruits (pignon et pomme de pin), réunissait une faune nombreuse et très variée, une autre source permanente de protéine était à la disposition des populations spécialisées dans la chasse et la collecte.Il est probable que, dans ces territoires du plateau, les prédécesseurs des Xokleng et des "'


Kaingang aient été les premiers à dominer, ils sont connus, dans la littérature spécialisée, pour avoir une tradition de céramistes que les archéologues ont appelée tradição itararé3. Les disputes de territoires prodigues en aliments, ainsi, était un fait, entre des peuples divers, bien avant l arrivée des européens. Après Gonneville, plusieurs navigateurs européens ont débarqué sur le littoral de l actuel État de Santa Catarina aux premières décennies du XVIème siècle. Cette région a été tout de suite connue par l excellence de ses ports naturels, ce qui était stratégique pour le repos des équipages, les réparations des embarcations et le revitaillement d eau et de vivres. À partir de quelques rares registres, on sait que les naufragés de l expédition de Solís (1515), par exemple, ont vécu des rapports intensifs avec les indiens.Occasionnellement, d autres marins ont déserté leurs bateaux ou ont été abandonnés par leurs capitaines, et sont restés parmi les indiens. Les commandants des diverses expéditions qui sont passées par le littoral sud-brésilien ont laissé quelques notes sur les habitants du pays. Comme il y avait des intérêts économiques des couronnes ibériques en jeu, la plupart des expéditions était plus ou moins secrète. C est ce qui explique, sans doute, le manque de récits. D autres références ont été publiées par Hans Staden et Tête de Vache, et dans les lettres des premiers prêtres à leurs supérieurs. Mais les Carijó ont été, sans doute, ceux qui ont supporté les premiers chocs avec les européens, aussi bien dans l île São Francisco que tout au long de la côte. De la cordialité et de la curiosité sur ces étranges hommes barbus, couverts de vêtements qui sentaient mauvais, qui descendaient d énormes bateaux en se servant de bruyantes armes à feu et portant des lames en acier #

aiguisées, ont surgi, les décennies suivantes, la crainte et la peur, en raison de la violence et de la volonté explicite, de la part des nouveaux-arrivés, de les soumettre. Le rapt suivi du travail esclave, l abus sexuel des femmes et l usurpation des biens des indiens, malgré les convictions chrétiennes des conquéreurs, sont devenus routine. Simultanément, les européens ont infecté les indiens avec des maladies qu ils méconnaissaient jusqu alors, comme la variole, la rougeole, la grippe, la pneumonie, la tuberculose et la gonorrhée.Les épidemies, ainsi, ont détruit l équilibre démographique des villages et leur organisation socio-économique. En même temps, les croyances religieuses, qui donnaient support à l explication du monde dans lequel vivaient les Carijó, ont été dévalorisées par les prêtes qui sont arrivés pour les cathéchiser. La conquête, donc, a été violente, les envahisseurs ayant obtenu des résultats rapides du fait de dominer les armes à feu, en acier et, incroyablement, les germes. Il s agit, donc, d un exemple qui aide à comprendre la suprématie de quelques sociétés sur les autres, à partir de l exercice de la violence. Cette violence a été telle, dans le cas des Carijó, que le siècle suivant (XVIIème) il n y avait plus de village sur le littoral. Il ne faut pas croire, cependant, que la population native était réduite. Des récits montrent que, entre Cananéia (SP) et Lagoa dos Patos (RS) il devait y avoir autour de cent mille Carijó. Des sites archéologiques variés rendent compte d une présence numérique significative d indiens. L Archéologie, cependant, n a pas encore de données suffisantes pour produire un calcul démographique sûr des peuples qui ont vécu ici avant l invasion européenne. La raison qui poussait la plupart des navigateurs à venir explorer l Atlantique Sud, aux


premières décénnies du XVI ème siècle, était la découverte d un passage pour le Pacifique qui leur aurait permis d arriver aux Indes, c est-à-dire à l Orient, par l ouest. Dans cette quête ils ont atteint le fleuve de la Prata, qui est devenu une option pour atteindre les terres du Pérou et de la Bolivie. Ils s intéressaient, avant tout, à la conquête facile de richesses et, quand cela leur manquait, l appropriation d êtres humains, c est-àdire, d indiens, a été monnaie courante. Ils les utilisaient comme témoins exotiques de leur passage par des pays étranges, objets sexuels ou esclaves. Dans le récit de Pigafeta sur l expéditon de Fernão de Magalhães autour de la Terre (15191521), un groupe de femmes indiennes, qui avait été enlevé sur la côte du Rio de Janeiro pour servir l équipage, est mentionné. Ces femmes ont été simplement abandonnées quand ils sont passés par la Terre du Feu. Il est donc permis de penser que, à l époque, des pratiques de cette nature étaient routine parmi les équipages, et que celui-là dut être le destin de nombreuses femmes Carijó qui vivaient sur la côte. Le passage de l adelantado Tête de Vache dans l île Santa Catarina (1541) et, après, son incursion dans le Paraguai, en suivant le fleuve Itapocu (dont l embouchure est proche de l île São Francisco do Sul), sur le même chemin parcouru, avant, par Aleixo Garcia et ses compagnons, ont laissé des ténues références sur les Carijó et sur les Guarani qui occupaient l intérieur du pays, surtout aux proximités des grands fleuves qui formaient le bassin du Paraná-Uruguai. Après, la meilleure référence est celle de Hans Staden, aventurier allemand qui a embarqué comme arcabusier dans une expédition espagnole qui se dirigeait à l Amérique du Sud. Il a configuré la première carte de

l île Santa Catarina qui a fait ressortir un village indien placé dans le continent d en face. Les aventures de Staden ont été publiées en 1557, en Allemagne. À travers ses notes on infère que les Carijó étaient de plus en plus soumis aux desseins des blancs qui s intéressaient chaque fois davantage à la production des indiens pour ravitailler leurs bateaux. Le rôle exercé par ces aventuriers qui se sont laissés rester parmi les indiens a été fondamental dans cette procédure, puisqu en plus d apprendre leur langue et faire les interprètes, c étaient eux les responsables par les rapports plus effectifs, en profitant, surtout, de l institution du «cunhadismo», pratique usuelle parmi les habitants du pays. Il s agissait, pour les Carijó, d incorporer l étranger à sa famille, de préférence en lui donnant sa soeur pour épouse. C est-à-dire que les indiens avaient, dans leur structure sociale, un mécanisme d absorption de l étranger par le mariage. Comme le polygénisme était institutionnalisée dans la société carijó, il n était pas étonnant que beaucoup de blancs aient été contemplés avec plusieurs femmes devenant, de cette façon, alliés de plusieurs familles. À partir de ce genre d alliances ces aventuriers se sont créés les moyens de soumettre beaucoup d indiens à leurs desseins. Les villages étaient formés par de grandes familles où prédominaient l exogamie et la réciprocité dans les relations économiques, c est-àdire, la circulation des biens avait pour but de répondre aux besoins de tous, et non seulement de quelquesuns. Ils pratiquaient ce qu on pourrait appeler «l économie de l abondance». Des leaders #


religieux avaient une grande importance dans l organisation sociale et dans le quotidien de chaque groupe. Une forte relation avec la nature, ayant pour base le profit des ressources disponibles de façon peu agressive, et l empire des techniques agricoles, de la chasse et de la pêche garantissaient un équilibre extraordinaire avec l environnement. Ils connaissaient plusieurs variétés de maïs, de haricots, de manioc et de potiron, qu ils cultivaient dans de petits potagers formés avec l aide de branches et brindilles. Ils cultivaient encore le coton, le tabac, la calebasse et bon nombre de plantes médicinales. À commencer par le capitine de Gonneville et ses compagnons, ce furent les Carijó qui ont passé aux européens les savoirs nécessaires à la survivance dans l espace géographique qu ils envahissaient. Ces savoirs sont arrivés jusqu à nous parce qu ils ont été assimilés par la population qui a finit par dominer. Pour n avancer que quelques exemples, nous rappelons l importance de la farine de manioc, du poisson grillé, des herbes,des lianes et des cultures comme le manioc, le haricot et le maïs, ou la fabrication de paniers, l usage du bateau fait du tronc d un arbre, le piège, le mundéu4, le covo5, la fronde et le harpon dans la vie quotidienne des générations qui se sont succédées sur le littoral sud. En plus, les Carijó ont laissé, pour témoigner de leur présence prolongée dans l île São Francisco do Sul et alentours, plusieurs toponymes, parmi lesquels nous signalons, à titre d exemples: Babitonga, Araquari, Itapoá, Itaguaçu, Iperoba, Itapocu, Ubatuba, Tapera, Una, etc. Il est évident que les Carijó n ont pas complètement disparu. Dispersés en petits groupes, ils se sont réfugiés dans les points les plus inaccessibles du littoral et de l intérieur. D autres ont été obligés de co-habiter avec les blancs dans #

la condition d esclaves. Le nom Carijó a été attribué par les européens aux Guarani qui vivaient sur la côte sud, comme il a déjà été dit. Ces indiens occupaient un vaste territoire, y compris une bonne partie de ce qui est, aujourd hui, le Paraguay, la Bolivie, l Argentine et l Uruguay, en plus du Brésil. Ils formaient un grand peuple. Pendant les premiers siècles de domination coloniale, ils ont été l objet du travail de catéchèse des prêtres envoyés par la couronne portugaise et, aussi, de l initiative des jésuites espagnols qui ont fondé les réductions de Guaira et, après, de Sete Povos das Missões, entre les fleuves Paraná et Uruguay. Ce sont eux qui, en conséquence de la séparation en villages organisée par les jésuites, ont souffert les plus violentes razzia des chasseurs d esclaves de São Paulo, qui en ont capturé des milliers. Ce sont eux, également, qui ont servi de main-d oeuvre dans l agriculture dans les domaines qui s installaient à São Vicente (SP) et, après, dans une bonne partie du littoral sud. Spoliés en permanence, ils sont restés en marge, plus récemment, de toute politique promue par les organes gouvernamentaux, en particulier par le Service de Protection aux Indiens (SPI) ou par la Fondation Nationale de l Indien (Funai). Ce sont eux qui, dans une situation extrême de pénurie, effraient les médias avec des suicides d enfants et de jeunes, en particulier au Mato Graosso do Sul. Ce sont eux qui, dans un lent et inexorable mouvement, ont retourné sur le littoral sud pour essayer de reoccuper les terres de leurs aïlleuls et d approcher la «terre sans maux», c est le cas de ceux qui ont formé un village dans les endroits nommés Laranjeiras (ou Morro Alto) et Figueira (Araçá). Ce sont ces indiens qui, au jour le jour, exposent, de façon exemplaire, les contradictions de notre société, quand ils cherchent quelques moyens


financiers en vendant des pièces artisanales ou mendiant , aussi bien dans la ville São Francisco do Sul comme au centre des plus grandes villes de l État. Ce sont eux qui continuent, d une façon ou d une autre, à nous montrer, au jour le jour, que d autres façons de vivre en société sont possibles, que la survie humaine n est pas forcément basée sur la concentration de richesses, l exploration agressive des ressources naturelles et une

continuelle et minable dispute de «tous contre tous», comme il est le cas entre nous. Ce sont eux qui, les plus deshérités entre tous, crient à la justice et aux définitions politiques qui leur assureraient, au moins, des morceaux de terre nécessaires à leur reproduction biologique et culturelle, dans le scénario d un pays qui prétend respecter les différences culturelles et garantir les conditions de survie aux minorités ethniques.

Les indiens et la ville Dans ce début du siècle XXI, São Francisco do Sul compte, tous les jours, sur la présence des indiens Guarani. Ces indigènes se trouvent dans le village (Tekoa) «Laranjeiras», connu, aussi, sous le nom de «Morro Alto», situé à la périphérie de la ville. Dans ce village vivent autour de 60 indiens qui attendent la démarcation de leurs terres par la Fundação Nacional do Índio (Funai). Dans un lieu-dit près de là, connu sous le nom de village «Araçá» ou «Figueira», vit un autre petit groupe guarani. Les populations de ces villages ont, comme principale source de subsistance, l artisanat qu ils confectionnent et la culture du maïs (avati ete). Toutes les deux activités sont réalisées selon leurs traditions culturelles. L artisanat qu ils produisent est commercialisé dans les rues de la ville, surtout pour les touristes qui la visitent. Ces indiens comptent sur l appui de la Funai et de la Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Un programme de la Funasa maintient des agents de santé dans les limites de la terre des indiens, ce qui facilite l identification immédiate des maladies qui exigent davantage de soins. Le village «Laranjeiras» dispose de quelques maisons en bois et une école en maçonnerie. Dans cette dernière, en raison d un accord entre la Funai et la mairie municipale de São Francisco do Sul, l enseignement bilingue de

1 La graphie Carijó et celle d autres peuples indiens sont conformes ce qui a été établi à la convention instituée par la 1ère Réunion Brésilienne d Anthropologie (Rio de Janeiro, 1953), dont le texte a été publié à la Revista de Antropologia, v.2, n° 2, décembre 1954, São Paulo. 2 Araucária (Araucaria angustifolia): conifères américains de répartition limité au Brésil subtropical et à l Argentine; dits aussi «pins du Paraná». (Note du traducteur.

36 jeunes indiens est garanti avec l aide de deux maîtres indiens et deux maîtresses du réseau municipal. Actuellement, autour de 700 indiens Guarani vivent dans le littoral de Santa Catarina, en 18 lieux différents. Quelquesuns de ces endroits sont situés dans les municípios voisins de São Francisco do Sul, tels que Garuva (village Yakã Porã), Araquari (villages Jabuticabeira, Pindoty, Piraí/Tiaraju, Tarumã et Ilha do Mel), Barra do Sul (aldeia Conquista/Jataí), Joinville et Guaramirim. Bien que la présence de ces indiens soit visible aux yeux des résidents et des touristes, la dimension de leur histoire et de leur culture échappe, fréquemment, à la plupart de la population de São Francisco do Sul. Cátia Weber

Pour d autres renseignements, voir: CLASTRES, H. A terra sem mal: o profetismo tupi-guarani. São Paulo: Brasiliense, 1978; LITAIFF, A. As divinas palavras: identidade étnica dos Guarani Mbyá. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1996; SCHADEN, E. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: EDUSP, 1974; e DARELLA, M. D. P. Parecer antropológico relativo às comunidades Guarani da Região Litoral Norte de Santa Catarina e o Projeto de Construção da Linha de Transmissão de Energia Elétrica da Substação de Joinville a São Francisco do Sul (230 kV). Florianópolis: Museu de Antropologia/UFSC, 2001.

Version française de Prous, op. cit.) 3 Il y a tradition quand un groupe d éléments ou de techniques persiste un certain temps. Itararé est une céramique sans décor peint. (Note du traducteur) 4 Grand récipient en pierre ou étaient déposées le sable aurifère apporté par les eaux. (Note du traducteur) 5 Espèce de filet servant d instrument de pêche. (Note du traducteur)

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Uma história bem mais antiga: a ocupação pré-colonial MARIA JOSÉ REIS


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PRÉCÉDENTE :

Guilherme Tiburtius (de chapéu), em acampamento no Sambaqui Itacoara, Baía da Babitonga, na década de 1940. Guilherme Tiburtius (en chapeau), dans um campement au Sambaqui Itacoara, Baie de la Babitonga, dans les années 40. A CERVO / A RCHIVES : M USEU A RQUEOLÓGICO P ÁGINA

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À CÔTÉ :

Fragmento de um texto sobre o Sambaqui de Enseada, São Francisco do Sul, elaborado por Tiburtius, em 1965. Fragment d un texte sur le Sambaqui de la Enseada, SFS, elaboré par Tiburtius en 1965. A CERVO / A RCHIVES : M USEU A RQUEOLÓGICO

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m todo o litoral catarinense, há a ocorrência de uma enorme quantidade de sítios arqueológicos pré-coloniais, isto é, de locais que apresentam vestígios da existência de grupos humanos que ocuparam esses espaços antes da chegada dos colonizadores europeus. Esta concentração também ocorre nas praias, margens de rios e de lagos da Ilha de São Francisco do Sul e do entorno da Baía da Babitonga como um todo, onde foram localizados cerca de 150 sítios arqueológicos, comprovando a presença indubitável desses grupos. Entre os sítios pré-coloniais, os que têm maior visibilidade e são, por essa razão, os mais facilmente reconhecidos e localizados estão os sambaquis, designação que significa no idioma Tupi amontoado de conchas (tamba = concha e ki = amontoado). Além de chamarem a atenção por suas dimensões que, originalmente, chegavam a atingir por volta de 30 metros de altura e mais de uma centena de metros de extensão em seu eixo maior, pesquisas arqueológicas dão conta de sua maior antigüidade em relação aos demais sítios registrados no litoral catarinense.


Datações realizadas através de métodos físicoquímicos atestam que os sambaquis foram formados a partir de cerca de 5.000 anos atrás1, persistindo a presença de grupos responsáveis por sua formação até cerca de setecentos anos, época aproximada, portanto, da chegada dos primeiros visitantes europeus. Os sambaquis são formados por restos de animais aquáticos, sobretudo de moluscos marinhos, de restos de peixes de diferentes tipos e de mamíferos marinhos e terrestres, estes últimos em menores proporções. Faz parte, também, da composição desses sítios uma série de artefatos, testemunhos de atividades

desenvolvidas pelas populações humanas responsáveis por sua formação. São artefatos líticos elaborados tendo como matéria-prima diferentes tipos de pedras; artefatos ósseos e conchíferos, confeccionados a partir de ossos de alguns dos animais e das próprias conchas, sendo registrados, ainda, nas camadas superficiais de alguns deles, artefatos cerâmicos, modelados com argila misturada a outros elementos como areia e cinza. É importante destacar que, além da comprovação, através dos referidos artefatos, de que os sambaquis são obra de grupos humanos que ocuparam São Francisco do Sul em tempos précoloniais, a inquestionável presença humana nesses #%


sítios é atestada, também, pela ocorrência de sepultamentos, nos quais os esqueletos se encontram em íntima associação com certos artefatos e adornos como colares de conchas e machados líticos, e com outras evidências que explicitam sua intencionalidade. Entre essas evidências se destacam determinadas posições padronizadas em que os esqueletos são encontrados, seu envolvimento, por vezes, em corantes de origem mineral, como o pó de hematita vermelha, ou sua deposição, em determinados casos, em covas preparadas através do revestimento com argila e com areia. Além das evidências a que acabamos de nos referir, a presença humana pré-colonial na região é testemunhada através do registro de sítios de um outro tipo, a que os arqueólogos denominam de sítios-oficina2, localizados, via de regra, nas proximidades dos sambaquis e provavelmente a eles associados, no passado. São um conjunto de sulcos e de depressões produzidos artificialmente na superfície

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Zoólito coletado por Tiburtius no Sambaqui de Linguado, São Francisco do Sul. Zoolithe recueilli par Tiburtius au Sambaqui de Linguado, SFS. F OTO / P HOTO : R UI A RSEGO . A CERVO / A RCHIVES : M USEU A RQUEOLÓGICO P ÁGINA

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CÔTÉ :

Localização de sítios arqueológicos em São Francisco do Sul no entorno da Baía da Babitonga, conforme Atlas ambiental da região de Joinville. Localisation des sites archéologiques à SFS et entours de la baie de la Babitonga, d après l Atlas Ambiental da Região de Joinville. A BAIXO / E N

BAS :

Escavação no Sambaqui de Enseada, na década de 1960, realizada pela equipe do Museu de Antropologia (UFSC), sob a coordenação de Anamaria Beck. Excavation au Sambaqui de Enseada réalisée les années 60 par l équipe du Museu de Antropologia (UFSC) sous la direction de Anamaria Beck. FOTO / P HOTO: A NAMARIA B ECK . A CERVO / ARCHIVES : M USEU U NIVERSITÁRIO UFSC.


de afloramentos rochosos, localizados nas praias e nas margens de rios e lagos. Ambos foram provocados pela fricção, nessas superfícies, de pequenos blocos de pedra, misturados com água e areia, tendo como objetivo o preparo de artefatos líticos, tais como lâminas de machados, talhadeiras e raspadores. Foram, ainda, registrados no entorno da Baía da Babitonga sítios arqueológicos denominados genericamente de sítios rasos. As evidências mais facilmente detectadas nesses sítios são a concentração de artefatos líticos e pedaços de cerâmica depositados superficialmente em manchas de solo escuro, de 30 a 50 cm de profundidade, comumente denominadas de terras pretas, ou misturados com restos de conchas de moluscos, de peixes e de mamíferos. Seja como for, as citadas evidências comprovam, do mesmo modo, a presença e a passagem, em tempos pretéritos, na região e no território atual de São Francisco do Sul, de grupos humanos de diferentes tradições culturais, responsáveis por sua ocupação no período précolonial. A existência desses grupos, cujos vestígios arqueológicos estão depositados nos sambaquis, registrados em todo o litoral catarinense e brasileiro, foi noticiada, de modo fortuito, como aponta Beck3, do século XVI ao século XIX, através de documentos escritos, referidos genericamente como fontes etnohistóricas, tais como cartas, diários e relatórios de missionários, viajantes, militares e administradores coloniais. A partir do século XIX, até a primeira década do século XX, esses sítios arqueológicos passaram a merecer maior atenção, através dos trabalhos de estudiosos de história natural que deram início a discussões sobre a origem dos sambaquis, utilizando-se de dados provenientes de sua estratigrafia, localização, artefatos, sepultamentos humanos, restos faunísticos e cronologia. Vale

destacar que os estudos de alguns destes naturalistas4, como os dos alemães Virchow (l872), Winner (1876) e Steinen (l887), estiveram voltados para diferentes sambaquis, entre os quais alguns deles localizados em São Francisco do Sul, em sua maioria já destruídos. Contudo, é a partir do final da primeira década do século XX que passam a ocorrer, no Brasil, estudos sistemáticos voltados exclusivamente para a análise de vestígios de ocupações pré-coloniais. Os sítios arqueológicos localizados em São Francisco do Sul, de modo especial os sambaquis, passaram, por sua vez, a ser objeto deste tipo de estudo há cerca de 50 anos. Entre as pesquisas pioneiras5 destacam-se as dos arqueólogos pe. Alfredo Rohr, Allan Bryan, Walter F. Piazza e Anamaria Beck, e as do geólogo João José Bigarella que, juntamente com Guilherme Tiburtius, arqueólogo amador, forneceram #'




Sítio-oficina localizado no costão da Praia de Enseada, no lado oposto à localização do sambaqui. Site-atelier situé à la côte rocheuse de la Praia de Enseada, du côté opposé à la localisation du sambaqui P ÁGINA

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Vista geral do Sambaqui de Linguado II. Vue générale du Sambaqui de Linguado II. F OTOS / P HOTOS : A NAMARIA B ECK . A CERVO / A RCHIVES : M USEU U NIVERSITÁRIO

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importante contribuição ao conhecimento dos sítios arqueológicos de toda a região da Baía da Babitonga. Deve-se a esses trabalhos e, de modo especial, à coleção de artefatos arqueológicos reunidos por Tiburtius a instalação do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, onde está preservado importante acervo proveniente dos sambaquis localizados em São Francisco do Sul e em outros municípios do litoral norte do Estado. Mais recentemente, sobretudo a partir da década de noventa, a exigência de elaboração de estudos de impacto ambiental para a implantação, por exemplo, de complexos industriais e gasodutos, propiciou a localização de novos sítios arqueológicos, por parte de jovens arqueólogos e historiadores, cujos estudos de caráter acadêmico têm, também, colocado em discussão a realidade pré-colonial da região6. As pesquisas pioneiras acima referidas forneceram datações relativas à ocupação de determinados sítios arqueológicos, informações sobre o conteúdo desses sítios e, de modo especial, caracterizações e interpretações sobre o modo de vida dos povos que ocuparam os locais onde têm sido registrados esses vestígios. Somados os resultados de suas análises aos trabalhos recentes produzidos sobre essa problemática, foi possível esboçar um panorama, ainda que repleto de indagações e lacunas, sobre a ocupação pré-colonial de São Francisco do Sul. Vale ressaltar que também as chamadas informações etnohistóricas, bem como a analogia etnográfica, propiciadas por relatos e estudos especializados mais recentes realizados sobre povos indígenas, alguns cujos descendentes sobrevivem até os dias atuais, subsidiaram e inspiraram, também, parte desses pesquisadores. Uma primeira e mais evidente constatação, tendo em vista a diversidade de vestígios e de sítios arqueológicos encontrados, associada à ampla dimensão temporal em que foram produzidos, é a da

ocorrência de mudanças, ao longo desse tempo, na constituição e no conteúdo cultural dos sítios, fazendo supor a existência de distintos padrões de subsistência ou, no mínimo, variações em alguns de seus elementos. Assim é que se pode hoje afirmar que o litoral de Santa Catarina, e nele o território atualmente delimitado como pertencente ao município de São Francisco do Sul, foi ocupado, inicialmente, por grupos humanos coletores-pescadores, que chegaram a esse litoral por volta de 5.000 anos atrás, explorando um ambiente pródigo em recursos alimentares, sobretudo aquáticos, e dando origem aos sambaquis. Uma farta e diversificada fauna marítima foi explorada, especialmente a fauna malacológica, representada por berbigões, mariscos e ostras. Entretanto, como afirma Beck7, a coleta desses moluscos não foi a única técnica de obtenção de alimentos. A pesca de corvinas, miraguaias, pescadas, tainhas e certos tipos de seláqueos é atestada pelo registro dos restos desses animais. Do mesmo modo, foram encontrados restos de siris, caranguejos e baleias, além de alguns tipos de mamíferos terrestres como pacas, antas e porcos-domato, e de ossos de aves. Além da pesca e da coleta de moluscos, vegetais também foram certamente coletados, frutas diversas, mel silvestre e insetos, a exemplo do que ocorria com outros grupos de pescadores-caçadores. Por outro lado, os artefatos representativos da cultura material dos povos que viveram nesses sítios arqueológicos fazem supor que eles foram, ao mesmo tempo, locais de habitação e de sepultamento de seus mortos. Quanto aos vestígios de habitações, além de inúmeros artefatos destinados ao desempenho de tarefas cotidianas, a evidência de fogueiras atesta a ocorrência de atividades de cozimento de alimentos, sendo encontrados, ainda, locais que deveriam conter estacas, prováveis suportes de abrigos, sem $!


que, contudo, tenha sido possível reconstituir as formas originais desses abrigos. De outra parte, o que não deixa dúvidas sobre serem também sítios destinados a enterrar seus mortos são as evidências acima referidas e o encontro sistemático de esqueletos humanos nos sambaquis de São Francisco do Sul, que foram objeto de pesquisas arqueológicas sistemáticas. De acordo com Kern8, a diversidade de artefatos encontrados nos sambaquis, de um modo geral, e o esmero com que foram manufaturados demonstram, desde as primeiras manifestações de cultura material, uma grande capacidade artesanal e o perfeito domínio de técnicas, principalmente em relação ao polimento dos artefatos líticos e daqueles elaborados a partir de ossos. Além dos artefatos líticos polidos, foram registrados artefatos lascados, sendo possível constatar uma gama de tipos de diferentes utensílios e objetos de adorno. Pesquisas realizadas nos sambaquis de São Francisco do Sul, como as que já foram referidas, dão conta de uma relativa homogeneidade de tipos de artefatos encontrados nas camadas mais profundas desses sítios. São eles, em termos de artefatos líticos, lâminas de machados e facas; pesos de rede para a pesca e pesos de anzol; furadores para furos circulares; talhadeiras para cortar madeira ou ossos; raspadores úteis para limpar peles de animais; alisadores de hastes de pontas de flechas e lanças;

Artefatos confeccionados sobre ossos de mamíferos, de aves e de seláqueos, coletados no Sambaqui de Enseada. Objets fabriqués avec des os de mammifères, oiseaux et poissons, recueillis au Sambaqui de Enseada. P ÁGINA

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Dentes de seláqueos e dentes de mamíferos preparados provavelmente para servirem de adornos, coletados no Sambaqui de Enseada. Dents de poissons et dents de mammifères préparés sans doute, pour servir de parure, ramassés au Sambaqui de Enseada. F OTOS / P HOTOS : A NAMARIA B ECK . A CERVO / A RCHIVES : M USEU U NIVERSITÁRIO

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pequenas mãos de pilão destinadas, provavelmente, para esmagar corantes; seixos com sinais de utilização, talvez como quebra-cocos, e placas de adorno peitoral. Aos artefatos líticos somam-se ossos calcinados de baleia, utilizados supostamente para alimentar a combustão das fogueiras, e artefatos elaborados a partir de dentes de animais, destinados a uma variedade de funções, destacando-se, entre elas, sua elaboração como pontas de flecha e de arpões e seu uso como adornos. Contam-se, ainda, além de artefatos de ossos de aves, de mamíferos e de peixes elaborados para desempenhar a função de anzóis e igualmente de pontas , vértebras de peixes perfuradas, formando também adornos sob a forma de colares e braceletes, e pequenos caramujos preparados também para o mesmo fim. Por último, é indispensável registrar a presença dos chamados zoólitos, ou seja, peças líticas representando animais marinhos tais como arraias, cetáceos, baleias, além de raros peixes e de aves que parecem ser reproduções de pombas e de corujas, os quais, como lembra Bandeira9, sugerem um conteúdo cultural de acentuado simbolismo, tanto por sua sofisticada elaboração técnica quanto pelo valor estético que apresentam. Por volta de 1.000 anos atrás registram-se, contudo, nos sambaquis do litoral norte de Santa Catarina, inclusive nos de São Francisco do Sul, alterações na composição de suas camadas mais superficiais, tanto no que diz respeito aos restos faunísticos quanto aos artefatos que as constituem. Trata-se, conforme Beck10, da presença mais acentuada de restos de peixes ao invés da de moluscos, e de artefatos associados à sua captura, elaborados a partir de ossos e dentes de animais, como anzóis, em grande quantidade, e pontas de projéteis mais elaboradas.

Todavia, é a cerâmica o elemento da cultura material registrado nessas camadas que mais tem sido destacado como possível indício de sua ocupação por um grupo humano distinto daqueles que foram responsáveis pela construção dos sambaquis em tempos mais antigos podendo, inclusive ser, além de pescadores e coletores, praticantes de uma agricultura, ainda que incipiente. Esta cerâmica, tanto pela forma de vasilhames entre os quais panelas e tigelas quanto pelo tipo de pasta e acabamento de superfície, é similar à que tem sido encontrada em sítios rasos do litoral, e em diferentes sítios, ambientes das encostas das serras e do planalto catarinense, e de outros Estados do sul do País. Trata-se de uma tradição cerâmica denominada de tradição itararé, que diferentes arqueólogos11 têm

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sugerido ser uma cerâmica característica de grupos indígenas classificados lingüisticamente como Jê. Estão entre esses grupos, os Kaingang e os Xokleng, que vivem também no território catarinense, tendo sido aventada a hipótese de que os produtores da cerâmica itararé seriam ancestrais desses grupos. Além da presença, em todo o litoral catarinense, dos grupos responsáveis pela existência dos sambaquis e dos sítios acima caracterizados, contendo a cerâmica itararé, tem sido registrada a ocorrência de outros sítios rasos, datados no litoral sul do Brasil a partir de 1.000 a 500 anos atrás, pouco antes, portanto, da chegada dos colonizadores europeus. Trata-se de sítios contendo elementos da cultura material, de modo especial cacos de cerâmica que tem sido classificada12 como pertencente à tradição tupi-guarani. A partir desta identificação, tanto em relação à decoração externa dos vasilhames de cerâmica quanto às suas formas e aos seus usos, associada à localização dos vestígios arqueológicos, de um modo geral mais afastados do mar e próximos de rios e lagoas, esses sítios têm sido identificados como pertencentes aos índios Guarani, que entraram em contato com os primeiros colonizadores europeus, como foi dito no capítulo anterior. Embora apenas três deles tenham sido registrados no litoral norte de Santa Catarina13, são abundantes as informações sobre os Guarani $$

A CIMA ,

À ESQUERDA

A CIMA ,

À DIREITA

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HAUT , À GAUCHE :

Peças líticas (mão de pilão, batedor, lâmina, adorno, ponta de flecha e quebracoco) coletadas em sambaquis de São Francisco do Sul. Pièces lithiques (des manches de pilon, des batteurs, des lames, des parures, des pointes de flèches et des casse-noix de coco) recueillies dans des sambaquis de SFS. / EN

HAUT , À DROIT :

Peças cerâmicas coletadas por Tiburtius no Sambaqui de Enseada. Pièces em céramique ramassées par Tiburtius au Sambaqui de Enseada. / P AGE D À

CÔTÉ :

Contas de colar confeccionadas em osso, coletadas em sambaqui de São Francisco do Sul. Des perles em os pour la confection de colliers, recueillies dans un sambaqui de SFS. F OTOS / P HOTOS : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ). A CERVO / A RCHIVES : M USEU A RQUEOLÓGICO

DE

S AMBAQUI

DE

J OINVILLE .

provenientes sobretudo de numerosos estudos antropológicos sobre grupos atuais pertencentes a essa etnia, e de algumas fontes etno-históricas igualmente já referidas. Entretanto, mesmo que os achados arqueológicos realizados no litoral norte de Santa Catarina e de modo especial em São Francisco do Sul forneçam informações sobre sua inquestionável ocupação pré-colonial e sobre aspectos tais como a relação dessa última tradição arqueológica com os atuais Guarani, o mesmo não pode ser dito com igual certeza sobre a identificação das demais populações responsáveis pela ocorrência dos outros sítios na região. Ainda que tenha sido sugerida nas interpretações arqueológicas sua ocupação sucessiva por diferentes grupos indígenas, dúvidas persistem, por exemplo, sobre como aconteceu essa sucessão.


Teria, realmente, de algum modo, ocorrido a chegada de levas migratórias ao litoral, provocando as mudanças culturais registradas nos sambaquis? Se assim foi, que tipo de contato foi mantido entre seus primeiros ocupantes e as novas populações? Ou seria plausível propor que poderiam ter ocorrido mudanças internas na cultura original, por diferentes razões, entre as quais alterações climáticas, sem a influência de grupos externos? Seriam apenas os vestígios cerâmicos, como no caso da tradição itararé, suficientes para indicar identificações e continuidades entre os vestígios arqueológicos e grupos indígenas atuais? Certamente, as respostas a essas e muitas outras indagações sobre o passado pré-colonial de São Francisco do Sul só serão obtidas com a intensificação das pesquisas sobre seu patrimônio arqueológico e, como sugere Bandeira14, através de uma detalhada identificação e análise de novas fontes etno-históricas. Para tanto, contudo, é indispensável garantir, além do acesso a essas fontes, a conservação de todos os vestígios arqueológicos, como verdadeiros bens patrimoniais, tanto quanto o são, no dizer de

Arantes 15, o patrimônio arquitetônico urbano, as tradições culturais e as paisagens naturais. A preservação desse patrimônio, de acordo com Bezerra de Meneses 16, como todo trabalho de memória, volta-se para o passado, mas é constantemente realizada a partir de demandas do presente. Nada mais oportuno, portanto, para São Francisco do Sul, no momento em que comemora os 500 anos da chegada dos primeiros visitantes europeus, que incorporar, como parte de sua memória histórica, os cerca de 4.500 anos que antecederam a chegada desses visitantes. Trata-se, assim, de uma história bem mais antiga, porém não menos importante. Incorporála permitirá ampliar o diálogo sempre inacabado entre o presente e o passado. Permitirá, sobretudo, fazer justiça histórica através do reconhecimento e da valorização de experiências de grupos que, por terem sido dominados no passado e viverem marginalizados no presente, são, com freqüência, esquecidos ou excluídos da memória coletiva local e regional.

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BANDEIRA, Dione da Rocha. Ceramistas pré-coloniais da Baía da Babitonga, SC: Arqueologia e etnicidade. 2004. (Tese de Doutorado) Universidade de Campinas/Unicamp, Campinas (SP). BECK, Anamaria. Sambaqui de Enseada I SC.LN.71: um estudo de tecnologia pré-histórica. 1973. (Tese de Livre-Docência). Universidade Federal Santa Catarina, Florianópolis. ______. Sambaquis: tecnologia e subsistência. Anais do Museu de Antropologia da UFSC. Florianópolis, 1978. BEZERRA DE MENESES, Ulpiano. Os usos culturais da cultura: contribuição para uma abordagem crítica das práticas e políticas culturais. In: YÁZIGI, Eduardo et al (Org.) Turismo: espaço paisagem e cultura. 3 ed., São Paulo: Ucitec, 2002. BROCHADO, José. A tradição cerâmica tupi-guarani na América do Sul. Clio, Revista do Mestrado em História. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, n. 3, 1980. CHYMZ, Igor. Considerações sobre duas novas tradições ceramistas arqueológicas no Estado do Paraná. Pesquisas (Antropologia). Anais do 2º Simpósio de Arqueologia da Área do Prata. São Leopoldo (RS): IA, 1968. KERN, Arno. 1998. Antecedentes indígenas. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1998. OLIVEIRA, Mário Sérgio C.; BANDEIRA, Dione da Rocha. Arqueologia. In: KNIE, Joachim L. W. (Org.) Atlas ambiental da região de Joinville: complexo hídrico da Baía da Babitonga. Florianópolis: FATMA/GTZ, 2002. SCHMITZ, Pedro. Complexos de cerâmica indígena no sul do Brasil. Pesquisas (Antropologia). Anais do 2º Simpósio de Arqueologia da Área do Prata. São Leopoldo, 1968.

Oliveira e Bandeira (2002). Cf. Amaral (1995). Beck (1973). Uma descrição detalhada da contribuição desses autores pode ser encontrada em Beck, op.cit. 5 Para uma síntese sobre esses trabalhos, veja-se, entre outros, Bandeira (2004). 6 Conforme Bandeira, op.cit. 7 Beck (1978). 8 Kern (1998). 9 Bandeira, op.cit. 10 Beck (1973). 11 Sobre essa tradição, veja-se, especialmente, Chymz (1968) e Schmitz (1968). 12 Sobre a cerâmica tupi-guarani, veja-se, entre outros, Brochado (1980). 13 Cf. Bandeira, op.cit. 14 Bandeira, op.cit. 15 Arantes (1984). 16 Bezerra de Meneses (2002). R E F E R Ê N C I A S AMARAL, Maria Madalena V. do. As oficinas líticas de polimento da Ilha de Santa Catarina.1995. (Dissertação de Mestrado) Programa de Pós-Graduação em História da PUC. Porto Alegre. ARANTES, Antônio Augusto. Produzindo o passado: estratégias de construção do patrimônio cultural. São Paulo: Brasiliense: Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 1984.

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Une histoire bien plus ancienne: l occupation pré-coloniale

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out au long du littoral de Santa Catarina, il existe une énorme quantité de sites archéologiques précoloniaux, c est-à-dire, des lieux qui contiennent des vestiges de l existence de groupes humains qui ont occupé ces espaces avant l arrivée des colonisateurs européens. Un ensemble de ce genre de sites existe aussi sur les plages, les bords des fleuves et de lacs de l île São Francisco do Sul et des alentours de la Baie de la Babitonga, région où ont été trouvés l emplacement d environ 150 sites archéologiques, confirmant, de façon catégorique, la présence de groupes humains. Parmi les sites pré-coloniaux, ceux qui ont une plus grande visibilité, étant, en conséquence, les plus facilement reconnus et situés, ce sont les sambaquis, ce qui signifie, dans la langue Tupi «un entassement de coquilles» (tamba=coquille et ki=entassement). En plus d attirer l attention par leurs dimensions qui, à l origine, atteignaient jusqu à 30 mètres de hauteur et plus d une centaine de mètres de long en son plus grand axe, des recherches archéologiques prouvent que ce sont les sites les plus anciens du littoral de l État de Santa Catarina. Les datations réalisées par des méthodes


physico-chimiques attestent que les sambaquis ont été formés à partir d il y a 5000 ans environ.1 La présence de groupes responsables par leur formation ont persisté jusqu à il y a sept cents ans environ, date qui coïncide, à quelques années près, avec celle de l arrivée des premiers visiteurs européens. Les sambaquis sont formés par des restes d animaux aquatiques, surtout des mollusques marins, des restes de poisson de différentes espèces et de mammifères marins et terrestres, ces derniers en plus petite proportion. Dans la composition de ces sites on trouve, aussi, des objets artisanaux, témoins des activités developpées par les populations humaines responsables par sa formation. Ce sont des pièces lithiques élaborées, dont les matières premières sont de différents types de pierre; des objets en os et coquilliers, confectionnés à partir d os de certains animaux et des coquillages. Dans les couches plus superficielles de quelques-uns de ces sites ont été trouvés, encore, des objets en céramique, modelés avec de l argile mélangée à d autres matériaux comme du sable et de la cendre. Il est important de souligner que, en plus de la preuve qui représentent ces pièces, montrant que les sambaquis sont l oeuvre de groupes humains qui ont habité São Francisco do Sul dans une époque pré-coloniale, l indéniable présence humaine dans ces lieux est attestée, également, par l occurrence d inhumations, les squelettes se trouvant en association intime avec certains objets et parures, comme des colliers de coquillages et haches lithiques, en plus d autres évidences (en particulier certaines positions standardisées des squelettes, le fait qu ils soient enveloppés, des fois, par des colorants d origine minérale, comme la poudre d hématite rouge, ou par le fait d être déposés, dans certaines situations, dans des fosses couvertes d argile et de sable) qui formalisent

l intentionnalité. En plus de ces évidences, la présence humaine pré-coloniale dans la région est montrée dans le registre de sites d un autre genre, que les archéologues appelent des sites-ateliers2, placés, normalement, aux proximités des sambaquis auquels ils étaient, sans doute, associés à l époque. C est un ensemble de sillons et dépressions peu profonds dans les formations de grès, situés sur les plages et aux bords de fleuves et lacs. Tous les deux ont été le résultat d une friction, sur ces superficies, de petits blocs de pierre mélangés à de l eau et du sable, destinés à la préparation d objets lithiques, tels des lames de hache, des instruments à tailler et des grattoirs. Aux alentours de la Baie de la Babitonga ont été encore régistrés des sites archéologiques appelés, d une façon générique, des sites semi souterrains. Les évidences le plus facilement détectées, dans ces sites, ce sont la concentration d objets lithiques et des tessons de céramique déposés superficiellement dans des couches de sol foncé, de 30 à 50 centimètres de profondeur (normalement dénominées terres noires) ou mélangés avec des restes de coquilles de mollusques, de poissons et de mammifères. Les évidences prouvent, de la même façon, la présence et le passage, en des temps révolus, dans la région et dans l actuel territoire de São Francisco do Sul, de groupes humains de différentes traditions culturelles, responsables par son occupation dans la période pré-coloniale. L existence de ces groupes dont les vestiges archéologiques sont déposés dans les sambaquis trouvés tout au long du littoral de Santa Catarina et brésilien, a été annoncée, de manière fortuite, comme signale Beck3, entre les siècles XVI et XIX, moyennant des documents écrits, référés comme un ensemble de sources ethno-historiques, telles des lettres, journaux et rapports de missionnaires, $'


voyageurs militaires et administrateurs coloniaux. A partir du XIXème siècle, jusqu à la première décennie du XXème, ces sites archéologiques ont mérité une plus grande attention dans des travaux scientifiques d histoire naturelle qui ont mis sur pied des discussions sur l origine des sambaquis, en utilisant des données obtenues moyennant sa stratigraphie, localisation, objets, ensevelissement d êtres humains, des restes fauniques et chronologie. Il est important de souligner que les études de quelquesuns de ces naturalistes4, comme celle des allemands Virchow (1872) et Steinen (1887), ont contemplé plusieurs types de sambaquis, parmi lesquels quelques-uns situés à São Francisco do Sul, déjà détruits pour la plupart. C est à partir de la première décennie du XXème siècle, cependant, qu on fait, au Brésil, des études systhématiques concernant exclusivement l analyse des vestiges pré-coloniaux. Les sites archéologiques situés à São Francico do Sul, de façon spéciale les sambaquis, sont devenus, à leur tour, l objet de ce genre d études il y a 50 ans. Parmi les recherches pionnières5 sont à distinguer celles des archéologues Pe. Alfredo Rohr, Allan Bryan, Walter F. Piazza, Anamaria Beck et celles du géologue João José Bigarelle qui, avec Guilherme Tiburtius, archéologue amateur, ont fourni une importante contribution à la connaissance des sites archéologiques de toute la région de la Baie de la Babitonga. C est grâce à ces travaux et, de façon particulière, à la collection d objets archéologiques réunis par Tiburtius, qu il a été possible d installer le Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, où est preservé un nombre important d objets rétirés des sites qui se trouvent à São Francisco do Sul et en d autres municípios du littoral nord de l État. Plus récemment, surtout à partir des années 90, l exigence des études d impact environnementale pour l implantation, par exemple, de complexes %

industriels et gazoducs, a aidé à situer de nouveaux sites archéologiques par de jeunes archéologues et historiens, dont les études académiques ont mis à l ordre du jour la discussion sur la réalité précoloniale de la région.6 Les recherches pionnières, citées plus haut, ont permis de dater l occupation de certains de ces sites, d obtenir des informations sur leur contenu et, de façon spéciale, de caractériser et interpréter le mode de vie des peuples qui ont occupé les lieux où ces vestiges ont été signalés. En additionnant les résultats des leurs analyses aux travaux récents en la matière, il a été possible d esquisser um panorama, quoique plein de questionnements et lacunes, sur l occupation pré-coloniale de São Francisco do Sul. Il est important de souligner que les informations dites ethno-historiques, aussi bien que l analogie ethnographique contenues dans les récits et études spécialisées plus récentes sur les peuples d indiens (dont certains ont des descendants vivant parmi nous), ont servi de subside et inspiré, aussi, une partie de ces chercheurs. Une première et plus évidente constatation, considérant la diversité de vestiges et de sites archéologiques trouvés, associée au très long espace de temps pendant lesquel ils ont été produits, c est le changement, au fil des années, en la constitution et le contenu culturel des sites, fait qui laisse supposer des modes différents de subsistance ou, tout au moins, des variations dans quelques-uns de ses éléments. Il est ainsi possible d affirmer, de nos jours, que le littoral de Santa Catarina, en particulier le territoire actuellement appartenant au município de São Francisco do Sul, a été occupé, d abord, par des groupes humains collecteurs-pêcheurs, arrivés il y a 5.000 ans environ, pour exploiter un environnement prodigue en ressources alimentaires,


surtout aquatiques, ce qui marque l origine des sambaquis. Une abondante et diversifiée faune maritime a été exploitée, spécialement la faune malacologique représentée par les moules d espèces variées et des huîtres. Cependant, comme affirme Beck7, le ramassage de ces mollusques ne fut pas la seule technique d obtention d aliments. La pêche de corvinas, miraguaias, pescadas, tainhas et certains types de sélaciens est attestée par la présence des restes de ces animaux. Des restes de hérisson-noir, hérisson-de-mer, crabes, tourteaux et baleines, en plus de quelques mammifères terrestres, comme aboutis, tapirs, sangliers et des os de volatiles ont été également trouvés. En plus de la pêche et de la collecte de mollusques, ils consommaient certainement des végétaux, des fruits divers, du miel silvestre et des insectes, à l exemple de ce qu on a pu constater dans d autres groupes pêcheurs-chasseurs. D un autre côté, les objets représentatifs de la culture matérielle des peuples qui ont vécu dans ces sites archéologiques laissent croire qu ils ont été, en même temps, des lieux d habitation et d ensevelissement de leurs morts. En ce qui concerne les vestiges des habitations, en plus d un grand nombre d objets qui aidaient dans les tâches quotidiennes, l évidence de bûchers prouve l occurence d activités de cuisson d aliments. Furent trouvés, également, des endroits qui devaient contenir des pieux, qui avaient dû servir de support pour les abris, sans qu il ait été possible de reconstituer leur forme originelle. Par ailleurs, il est incontestable que ces sites étaient destinés, en même temps, à l enterrement des morts puisque, en plus des évidences déjà signalées, des squelettes humains, qui ont fait l objet de recherches archélogiques, ont été trouvés systémathiquement dans les sambaquis de São Francisco do Sul. D après Kern8, la diversité d objets trouvés dans

les sambaquis, d une façon générale, et le soin appliqué aux manufactures démontre, dès les premières manifestations de culture matérielle, une grande capacité artisanale et le parfait empire des techniques, surtout en ce qui concerne la polissure des objets lithiques et osseux. En plus des objets lithiques polis ont été régistrés des objets taillés, avec une gamme variée d ustensiles et parures. Des recherches réalisées dans les sambaquis de São Francisco do Sul, comme celles qui ont déjà été référées, rendent compte d une relative homogénéité de genres d objets trouvés dans les couches plus profondes de ces sites. Ce sont, concernant les objets lithiques, des lâmes de hâches et couteaux; des poids pour des filets de pêche et poids de hameçon; des perceurs circulaires, des couperets pour bois ou os; des raclettes utiles dans le nettoyage de peaux d animaux; des polissoirs pour tiges de pointes de flèches et lances; de petits manches de pilon destinés, sans doute, à écraser des colorants; des cailloux avec des vestiges d utilisation, peut-être comme casse-noix de coco, et plaques de parure pour la poitrine. Aux objets lithiques se joignent les os calcinés de baleines, utilisés, suppose-t-on, pour alimenter le feu des bûchers et les objets élaborés avec des dents d animaux destinés à des fonctions variées, en particulier comme pointe de flèches et de harpons et comme parure. On y trouve, également, en plus des objets d os de volatiles, de mammifères et de poissons élaborés pour servir de hameçon et des pointes - des vertèbres de poisson perforées par rotation qui forment, aussi, des parures sous la forme de colliers et bracelets, et petits limaçons de mer préparés pour le même usage. En dernier, il est indispensable de registrer la présence des zooïdes, c est-à-dire, les pièces lithiques representant la figure d animaux marins %


comme des raies, des cétacés, en plus de rares poissons et des volatiles qui semblent des reproductions de colombes et de hiboux, lesquels, comme rappelle Bandeira9, suggèrent un contenu culturel de symbolisme accentué, aussi bien par leur élaboration technique sophistiquée que par la valeur esthétique qu ils démontrent. Dans les sambaquis du littoral nord de Santa Catarina -y compris ceux de São Francisco do Suldatés de il y a 1.000 ans environ, ont étés remarqués des altérations dans les compositions des couches plus superficielles, aussi bien en ce qui concerne les restes fauniques que les objets que les constituent. Il s agit, d après Beck10,de la présence plus importante de restes de poissons, au lieu de ceux de mollusques, et d objets associés à leur capture, comme des hameçons en grande quantité et pointes de projectiles plus élaborées. C est plutôt la céramique, cependant, l élément de la culture matérielle trouvé dans ces couches, le plus universellement indiqué comme indice probable d occupation par un groupe humain différent des responsables, en des dates plus lointaines, par la construction des sambaquis. Ils pouvaient éventuellement pratiquer, aussi, en plus d être pêcheurs et collecteurs, l agriculture, quoique incipiente. Cette céramique, aussi bien par la forme des récipients parmi lesquels des casseroles et des bols- que par le genre de pâte et la finition de la superficie, ressemble à celle qui est trouvée, d habitude, dans des sites semi souterrains sur la plaine littorale et dans des sites variés, régions des versants des montagnes et du plateau de Santa Catarina et d autres États du sud du pays. Il s agit d une tradition céramique du nom d itararé, que plusieurs archéologues11 ont tendance à considérer caractéristique de groupes d indiens classés, dans la lingüistique, comme Jê. Les Kaingang et les Xokleng, qui vivent aussi sur les territoires de Santa %

Catarina, en font partie, une hypothèse attribuant la production de ces céramiques à leurs ancêtres a été levée. En plus de la présence, tout au long de la côte de Santa Catarina, des groupes responsables par l existence des sambaquis et des sites caractérisés plus haut, et qui contiennent la céramique itararé, d autres sites semi-souterrains sont datés, en ce qui concerne la côte sud du Brésil, dans la période d il y a 1.000 et 500 ans, peu avant, donc, l arrivée des européens. Il s agit de sites contenant des éléments de la culture matérielle, en particulier des tessons de céramique ayant été classée12, à plusierus reprises, comme appartenant à la tradition tupiguarani. En partant de cette identification, qui concerne la décoration extérieure des récipients de céramique, comme ses formes et usage que l on en fait, associée à l emplacement des vestiges archéologiques, d une façon générale plus éloignés de la mer et proches des fleuves et lagunes, ces sites ont été reconnus comme appartenant aux Guarani, qui ont contacté les premiers colonisateurs européens, d après le chapitre précédant. Bien que trois d entre eux, uniquement, aient été enregistrés au littoral nord de Santa Catarina13, sont nombreux les renseignements sur les Guarani, résultant, surtout, de nombreuses études anthropologiques sur des groupes contemporains qui appartiennent à cette ethnie et de quelques sources ethnohistoriques déjà référées. Même si les découvertes archéologiques réalisées à la côte nord de Santa Catarina, et de façon spéciale à São Francisco do Sul, fournissent des renseignements sur son indéniable occupation précoloniale et sur des aspects tels que les rapports de cette dernière tradition archéologique avec les Guarani d aujourd hui, il n est possible de rien affirmer sur l identification des autres populations responsables par la présence d autres sites dans la


région. Encore que les interprétations archéologiques aient suggéré l occupation du site par des groupes d indiens qui se succédaient, il y a des doutes qui persistent, à savoir, comment a eu lieu cette succession. Il y aurait eu lieu, vraiment, d une façon ou d une autre, l arrivée de poussées migratoires, au point de provoquer les changements culturels registrés dans les sambaquis? Si c est le cas, quel genre de contact a été tenu entre ses premiers occupants et les nouvelles populations? Ou serait-il possible de suggérer qu il y avait eu des changements internes dans la culture originelle, pour des raisons diverses, entre autres des altérations climatiques, sans l influence de groupes externes? Ou les vestiges céramiques, comme c était le cas de la tradition itararé, seraient-ils suffisants pour indiquer des identifications et la continuité entre les vestiges archéologiques et les groupes actuels d indiens? La réponse à celles-là et à d autres questions sur le passé pré-colonial de São Francisco do Sul ne seront certainement pas obtenues sans l intensification des recherches sur son patrimoine archéologique et, comme suggère Bandeira14, moyennant une identification détaillée et l analyse de nouvelles sources ethno-historiques. Pour y

arriver, cependant, il est indispensable de garantir, en plus de l accès à ces sources, la conservation de tous les vestiges archéologiques comme des vrais biens patrimoniaux comme si c était, aux dires de Arantes15, le patrimoine architectural urbain, les traditions culturelles et les paysages naturels. La préservation de ce patrimoine, d après Bezerra de Meneses16, comme tout travail de mémoire, se tourne vers le passé, mais se réalise à partir de demandes réitérées du présent. Rien de plus opportun, ainsi, pour São Francisco do Sul, à l occasion où la ville commémore les 500 ans de l arrivée des premiers européens, que d incorporer, en tant que partie de son histoire, les 4.500 ans, environ, qui ont précédé l arrivée de ces visiteurs. Il s agit, ainsi, d une histoire bien plus ancienne, mais guère moins importante. Le fait de l incorporer permettra d élargir le dialogue toujours inachevé entre le présent et le passé et permettra, surtout, de faire justice à l histoire en reconnaissant et valorisant les expériences de groupes que, pour avoir été dominés dans le passé, et parce qu ils vivent en marge dans le présent, sont souvent oubliés ou exclus de la mémoire collective locale et régionale.

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9 Bandeira, op. cit. 10 Beck (1973). 11 Sur cette tradition, voir, em particulier, Chymz (1968) e Schmitz (1968). 12 Sur la céramique tupi-guarani, voir, entre autres, Brochado (1980). 13 Cf. Bandeira, op. cit. 14 Bandeira, op. cit. 15 Arantes (1984). 16 Bezerra de Meneses (2002).

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Oliveira e Bandeira (2002). Cf. Amaral (1995). Beck (1973). Une description détaillée de la contribution de ces auteurs peut se trouver in Beck, op. cit. Pour une synthèse de ces travaux, voir, entre autres, Bandeira (2004). D après Bandeira, op. cit. Beck (1978). Kern (1998).

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As m煤ltiplas hist贸rias da Ilha e arredores R A Q U E L S. T H I A G O


T P ÁGINA

ANTERIOR

P ÁGINA

AO LADO

/ P AGE

PRÉCÉDENTE :

São Francisco do Sul em 1855. Ilustração anônima. (In: Boiteux, Lucas. História de Santa Catharina. Resumo Didactico. 2 ed. 1937). São Francisco do Sul en 1855. Illustration anonyme. (In: Boiteux, Lucas. História de Santa Catharina. Resumo Didactico. 2 ed. 1937). / P AGE D À

CÔTÉ :

São Francisco do Sul na década de 1850, representada pelo engenheirogeógrafo Theodor Rodowicz-Oswiecimski. São Francisco do Sul dans les années 50 du dix-neuvième siècle, representée par l ingénieur-géographe Theodor Rodowicz-Oswiecimski.

estemunha de primeira hora das incursões portuguesas e espanholas em terras brasileiras, São Francisco do Sul apresenta uma história fascinante, como é próprio das histórias de ilhas. Mistérios e lendas costumam habitar os primeiros capítulos dessas terras envoltas em mares. Em São Francisco, os primeiros convocados para esta composição lendária e misteriosa foram Gonneville, Arosca e Içá-Mirim. Outros personagens, no entanto, compareceram ao processo de ocupação e colonização de São Francisco explorando, descrevendo, mapeando a região e, por fim, realizando sua colonização. O contexto da época se compunha de espanhóis de um lado e portugueses de outro na disputa por terras ao sul do continente americano. Já na segunda década do século XVI, navegadores espanhóis ali incursionavam à procura da passagem para as Índias Orientais. Os historiadores lhes conferem a primazia na denominação São Francisco, dada pela expedição do espanhol Juan Díaz de Solís em 15151. Este nome se estendeu para a baía que os indígenas chamavam de


Babitonga ou Bopitanga. A indefinição da linha demarcatória de Tordesilhas promoveu movimentações tanto de espanhóis como de portugueses pelas terras do sul. Os espanhóis entendiam que a linha terminava em São Vicente, o que determinava toda a área dali para o sul como sua propriedade, embora os portugueses a situassem no Rio da Prata. Na convicção dos seus direitos, resolveram fundar, entre outros, un pueblo en la costa del Brasil, dentro de la nuestra demarcación en la parte que dicen Saint Francisco. Foi assim que o casal Fernando de Trejo e María de Senabria, e outros espanhóis instalaram-se em São Francisco onde, por volta de 1533, fundaram uma povoação. Ali nasceu Fernando de Trejo y Senabria, o filho do casal, conferindo a São Francisco a primazia na lista de catarinenses ilustres. Trejo y Senabria seria bispo de Tucumán e fundador da Universidade de Córdoba, na Argentina.

A fome e as doenças fizeram com que esses primeiros povoadores se retirassem para Assunção, seguindo pelo caminho antes palmilhado por D. Álvar Núñez Cabeza de Vaca2. Aliás, o brasão da família de Cabeza de Vaca compõe o Brasão de Armas do Município de São Francisco do Sul, lembrando-o como um dos primeiros espanhóis a incursionarem por suas paragens, mais propriamente na foz do Rio Itapocu, terras das quais tomou posse em nome do Rei da Espanha. Dali, seguiu por terra até o Paraguai pela trilha dos índios, o famoso caminho do Peabiru. O domínio espanhol exercido sobre Portugal entre 1580 e 1640 a União Ibérica , mais o interesse predominante dos espanhóis na procura de metais preciosos no interior do continente afrouxaram as iniciativas de povoamento tanto de um lado como de outro. Só depois de desfeita a União Ibérica foi que Portugal iniciou o povoamento da região, com a fundação de Paranaguá, São Francisco, Desterro e Laguna.

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A fundação

Vista geral de São Francisco do Sul nas primeiras décadas do século XX. Vue générale de São Francisco do Sul aux premières décennies du XXème siècle. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC.

Folha de rosto do livro de Theodor Rodowicz-Oswiecimski, 1853. Première page du livre de Theodor Rodowicz-Oswiecimski, 1853. P ÁGINA

SEGUINTE

/ P AGE

SUIVANTE :

Moradia de família afro-brasileira no interior da Ilha de São Francisco do Sul no início do século XX. Demeure de famille afro-brésilienne à l intérieur de l île SFS au début du XXème siècle. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC.

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Batizada pela Espanha, São Francisco foi efetivamente fundada por iniciativa portuguesa. Costa Pereira é de opinião que a fundação de São Francisco foi um movimento mais paulista do que português, era o expansionismo bandeirante que se lançava pelo interior do Brasil na conquista de índios que se transmuda na do ouro e conseqüente conquista de terras 3. Foram, portanto, as bandeiras de colonização as responsáveis pela fundação das mais antigas cidades do litoral catarinense. O estabelecimento de bandeirantes como Manoel Lourenço de Andrade em S. Francisco, Dias Velho na Ilha de Santa Catarina e Brito Peixoto em Laguna indica a existência de uma intenção de domínio rural semelhante àquele que se praticava no nordeste, aliada à necessidade de defender a costa e expandir a ocupação portuguesa para o sul. Lourenço de Andrade, que passou à história como o fundador de São Francisco, ali chegou após alguns ensaios anteriores de colonização. Figura de destaque da capitania de São Paulo, recebera


autorização para estabelecer-se em São Francisco e distribuir as terras entre os que estivessem dispostos a colonizá-las. Lourenço de Andrade reservou para si as que se estendiam da vila até as Laranjeiras. Em 1720, a Vila de Nossa Senhora da Graça de São Francisco estendia-se da ponta norte da Enseada das Garoupas, no atual município de Porto Belo, até a barra e o Rio de Guaratuba, abrangendo todas as praias e os rios situados entre os dois pontos, assim como os sertões confinantes com os espanhóis. Deste vasto território se desmembraram as terras hoje correspondentes, entre outros, aos municípios de Porto Belo, Itajaí, Joinville, Araquari, Garuva, Barra Velha, Piçarras, Penha, Barra do Sul e Itapoá. No continente, do outro lado da Baía, situa-se a Vila da Glória, no Distrito do Saí, ainda hoje pertencente a São Francisco. A fundação do povoado, em 1658, conferiu a São Francisco o lugar de primeira vila fundada na então Capitania de Santo Amaro e Terras de Sant Ana , que, em 1748, se tornaria Capitania de Santa Catarina4. Com a Independência, a Vila tornou-se Município de São Francisco do Sul, importante, na época, no âmbito político-

administrativo e estratégico. Concorriam para isso sua posição privilegiada no Atlântico Sul e seu porto, desde o século XVI reconhecido pelos navegadores como bem abrigado e bom para aguada. No âmbito econômico, no entanto, só ganharia expressão como parte integrante da colonização do nordeste e do planalto catarinenses a partir da fundação da Colônia Dona Francisca (atual Joinville) pela companhia Colonizadora de Hamburgo, responsável pelo assentamento de imigrantes germânicos na região.

A presença do escravo negro Desde o início, tentou-se instalar em São Francisco um regime de grandes propriedades destinadas à agricultura, com mão-de-obra de escravos e agregados. Diversos fatores contribuíram para impedir a instalação deste modelo: dificuldades encontradas na consolidação da ocupação, despovoamento espontâneo e abandonos esporádicos em função das guerras fronteiriças que resultavam sempre no recrutamento de pessoas em idade de trabalho. Além disso, as lavouras tradicionais ali %'


Territorialidade negra como resistência ativa Em São Francisco do Sul, ainda hoje, o sistema de registro das propriedades e a regularização de situações de fato (posses) são um problema freqüente da estrutura fundiária local, em particular em relação à população negra. A incorporação da terra ao sistema cartorial foi realizada de forma seletiva, restando aos afro-descendentes a ocupação de espaços marginais ao sistema de propriedade, ao mesmo tempo residuais e intersticiais. Produzidos e reproduzidos pela segregação espacial e pelo preconceito social, esses espaços foram mantidos como territórios negros , definidos como espaços inscritos em diferentes tipos de limites e, sobretudo, reconhecidos por todos que a eles pertencem e pela coletividade mais ampla (LEITE, 1991). Diferentes processos de revalorização dessas áreas residuais e intersticiais como um projeto de reflorestamento, no início da década de 70 do século passado provocaram o deslocamento de distintos territórios negros, situados em ladeiras ou pedreiras, que até então eram consideradas terras sem valor. Ironicamente, trinta anos antes, diferentes frentes de desmatamento tinham causado o mesmo efeito em um processo de ocupação de terras do município. Localidades como Figueira, Ribeira, Linguado e Tapera, ocupados por afro-descendentes, foram impactadas por empreendimentos desse tipo. O que se verifica, portanto, é um movimento constante da população negra, em São Francisco do Sul, de modo diferente do que foi registrado em outras partes do País, onde os

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quilombos preservaram seus locais originais. Contudo, em todos esses territórios negros, constituídos por pequenos agrupamentos territoriais, com três a quatro famílias, em geral, a pertença ao território cria laços parentais formais e informais. O mecanismo de solidariedade territorial faz de qualquer habitante desses territórios elo de uma cadeia de parentes, permitindo o usufruto de outros territórios análogos, seja em área rural, seja urbana. A territorialidade negra não resulta, assim, de simples exclusão, mas de uma articulação constante que faz de cada uma destas experiências comunais fruto de uma ajustada malha histórica de conflituosas relações, na qual negros e não negros negociam o espaço social. Apesar da condição de minoria étnica desse grupo, não devem ser negligenciadas, na análise do processo em sua totalidade, as formas de resistência ativa, tais como a da territorialidade, testemunho material e simbólico dessa resistência. Alejandro Labale

Outras informações, ver: LABALE, Alejandro. Territórios negros em Santa Catarina: mapeamento. Florianópolis: NUER/UFSC: FORD Fund., 1996; LEITE, Ilka B. Negros no Sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996, 280 p.; ______. Terras e territórios de negros no Brasil. Textos e Debates, Florianópolis: PPGAS/UFSC; NUER, n. 2, 1999.


desenvolvidas não encontraram valor comercial dentro do modelo agrário-exportador. O resultado foi a adoção da agricultura destinada ao comércio local e ao autoconsumo, complementada pela caça e pela pesca. Nesse contexto, a escravidão não se desenvolveu em maior escala, assim como em outras localidades do Estado. As propriedades rurais provenientes da concessão de sesmarias não chegaram a utilizar, na maioria dos casos, um número significativo de escravos. No entanto, assim como outras etnias, os afro-descendentes também estão presentes no processo histórico da região, especialmente pelo legado da sua cultura. A localidade de Itapocu ainda agrega a comunidade afro-descendente da região durante os festejos de Natal, quando acontece a conhecida Festa do Cacumbi. Em São Francisco, entretanto, a escravidão se evidenciou no espaço urbano, desenhando-lhe uma paisagem característica. Embora o regime de trabalho na Colônia Dona Francisca não contemplasse a escravidão, a presença dos escravos em São Francisco e arredores conferiu aos imigrantes um cotidiano que os afastava consideravelmente daquilo que chamavam de Klein-Deutschland (pequena Alemanha). O Jornal da Colônia Kolonie Zeitung de 15 de março de 1879 publicou uma nota cuja análise nos permite vislumbrar um aspecto da valiosa colaboração do escravo urbano na região. Naquela publicação, os imigrantes germânicos estabelecidos em São Francisco, junto aos de Joinville, expressavam seu reconhecimento ao escravo francisquense Antônio Naro, por seus préstimos durante uma epidemia de febre amarela. Estavam realizando uma coleta para a compra da liberdade de Antônio, o que lhes credenciava a afirmar que sem os generosos sacrifícios de Joinville e Dona Francisca seria certamente muito difícil que o escravo, que tão nobremente se portou, conseguisse sua libertação 5.

O problema do serviço militar O serviço militar foi o principal fator de atraso para São Francisco, assim como ocorreu na Ilha de Santa Catarina com os imigrantes açorianos. O confronto com os espanhóis, que no século XVIII ainda exigia mobilização de tropas, exauria as populações, tornando São Francisco uma terra farta de viúvas e órfãos pobres. Ao passar pela região por volta de 1820, Saint-Hilaire observou: como a Província de Santa Catarina contasse com poucas rendas e tivesse quase sempre que custear a manutenção das tropas, a administração não somente jamais fez o menor sacrifício em prol do distrito de São Francisco como ainda o explorava cada vez mais. Vinte milicianos da Guarda Nacional eram mantidos regularmente a serviço da cidade e do forte, e muitas vezes outros eram destacados e enviados a Santa Catarina sem que lhes fosse dado nem mesmo o suficiente para a sua alimentação. No entanto, tratava-se de homens pobres, que viviam do trabalho das suas mãos e não podiam abandonar suas casas e suas plantações sem que isso resultasse um grande prejuízo para eles próprios e para as suas famílias 6. Em São Francisco, as ações militares eram exercidas pelo Terço das Ordenanças, cujo serviço era obrigatório a todos os homens maiores de 18 anos e menores de 60. Além do Terço das Ordenanças, existiam os corpos auxiliares que passariam mais tarde a constituir as Milícias. Diante da negativa ou do medo da guerra, quando eram recrutados, muitos jovens e chefes de família fugiam e eram pegos à força, caçados como animais , no dizer de Costa Pereira (1984, p. 89). O recrutamento foi a principal causa de despovoamento e pobreza da Província. As incursões espanholas, que no século XIX ainda perturbavam Portugal, fizeram com que o governo iniciasse, em 1801, a construção de um forte &


no Distrito do Saí, perto do pontal norte da Baía, com a finalidade de proteger o porto. Construído em taipa, recebeu o nome de São Luiz. Em 1817, foi reconstruído e, em 1826, foi munido de quatro canhões. Na sua passagem naquelas paragens em 1820, Saint-Hilaire descreve-o como um fortim guarnecido por milicianos da Guarda Nacional . Finalmente, em 1909, foi construído o Forte Marechal Luz, no litoral norte, distante 15 km do centro da cidade. Hoje, além das funções militares, o Forte atrai turistas que trilham a estrada de barro de acesso ao Morro João Dias.

Em nome de Deus e de Sua Majestade a Igreja Subjacente à conquista das terras que comporiam o império colonial português e espanhol, estava o tom salvacionista que os soberanos católicos imprimiram à missão de converter os povos pagãos. Não por acaso, portanto, era preocupação primordial dos fundadores de povoados e vilas construir a igreja antes mesmo da Casa do Conselho, sede da administração local, e do Pelourinho, onde se supliciavam escravos. Em nome de Deus e de Sua Majestade, as terras conquistadas seriam exploradas, e indígenas e africanos, escravizados e convertidos.


Nessa ótica, é possível compreender que, mesmo antes da chegada de Manoel Lourenço de Andrade, por força de tentativas anteriores de povoamento, já existia em São Francisco a capela de Nossa Senhora da Graça, quando o povoado não contava, ainda, com uma dúzia de habitantes. Lourenço de Andrade, investido pelas autoridades da missão de povoar e propagar a fé cristã, mandou construir outra igreja, concluída em 1665 sob a invocação da mesma padroeira, o que condizia com a nova condição de paróquia, também estabelecida em 1665. Passados setenta anos, a igreja apresentava avarias em diversas partes da sua construção. Ao partir-se o arco da porta principal, ameaçando desabar, os consertos tornaram-se urgentes, quando não havia recursos. O sentimento religioso, todavia, mostrou-se poderoso. O povo voluntariamente se impôs um tributo, o chamado imposto do vintém, sobre diversos gêneros, tais como farinha, peixe, imbé, aguardente, numa verdadeira demonstração de participação comunitária. Mais tarde, essa tributação passou a recair apenas sobre a farinha de mandioca exportada. A arrecadação foi um sucesso. A igreja foi restaurada, o que levou o tributo a vigorar por muitos anos, possibilitando a construção de outra

igreja maior e mais sólida, que no decorrer do tempo tomou a configuração atual. A trajetória da Igreja Matriz de São Francisco do Sul deu-se por força de uma religiosidade cujos símbolos desencadearam ações comunitárias importantes. Um tributo pago com satisfação não é comum, mas foi o que ocorreu, seguido de trabalhos voluntários na construção, da qual participou boa parcela da população. As sucessivas reformas, entre as quais a pintura do forro, a fabricação dos sinos, a importação de um órgão e a construção de uma nova torre, as imagens sacras, tudo ali tem a mão de uma comunidade envolvida com suas crenças, sua fé e devoção.

Igreja Matriz Nossa Senhora da Graça de São Francisco do Sul. Église de Notre-Dame de la Grâce de São Francisco do Sul. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC P ÁGINAS

SEGUINTES

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SUIVANTES :

Sucessivas alterações realizadas na Igreja Matriz de São Francisco do Sul, representadas em aquarelas por Conny Baumgart. Les successives altérations subies par l église de São Francisco do Sul représentées en aquarelles de Conny Baumgart. Missa campal em frente à Igreja Matriz de São Francisco em 1918. Messe en plein air devant l église de SF en 1918.

A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO R EPRODUÇÃO / R EPRODUCTION : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).

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Banda musical no coreto da praça da Igreja Matriz, por ocasião de festa religiosa em 1905. Orchestre dans le quiosque à musique de la place de l église à l occasion d une fête religieuse en 1905. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA B RUNATO .

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Baía da Babitonga Abrigando uma guirlanda de ilhas e um porto natural, a Baía da Babitonga vem promovendo encontros entre homens e culturas através dos séculos. Mãe dos pobres, é como os antigos a chamavam para designar seu significado na luta pela sobrevivência. De fato, o porto seguro, a abundância de peixes e aves proporcionados pela riqueza em manguezais e alagadiços, o verde e as boas terras das suas ilhas, onde cultivavam diversos produtos de subsistência, fizeram da Baía da Babitonga o centro da vida de São Francisco do Sul7. Mesmo exercendo outras profissões, quase todos os homens possuíam uma canoa. As mulheres sabiam manejá-las, o que chamou a atenção de SaintHilaire: vêem-se mulheres enfrentando um mar encapelado, em barcos inseguros, sem demonstrarem o menor temor. O mar é o elemento natural dos habitantes da região 8. Além disso, a posição estratégica de abrigo e a comunicação com o continente integram sua história ao mundo terrestre que a rodeia. Babitonga ou &$

Bopitanga provavelmente são derivadas das palavras guaranis mbopi, morcego, e tang, novo, tenro. Há também a versão de que a denominação carijó era bepitanga, de que babitonga é uma corruptela. Sob esse nome aparece pela primeira vez no mapa do Paraguai feito pelos jesuítas entre 1646 e 1649. A Ilha da Rita seria apenas mais uma das belas ilhas que compõem o Arquipélago da Babitonga, não fosse seu importante papel na história de São Francisco. Enquanto as Ilhas Grande, das Claras, das Flores, entre outras, apresentam movimentação com atracamento de barcos, pescadores e banhistas nas

Rio da ponte da Pedreira no início do século XX. Fleuve du pont de la Pedreira au début du XXème siècle. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA B RUNATO . P ÁGINA

AO LADO

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Festa Religiosa na Vila da Glória, na primeira metade do século passado. Fête religieuse à la Vila da Glória à la première moitié du siècle dernier. A CERVO / A RCHIVES : M ARIA DE L OURDES S OUZA L EDOUX . R EPRODUÇÃO / R EPRODUCTION : S ÍLVIO C OELHO DOS S ANTOS .


pequenas e aconchegantes praias, a Ilha da Rita se expõe solitária, com suas ruínas, que representam uma tênue lembrança de um importante passado. Ali foi instalada uma base naval para o abastecimento de água, óleo combustível e carvão. Além disso, agregava mais uma função de considerável importância, a de excelente ponto estratégico-militar de defesa durante a Segunda Guerra Mundial. A base de abastecimento da Ilha da Rita foi inaugurada em 8 de março de 1940, com a presença do presidente Getúlio Vargas, marcando um dos mais importantes acontecimentos políticos da região ocorridos naquela época. A se avaliar pela repercussão na imprensa, a visita do Presidente Vargas a São Francisco e sua presença no ato de inauguração da base da Ilha da Rita foram um dos mais importantes acontecimentos políticos ocorridos naquele início dos anos 40. Permanece na memória das pessoas mais velhas, que

passam o fato aos filhos. Hoje, ainda, o episódio é lembrado com bastante entusiasmo9. Nesse período, estava em pleno vigor o chamado Estado Novo. A política externa de Vargas exigia definições e posições que ora manifestavam simpatia pela causa nazi-fascista (Alemanha e Itália), ora pelos aliados (Inglaterra, França e Estados Unidos). Vivia-se um período de incertezas, até que finalmente, em 1942, o Brasil, por força de acordos, declarou-se ao lado dos aliados, firmando sua posição de porta-voz dos Estados Unidos na América do Sul. Entre as décadas de 1940 e 1960, período de pleno uso da base, formou-se pequena população de fuzileiros navais na Ilha, originários de diversas partes do Brasil, muitos deles conhecidos por apelidos associados às suas origens, como baiano , gaúcho , sergipano . Alguns se casaram com moças do lugar, integrando-se às comunidades da Vila da Glória e de São Francisco.


Histórias de assombração e mistério povoam o imaginário dos pescadores. Conta-se que na Ilha da Rita uma moça, trajando longo vestido branco e esvoaçante, descia a escadaria, andando pelo trapiche afora. Quando o guarda tentava segui-la, ela desaparecia. Então, quando relatava aos amigos, eles já a identificavam: é a Rita.... é a Rita!

O fascínio pelo ouro As múltiplas possibilidades prometidas pela posse do ouro transformaram-no num símbolo irresistível de poder. Em São Francisco do Sul, não foi diferente. A extração do ouro foi um dos objetivos do povoamento da região, mas, segundo Costa Pereira, foi uma ilusão que se desfez desde logo, para

Construção do reservatório de água para o abastecimento de navios, na Ilha da Rita, inaugurado por Getúlio Vargas em 1940. Construction du réservoir d eau pour le ravitaillement des bateaux, dans l Île Rita, inauguré par Getúlio Vargas en 1840. A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO

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ressurgir mais tarde e depois desaparecer novamente, não só pela escassez do precioso metal, como pelas exigências do fisco e pelo receio de que a exploração do ouro despertasse a cobiça dos capitães de navios de diferentes nacionalidades que cruzavam a rota 10. Tais limitações, no entanto, não diminuíram a ambição de encontrar o nobre metal. Num tempo em que o imaginário ainda não havia sido atingido pelos meios de comunicação de massa, algumas histórias foram construídas e mantidas pela tradição oral. Uma delas é a do corpo seco , contada em diferentes versões, mas todas tratando do mesmo objeto de desejo, o ouro. Conta-se que na Ilha do Mandijituva, na Baía da Babitonga, havia um corpo seco, mas não é bem assim , diz o pescador Belarmino Borba, o seu Belo : Eles diziam que era um corpo seco de uma pessoa que morreu. E ele tinha muito pecado, e o corpo dele, o cemitério não aceitou. Então levaram e colocaram o corpo numa ilha, e o povo tinha medo, mas não era esse caso aí. Isso era caso dos jesuítas. Que fizeram um boneco [...]. Um boneco de gesso, e botaram ouro dentro e botaram lá, para, se um dia eles voltassem, eles podiam levar de volta. Era pra assustar, pra ninguém chegar lá. Porque um defunto seco, quem é que vai chegar perto? Eu tinha medo. Então o ouro ficou bem guardado, mas aí eu soube que vieram uns homens de Joinville e acharam 11.

O Falanstério do Saí No século XIX, o desencantamento com os ideais da Revolução Francesa revigorou o pensamento utópico, cujos desdobramentos elegeriam a América como um espaço geográfico propício para experiências até então inusitadas. Saint-Simon, Owen e Fourier foram os principais representantes dessa vertente de pensamento e apresentaram à humanidade fórmulas de liberação,


inventando mundos novos nos quais propunham relações radicalmente inovadoras. Suas propostas encerravam uma concepção messiânica de política, por este motivo criticadas e denominadas por Marx e Engels de socialismo utópico. Não é de estranhar, pois, que, ao mesmo tempo em que na América do Norte se instalavam milhares de europeus em busca desses mundos, no Brasil ocorresse algo semelhante. Em janeiro de 1842, cerca de 217 franceses, liderados pelo doutor Benoit Jules Mure, se aventuraram na travessia do Atlântico rumo ao Brasil. Seu destino era um ponto em frente à Ilha de São Francisco, a Península do Saí. Ali, longe dos vícios das metrópoles européias, pretendiam criar um mundo novo, inspirados nas idéias de Charles Fourier, principalmente naquelas que diziam respeito à organização do trabalho. Por meio de um sistema econômico baseado na livre associação, tentariam implantar um sistema coletivista. Para o pensador francês, a chave da história não era, como definiu Marx, o conhecimento dos puros fenômenos materiais, das profundidades da economia, das relações dos homens no trabalho. Para Fourier, a chave da história era o desvendamento da vida afetiva dos grupos, havendo uma correspondência entre o mundo planetário e o mundo social: o movimento que impulsiona os planetas, assim como os homens, é o amor, a atração passional 12. Com base nessa concepção, Fourier idealizou o falanstério , ou seja, uma habitação coletiva que abrigaria um mundo no qual a harmonia garantiria o bem-estar, a justiça e a liberdade entre seus habitantes. Essa palavra estranha foi criada por Fourier, já que não existia nenhuma na linguagem corrente que definisse a moradia coletiva tal como ele a havia concebido. Falanstério, pois, significa a junção das palavras falange com monastério ,

Projeto de um falanstério publicado por Charles Fourier no La Phalange Journal de La Science Sociale em 1837. Projet d un phalanstère publié par Charles Fourier au La Phalange-Journal de La Science Sociale, en 1837.

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porquanto as pessoas que nele habitassem seriam organizadas em falanges. Cada falange seria composta de 1.620 pessoas, 810 homens e 810 mulheres, e dividida em séries. Por sua vez, a série deveria ser dividida em grupos, segundo o número de trabalhos a realizar e as atrações passionais dos falansterianos . O Dr. Mure foi o responsável pela única tentativa concreta de instalação de um falanstério no Brasil, o chamado Falanstério do Saí, contemplado no seu projeto com vastas oficinas, salas de refeição, bar e, num futuro próximo, livrarias, museus, gabinetes de física e um teatro. A cozinha seria comum a todos, bem como a adega, o armazém e o celeiro. Quando chegou ao Brasil, Benoit Jules Mure tinha trinta e dois anos. Era alto, claro, de grandes olhos azuis, rosto redondo e barba ruiva, vigoroso, amável, mas autoritário. Formado em Medicina pela Universidade de Paris, por algum tempo se dedicara à propagação da homeopatia na França, na época uma novidade terapêutica. Homeopatia e utopia caminhavam juntas nos planos de Mure. Uma escola para formação de homeopatas complementava seu projeto para o Saí. No entanto, já em meados de 1843, estava de volta ao Rio de Janeiro. Parte de seus planos para a nova prática de curar concretizaram-se naquela cidade, com a fundação do Instituto Homeopático do Brasil, não sem antes enfrentar oposição dos médicos tradicionais, que o envolveram em intrigas e dissabores. Desiludido, Mure voltou para a França em 1848. São controversos os motivos e o modo pelo qual Mure desempenhou seu papel de empresário na pretendida colonização do Saí. Seja qual for a versão, o fato é que Mure, com sua palavra fácil, carisma e grande obstinação conseguiu aprovação da Assembléia Geral (atual Congresso Nacional) para o adiantamento '

de 64.000$00 (sessenta e quatro mil réis) destinados às despesas com a introdução de franceses adeptos das idéias de Fourier na Península do Saí a fim de estabelecerem a Colônia Industrial do Saí . Diante do apoio recebido e certo de que lhe seria dada a concessão do terreno necessário, Mure já se encontrava em São Francisco do Sul no início de 1841, após ter visitado outros locais. Em carta dirigida ao redator do Jornal do Commércio, descreve as condições naturais e do povo francisquense que, no seu entender, facilitariam o bom desempenho do seu empreendimento: por admirável coincidência, foi aqui que encontrei a mais viva, essa simpatia que é tão necessária e que deve assegurar o triunfo de nossa grande aspiração 13. Referia-se Mure em particular ao Coronel Camacho, a quem naquele momento estava muito agradecido pela concessão de duas léguas quadradas de terreno que tomava quase toda a Península do Saí. Certamente, o Coronel Camacho via com bons olhos o estabelecimento de uma colônia industrial no Saí, que, se bem-sucedida, traria progresso à região e, conseqüentemente, a valorização de outras terras de sua propriedade. Camacho era o fiel representante do senhor patriarcal que, no dizer de Mure, depois de longo serviço militar em São Francisco do Sul, consagrou o resto dos seus dias à ventura de seus concidadãos, a constituir-se o pai dos seus admiradores 14. Mure admirou-se da sua relação com os caboclos, que lhe pediam conselhos e socorro nas horas de dificuldades, sobre o que comentou: o coronel, com sua palavra, consolava os aflitos, conciliava as desavenças e indicava o partido que melhor aproveitaria em cada circunstância 15. Especialmente romântico, concebia o Coronel como aquele que lançara os princípios da associação , um predestinado de Fourier.


Após serem recebidos no Rio de Janeiro pelo Imperador, em dezembro de 1841, os primeiros cem franceses embarcaram rumo ao Saí a bordo do Caroline . Aportaram em São Francisco no início de janeiro de 1842, acompanhados da esperança de construírem uma sociedade que lhes permitisse uma vida harmoniosa, longe das dificuldades européias. Em novembro do mesmo ano, chegou o Virgine com mais 117 pessoas, completando o número de franceses que efetivamente participaram da interessante experiência. Eram agricultores, mas também arquitetos, alfaiates, contadores, cozinheiros, carvoeiros, chapeleiros, carpinteiros, coloristas, dentistas, médicos, encadernadores, que compunham uma lista extensa de profissões mais propensas à vida urbana. O domínio de um espaço praticamente virgem de civilização era o enorme desafio que teriam pela frente. Mas indefinições quanto à organização, administração e legislação da colônia provocaram desde os primeiros dias sérias desavenças entre o Dr. Mure e outras lideranças, envolvendo também os colonos. Enquanto isso, no resto do País uma série de movimentos ameaçava a integridade territorial brasileira. No sul, Luis Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, empreendia campanha contra os Farroupilhas, na tentativa de pacificar a revolta que se arrastava desde 1835. O movimento republicano riograndense já atingira Lages e Laguna, em Santa Catarina. Tal fato preocupava os governantes catarinenses, que não desejavam ver no Saí mais um foco de preocupações. Na verdade, o grupo já se havia dividido, e alguns colonos se instalaram no Palmital (interior da Península), sob a liderança de Jamain e Derrion, principais opositores de Mure. Formaram-se, assim, dois grupos: o do Palmital e o do Saí, este ainda comandado pelo Dr. Mure. Em meados de 1843, Dr. Mure, frustrado,

deixava a colônia para morar no Rio de Janeiro, ficando a liderança dos dois grupos com Jamain e Derrion. Em 1844, as obras na colônia estavam muito distantes do projeto inicial, mas algumas realizações constatavam a vontade e a perseverança dos franceses realmente interessados em fazer daquele lugar um espaço tal qual haviam projetado. À beira da Baía, havia uma casa coberta de telhas que fora construída por Labbé. Ali funcionavam uma forja usada pelo francês na fabricação de ferragens, uma serraria mecânica e os restos de uma fundição que talvez nunca tivesse sido experimentada, no dizer de Derrion, por defeito de construção ou do sistema. Labbé trabalhou em diversos engenhos de arroz, lidou com ferragens de navios, além de consertos de utensílios. Numa casa coberta de palha, viviam Mangin e sua família, em meio a ranchos que serviam de abrigo para bois, cabras, porcos e apenas um cavalo. Muitas casas estavam abandonadas, certamente em virtude da dispersão dos seus companheiros16. Os franceses que àquela altura ainda permaneciam no Saí e no Palmital mantinham em comum uma roça de cana, e outra de feijão e milho, além do terreno onde haviam semeado três alqueires de arroz. Havia, também, nesse terreno um pasto cercado e uma horta. Arados e equipamentos haviam sido fabricados para o transporte de madeira até a serraria, que se encontrava em pleno funcionamento. Dali saíam as tábuas em direção à praia para serem vendidas em São Francisco. A Casa Picot era o principal estabelecimento da Colônia e havia sido construída ou mandada construir por Francisco Picot, sócio do Jornal do Commércio do Rio de Janeiro e grande incentivador da experiência. Em 1844, a casa estava abandonada. Era grande, coberta de palha, dividida em vários alojamentos e inicialmente servia para abrigar os colonos recém-chegados, num '




arremedo de falanstério. Ali moravam, em 1844, Derrion, Leclerc, Nenevé e suas famílias, mais Marechal, Launay, Michel e François Rousselle 17 . Apesar da dispersão, alguns permaneceram até onde lhes permitiram suas forças e também suas esperanças. Leclerc, Nenevé, Mangin e Remond trabalhavam intensa e societariamente nos melhoramentos mais urgentes dos caminhos que estavam impraticáveis. Além disso, as pontes feitas de troncos de palmeira estavam praticamente destruídas. Os poucos colonos que lá permaneciam não tinham condições de recuperá-las ou conservá-las, pois, além de dar muito trabalho, a obra era dispendiosa. Tem sido um trabalho acima das nossas forças , dizia Derrion no relatório que enviou às autoridades. Não faltavam a esses homens as técnicas necessárias ao desenvolvimento da região. Sua grande limitação estava na mão-de-obra, já que a maioria era proveniente do meio urbano. Ao findar o ano de 1844, permaneciam no Saí apenas 24 pessoas. Em 29 de agosto de 1847, um ofício de Joaquim de Oliveira Cercal, de São Francisco, dirigindo-se ao Presidente da Província, referia-se à extinta Colônia do Saí , na qual restava apenas um estabelecimento de serrar madeira. Resta-nos lembrar daqueles cujos nomes se registraram nesta história com maior ênfase: Dr. Benoit Jules Mure, verdadeira encarnação do espírito utópico; Derrion, o último e esperançoso líder do falanstério; Mangin e Labbé, inventivos trabalhadores; Louise Bachelet, a jornalista que, ao chegar à Ponta do Barracão (Vila da Glória), beijou a areia declamando Il fault un nouveau monde à des destins ; Léon Ledoux, carpinteiro e escultor, e sua mulher Rose Grisard, os únicos que sabidamente deixaram descendência na região. Dr. Eduardo Deyrolles, médico e cirurgião, que em São Francisco '"

se dedicou a tratar da população, que o chamava de Dr. Deiró. Lembremos também de Marie Virgine, Basile e Desiré, o trio cuja história de amor e tragédia virou conto pela inspiração de Costa Pereira18. E da menina Josefhine, de apenas 12 anos, que o Dr. Mure procurou atrair para satisfazer os desejos do Coronel Camacho. Da Colônia sobrou pouca coisa, portanto, poucos nomes são citados, o que não impede de reverenciarmos a memória daqueles que por ali passaram anônimos, mas nem por isso sem história.

P ÁGINA

ANTERIOR

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PRÉCÉDENTE :

Freqüentadores do Mercado Público no início do século XX. Habitués du Marché Public au début du XXème siècle. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA B RUNATO .

A rotina do Porto de São Francisco do Sul nos anos 20. La routine du port de São Francisco les années 20. A CERVO / A RCHIVES : I NSTITUTO C ARL H OEPCKE , F LORIANÓPOLIS .


Encontros entre culturas o Porto A força simbólica de um porto nos remete a sonhos, esperanças ou desencantos. Um porto é lugar de chegada, mas também de partida, de alegria e de tristeza. O Porto de São Francisco foi antes de tudo um ponto de encontro entre culturas, desde que, no século XVI, europeus ali aportaram, atraídos por suas águas profundas e abrigadas. Na primeira metade do século XIX, ali desembarcaram os franceses do Saí, guiados pelo socialismo utópico. Já na segunda metade, no contexto da grande onda imigratória movida pelas necessidades dos dois mundos, o velho (Europa) e o novo (América), apenas nove anos após a experiência do Saí, chegaram ao mesmo porto milhares de imigrantes europeus, principalmente alemães, suíços, dinamarqueses e noruegueses. Sua utopia: uma vida melhor no novo mundo. Sua

realidade: o capitalismo. Impelidos pelo desemprego, a pobreza e a falta de perspectivas em sua terra natal, esses imigrantes fundariam uma colônia destinada a transformar-se na mais promissora cidade do Estado de Santa Catarina. A colônia era a Dona Francisca, fundada em 1851, que veio a ser a atual cidade de Joinville. A cidade de São Francisco do Sul foi, talvez, a primeira paisagem brasileira para a maioria desses imigrantes. O Porto, o local de alívio depois de três a quatro meses no mar, enfrentando o desconforto de um navio a vela, doenças, fome e promiscuidade. Rodowicz, lembrando-se da sua despedida no Porto de Hamburgo, escreveu: quem já assistiu a uma partida de navio com emigrantes conhece a tristeza das suas fisionomias e a mescla que nelas se estampa. Nalgumas é a tristeza de deixar a pátria, os amigos, os parentes, noutras são as lágrimas que não podem conter. O que se poderá ler nessas fisionomias? 19. Acima, armazéns da Companhia Hoepcke. En haut, magasins de stockage de la Companhia Hoepcke. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC. P ÁGINA

SEGUINTE

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SUIVANTE :

Barris de erva-mate aguardando exportação nos armazéns da Cia. Hoepcke. Des tonneaux d erva-mate qui attendent d être exportés dans les magasins de la Companhia Hoepcke. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA B RUNATO .

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Mas, ao descrever sua chegada ao Porto de São Francisco, em 1851, outra realidade se manifesta: A alegria era geral. A admiração não tinha fim. Cada pessoa, cada árvore, cada pedra provocava exclamações. Tão boa impressão as margens davam aos passageiros, quanto maior foi a surpresa agradável ao avistar-se a cidade [...] Foi um dia de festa para São Francisco e não foi em vão que os passageiros se enfeitaram, e já a população também pôs roupa de domingo, as damas enfeitadas esperavam, como era costume da terra, atrás das cercas e venezianas abertas, para oferecerem ramalhetes de flores às nossas damas, em sinal de boas vindas 20.

Essas boas-vindas profetizaram as relações entre São Francisco e a região de Joinville. Em meio à Mata Atlântica, com boa parte do seu território no sopé da Serra do Mar, a Colônia, apesar dos reveses iniciais, contou com a disposição e o empreendedorismo de alguns dos seus negociantes e empresários. Encontraram na madeira e na ervamate as atividades que proporcionariam o grande impulso econômico verificado nos últimos anos do século XIX em Joinville. A conjugação inicial de fatores como a abundância de madeira e da erva-mate proveniente da região e do planalto, a conclusão da Estrada Dona Francisca, o Rio Cachoeira e, principalmente, o P ÁGINA

AO LADO

/ P AGE D À

CÔTÉ :

Detalhe das obras de construção da Estrada de Ferro São Francisco Porto União, em 1911. Détail du chantier des chemins de fer São Francisco-Porto União, en 1911. Abaixo, construção da Estrada de Ferro São Francisco Porto União, em 1911. En bas, construction des chemins de fer SF-PU, en 1911. F OTOS / P HOTOS : C LARO J ANSSON . A CERVO / A RCHIVES : F OTO J ANSSON , I TARARÉ , SP.


Porto de São Francisco fizeram nascer, entre as duas cidades, uma teia de relações econômicas e políticas com peso bastante para promover interessante impulso econômico, cujos reflexos atingiriam São Bento do Sul, Mafra, Rio Negrinho e Campo Alegre. À medida que a economia se acelerava, a infraestrutura de atracação em São Francisco do Sul tornava-se mais complexa. Em 1903, a empresa Carl Hoepcke e Cia., de Florianópolis, certamente percebendo a movimentação econômica que ali se desenvolvia, construiu um trapiche e alguns armazéns para suas atividades de importação e exportação, onde hoje está instalado o Museu do Mar. Não tardou, e a estrada de ferro chegou a São Francisco. Em 1910, foi inaugurada a Estação Ferroviária, ligando a cidade a Porto União, no norte catarinense, garantindo a integração ao sistema ferroviário nacional, através da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. Antes, porém, em 1906, um apito festivo anunciara a saída do primeiro comboio que percorreria o trajeto entre São Francisco do Sul e Joinville. Naquele dia, 26 de julho, seria inaugurada a Estação Ferroviária de Joinville, com uma festa de

grande repercussão sociopolítica em todo o Estado, marcando o início de um processo de intensa modernização em Joinville, para o que o Porto foi e continuou sendo imprescindível. A decadência do ciclo do mate e da madeira no planalto e na região de Joinville promoveu certa estagnação nas atividades portuárias até a década de 1970, quando foi instalada a Cocar, hoje Cidasc (Cia. Integrada de Desenvolvimento e Armazenagem do Estado de Santa Catarina), terminal especializado no recebimento, na armazenagem e no envio de grãos. O terminal graneleiro, mais o incremento das exportações de manufaturados promoveram a revitalização do Porto, contribuindo para seu renascimento socioeconômico. A aceleração da economia, e do ritmo da vida globalizada e consumista já não permite o clima romântico que pairava no Porto dos primeiros anos do século passado. Por mais de cinqüenta anos, as atividades portuárias haviam animado a cidade. Os apitos de navios chegando ou saindo, a movimentação dos práticos, o sotaque portenho , ou ainda os sons estranhos de outros idiomas estrangeiros se confundiam com as paixões amorosas freqüentes num local de chegada, mas também de partida. Muitas vezes, um embarcado ficava na cidade ou partia, após ter seduzido ou ter sido seduzido por uma jovem da cidade. Correm na tradição oral inúmeras histórias desses amores, eivadas de romantismo ou tragédia. Por sua vez, o contrabando aguçava o ainda pouco sensível desejo de consumo dos habitantes de São Francisco, Joinville e redondezas. Jovens e adultos, homens e mulheres, compraziam-se na aquisição de variados produtos, geralmente norteamericanos, cigarros, bebidas, lingerie e diversas quinquilharias. Tudo isso conferia ao centro da cidade um burburinho característico da vida portuária até 1955, quando o novo porto foi ''




O Canal do Linguado A história do fechamento do Canal do Linguado remonta ao ano de 1907, quando foi aterrada a porção norte do canal, situada entre a Ilha do Linguado e a Ilha de São Francisco. O objetivo na época foi a construção do ramal ferroviário de ligação ao Porto de São Francisco do Sul. Pouco tempo depois, foi fechada também a porção sul do canal, entre a Ilha do Linguado e o continente, com a permanência de uma abertura de apenas 120 metros, sobre a qual foi construída uma ponte metálica com a parte central móvel. Este estreitamento da área de vazão das águas do canal gerou um processo erosivo que passou a comprometer a fundação dos pilares da ponte, pois ocasionou um aumento na profundidade da área e na velocidade das correntes, numa situação que se tornou crítica em 1926. Em 1934, decidiu-se pelo início das obras de fechamento total do canal, concluídas no ano seguinte. A construção deste aterro transformou a Ilha de São Francisco numa península, fechando permanentemente a circulação das águas nesta área, implicando significativas alterações na hidrodinâmica e na estrutura dos ecossistemas atingidos, tanto na Baía da Babitonga como em Barra do Sul. A discussão acerca dos problemas gerados pelo fechamento do Linguado se iniciou pouco tempo depois da obra e perdura até hoje, 70 anos depois. Vários são os problemas

ambientais na Baía da Babitonga e em Barra do Sul atribuídos ao Canal do Linguado, e é grande o anseio da maior parte da população por sua reabertura. Contudo, até hoje nenhuma das iniciativas propostas foi levada a cabo. Por força de uma decisão judicial resultante da ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de Joinville em 2001, que responsabilizou a União, o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) e a América Latina Logística (ALL) pela obra realizada, o ano de 2003 foi caracterizado por intensos estudos na região, visando a chegar a uma resposta sobre a viabilidade ou não de reabertura do aterro. A situação do Canal do Linguado pode ser considerada um grande exemplo sobre as conseqüências de uma obra que não levou em consideração a questão ambiental, fazendo com que gerações seguintes tenham hoje que resolver um problema criado no século passado. Marta J. Cremer Mais detalhes, ver: EIA/RIMA da duplicação da SC-280, com ênfase na região do Canal do Linguado, Baía da Babitonga. DNIT/IME/Univille/Univali/DHI/INPH. 2004; IBAMA. Manguezal da Baía da Babitonga. Coleção Meio Ambiente. Série Estudos Pesca, 5. Brasília: Ibama, 1998; KNIE, Joachim L. W. (Coord.). Atlas ambiental da região de Joinville: complexo hídrico da Baía da Babitonga. Florianópolis: Fatma, GTZ, 2002.


inaugurado, na Ponta da Cruz, próximo à Estação Ferroviária. Mas um porto possui também sua face sombria. As doenças do mundo encontraram ali, como em todos os portos, uma entrada para instalar-se em terra. Chegavam em navios que exibiam bandeira amarela, anunciando doentes a bordo. Na cidade, o pavor era geral, porque as doenças adquiridas pelos moradores, através do contato com tripulantes e passageiros que transitavam pelo Porto, quase dizimaram a população francisquense a partir de 180621.

P ÁGINA

AO LADO

/ P AGE D À

CÔTÉ :

Fechamento do Canal do Linguado na década de 1930. Fermeture du Canal do Linguado (Canal de la Saule) les années 30. R EPRODUÇÃO / R EPRODUCTION : S ÍLVIO C OELHO DOS S ANTOS . A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO DO S UL . P ÁGINAS

ANTERIORES

/ P AGES

PRÉCÉDENTES :

Desembarque da primeira locomotiva no Porto de São Francisco do Sul, 1910. Débarquement de la première locomotive dans le port de SFS, 1910. A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO

DE

S ÃO F RANCISCO

DO

S UL .

1 Conforme hipótese aceita por Pereira (1984, p.3), após exaustivos estudos. 2 D. Álvar Núñez Cabeza de Vaca foi um dos primeiros exploradores do Novo Mundo e capitão geral da Província do Prata. Em 1541, tomou posse das terras do continente da foz e das margens do Rio Itapocu em nome do Rei da Espanha. Dali Cabeza de Vaca rumou para o interior seguindo pelo Peabiru, caminho précolombiano de indígenas que se embrenhava por diversas ramificações. Seguindo pelo Peabiru, desbravou o planalto de Santa Catarina e Paraná, atingindo o Paraguai em março de 1542. Ver: Ehlke, Cyro (1973). 3 Pereira, op. cit. (p. 40-41). 4 Conforme Piazza, Florianópolis teria sido fundada em 1662, e Laguna, em 1682. Lembre-se, no entanto, que, em virtude das diversas tentativas de fundação dos três povoados iniciais (São Francisco, Santa Catarina e Laguna), as referidas datas neste trabalho representam apenas uma referência temporal. 5 In: Böbel, e S. Thiago (2001, p.150). 6 Saint-Hilaire (1978, p.149). 7 Conforme Bernstorff (1989), são estas as ilhas da Babitonga: Iriri e Baiacu, no Iperoba; Alvarenga, Ferreira e Itauçu, próximo à Vila da Glória; Ilhas Araújo, na Costeira das Laranjeiras. Mais ao fundo da Baía estão: Mandijituba, Herdeiros, Murta, Maracujá, Cação, Pernambuco, Chico Pedro, Queimada, Corisco, Das Claras, Dos Negros, Da Rita, Grande, Redonda, Guaraqueçaba, Do Mel, Dos Barcos, Das Palmas, Dos Papagaios. 8 Saint-Hilaire, op.cit. (p.14). 9 S.Thiago e Coelho (2001). 10 Pereira, op.cit. (p.96). 11 In: entrevista concedida às professoras Raquel S. Thiago e Ilanil Coelho em fevereiro de 2001, na Vila da Glória (SFS). 12 S.Thiago (1995, p. 25). 13 Boiteux (1944). 14 Ibidem (p. 57). 15 Ibidem (p. 57). 16 Ver S.Thiago, op.cit. (p. 137).

Ainda hoje, se podem visitar as ruínas do Lazareto do Capri, instalado no século XIX na praia do mesmo nome, em edificação remanescente de um monastério beneditino do século XVII. Ali eram internados portadores de doenças consideradas contagiosas como lepra, febre amarela, escorbuto e tuberculose. As ilhas da Babitonga, especialmente a Ilha do Iriri, serviram de cemitério para os mortos do Lazareto, gerando lendas do imaginário popular. No decorrer da sua história, São Francisco adquiriu traços especiais. Seu cotidiano é enriquecido pelo vai-e-vem de navios das mais diversas nacionalidades, de caminhões de carga, de contêineres, do trem. Pode-se dizer que a história de São Francisco do Sul confunde-se com a história do seu porto. Antes da ligação com o continente, por ali chegaram portugueses, espanhóis, árabes, alemães, nórdicos e tantos outros que, misturados aos Carijó e africanos, formaram o povo francisquense e suas peculiaridades.

17 Para saber outros nomes encontrados durante a pesquisa, ver em S. Thiago, op.cit. (p. 167-171). 18 Pereira, (1952). 19 Rodowicz-Oswiecimsky (1992). 20 Rodowicz-Oswiecimsky era acionista da Sociedade Colonizadora de Hamburgo e permaneceu na Colônia durante nove meses. De volta à Alemanha, fez uma crônica relatando sua experiência, intitulada A Colônia D. Francisca no Sul do Brasil . 21 In: Seibel (2004, p. 201). R E F E R Ê N C I A S BERNSTORFF, Mário. Notas sobre a Baía Babitonga e Porto de São Francisco do Sul. Edição do autor, 1989. BÖBEL, Maria Thereza e S. THIAGO, Raquel. Joinville, os pioneiros: documento e história 1851 1866. Joinville: Univille, 2001. BOITEUX, Henrique. O Falanstério do Saí. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, 1º Semestre de 1944. EHLKE, Cyro. A conquista do planalto catarinense. Rio de Janeiro: Laudes, 1973. PEREIRA, Carlos da Costa. História de São Francisco do Sul. Florianópolis: Ed. da UFSC/Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul, 1984. ______. E ouviram um tiro na floresta. Conto. Anuário Catarinense. Florianópolis, 1952. RODOWICZ-OSWIECIMSKY, Theodor. A colônia Dona Francisca no sul do Brasil. Florianópolis: Ed. da UFSC/FCC/FCJ, 1992. Tradução de Júlio Chella. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Curitiba e Província de Santa Catarina. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da USP, 1978. SEIBEL, Nelci Terezinha. São Francisco do Sul, 500 anos: construções históricas. Joinville: AS&Editora, 2004. S. THIAGO, Raquel e COELHO, Ilanil. A Univille na história da paisagem da Ilha da Rita. Revista da Univille, v.6, n.2, dez. 2001. S. THIAGO, Raquel. Utopia e esperança na Península do Saí. Blumenau: Ed. da FURB; Florianópolis: Ed. da UFSC, 1995.

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Les multiples histoires de l île et alentours

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remier témoin des incursions portugaises et espagnoles en terres brésiliennes, São Francisco do Sul a une histoire fascinatrice, ce qui est particulier aux îles. Mystères et légendes fréquentent, d habitude, les premiers chapitres de ces terres envelopées de mers. À São Francisco do Sul, les premiers convoqués par cette composition légendaire et mystérieuse furent Gonneville, Arosca et Içá-Mirim. D autres personnages, cependant, se sont présentés au procès d occupation et colonisation de São Francisco do Sul explorant, décrivant, élaborant la carte de la région et enfin, effectuant sa colonisation. Il y avait, à l époque, d un côté les espagnols et de l autre les portugais qui disputaient les terres au sud du continent américain. À la deuxième décennie du XVIème siècle, des navigateurs espagnols y faisaient incursion à la recherche d un passage pour les Indes Orientales. Les historiens leur confèrent la primauté de l appelation São Francisco, attribuée par l expédition de Juan Díaz de Solís en 1515 1. Ce nom s est étendu à la baie que les indiens appelaient Babitonga ou Bopitanga. L indéfinition de la ligne de démarcation de Tordesillas a attiré


autant les espagnols que les portugais vers les terres du sud. Les espagnols entendaient que la ligne finissait à São Vicente, ce qui leur attribuait la propriété de tous les domaines au sud de cette ville, tandis que les portugais l avaient placée au Rio da Prata. Convaincus de leurs droits, ils ont décidé de fonder, entre autres, un pueblo en la costa del Brasil, dentro de la nuestra demarcación en la parte que dicen Saint Francisco. Pour cette raison le couple Fernando de Trejo et María de Sanabria et d autres espagnols se sont installés à São Francisco do Sul où, autour de 1533, ils ont fondé un bourg. Là est né Frenando de Trejo y Sanabria, le fils du couple, attribuant à São Francisco do Sul la primauté de la liste d enfants illustres de Santa Catarina. Trejo y Sanabria serait évêque de Tucumán et fondateur de l Université de Córdoba, en Argentine. La faim et les maladies ont poussé ces fondateurs vers Assomption, suivant le chemin déjà parcouru à pied par D.Alvar Nuñez Cabeza de Vaca2. Le blason d armes du município de São Francisco do Sul, d ailleurs, est composé de celui de la famille Cabeza de Vaca, remémoré comme un des premiers espagnols à avoir incursionné dans leurs parages, plus exactement à l estuaire du fleuve Itapocu, terres dont il a pris possession au nom du Roi d Espagne. De là il est parti par terre jusqu au Paraguai par le sentier de indiens, le fameux chemin du Peabiru. La domination espagnole exercée sur le Portugal entre 1580 et 1640 l Union Ibérique -, en plus de l intérêt prédominant des espagnols pour la recherche de métaux précieux à l intérieur du continent, ont relâché les initiatives de peuplement, aussi bien des uns comme des autres. Le Portugal l a commencé, en la région, seulement après que l Union Ibérique avait été défaite, en fondant Paranaguá, São Francisco, Desterro et Laguna.

La fondation Baptisée par l Espagne, São Francisco a été effectivement fondée par l initiative portugaise. Costa Pereira est d avis que la fondation de São Francisco do Sul a été davantage un mouvement des habitants de São Paulo que portugais, [que c ] était l expansionnisme bandeirante qui se lançait à travers l intérieur du Brésil à la conquête d indiens qui se transforme en celle de l or et, en conséquence, la conquête de terres3. Ce furent donc, les bandeiras 4 de colonisation les responsables par la fondation des plus anciennes villes de la côte de Santa Catarina. Le fait que des bandeirantes comme Manoel Lourenço de Andrada se soient établis à São Francisco, Dias Velho dans l île de Santa Catarina et Brito Peixoto à Laguna indique l intention de dominer l intérieur, comme on le faisait au nord-est, alliée au besoin de défendre la côte et élargir l occupation portugaise vers le sud. Lourenço de Andrade, passé à l histoire en tant que fondateur de São Francisco, y est arrivé après maintes essais préalables de colonisation. Personnage ressortissant dans la capitainerie de São Paulo, il avait reçu l autorisation de s établir à São Francisco et distribuer les terres entre ceux qui étaient enclins à la coloniser. Lourenço de Andrade s est reservé celles qui allaient de la ville jusqu aux Laranjeiras. En 1720, la Vila de Nossa Senhora da Graça de São Francisco s étendait de la pointe nord de l Enseada das Garoupas, dans l actuel município de Porto Belo, jusqu à la barre et le fleuve Guaratuba, embrassant toutes les plages et fleuves compris entre les deux points, ainsi que l intérieur sauvage qui faisait limite avec les terres espagnoles. De ce vaste territoire se sont démembrés les terres qui correspondent, aujourd hui, entre autres, aux municípios de Porto Belo, Itajaí, Joinville, #


Araquari, Garuva, Barra Velha, Piçarras, Penha, Barra do Sul et Itapoá. Au continent, de l autre côté de la baie, est située la Vila da Glória, au district du Saí, qui appartient encore à São Francisco. La fondation du village, en 1658, a conféré à São Francisco le statut de premier village fondé dans celle qui s appelait alors la Capitainerie de Santo Amaro e Terras de Sant Ana qui, en 1748, deviendrait Capitainerie de Santa Catarina5. Avec l indépendance, le village est devenu município de São Francisco do Sul, important à l époque, dans le domaine politico-administratif et stratégique. Sa position privilégiée dans l Atlantique sud et son port, reconnu depuis le XVI ème siècle, par les navigateurs, comme bien abrité et bon pour l aiguade, en étaient responsables. Dans le domaine économique, cependant, il ne deviendrait expressif en tant que partie intégrante de la colonisation du nord-est et du plateau de Santa Catarina qu à partir de la fondation de la Colônia Dona Francisca, (la Joinville de nos jours) par la Compagnie Colonisatrice de Hambourg, responsable par l installation d immigrants germaniques dans la région.

La présence de l esclave noir Dès le début, on a essayé d installer, à São Francisco, un mode de grandes propriétés destinées à l agriculture, avec de la main d oeuvre d esclaves et agrégés. Plusieurs raisons ont empêché l installation de ce modèle: des dificultés pour consolider l occupation, dépeuplement spontanné et abandons sporadiques dûs aux guerres de frontières qui résultaient toujours du recrutement de personnes en âge de travailler. En plus, les labours traditionnels qui y étaient dévéloppés ne $

trouvaient pas de valeur commerciale dans le modèle agraire-exportateur. Le résultat fut l adoption de l agriculture destinée au commerce et à la consommation locaux, complementée par la chasse et la pêche. Dans ce contexte, l esclavage ne s est pas développée en grande échelle comme en d autres contrées de l État. Les propriétés rurales qui étaient des concessions de terres destinées aux colons n ont pas utilisé, donc, pour la plupart, un nombre expressif d esclaves. Les afrodescendants, pourtant, comme d autres ethnies, se sont aussi fait représenter dans le développement historique de la région, surtout par le légat de leur culture. Le lieu-dit Itapocu réunit encore la communauté afro-descendante de la région pendant les fêtes de Noël, quand a lieu la bien connue Fête du Cacumbi. À São Francisco do Sul, cependant, l esclavage s est notabilisé dans l espace urbain, lui conférant un paysage singulier. Bien que le régime de travail dans la Colonie São Francisco ne pratiquât pas l esclavage, la présence des esclaves à São Francisco et alentours a conféré aux immigrants un quotidien qui les éloignait considérablement de ce qu ils appelaient la Kleine-Deutschland (pequena Alemanha). Le Journal de la Colonie - Kolonie Zeitung du 15 mars 1879 a publié une note dont l analyse nous permet d entrevoir un aspect de la précieuse collaboration de l esclave urbain dans la région. Dans cette publication, les immigrants germaniques établis à São Francisco, avec ceux de Joinville, exprimaient leur reconnaissance à l esclave de São Francisco, Antônio Naro, pour son aide pendant une épidémie de fièvre jaune. Ils réalisaient une collecte pour acheter la liberté d Antônio, ce qui leur permettait d affirmer que sans les


généreux sacrifices de Joinville et Dona Francisca il serait, certainement, très difficile à l esclave, que si noblement s est conduit, d obtenir sa libération 6.

Le problème du service militaire Le service militaire a été la cause la plus importante du retard dans le développement de São Francisco comme de l île Santa Catarina avec ses immigrants açoriens. L affrontement avec les espagnols, qu au XVIII ème siècle exigeait

encore une mobilisation des troupes, épuisait les populations, transformant São Francisco en un lieu de veuves et orphelins pauvres. En passant par la région autour de 1820, Saint-Hilaire a observé que: Comme la province de Santa Catarina disposait de peu de rentes et devait, presque toujours, faire les frais de la manutention des troupes, l administration non seulement n a jamais fait le moindre sacrifice en bénéfice du district de São Francisco, comme elle l explorait chaque fois davantage. Vingt miliciens de la Garde Nationale étaient maintenus,

Territorialité noire comme résistance active À São Francisco do Sul, encore de nos jours, le système de registre des propriétés et la mise en règle des situations de fait accompli (possession de terres) sont un problème fréquent dans la structure agraire locale, en particulier par rapport à la population noire. L incorporation de la terre au système cartulaire a été réalisée de manière sélective, restant aux afro-descendants l occcupation des espaces qui étaient en marge du système des propriétés, en même temps résiduels et interstitiels. Produits et reproduits par la ségrégation spaciale et par le préjugé social, ces espaces ont été conservés comme «territoires noirs», définis en tant qu espaces inscrits dans différents types de limites et, surtout, reconnus par tous ceux qui en font partie et par la collectivité en général (Leite, 1991). Différents procédés de revalorisation de ces terrains résiduels et interstitiels comme un projet de reboisement, au début des années 70 du siècle dernier- ont provoqué le déplacement de plusieurs territoires noirs, qui étaient en pente ou sur des carrières, considérés, jusqu alors, des terres sans valeur. Ironiquement, trente ans auparavant, plusieurs fronts de coupe de la végétation forestière avaient provoqué le même effet en un procédé d occupation des terres du município. Des lieux-dits comme Figueira, Ribeira, Linguado et Tapera, occupés par des afro-descendants, ont été heurtés par des activités de ce genre. Il s agit, donc, d un mouvement continuel de la population noire, à São Francisco do Sul, différent de ceux qui ont été signalés en d autres régions du pays, où les quilombos1 ont conservé

leurs lieux d origine. Dans tous ces territoires noirs, cependant, constitués de petits groupements territoriaux de trois ou quatre familles, l appartenance au territoire crée, en général, des liens de parenté formels ou informels. Le mécanisme de solidarité territoriale transforme n importe quel habitant de ces territoires en un anneau d une chaîne de parents, ce qui leur permet l usufruit d autres territoires analogues, en ville comme à la campagne. La territorialité noire n est pas le résultat, ainsi, d une simple exclusion, mais d une articulation ininterrompue qui fait de chacune de ces expériences communales le fruit de la reprise d un point dans la maille historique de rapports conflictueux, où les noirs et les autres négocient l espace social. Malgré la condition de minorité ethnique de ce groupe, il ne faut pas négliger, dans l analyse de la procédure en sa totalité, les formes de résistance active telles que la territorialité, témoin matériel et symbolique de cette résistance. Alejandro Labale

Pour en savoir davantage voir: LABALE, Alejandro. Relatório Santa Catarina do mapeamento dos territórios negros. Florianópolis: NUER/UFSC: FORD Fund., 1996; LEITE, Ilka B. Negros no Sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1991, 280 p.; _______Terras e territórios de negros no Brasil. Textos e Debates, Florianópolis: PPGAS/UFSC; NUER, ano 1, n. 2, 1996. 1 Les quilombos étaient des groupements d esclaves fugitifs, noirs ou indiens, avec une organisation sociale complexe, qui se cachaient à l intérieur du pays, loin de la présence des blancs. Certains ont duré des siècles. (Note du traducteur)

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régulièrement, au service de la ville et du fort, et souvent d autres étaient détachés et envoyés à Santa Catarina sans recevoir même pas de quoi se nourrir. Il s agissait, pourtant, d hommes pauvres, qui vivaient du travail de ses propres mains et ne pouvaient pas abandonner leurs maisons et plantations sans qu il en résulte une grande perte pour eux-mêmes et pour leurs familles 7. A São Francisco les actions militaires étaient exercées par le Tiers des Ordonnances dont le service était obligatoire pour tous les hommes majeurs de 18 ans et de moins de 60 ans. Il existait, en plus, les corps auxiliaires qui deviendraient, plus tard, les milices. Devant le refus ou la peur de la guerre, quand ils étaient recrutés, beaucoup de jeunes et chefs de famille s échappaient et étaient repris de force, «chassés comme des animaux» selon Costa Pereira (1984, p. 89). La recrue a été la cause majeure du dépeuplement et de la pauvreté de la province. Les incursions espagnoles, qu au XIX ème siècle perturbaient encore le Portugal, ont fait que le gouvernement commençât, en 1801, la construction d un fort au district de Saí, proche du pontal nord de la baie, dans le but de protéger le port. Construit en torchis, il a été nommé Saint Louis. En 1817 il a été reconstruit et, en 1826, muni de quatre canons. Lors de son passage par ces contrées en 1820, Saint-Hilaire le décrit «comme un fortin garni de miliciens de la Garde Nationale». En 1909, finalement, a été construit le fort Maréchal Luz, sur la côte nord, à 15 kilomètres du centre-ville. Aujourd hui, en plus d avoir ses fonctions militaires, le fort attire des touristes qui suivent le chemin de terre qui donne accès au morro João Dias.

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Au nom de Dieu et de sa Majesté l Église La conquête des terres qui formeraient les empires coloniaux portugais et espagnol cachait le ton de sauveur que les souverains catholiques ont imprimé à la mission de convertir les nouveux païens.Ce n est pas par hasard, pourtant, si le premier souci des fondateurs des hameaux et villages était de construire l église, avant même la Maison du Conseil, siège de l administration locale, et du pelourinho, lieu où l on suppliciait les esclaves. Au nom de Dieu et de Sa Majesté, les terres conquises seraient exploitées, les indiens et les africains réduits à l esclavage et convertis. Sous cette optique, il est aisé de comprendre que, même avant l arrivée de Manoel Lourenço de Andrade, en conséquence des tentatives antérieures de peuplement, il existait déjà, à São Francisco, la chapelle de Notre Dâme des Grâces, même si le village ne comptait, encore, qu une douzaine d habitants. Lourenço de Andrade, investi par les autorités de la mission de peupler les lieux et propager la foi chrétienne, a fait construire une autre église, terminé en 1665 sous l invocation de la même protectrice, ce qui s accordait mieux avec la nouvelle situation de paroisse, établie la même année. Passés soixante-dix ans, l église avait éprouvé des avaries diverses. Quand l arche de la porte principale s est cassée, menaçant de s écrouler, les réparations sont devenues urgentes à un moment où les ressources manquaient. Le sentiment religieux, cependant, s est montré puissant. Le peuple, volontairement, s est imposé un tribut, appelé l impôt du centime, sur diverses denrées comme le manioc, le poisson, l imbé8, l eau-de-vie, dans une vraie démonstration d esprit communautaire.


Plus tard ce tribut n incidait que sur le manioc exporté. La recette a été un succès. L église a été restaurée, ce qui a obligé l imposition du tribut pendant beaucoup d années, ce qui a permis de construire une autre église, plus grande et plus solide qui, au fil des années, a pris la forme actuelle. La trajectoire de l Église Mère de São Francisco do Sul a été poussée par une religiosité dont les symboles ont déclanché des actions communautaires importantes. Un tribut payé avec satisfaction n est pas ordinaire, mais c est ce qui a eu lieu, suivi des travaux volontaires dans la construction dont a participé bon nombre des habitants. Les réformes successives, parmi lesquelles la peinture du plafond, la fabrication des cloches, l importation des orgues et la construction d une nouvelle tour, les images sacrées, tout ça témoigne d une communauté entourée de ses croyances, sa foi, sa dévotion.

Baía da Babitonga Abritant une guirlande d îles et un port naturel, la Baía da Babitonga a procuré des rencontres entre hommes et cultures à travers les siècles. Mère des pauvres, c est comme les anciens l appelaient pour mettre en valeur son sens de lutte pour la survie. En fait, le port sûr, l abondance de poissons et oiseaux due à la richesse des mangroves et des hauts-fonds, la verdure et les bonnes terres des îles où ils cultivaient des produits de subsistance, ont fait de la Baía da Babitonga le centre de la vie de São Francisco do Sul 9. Même exerçant d autres professions, pratiquement tous les hommes avaient un canot. Les femmes savaient les manier, ce qui a attiré l attention de Saint-Hilaire: On voit des femmes

bravant une mer agitée dans des bateaux peu sûrs sans démontrer la moindre peur. La mer est l élément naturel des habitants de la région.10 En plus, la position stratégique d abri et la communication avec le continent intègrent son histoire au monde terrestre qui l entoure. Babitonga ou Bopitanga sont des mots sans doute dérivés du guarani mbopi, chauve-souris, et tang, neuf, tendre. Il y a une autre version affirmant que babitonga est une corruption de bepitanga, la dénomination carijó. Ce nom apparaît pour la première fois sur la carte du Paraguay faite par les jésuites entre 1646 et 1649. L Île de la Rita serait uniquement une belle île de plus dans l archipel de la Babitonga si elle n avait pas un rôle important dans l histoire de São Francisco. Tandis que les îles Grande, das Claras, das Flores, entre autres, étaient mouvementées par l accostement des bateaux, pêcheurs et baigneurs dans ses petites et accueillantes plages, l Île de la Rita se montre solitaire avec ses ruines qui représentent un ténu souvenir d un passé remarquable. Là a été installée la base navale pour l approvisionnement d eau, huile combustible et charbon. Elle avait, encore, une fonction d importance militaire considérable, celle d excellent point stratégique pour la défense pendant la Deuxième Guerre Mondiale. La base d approvisionnement de l Île de la Rita a été inaugurée le 8 mars 1940 avec la présence du président Getúlio Vargas, ce qui fut l un des plus importants événements politiques de l époque. Quand on évalue la répercussion de la visite du Président Vargas à São Francisco et sa présence à l acte d inauguration de la base de l Île de la Rita, dans la presse, on constate que ce fut un des plus importants événements politiques dans ces débuts de années 40. [...] Il reste dans la mémoire des personnes plus âgées qui le racontent à leurs '


enfants. Aujourd hui, encore, l épisode est remémoré avec beaucoup d enthousiasme. 11. À l époque, ce qu on a appelé le Estado Novo était en pleine vigueur. La politique externe de Vargas exigeait des définitions et positions qui manifestaient tantôt de la sympathie pour la cause nazi-fasciste (Alemagne et Italie), tantôt pour les alliés (Angleterre, France et États Unis). On vivait une période d incertitudes jusqu à ce que, finalement, en 1942, le Brésil, poussé par des accords, s est déclaré du côté des alliés, firmant son rôle d interlocuteur des États Unis en Amérique du Sud. Entre les décennies de 40 et 60, période de pleine activité de la base, il s est formée, dans l île, une petite population de fusiliers marins originaires de diverses régions du Brésil, beaucoup d entre eux connus par des surnoms associés à leurs origines, comme «baiano», «gaúcho», «sergipano». Quelques-uns se sont mariés avec des filles du coin et se sont intégrés aux communautés de Vila da Glória et de São Francisco. Des histoires de fantômes et mystère peuplent l imaginaire des pêcheurs. On raconte que dans l Île de la Rita une jeune fille, habillée d une longue robe blanche et flottante, descendait les grands escaliers, marchant le long du quai. Quand les gardiens essayaient de la suivre, elle disparaîssait. Quand ils racontaient l épisode aux amis ils l identifiaient: c est Rita...c est Rita.

La fascination de l or Les multiples possibilités promises par la possession de l or l on transformé en un symbole irrésistible de pouvoir. À São Francisco do Sul cela n a pas été différent. L extraction de l or a été une des raisons du peuplement de la région, mais, d après Costa Pereira, Ce fut une illusion qui s est

vite défaite pour renaître plus tard et disparaître encore, tant par le manque du précieux métal que par les exigences fiscales et par la crainte, en l exploitant, d éveiller la cupidité des capitaines de navires des différentes nationalités qui croisaient le rhumb12. De telles limitations, cependant, n ont pas diminué l ambition de trouver le noble métal. En un temps où l imaginaire n avait pas encore été atteint par les médias, quelques histoires ont été construites et gardées par la tradition orale. Parmi d autres, celle du «corps sec», racontée en plusieurs versions, qui mentionnait, comme toutes les autres, le même objet du désir, l or. On dit que dans l île Mandijituva, dans la Baie de la Babitonga, il y avait un corps sec, «mais ce n est pas tout à fait ça», dit le pêcheur Belarmino Borba, «seu Belo»: Ils disaient que c était un corps sec d une personne qui est morte. Il avait beaucoup de péchés et le cimetière n a pas accepté son corps. Alors on l a emporté et mis dans l île, et le peuple avait peur, mais ce n était pas cette affaire. Celle-là était l affaire des jésuites. Ils ont fait un poupon [...]. Un poupon en plâtre qu ils ont rempli d or et ont mis là-bas pour le cas où ils reviendraient un jour le reprendre. C était pour faire peur , pour que personne n approche. Parce qu un défunt sec, qui va l approcher? J avais peur. Comme ça l or est resté bien gardé, mais alors j ai su que des hommes de Joinville sont venus et l ont trouvé. 13

Le Phalanstère du Saí Au XIXème siècle, le désenchantement des idéaux de la Révolution Française a révigoré la pensée utopique, dont les déroulements ont élu l Amérique comme un espace géographique propice aux expériences jusqu alors inusitées.


Saint-Simon, Owen et Fourrier, qui ont présenté à l humanité des formules de libération, ont été les principaux représentants de ce courant de pensée qui inventait des mondes nouveaux dans lesquels ils proposaient des rapports radicalement innovateurs. Leurs propositions contenaient une conception messianique de la politique, raison pour laquelle elles étaient critiquées par Marx et Engels qui parlaient de socialisme utopique. Il n est pas étonnant, donc, qu en même temps que l Amérique du Nord recevait des milliers d européens qui s y installaient à la recherche de ces mondes, au Brésil on assiste à un phénomène semblable. En janvier 1842, environ 217 français lidérés par le docteurr Benoit Jules Mure, se sont aventurés dans la traversée de l Atlantique vers le Brésil. Leur destin était un point face à l île São Francisco, la Péninsule du Saí. Là, loin des vices des métropoles européennes, ils prétendaient créer un monde nouveau en s inspirant dans les idées de Charles Fourier, surtout celles qui prêchaient l organisation du travail. Moyennant un système économique basé sur la livre association, ils essaieraient d implanter un systhème collectiviste. Pour le penseur français, la clé de l histoire n était pas, comme l a défini Marx, la connaissance des purs phénomènes matériaux, des profondeurs de l économie, des relations des hommes au travail. Pour Fourier, elle était le dévoilement de la vie affective des groupes, étant donné qu il existe une correspondance entre le monde planétaire et le monde social: «le mouvement qui pousse les planètes, ainsi que les hommes, c est l amour, l attraction passionnelle»14. C est sur cette conception que Fourier a idéalisé le «phalanstère», c est-à-dire, une demeure collective qui abriterait un monde dans lequel l harmonie garantirait le bien-être, la justice

et la liberté entre ses habitants. Ce mot étrange a été créé par Fourier, puisqu il n y en avait aucun qui définît une habitation collective telle qu il l avait conçue. Phalanstère, donc, est l union des mots «phalange» et «monastère», puisque les gens qu y habiteraient seraient organisés en phalanges. Chaque phalange aurait 1620 personnes, 810 hommes et 810 femmes, et serait divisée en séries. La série, à son tour, serait divisée en groupes, selon le nombre de travaux à réaliser et les attractions «passionnelles des phalanstériens». Le Dr. Mure a été responsable de la seule tentative concrète d installation d un phalanstère au Brésil, nommé Phalanstère du Saí qui comptait, dans son projet, de vastes oficines, salles à manger, bar et, dans un futur prochain, librairies, musées, cabinets de physique et un théâtre. La cuisine serait une pièce communautaire, aussi bien que la cave, l entrepôt et le celier. Quand il est arrivé au Brésil, Benoit Jules Mure avait trente-deux ans. Il était haut, blond avec de grands yeux bleus, visage rond et barbe rousse, vigoureux, aimable, mais autoritaire. Formé en médecine par l Université de Paris, il s est dédié, pendant un certain temps, à la propagation de l homéopathie en France, une nouveauté thérapeutique, à l époque. Homéopathie et utopie marchaient ensemble dans les plans de Mure. Une école pour la formation d homéopathes complémentait son projet pour le Saí. Vers le milieu de 1843, cependant, il était déjà de retour à Rio de Janeiro. Une partie de ses plans pour la nouvelle pratique de guérir s est concrétisée dans cette ville avec la fondation de l Institut Homéopathique du Brésil, non sans faire face, avant, à l opposition des médecins traditionnels qui l ont mêlé à des intrigues et ennuis. Désillusionné, Mure est retourné en France en 1848.


Il y a controverse sur les motifs et la façon dont Mure a joué son rôle d «emprésario» dans la prétendue colonisation du Saí. Quelque soit la version, le fait est que Mure, avec le mot facile, du charme et une grande obstination a réussi à faire approuver par l Assemblée Générale (actuellement le Congrès National) l avance de 64.000$00 (soixante-quatre mille réis) destinés aux dépenses pour l introduction, dans la péninsule du Saí, des français adeptes des idées de Fourier, pour y établir la «Colonie Industrielle du Saí». Compte-tenu de l appui reçu, et certain qu on lui céderait le terrain nécessaire, Mure se trouvait déjà à São Francisco do Sul au début de 1841, après avoir visité d autres lieux. Dans une lettre dirigée au Jornal do Commércio il décrit les conditions naturelles et du peuple de São Francisco que, d après lui, faciliteraient l accomplissement de son entreprise: «par une admirable coïncidence, c est ici que j ai trouvé la plus vive, cette sympathie si nécessaire et qui doit assurer le triomphe de notre grande aspiration» 15. Mure mentionnait, en particulier, le Colonel Camacho, envers qui il se sentait redevable de lui avoir cédé deux lieues carrées du terrain qui comprenait la Peninsule du Saí presque en entier. Le Colonel Camacho, certainement, appréciait l idée d une colonie industrielle au Saí que, si elle réussissait, emmenerait le progrès à la région et, en conséquence, la valorisation des terres de sa propriété. Camacho était le fidèle représentant du seigneur patriarcal que, aux dires de Mure, «après un long service militaire à São Francisco do Sul a consacré le reste de ses jours au bonheur de ses concitoyens, à se faire le père de ses admirateurs»16. Mure s est étonné de ses rapports avec les indigènes brésiliens 17 qui lui demandaient conseil et secours aux moments difficiles, et il a

fait des commentaires à ce propos: «le colonel, avec sa parole, consolait les afligés, conciliait les querelles et indiquait le meilleur parti à prendre dans chaque circonstance.18. Particulièrement romantique, il imaginait le colonel comme celui qui avait lancé les principes de l «association», un prédestiné de Fourrier. Après avoir été reçus à Rio de Janeiro par l Empereur, en décembre 1841, les cent premiers français ont été embarqués à bord du «Caroline» à destination du Saí. Ils ont abordé dans São Francisco au début de janvier 1842, accompagnés de l espoir de construire une société qui leur permît une vie harmonieuse, loin des difficultés européennes. En novembre de la même année, le «Virgine» est arrivé avec 117 personnes de plus, complétant le nombre de français qui ont, effectivement, participé de cette intéressante expérience. C étaient des agriculteurs, mais aussi des architectes, taillleurs d habits, comptables, cuisiniers, charbonniers, chapeliers, maçons, coloristes, dentistes, médecins, relieurs, qui formaient une longue liste de métiers plus enclins à la vie urbaine. Dominer un espace pratiquement «vierge» de civilisation était un énorme défi qu ils avaient devant eux. Mais les indéfinitions d organisation, administration et législation de la colonie ont provoqué, dès les premiers jours, de sérieuses discordes entre le Dr. Mure et d autres leaders dans lesquelles se mêlaient, aussi, d autres colons. Pendant ce temps, dans le reste du pays une série de mouvements menaçait l intégrité du territoire brésilien. Au sud, Luis Alves de Lima e Silva, le futur Duc de Caxias, entreprenait une campagne contre les Farroupilhas dans la tentative de pacifier la révolte qui traînait depuis 1835. Le mouvement républicain du Rio Grande do Sul


avait déjà atteint Lages et Laguna, à Santa Catarina. Ce fait inquiétait les gouverneurs de l État qui ne désiraient pas voir, au Saí, un noyau de soucis supplémentaires. En vérité, le groupe était déjà divisé, et quelques colons se sont installés au Palmital (intérieur de la Péninsule), ayant Jamain et Derrion, principaux oppositeurs de Mure, comme leaders. Deux groupes se sont formés: celui du Palmital et celui du Saí, ce dernier commandé, encore, par le Dr. Mure. Vers le milieu de 1843, le Dr. Mure, frustré, abandonnait la colonie pour aller habiter à Rio de Janeiro, laissant les deux groupes sous le commandement de Jamain et Derrion. En 1844, les travaux à la colonie étaient très éloignés du premier projet, mais quelques réalisations attestaient la volonté et la persévérance des français, vraiment intéressés à faire de ce lieu-là l espace qu ils avaient projeté. Au rivage de la baie il y avait une maison couverte de tuiles qui avait été construite par Labbé. Il y avait là une forge -dont le français se servait pour fabriquer de la ferraille-, une scierie mécanique et les restes d une fonderie qui n avait peut-être jamais été essayée, aux dires de Derrion, en raison d un défaut de construction ou du système. Labbé a travaillé en plusieurs rizeries, avec de la ferraille pour bateaux, en plus de la réparation d ustensiles. Dans une maison couverte de paille vivaient Mangin et sa famille, parmi des étables servant d abri au bétail: vaches, chèvres, cochons et un seul cheval. Beaucoup de maisons avaient été abandonnées, certainement en raison de la dispersion de ses compagnons 19. Les français qui restaient encore au Saí et au Palmital, à ce moment-là, entretenaient une plantation commune de canne à sucre et une autre de haricots et maïs, en plus du terrain où ils avaient

semé trois alquières de riz. Il y avait, aussi, sur ce terrain, un pâturage clôturé et un potager. Araires et équipements avaient été fabriqués pour le transport du bois jusqu à la scierie qui fonctionnait à bon train. De là partaient les planches vers la côte pour être vendues à São Francisco. La Maison Picot était le principal établissement de la colonie et avait été construite par ou sous les ordres de Francisco Picot, associé du Jornal do Commércio do Rio de Janeiro et grand instigateur de l expérience. En 1844, la maison était abandonnée. Elle était grande, couverte de paille, divisée en plusieurs logements qui, au début, servaient à abriter les nouveauxarrivés dans un phalanstère fictif. Là habitaient, en 1844, Derrion, Leclerc, Nenevé et leurs familles, plus Marechal, Launay, Michel et François Rousselle20. Malgré la dispersion, quelques-uns sont restés jusqu au bout de leurs forces et aussi leurs espoirs. Leclerc, Nenevé, Mangin et Remond travaillaient intensement et en société dans les réparations les plus urgentes sur les chemins qui étaient impraticables. En plus, les ponts faits de troncs de palmier étaient pratiquement détruits. Les rares colons qu y restaient n avaient pas les moyens de les récupérer ou les conserver une fois que, en plus d être laborieux, c étaient des travaux dispendieux. «Il se montre un travail au-dessus de nos forces» disait Derrion dans le rapport qu il a envoyé aux autorités. Il ne manquait pas, à ces hommes, les techniques nécessaires au développement de la région. Leur grande limitation était la main d oeuvre, une fois que la plupart d entre eux était issu d un milieu urbain. À la fin de 1844, ne restaient au Saí que 24 personnes. Le 29 août 1847, une dépêche officielle de Joaquim de Oliveira Cercal, de São Francisco, dirigée au !


Président de la Province, mentionnait «la défunte» colonie du Saí, où ne restait qu un établissement pour scier le bois. Nous n avons plus qu à nous souvenir des noms les plus remarquables de cette hitoire: le Dr Benoit Jules Mure, vraie incarnation de l esprit utopique; Derrion, plein d espoir, le dernier leader du phalanstère; Mangin et Labbé, travailleurs inventifs; Louise Bachelet, la journaliste qui, en arrivant à la Ponta do Barracão (Vila da Glória), a baisé le sable en déclamant «Il faut un nouveau monde à des destins»; Léon Ledoux, maçon et sculpteur, et sa femme Rose Grisard, les seuls dont on sait qu ils ont laissé des descendants dans la région. Le Dr Eduardo Deyrolles, médecinchirurgien, qui s est voué aux soins de la population de São Francisco qui l appelait le Dr. Deiró. Rappelons nous aussi Marie Virginie, Basile et Désiré, le trio dont l histoire d amour et tragédie Costa Pereira a transformé en conte. Et de la petite-fille Josephine, de 12 ans à peine, que le Dr. Mure a essayé d attirer pour satisfaire les désirs du Colonel Camacho De la Colonie, peu de chose est resté et peu de noms, donc, sont cités. Il n est pas moins vrai que nous révérencions la mémoire de ceux qui, pour y être passés anonymes, ne font pas moins partie de l histoire.

Rencontres entre cultures le port La force symbolique d un port nous remet à des rêves, espoirs ou désenchantements. Un port est un lieu d arrivage mais aussi de départ, de joie et de tristesse. Le port de São Francisco a été, avant tout, un point de rencontre entre cultures depuis que, au XVIème siècle, les européens y ont débarqué, attirés par ses eaux profondes et abritées. À la première moitié du XIXème siècle, les "

français du Saí y ont apporté, guidés par le socialisme utopique. A la deuxième moitié du même siècle, par ailleurs, dans le contexte de la grande vague migratoire poussée par les besoins des deux mondes, le vieux (Europe) et le nouveau (Amérique), neuf ans seulement après l expérience du Saí, des milliers d immigrants européens sont arrivés au même port, surtout des allemands, des suisses, des danois et des norvégiens. Leur utopie: une meilleure vie au nouveau monde. Leur réalité: le capitalisme. Poussés par le chômage, la pauvrété et le manque de perspectives chez eux, ces immigrants fonderaient la colonie destinée à se transformer en la ville la plus prometteuse de l État de Santa Catarina. La colonie était Dona Francisca, fondée en 1851, qui est devenue l actuelle ville de Joinville. La ville de São Francisco do Sul a peut être été le premier paysage brésilien pour la plupart de ces immigrants. Le port, le lieu de soulagement après trois ou quatre mois en mer, faisant contrepoint au déconfort d un bateau à voile, aux maladies, à la faim et à la promiscuité. Rodowicz, se souvenant de ses adieux dans le port d Hambourg, a écrit: Celui qui a déjà assisté au départ d un bateau avec des immigrants connaît la tristesse de ses physionomies et le mélange qu ils affichent Dans quelques-uns c est la tristesse de laisser la patrie, les amis, les parents, dans d autres ce sont les larmes qu il ne peuvent pas retenir. Que pourra-t-on lire sur ces physionomies? 21 Mais, quand il décrit son arrivée au port de São Francisco, en 1851, une autre réalité se manifeste: La joie était généralisée. L admiration ne prenait pas fin. Chaque personne, chaque arbre, chaque pierre déclanchait des exclamations. Les rivages faisaient si bonne impression sur les passagers que la surprise a été encore plus agréable quand ils ont dévisagé la ville. [...] Ce fut un jour


de fête pour São Francisco do Sul et les passagers ne se sont parés en vain, puisque la population aussi a mis ses habits du dimanche, les dames embellies attendaient, comme c était la coutume du pays, derrière les clôtures et volets ouverts pour offrir des bouquets de fleurs à nos dames, pour leur souhaiter la bienvenue. 22 Cette réception a été prophétique en ce qui concerne les rapports entre São Francisco et la région de Joinville. En plein milieu de la forêt Atlantique, avec une bonne partie de son territoire au pied de la Serra do Mar , la colonie, malgré les contretemps des débuts, a pu compter sur la disposition de quelques-uns de ses négociants et entrepreneurs. Ils ont trouvé dans le bois et l erva mate23 les activités qui donneraient le grand élan économique verifié dans les dernières années du XIXème siècle à Joinville. La somme, au début, de facteurs tels que l abondance du bois et de l erva-mate dans la région et dans les plateaux, la conclusion de la route Dona Francisca, le fleuve Cachoeira et, surtout, le port São Francisco do Sul ont fait pousser, entre les deux villes, un réseau de rapports économiques et politiques de taille à procurer un intéressant essor économique dont les reflexes ont bénéficié São Bento do Sul, Mafra, Rio Negrinho et Campo Alegre. Au fur et à mesure que l économie s accélérait, l infra-structure d accostage, à São Francisco do Sul, devenait plus complexe. En 1903, l entreprise Carl Hoepcke & Cia, de Florianópolis, ayant remarqué, sans doute, l agitation financière que s y développait, a construit un ancrage et des magazins de stockage pour ses activités d importation et exportation, à l emplacement où se trouve, actuellement, le musée de la Mer. Sans se faire attendre, le chemin de fer est arrivé à São Francisco. En 1910 a été inaugurée la

Gare des Chemins de Fer, liant la ville à Porto União, au nord de Santa Catarina, où a été faite la liaison avec les Chemins de Fer São Paulo-Rio Grande, leur assurant, ainsi, l intégration avec le réseau national des chemins de fer. Avant, cependant, en 1906, un klaxon joyeux avait annoncé la sortie du premier convoi qui allait parcourir le trajet entre São Francisco do Sul et Joinville. Ce jour-là, le 26 juillet, serait inaugurée la Gare des Chemins de fer de Joinville, avec une fête, de grande repercussion sociopolitique dans tout l État, qui a marqué le début d un procès de modernisation intense à Joinville, dont le port fut et continue d être un élément indispensable. Le déclin du cycle du mate et du bois, sur le plateau et dans la région de Joinville a été accompagné d un certain immobilisme dans les activités du port jusqu aux années 70, quand la Cocar, aujourd hui Cidasc (Cia. Integrada de Desenvolvimento e Armazenagem do Estado de Santa Catarina) a été installée, un terminal de réception, stockage et envoi de grains. Le terminal grainetier, plus l accroissement des exportations de manufacturés ont révitalisé le port et contribué à son renouvellement socioéconomique. En conséquence de l accélération de l économie et du rythme de vie globalisée et de consommation outrée, le climat romantique qui paradait au port des premières années du siècle passé n est plus de mise. Un demi-siècle durant les activités portuaires avaient animé la ville. Les sifflets des bateaux arrivant ou partant, la circulation des pratiques, l accent «portenho» 24 ou encore le son étrange d autres langues étrangères se confondaient avec les passions amoureuses fréquentes dans un lieu d arrivée, mais aussi de départ. Maintes fois, un marin débarquait en ville ou partait après avoir séduit ou avoir été séduit par une jeune-fille du coin. #


Le Canal de la sole L histoire de la fermeture du canal do Linguado remonte à l année 1907, quand a été comblée la moitié nord du canal, entre l île du Linguado et l île de São Francisco. Le but, à l époque, était la construction de l embranchement ferroviaire pour le port de São Francisco do Sul. Peu de temps après a été comblée, également, la moitié sud du canal, entre l île du Linguado et le continent, restant un passage de 120 mètres à peine, sur lequel a été construit un pont métallique dont la partie centrale était mobile. Ce rétrécissement de la zone de débit des eaux du canal a provoqué un procès d érosion qui a commencé à compromettre les fondements des piliers du pont, puisqu il a provoqué une augmentation de la profondeur des eaux et de la vitesse des courants, situation qui est devenue critique dès 1926. En 1934 a été prise la décision de fermer complètement le canal et les travaux ont commencé. Ils ont été finis l année suivante. La construction de ce polder a transformé l île de São Francisco en une péninsule, empêchant pour toujours la circulation des eaux dans cet endroit, provoquant des altérations importantes dans l hydrodynamique et dans la structure des écosystèmes concernés, aussi bien dans la baie de la Babitonga que dans la barre du Sud. La discussion des problèmes provoqués par la fermeture du Linguado a commencé tout de suite après la fin des travaux et dure encore, 70 ans après. Il y en a plusieurs à la

Dans la tradition orale on raconte de nombreuses histoires de ces amours, remplies de romantisme ou tragédie. La contrebande, à son tour, excitait le désir de consommer -encore peu sensible- des habitants de São Francisco, Joinville et alentours. Jeunes et adultes, hommes et femmes s obligeaient dans l acquisition de produits variés, la plupart nordaméricains, des cigarrettes, des boissons, de la lingerie et de la quincaillerie. Tout cela conférait, au centre ville, un brouhaha caractéristique de la vie portuaire jusqu en 1955, quand le nouveau port a été inauguré à la Ponta da Cruz, près de la gare des chemins de fer.

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baie de la Babitonga et à la barre du Sud attribués au canal de la Sole, et la plupart de la population espère très fort qu il soit rouvert. Jusqu à maintenant, pourtant, aucune des initiatives proposées a été menée à bout. En raison d une décision de justice, résultant d une action civile publique, présentée par le Ministère Public Fédéral de Joinville en 2001, qui a rendu l Union, le Département National de l Infrastructure des Transports (DNIT) et l Amérique Latine Logistique responsables des travaux réalisés, l année de 2003 a été caractérisée par d intenses études dans la région, dans le but d arriver à une réponse sur la viabilité de la réouverture du canal. La situation du canal de la Sole peut être considérée un grand exemple des conséquences possibles de travaux qui n ont pas tenu compte de la question environnementale, obligeant les générations qui ont suivi à résoudre un problème créé le siècle passé. Marta J. Cremer

Pour plus de détails, voir: EIA/RIMA du dédoublement de la SC-280, en particulier la région du canal de la Sole, baie de la Babitonga. DNIT/IME/Univille/Univali/DHI/ INPH. 2004; IBAMA. Manguezal da Baía da Babitonga. Coleção Meio Ambiente. Série Estudos Pesca, 5. Ibama: Brasília, 1998.145 p; KNIE, Joachim L. W. (Coord.). Atlas ambiental da região de Joinville: complexo hídrico da Baía da Babitonga. Florianópolis: Fatma, GTZ, 2002.

Mais un port a aussi son côté sombre. Les maladies du monde y ont trouvé, comme à tous les ports, une entrée pour s installer à terre. Elles arrivaient dans des bateaux qui exhibaient un drapeau jaune annonçant des malades à bord. En ville, la peur régnait, parce que les maladies, qui atteignaient les habitants à travers le contact avec des matelots et passagers qui transitaient dans le port, ont failli décimer la population de São Francisco à partir de 180625. Il est encore possible de visiter les ruines du Lazareto do Capri, installé à la plage du même nom au XIX ème siècle, dans les restes de l édification d un monastère bénédictin du


XVII ème siècle. Là étaient internés les porteurs de maladies considérées contagieuses comme la lèpre, la fièvre jaune, le scorbut et la tuberculose. Les îles de la Babitonga, surtout l île Iriri, ont servi de cimetière aux morts du Lazareto, ce qui est à l origine de légendes populaires. Au cours de son histoire, São Francisco a acquis des traits spéciaux. Son quotidien est enrichi par le va-et-vient de bateaux de

nationalités les plus variées, de cargots, de conteneurs, du train. Il est possible de dire que l histoire de São Francisco do Sul se confond avec l histoire de son port. Avant la liaison avec le continent, c est par là que sont arrivés des portugais, des espagnols, des arabes, des allemands, des nordiques et tant d autres qui, mélangés aux Carijós et africains, sont à l origine du peuple de São Francisco et ses particularités.

1 D après l hypothèse acceptée par Pereira (1984, p. 3) après des études consommées. 2 D. Álvar Nuñez Cabeza de Vaca fut un des premiers explorateurs du Nouveau Monde et capitaine général de la Province du Prata. En 1541, il a pris possession des terres du continent de l embouchure et les rives du fleuve Itapocu au nom du Roi de l Espagne. De là, Cabeza de Vaca s est dirigé vers l intérieur suivant le Peabiru, chemin pré-colombien d indiens qui pénétrait dans diverses directions. Suivant le Peabiru, il a défriché le Plateau de Santa Catarina et du Paraná, arrivant au Paraguai en mars 1542. Voir: Ehlke, Cyro (1973). 3 Pereira, op.cit. (1984, p.3). 4 Expédition armée que, partant de São Vicente et après de São Paulo, défrichait ème ème les terres de l intérieur (depuis la fin du XVI siècle jusqu au début du XVII ) pour emprisonner les indiens et, après, découvrir des mines. (Note du Traducteur) 5 D après Piazza, Florianópolis aurait été fondé en 1662 et Laguna en 1682. Il faut se rappeler, cependant, en raison des diverses tentatives de fondation des trois premiers villages (São Francisco, Santa Catarina et Laguna) ces dates, en ce travail, représentent uniquement une référence temporelle. 6 In Böbel et S. Tiago (2001, p. 150). 7 Saint-Hilaire (1978, p. 149) Comme il n a pas été possible de consulter l original français, ce texte a été retraduit à partir de sa version en portugais. (Note du traducteur) 8 Plante très résistante à l eau salée dont les racines étaient largement employées dans la confection de panniers qui servaient à la pêche. (Note du traducteur) 9 D après Bernstorff ce sont celles-ci les îles de la Babitonga : Iriri et Baiacu, dans l Iperoba; Alvarenga, Ferreira et Itauçu, près de la Vila da Glória; îles Araújo, à la cote des Laranjeiras. Plus au fond, dans la baie, ce sont : Mandijituba, Herdeiros, Murta, Maracujá, Cação, Pernambuco, Chico Pedro, Queimada, Corisco, Das

Claras, Dos Negros, Da Rita, Grande, Redonda, Guaraqueçaba, Do Mel, Dos Barcos, Das Palmas, Dos Papagaios. 10 Saint-Hilaire, op. cit (p.14). 11 S. Thiago et Coelho (2001). 12 Pereira, op. cit. (p. 96). 13 In: entretien accordé aux enseignantes Raquel S. Thiago et Ilanil Coelho en février 2001, à la Vila da Glória, (SFS). 14 S. Thiago (1995, p. 25). 15 Boiteux (1944). 16 Ibidem (p. 57). 17 Caboclo: brésilien métisse. (Note du traducteur). 18 Boiteux (p. 57). 19 Ver S. Thiago, op. cit. (p. 137). 20 Pour connaître d autres noms trouvés dans la recherche, voir S.Thiago, op.cit. (pp. 167-171). 21 Rodowicz-Oswiecimsky (1922). La version française de son texte est faite a partir du texte en portugais. (Note du traducteur) 22 Rodowicz-Oswiecimsky était actionnaire de la Société Colonisatrice de Hambourg et il est resté dans la Colonie pendant neuf mois. De retour en Allemagne il a fait une chronique racontant son expérience qui avait pour titre «La Colonie Dona Francisca au Sud du Brésil». La version française de la citation a été produite a partir du texte portugais. (Note du traducteur) 23 Plante feillue (spermatophyte) qui conserve la tige toujours verte et tendre, dont les feuilles procurent une infusion digestive très prisée au sud Brésil. (Note du traductuer) 24 De Buenos Aires (Argentine). (Note du traducteur) 25 In Seibel (2004, pg.201).

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A intelectualidade francisquense na definição do Estado Republicano em Santa Catarina C A R L O S H U M B E R T O P. C O R R Ê A


O P ÁGINA

ANTERIOR

/ P AGE

PRÉCÉDENTE :

Carlos da Costa Pereira, então diretor da Biblioteca Pública do Estado (Florianópolis), em reunião com os desembargadores Henrique Fontes e João da Silva Medeiros Filho. Carlos da Costa Pereira, alors directeur de la Bibliothèque Publique de l État (Florianópolis), reúni avec les juges de la cour suprême Henrique Fontes et João da Silva Medeiros Filho.

panorama cultural catarinense, por ocasião da passagem do período imperial para o republicano, dos fins do século XIX aos inícios do seguinte, concentrou-se, como não poderia deixar de ser, na capital, Desterro, depois Florianópolis. A cidade era a maior e mais desenvolvida do Estado, e aí se agrupavam os principais estabelecimentos escolares, proporcionando melhor formação aos jovens, além de ser, principalmente, a cabeça política pensante e pulsante, para onde convergiam todos os intelectuais das demais regiões, principalmente do litoral e do planalto. Proclamada a República, apareceram as dificuldades iniciais de sua implantação ocasionadas pelo surgimento de um Poder Executivo estadual com características bem diferentes das que havia no Império. Apesar da inexperiência diante dos representantes legislativos e da pressão sofrida por posições revisionistas, o Partido Republicano em Santa Catarina, sem tradição no Estado, mas agora majoritário, para se consolidar teve que implantar


uma nova ideologia social, política, econômica e, logicamente, cultural. Após a vitória do legalismo sobre os revolucionários federalistas, o governo catarinense de Hercílio Luz (1894-1898) passou a se preocupar com a definição da imagem de um Estado federal republicano, com limites geográficos, políticos e culturais perfeitamente desenhados que o distinguisse de um período recente, e nefasto, porém sobre bases desconhecidas e assentadas neste mesmo passado. Para isto, extirpou os últimos vestígios do monarquismo, entrou na Justiça Federal contra o Paraná para determinar suas divisas geográficas e definiu seus símbolos republicanos (bandeira, hino e brasão). O discurso permitido era o de ufanismo na construção de uma Santa Catarina nova, progressista, civilista e anticlerical, com forte influência positivista. A nova responsabilidade do governo republicano para com o ensino primário abria caminho para uma difícil viagem de definição ideológica do Estado catarinense, mais segura do

que através de resoluções estatais e legais, porém muito mais longa. Por este motivo, o surgimento de lideranças catarinenses voltadas à construção de um Estado federado sem perder suas características regionais esteve muito ligado à estruturação do ensino em várias regiões, principalmente no litoral de origem portuguesa, como Desterro, Laguna e São Francisco. Em conseqüência, o surgimento de jornais e revistas que proporcionassem a manutenção e a divulgação da produção cultural daquelas lideranças, por menor que fosse, passou a servir de canais alimentadores da necessária construção da nova ideologia em formação. Entretanto, era necessária a efetivação do surgimento de lideranças culturais locais que só tinham expressão quando extrapolavam os limites do regionalismo e se juntavam na capital catarinense para representar suas localidades de origem e adquirir força suficiente para retornar ao ponto de partida. Poucos foram os exemplos que fugiram desta regra, como o surgimento da importante e significativa Revista Catarinense, publicada em Laguna nos inícios do século XX. O aparecimento de


uma intelectualidade cultural em São Francisco do Sul, com vôos expressivos também na política estadual, na qual nos concentraremos neste ensaio, não fugiu à regra. Com uma população em torno dos dez mil habitantes ou pouco menos, na virada do século XIX para o XX, a cidade de São Francisco do Sul já tinha seu jornal, o Democrata, em 1884, seguido, dois anos mais tarde, pelo Constitucional, de existência efêmera, após o que passou por um interregno de dezenove anos sem qualquer folha publicada. Aí talvez esteja a causa do declínio de sua produção intelectual nos primeiros anos do século XX, pois, diante da falta de um órgão que divulgasse a crônica, a prosa e a poesia, seus autores se sentiam desamparados e sem público. Podem ser citados três exemplos de inserção da intelectualidade francisquense no cenário político

DA

ESQUERDA PARA A DIREITA

/ DE

Luiz Antônio Ferreira Gualberto.

GAUCHE À DROITE

A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO

DE

S ÃO F RANCISCO

Arnaldo Claro S. Thiago. A CERVO / A RCHIVES : A CADEMIA C ATARINENSE

DE

L ETRAS .

DE

L ETRAS .

Carlos da Costa Pereira. A CERVO / A RCHIVES : A CADEMIA C ATARINENSE

DO

S UL .


cultural catarinense como um todo, e suas naturais ramificações, nos fins do século XIX e inícios do XX. Em 1894, por ocasião das primeiras reuniões para a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, em Florianópolis, essencial para a execução da nova ideologia republicana, o médico baiano, residente em São Francisco do Sul, Luiz Antônio Ferreira Gualberto (1857-1931) escreveu a José Boiteux, idealizador da instituição, protestando contra a não inclusão da Pré-História, da Etnografia e da Antropologia nas preocupações da nova instituição, porque nenhum Estado brasileiro era tão rico em sambaquis como Santa Catarina. A manifestação de Luiz Gualberto é significativa, pois demonstrou que a intelectualidade francisquense não estava alheia ao que acontecia na capital em termos culturais, além de mostrar o interesse regional pelos objetivos da instituição que se formava voltada aos estudos do passado e da estrutura geográfica catarinense. Desta maneira, São Francisco do Sul se !



inseria, antes da passagem do século, na complexa tarefa de definição do Estado republicano. É desnecessário assinalar que o protesto de Luiz Gualberto foi aceito pela comissão organizadora do Instituto Histórico e Geográfico, passando aquele médico e pesquisador a integrar o selecionado grupo dos intelectuais fundadores. Tendo chegado a São Francisco do Sul em 1885, Luiz Gualberto logo se incorporou ao espírito da pequena cidade e não se contentou em somente exercer a Medicina ou ocupar cargos relativos à sua formação, o que o fazia muito bem, mas também aceitou funções político-administrativas locais, como a de intendente, presidente da Municipalidade e superintendente1 municipal nos últimos anos do século XIX, além de representar a região na Assembléia Legislativa, a qual presidiu por duas vezes. No início do século XX, foi eleito deputado federal por três mandatos consecutivos e, numa demonstração de que se preocupava com uma maior ligação das Ilhas de São Francisco do Sul e de Santa Catarina, apresentou, em 1897, Projeto de Lei para a instalação de via férrea que ligasse as duas cidades. Suas preocupações intelectuais, por outro lado, fizeram-no ser eleito para a Academia Catarinense de Letras, além de participar do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Catarinense, como vimos. Sem ter deixado de lado suas raízes culturais locais, Luiz Gualberto participou ativamente do delineamento republicano dos inícios da República, como deputado estadual e federal, representando o Estado nos momentos essenciais da sua consolidação. O segundo exemplo de inserção da intelectualidade francisquense no pensamento político-cultural catarinense do início do século XX recai no nome de Arnaldo Claro S. Thiago (18861979), autor, entre outras obras, da primeira História da Literatura Catarinense. Arnaldo S. Thiago, como Luiz Gualberto, também foi deputado estadual,

Grupo de Teatro Perseverança , 1919. A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO R EPRODUÇÃO / R EPRODUCTION : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ). P ÁGINA

AO LADO

/ P AGE D À

DO

S UL .

CÔTÉ :

Acima, reunião política em São Francisco do Sul, anos 20. En haut, réunion politique à SFS les années 20. A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO

DE

S ÃO F RANCISCO

DO

S UL .

Abaixo / en bas, Grupo Dramático Horácio Nunes , 1927. A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO R EPRODUÇÃO / R EPRODUCTION : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).

DO

S UL .

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membro da Academia Catarinense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, as duas instituições mais antigas e expressões maiores da intelectualidade estadual2. Nascido em São Francisco do Sul, Arnaldo S. Thiago exerceu o magistério, foi servidor público e formou sua base intelectual. Em Florianópolis, foi deputado estadual por duas legislaturas, após o que se mudou para o Rio de Janeiro, passando a se dedicar às atividades literárias. Sua grande obra foi a História da Literatura Catarinense, publicada em 1944, na então capital da República. A preocupação deste francisquense em reunir grande número de catarinenses na sua História que, em maior ou menor extensão, se dedicaram à literatura, igualmente veio ao encontro da idéia original de definição das características intelectuais do povo catarinense, a mesma que levou as principais lideranças culturais do início do século XX a abrirem amplo leque com a finalidade da conceituação do catarinensismo republicano. Arnaldo S. Thiago também pertenceu a uma importante família de intelectuais e políticos. Seu pai, Joaquim Antônio de S. Thiago (1857-1916), apesar de nascido em Desterro, era a expressão maior do republicanismo francisquense, como Luiz Gualberto. Tradicional professor da escola pública local, foi destacado orador e jornalista, e deputado estadual na primeira legislatura republicana. Por suas qualidades intelectuais e vasta obra publicada, foi escolhido Patrono de uma das cadeiras da Academia Catarinense de Letras. O tio de Arnaldo, Polidoro Olavo S. Thiago (1852-1916), também foi deputado à Assembléia Constituinte estadual, chegando a ser eleito vice-governador do Estado para o período 1894/1898. Também pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Não há de se deixar de lado os nomes do seu filho, o médico e escritor Polidoro Ernani de São $

Filarmônica Babitonga , 1906. A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO R EPRODUÇÃO / R EPRODUCTION : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).

DO

S UL .

Abaixo, Banda de música em São Francisco do Sul. En bas, Orchestre à São Francisco do Sul. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA B RUNATO . P ÁGINAS

SEGUINTES

/ P AGES

SUIVANTES :

À esquerda, prédio da antiga Delegacia de Polícia e Cadeia. À direita, o mesmo edifício, transformado em sede do Museu Histórico de São Francisco do Sul. À gauche, bâtiment de l ancien commisariat de police et Maison d arrêt. À droite, le même édifice transformé en siège du Museu Histórico de São Francisco do Sul. R EPRODUÇÃO E FOTO / R EPRODUCTION ET PHOTO : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ). A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO DO S UL .


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Thiago (1909-1999), e da poetisa Castorina Lobo S. Thiago (1884-1974), ambos também membros da Academia Catarinense de Letras. Finalmente, o terceiro exemplo a ser dado é o de Carlos da Costa Pereira (1890-1967), igualmente nascido em São Francisco do Sul e, da mesma forma, membro da Academia Catarinense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Tendo exercido várias funções em sua cidade natal, em 1938 transferiu-se para Florianópolis, onde passou a dirigir a Biblioteca Pública do Estado, trocando experiência com a elite cultural florianopolitana. Em 1940, foi nomeado Secretário de Governo do Estado. As grandes contribuições literárias de Costa Pereira foram as obras A Revolução de 1893 em Santa Catarina (1976) e

História de São Francisco do Sul (1984), como também a tradução da obra de Saint-Hilaire Viagem à Província de Santa Catarina (1936). No primeiro dos livros, inaugurou o assunto na historiografia catarinense e definiu sua posição política republicana, combatendo as idéias federalistas implantadas em Santa Catarina na década dos anos 90 do século XIX. Apesar de a publicação póstuma ser da segunda metade do século, a obra foi escrita bem antes, entre o período ditatorial de Getúlio Vargas e a participação do Brasil na Segunda Guerra, isto é, em torno de 30 anos após os acontecimentos. Na História de São Francisco do Sul, discutiu a expedição de Gonneville no século XVI e concentrou seus estudos no período colonial,


principalmente sobre a fundação da póvoa por Manoel Lourenço de Andrade, através de uma profunda pesquisa sobre os primórdios da sua cidade. Por sua preocupação metodológica e investigação séria, Costa Pereira pode ser considerado um dos grandes historiadores catarinenses que precederam os historiadores por ofício que produziram em torno do ambiente intelectual da Universidade Federal de Santa Catarina, a partir da segunda metade do século XX. Apesar da falta de uma formação universitária, a historiografia produzida por Costa Pereira supera de longe a apresentada pelos intelectuais que

constituíram os primeiros passos do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, nos inícios do século. A formulação do Estado republicano catarinense, após os acontecimentos revolucionários que envolveram a armada revoltosa sediada na capital catarinense, o domínio do federalismo gaúcho e catarinense, e o revisionismo monárquico dos fins do século XIX, foi montada sobre uma sólida estrutura positivista, definidora do hercilismo político, caracterizado também pelo liberalismo ideológico e anticlerical. O processo em geral não foi rápido pelas dificuldades que teve em derrubar muitos preconceitos, tanto oriundos da própria monarquia quanto criados nos primeiros anos da República. Por isso, demorou quase meio século para ser definido.

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Movimentação política no centro de São Francisco do Sul em 1955. Mouvement politique au centre de SFS em 1955. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA B RUNATO .

O liberalismo ideológico e anticlerical, principalmente, que marcou certas feições da República em Santa Catarina recebeu grande influência da intelectualidade oriunda de São Francisco do Sul, como Luiz Antônio Ferreira Gualberto, Arnaldo Claro S. Thiago e Carlos da Costa Pereira, entre outros, que contribuíram

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decisivamente para a caracterização de um Estado multiétnico e democrático. Santa Catarina muito deve à elite cultural de São Francisco do Sul, especialmente nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, por sua importante contribuição na formação do Estado nos primeiros anos da República.


1 Intendente, presidente da Municipalidade e superintendente eram denominações antigas dos Prefeitos municipais. 2 O IHGSC foi fundado em 1896, e a ACL, em 1920, ambos pelo desembargador José Boiteux.

R E F E R Ê N C I A S CORRÊA, Carlos Humberto P. Lições de política e cultura: a Academia Catarinense de Letras, sua criação e relações com o poder. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, Coleção ACL nº 8, 1996. CORRÊA, Carlos Humberto P. História da cultura catarinense. In: O Estado e as idéias. Florianópolis: Ed. da UFSC/Diário Catarinense, v. 1, 1997. _____ Criatividade intelectual: dependência e liberdade. In: SANTOS, Sílvio Coelho dos (Org.). Santa Catarina no século XX: ensaios e memória fotográfica. Florianópolis: Ed. da UFSC/FCC, 2000. PEREIRA, Carlos da Costa. A Revolução Federalista de 1893 em Santa Catarina. Florianópolis: Edição do Governo do Estado de Santa Catarina, 1976. _____ História de São Francisco do Sul. Florianópolis: Ed. da UFSC/Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul, 1984. _____ Minhas memórias. Florianópolis: Ed. da UFSC/ FCC, 1996. SACHET, Celestino. A Literatura Catarinense. Florianópolis: Lunardelli, 1985. S. THIAGO, Arnaldo. História da Literatura Catarinense. Rio de Janeiro: [s.n.], 1957.

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L intellectualité de São Francisco dans la définition de l État Républicain à Santa Catarina

L

e panorama culturel de Santa Catarina, à l occasion du passage de la période impériale à la républicaine, entre la fin du XIXème siècle et le début du siècle suivant, s est concentré, et cela ne pourrait pas être autrement, à la capitale Desterro, puis Florianópolis. C était la ville la plus grande et la plus développée de l État, où étaient groupés les plus importants établissements scolaires (ce qui garantissait une meilleure formation aux jeunes) et qui était, en plus et surtout, l esprit politique pensant et pulsatif vers où convergeaient tous les intellectuels des autres régions, surtout du littoral et du plateau. Une fois proclamée la République, ont surgi les difficultés initiales pour l implanter en raison d un Pouvoir Executif, dans l État, avec des caractéristiques bien diverses de celles de l Empire. Malgré l inexpérience face aux représentants du législatif et de la pression subie de la part des positions revisionnistes, le Parti Républicain à Santa Catarina, sans tradition mais maintenant majoritaire, s est vu obligé d implanter de nouvelles idéologies sociale, politique, économique et, en toute logique, culturelle. Après la victoire du légalisme sur les révolutionnaires fédéralistes, le gouverneur de Santa


Catarina, Hercílio Luz, (1894-1898) s et occupé de la définition de l image d un État fédéral, républicain, avec des limites géographiques, politiques et culturelles parfaitement dessinées, de façon à le distinguer de ce qu il était dans une période récente et néfaste, posée sur des bases inconnues, cependant, mais appuyée sur le même passé. Pour y arriver, il a extirpé les derniers vestiges du monarchisme, a attaqué le Paraná en justice afin de déterminer leurs respectives bornes géographiques et a défini ses symboles républicians (drapeau, hymne et blason). Le discours de mise était l orgueil nationaliste dans la construction d un État neuf, progressiste, civiliste et anti-clérical, avec une forte influence positiviste. La nouvelle responsabilité du gouvernement républicain envers l école primaire ouvrait le chemin d un difficile voyage de définition idéologique de l État de Santa Catarina, plus sûr que des résolutions officielles et légales, mais bien plus long. Pour cette raison, le surgissement de leaders locaux visant la construction d un État fédéré, sans perte de ses particularités régionales, a été très lié à la structuration de l enseignement dans diverses régions, surtout au littoral d origine portugaise, tel que Desterro, Laguna et São Francisco. En conséquence, les journaux et magazines naissants permettaient de maintenir et divulguer la production culturelle de ces leaders-là que, même si elle était infime, a alimenté les voies de la nécessaire construction de la nouvelle idéologie. Il fallait, cependant, garantir le surgissement de leaders culturels locaux qui n étaient expressifs que dans la mesure où ils dépassaient les limites du régionalisme et s assemblaient dans la capitale pour représenter leurs lieux d origine et ramasser assez de forces pour revenir au lieu de départ. Rares ont été les exemples qui ont echappé à cette règle, comme l importante et significative Revista Catarinense,

publiée à Laguna au début du XXème siècle. L essor d une intellectualité culturelle (le point névralgique de cet essai) à São Francisco, avec des envols expressifs dans la politique de l État, n a pas contrarié cette tendance Avec une population autour de dix mille habitants ou un peu moins, au XIXème siècle finissant, en 1884, la ville de São Francisco do Sul avait déjà son journal, le Democrata, suivi, deux ans plus tard, par le Constitucional, d existence éphémère. Il y a eu, après, un interrègne de dix-neuf ans sans une seule feuille publiée. Là est peut-être la cause du déclin de la production intellectuelle de la ville aux premières années du XXème siècle: sans un organe de divulgation des chroniques, prose et poésie, ses auteurs se sont retrouvés desemparés et sans lecteurs. Il est possible d avancer trois exemples d insertion de l intellectualité de São Francisco sur la scène politico-culturelle de l État dans son ensemble, y compris ses ramifications naturelles, à la fin du XIXème siècle et début du XXème. En 1894, à l occasion des premières réunions en vue de la création de l Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, à Florianópolis, pièce maîtresse pour l execution de la nouvelle idéologie républicaine, Luiz Antônio Ferreira Gualberto (18571931), médecin bahianais résidant à São Francisco do Sul, a écrit à José Boiteux, idéalisateur de la nouvelle institution, pour protester contre la non inclusion de la Préhistoire, de l Ethnographie et de l Anthropologie dans ses préoccupations, une fois qu aucun autre État brésilien n avait autant de sambaquis que Santa Catarina. C est une manifestation de poids, puisqu elle a démontré que l intellectualité de São Francisco n était pas étrangère à ce qui se passait à la capitale dans le domaine de la culture, en plus de manifester l intérêt régional pour les objectifs de l institution qui se formait, vouée aux études du passé et de la structure géographique de Santa Catarina. De cette !!


façon, São Francisco do Sul s insérait, avant le passage du siècle, dans la tâche complexe de définir l État républicain. Il est inutile de signaler que la protestation de Luiz Gualberto a été admise par la comission organisatrice de l Instituto Histórico e Geográfico, et que ce médecin et chercheur a intégré, dès lors, le groupe choisi des intellectuels fondateurs. Étant arrivé à São Francisco do Sul en 1885, Luiz Gualberto a tout de suite incorporé l esprit de la petite ville et ne s est pas contenté d exercer la médecine ou occuper des charges concernant sa formation -ce qu il faisait très bien-, mais il a aussi accpepté des fonctions politico-administratives locales, comme celle d intendant, président de la Municipalité et surintendant1 municipal aux dernières années du XIXème siècle, en plus de représenter la région dans l Assemblée Législative qu il a présidée pendant deux mandats. Au début du XXème siècle, il a été élu député fédéral trois fois de suite et, montrant qu il s inquiétait d un plus grand lien entre les îles São Francisco do Sul et Santa Catarina, il a présenté, en 1897, un projet de loi pour l installation de la voie ferrée liant les deux villes. Ses soucis intellectuels, d un autre côté, lui ont valu d être élu à l Académia Catarinense de Letras, en plus de participer de l Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, comme on l a vu. Sans avoir abandonnée ses racines culturelles, Luiz Gualberto a participé activement, dès ses débuts, de l ébauche de l État républicain, en tant que député de l État et de la Fédération, représentant Santa Catarina aux moments essentiels de sa consolidation. Le deuxième exemple d insertion de l intellectualité de São Francisco dans la pensée politico-culturelle de l État de Santa Catarina des débuts du XXème siècle est Arnaldo Claro S. Thiago (1886-1979), auteur, entre autres ouvrages, de la première História da Literatura Catarinense. Comme Luiz Gualberto, il a été député de l État de !"

Santa Catarina, membre de l Academia Catarinense de Letras et de l Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, les deux institutions les plus anciennes et les plus grandes manifestations de l intellectualité régionale2. Né à São Francisco do Sul, Arnaldo S.Thiago a été enseignant, fonctionnaire et a construit, dans ces charges, sa base intellectuelle. A Florianópolis il a été député pendant deux législatures, après quoi il est parti pour le Rio de Janeiro où il s est voué aux activités littéraires. Son oeuvre majeure fut l História da Literatura Catarinense, publiée en 1944, à la capitale de la République d alors. Le souci de ce fils de São Francisco do Sul de réunir, dans son Histoire, le plus grand nombre d hommes de Santa Catarina qui s étaient plus ou moins dédiés à la littérature a rejoint, également, l idée première de définition des caractéristiques intellectuelles de ce peuple, le même qui a conduit les principaux leaders culturels du début du siècle à élargir le sens du concept de citoyen républicain de cet État. Arnaldo S. Thiago était issu d une importante famille d intellectuels et politiciens. Son père, Joaquim Antônio de S. Thiago (1857-1916), bien qu il soit né à Desterro, était l expression majeure du republicanisme de São Francisco do Sul, comme Luiz Gualberto. Maître traditionnel de l école publique locale, il a été orateur et journaliste remarquable, en plus d être député à la première législature républicaine. Par ses qualités intellectuelles et le grand nombre d oeuvres publiées, il a été appelé à patronner un des fauteuils de l Academia Catarinense de Letras. L oncle de Arnaldo, Polidoro Olavo S. Thiago (1852-1916) fut, aussi, deputé à l Assemblée Constituante de l État, accédant à la charge de vice-gouverneur élu pour la période 1894/1898. Il a été, comme les autres, membre de l Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. On ne peut manquer de citer le nom de son fils, le médecin et écrivain Polidoro Ernani de S. Thiago (1909-1999) et de la poétesse Castorina Lobo S.


Thiago (1884-1974), tous deux membres, également, de l Academia Catarinense de Letras. Le troisième exemple à donner, enfin, est celui de Carlos da Costa Pereira (1890-1967), né aussi à São Francisco do Sul et membre, pareillement, de l Academia Catarinense de Letras et de l Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Ayant exercé des fonctions diverses en sa ville natale, en 1938 il est parti pour Florianópolis, devenant directeur de la Bibliothèque Publique de l État où il échangeait des expériences avec l élite culturelle de Florianópolis. En 1940, il a été nommé Secrétaire du Gouvernement de l État. Les grandes contributions littéraires de Costa Pereira ont été les ouvrages sur A Revolução de 1893 em Santa Catarina (1796) et l História de São Francisco do Sul (1984), comme la traduction de l oeuvre de Saint-Hilaire, Viagem à Província de Santa Catarina (1936). Dans le premier livre il a inauguré ce sujet dans l historiographie régionale et a défini sa position politique républicaine combattant les idées fédéralistes implantés à Santa Catarina les années 90 du XIXème siècle. Bien que la publication posthume date de la deuxième moitié du siècle, l oeuvre a été écrite bien avant,dans la période entre la dictature de Getúlio Vargas et la participation brésilienne en la Deuxième Guerre, c est-à-dire, autour de 30 ans après les événements. Dans l História de São Francisco do Sul il a discuté l expédition de Gonneville au XVIème siècle et concentré ses études en la période coloniale, surtout la fondation du hameau par Manoel Lourenço de Andrade, avec une recherche en profondeur autour des origines de sa ville. En raison de son souci méthodologique et investigation sérieuse, Costa Pereira peut être considéré un des grands historiens régionaux d avant les officiels qui ont produit dans le cadre de l Universidade Federal de Santa Catarina, à partir de la deuxième moitié du XXème siècle. Malgré le manque

de formation universitaire, l historiographie de Costa Pereira dépasse en qualité, et de loin, celle qui a été produite par les intellectuels qui ont fait démarrer l Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina au début du siècle dernier. L établissement de l État républicain à Santa Catarina après les événements révolutionnaires autour de l escadre siégée à la capitale, l empire du fédéralisme de la région sud et le revisionnisme monarchique de la fin du XIXème siècle ont été construits sur une solide structure positiviste qui a défini les tendances politiques locales, marquée, également, par le libéralisme idéologique et anticlérical. La procédure, dans son ensemble, n a pas été rapide en raison des difficultés de faire tomber beaucoup de préjugés, aussi bien quelques-uns hérités de la monarchie elle-même comme ceux qui ont surgi avec la République. En conséquence, la définition de l État républicain a mis presque un demi-siècle avant d être accomplie. Le libéralisme idéologique et anticlérical, surtout, qui a marqué certains aspects de la République à Santa Catarina, a subi grande influence des intellectuels originaires de São Francisco do Sul, tels que Luiz Antônio Ferreira Gualberto, Arnaldo Claro S. Thiago et Carlos da Costa Pereira, entre autres, qui ont contribué de façon définitive pour la caractérisation d un État multiethnique et démocratique. Santa Catarina doit énormément à l élite culturelle de São Francisco do Sul, surtout aux dernières décennies du XIXème siècle et les premières du XXème, en raison de son importante contribution à la formation de l État républicain.

1 Intendant, président de la Municipalité et surintendant sont des dénominations anciennes des Maires. 2 O IHGSC a été fondé em 1896, et l ACL em 1920, tous les deux par le conseiller des cour suprêmes de justice José Boiteux.

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Cartões-postais de São Francisco do Sul S Í LV I O C O E L H O

DOS

SANTOS


C

riados na década de 1860, como conseqüência da invenção da fotografia, os cartões-postais popularizaram as mensagens e garantiram a perpetuação da memória tanto de paisagens urbanas e rurais, como de costumes sociais. Primeiro na Europa, depois em outras partes do mundo, fotógrafos, artistas gráficos e casas editoras viram crescer uma nova forma de comunicação e também um nicho específico do mercado. O cartão-postal era prático, barato e tinha a confiabilidade dos serviços de correios, quase sempre oficiais. No contexto do incremento da colonização, nas últimas décadas do século XIX, o Brasil acolheu diversos fotógrafos europeus. A fotografia também atraiu o interesse de alguns brasileiros. A profissão de fotógrafo tornou-se uma realidade no país. Retratos de família, de crianças, de grupos de amigos, de companheiros de trabalho ou de festas entraram no cotidiano da vida brasileira. Os registros de paisagens e cenas do dia-a-dia urbano e rural, também. Muitas dessas fotos foram transformadas em cartões-postais, a maioria sem o registro de autoria (crédito), por


gráficas, litografias e editoras, permitindo a sua circulação nacional e internacional. A área central da pequena cidade de São Francisco do Sul, seu entorno rural e o Porto despertaram o olhar aguçado de diversos fotógrafos, a maioria anônima. Alguns transformaram suas fotos em cartões-postais. Outros viram seu trabalho ser aproveitado por gráficas e editoras, que utilizando diferentes técnicas reproduziram as fotos visando ao atendimento de uma potencial clientela formada por imigrantes, viajantes e tripulantes que passavam pela cidade, ou pelos moradores, e que desejavam dar notícias suas a parentes e amigos, em locais próximos ou distantes. São Francisco do Sul estava na rota de navios que circulavam pelo país e pelo mundo. Lembre-se que, antes da abertura do Canal do Panamá, na segunda década do século XX, boa parte do tráfego marítimo para o Pacífico era feita pela Terra do Fogo, no extremo sul da América. Nessas condições, o Porto de São Francisco era um ponto estratégico para a escala de muitos navios, razão da constante presença de pessoas que tinham motivação para enviar mensagens via cartões-postais. A ligação

ferroviária entre São Francisco e Porto União, também no início do século XX, permitiu a integração do Porto com a malha ferroviária do país, outro atrativo para a circulação de gente, mercadorias e correspondências. Dessa forma, São Francisco do Sul teve parte de sua memória perpetuada, dentro e fora do país, através dos cartões-postais. O resgate de parte dessa documentação é a seguir apresentado objetivando socializá-la, além de estimular a sua ampliação e outras leituras possíveis. Sabemos que a população local, em sua maioria, dela não tem conhecimento. O acervo tem origem nas coleções do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, de Octávio da Silveira, que se encontra sob a guarda de seu neto Dr. Paulo Marcio Silveira Brunato, na coleção que nos foi cedida pelo Dr. Alain Moreau (SP) e em exemplares avulsos adquiridos pelo autor.

R E F E R Ê N C I A S KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro. Fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. VASQUEZ, Pedro Karp. Postaes do Brazil (1893-1930). Rio de Janeiro: Metalivros, 2002.

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Cartes postales de São Francisco do Sul

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réés les années 60 du XIXème siècle, après l invention de la photographie, les cartes postales ont popularisé les messages et garanti la perpétuation de la mémoire, aussi bien des paysages urbains et ruraux que des coutumes sociales. D abord en Europe, puis dans d autres pays dans le monde, photographes, graphistes et maisons d édition ont vu grandir un nouveau moyen de communication comme une nouvelle option d affaires. La carte postale était pratique, bon marché, et comptait sur la confiabilité des postes, puisqu elles étaient presque toujours envoyées par les voies officielles.

Dans le contexte du développement de la colonisation, aux dernières décennies du XIXème siècle, le Brésil a accueilli plusieurs photographes européens. La photo a attiré l attention, également, de quelques brésiliens. La profession de photographe est devenue une réalité dans le pays. Des portraits de famille, d enfants, de groupes d amis, de compagnons de travail ou des photos de fêtes ont commencé à faire partie du quotidien de la vie brésilienne. Le registre de paysages et scènes de tous les jours, en ville comme à la campagne, aussi. Beaucoup de ces photos ont été transformées en cartes postales, un grand nombre sans que les maisons d arts graphiques, de lithographie ou d édition en indiquent l auteur, procurant, ainsi, leur libre circulation nationale et internationale. La partie centrale de la petite ville de São Francisco do Sul, son entour rural et le port ont éveillé le regard perçant de plusieurs photographes, la plupart anonyme. Quelques-uns ont transformé leurs photos en cartes postales. D autres ont vu leur travail être reproduit par des maisons d art graphiques et d édition qui, en utilisant différentes techniques, le faisaient pour répondre aux désirs d une clientèle potentielle. Elle était formée d immigrants, voyageurs et matelots qui passaient par la ville, ou d habitants qui désiraient donner de leurs nouvelles aux parents et amis, qui habitaient des endroits proches ou lointains. São Francisco do Sul était sur le rhumb des bateaux qui circulaient dans le pays et le monde. Il faut penser que, avant


l ouverture du Canal du Panamá, en la deuxième décennie du XXème siècle, une bonne partie du trafic maritime vers le Pacific passait par le détroit de Magalhães, à l extrême sud de l Amérique. Dans ces conditions, le port de São Francisco do Sul était un point stratégique pour l escale de beaucoup de bateaux, comptant, ainsi, sur la présence de personnes qui avaient des raisons d envoyer un message moyennant des cartes postales. La liaison ferroviaire entre São Francisco do Sul et Porto União, au début du XXème siècle, a aussi rendu possible l intégration entre le port et le réseau ferroviaire national, autre possibilité de circulation pour les gens, marchandises et courrier. De cette façon, São Francisco do Sul a eu une partie de sa mémoire perpétuée, dans le Brésil et ailleurs, avec l aide des cartes postales. Nous présentons, ensuite, ce qui a pu être récupéré de ces documents pour les socialiser, en plus d encourager le rachat d autres denrées qui procureraient d autres possibilités de lectures. Nous savons que la population locale, pour la plupart, n en a pas connaissance. Les cartes postales viennent des collections de l Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, de Octávio da Silveira (qui se trouve sous la garde de son petit-fils, Paulo Márcio Silveira Brunato, à Florianópolis), de la collection qui nous a été cédée par Alain Moreau (São Paulo), en plus d exemplaires détachés qui ont été acquis par l auteur.

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O Porto e sua expressão econômica H OY Ê D O N U N E S L I N S


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PRÉCÉDENTE :

O veleiro Guaytecas, construído em 1886, atracado no Porto de São Francisco do Sul. Le voilier Guaytecas, construit en 1886, amarré au port de São Francisco do Sul. F OTO / P HOTO : W ALDIR F AUSTO G IL , 1945. P ÁGINA

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CÔTÉ :

Início das obras do Porto, 1928. Début des travaux du port, 1928.

R EPRODUÇÃO / R EPRODUTION : S ÍLVIO C OELHO DOS S ANTOS . A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO

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ortos são nós que amarram redes de transportes e comunicações com dimensões variáveis, costumando servir de pilares, sobretudo quando marítimos, para malhas bastante amplas, não raramente com alcance global. De fato, tais estruturas funcionam como portas de entrada e saída de riquezas e de pessoas, cumprindo um papel estratégico na configuração do sistema econômico mundial. Essa importância se amplia em tempos de globalização, por conta de um maior grau de interações e interdependências em diferentes escalas, e isso justifica o que parece ser, hoje, um grande e renovado interesse em torno das questões portuárias. Os novos desafios impostos pelas mudanças nas formas de produzir no setor industrial, destacando-se as exigências de mais flexibilidade na produção e mais rapidez no atendimento aos clientes, encontram-se no centro dos debates. O Porto de São Francisco do Sul opera como nódulo em trama de fluxos de transportes e comunicações há muito tempo. Com efeito, historiadores catarinenses interessados no nordeste


de Santa Catarina registraram a presença de consideráveis funções portuárias em São Francisco do Sul desde, pelo menos, o século XVII. Os motivos eram, como continuam a ser, as privilegiadas condições de atracação da Baía da Babitonga, cujos aspectos de profundidade, acesso e espaço para evolução favorecem o tráfego de embarcações de grande calado e conferem à área o atributo de melhor porto natural do sul do Brasil. Não admira, desse modo, que no passado São Francisco do Sul e seu porto tenham servido quer de entrada para gerações de imigrantes, insumos e equipamentos, quer de plataforma de escoamento para produtos como madeira e farinha de mandioca, figurando com destaque na trajetória econômica da região. Não é exagero dizer, a julgar pelos estudos históricos, que as condições portuárias locais lubrificaram decisivamente o processo de ocupação e foram determinantes no desenho do hinterland imediato, em São Francisco do Sul e adjacências. Mas é certo que as estruturas urbano-regionais do nordeste catarinense e as facilidades portuárias evoluíram sob influências recíprocas. As primeiras

foram modeladas pelas possibilidades de interconexão incrustadas nas segundas, e estas acusaram, no seu desenvolvimento, os impulsos e exigências daquelas. Assim, mesmo que as opções de transporte privilegiadas pelos governantes brasileiros não tivessem favorecido os portos, as instalações portuárias de São Francisco do Sul percorreram considerável trajeto, tributário do desempenho atualmente ostentado. A condição institucional presentemente exibida materializou-se na década de 1950, quando foi criada a autarquia Administração do Porto de São Francisco do Sul (APSFS), por concessão do governo estadual para exploração das funções portuárias até 2011. Tal iniciativa coroou progressão iniciada em 1912, ano em que a Companhia da Estrada de Ferro de São Paulo-Rio Grande (pertencente à Brazil Railways Co.) foi autorizada por decreto governamental a instalar uma estação marítima na Baía da Babitonga. Desde então, refletindo as necessidades, sucederamse as providências de ampliação e melhoria das condições de operação, culminando nas obras envolvendo dragagem, construção de cais e

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Passageiros do barco Araquari, em São Francisco do Sul. Passagers du bateau Araquari, à São Francisco do Sul. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC. P ÁGINA

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CÔTÉ :

Estandarte dos operários do Porto. Étendart des ouvriers du port. F OTO / P HOTO : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ). A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO P ÁGINA

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PRÉCÉDENTE :

Integração do Porto com a malha ferroviária. Intégration du port au réseau des chemins de fer. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC.

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armazéns, e instalação de linhas férreas e guindastes, entre outras que permitiram inaugurar o Porto de São Francisco em julho de 1955, quatro meses antes da criação daquela autarquia. Note-se que a evolução do Porto francisquense é indissociável dos serviços ferroviários aos quais as suas instalações se encontram desde o início vinculadas. Inaugurada no começo do século XX, a Estação Ferroviária de São Francisco do Sul sempre representou o último destino terrestre dos produtos canalizados para embarque. Assim, historicamente, Porto e ferrovia apresentam-se numa simbiose que dura até a atualidade, pois é pela segunda que


continuam a chegar, para carregamento com ou sem processamento prévio, os grãos provenientes de Santa Catarina, Paraná e outros lugares. Isso ocorre porque o terminal ferroviário permite ligação de São Francisco com o município de Mafra, no norte catarinense, ponto em que aquele ramal se conecta à malha do País. Claro que o Porto também dialoga intensamente com uma ampla teia rodoviária. Todavia, não há por que chamar a atenção para isso, tendo em vista a proeminência da correspondente modalidade de transporte no Brasil. O Porto de São Francisco assistiu a surtos de expansão e melhoria das suas condições de funcionamento desde a criação da APSFS. Na década de 1970, dois terminais foram instalados, um deles servindo à Petrobrás, o outro operado pela atual Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), hoje abrigando dois armazéns graneleiros e cinco tanques para óleos vegetais, além de instrumentos de recepção e expedição. Enquanto o segundo armazena grãos para embarque, o primeiro se caracteriza como terminal marítimo: uma monobóia instalada em mar aberto (a cinco milhas náuticas da costa) recebe petróleo diretamente dos navios e o envia, por meio de sistema de bombeamento e oleoduto de 117 km de extensão, para a refinaria de Araucária, no Paraná. Nos anos 1980, ampliações foram efetuadas em resposta à intensificação do movimento portuário, traduzindo-se em compras de novos equipamentos e em construção de pátio de 16 mil m² para contêineres. Essas iniciativas foram amparadas por recursos públicos e representaram os primeiros contornos da situação atual, em que esse porto sobressai pela movimentação de contêineres, como se falará adiante. Nos anos 1990, o que se realizou no Porto de São Francisco refletiu em boa medida a proposta de modernização portuária no Brasil contida na Lei nº

8.630, de 25/2/1993. Abertura para terminais privativos, estimulando a concorrência entre os serviços, atualização de instalações e equipamentos, para o que se contemplava mobilizar a iniciativa privada que avançaria no controle dos portos , e mudanças nas formas de utilização da mão-de-obra, quebrando monopólios sindicais, figuravam entre os objetivos da reforma. Como instrumentos, a Lei criou o Conselho de Administração Portuária (CAP), formado por representantes dos setores que têm presença nos portos, o Operador Portuário, responsável pelas atividades de embarque e desembarque (representando o conjunto de empresas privadas credenciadas), e o Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO), que coordena o recrutamento e o pagamento dos trabalhadores, e funciona como canal de contratação pelo Operador Portuário. O Porto de São Francisco introduziu todos esses instrumentos, ainda que no início houvesse resistências por parte dos trabalhadores. No mesmo diapasão, cresceu o espaço sob controle privado no Porto francisquense. Basicamente, duas empresas sustentaram esse processo. Em 1979, a Bunge Alimentos S.A. inaugurou uma fábrica de óleo e farelo de soja, à

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qual se sucedeu uma estrutura de armazenagem, ambas ampliadas ao longo do tempo. Atualmente, a unidade produz cerca de 1,2 mil toneladas de farelo e 300 toneladas de óleo bruto por dia, o sistema de armazenagem dando conta de até 150 mil toneladas de grãos e farelo, e 50 mil toneladas de óleo. Esse complexo gera cerca de 180 empregos diretos. A outra empresa é a Terlogs Terminal Marítimo Ltda., iniciativa conjunta da ALL América Latina Logística e, em posição largamente majoritária, da SOGO SouthOcean Grãos e Óleos, cujas operações envolvem somente armazenagem, escorada por um silo horizontal (para 75 mil toneladas) e cinco silos verticais, além de armazém de fertilizantes. Essas empresas têm investido consideravelmente, dotando o Porto de São Francisco de equipamentos de última geração tais como ship loaders torres de embarque que colocam os granéis diretamente nos navios e (comprados anteriormente) mobile harbour cranes, guindastes móveis importados da Alemanha. Entretanto, na retaguarda do Porto, os investimentos privados dos últimos anos implicaram também outras empresas, como a Vega do Sul, a Cargo Link, a Rocha Top Terminais e Operadores Portuários Ltda. e o Terminal Babitonga. Em grupo, essas empresas, somadas à dupla Bunge-Terlogs, investiram mais ou menos R$ 1,5 bilhão entre 2001 e 2003. Segundo as previsões, os investimentos privados, sobretudo os concentrados no corredor de exportações para granéis, devem prosseguir em 2004. No que concerne à Terlogs, deverão incidir no parque de granéis sólidos, e nos casos da Bunge e da Cidasc/Terlogs (em conjunto), resultariam na compra, em cada caso, de um ship loader, ampliando a quantidade desses equipamentos. Registre-se que o Terminal Babitonga passou a contar com um posto próprio e permanente da Receita Federal no início de %

2004, ganhando independência do restante da estrutura portuária para envio e recebimento de cargas. Operando com atracação e demais atividades de embarque e desembarque (estiva, capatazia e armazenagem, por exemplo), este é o primeiro terminal privado a ganhar tal condição no Porto de São Francisco. Isso ocorreu simultaneamente à inauguração de suas novas instalações na área do Porto. A própria APSFS não deixou de investir. Em 2003, as correspondentes iniciativas abrangeram principalmente a substituição de bóias de sinalização náutica, tanto do canal de acesso como da bacia de evolução, representando gastos em torno de R$ 2,4 milhões. Para o futuro mais ou menos próximo, são previstas obras de: derrocamento de lajes e dragagem para aprofundar o canal de acesso e a bacia de evolução; reforço de berços existentes e construção de outros berços (envolvendo o lançamento de editais para a iniciativa privada); construção de centro administrativo, de terminal marítimo para navios de passageiros e de novo acesso rodoviário. Tudo isso integra, vale sublinhar, o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) do Porto de São Francisco do Sul, aprovado pelo Conselho de Autoridade Portuária em 2003. Pelo seu previsível impacto, essas iniciativas teriam que ser discutidas com a comunidade, e a consciência sobre a importância disso resultou no Aviso de Audiência Pública nº 1/ 2004, que definiu a data de 28/4/2004 para, no Auditório do Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul, uma apresentação das metas e projetos contemplados. Tendo crescido em área ao longo do tempo, o Porto ostenta hoje cinco berços de atracação berços 101, 102, 103, 201 e 301, o primeiro para granéis sólidos, o segundo para contêineres, os dois


Acervo / Archives: Bunge Alimentos S.A.

A Bunge e o incremento das exportações Em 1979, entrou em operação em São Francisco do Sul a maior fábrica da Ceval Agro Industrial S.A., destinada à produção de farelo e óleo bruto de soja. Voltada desde o início para o mercado externo, essa unidade industrial criou quase duas centenas de empregos diretos, motivou empregos indiretos, dinamizou as atividades portuárias e revitalizou a cidade. Essas transformações alteraram as relações de trabalho, de prestação de serviços e as formas tradicionais de administração do Porto e do município. Hoje, a Ceval pertence à Bunge, multinacional de origem holandesa que tem sede nos Estados Unidos. A Bunge Alimentos S.A., que teve como base a Ceval, está sediada em Gaspar (SC). Em 2003, essa empresa foi a quarta do País em exportação, ficando atrás apenas da Petrobrás, da Vale do Rio Doce e da Embraer, sendo a líder entre as empresas de agronegócios.

A unidade de São Francisco do Sul produz cerca de 1,2 mil toneladas de farelo de soja e 300 toneladas de óleo bruto por dia. Conta com um armazém para 150 mil toneladas de grãos e tanques que somam uma capacidade de 50 mil toneladas de óleo. A infra-estrutura portuária permite o rápido carregamento dos navios. Em 2003, a empresa instalou no porto público um ship loader, para consolidar o corredor e assim incrementar a exportação de granéis sólidos e dar maior competitividade ao Porto. Assim, com crescentes investimentos nas instalações e operações diferenciadas, a Bunge Alimentos S.A. contribuiu decisivamente para que o Porto de São Francisco se tornasse uma referência no cenário das exportações do País. Cátia Weber Outras informações, ver: www.bunge.com ou www.bungealimentos.com.br




seguintes para carga geral, e o último de uso múltiplo , vários armazéns, e tanques e equipamentos para embarque/desembarque que representam apreciável capacidade de carregamento. A área de cais é de pouco menos de mil metros, e as áreas de armazenagem apresentam oito mil m² pertencentes à própria APSFS e setenta mil m² na condição de armazéns terceirizados. O espaço para cargas frigorificadas pode abrigar até 6.800 TEUs (TEU significa Twenty Equivalent Unit e indica um contêiner de 20 pés ou 7 metros). Com os novos investimentos previstos, tanto públicos quanto privados, ampliar-se-á a capacidade de operação, e, em conseqüência, crescerá o volume de negócios. Esse volume vem apresentando expansão. Em 2003, o Porto de São Francisco do Sul ficou em sétimo lugar no Brasil quanto ao volume de exportações, à frente de portos como Sepetiba (RJ), Salvador (BA) e São Luís (MA), embora fosse superado na Região Sul pelos portos de Paranaguá %$

(PR), Rio Grande (RS) e Itajaí (SC). Isso reflete uma trajetória, na última década, de crescimento ininterrupto na movimentação geral de cargas. Esta passou de 1,7 milhão de toneladas em 1993 para 6 milhões em 2003, um volume composto na maioria (46%) por carga geral (representando diferentes tipos de produtos, como peças para veículos, motocompressores, refrigeradores, madeira, móveis, artigos cerâmicos e frangos congelados, entre outros)

Movimentação de cargas nos armazéns da Companhia Hoepcke, década de 20. Évolution des cargaisons dans les magasins de la Companhia Hoepcke les années 20. A CERVO / A RCHIVES : I NSTITUTO C ARL H OEPCKE . P ÁGINA

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CÔTÉ :

Desembarque de gado na Estação Ferroviária de São Francisco do Sul. Débarquement de bétail à la gare des chemins de fer de São Francisco do Sul. C OLEÇÃO / C OLLECTION : O CTÁVIO DA S ILVEIRA . A CERVO / A RCHIVES : P AULO M ÁRCIO S ILVEIRA DE B RUNATO . P ÁGINA

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PRÉCÉDENTE :

Trapiche da Cia. Hoepcke, décadas atrás. Magasin de la Cia. Hoepcke, il y a plusieurs décennies.


e por granéis sólidos exportados (37%), reunindo itens como soja, farelo de soja e milho. O restante distribuiu-se em granéis sólidos importados (11%), como trigo, cevada, fertilizantes e polipropileno, e em granel líquido exportado (6%), destacando-se o óleo de soja. Diferenciando-se do Porto de Itajaí pelo fato de este não operar com granéis, só com contêineres e carga geral, e do Porto de Paranaguá em virtude da escassa atividade com contêineres que este apresenta, o Porto de São Francisco é eminentemente exportador. Em 2002, para cada dólar de importações, registraram-se 3,7 dólares de exportações. Sua importância como corredor de exportações é sugerida pelo fato de, naquele ano, terem passado pelas respectivas instalações quase 2/3 do montante enviado por Santa Catarina ao exterior

e 3,4% da quantidade remetida pelo Brasil. Particularmente notável é a sua movimentação de contêineres. De 1993 para 2003, o crescimento, quase sem interrupção, foi de 7,3 vezes, em TEUs; entre 2001 e 2003, o incremento beirou os 60%. Ostentando o melhor índice de movimentação de cargas em contêineres do Brasil, o Porto de São Francisco, somado ao de Itajaí, coloca Santa Catarina em segundo lugar no ranking de Estados brasileiros nesse tipo de movimento. Entretanto, esses dados sobre movimentação e investimentos não devem fazer pensar que as condições existentes são plenamente satisfatórias. Isso se depreende tanto de manifestações oriundas de círculos governamentais quanto da imprensa. No primeiro caso, o próprio governador do Estado, em pronunciamento realizado em janeiro de 2004, na


solenidade de abertura das comemorações dos 500 anos da viagem de Gonneville, reconheceu ser urgente expandir o Porto e anunciou medidas condizentes, envolvendo editais para construir três novos berços de atracação, um deles para transatlânticos. Grupos internacionais estariam interessados em participar desses empreendimentos. No que se refere à imprensa, não têm faltado advertências sobre o quanto os gargalos existentes limitação das áreas de atracação e dos espaços para armazenagem; carências nas malhas ferroviária e viária (especialmente na BR-280, ligação rodoviária exclusiva do Porto com a BR-101, de má conservação e capacidade esgotada), que são antigas e precárias; e desatualização de equipamentos e da logística operacional penalizam os setores produtivos que utilizam o Porto. Por falta de espaço para atracar, devido à demora das operações nos terminais, ou pelo calado insuficiente, alguns navios simplesmente não param, prejudicando as exportações. Atrasos nas entregas aos clientes no exterior têm ocorrido em conseqüência disso e

também pela falta de contêineres, que amplifica o problema. Trata-se, é claro, de deficiências inseridas em quadro mais amplo de estrangulamento das infraestruturas, mas que, no segmento portuário, derivariam do seguinte tipo de conduta: os portos catarinenses continuam postergando investimentos inadiáveis há anos e, mesmo com expansão da capacidade de carga e descarga, a evolução em termos operacionais é pequena 1. Em que pesem os problemas, uma estrutura como a do Porto de São Francisco necessariamente repercute em termos espaciais. Sua influência, na condição de infra-estrutura de transporte, alcança as áreas de onde se originam os produtos embarcados. Praticamente todo o Estado de Santa Catarina assim se apresenta, mas o desdobramento da rede que conflui para São Francisco engloba áreas do Paraná, de São Paulo e até do Mato Grosso do Sul. Naturalmente, o papel da malha ferroviária mostra


aqui toda a sua importância. No que concerne aos destinos do que é embarcado, pode-se dizer que o planeta, quase todo, é o limite, pois o leque inclui a América do Norte, a Europa e a Ásia. Já o alcance do fluxo de desembarque permite observar um arco de abrangência macrorregional: caso do petróleo, que alcança Araucária, mas cabe também assinalar que toda a matéria-prima utilizada pela AmBev na fabricação de cerveja (cevada, no essencial) passou a entrar por São Francisco. Se não se pode recusar a existência de reflexos longínquos, seria absurdo desconsiderar o que ocorre no hinterland próximo, principalmente no município de São Francisco do Sul. Na APSFS estima-se que cerca de três mil famílias dependem, de alguma forma, das atividades portuárias, aparecendo o Porto de longe como o empregador principal do município. Dessa forma, algo como 80% da renda local estaria relacionada ao funcionamento deste, direta ou indiretamente. Assim, quem fala em mercado de trabalho em São Francisco do Sul fala, em primeiro lugar, na capacidade do Porto em gerar ocupações, oportunidades na esmagadora maioria, se não exclusivamente, aproveitadas por moradores da própria localidade. Num município onde 93% da população que totalizava pouco mais de 32 mil pessoas, conforme o Censo de 2000, crescendo a taxas superiores à média catarinense habita o meio urbano, esse papel de empregador tem, assim, importância crucial, ainda mais porque o segundo setor geralmente destacado o turismo possui visibilidade quase só no verão, como ocorre em todo

o litoral catarinense. Efeitos de tipo spill-over, de sua parte, manifestam-se no funcionamento de diferentes atividades que, mais do que estimuladas, são viabilizadas pela atividade portuária. Está-se falando de tarefas ligadas a consertos de contêineres, fretes, despachantes e vigilância, entre outras. Todavia, para a coletividade, o Porto significa ainda fonte de recursos públicos na forma de tributos e (dizendo respeito à Petrobrás, com o seu terminal marítimo) royalties. Impossível não concluir, em conseqüência, que a vida econômica de São Francisco do Sul pulsa ao ritmo ditado pelo Porto. Mas isso não é tudo. Se empresas de Joinville e Jaraguá do Sul, e também outras, como do cluster moveleiro de São Bento do Sul ou de outras localidades, têm no Porto francisquense uma infraestrutura imprescindível, a própria existência desta parece ter influenciado decisivamente a localização de novas unidades produtivas nos últimos anos. A ilustração mais divulgada diz respeito à Vega do Sul, pertencente ao grupo francês Usinor, que, instalada em São Francisco do Sul, começou a produzir aço laminado a frio em julho de 2003, principalmente P ÁGINA

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CÔTÉ :

A Estação Ferroviária de São Francisco do Sul em 1910. La gare des chemins de fer de SFS en 1910. A CERVO / A RCHIVES : A LAIN M OREAU .

Abaixo, depósito de contêineres nas proximidades do Porto de São Francisco do Sul. En bas, dépôt de conteneurs aux proximités du port de SFS. F OTO / P HOTO : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ), 2004.


para o setor automobilístico (abastecendo empresas como Volkswagen, Fiat e Renault) e para a indústria de eletrodomésticos da linha branca, além de exportar (para Argentina e a China, principalmente). Tendo optado por São Francisco devido às condições portuárias e aos incentivos concedidos, a unidade vem operando com bobinas de aço que chegam pelo Porto vindas da Cia. Siderúrgica de Tubarão, uma empresa do Grupo Acelor com sede no Espírito Santo, que tem a Usinor como acionista. As bobinas que chegam são de aço laminado a quente. A Vega, que criou 200 empregos diretos, as decapa, lamina a frio e galvaniza. Outro exemplo concerne à Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro), prestes a iniciar atividades de mistura e armazenagem de fertilizantes nesse município com insumos recebidos, via Porto, de países como Israel, Rússia e Líbia; cerca de 45 mil associados de 16 cooperativas deverão ser beneficiados. Caberia assinalar igualmente os casos da Cebrace, com fábrica de vidros especiais e blindex no vizinho município de Barra Velha, e da Marcegaglia, de origem italiana e instalada no contíguo município de Garuva, que emprega 170 pessoas e produz condensadores para refrigeradores e freezers. Em suma, o Porto de São Francisco do Sul move a economia do seu município e, pelas vantagens locacionais que representa, contribui para vitalizar a economia regional. Os novos projetos, se implantados, só farão robustecer essa influência. Mas impacto realmente digno de nota será observado caso prospere a intenção de criar um complexo portuário de dimensões continentais na Baía da Babitonga, envolvendo, obviamente, o Porto de São

Francisco. Acalentada em alguns meios catarinenses, essa idéia contempla, além de melhores condições de saída na costa atlântica, a interligação com o Oceano Pacífico escorada no tripé rodovia-ferroviahidrovia. São Francisco do Sul e seu porto passariam a estar inseridos, assim, num corredor bioceânico, algo que nem Gonneville, com o seu arrojo, nem os mais otimistas visionários porventura participantes da história do nordeste catarinense teriam jamais conseguido imaginar.

Paisagem a beira-mar próxima as Porto. Paysage au bord de mer dans les proximités du port. F OTO / P HOTO : R ENATO R IZZARO , 1999.


1 A NOTÍCIA. O desafio dos portos em SC. Joinville (SC). 1º de abril, 2004. R E F E R Ê N C I A S ABREU, A. Eixo horizontal de desenvolvimento, integração e cooperação transfronteiriça. In: SIEBERT, C. (Org.). Desenvolvimento regional em Santa Catarina. Blumenau: Edifurb, 2001. APORTANDO. Informativo do Porto de São Francisco do Sul, nº 16, 2003.

FICKER, C. História de Joinville. 2. ed. Joinville: Impressora Ipiranga, 1965. p. A2. IBGE. Censo 2000. Disponível em:<www.ibge.gov.br/censo/default.php>. Acesso em: 20 maio 2004. OLIVEIRA, C. T. de. Modernização dos portos. 3. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2000. PEREIRA, Carlos da Costa. História de São Francisco do Sul. Florianópolis: Ed. da UFSC/Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul, 1984. SILVA, G.; COCCO, G. (Org.). Cidades e portos: os espaços da globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.


Le port et sa valeur économique

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es ports sont des noeuds qui se «lient» à des réseaux de transport et communications de dimensions variées leur servant de piliers, surtout s ils sont maritimes, éventuellement à l échelle globale. Justement, ces structures fonctionnent comme portes d entrée et sortie de richesses et personnes jouant un rôle stratégique dans l ensemble du système économique mondial. Cette importance se voit agrandie en ces temps de mondialisation, résultat d un plus grand nombre d interactions et interdépendances dans des échelles variées. Cela justifie ce qui semble être, de nos jours, un grand et renouvelé intérêt pour les questions portuaires. Les nouveaux défis imposés par les changements dans les formes de production industrielle, en particulier les exigences d une plus grande flexibilité dans la production et la satisfaction rapide du client sont le cerne des débats. Le port de São Francisco do Sul opère comme noyau d un réseau de transports depuis longtemps. En effet, des historiens de Santa Catarina intéressés par le nord-est de l État ont signalé la présence d un considérable manège portuaire à São Francisco do Sul depuis, au moins, le XVIIème siècle. Les raisons en étaient , et sont toujours, les conditions privilégiées d accostage à la baie de la Babitonga, dont la profondeur, l accès et l espace de manoeuvres favorisent les déplacements des embarcations de grande taille,


conférant aux lieux l attribut de meilleur port naturel du sud du Brésil. Ce n est donc pas étonnant que, dans le passé, São Francisco do Sul et son port aient servi aussi bien de porte d entrée pour de nombreuses générations d immigrants, marchandises et équipements comme de plateforme d écoulement pour des produits tels que le bois et la farine de manioc, faisant figure de pilier de la trajectoire économique de la région. Il n est pas trop de dire, si l on juge à travers les études historiques, que les conditions portuaires locales ont eu un rôle décisif dans le procès d occupation et ont déterminé le hinterlant immédiat, à São Francisco et alentours. Mais il est certain que les structures urbanorégionales du nord-est de Santa Catarina et les facilités procurées par le port ont évolué ensemble, l un influençant l autre. Les premières ont été modelées par les possibilités d interconnexion comprises dans les secondes et ont accusé, en se développant, les élans et les exigences des autres. De cette façon, même si les options de transport privilégiées par les gouvernements brésiliens n avaient pas été les ports, les installations portuaires de São Francisco do Sul ont suivi un long chemin dont ces conditions actuelles sont tributaires. La condition institutionnelle exhibée aujourd hui s est matérialisée dans les années 50 quand l autarchie Administração do Porto de São Francisco do Sul (APSFS) a été créée par le gouvernement de l État pour explorer les fonctions portuaires jusqu en 2011. Cette initiative a couronné la progression commencée en 1912, l année où la Companhia da Estrada de Ferro de São Paulo-Rio Grande (qui appartenait à la Brazil Railwials Co.) a été autorisée, par décret gouvernemental, à installer une station maritime à la baie de la Babitonga. Dès lors, suivant les besoins, les mesures d agrandissement et amélioration des conditions d opération se sont succédées, culminant avec les travaux comprenant le dragage, la construction du quai et de magasins de stockage, l installation de voies ferrées et de grues, entre autresqui ont permis d inaugurer le port de São Francisco en juillet 1955, quatre mois avant la création de l autarchie.

L évolution de ce port, remarquons-le, est indissociable des services ferroviaires auxquels ses installations sont liées dès le début. Inaugurée au début du XXème siècle, la gare des chemins de fer de São Francisco do Sul a toujours été le dernier destin terrestre des produits cheminés pour embarquement. Historiquement, donc, port et chemin de fer sont, depuis toujours, en une symbiose qui dure encore, puisque c est par celui-ci qui continuent d arriver, pour être chargées avec ou sans avis préalable, les graines provenant de Santa Catarina, Paraná et d ailleurs. Cela est possible parce que le terminal des chemins de fer lie São Francisco au município de Mafra, au nord de l État, où se fait la connection avec le réseau national. De la même façon, le port «dialogue», intensément, avec un considérable réseau routier. Il n est cependant pas nécessaire d attirer l attention sur ce sujet, étant donné la prépondérance de ce moyen de transport au Brésil. Le port de São Francisco a connu des poussées d expansion et d amélioration de ses conditions de fonctionnement depuis la création de l APSFS. Les années 70, deux terminaux ont été installés, l un d eux servant la Petrobrás, l autre étant opéré par la Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), qui abrite, actuellement, deux magasins de stockage de grains et cinq réservoirs pour huiles végétales, en plus d instruments de réception et expédition. Tandis que le deuxième emmagasine les graines à être embarquées, le premier est un terminal maritime: une bouée installée au large (à cinq milles nautiques de la côte) reçoit le pétrole directement des bateaux et l envoie, moyennant un système de pompage et oléoduc de 117 km de long, à la raffinerie d Araucária, au Paraná. À cause de l intensification du mouvement portuaire, des agrandissements ont été faits les années 80, sous forme de nouveaux équipements et la construction d une cour de 16.000 m² pour les conteneurs. Ces initiatives ont été aidées par des ressources publiques et ont formé les premiers contours de l actuelle situation, c est-à-dire, un port qui se fait remarquer par la circulation de conteneurs, ce qu on verra plus loin. &!


Ce qui a été réalise au port de São Francisco les années 90 est le résultat du projet de loi nº 8.630 de 25/ 2/1993, qui prévoit la modernisation portuaire au Brésil. Parmi les objectifs de la réforme figuraient l ouverture de terminaux privatifs pour stimuler la concurrence entre les services, la modernisation des installations et équipements pour laquelle on comptait mobiliser l initiative privée qui occuperait, en échange, davantage d espace dans le contrôle des ports- et des changements dans la façon d utiliser la main d oeuvre, mettant fin aux monopoles syndicaux. Pour y parvenir, la loi a créé le Conselho de Administração Portuária (CAP), formé par des représentants des divers secteurs opérant dans le port, o Operador Portuário, responsable par les activités d embarquement et débarquement (représentant l ensemble des entreprises privées agréés) et le Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO), qui coordonne le recrutement et le paiement des travailleurs et fonctionne comme intermédiaire des contrats établis par l Operador Portuário. Le port de São Francisco a implanté tous ces instruments, bien qu au début les travailleurs aient résisté. Dans la même mesure, l espace du port contrôlé par l initiative privée a augmenté. En gros, deux entreprises ont garanti ce procès. En 1979, la Bunge Alimentos S.A. a inauguré une fabrique d huile de soja et de son qui a été suivie par une structure de stockage, toutes deux agrandies au fil des années. Actuellement l unité produit autour de 1,2 mille tonnes de son et 300 tonnes d huile brute par jour, tandis que le système de stockage supporte jusqu à 150 mille tonnes de grains et son et 50 mille tonnes d huile. Ce complexe a créé autour de 180 emplois directs. La Terlogs Terminal Marítimo Ltda. est l autre entreprise siégeant dans le port. C est une initiative conjointe de l ALL América Latina Logística et, en une situation franchement majoritaire, de la SOGO SouthOcean Grãos e Óleos, dont les opérations se résument au stockage, appuyé par un silo horizontal (pour 75 mille tonnes), et cinq silos verticaux, en plus d un magasin pour fertilisants. Ces entreprises investissent considérablement et ont doté le port de São Francisco d équipements de pointe, tels que &"

les ship loaders tours d embarquement qui mettent les greniers directement dans les bateaux- et (achetés avant les autres) des mobile harbour cranes, grues mobiles importées de l Allemagne. À l arrière-garde du port, cependant, les investissements privés des dernières années ont engagé d autres entreprises, comme la Vega do Sul, la Cargo Link, la Rocha Top Terminais e Operadores Portuários Ltda. et le Terminal Babitonga. Ensemble, ces entreprises, avec le couple Bunge-Terlogs, ont investi autour de R$ 1,5 billion entre 2001 et 2003. D après les prévisions, les investissements privés, surtout ceux qui sont concentrés dans le couloir d exportation en greniers, doivent se poursuivre en 2004. La Terlogs doit investir dans le parc de greniers solides. La Bunge et la Cidasc/Terlogs (ensemble) acheteraient, chacune, un ship loader, augmentant la quantité de ces équipements. Il faut registrer que le terminal Babitonga dispose d un poste de douane privatif et permanent depuis le début de 2004, ce qui lui vaut l indépendance par rapport aux autres structures du port pour l envoi et la réception de cargaisons. Opérant avec l accostement et autres activités d embarquement et débarquement (arrimage, impôts sur les marchandises et stockage, par exemple), c est le premier terminal privé du port de São Francisco à jouir de cette condition. Ce poste a été inauguré en même temps que ses nouvelles intallations dans l espace du port. L APSFS elle-même a continué d investir. En 2003 ses initiatives ont prévu, surtout, le remplacement de bouées de signalisation nautique, aussi bien celles du canal d accès que celles du bassin de manoeuvres, ce qui correspond à une dépense autour de R$ 2,4 millions. Dans un futur plus ou moins proche sont prévus des travaux de: démolition de dalles, dragage pour approfondir le canal d accès et le bassin de manoeuvres; renforcement et construction de bers (ce qui comprend l appel à la concurrence de l initiative privée); construction d un centre administratif, d un terminal maritime pour bateaux de passagers et d un nouveau accès routier. Tout cela fait partie, il faut le souligner, du Plano de Desenvolvimento e


La Bunge et l accroissement des exportations En 1979 a commencé à opérér, à São Francisco doSul, la plus grande fabrique de la Ceval Agro Industrial S.A. pour la fabrication du son et de l huile brute de soja. Destinée, dès le début, aux marchés extérieurs, cette unité industrielle a créé presque deux cents emplois directs, a donné lieu à des emplois indirects, dinamisé les activités portuaires et revitalisé la ville. Ces transformations ont altéré les rapports de travail, de prestation de services et les formes traditionnelles d administrer le port et le município. Actuellement la Ceval appartient à la Bunge, multinationale d origine hollandaise dont le siège est aux États-Unis. La Bunge Alimentos S.A., qui a eu la Ceval comme point de départ, siège à Gaspar (SC). En 2003, cette entreprise a été le quatrième plus grand exportateur du pays, après, seulement, la Petrobrás, la Vale do Rio Doce et l Embraer, étant leader parmi les entreprises de produits agricoles.

Zoneamento (PDZ) du port de São Francisco do Sul approuvé par le Conselho de Autoridade Portuária en 2003. Étant donné l impact, qui est prévisible, de ces initiatives, elles devaient être discutées avec la communauté, et la conviction de l importance de la décision a abouti à l Aviso de Audiência Pública n° 1/ 2004 qui a défini la date de 28/4/2004 pour, dans l auditorium du Musée National de la Mer, à São Francisco do Sul, la présentation des buts et projets contemplés. Ayant accupé son espace au fil des ans, le port affiche, de nos jours, cinq bers d accostement -101, 102, 103, 201 et 301, le premier pour greniers solides, le deuxième pour conteneurs, les deux autres pour cargaisons diverses, le dernier étant à usage multiple plusieurs magasins de stockage, réservoirs et équipements pour embarquement/débarquement qui représentent une non négligeable capacité de cargaison. La superficie du quai est d un peu moins de mille mètres, et les zones d emmagasinement comptent sur huit mille m² appartenant à l APSFS elle-même, plus soixante-dix mille m² de magasins du secteur tertiaire.

L unité de São Francisco do Sul produit, par jour, autour de 1,2 tonnes de son du soja et 300 tonnes d huile non raffinée. Elle dispose d un entrepôt pour 150 mille tonnes de graines et des réservoirs avec une capacité totale de 50 mille tonnes d huile. L infrastructure portuaire permet de charger rapidement les bateaux. En 2003, l entreprise a installé dans le port public un ship loader pour consolider le couloir et augmenter, ainsi, l exportation de greniers solides et donner une plus grande compétitivité au port. Avec les investissements grandissants dans ses installations et la diversification de ses opérations, la Bunge Alimentos, S.A. a décidément contribué pour que le port de São Francisco devienne une référence dans le domaine des exportations du pays. Cátia Weber Pour d autres renseignements, voir www.bunge.com ou www.bungealimentos.com.br

L espace pour les cargaisons frigorifiées peuvent abriter jusqu à 6.800 TEUs (Twenty Equivalent Unit et indique un conteneur de 20 pieds ou 7 mètres). Avec les nouveaux investissements prévus, aussi bien publics que privés, la capacité d opération sera agrandie permettant, ainsi, une augmentation dans le volume des affaires. Ce volume ne cesse d augmenter. En 2003, le port de São Francisco do Sul était le septième du Brésil en volume d exportations, devant des ports comme Sepitiba (RJ), Salvador (BA) et São Luis (MA), bien qu il ait été supplanté , à la région sud, par ceux de Paranaguá (PR), Rio Grande (RS) et Itajaí (SC). Cette situation dénonce une trajectoire, à la dernière décennie, de croissance ininterropue de la circulation de cargaisons en général. En 1993 elles étaient de l ordre de 1,7 millions de tonnes passant à 6 millions en 2003, un volume qui comprend, pour la plupart (46%) des cargaisons variées (différents genres de produits, comme des pièces détachées pour véhicules, motocompresseurs, réfrigérateurs, bois, meubles, articles en céramique et poulets surgélées, entre autres) et des greniers solides exportés (37%) comprenant des &#


produits tels que le soja, du son de soja et de maïs. Le reste comprend des greniers solides importés (11%) comme la farine, l orge, fertilisants et polypropylène, et du liquide exporté en vrac (6%), surtout l huile de soja. Différent du port d Itajaí, qui opère uniquement avec des conteneurs et cargaison en général, et du port de Paranaguá qui, au contraire, a une faible activité de conteneurs, le port de São Francisco do Sul est éminemment exportateur. En 2002, pour chaque dollar d importations, il a registré 3,7 dollars d exportations. Son importance en tant que couloir d exportations reste établie par le fait que, cette année-là sont passés, dans ses installations, presque les 2/3 du total envoyée par Santa Catarina à l extérieur et 3,4% du total exporté par le Brésil. La movimentation de conteneurs, dans ce port, est particulièrement remarquable.Entre 1993 et 2003, l accroissement, presque sans interruption, a été de 7,3 fois en TEUs et, entre les années de 2001 et 2003, de presque 60%. Exhibant le meilleur taux brésilien de circulation de cargaisons en conteneurs, le port de São Francisco, avec celui de Itajaí, place Santa Catarina au deuxième rang, dans ce genre d activité, par rapport à tous les états du Brésil. Ces données sur la circulation de marchandises et investissements ne doivent pas faire penser que les conditions du port sont tout à fait sastisfaisantes. Cela devient clair quand on observe le manifestations du gouvernement, d un côté, et de la presse, de l autre. Le gouverneur en personne, dans une déclaration de janvier 2004, lors de la solennité d ouverture des commémorations des 500 ans du voyage de Gonneville, a reconnu le besoin urgent d agrandir le port et a annoncé les mesures nécessaires, y compris l appel à la concurrence pour la construction de trois nouveaux bers d accostement, dont un pour transatlantiques. Des groupes internationaux auraient intérêt à participer de ces travaux. En ce qui concerne la presse, les avertissements se multiplient sur les manques lieux d accostement et espaces pour stockage réduits, réseaux de chemins de fer et routier insuffisants (surtout à la BR-280, seule liaison du port avec la BR-101, mal conservée et avec sa capacité épuisée), vieux et &$

précaires; équipements et logistique opérationnelle désuets pénalisent les secteurs productifs qui utilisent le port. Les espaces d accostage étant insuffisants et parce que les opérations dans les terminaux sont lentes ou les gabarits inadéquats, quelques bateaux ne s arrêtent tout simplement pas, ce qui est préjudiciel aux exportations. En conséquence, et aussi en raison du manque de conteneurs, ce qui amplifie le problème, il arrive que les livraisons aux clients de l extérieur soient retardées. Il s agit, bien sûr d insuffisances insérées dans un cadre plus généralisé d étranglement des infrastructures mais qui, en s agissant du secteur portuaire, dérivent des conduites du genre: «les ports de Santa Catarina remettent à plus tard des investissements qui auraient dû être faits depuis des années et, même si la capacité de charge et décharge a été augmentée, l évolution du point de vue opérationnel est moindre»1. Malgré les problèmes, une structure comme celle du port de São Francisco répercute du point de vue de l espace qu elle occupe. Son influence, dans la condition d infrastucture de transport, atteint des lieux d où arrivent les produits embarqués. C est le cas de pratiquement tout l État de Santa Catarina, mais le dédoublement du réseau confluant vers São Francisco comprend des aires du Paraná, de São Paulo, et même du Mato Grosso do Sul. Le rôle du réseau ferroviaire, naturellement, montre, ici, toute son importance. En ce qui concerne les respectifs destins de la marchandise embarquée, il est possible d affirmer que la limite en est pratiquement la planète puisqu elle comprend l Amérique du Nord, l Europe et l Asie. L étendue du flux de débarquement, par contre, est macrorégional: c est le cas du pétrole, qui arrive à Araucária, mais on peut aussi signaler que toute la matière première utilisée par l AmBev, pour la fabrication de la bière (l orge, essentiellement), arrive, actuellement, par São Francisco. S il n est pas possible de refuser l existence de réflexes lointains, il serait absurde d ignorer ce qui arrive dans le hinterland proche, surtout dans le município de São Francisco do Sul. Dans la APSFS, on estime qu autour de trois mille familles dépendent, d une façon ou d une autre, des activités portuaires, le port étant, et


de loin, le principal employeur du município. Ainsi, 80% du revenu local, environ, se rapporterait, de façon directe ou indirecte, au fonctionnement du port. Quant on parle de marché de travail, à São Francisco do Sul, on parle, avant tout, de la capacité qu a le port de produire des occupations, oportunités dont profitent, en grande majorité, sinon exclusivement, les habitants de l endroitt. Dans un município où les 93% de sa population dans un total de 32.000 personnes, selon le cens de 2000, nombre qui augmente avec des taux supérieurs à la moyenne de Santa Catarina- habite en ville, ce rôle d employeur a, de toute évidence, une importance décisive, surtout si l on considère que le secteur qu y vient en deuxième lieu est le tourisme secteur rentable uniquement en été, comme c est le cas dans tout le littoral de Santa Catarina. Des résultats du genre spill-over, par ailleurs, sont le corollaire des différentes activités que, plus que stimulées, sont valorisées par l activité portuaire. On parle de tâches en rapport avec la réparation de conteneurs, le fret, le service d agents et la surveillance, entre autres. Pour la collectivité, cependant, le port signifie , encore, un moyen d obtenir des ressources publiques sous forme d impôts et (en ce qui concerne la Petrobrás et son terminal maritime) de royalties. Il faut conclure, en conséquence, que la vie économique de São Francisco do Sul bat au rythme dictée par le port. Mais ce n est pas tout. Si des entreprises de Joinville et de Jaraguá do Sul, et d autres aussi, comme celles du cluster du mobilier de São Bento do Sul ou d autres endroits, comptent sur l infrastructure indispensable du port, son existence elle-même semble avoir influencé décisivement, les dernières années, l emplacement de nouvelles unités productives. L illustration la plus colportée est la Vega do Sul qui appartient au groupe français Usinor que, installée à São Francisco do Sul, a commencé à produire de l acier laminé à froid en juillet 2003, surtout pour le secteur automobile (approvisionnant des entreprises comme la Volkswagen, la Fiat et la Renault) et pour l industrie des appareils électroménagers de la ligne blanche, en plus de les exporter (pour l Argentine et la Chine, surtout). Ayant

choisi São Francisco en raison des conditions portuaires et des facilités fiscales octroyées par le gouvernement de l État, l unité opère avec des bobines d acier qui arrivent par le port depuis la Cia. Siderúrgica de Tubarão, une entreprise du groupe Acelor qui siège en Espírito Santo et dont l Usinor est actionnaire. Les bobines qui arrivent sont en acier laminé à chaud. La Vega, qui a créé 200 postes de travail, les décape, les lamine à froid et les galvanise. Un autre exemple en est la Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro), sur le point de commencer des activités de mélange et stockage de fertilisants à São Francisco do Sul avec les ingrédients nécessaires venus, jusqu au port, de pays comme Israël, Russie et Lybie; autour de 45 mille associés de 16 coopératives doivent en bénéficier. Il est intéressant de souligner, aussi, le cas de la Cebrae, avec sa fabrique de verres spéciaux et blindex installée dans Barra Velha, ville voisine, et de la Marcegaglia, d origine italienne, installée dans le município contigu de Garuva, qui emploie 170 personnes et produit des condensateurs pour réfrigérateurs et congélateurs. En somme, le port de São Francisco do Sul fait «bouger» l économie de son município et, par les avantages de location qu il représente, contribue à la vitalisation de l économie régionale. Les nouveaux projets, s ils sont implantés, ne feront que fortifier cette influence. Mais l impact vraiment digne de note aura lieu si l intention de créer un ensemble portuaire de dimensions continentales dans la baie de la Babitonga prospère. Le port de São Francisco, bien sûr, en ferait partie. Bercée dans quelques secteurs à Santa Catarina, cette idée considère, en plus de meilleures conditions de sortie dans la côte atlantique, la liaison avec l Océan Pacifique appuyée sur le triple support: route/chemin de fer/voie maritime. São Francisco do Sul et son port seraient insérés, alors, dans un couloir biocéanique, idée que même pas Gonneville, avec son intrépidité, ni les plus optimistes visionnaires qui ont fait l histoire du nord-est de Santa Catarina, auraient jamais imagineé. 1 A NOTÍCIA. O desafio dos portos em SC. Joinville, 1º de abril de 2004.

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Passado e futuro: uma cidade e seu patrim么nio DALMO VIEIRA FILHO


S P ÁGINA

ANTERIOR

/ P AGE

PRÉCÉDENTE :

Proposta de revitalização do centro histórico da cidade. Plan de revitalisation de la cité historique. D ESENHO / D ESSIN : M ARCELO C ABRAL V AZ . A CERVO / A RCHIVES : IPHAN. P ÁGINA AO LADO / P AGE D À CÔTÉ : F OTO / P HOTO : S ÍLVIO C OELHO DOS S ANTOS .

e a natureza é exuberante, composta de ilhas, praias, dunas, mangues, florestas e lagoas, o patrimônio cultural de São Francisco do Sul não fica atrás: a cidade mais antiga de Santa Catarina possui riquíssimo acervo de sítios arqueológicos, manifestações da cultura imaterial, arquitetura histórica e urbanismo. Apesar de todos estes atributos, seus méritos não se encerram no passado. A cidade está vocacionada para o futuro. A tranqüilidade de sua paisagem, a relação direta com o mar, o valor histórico da malha urbana e da arquitetura são alguns dos fatores que convergem para uma cidade mais humana, relacionada com a natureza e com a cultura. Estes atributos não são inerentes apenas ao patrimônio secular que São Francisco do Sul acumula. São também grandes predicados em termos do que a cidade será e dos confortos e vantagens que proporcionará aos seus cidadãos de hoje e aos de amanhã. Durante o século XX, o mundo como que readaptou as suas cidades aos desafios e novidades


que a tecnologia criou. No caso dos espaços urbanos, os agentes transformadores foram os veículos mecânicos e as novas técnicas construtivas. As cidades transformaram-se em um intrincado complexo de escoamento viário, repleto de novos e grandes edifícios de concreto armado ou estrutura metálica. No Brasil, um gigantesco processo de urbanização ocorreu depois da metade do século XX, mudando radicalmente a configuração das cidades. Poucas se salvaram dos excessos cometidos em nome das premências do momento e de uma modernização que o tempo tem se encarregado de mostrar temerária.

São Francisco do Sul guardou em boas doses a matéria-prima imprescindível do que haverá de ser a verdadeira cidade do futuro: muito mais humana, mais cidadã, mais sensível ao conhecimento, à arte e à cultura do que a urbe do século passado. Para chegar a este patamar, os sítios urbanos precisaram ter guardado, ao longo do crucial século XX, algo bem mais profundo do que índices de expansão: foi imprescindível terem mantido a alma do lugar, ou seja, a essência dos fatos que explicam, personalizam e identificam uma cidade no seu sentido verdadeiro lugar de cidadãos, espaço de vivências e acontecimentos passados, presentes e futuros. '


O patrimônio Placidamente instalada nas margens da Babitonga, preservando a escala do casario e a relação com a natureza, São Francisco do Sul é uma destas exceções. Para que esta cidade ingressasse no século XXI com todo o seu potencial humano, econômico e social, precisou ter guardado, além da força do ambiente natural, a somatória das contribuições das diversas fases da sua história. Significa dizer que o seu cenário está constituído dentro da dimensão humana, com arte e conhecimento, expressando os variados momentos que marcaram a história do lugar: constituída desta maneira, a cidade tem a distingui-la um apreciável conjunto de bens a que atualmente chamamos de patrimônio . O patrimônio de São Francisco do Sul apresenta inúmeras faces, do ecológico ao material e ao imaterial. O imaterial é repleto de saberes, de '

celebrações, de estórias e tradições. O folclore, o artesanato, a culinária, a pesca, as festas religiosas e profanas são algumas das suas manifestações, que configuram a cultura viva da cidade e da região, uma das mais expressivas do universo catarinense. O patrimônio material é igualmente rico e variado. Além da arqueologia, que apresenta dezenas de sítios de diferentes características, atestado de milhares de anos da ocupação humana destas paragens, está representado pelo imaginário religioso, pelas alfaias, pelos documentos, pelo casario e pelo sítio urbano. Todos patrimônios relevantes, reconhecidos nacionalmente por suas características, diversidade e expressividade. O desenho da malha urbana documenta uma fase da urbanização brasileira, apresentando-se como modelo de transição entre os dois partidos básicos da estrutura das nossas cidades: o geométrico e o orgânico. O último, herança das cidades medievais portuguesas, preponderou no litoral do Brasil do


século XVI ao XVII. Os desenhos geométricos, propostos durante o Renascimento e usados no Brasil desde os primeiros tempos nos aldeamentos jesuíticos, somente depois da metade do século XVII é que se impuseram principalmente nos núcleos criados ao sul do Rio de Janeiro. Situados na planície, apresentando desenhos relativamente geométricos centralizados pela praça, vários povoamentos garantiram o domínio lusitano no Brasil meridional. São Francisco do Sul exemplifica um momento ainda indefinido deste partido: a

Vista geral do centro histórico. Vue d ensemble de la cité historique. No detalhe, trapiches de desembarque de passageiros. Au détail, jetées en bois pour le débarquement de passagers. F OTOS / P HOTOS : M ARCELO C ABRAL V AZ .

cidade está implantada em área predominantemente plana, mas dominada pela elevação onde foi edificada a igreja que não é voltada para o mar. As ruas, quase retas, se cruzam em quarteirões regulares e bem definidos. O mar delimita e orienta as vias da orla, sendo o fator de maior influência sobre o desenho da cidade. Nota-se o ensaio de uma estrutura em grade, com as ruas cruzando-se ortogonalmente, demonstrando a gestação de um desenho rígido e geométrico que no Brasil só iria se impor definitivamente bem mais tarde.


Conceitos da Idade Média e do Renascimento convivem no urbanismo, enquanto a arquitetura apresenta número ainda maior de fontes de inspiração. Existem trechos de muros e paredes que podem ter sido edificados ainda no século XVII: construídos em grossas alvenarias de pedra, integram edifícios que, quando construídos, devem ter se valido de suas sólidas presenças ou sobrevivem nos fundos de muitos dos lotes do centro da cidade. São numerosas as casas térreas e os sobrados tipicamente dos oitocentos: paredes de pedra, originalmente caiadas, sem ornatos, com beirais de cimalhas e beiras-seveiras, vergas retas ou em arco abatido, testemunham a evolução da cidade entre o século XVIII, depois da passagem do ouvidor Pardinho, até meados do século seguinte. Formam os testemunhos do Brasil colonial, construídos que foram no período anterior ao Grito do Ipiranga e à chegada dos imigrantes alemães à região.

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As construções ecléticas, edificadas entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, são maioria no centro histórico. Representam momentos importantes da vida da cidade, que se desenvolveu bastante no período. As atividades portuárias incrementaram-se grandemente, influenciadas pelas levas de imigrantes, pela fundação e pelo rápido desenvolvimento da Colônia Dona Francisca centralizada na atual Joinville, e pela instalação da estrada de ferro associada ao apogeu do ciclo da erva-mate. São edifícios públicos como o Mercado Municipal, ou particulares, como a atual casa do Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Clube XXIV de Janeiro e o Hotel Kontiki, sempre dotados de platibandas, portas e janelas com bandeiras fixas, paredes decoradas e coloridas. Na orla da cidade, debruçado sobre o mar, um impressionante conjunto de sobrados forma o mais expressivo conjunto


eclético de Santa Catarina. Ao longo dos quarteirões do centro histórico, deve ser notada a ocorrência da arquitetura teuto-brasileira, presente em numerosos edifícios em especial nas dependências da antiga empresa Hoepcke, que hoje abrigam o Museu Nacional do Mar. Ornatos específicos e telhados inclinados particularizam estes edifícios. As cruciais décadas de trinta e quarenta do século XX também estão muito bem representadas: O Museu do Mar, instalado nas antigas dependências da Cia. Hoepcke. Le Musée de la Mer, installé dans les anciens bâtiments de la Cie Hoepcke. F OTO / P HOTO : T EMPO E DITORIAL . A CERVO / A RCHIVES : IPHAN.

Alameda de palmeiras. Ao fundo, o casarão da família Rhinow, construído no final do século XIX. Boulevard de palmiers. Au fond, la villa de la famille Rhinow construit à la fin du XIXème siècle. F OTO / P HOTO : R ENATO R IZZARO .

Abaixo, a arquitetura teuto-brasileira também está presente no cenário da cidade. En bas, l architecture teuto-brésilienne est également présente dans le scénario de la ville. F OTO / P HOTO : P AULO M ALUCHE . A CERVO / A RCHIVES : IPHAN.

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Acima, sede da Prefeitura Municipal, estilo art déco, inaugurada na década de 40. En haut, le siège de la Mairie Municipale, en style art-déco, inauguré les années 40. A CERVO / A RCHIVES : IPHAN.

Sobrado eclético construído no início do século XX. Maison éclectique, à deux étages, qui date du début du XXème siècle. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC.

No detalhe, o mesmo sobrado em janeiro de 2004. Au détail, la même maison en janvier 2004. F OTO / P HOTO : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).


o próprio Getúlio Vargas veio inaugurar a Capitania dos Portos, que com o edifício da Prefeitura Municipal e o do Cine Teatro permitem boa apreciação da arquitetura art déco. Até boas representações do Modernismo estão presentes em algumas das casas do centro histórico. Este variado conjunto, composto por mais de trezentos imóveis, é sempre visualizado entre o mar e as elevações que o delimitam, tornando-se um dos mais expressivos núcleos históricos do Brasil.

A proteção Identificados o valor e as particularidades do centro histórico de São Francisco do Sul, por volta de 1983, era urgente impedir a sua descaracterização. Não se tratava de tarefa fácil: as instituições do Estado e da União haviam sido recém-instaladas em Santa Catarina. A responsabilidade era imensa. Havia as fortalezas do século XVIII, tombadas desde 1938, arruinadas e cobertas pelo mato. Os centros históricos litorâneos não contavam com qualquer proteção efetiva. A região de imigrantes, principalmente alemães, italianos e poloneses, com todo o seu potencial de manifestações vivas, era desconhecida. Apesar de todas estas emergências, tornou-se claro que, como primeira tarefa, se impunha a proteção dos centros históricos de Laguna '&

e de São Francisco do Sul, então profundamente ameaçados de rápida descaracterização. O tombamento de São Francisco do Sul, efetivado em meados da década de 1980 e ao qual o prefeito garantia legitimidade, foi relativamente mais tranqüilo do que o de Laguna, concretizado no mesmo período e que ocasionou uma intensa disputa com as opiniões locais contrárias à preservação. Antecedido de reuniões e debates que acompanharam os trabalhos técnicos, houve um entendimento geral de que a cidade precisava guardar o centenário patrimônio de ruas e casarios históricos. Entretanto, todos os que se empenharam na preservação do patrimônio da cidade, em reuniões abertas com administradores e autoridades, assumiram uma grave responsabilidade: a de que o tombamento não era uma idéia retrógrada nem contrária ao progresso e ao desenvolvimento ao contrário, representava uma importante alternativa de futuro que São Francisco do Sul não poderia desconsiderar. Efetivada a proteção, passaram-se os primeiros anos sem que algo de significativo acontecesse, além de algumas pequenas obras de restauro. Havia uma


certa frustração, agravada por conflito relacionado com um aterro que a Prefeitura Municipal idealizara realizar na Baía da Babitonga, ao lado do Mercado Municipal obra embargada pelo IPHAN.

A recuperação

Detalhe eclético em prédio localizado no centro histórico. Détail éclectique d un immeuble situé à la cite historique. P ÁGINA

AO LADO

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CÔTÉ :

Acima, conjunto urbano demonstrativo de mescla de estilos e períodos. En haut, ensemble urbain qui témoigne du mélange de styles et périodes. Abaixo, detalhe do casarão da família Görressen, em estilo luso-brasileiro, construído na segunda metade do século XIX. En bas, détail de la villa de la famille Görressen, bâtie dans un style luso-brésilien à la deuxième moitié du XIXème siècle. A CERVO / A RCHIVES : IPHAN.

O primeiro passo importante, depois do tombamento, foi a criação do Museu Nacional do Mar. Pouca gente acreditava em sua viabilidade. Foram precisos muita perseverança, vários anos batendo em portas diversas, a surpreendente boa vontade do proprietário, a parceria incondicional do prefeito e a pouca atratividade econômica da área na São Chico daqueles tempos: os antigos galpões da Hoepcke estavam abandonados e em ruínas havia mais de uma década. Implantado provisoriamente o Museu, em memorável aventura, contando com total engajamento da administração municipal, dos técnicos da Fundação Catarinense de Cultura e com o empréstimo por particulares de todo o acervo exposto, os céticos precisaram considerar que os ideais de preservar não existiam apenas para coibir construções novas e dizer não a anseios que consideravam legítimos. As pessoas se espantavam com a dimensão do Museu, a beleza do edifício e a expressividade dos poucos barcos emprestados. O sentimento do já teve , típico de populações de cidades históricas que se julgam herdeiras de memórias gloriosas e presentes vazios, lentamente começou a ser reconsiderado. Em todo este processo, a ação do IPHAN foi importante para que São Francisco do Sul guardasse seus diferenciais do passado, a esta época já reconhecidos como potenciais do futuro. A trajetória da proteção na cidade seguiu a seqüência ideal preservacionista: identificar, proteger e valorizar. Também a constatação de que não basta tombar é ''


indispensável atuar na potencialização da área protegida foi seguida à risca. Pensando neste desafio, o órgão nacional responsável pelo tombamento da cidade, e de quem à primeira vista se deveriam esperar apenas sugestões sobre o passado, convidou lideranças e administradores para uma reflexão sobre o futuro e o desenvolvimento do centro histórico de São Francisco do Sul. Indagados sobre as próximas décadas, as previsões otimistas apontavam o Porto e o turismo como os principais agregadores de trabalho e renda no município. Do aprofundamento dos debates, constatou-se que os portos possuíam possibilidades relativamente restritas de repassar riquezas para as cidades: não são ricos os municípios que abrigam alguns dos portos mais importantes do Brasil e do mundo. Sobre o turismo, preponderava a idéia do veranismo , também de resultados limitados em relação ao conjunto da população. Como atividade permanente, ficou claro que, em conjunto com o Porto e com os balneários, uma das principais potencialidades da cidade era a de tornar-se um centro regional de lazer, baseado nos seus maiores diferenciais: a natureza, o centro histórico, a relação direta com a Babitonga e o Museu Nacional do Mar.

Efetivamente, São Chico, na sua condição de ilha, com baías, praias, lagoas, dunas, mangues e restingas, unidos ao centro histórico, ao Museu do Mar, aos costumes, às tradições culinárias, festas e eventos, tudo muito próximo de Curitiba, Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau, São Bento do Sul, Camboriú e Itajaí, apresenta uma invejável condição de desenvolvimento acoplado ao lazer regional. Os turismos cultural e ecológico, aliados ao lazer náutico, trazem uma imperdível possibilidade de futuro para São Francisco do Sul e para toda a sua comunidade. As ações preservacionistas concentraram-se neste potencial e passaram a ocorrer em série, orientadas, desde então, por um norte que lhes permitia saber aonde chegar. Primeiro, fora o tombamento nacional do centro histórico, logo depois, a criação do Museu Nacional do Mar. Em seguida, ocorreu a inclusão da cidade no Programa Monumenta/BID. Estas vitórias não foram gratuitas e só ocorreram depois de lutas, incompreensões e dificuldades, vencidas com parcerias, convicções e muita perseverança. Ultrapassadas as etapas iniciais, outras ações decorrentes logo se viabilizaram. Os patrocínios de empresas como a Petrobrás e a Vega do Sul


resultaram na reabertura do Cine-Teatro e na reciclagem do Museu do Mar, criando uma nova realidade urbana, impensável apenas há alguns anos. O estímulo a restaurantes e pousadas resultou na decisão do Grupo Empresarial Costão do Santinho, de Florianópolis, de instalar importante empreendimento no centro histórico da cidade. A idéia do portal de turismo , capaz de receber os grandes navios de passageiros que percorrem o litoral durante o verão, foi partilhada com a Marinha e encampada pelo governo estadual. Os trabalhos de implantação do porto de lazer (a marina do Museu e da cidade) abriram novas frentes de interesse: o que representarão para São Francisco do Sul uma centena de lanchas e veleiros ancorados nos antigos trapiches da Santista e da Hoepcke, em pleno centro da cidade? O Programa Monumenta coroa todo este processo de investimentos e valorizações do centro histórico, e abre novas e ainda mais amplas possibilidades para a cidade. A indicação e a seleção de São Francisco do Sul para o Programa já foram

um feito: a disputa envolveu mais de cem cidades brasileiras, incluindo todos os centros históricos nacionais e conjuntos urbanos de várias capitais, como Florianópolis. Aprovada junto com Ouro Preto, Salvador, Olinda, Recife, Rio de Janeiro, Diamantina, São Luís, Pelotas, Penedo, Lençóis e Cachoeira, entre outras, a proposta de São Francisco trazia uma novidade: o projeto aprovado pela comunidade em reunião com a cúpula do Programa estava proposto e fora elaborado pelo IPHAN e pela Prefeitura Municipal. Previa ações exatamente onde a cidade se destacava (na orla marítima) e onde mais precisava: na restauração de prédios públicos e privados. Investimentos estratégicos foram propostos e executados justamente quando se comemoram os 500 anos da viagem do capitão de Gonneville. Toda a orla entrou em obras. Calçadas, praças e vias públicas receberam benfeitorias. Floreiras, bancadas e equipamentos públicos complementarão o processo. Os edifícios do Museu Nacional do Mar, o Portal de Turismo Naval, o Mercado Municipal e a Igreja Matriz estão restaurados. Quase uma centena de imóveis privados receberá empréstimos sem juros, com carência e prazos dilatados. Os pagamentos reverterão para um Fundo de Preservação a ser gerido por representantes comunitários e que deverá

Casa luso-brasileira com portas, janelas e beiral característicos. Maison luso-brésilienne avec portes, fenêtres et avant-toit caractéristiques. P ÁGINA

AO LADO

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CÔTÉ :

Acima, as casas térreas são predominantes no centro histórico. En haut, les maisons sans étage prédominent dans la cité historique. Abaixo, a ladeira da Rua Cel. Camacho liga a orla marítima com a praça da Igreja Matriz. En bas, la montée de la Rue Cel. Camacho fait la liaison entre le bord de mer et la place de l église. F OTO / P HOTO : P AULO M ALUCHE . A CERVO / A RCHIVES : IPHAN.


ser reaplicado por anos no centro histórico da cidade. Os investimentos do Monumenta geraram conseqüências diretas. Uma das mais significativas foi proporcionada pela Vega do Sul e pela Prefeitura Municipal na qualificação museológica do Museu Nacional do Mar. A aplicação combinada de recursos, nas obras e na valorização do acervo, transformaram o Museu em um dos mais modernos do País. Sua coleção de barcos, que não encontra equivalente no mundo, foi contextualizada com uma inovadora exposição. Criatividade e emoção conjugaram-se para apresentar, através de mais de meia centena de embarcações de todas as regiões brasileiras, boa parte da extraordinária saga cotidiana de milhares de pessoas que vivem dos mares, rios e lagoas do Brasil. Com o patrocínio, novos barcos e modelos foram adquiridos, a exposição permanente, ampliada, os expositores com texto e imagem, renovados, as salas, sonorizadas, documentários foram produzidos, instaladas a loja e a cafeteria, e a segurança, ampliada. Os investimentos no Museu e no centro histórico foram programados em função do projeto estratégico de fazer de São Francisco do Sul um importante centro regional de lazer. As obras da orla

estimulam o caminhar entre a cidade e a paisagem marinha: esta é uma das cidades brasileiras onde melhor se preserva a relação centro histórico-mar. As obras de restauro valorizam o conjunto tombado e transmitem como que uma mensagem de conforto ao olhar e aos sentidos de moradores e visitantes. O Museu do Mar excepcionaliza a cidade, atrai milhares de visitantes e os retém por um tempo considerável em São Francisco. Crescem o amor próprio e a confiança em si mesmos. Como conseqüência, surgem os investimentos em habitação, comércio e serviços, em especial no ramo de hospedagem e alimentação, implementando o turismo de permanência e qualidade. O Mercado Municipal, restaurado no âmbito do Programa Monumenta, deverá ser o grande espaço de confraternização. Além do comércio tradicional, com açougue, verdureira, barbearia, bar e lanchonete, os serviços de restaurante e venda de artesanato foram otimizados, interligados com a paisagem da Baía e ampliados para o aterro lateral. No Portal de Turismo Naval, a ação contempla todas as obras necessárias à recepção de turistas, alfandegamento, instalações da Receita Federal, áreas de estar, exposições, eventos e restaurante. A Igreja Matriz, restaurada e repintada, receberá museu sacro dignificando e protegendo seu valioso acervo; a renda do ingresso auxiliará na conservação futura de todo o templo. Os investimentos em imóveis privados incrementam os aspectos sociais do Programa e reafirmam o entendimento de que, muito mais do

Cine-Teatro X de Novembro, estilo art déco, reinaugurado em 2004. Ciné-Théâtre X de Novembro en style art-déco, réinauguré en 2004. A CERVO / A RCHIVES : S ECRETARIA

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Na página ao lado, o mesmo edifício quando abrigava o Cine-Teatro Marajá. Dans la page d à côté, le même bâtiment quand il abritait le Ciné-Théâtre Marajá. R EPRODUÇÃO / REPRODUCTION : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ). A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO

DO

S UL .


que para turistas e visitantes, a cidade deve organizar-se para si e para os seus moradores. Como resultado deste importante montante de recursos e ações direcionados para a cidade tombada, espera-se que em São Francisco do Sul o termo patrimônio seja, para toda a cidade, a reafirmação do seu verdadeiro significado: geração de riqueza, trabalho digno, segurança de futuro, fonte geral de felicidade e bem-estar comunitário.

Amanhã Não há distinção entre preservar e planejar. Freqüentemente, os dois termos podem ser tratados como sinônimos, e um não existe verdadeiramente sem o outro. Preservar é parte indissolúvel do planejar: é o planejamento afetuoso, que, junto com ordenamentos e estratégias de transformações, define o que deve permanecer tal como é . Para olharmos com confiança para adiante, é indispensável que tenhamos um embasamento sólido. Proteger o que admiramos, que reconhecemos como valor e o que percebemos que pode estar ou vir a ser ameaçado é tarefa de olhar para a frente, proporcionando aos que virão depois de nós o reconhecimento e o usufruto desta espécie de herança que consideramos nosso patrimônio. A cidade preservada, por definição, é planejada. Ao mesmo tempo em que se desenvolve e transforma, possui um cerne que lhe é próprio e que não precisa nem deve se alterar profundamente: é seu sobrenome, sua identidade sua alma imorredoura. O futuro que se pode esperar para São Francisco do Sul é o de uma cidade que estenda o seu planejamento para além das áreas tombadas, que assegure sustento e realizações para a sua população residente, que usufrua sempre mais do Porto comercial, do crescente parque de indústrias, e da promissora atividade de turismo

cultural e ambiental: riqueza permanente e não sazonal, a famosa fábrica sem chaminés que o mundo prestigia mais a cada ano que passa. Compatibilizar com visão e espírito de grandeza todas estas opções, subordiná-las sempre ao bemestar social (e não o contrário) é o desafio da cidade e dos cidadãos da atual São Francisco do Sul. Vive-se um momento decisivo, de encontro do passado com o presente, do qual dependem, em larga escala, os rumos do futuro. Que seja esta mais uma página de grandeza e realizações desta bela cidade tão bem dotada pela natureza quanto construída em todos os sentidos, pelas já numerosas gerações que ocuparam e viveram em seu generoso território.

R E F E R Ê N C I A S MUMFORD, Lewis. A cidade na História. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965. CHOAY, Françoise. O urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 1979. REVISTA DO PATRIMÔNIO. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. Rio de Janeiro. 2001 e 2002, n. 29 e n. 30.

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Passé et futur: une ville et son patrimoine

S

i la nature est exubérante, composée d îles, plages, dunes, forêts et lagunes, le patrimoine culturel de São Francisco do Sul ne lui doit rien: la ville la plus ancienne de Santa Catarina a un richissime ensemble de sites archéologiques, manifestations de la culture immatérielle, architecture historique et urbanisme. Malgré tous ces attributs, ses mérites ne s arrêtent pas au passé. La vocation de la ville est le futur.La tranquilité de son paysage, ses rapports étroits avec la mer, la valeur historique du réseau urbain et de l architecture sont quelques facteurs qui montrent une ville plus humaine du point de vue de la nature et de la culture.Ces attributs ne sont pas inhérents uniquement au patrimoine séculier que São Francisco do Sul accumule. Ce sont, aussi, de grands prédicats qui annoncent ce que la ville sera et les conforts et avantages qu elle procurera aux habitants d aujourd hui et de demain. Pendant le XXème siècle, le monde a pratiquement réadapté ses villes aux défis et nouveautés technologiques. En ce qui concerne les espaces urbains, les agents transformateurs ont été les véhicules automobiles et les nouvelles techniques de construction. Les villes se sont


transformées en une inextricable et complexe circulation, se sont remplies de nouveaux et grands bâtiments en béton ou structure métallique. Au Brésil, une gigantesque procédure d urbanisation a eu lieu en la deuxième moitié du XXème siècle qui a changé radicalement la configuration des villes. Peu d entre elles ont échappé aux excès commis au nom des urgences et d une modernisation que le temps se charge d affirmer téméraire. São Francisco do Sul a gardé de bonnes doses de la matière première absolument nécessaire à la vraie ville du futur: beaucoup plus humaine, citoyenne, sensible à la connaissance, à l art et à la culture que dans le siècle passé. Pour y arriver, les sites urbains ont dû garder, tout au long du crucial XXème siècle, quelque chose de bien plus profond que les taux d expansion: il a été indispensable de garder l âme du lieu, c est-à-dire, l essence des faits qui expliquent, personnalisent et identifient une ville en son vrai sens lieu de citoyens, espace du vécu et des événements passées, présents et futurs.

Le patrimoine Placidement installée aux bords de la Babitonga, préservant l échelle representée par la suite des maisons et les rapports avec la nature, São Francisco do Sul est une de ces exceptions. Pour que cette ville rentre dans le XXIème siècle avec tout son potentiel humain, économique et social, elle a dû garder, en plus de la force de l ambiance naturelle, la somme des contributions des diverses phases de son histoire. Cela veut dire que son scénario est installé dans la dimension humaine, avec art et connaissance, exprimant les moments les plus variés qui ont marqué l histoire du coin: constituée de cette façon, la ville se distingue par un appréciable ensemble de biens que, de nos jours, on appelle le «patrimoine».

Le patrimoine de São Francisco do Sul a plusieurs visages, de l écologique au matériel et à l immatériel. L immatériel est plein de savoirs, célébrations, petites histoires et traditions. Le folklore, l artisanat, la cuisine, la pêche, les fêtes religieuses et prophanes sont quelques-unes parmi ces manifestations qui donnent forme à la culture vivante de la ville et de la région, une des plus expressives dans l univers de Santa Catarina. Le patrimoine matériel est aussi riche et varié. En plus de l archéologie et ses dizaines de sites différents qui attestent l occupation humaine des lieux depuis des milliers d années, il est representé par l imaginaire religieux, l ameublement, les documents, les petites maisons qui se suivent et le site urbain. Ce sont tous des patrimoines d importance, reconnus à l échelle nationale par ses caractéristiques, diversité et expressivité. Le dessin du réseau urbain configure un moment de l urbanisation brésilienne et se présente comme modèle de transition entre les deux parties élémentaires de la structure de nos villes: le géométrique et l organique. Le dernier, héritage des villes portugaises médiévales, a été prépondérant au littoral brésilien entre les XVIème et XVIIème siècles. Les dessins géométriques, proposés pendant la Renaissance et employés au Brésil dès les premiers temps de nos hameaux jésuitiques, se sont imposés seulement après la deuxième moitié du XVIIème siècle surtout dans les noyaux créés au sud du Rio de Janeiro. Situés sur la plaine, avec des dessins relativement géométriques, ayant une place au centre, plusieurs villages ont garanti la domination lusitaine au Brésil méridional. São Francisco do Sul est l exemple d un moment encore indéfini de ce parti pris: la ville a été implantée sur un terrain quasiment plan, mais dominé par une élévation où a été bâtie l église qui n est pas face à la mer. Les rues, presque droites, se croisent en carrés de #


Proposta para revitalizar a cidade. Plan de revitalisation de la ville. D ESENHO / D ESSIN : M ARCELO C ABRAL V AZ . A CERVO / A RCHIVES : IPHAN.

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maisons réguliers et bien définis. La mer délimite et oriente les voies du bord, étant le facteur de plus grande influence sur le dessin de la ville. On aperçoit l essai d une structure en grille, avec des rues se croisant orthogonalement, qui démontrent la gestation d un dessin rigide et géométrique qui ne réussira à s imposer au Brésil que bien plus tard. Des concepts du Moyen Âge et de la Renaissance vivent ensemble dans l urbanisme, tandis que l architecture présente un nombre encore plus grand de sources d inspiration. Il existe des pans de clôtures et murs qui peuvent avoir été


déjà édifiés au XVIIème siècle: construits en grosse maçonnerie de pierre, ils intègrent des édifices qui, quand ils ont été construits, ont dû bénéficier de leurs solides présences ou survivent au fond de beaucoup de terrains du centre ville. Les maisons typiques des années huit cents, avec et sans étages, y sont nombreuses: murs en pierre, originairement peints à la chaux, sans ornements, avec des avanttoits en corniche, des extrémités seveiras1, des linteaux droits ou en arc bouté témoignent de l évolution de la ville entre le XVIIIème siècle, après le passage de l auditeur Pardinho, jusqu au milieu du siècle suivant. Ce sont les témoins du Brésil colonial, puisqu ils ont été construits dans la période qui précède le cri de l Ipiranga2, avant l arrivée des immigrants allemands à la région. Les bâtisses éclectiques, édifiées entre la deuxième moitié du XIXème siècle et les premières décennies du XXème, sont en majorité dans le centre historique. Elles représentent des moments importants de la vie de la cité qui s est beaucoup développée dans cette période. Les activités portuaires se sont beaucoup accrues sous l influence des groupes d immigrants, par la fondation et développement de la Colônia Dona Francisca l actuelle Joinville- et par la construction des chemins de fer au moment de l apogée de l ervamate. Ce sont des bâtiments publics comme le Marché Municipal, ou privés, comme l actuel siège de l Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), le club XXIV Janvier et l hôtel Kontiki, toujours dotés de platebandes, portes et fenêtres à impostes fixes, murs décorés et en couleurs. Aux bords de la ville, penché sur la mer, un impressionant ensemble de maisons éclectiques à étage est le plus expressif de Santa Catarina. Tout au long des quartiers du centre historique, il faut remarquer la présence de l architecture teutobrésilienne qui se présente dans un grand nombre

d édifices en particulier dans les anciennes dépendances de l entreprise Hoepcke qui abrite, actuellement, le Museu Nacional do Mar. Décorations spécifiques et toits inclinés caractérisent ces bâtisses. Les décennies fondamentales (années 30 et 40) du XXème siècle sont aussi très bien représentées: Getúlio Vargas lui-même est venu inaugurer la Capitainerie des ports qui, avec l édifice de la mairie et du cine-théâtre, permet une bonne évaluation de l architecture art déco. Même de bons exemples du modernisme existent dans quelques maisons du centre historique. Cet ensemble varié, formé par plus de trois cents immeubles, est toujours visualisé entre la mer et les élévations qui le délimitent, étant, ainsi, un des plus expressifs noyaux historiques du Brésil.

La protection Une fois identifiées la valeur et les particularités du centre historique de São Francisco do Sul, autour de 1983, il était urgent d empêcher qu il perde ses caractéristiques. Ce n était pas tâche facile: les institutions de l État et de la fédération venaient juste d être installées à Santa Catarina. La responsabilité était de taille. Il y avait les forteresses du XVIIIème siècle, ayant obtenu l appellation de monuments historiques depuis 1938, en ruines et couvertes de mauvaises herbes. Les centres historiques du littoral ne jouissaient d aucune protection effective. La région des immigrants, surtout allemands, italiens et polonais, avec tout leur potentiel de manifestations vivantes, était inconnue. Malgré toutes ces urgences, il reste clair que la première tâche à s imposer était la protection des centres historiques de Laguna et de São Francisco do Sul, grandement menacés de détérioration rapide. Le cadastrage de São %


Francisco do Sul comme patrimoine de l humanité, rendu effectif vers le milieu des années 80, dont le maire garantissait la légitimité, a été rélativement plus tranquille que celui de Laguna, effectué à la même époque et qui a déclanché une intense dispute avec les intérêts locaux, contraires à la préservation. Précédée de réunions et débats qui ont accompagné les travaux techniques, on a abouti à une entente généralisée sur le besoin de préserver le patrimoine centenaire des rues et maisons de la ville. Tous ceux qui se sont engagés dans la préservation du patrimoine de la ville, cependant, en réunions ouvertes avec les administrateurs et autorités, ont assumé une grave responsabilité: celle qui voyait le cadastre du patrimoine non pas comme une idée désuette ou contraire au progrès et au développement mais, au contraire, une importante alternative de futur que São Francisco do Sul ne pouvait pas ignorer. Une fois la protection établie, les premières années se sont écoulées sans qu il n arrive rien de remarquable en dehors de quelques petits travaux de restauration. Il y avait une certaine frustration, aggravée par le conflit concernant un polder que la mairie comptait faire dans la baie de la Babitonga, à côté du marché municipal travaux que l IPHAN avait empêchés.

La récupération Le premier pas à donner, après le cadastrage comme monument historique, a été la création du Musée National de la Mer. Peu de gens croyait l idée viable. Il a fallu persévérer, frapper à diverses portes des années durant, compter sur l incroyable bonne volonté du propriétaire, l idée désintéressé du maire et le peu d intérêt économique des vieux bâtiments: les anciens hangars de la Hoepcke étaient abandonnés et en ruines il y avait plus de dix ans. &

Le musée ayant été implantée provisoirement, en une aventure mémorable, jouissant du complet engagement de l administration municipale, des techniciens de la Fundação Catarinense de Cultura, des particuliers ayant prêté la totalité des oeuvres en exposition, les sceptiques ont dû admettre que les idéaux de préserver n existaient uniquement pour cohiber de nouvelles constructions et nier des désirs qu ils considéraient légitimes. Les gens s étonnaient de la dimension du musée, de la beauté de l édifice et l expressivité des rares bateaux qui avaient été prêtés. Le sentiment du «il y a déjà eu», caractéristique de populations de villes historiques qui s estiment héritières de mémoires glorieuses et de présents vides, a lentement été réconsidéré. Pendant tout le procès, l action de l IPHAN a été importante, afin que São Francisco do Sul garde ses caractéristiques du passé, à ce moment-là, finalement, reconnues comme un futur potentiel. À la trajectoire de la protection en ville a suivi l attitude idéal du préservateur: identifier, protéger et valoriser. La constatation, également, qu il ne suffit pas de faire le cadastre du monument historique il est indispensable d agir sur la potentialité de l aire protégée- a été suivie de près. En pensant à ce défi, l organe national chargé de s occuper de faire cadastrer la ville comme monument historique, duquel, au premier abord, il ne fallait pas espérer plus que des suggestions sur le passé, a appelé des leaders et des administrateurs à une reflexion sur le futur et le développement du centre historique de São Francisco do Sul. Interrogés sur les décennies à venir, les prévisions optimistes signalaient «port et tourisme» comme les principaux responsables par le travail et les revenus du município. En approfondissant les débats, on a conclu que les ports avaient des possibilités relativement limitées de procurer des richesses pour


les villes: les municípios qui en abritent quelques uns, parmi les plus importants du Brésil et du monde, ne sont pas riches. En ce qui concerne le tourisme, prépondérait l idée de la «saison», comme de résultats limités par rapport à l ensemble de la population. En ce qui concerne l activité permanente, il ressortait que, dans l ensemble: port avec les plages balnéaires, une des principales potentialités de la ville, pouvait devenir un centre régional de loisirs en s appuyant sur ses différences: la nature, le centre historique, le rapport direct avec la baie de la Babitonga et le Musée National de la Mer. Effectivement, la ville de São Francisco, en sa condition d île, avec baies, plages, lagunes, dunes, marais et rochers, ajoutés au centre historique, le Musée de la Mer, les coutumes, les traditions culinaires, fêtes et événements, le tout proche de Curitiba, Joinville, Jaraguá do Sul Blumenau, São Bento do Sul, Camboriú et Itajaí, présentait un enviable moyen de développement lié au loisir régional. Les tourismes culturel et écologique, alliés au loisir nautique, signifient un futur à ne pas négliger pour São Francisco do Sul et toute sa communauté. Les actions pour préserver se concentrent dans cette potentialité et sont devenues continues, orientées, dès lors, dans une direction qui permettait de savoir où elles aboutiraient. D abord a eu lieu le cadastre national des bâtiments du centre historique, après la création du Musée de la Mer. Ensuite on a inséré la ville dans le programme Monumenta/Bid. Ces victoires n ont pas été gratuites et ont eu lieu après de luttes, incompréhensions et difficultés, vaincues avec des associations, convictions et beaucoup de persévérance. Dépassées les étapes initiales, d autres actions, en conséquence, sont devenues vite possibles. Le

patronnage d entreprises telles que la Petrobrás et la Vega do Sul ont permis la réouverture du cinéthéâtre et le recyclage du Musée de la Mer, créant une nouvelle réalité urbaine, impensable il y a à peine quelques années. L encouragement à des restaurants et des auberges a décidé le Grupo Empresarial Costão do Santinho, de Florianópolis, à installer une importante affaire au centre historique de la ville. L idée du «portail du tourisme», capable de recevoir les grands bateaux de passagers qui suivent le littoral pendant l été, a été partagée avec la Marine et encadrée par le gouvernement de l État. Les travaux d implantation du port de loisir (la marina du Musée de la Ville) ont ouvert de nouveaux centres d intérêt: que représenteront-ils pour São Francisco une centaine de bateaux motorisés ou à voile accostés dans les anciens ponts de la Santista ou Hoepcke, en plein centre-ville? Le programme Monumenta couronne tout ce procès d investissements et valorisation du centre historique et offre d autres et plus grandes possibilités à la ville. Le fait d avoir été indiquée et selectionnée pour bénéficier du programme a déjà été une victoire pour São Francisco do Sul. La dispute se faisait entre plus d une centaine de villes brésiliennes, y compris tous les centres historiques nationaux et ensembles urbains de plusieurs capitales, y compris Florianópolis. Approuvée avec Ouro Preto, Salvador, Olinda, Recife, Rio de Janeiro, Diamantina, São Luís, Pelotas, Penedo, Lençóis et Cachoeira, entre autres, la proposition de São Francisco comportait une nouveauté: un projet approuvé par la communauté, réunie avec la direction du programme, avait été proposé et élaboré par l IPHAN et la mairie municipale. Il prévoyait des actions exactement où la ville se distinguait (le bord de mer) et où elle avait le plus besoin: dans la restauration de bâtiments publics et privés. Des investissements stratégiques ont été '


proposés et executés exactement quand on commémorait les 500 ans du voyage du capitaine de Gonnéville. Le bord de mer est devenu un immense chantier. Trottoirs, places et voies publiques ont reçu des améliorations. Des bouquetières, bancs et équipements publics compléteront le procès. Les bâtiments du Musée de la Mer, le portail de tourisme naval, le marché municipal et l église ont été restaurés. Presque une centaine d immeubles privés aura des emprunts sans intérêts, avec délais de carence et termes dilatés. Les paiements bénéficieront un fonds de préservation qui doit être géré par des représentants communautaires et qui devra être appliqué en retour, pendant des années, au centre historique de la ville. Les investissements du Monumenta ont provoqué des conséquences directes. Une des plus remarquables est de la responsabilité de la Vega do Sul et de la Mairie qui, ensemble, ont obtenu la qualification muséologique du Musée National de la Mer. L application combinée de revenus dans la réparation et la valorisation de l ensemble d oeuvres en exposition ont transformé le musée en un des plus modernes du pays. Sa collection de bateaux, sans équivalent dans le monde, a été exposée de façon innovatrice. Criativité et émotion se sont conjuguées pour présenter, moyennant plus d une demi-centaine d embarcations de toutes les régions brésiliennes, une bonne partie de la saga quotidienne de milliers de personnes qui vivent de la mer, fleuves et lagunes du Brésil. Avec le patronnage, de nouveaux bateaux et modèles ont été acquis, l exposition permanente élargie, les expositeurs, avec texte et images, renouvelés, les salles, sonorisées, des documentaires ont été produits, un magasin et la cafétéria ont été installés et la sécurité augmentée.

Les investissements dans le musée et le centre historique ont été insérés dans le projet stratégique de faire de São Francisco do Sul un important centre régional de loisirs. Les travaux du bord de mer ont stimulé les promenades entre la ville et le paysage marin: c est une des villes brésiliennes où mieux se préservent les rapports entre le centre historique et la mer. La restauration a valorisé l ensemble cadastré et répond au regard et aux émotions des habitants et visiteurs avec un message de reconfort. Le Musée de la Mer rend la ville exceptionnelle, attire des milliers de visiteurs et les retient pour un temps considérable à São Francisco où grandit l amour propre et la confiance en soi. En conséquence, surgissent de nouveaux investissements en habitation, commerce et services, surtout dans la branche hôtellière et de l alimentation, encourageant le tourisme de permanence avec qualité. Le marché municipal, restauré dans le cadre du programme Monumenta, devra être le grand espace de confraternisation. En plus du commerce conventionnel, comme boucherie, fruits et légumes, barbier, bar et brasserie, les services de restaurant et vente de pièces d artisanat ont été optimisés, intégrés au paysage de la baie et agrandis vers le polder latéral. Dans le portail de tourisme naval, a été installé tout le nécéssaire à l accueil des touristes, même étrangers: la douane, le bureau du Trésor Public, des espaces de repos, expositions, événements et restaurant. L église, restaurée et repeinte, siégera un musée d art sacré qui va dignifier et protéger son précieux ensemble d oeuvres; les revenus obtenus avec la vente des entrées vont aider à financer la conservation du temple. Les investissements en immeubles privés garantissent davantage de place aux aspects sociaux du programme et réafirment le point de


vue qu entend que la ville doit s organiser davantage pour soi-même et ses habitants que pour les touristes et visiteurs. Comme le résultat de cet important montant de revenus et actions, tournés vers la cité cadastrée en tant que monument historique, on espère qu à São Francisco do Sul le terme «patrimoine» soit, pour la ville, la réaffirmation de sa vraie signification: la production de richesses, travail digne, futur assuré, source générale de bonheur et bien-être communautaires.

Demain Il n existe pas de différence entre préserver et planifier. Fréquemment les deux mots peuvent être compris comme synonymes, et l un n existe pas, vraiment, sans l autre. Il n est pas possible de les dissocier: c est la planification affectueuse qui, avec des ordonnances et stratégies de transformation, définit ce qui doit rester «tel qu il est». Pour qu on puisse regarder avec confiance devant nous, il est indispensable d avoir des bases solides. Protéger ce que nous admirons, ce que nous regardons comme valeur à devenir ou être ménacée, nous oblige à voir dans l avenir la garantie de ceux qui seront là après nous, la reconnaisance et l usufruit de cet espèce d héritage que nous considérons notre patrimoine.

La ville préservée, par définition, est planifiée. En même temps qu elle se développe et se transforme, elle possède un «noyau» qui lui est propre qui n a pas besoin ni doit être profondement altéré: c est son nom, son identité son âme immortelle. Le futur qu on peut attendre pour São Francisco do Sul est celui d une ville qui poussera sa planification au-delà des zones reconnues monuments historiques, qui assure maintien et réalisations pour la population résidente, qui profite toujours plus du port commercial, du grandissant parc industriel et de la prometteuse activité de tourisme culturel et environnemental: richesse permanente et non saisonnière, la fameuse «fabrique sans chéminées» que le monde encourage chaque fois davantage. Comptabiliser, avec de la vision et de l esprit de grandeur toutes ces options, les soumettre toujours au bien-être social (et non le contraire) est le défi de la ville et des citoyens de l actuelle São Francisco do Sul. On vit un moment décisif, de rencontre entre le passé et le présent dont dépendent, en grande échelle, les voies du futur. Que celle-ci soit une page de plus de grandeurs et réalisations de cette belle ville aussi bien dotée par la nature que construite, en tous sens, par les déjà nombreuses générations qui ont occupé et vécu dans son généreux territoire.

1 Beira-seveira est une bordure de toit très courant dans l architecture lusobrésilienne, construite avec des tuiles enduites de mortier (Note du traducteur). 2 Selon la tradition, D. Pedro II, empereur du Brésil, se trouvait aux marges de ce fleuve (Ipiranga) quand il a reçu une lettre du Portugal qui l a décidé à proclamer l indépendance en criant: «Indépendance ou mort». (Note du traducteur)



São Francisco no início do século XXI ANELIESE NACKE


O P ÁGINA

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Vista geral do Balneário de Capri. Vue générale de la station balnéaire de Capri. F OTO / P HOTO : L UIZ A UGUSTO O ZÓRIO . A CERVO / A RCHIVES : S ECRETARIA DE T URISMO

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A pesca tradicional na Praia de Enseada compartilha espaço com o turismo. La pêche traditionnelle à la plage de l Enseada partage son espace avec le tourisme. F OTO / P HOTO : R ENATO R IZZARO .

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município de São Francisco do Sul tem, atualmente, uma área de cerca de 541 km², ocupando toda a Ilha homônima e uma parte do continente onde se localiza o Distrito do Saí. Pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000, sua população é de 32.301 habitantes, e a maioria (29.930) vive na área urbana. Esta população usufrui das belezas tanto da Ilha como do litoral fronteiro. As praias, o verde forte da Mata Atlântica, a diversidade da paisagem, as pequenas ilhas localizadas na Baía da Babitonga, os manguezais, as restingas, os rios e as lagoas formam um conjunto paisagístico raramente encontrado. Em termos gerais, pode-se dizer que a qualidade de vida dos moradores locais é bastante razoável. A maioria vive em casas próprias, convive com parentes e vizinhos, e conta ainda com a boa qualidade do ar, da água e do meio ambiente. Parte da população mais desvalida economicamente tem acesso a recursos da natureza, especialmente pelo exercício da pesca artesanal e da coleta de moluscos.


A Baía da Babitonga há séculos dá suporte à sobrevivência das populações que se localizaram no seu entorno. De outro lado, se considerarmos os cálculos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município era de 0,820, o que o situava na 55ª posição no Estado. Em 1991, este mesmo índice era menor, 0,752, o que demonstra uma ligeira modificação para mais nos itens mensurados, tais como longevidade, renda e educação. Segundo ainda os dados do IPEA, 15,72% do total da população não dispõe de renda financeira suficiente, situando-se abaixo da linha de pobreza1. Este percentual é superior ao apresentado tanto pela

região geográfica em que se insere o município quanto pelo Estado, o que tem demandado do poder público iniciativas mais agressivas nas áreas de habitação, saúde, saneamento, educação e geração de empregos. A maior parte da população do município conta com uma infra-estrutura de serviços públicos centrada na disponibilidade de água tratada, energia elétrica, transporte público urbano, escolas, postos de saúde e coleta de lixo. No que se refere ao fornecimento de água tratada, o Sistema Municipal de Água e Esgoto (Samae) é responsável pelo abastecimento de 85% da população do município. As localidades de Miranda, Ervino, Gamboa, Tapera e Ribeira, #


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entretanto, ainda não são abastecidas pelo órgão municipal. A situação é diferente na Vila da Glória, localizada no lado continental, onde, desde 1989, a Associação Comunitária Representativa do Distrito do Saí (Ascoredi) fornece água tratada a 580 associados. Hoje, a maioria das habitações dispõe de serviço regular de coleta de lixo, através de empresa especializada, que tem como destino aterro sanitário fora dos limites do município. Essa alternativa, implementada após o embargo judicial dos lixões a céu aberto localizados nos bairros de Acaraí e Tapera, no interior da Ilha, resolveu temporariamente o problema dos riscos de contaminação do complexo ambiental da Ilha. O município não dispõe de uma rede de coleta e sistema de tratamento de esgoto. De fato, este tem sido considerado um dos problemas que necessita de solução mais urgente. O documento Agenda 21 2, elaborado neste ano de 2004, no contexto das preocupações ambientais e qualidade de vida que passaram a integrar as políticas públicas do País a partir dos anos 90 do século passado, registrou a situação, definindo como uma de suas metas a solução desse problema.

Casarão dos Backmeyer situado na zona rural do Distrito do Saí. Villa des Backmeyer située à la campagne du district du Saí. F OTO / P HOTO : S ÍLVIO C OELHO

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Economia A economia do município gira em torno do Porto, responsável por aproximadamente 70% a 80% da receita total do município, bem como pela maior parte dos salários da cidade. O turismo, também em

A pesca artesanal ainda é atividade econômica importante para parte da população do município. La pêche artisanale est encore une activité économique importante pour une partie de la population du município. F OTO / P HOTO : R ENATO R IZZARO . P ÁGINA

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Instalações da Transpetro no bairro de Ubatuba. Les installations de la Transpetro dans le quartier de Ubatuba. A CERVO / A RCHIVES : P ETROBRÁS T RANSPORTE S.A.

destaque, participa com cerca de 15%, enquanto outros setores da economia têm pouca expressão. Além disso, o município abriga, desde 1978, um terminal de recebimento de petróleo da Petrobrás Transporte S.A. (Transpetro), o que proporciona um retorno financeiro importante à cidade3. Esse quadro deve sofrer alterações, em decorrência da instalação este ano da Vega do Sul e da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina (Fecoagro). Certamente, o funcionamento dessas empresas significa aumento de arrecadação de impostos, geração de empregos, fortalecimento do setor industrial, até agora pouco desenvolvido, e diversificação das fontes de receita do município, antes concentradas no Porto. Também a


possibilidade de ser reconhecido o direito de Santa Catarina sobre parte da bacia de exploração de petróleo em águas territoriais do Atlântico Sul poderia garantir a São Francisco do Sul e outros municípios do norte do Estado novos aportes financeiros, decorrentes do pagamento de royalties. Por outro lado, as atividades ligadas à agricultura, à pesca artesanal, ao cultivo de mexilhões e ostras ou mesmo, no outro extremo, à coleta e a reciclagem do lixo no centro histórico ou nas praias, embora representem uma parcela pouco significativa da receita municipal, são fundamentais na subsistência de parte das famílias residentes no município. Para estas, o apoio do poder público local é crucial.

A agricultura, em tempos idos tão importante na Ilha , hoje é desenvolvida apenas por pequena parcela da população. O modelo de produção é familiar, geralmente associado com a criação de gado (carne/leite), suínos, aves e ovinos. Os principais produtos cultivados e a respectiva produção no ano agrícola de 2002 foram: arroz, 660 toneladas; canade-açúcar, 350 toneladas; feijão, nove toneladas; e milho, 81 toneladas. Outros produtos, como mandioca, palmito, batata, hortaliças e frutas, também são cultivados, embora em menor quantidade, e apenas para consumo local5. Já a criação de animais apresenta número insignificante6. Merecem destaque, ainda, pela utilização de práticas alternativas em sua produção, o cultivo de banana, 4


na parte continental do município, com produção de 480 toneladas em 2002, bem como o Projeto Palmeira Real , que envolve 40 produtores rurais das comunidades de Vila da Glória e Saí-Mirim. Em contrapartida, a pesca artesanal continua gerando renda para parcela significativa da população local. Exercem a atividade 1.222 pescadores oficialmente registrados na Colônia de Pesca Z-2, o que torna essa colônia uma das maiores do litoral de Santa Catarina. São moradores de 17 comunidades pesqueiras, entre as quais Estaleiro, Vila da Glória, Praia Bonita, Enseada, Laranjeiras e Paulas. Em algumas dessas localidades, como Gamboa, Miranda e Bairro do Forte, por exemplo, a complementaridade entre a agricultura e a pesca, base da reprodução das unidades familiares nos moldes tradicionais, persiste até os dias atuais. Parte dos produtores rurais recebe auxílio do Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf) e a assessoria da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Por outro lado, desde 1966, os pescadores desenvolvem projetos de cultivo do mexilhão. Em 2003, a Associação dos Maricultores do Bairro de Paulas (Amacap) produziu 22 mil kg desse cultivo. Já nas localidades de Vila da Glória, Capri e Paulas, se desenvolve o cultivo de ostras, com o apoio da Epagri e da Federação dos Maricultores de Santa Catarina (Famasc). Ainda no que se refere ao cultivo de mexilhões, o projeto Protegendo os Costões ,

resultante de convênio entre a Vega do Sul S.A., a Amacap e a Vidamar (ONG de Proteção à Vida Marinha), propõe a criação de mexilhões em ambiente artificial, como em bombonas de plástico. Esses projetos foram viabilizados como alternativa aos problemas financeiros vividos pelos pescadores, decorrentes da diminuição dos peixes na região. Fatores como a poluição das águas da Baía da Babitonga e a pesca intensiva em alto-mar explicam a redução desse recurso e as conseqüentes dificuldades que a categoria vem enfrentando nos últimos tempos. Outros projetos em fase de definição propõem o cultivo de algas, polvos e vieiras, produtos valorizados tanto no mercado nacional quanto no internacional. A criação de camarões em cativeiro é outra proposta que está em andamento. No caso, por ser iniciativa que demanda recursos mais expressivos, o envolvimento é de empresários interessados nas possibilidades desse nicho econômico.

Implantação de uma fazenda para a criação de camarão às margens da BR-280. Implantation d une ferme pour la carciniculture, en marge de la route BR-280. P ÁGINA

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CÔTÉ :

Engenho tradicional para a fabricação de farinha de mandioca ainda em funcionamento na Vila da Glória. Moulin traditionnel pour la fabrication de farine de manioc, encore em activité à la Vila da Glória. F OTOS / P HOTOS : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).





No momento, a atividade turística se constitui no segundo segmento da economia francisquense em importância para o município. A partir da década de 1970, as praias da Ilha começaram a ser ocupadas por veranistas, iniciando-se um processo de transferência das terras de pescadores e agricultores para os novos moradores. Gradativamente, abriramse perspectivas para o incremento do turismo de temporada que hoje movimenta a economia do município nos meses de verão. O turismo de veraneio é, ainda, o de maior expressão, atraindo a cada temporada cerca de 150 mil pessoas. Essas, em maioria, são originárias do próprio Estado. Outra parte procede principalmente dos Estados do Paraná e de São Paulo. A importância dos recursos que a atividade traz ao município, especialmente para a

Acima, o pavilhão da Festilha. En haut, le pavillon de la Festilha. A CERVO / A RCHIVES : S ECRETARIA

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Ao lado, apresentação de grupo de dança folclórica durante a Festilha. À côté, présentation d un groupe de danse folklorique pendant la Festilha. F OTO / P HOTO : M ÔNICA S ILVA . P ÁGINA

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Escala de hidroavião, em São Francisco, em 1935. Escale d hydravion, à São Francisco, en 1935. A CERVO / A RCHIVES : V ALDIR F AUSTO G IL .

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população local, justifica os investimentos que têm ocorrido no embelezamento e na implantação de infra-estrutura básica nas praias da Ilha. A pretensão dos dirigentes municipais é a de manter a movimentação turística o ano todo, estimulando o turismo ecológico e o turismo histórico . De fato, o município apresenta recursos para tanto. No continente, chamam a atenção as encostas da Serra do Mar, as cachoeiras, os engenhos da Vila da Glória, a Praia Bonita. Na Ilha, há o roteiro das praias, o Museu Nacional do Mar, o Museu Histórico, o Forte Marechal Luz e o importante patrimônio arquitetônico de estilo colonial português, hoje em processo de restauração, através do Projeto Monumenta/BID, que tem a coordenação do IPHAN. Ao mesmo tempo, uma ampla programação de festas e eventos dinamiza a cidade no sentido cultural. Dentre outras, destacam-se o Carnaval, a Festa das Tradições da Ilha (Festilha), realizada no mês de abril, o Arraial de São Chico, em junho, a Festa do Camarão (Fecam), a Festa Nacional dos Pescadores (Fenapesca), além das festas religiosas de Nossa Senhora da Glória e de Nossa Senhora da Graça. A Festilha teve início em 1988, com o intuito de resgatar a cultura local, valorizando as diferentes


Trapiche central, atual ancoradouro de barcos de turismo e de transporte coletivo para o Distrito do Saí, no continente. Jetée centrale, actuellement lieu de mouillage pour bateaux de tourisme et transport collectif vers le district du Saí, sur le continent. F OTO / P HOTO : S ÍLVIO C OELHO

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Festa religiosa no trapiche da Alfândega na década de vinte. Fête religieuse dans la jetée de la douane les années vingt. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC.

etnias que contribuíram para o desenvolvimento do município e apoiar suas entidades filantrópicas. Durante a festa, entre outras atrações, são apresentadas danças folclóricas como o boi-demamão, o pau-de-fita, a caravela e as pastorinhas. Merece destaque a dança do vilão, também de origem portuguesa, mas praticada tradicionalmente por negros, hoje só encontrada na localidade de Rocio Grande, em São Francisco do Sul. Também no desfile cívico-militar comemorativo do aniversário da cidade, que acontece no dia 15 de abril, as diferentes escolas representam e dramatizam a história da cidade e de seus principais personagens, índios, negros, portugueses, espanhóis e franceses. Entre outras, uma das propostas para o setor é o Projeto Turístico Costa do Encanto , constante do Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) do Estado de Santa Catarina, que fez parte do Prodetur Sul. Uma outra pretende viabilizar a chegada de navios de cruzeiro à cidade, com a construção de Terminal Turístico Naval nas proximidades do Porto, junto ao Centro Histórico, no antigo armazém Santista.


Em síntese, a população em sua maioria depende dos empregos oferecidos pelo Porto, pela Prefeitura, pela unidade de esmagamento de soja da Bunge, pelos terminais graneleiros, pelo terminal da Petrobrás, pelo comércio local, e mais recentemente por empreendimentos como a planta de laminados de aço da Vega do Sul; a fábrica de fertilizantes da Fecoagro; a estrutura hoteleira; e a implantação de fazendas de criação de camarões. As possibilidades do incremento do turismo de ano inteiro tendo como referência a arquitetura colonial do centro urbano e seus museus, certamente, criam perspectivas econômicas e de emprego para uma parcela da população. Há, contudo, dificuldades para a inserção, especialmente de jovens, no mercado de trabalho, o que tem provocado seu deslocamento para as cidades vizinhas em busca de novas oportunidades. A falta de trabalho se reflete também na incidência relativamente alta de pequenos delitos, prostituição e tráfico de drogas. A discussão desses problemas está aberta no município, seja através dos debates em torno da Agenda 21 , seja nas iniciativas da administração municipal de discutir estratégias para a geração de renda, a criação de empregos, a valorização do patrimônio arquitetônico, a implantação de novos empreendimentos econômicos e a adoção de um plano diretor que assegure a qualidade de vida da população.

Regata festiva na Baía da Babitonga nos anos trinta. Regate de fête dans la baie de la Babitonga. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC. P ÁGINAS

SEGUINTES

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SUIVANTES :

O carnaval de São Francisco do Sul tem estórias. Na década de vinte, foliões posam para registro. Le carnaval de São Francisco do Sul a ses petites histoires. Les années vingt, des baladins font la pose pour le registre. A CERVO / A RCHIVES : S ECRETARIA

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Educação A população de São Francisco do Sul tem suas necessidades escolares atendidas por três redes de ensino: municipal, estadual e privada. A rede municipal conta, atualmente, com 18 estabelecimentos, dos quais oito são escolas básicas, que atendem do Pré-Escolar à 8ª série, e as demais oferecem classes somente até a 4ª série. Essas unidades atendem 3.467 alunos, contando inclusive com aqueles que freqüentam o Pré-Escolar. Inclui ainda 18 centros de Educação Infantil, destinados ao atendimento de crianças entre zero e seis anos. No total, esses últimos estabelecimentos atendem cerca de 1.000 crianças. Há, ainda, uma escola indígena (Guarani) com 37 alunos, mantida através de um convênio entre a Prefeitura e a Fundação Nacional do Índio.

Todas as escolas distribuem merenda escolar, e algumas oferecem atendimento em tempo integral para aqueles estudantes que apresentam problemas de aprendizagem e de socialização. As escolas básicas contam com salas de informática e aulas regulares de espanhol e inglês, além das disciplinas curriculares. Algumas das escolas oferecem cursos supletivos. O número de professores e de técnicos pedagógicos efetivos que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental é de 240. Outros 141 professores estão contratados temporariamente. A rede estadual mantém nove escolas, e sete oferecem somente classes do Ensino Fundamental. As outras duas, de maior porte, chegam ao Ensino Médio. No conjunto, essas escolas atendem 1.618 alunos. A rede privada conta com quatro estabelecimentos de ensino, dos quais dois

Grupo Escolar Felipe Schmidt, inaugurado em 1918, um exemplo positivo de educação pública até os dias atuais. École primaire Felipe Schmidt, inaugurée en 1918, un exemple d établissement public jusqu à nos jours. R EPRODUÇÃO / REPRODUCTION : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ). A CERVO / A RCHIVES : M USEU H ISTÓRICO DE S ÃO F RANCISCO

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pertencentes a confissões religiosas. O mais tradicional oferece classes de ensino do Pré-Escolar ao Ensino Médio e Profissionalizante, atendendo um total de 502 alunos. O segundo conta com classes da Pré-Escola ao Ensino Médio, atendendo 361 estudantes. Os outros dois centros educacionais são destinados a crianças entre zero e seis anos de idade. Há carências significativas na formação escolar profissionalizante. Alguns cursos sazonais têm ocorrido, mas faltam cursos sistemáticos para favorecer o encaminhamento profissional de jovens. Vale destacar a experiência da Casa Familiar do Mar, que oferece em cinco municípios da região o Ensino Fundamental e Técnico a jovens com idade superior a 14 anos. No que se refere ao Ensino Superior, a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) tem oferecido cursos na área de Pedagogia, voltados para a formação de professores do Ensino Fundamental e realizados através da rede de ensino a distância. Cerca de 200 jovens deslocam-se diariamente para Joinville, onde freqüentam diferentes cursos em diversos estabelecimentos de Ensino Superior que existem na cidade. Atualmente, a Universidade da Região de Joinville (Univille) está implantando um campus avançado em São Francisco do Sul, que já oferece o curso de Biologia Marinha.

Saúde A população do município conta com uma infraestrutura para atendimento à saúde considerada boa para atendimentos primários e de prevenção. Há uma Unidade de Pronto Atendimento na sede municipal e uma outra na Praia de Enseada; 18 Postos de Saúde distribuídos pelos bairros e distrito; um Pólo de Referência Microrregional, um Centro de Recuperação e Reabilitação da Saúde da Criança; um Centro de Prevenção e Atenção à Saúde, e uma

Farmácia Básica que fornece gratuitamente medicamentos à população. Dois ônibus devidamente equipados para efetuar atendimento médico e odontológico, além de exames preventivos de câncer de colo uterino e de mama, circulam nas comunidades do município. Sete ambulâncias prestam atendimento emergencial à população, e outros cinco veículos são utilizados na vigilância sanitária e epidemiológica, em programas como o de Monitoramento da Esquistossomose, o Programa Municipal de Combate à Dengue e o Programa de Imunização. O Programa Saúde da Família, iniciado em 2002, visa a promover o atendimento médico domiciliar e atuar na prevenção de doenças. Dispõe de três equipes formadas, cada uma, por um médico, uma enfermeira e três auxiliares de enfermagem que atendem às localidades mais carentes como as do Forte, Majorca, Sandra Regina, Miranda, Laranjeiras, Ervino, Vila da Glória, Estaleiro, SaíMirim e as ilhas. Atualmente, estão cadastradas no programa 2.336 famílias, correspondendo a 22% do total do município. Essas comunidades contam, também, com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde, atuando na orientação e na prevenção. Estão ainda em andamento no município programas que objetivam atender à situação de carência alimentar para categorias específicas de indivíduos. São eles os programas BolsaAlimentação , destinado a gestantes, nutrizes e crianças de seis meses a seis anos, e o Programa Crescer, um centro de recuperação da saúde para crianças entre zero e 14 anos. Alguns dos outros programas preventivos em execução no município são: Combate à Hanseníase, Tuberculose, Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, e Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs/AIDS). Existem ainda outras demandas, tais como a criação de um Centro de !


Atendimento Psicossocial, para doentes mentais e dependentes químicos, e a implementação de um Programa Público de Saúde direcionado aos pescadores. A existência dessa infra-estrutura física e de pessoal, contudo, não tem sido suficiente para garantir o atendimento integral à saúde da população. Entre outras, pode-se registrar a carência de profissionais da saúde, especialmente de especialistas; a necessidade de formação e capacitação de mão-de-obra na área e a inexistência de condições para a realização de exames médicos mais complexos. O velho hospital existente na cidade, que há mais de um século atende às necessidades da população baseado na tradição das casas de caridade mantidas por irmandades religiosas, não conseguiu acompanhar a modernização do setor. As !

limitações impostas pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS) e a crônica falta de recursos financeiros deixaram esta unidade hospitalar, outrora reconhecida regionalmente, sem condições de atendimentos mais sofisticados. Em decorrência, a população tem que recorrer às unidades de saúde públicas ou privadas existentes nas cidades-pólo mais próximas, tais como Joinville e Jaraguá do Sul. A Prefeitura Municipal, por sua vez, tem reivindicado ao governo estadual a construção, na sede do município, de um Hospital Microrregional. O prédio do Hospital de Caridade, importante patrimônio arquitetônico fotografado há décadas, expressa hoje a necessidade de sua conservação. Le bâtiment de l hôpital de Caridade, important patrimoine architectonique, photographié il y plusieurs décennies, montre, aujourd hui, son besoin de conservation. A CERVO / A RCHIVES : IHGSC. P ÁGINA

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À CÔTÉ :

Vista geral do complexo portuário de São Francisco do Sul. Vue générale de l ensemble portuaire de São Francisco do Sul. F OTO / P HOTO : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).


Desafios atuais A instalação do distrito industrial do município indica a decisão do poder público local de estimular o desenvolvimento do setor industrial, até agora pouco expressivo no município. A Vega do Sul, um complexo de tratamento de aço, foi inaugurada oficialmente em abril de 2004, com a previsão de atingir em 2005 produção de 880 mil toneladas de aços laminados a frio e galvanizados. Também em abril, foi inaugurada a Fecoagro. Inicialmente, terá capacidade de produzir 150 mil toneladas de fertilizantes por ano. A expectativa é de que os recursos gerados por esses empreendimentos coloquem rapidamente São Francisco do Sul entre os municípios com maior arrecadação do Estado de Santa Catarina. Em contrapartida, o funcionamento dessas unidades industriais, ou de outras que poderão vir a se instalar no município, gera impactos socioambientais nem sempre mensuráveis ou neutralizados em sua totalidade, apesar dos Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental exigidos por lei. Como exemplo, a Baía da Babitonga vem suportando há anos os efeitos da poluição originária principalmente do pólo industrial de Joinville. Como se sabe, a circulação das águas da Baía foi comprometida com o fechamento do Canal do Linguado, ainda nos anos trinta. Poluem a Baía metais pesados provenientes de indústrias de galvanoplásticos; agrotóxicos utilizados nas lavouras

localizadas no seu entorno; e o esgoto doméstico da cidade de São Francisco do Sul e dos municípios limítrofes7. A região convive, também, com possibilidades de desastres ambientais de graves proporções, considerando-se as cargas perigosas transportadas pelos navios que chegam ao Porto e a existência do Terminal Marítimo para recebimento de petróleo. Neste contexto, o maior desafio a ser enfrentado pela administração municipal, sem dúvida, será o de garantir a qualidade do meio ambiente que o município apresenta, mas também equacionar, com urgência, os problemas socioambientais já existentes. Cabe ao poder público local, em especial, decidir os caminhos a serem seguidos e perseguir o encontro das soluções adequadas. A elaboração da Agenda 21 São Francisco do Sul do futuro , entregue à população em junho do corrente ano, foi uma iniciativa positiva nesse sentido. O documento, que contou com a participação de representantes de diferentes entidades, encampou a proposta de desenvolvimento sustentável acordada na Conferência dos Líderes Mundiais a Cúpula da Terra realizada durante a Rio 92, no Rio de Janeiro. A população, as autoridades locais e as do Estado devem considerar com toda a seriedade os problemas por ela destacados, objetivando a preservação da qualidade de vida presente e futura na Ilha de São Francisco do Sul e em seu entorno, em particular no da Baía da Babitonga.


Capa da Agenda 21 do município. Criação de Conny Baumgart. Couverture de la Agenda 21 du município. Création de Conny Baumgart.

A estratégia do planejamento São Francisco do Sul tem uma legislação urbanística de bom nível, servindo inclusive de referência para outros municípios. Sua base foi implantada na década de 1970, sendo alterada em várias oportunidades, nem sempre com o cuidado desejável. O desenvolvimento atual do município surpreendeu as expectativas vigentes, em função dos projetos industriais recémimplantados, da expansão do Porto, do incremento do turismo e da revitalização do centro histórico. Dentro desse cenário, não viu o governante outra alternativa senão promover a adequação da legislação urbanística à realidade atual. Nesse sentido, a municipalidade contratou equipe com experiência e credibilidade nacional que, junto com técnicos do município, estão promovendo uma revisão da legislação e estabelecendo um novo Plano Diretor. Plano que seja compatível com o futuro que queremos e que nos espera, prevendo e orientando as ações físicas nas diversas áreas em que é necessário intervir. Esse processo começou com um movimento comunitário liderado pela municipalidade, tendo a interveniência da

organização Agenda 21 São Francisco do Sul do futuro , que se encarregou de fazer o diagnóstico da situação atual e de definir as perspectivas da população para 2020. Esse trabalho contou com a participação de mais de 400 lideranças de bairros, representantes de clubes, de partidos políticos, de igrejas e dos poderes constituídos. Divididos em 12 subgrupos, esses representantes discutiram exaustivamente e com abrangência diferentes e estratégicas questões, encaminhando soluções e prioridades para serem incorporadas ao Plano Diretor. A cidade de São Francisco do Sul mais uma vez demonstra estar preocupada com sua infra-estrutura, com o meio ambiente, com a qualidade de vida e com a projeção do futuro para seus moradores, elegendo o planejamento estratégico como uma ferramenta fundamental para assegurar o êxito das ações dos governantes. Clovis Corrêa Schwarz Mais detalhes, ver: Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul. Agenda 21: São Francisco do Sul do futuro. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2004. Site da Prefeitura de São Francisco do Sul: www.saofranciscodosul.com.br.


Administração Pública de São Francisco do Sul em 2004 Administration publique de São Francisco do Sul en 2004 Poder Executivo / Pouvoir executif Prefeito / Maire SR. ODILON FERREIRA DE OLIVEIRA Vice-Prefeito / Premier adjoint au maire SR. ARNALDO S. THIAGO Poder Legislativo / Pouvoir législatif PRESIDENTE (President du Conceil Municipal) VEREADOR JOSÉ AROLDO LINS CALDAS BRANCO Demais Vereadores / Conseil Municipal DORLEI JOÃO ANTUNES, JOÉL ROSA, CLÓVIS MATIAS DE SOUZA, LUIS ROBERTO DE OLIVEIRA, NAZIRA MARIA MATTAR FERRAZ, MESSIAS FRANCELINO DE CARVALHO, CARLOS ROBERTO NUNES, JEFFERSON PACHECO DE MORAES, JORGE GAMEIRO DE CAMARGO, MARIA APARECIDA SILVA SOUZA, RAUL FRANCISCO DOS SANTOS MACEDO, JEOVAH DOS PASSOS. Poder Judiciário / Povoir judiciaire Juges du Tribunal de première instance: Juíza da 1ª Vara: DRA./MMES HILDEMAR MENEGUZZI Juíza da 2ª Vara: DRA./MMES TIANE LOHN Promotor de Justiça / Procureur de Justice: DR. CHRISTIAN RICHARD STAHELIN OLIVEIRA

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CARVALHO

1 Cf. Secretaria do Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão/Instituto Cepa/ SC. Dados retirados do estudo Indicadores para inclusão social em São Francisco do Sul Fome Zero . No caso, é considerada sem renda suficiente pelo Programa a pessoa que recebe menos do que um dólar por dia. 2 Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul (2004). 3 A Agência Nacional de Petróleo (ANP) repassa a São Francisco do Sul royalties, como compensação financeira pela instalação de Terminal Aquaviário nos seus limites. Neste no, o total acumulado pago ao município soma R$ 5.887.496,75. Os municípios de Araquari, Barra do Sul, Garuva, Itapoá e Joinville, situados na área de influência do terminal petrolífero, receberam, cada um, o valor de R$ 645.796,26, em 2004. Cf. Folha do Litoral, 2004. 4 S.Thiago (1941). 5 Icepa/SC, p. 18. Disponível em: <www.icepa.com.br/publicações/diagnóstico/ joinville.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2004. 6 Ibidem (2004, p. 20). 7 Knie (2002).

R E F E R Ê N C I A S A NOTÍCIA. Economia ao redor do mar. Joinville (SC). p.25, jan. 2004. Suplemento especial de A Notícia. ______. São Francisco do Sul: novas perspectivas aos 499 anos. Joinville (SC). Abril, 2003. Caderno AN Especial. ______. Prefeito destaca a importância econômica da Vega do Sul. Joinville (SC), Abril, 2003. Caderno AN Especial. FOLHA DO LITORAL. Aumento dos royalties supera 30%. São Francisco (SC), ano 3, n.35, p.1, jun. 2004. KNIE, Joachim L. W. (Coord). Atlas ambiental da região de Joinville: complexo hídrico da Baía da Babitonga. Florianópolis: Fatma/GTZ, 2002. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO FRANCISCO DO SUL. 2004. Agenda 21: São Francisco do Sul do futuro. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2004. SECRETARIA DO ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO (Santa Catarina). Caracterização regional: Joinville. Florianópolis: ICEPA/SC. 2003. Disponível em: <www.icepa.com.br/publicações/diagnóstico/joinville.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2004. S. THIAGO, Arnaldo. São Francisco: notícia estatístico-descritiva. 2. ed. ver. e atual. Florianópolis: IBGE, 1941.

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São Francisco au début du XXIème siècle

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e município de São Francisco do Sul occupe, actuellement, une superficie autour de 541m², qui occupe entièrement l île homonyme et une partie du continent où se trouve le district du Saí. Selon le cens de l Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000, sa population est de 32.301 habitants, la plupart (29.930) vivant en ville. Cette population jouit des beautés aussi bien de l île que du littoral d en face. Les plages, le vert foncé de la forêt atlantique, la diversité du paysage, les petites îles situées dans la baie de la Babitonga, les mangroves, les rochers à fleur d eau, les fleuves et les lagunes forment l ensemble d un rare paysage. D une façon générale, on peut dire que la qualité de vie de ses habitants est satisfaisante. La plupart est propriétaire de la maison qu elle habite, fréquente parents et voisins et compte, en plus, avec la bonne qualité de l air, de l eau et de l environnement. La partie de la population moins abonnée bénéficie des ressources naturelles, spécialement de la pêche artisanale et du ramassage de mollusques. Depuis de siècles, la baie de la Babitonga subvient aux besoins des populations qui habitent autour d elle. D un autre côté, si l on considère les calculs de l Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas


(IPEA) pour l an 2000, l indicateur de développement humain (IDH) du município était de 0,820, résultat que le situait en 55ème position dans l État. En 1991, le chiffre était plus petit, 0,752, ce qui démontre une légère améliorations dans les situations mensurées, telles que la longévité, le revenu et la scolarité. Encore selon les données de l IPEA, 15,72% de la population ne dispose pas de revenus suffisants, se situant en dessous de la ligne de la pauvreté1. Ce pourcentage est supérieur à celui présenté aussi bien par la région géographique où se trouve le município que par l État, ce qui exige de la part du pouvoir public des inititives plus agressives dans les domaines de l habitation, santé, assainissement, éducation et création d emplois. La plupart de la population du município dispose d une infrastructure de services publics visant la distribution d eau traitée, d énergie électrique, de transport public urbain, d écoles, de dispensaires et ramassage d ordures. Le Sistema Municipal de Água e Esgoto (Samae) est responsable par le fournissement de l eau traitée à 85% de sa population. Les lieux-dits Miranda, Ervino, Gamboa, Tapera et Ribeira, cependant, ne sont pas desservis par les services municipaux. La situation est différente dans la Vila da Glória, située du coté continental où, depuis 1989, l Associação Comunitária do Distrito do Saí (Ascoredi) fournit l eau traitée à 580 associés. Actuellement, la plupart des habitations dispose d un service régulier de ramassage d ordures, par une entreprise spécialisée, qui les jette en dehors des limites du município. Cette alternative, introduite après la prohibition, obtenue en justice, des poubelles à ciel ouvert situées dans les quartiers de Acaraí et Tapera, à l intérieur de l île, ont temporairement résolu le problème des risques de contamination de son complexe environnemental.

Le município ne dispose de réseau de ramassage ni système de traitement des égouts. En fait, ce problème est considéré celui qui demande la solution la plus urgente. Le document «Agenda 21»2, élaboré en cette année 2004, dans le cadre des soucis avec l environnement et la qualité de vie, intégrés aux politiques publiques du pays à partir des années 90 du siècle dernier, a fait régistre du problème dont la solution est un de leurs buts.

Économie L économie du município tourne autour du port, responsable par 70 à 80% du total de sa recette comme de la plupart des salaires de la ville. Le tourisme, également en évidence, contribue avec 15%, à peu près, tandis que les autres secteurs de l économie sont peu expressifs. En plus de cela, le município abrite, depuis 1978, un terminal de réception de pétrole de la Petrobrás Transporte S.A. (Transpetro), ce qui lui vaut un important apport financier3. Ce tableau doit être altéré en raison de l installation, cette année, de la Vega do Sul et de la Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina (Fecoagro). Il est certain que le fonctionnement de ces entreprises signifie une augmentation de la recette d impôts, la création d emplois, l affermissement du secteur industriel encore peu développé- et la diversification de sources de recette du município, qui étaient concentrées dans le port. Il y a aussi la possibilité de voir reconnu le droit de Santa Catarina sur une part du bassin pétrolifère dans les eaux territoriales de l Atlantique sud, ce qui garantirait à São Francisco do Sul et autres municípios du nord de l État de nouveaux apports financiers, en raison du paiement de royalties. D un autre côté, les activités liées à l agriculture, à la pêche artisanale, à la culture de moules et huîtres et même, à l opposé, au ramassage et !%


recyclage des ordures au centre historique ou les plages, bien que cela représente une petite part de la recette municipale, sont fondamentales pour la subsistance d une partie des familles du município. Pour celles-là, le pouvoir public local est décisif. L agriculture, très importante dans l île4 par le passé, n occupe, aujourd hui, qu une petite parcelle de la population. Le modèle de production est le familier, normalement associé à l élevage (viande/ lait), porcs, vollaile et ovins. Les principaux produits cultivés et la respective production pendant l année agricole de 2002 ont été: du riz, 660 tonnes, de la canne à sucre, 350 tonnes, des haricots, 9 tonnes et du maïs, 81 tonnes. D autres produits, comme le manioc, le coeur de palmier, la pomme de terre, fruits et légumes sont également cultivés, bien qu en plus petite quantité, exclusivement pour la consommation locale5. L élévage, par contre, présente des chiffres insignifiants6. Ce qui mérite d être mentionné, parce qu elle utilise des pratiques alternatives de production, est la culture de la banane dans la partie continentale du município, avec une production de 480 tonnes en 2002, aussi bien que le projet «palmier royal», qui engage 40 producteurs ruraux des communautés de Vila da Glória et Saí-Mirim. En contrepartie, la pêche continue d être la principale source de revenus pour une bonne partie de la population. Ce sont 1.222 pêcheurs qui exercent cette activité dûment enregistrés à la colônia de pesca Z-2, ce qui la transforme en une des plus grandes colonies du littoral de Santa Catarina. Ils habitent 17 communautés de pêche, parmi lesquelles Estaleiro, Vila da Glória, Praia Bonita, Enseada, Laranjeiras et Paulas. Em quelques-unes de ces localités, telles que Gamboa, Miranda et Bairro do Forte, par exemple, la complémentarité entre culture et pêche, base de la reproduction des unités familiales selon les modèles traditionnels, persiste !&

jusqu à nos jours. Une partie des producteurs ruraux reçoit l aide du Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf) et l orientation de l Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). D un autre côté, depuis 1966 les pêcheurs développent des projets de culture de moules. En 2003, l Associação dos Maricultores do Bairro de Paulas (Amacap) en a produit 22 mille kilos. Dans les lieux-dits Vila da Glória, Capri et Paulas, d autre part, se développe la culture des huîtres avec l appui de l Epagri et de la Federação dos Maricultores de Santa Catarina (Famasc). Le projet «Protegendo os costões», résultat d une convention entre la Vega do Sul S.A., l Amacap et la Vidamar (Organisation Non Gouvernementale pour la protection de la vie des mers), propose la culture des moules en milieu artificiel, comme des bombonnes plastiques, par exemple. Ces projets ont été pensés comme des alternatives aux problèmes financiers dont souffrent les pêcheurs en conséquence de la réduction des poissons dans la région. Des facteurs comme la pollution des eaux de la baie de la Babitonga et la pêche intensive en haute-mer, les derniers temps, expliquent cette réduction et les difficultés qui lui sont inhérentes. D autres projets qui sont en phase de définition proposent la culture d algues, pieuvres et coquilles Saint Jacques, produits valorisés aussi bien dans le marché interne qu externe. L élévage de crevettes en captivité est une autre proposition en cours. En ce cas particulier, puisqu il s agit d une initiative demandant des ressources plus expressives, il faut l engagement d entrepreneurs intéressés dans les possibilités de cet investissement économique. Sur le moment, l activité touristique est la deuxième branche, en importance, dans l économie du município de São Francisco do Sul. À partir des années 70, les plages de l île ont commencé à être occupées par les vacanciers, en été, ce qui a démarré


le transfert des terres des pêcheurs et agriculteurs aux nouveaux habitants. Peu à peu se sont ouvertes de nouvelles perspectives pour le développement du tourisme saisonnier qui, actuellement, agite l économie du municipio les mois d été. Le tourisme d été est encore le plus expressif dans la région, attirant, à chaque saison, autour de 150.000 vacanciers. Ces personnes sont, en majorité, des habitants de l État de Santa Catarina. Les autres proviennent, surtout, des états du Paraná et de São Paulo. L importance des ressources que l activité apporte au município, surtout pour la population locale, justifie les investissements qui se font pour embellir les plages de l île et pour y installer une infrastructure de base. Les dirigeants municipaux ont la prétension d étendre l activité touristique sur toute l année. Dans ce but, ils encouragent le «tourisme écologique» et le «tourisme historique». C est vrai que le município a le potentiel nécessaire pour le réussir. Sur le continent, les versants de la Serra do Mar, les chutes d eau, les moulins de la Vila da Glória, la plage Bonita. Dans l île, il y a l itinéraire des plages, le Musée National de la Mer, le musée historique, le fort Maréchal Luz et l important pátrimoine architectonique dans le style colonial portugais, aujourd hui en pleine activité restauratrice, dans le cadre du projet Monumenta/ BID coordonné par l IPHAN. En même temps, une intense programmation de fêtes et événements agite la vie culturelle de la ville. Entre autres, méritent d être cités le Carnaval, la fête des traditions de l île (Festilha) au mois d avril, la fête champêtre de São Chico, en juin, la fête de la crevette (Fecam), la fête nationale des pêcheurs (Fenapesca), en plus des fêtes religieuses de Notre Dame de la Gloire et Notre Dame de la Grâce. La première Festilha date de 1988 et a l intention de racheter la culture locale en valorisant

les diférentes ethnies qui ont contribué au développement du município et donner appui à ses entités philanthropiques. Pendant la fête, entre autres attractions, on présente des danses folkloriques comme le boi-de-mamão, d origine portugaise, le pau-de-fita, la caravelle et la petite bergère. La danse du vilain, d origine portugaise également, mais qui fait partie de la tradition des noirs qu y habitent, mérite une mention spéciale. On ne peut la voir, actuellement, que dans le lieu-dit Rocio Grande, à São Francisco do Sul. Le jour du défilé civico-militaire qui commémore l anniversaire de la ville tous les 15 avril, les différentes écoles représentent et dramatisent l histoire de la ville et de ses principaux personnages indiens, noirs, portugais, espagnols et français. Une des idées pour le secteur est le Projet Touristique de la Côte Enchantée, partie intégrante du Plan de développement intégré du tourisme soutenu (PDITS) do Estado de Santa Catarina qui fait partie du Prodetur-Sul. Une autre proposition a l intention de rendre possible l arrivée de croisiers à la ville, avec la construction du terminal touristique naval dans les proximités du port, à côté du centre historique, près de l ancien hangar Santista. En bref, la majorité de la population dépend des emplois qui leur sont offerts par le port, la mairie, l unité d écrasement du soja de la Bunge-, les terminaux grainetiers, celui de la Petrobrás, le commerce local et, plus récemment, les entreprises comme la fabrique de laminés d acier de la Vega do Sul, celle des fertilisants de la Fecoagro, la structure hôtelière et l installation des viviers pour la culture des crevettes. Les possibilités d augmentation du tourisme à longueur d année, ayant como point d appui l architecture coloniale du centre-ville et ses musées, donne, certainement, existence à des perspectives économiques et d emploi pour une partie de la population. Il existe des difficultés !'


d insertion dans le marché du travail, cependant, surtout pour les jeunes, ce qui provoque l exode vers les villes voisines à la quête de nouvelles oportunités. Le manque de travail incide aussi sur leur comportement. La ville registre un nombre relativement grand de petits délits, prostitution et trafic de drogues. La discussion de ces problèmes est ouverte, soit à travers des débats dans le cadre de la «Agenda 21», soit dans les initiatives de l administration municipale pour discuter des stratégies pour la génération de revenus, la création d emplois, la valorisation du patrimoine architectonique, l implantation de nouvelles entreprises économiques et l adoption d un plan directeur qui assure la qualité de vie de la population.

L Éducation La population de São Francisco do Sul a ses besoins scolaires octroyés par trois réseaux d enseignement : le municipal, celui de l état et le privé. Le réseau municipal compte, actuellement, sur 18 établissements dont 8 écoles qui accueillent des enfants de la maternelle jusqu en 3ème, les autres étant des écoles primaires qui ont des classes jusqu au cours moyen uniquement. Ces unités ont 3.467 élèves, y compris ceux de l école maternelle. Ce chiffre comprend, aussi, 18 centres d éducation d enfants, pour des enfants en âge pré-scolaire (zéro à 6 ans). Ces derniers établissements, en leur totalité, prennent autour de 1.000 enfants. Il y a, encore, une école pour indiens (Guarani) avec 37 élèves, soutenue par un accord entre la mairie et la Fundação Nacional do Índio. Toutes les écoles distribuent le goûter scolaire, et quelques-unes gardent à temps plein les élèves qui presentent des difficultés d apprentissage et de "

sociabilité. Les écoles primaires7 disposent de salles d informatique et cours réguliers d espagnol et anglais, en plus des disciplines usuelles. Quelquesunes d entre elles offrent des cours supplétifs. Ce sont 240 maîtres et techniciens pédagogiques effectifs qui travaillent à l éducation infantile et dans l enseignement primaire. Il y a, également, 141 autres avec contrat temporaire. L État de Santa Catarina est responsable de neuf écoles, dont sept n ont que des classes primaires. Les deux autres, plus grandes, poussent jusqu au baccalauréat. Dans l ensemble, ces écoles accueillent 1.618 élèves. Il y a quatre établissements d école privée, dont deux établissements confessionnels. Le plus traditionnel a des classes de maternelle jusqu aux cours secondaire et professionnel, avec un total de 502 élèves. Le deuxième travaille avec des enfants de la maternelle jusqu au baccalauréat, avec un total de 361 élèves. Les autres deux centres d éducation s occupent d enfants avec l âge entre zéro et six ans. Il y a des manques de taille dans la formation professionnelle. On offre quelques cours saisonniers, mais les cours systématiques sont insuffisants pour aider dans l acheminement professionnel des jeunes. Il est intéressant de signaler l expérience de la Casa Familiar do Mar qui offre, en cinq municípios de la région, l enseignement primaire et technique pour des jeunes agés de plus de 14 ans. En ce qui concerne l enseignement supérieur, l Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) offre des cours de pédagogie pour la formation des professeurs de l enseignement primaire, sous forme d enseignement à distance. Autour de 200 jeunes se déplacent tours les jours à Joinville où ils fréquentent différents cours dans plusieurs établissements d enseignement supérieur de la ville. Actuellement, l Université de la Région de Joinville (Univille) est en train d implanter un


campus avancé à São Francisco do Sul qui offre, déjà, la licence en biologie marine.

Santé La population du município compte sur une infrastructure pour soins de santé reputée de bonne qualité en ce qui concerne des visites pour petits soins et soins préventifs. Il y a une «Unidade de Pronto Atendimento» au siège municipal et une autre à la plage de Enseada; 18 dispensaires distribués dans les quartiers et le district, un «Pólo de Referência Microrregional», un centre de récupération et réhabilitation de la santé de l enfant, un dispensaire pour des soins préventifs et une pharmacie élémentaire qui fournit gratuitement des médicaments à la population. Deux cars dûment équipés pour consultations médicales et dentaires, en plus des analyses préventives du cancer du col uthérin et du sein, circulent dans les communautés régionales. Il y a sept ambulances pour les soins d urgence à la population et cinq autres véhicules utilisées par la vigilance sanitaire et épidémique, dans le cadre de programmes comme le Monitoramento da Esquistossomose», le «Programa Municipal de Combate à Dengue» et le «Programa de Imunização». Le programme pour la santé de la famille, depuis 2002, prétend procurer la visite médicale en domicile et agir dans la prévention des maladies. Il dispose de trois équipes formées, chacune, par un médecin, une infirmière et trois aides-infirmiers qui visitent les localités les plus démunies comme celles du Forte, Majorca, Sandra Regina, Miranda, Laranjeiras, Ervino, Vila da Glória, Estaleiro, SaíMirim et les îles. Actuellement le programme a 2.336 familles cadastrées, ce qui correspond à 22% du total des habitants du município. Ces communautés disposent, aussi, du «Programa de

Agentes Comunitários de Saúde», qui oriente et fait de la prévention. Il y a encore, dans le município, des programmes dont le but est de répondre à la situation de carence alimentaire d individus de groupes spécifiques. Ce sont les «bolsa-alimentação», destinés à des femmes enceintes, nourrices et enfants de six mois à six ans et le «Programa Crescer», un centre de récupération de la santé d enfants de zéro à 14 ans. Quelques autres programmes préventifs qui sont actifs dans le município sont: le combat à la maladie de Hansen, la tuberculose, l hypertension artérielle, le diabète sucré et les maladies sexuellement transmissibles, comme le SIDA. Il existe encore d autres besoins, comme la création d un centre de soins psychosociaux pour des malades mentaux et les drogués, et un programme de santé publique directionné aux pêcheurs. L existence de cette infrastructure physique et personnelle, cependant, n est pas suffisante pour répondre complètement aux besoins de santé de la population. Entre autres problèmes, il faut souligner le manque de professionnels de la santé, surtout des spécialistes; le besoin de former une main d oeuvre dans ce domaine et l impossibilité de réaliser des examens médicaux plus complexes. Le vieil hôpital qui existe dans la ville, et soigne la population il y a plus d un siècle, travaille selon la tradition des «maisons de charité», patronnées par des entités religieuses, et n a pas pu suivre la modernisation du secteur. Les limitations imposées par le Sistema Unificado de Saúde (SUS) et le manque chronique de ressources financières ont laissé cette unité hospitalière, naguère reconnue dans la région, sans les moyens d offrir des soins plus sophistiqués. En conséquence, la population doit avoir recours aux unités de santé publique ou privée qui existent dans les villes-pôle les plus proches, telles que Joinville et Jaraguá do Sul. La Mairie, à "


son tour, revendique la construction, auprès du gouvernement de l État, d un hôpital microrégional dans le siège du município.

Défis actuels L installation du district industriel dans le município indique la décision du pouvoir public de stimuler le développement du secteur industriel qu y était peu expressif jusqu à maintenant. La Vega do Sul, un complexe de traitement de l acier, a été inaugurée officiellement en avril 2004, avec la prévision d atteindre, en 2005, la production de 880 mille tonnes d acier laminé à froid et galvanisé. Toujours en avril, a été inaugurée la Fecoagro. Au début elle aura la capacité de produire 150 mille tonnes de fertilisants par an. L expectative est que les ressources gérées par ces entreprises réussiront rapidement à placer São Francisco do Sul parmi les municípios de plus grande recette d impôts à Santa Catarina. En contrepartie, le fonctionnement de ces unités industrielles, ou d autres qui pourront venir s installer dans le município, provoque un impact dans l environnement pas toujours mensurable ou neutralisé dans sa totalité, malgré les études et rapports d impact environnemental exigés par la loi. A titre d exemple, la baie de la Babitonga supporte, il y a des années, les effets de la pollution provoquée, surtout, par le pôle industriel de Joinville. Comme c est connu, la circulation des eaux de la baie a été compromise par la fermeture du canal du

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Linguado, déjà dans les années 30. Des métaux lourds originaires des industries de galvanoplastiques; des herbicides utilisés dans la culture des champs tout autour; les égouts domestiques de la ville de São Francisco do Sul et des municípios limitrophes polluent la baie8. La région vit, aussi, sous la menace de désastres environnementaux de grandes proportions, si l on considère les cargaisons dangereuses qui arrivent au port et l existence du terminal maritime pour recevoir du pétrole. Dans ce contexte, le plus grand défi à être bravé par l administration municipale est, sans aucun doute, celui de garantir la qualité de l environnement des lieux mais, en même temps, faire face, d urgence, aux problèmes socioenvironnementaux déjà existants. Il revient aux pouvoir public local, surtout, de décider des chemins à prendre et poursuivre des solutions adéquates. L élaboration de la «Agenda 21 - São Francisco do Sul do futuro», remis à la population en juin de l année en cours, a été une initiative positive dans ce sens. Le document, qui a compté sur la participation de représentants de différentes entités, a adopté la proposition de développement durable accordé à la Conférence des Leaders Mondiaux la «Cúpula da Terra»- réalisée pendant la Rio 92, à Rio de Janeiro. La population, les autorités locales et celles de l État doivent considérer sérieusement les problèmes qu elle souligne, dans le but de préserver la qualité de vie actuelle et future dans l île de São Francisco do Sul et alentours, en particulier la baie de la Babitonga.


La stratégie de la planification São Francisco do Sul a une législation d urbanisation de bon niveau, à telle enseigne qu elle sert de référence à d autres municípios. Ses bases ont été implantées dans les années 70 pour être altérées à plusierurs reprises, pas toujours avec le soin nécessaire. L actuel développement du município a surpris les expectatives en cours en raison des projets industriels récemment établis, de l expansion du port, de l accroissement du tourisme et de la revitalisation du centre historique. Dans ce contexte, le gouverneur n a vu d autre issue que celle d adapter les lois concernant l urbanisation à la réalité présente. Pour y arriver, la municipalité a engagé une équipe expérimentée et qui jouit de crédibilité nationale pour, avec les techniciens du município, promouvoir une révision des lois et établir un nouveau Plan Directeur. Il doit être compatible avec le futur que nous voulons et qui nous attend, qui prévoit et oriente les actions physiques dans les divers domaines où il est nécessaire d intervenir. Ce procès a commencé avec un mouvement communautaire lidéré par la municipalité, sur lequel l organisation «Agenda 21-

São Francisco do Sul do futuro» est intervenu en se chargeant de diagnostiquer la situation actuelle et de définir les perspectives de la population pour l an 2.000. Ce travail a compté avec la participation de plus de 400 leaders de quartier, représentants de clubs, de partis politiques, d églises et des pouvoirs établis. Divisés en 12 sous-groupes, ces représentants ont discuté exhaustivement et à plusieurs niveaux des questions variées et stratégiques, communicant les solutions et les priorités à être incorporées au plan directeur. La ville de São Francisco, une fois de plus, démontre son inquiétude en ce qui concerne son infrastructure, l environnement, la qualité de vie et le poids de l avenir sur ses habitants, choisissant le plan stratégique comme un outil fondamental pour assurer la réussite des actions gouvernementales. Clovis Corrêa Schwarz

Pour plus de détails, voir Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul. Agenda 21: São Francisco do Sul do futuro. Florianópolis, Letras Brasileiras, 2004. Site da prefeitura de São Francisco do Sul: www.saofranciscodosul.com.br

P ÁGINAS

SEGUINTES

/ P AGES

SUIVANTES :

Centro histórico de São Francisco do Sul em 2004. Cité historique de São Francisco do Sul en 2004. F OTO / P HOTO : D ILNEY C ARVALHO (P ERI ).

1 D après la Secretaria do Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão/Instituto Cepa/SC. Des données prises à l étude Indicadores para inclusão social em São Francisco do Sul-Fome Zero . Ce programme considère que la personne n a pas um revenu suffisant quand elle dispose de moins d un dollar par jour. 2 Mairie de São Francisco do Sul. 3 L Agência Nacional do Petróleo (ANP) repasse des royalties à São Francisco do Sul pour la compenser, financièrement, de l installation de son terminal dans les limites de la ville.Cette année, le total payé au município est de l ordre de R$ 5.887.496,75. Les municípios de Araquari, Barra do Sul, Garuva, Itapoá e Joinville, situés dans la zone d influence du terminal pétrolifère ont reçu, chacun, la somme de R$ 645.796,26 en 2004. (Cf. Folha do Litoral, 2004).

4 S. Thiago (1941). 5 Icepa/SC, p. 18. Disponible em <www.icepa.com.be/publicações/diagnóstico/ Joinville.pdf>. Consulté le 25 juin 2004. 6 Ibidem (2004, p. 20). 7 Au Brésil, les écoles primaires sont responsables pour les premières huit années d études (Note du traducteur). 8 Knie (2002).

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A memória de uma comunidade é construída no dia-a-dia por ações concretas ou imaginárias, umas planejadas, outras circunstanciais, que se incorporam total ou parcialmente num legado para as gerações futuras, em forma de narrativas, obras de arte, documentos, construções, tecnologias e tantos outros registros, todos valiosos testemunhos da criatividade humana.


La mémoire d une communauté est construite au jour le jour avec des actions concrètes ou imaginaires, quelques-unes planifiées, d autres circonstancielles, qui s incorporent totale ou partiellement à un don qu on offre aux futures générations sous forme de récits, oeuvres d art, documents, bâtisses, technologies et tant d autres registres, tous précieux témoignages de la criativité humaine.


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SÍLVIO COELHO DOS SANTOS é antropólogo, professor emérito da UFSC, pesquisador sênior do CNPq, sócio emérito do IHGSC e membro da Academia Catarinense de Letras. Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia e secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Publicou dezenas de artigos e livros, destacando-se Índios e brancos no Sul do Brasil (2ª ed., Movimento, 1986); Nova história de Santa Catarina (5ª ed., Editora da UFSC, 2004); Os índios Xokleng memória visual (Editora da UFSC/ Univali, 1997). Coordena o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas (NEPI/UFSC) e desenvolve o projeto Hidrelétricas, Privatizações e os Povos Indígenas no contexto do Mercosul II , com o patrocínio do CNPq.

ANELIESE NACKE é antropóloga e professora aposentada do Departamento de Antropologia da UFSC. Integra o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas (NEPI/UFSC). Tem realizado pesquisas e participado de consultorias sobre povos indígenas no Sul do País, voltadas, de modo especial, para as conseqüências socioambientais da instalação de hidrelétricas, que resultaram em vários artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, e em coletâneas, entre as quais: La antropología brasileña contemporánea: contribuciones para un diálogo latinoamericano (GRIMSON, A; RIBEIRO, G. L. e SEMÁN, Pablo (Comp.). Buenos Aires: Prometeo Libros, 2004); Hidrelétricas e povos indígenas (SANTOS, S. C. dos e NACKE, A. (Org.). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2003). MARIA JOSÉ REIS é antropóloga, professora aposentada da UFSC, sendo, atualmente, professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (UFSC) e professora da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Tem realizado pesquisas e participado de consultorias tendo como foco os desdobramentos socioambientais e políticos da instalação de grandes projetos de desenvolvimento, resultando em vários artigos publicados em diferentes periódicos, em coletâneas e na organização de livros, entre os quais Hidrelétricas e populações locais (REIS, M. J. e BLOEMER, N. M. S. (Org.). Florianópolis: Cidade Futura/Editora da UFSC, 2001); e Memória do Setor Elétrico na Região Sul (SANTOS, S. C. dos; REIS, M. J., Florianópolis: Ed. da UFSC, 2002). C

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CARLOS HUMBERTO P. CORRÊA, doutor em História, é professor titular aposentado do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina. Pertence a inúmeras instituições científicas e culturais do Brasil, entre as quais o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, do qual é presidente. Autor, entre outros de: Cultura, integração e desenvolvimento, (Florianópolis: SEC, 1971); Lições de política e cultura: a Academia Catarinense de Letras, sua criação e relações com o Poder (Florianópolis: ACL, col. ACL n. 8, 1966); O Estado e as idéias, in: História da cultura catarinense (Florianópolis: Editora da UFSC/Diário Catarinense, vol, 11997); e A criatividade intelectual: dependência e liberdade, in: Santa Catarina no século XX (Florianópolis: Editora da UFSC/Univali/FCC, 1999). DALMO VIEIRA FILHO é arquiteto e urbanista, especialista em Conservação e Restauro de Sítios e Monumentos Históricos, professor do Departamento de Arquitetura da UFSC e criador do Escritório Técnico da SPHAN-próMemória em Santa Catarina. Superintendente Regional da 11SR IPHAN. Membro do Conselho de Cultura de Santa Catarina. Foi conselheiro do Conselho Consultivo do IPHAN e presidente do comitê brasileiro do Icomos/Unesco. Responsável técnico pelos tombamentos de Laguna e São Francisco do Sul. Idealizador do Museu Nacional do Mar. Obras de restauro em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Autor de livros e textos, entre os quais Santa Catarina 500 anos: terra do Brasil, in: A Notícia (2001, 272p autor); Alicerces da memória: 60 bens tombados pelo Estado de Santa Catarina (Tempo Editorial, 2003: Introdução); Embarcações do Maranhão Horizonte Geográfico (1996. Apresentação).

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HOYÊDO NUNES LINS é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), lotado no Departamento de Ciências Econômicas e com atuação no Programa de Pós-Graduação em Economia. É graduado em Ciências Econômicas e em Direito pela UFSC; mestre em Planejamento do Desenvolvimento Regional pela University College of Swansea (Grã-Bretanha); e doutor em Geografia (Área de Concentração: Organização do Espaço) pela Université de Tours (França). Autor de livros e artigos, entre os quais se destacam: Reestruturação industrial em Santa Catarina: pequenas e médias empresas têxteis e vestuaristas catarinenses perante os desafios dos anos 90 (Florianópolis: Ed. da UFSC, 2000); Transformações econômicas e reflexos espaciais no Brasil meridional, in: GONÇALVES, Maria F., BRANDÃO, Carlos A., GALVÃO, Antônio C. (Orgs.). Regiões e cidades, cidades nas regiões: o desafio urbano-regional (São Paulo: Ed. UNESP: ANPUR, 2003, p. 499-517).

RAQUEL S. THIAGO é historiadora e professora titular dos Departamentos de História e de Economia da Univille, onde coordena o Laboratório de História Oral. Foi Diretora do Arquivo Histórico de Joinville (1986-1989); Diretora de Ensino, Pesquisa e Extensão da FURJ, atual Univille, (1990/1993); e Diretora de Cultura da Fundação Cultural de Joinville (1994-1996). Tem realizado pesquisas e participado de consultorias sobretudo para teatro e televisão na área de História Regional. É autora de inúmeros artigos e quatro livros, entre os quais se destacam Fourier utopia e esperança na Península do Saí (Editora Furb/UFSC, 1995); Joinville os pioneiros (Editora Univille, 2001), este último em co-autoria com Maria Thereza Böbel. Durante o ano de 2000, apresentou o programa de televisão Tempos de Joinville, no Canal 20. C

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ALEJANDRO LABALE é graduado em Antropologia Social pela Universidade Nacional de Misiones, Argentina. Desde 1991, reside no Brasil, tendo se vinculado ao programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSC, onde obteve o grau de Mestre com a dissertação Líneas y encrucijadas, espacio social en un punto de la frontera Brasil Argentina. Atualmente, cursa o Doutorado no mesmo programa. É docente e pesquisador da Universidade Regional de Blumenau (FURB). CÁTIA WEBER é bacharel em Ciências Sociais/UFSC e especialista em História Social no Ensino Fundamental e Médio/Udesc. Atuou como bolsista de IC e AP (CNPq), no período de 1993 a 1998, no Núcleo de Estudos dos Povos Indígenas. Participou como Auxiliar de Pesquisa no Projeto Estudo Etnográfico da Usina Hidrelétrica Machadinho (Consórcio Geam e Fapeu/UFSC), de junho a dezembro de 1998. Atualmente, é bolsista de AT no Projeto Hidrelétricas, Privatizações e os Indígenas no Contexto do Mercosul II .

CLOVIS CORRÊA SCHWARZ é pós-graduado em Planejamento Urbano, com bacharelado em Economia. É Secretário de Planejamento da Prefeitura de São Francisco do Sul e Secretário Executivo do Instituto Binot Paulmier de Gonneville. Realizou diversos cursos e seminários dentro das temáticas de Economia e Planejamento. MARTA J. CREMER é bióloga e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Zoologia da Universidade Federal do Paraná. É professora do curso de Ciências Biológicas da Fundação Universidade da Região de Joinville (Univille) e chefe do Departamento de Ciências Biológicas. Trabalhou em vários projetos ambientais na região, coordenando inclusive parte dos estudos de viabilidade da reabertura do Canal do Linguado, em convênio com o DNIT/IME projeto de duplicação da SC-280. ROSA ALICE MOSIMANN é doutora em literatura comparada pela Université de Toulouse-le Mirail e professora titular aposentada do Departamento de Línguas e Literaturas Estrangeiras (língua e literatura francesas) da UFSC, onde atuou, igualmente, nos programas de pós-graduação em Literatura Brasileira e Teoria da Literatura. Pertence ao Centre International d Études Sartriennes e é autora de vários artigos sobre literatura francesa e problemas de tradução, publicados no Brasil e na França. É, também, responsável pela versão francesa de artigos e comunicações publicados na França e no Canadá.

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