Pontal do Marisco

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ECOS

relevo

A expressão singular da história, nos marcos da paisagem

Um pedacinho da África AmAndA pimentel e foto mAtheus JeremiAs FortunAto

Quem nunca subiu em uma pedra, na ponta da praia, para posar para uma foto? Pois muitos nem imaginam que seu apoio – e cenário – pode ser um testemunho da formação dos continentes. Vários rochedos da costa brasileira foram talhados há milhões de anos atrás. E continuam em pé para preservar essa história. Ao caminhar pelas praias, quando se sabe o que procurar, é fácil perceber uma vegetação diferente, mudanças na cor da areia, na abundância das conchas, na coloração da água e no perfil do relevo. E, assim, descobrir um mundo cheio de possibilidades e rico em história. Na Ponta do Marisco, localizada na praia de Geribá, em plena região dos Lagos (RJ), um costão rochoso traz uma placa, em inglês, onde consta: Point of Geological Interest (ponto de interesse geológico) The Gondwana break-up (a separação do Gondwana). Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que estuda a Ponta do Marisco há vários anos instalou a placa, colocando em prática a sugestão do Departamento de Estudos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DEMRJ) de marcar os pontos de interesse. Assim, nasceu o projeto Caminhos Geológicos, ao qual se deve o tombamento da área, oficializado em 2005. Olhando bem, percebe-se uma mistura de cores nas camadas de rochas, as mais escuras em cima, as mais claras embaixo. O costão é considerado uma prova da separação dos continentes, iniciada há 500 milhões de anos: o supercontinente Gondwana dividiu-se em cinco – América do Sul, Antártica, Austrália, África e Índia – e o afastamento da América do Sul e da África deu origem ao Oceano Atlântico. “Embaixo dos continentes tem uma pluma quente que vem do manto da Terra (ro-

cha fundida ou magma). Se a crosta começa a fraturar, o magma entra nas fendas e depois esfria, formando a rocha escura, com altas concentrações de ferro e magnésio”¸ explica Renata da Silva Schmittd, coordenadora do Caminhos Geológicos pela UERJ. Quando a crosta afina e abaixa, chegando ao nível do mar, forma uma bacia que será preenchida pela água, para a constituição do oceano. Por baixo da água, a crosta oceânica basáltica se mantém, e vai até a África. Ou seja, na costa Oeste da Namíbia e de Angola, existem unidades rochosas semelhantes às encontradas no Sudeste do Brasil, marcando os antigos pontos de contato entre as duas partes, hoje separadas. Para chegar às características das rochas – e assim poder confirmar se o material era o mesmo –, Renata foi à África e encontrou o ‘encaixe’ do costão rochoso brasileiro. Ainda verificou que as rochas encontradas entre Cabo Frio e Macaé são ‘africanas’, embora tenham ficado do lado de cá durante a quebra. Mais ou menos como um bolo mal partido, cujo glacê não ‘obedece’ ao traçado da faca...

TERR A DA GENTE

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