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Pesquisa & Mercado

Órgão de Divulgação dos Núcleos Extensionistas da Anhanguera Educacional Campus Vila Mariana Uniban ABC

Ano 01 - Número 01 - 2013-1

Análise SWOT Aplicada a Produção Audiovisual Professor esclarece como uma técnica de análise mercadológica, aplicada na disciplina Marketing, pode ser usada na área de cinema, rádio e TV. MAIS: Confira artigo produzido em conjunto com alunos sobre o Rádio / Jornalismo e o jovem em conflito com a lei / Objetivos e Comunicação


Expediente

Índice Uma televisão que informa, mas não "forma"..................................................................................... 2 Objetivos e a comunicação.................................................................................................................... 4 A análise SWOT aplicada à Produção Audiovisual............................................................................ 10 O rádio como elemento multimídia.................................................................................................... 18 Jornalismo e cidadania na cobertura de casos envolvendo o adolescente em conflito com a lei ... 22

A Revista Pesquisa e Mercado é o órgão de divulgação dos trabalhos realizados nos Núcleos Extensionistas da Anhanguera Educacional, em especial os Núcleo de Pesquisa e Mercado e Núcleo de Produção Audiovisual (Anhanguera Uniban Campus ABC) e Núcleo de Comunicação e Marketing (Anhanguera Campus Vila Mariana). EXPEDIENTE

Editores responsáveis: Rodolfo Nakamura (MTb 55908/SP) e Jorge Fernando Baptista Serrão (MTb 28651). Diagramação e Projeto Gráfico: Rodolfo Nakamura

Diretor de Campus Mário Augusto Torres Gouvêa – Anhanguera Uniban ABC Carlos Alberto Abrantes – Anhanguera Campus Vila Mariana Célia Maria Cassiano– Anhanguera Campus Vila Mariana

Capa Fotos: Steven Griffin, Becker e Papp-Kuster Ádám (Stock Xchng) NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING Anhanguera Educacional – Campus Vila Mariana Rua Afonso Celso, 235 – CEP 04119-901 – Vila Mariana – São Paulo/SP

NÚCLEO DE PESQUISA E MERCADO NÚCLEO DE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL Anhanguera Educacional – Campus Uniban ABC Av. Dr. Rudge Ramos, 1501 – CEP 09636-000 – Rudge Ramos – S.Bernardo do Campo/SP


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Ponto de Vista

Uma televisão que informa, mas não "forma"

Eliane Pereira

Diante da tela, a passividade. Os mais variados géneros e formatos de programas são transmitidos todos os dias pela televisão. Muitos à revelia dos telespectadores que não raramente assistem, sob aparente inércia, à programação que lhes é oferecida. Walter Clark diz que "TV não é programa, é programação". Ele, que é um dos mais respeitados nomes da televisão brasileira, defende que um programa deve ter ligação com o outro. De maneira ordenada. Assim como soam os instrumentos de uma orquestra, considerando o ritmo e a cadência. No entanto, nos bastidores é possível perceber que essa programação - ou grade horária, como é tecnicamente chamada - não respeita tal harmonia. Sentado na poltrona, o telespectador talvez não entenda como é elaborado o processo de programação de uma emissora. Por trás das câmeras, é fácil constatar que cada horário é estrategicamente planejado. Esse planejamento nos remete a uma reflexão: se desde que surgiu, há 60 anos, a Televisão deve entreter e informar, as emissoras brasileiras estão, de fato, preocupadas com o conteúdo ou com o resultado dos programas exibidos em rede nacional?

A frase "nem todo brasileiro decodifica um texto, mas todo brasileiro decodifica uma imagem", assinada pelo jornalista e pesquisador Alfredo Vizeu, explica o motivo dessa indagação. 1* Segundo o Ibope, 96% dos lares brasileiros têm ao menos um aparelho de televisão. É um público das mais variadas faixas etárias e classes económicas, que decodifica, mastiga e engole todo material produzido e exibido pelas emissoras espalhadas pelo Brasil. É dessa responsabilidade que estamos tratando aqui. Precisamos detectar quais são as razões pelas quais determinado programa está no ar. E também identificar até que ponto o público está, de fato, interessado em tudo o que está sendo, veiculado. Ao abrir essa porta, observamos, sem mesmo pôr a mão na maçaneta, que do outro lado existem programas sensacionalistas, apelativos, e até mesmo agressivos, que em diferentes horários desfilam pelas telas todos os dias, quase sempre ignorando a classificação indicativa e o bom senso. Como se não bastasse o baixo nível, esses programas são copiados e multiplicados por outras emissoras, e insistentemente veiculados. São pacotes prontos e mal embrulhados que resistem ao tempo, e por isso são mantidos no ar, lamentavelmente,


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talvez porque são capazes de garantir um bom índice de audiência. Não há como não admitir, nesse caso, que o conteúdo é abortado em detrimento do resultado. Diante desse contexto, a pergunta é inevitável: até que ponto a televisão está preocupada com o seu público? Informações que não estabelecem nenhuma relação com o seu cotidiano, e por isso parecem inatingíveis. Ou ainda, discussões que estão imersas na sua rotina e podem não despertar interesse. O que na TV realmente chama a atenção ou proporciona cultura ao telespectador que se propõe a ocupar o tempo assistindo a TV? O sociólogo francês Pierre Bourdieu já dizia, décadas atrás, que muitas das notícias veiculadas em nada modificam a sociedade, mas servem apenas para entreter, diminuindo o debate público sobre questões que influenciam no cotidiano. Mas, infelizmente, é uma tendência que se tem observado. As informações, aos poucos, vão-se tornando algo espetacular, apenas espetacular, sem serventia alguma.

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Sob esse aspecto, voltamos ao ponto inicial para buscar entender a apatia do público diante do vídeo em plena era da interatividade, o que, em um primeiro momento, parece contraditório. Se por um lado o telespectador se mostra pouco exigente quanto à qualidade da programação das emissoras de televisão, por outro ele tem canal aberto para interagir, opinar e participar de determinados formatos de programa. Â identificação do perfil e interesse desse público pode render muitos pontos de audiência à emissora que se arriscar a mergulhar no universo social, que talvez esteja abandonado em prol de uma programação de resultado e não de conteúdo e que, assim, possa gerar conhecimento. Do contrário, pode restar ao público ~ e muitos estudiosos contam com isso - usar a única arma que tem: o controle remoto. A Autora Eliane Pereira é jornalista e professora de graduação no Curso Superior de Tecnologia da Anhanguera Educacional campus Vila Mariana


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Artigo

Objetivos e a comunicação

Rodolfo Nakamura

Resumo: O artigo propõe o esclarecimento aos discentes sobre os diferentes âmbitos da definição de objetivos em um planejamento de comunicação. A ideia é levar o aluno, ou mesmo profissional de mercado, à estabelecer corretamente os objetivos empresariais, mercadológicos, comunicacionais e, finalmente, de uma campanha publicitária. Abstract: This article proposes a clarification to the students about the different aspects of objectives setting in a communication planning. The idea is to take the student, or even professional of marketing, to establish correctly objectives on business, marketing, communication, and finally, on an advertising campaign. Palavras-chave: campanha publicitária; publicidade e propaganda; comunicação mercadológica.

Na hora de elaborar o relatório de um planejamento de propaganda, um dos pontos que mais causam dúvidas está na diferenciação entre objetivos de vendas, de marketing e de comunicação. Até por que, para olhos menos treinados, todos eles são parecidos. No entanto, suas diferenças permitem o correto planejamento para cada uma dessas áreas, atualmente estratégicas em qualquer ambiente de negócios.

Objetivos empresariais COBRA (1994) nos proporciona uma elucidação completa sobre os motivos que levam uma empresa a ser construída. Embora, segundo IANHEZ (2001) esta seja uma atribuição do profissional e Relações Públicas, é importante ter contato com a realidade empresarial do ponto de vista de Estratégia Organizacional.

Assim, as primeiras definições sobre objetivos devem estar relacionadas justamente à empresa: Missão Corporativa O papel da missão corporativa, segundo COBRA, é "fornecer aos empregados, clientes, fornecedores e outras organizações com as quais ela se relaciona, um claro direcionamento acerca de onde a empresa está e para onde ela pretende ir, em termos de missão econômica e de missão social." Trata-se de se estabelecer uma base filosófica operacional, que fará com que a empresa esteja focada em atingir seus objetivos, cumprindo a missão a que se propõe. Missão Econômica Pode ser entendida como a "incumbência ou compromisso das pessoas dentro da organização na busca da sobrevivência e - o que é mais importante, de sua perpetuação através do desenvolvimento em longo prazo".


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Está relacionada a um compromisso com o futuro de todos os colaboradores da organização, além do próprio fundador e comissão diretiva da empresa. Uma vez que a empresa é um sistema que conjuga máquinas, equipamentos, métodos de trabalho e pessoas, ela só é viável se buscar permanentemente o desenvolvimento em longo prazo, o que implica a sobrevivência e o progresso. Para isto, a missão econômica deverá estar sintonizada com o negócio atual e futuro da empresa. Segundo COBRA, é imprescindível estabelecer as bases da missão econômica a partir de: •

Uma definição do produto ou serviço atual e do futuro.

Uma definição genérica das necessidades dos clientes.

Uma definição dos mercados atendidos e a serem atendidos.

Uma definição das tecnologias a serem utilizadas para melhor poder atender às necessidades do mercado.

Uma definição dos padrões de produção, qualidade e distribuição.

Uma definição dos padrões de competência e de vantagens competitivas a serem perseguidos. Assim, por exemplo, quando uma empresa define sua missão econômica como padrão de excelência em seus produtos ou serviços, deverá buscar a excelência em tecnologia empregada, em qualidade de produção e distribuição dos clientes e em atendimentos personalizados em vendas, etc.

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Dessa maneira, a missão econômica pode enfocar, entre outras, as seguintes opções: Sobreviver e perpetuar os negócios da empresa, com produtos ou serviços que atendam aos padrões de excelência dos mercados visados. Buscar, através de constante inovação tecnológica dos produtos ou serviços, a satisfação de diversos públicos reivindicantes, como clientes, fornecedores, acionistas, governo e consumidores em geral. Missão Social Pode ser entendida como o compromisso ou a obrigação da corporação com a sociedade e com o meio ambiente dos quais ela faz parte. E isto implica o respeito às condições ambientais e a ajuda ao desenvolvimento comunitário sem nenhuma preocupação com o retomo econômico, mas apenas com o bemestar social comunitário. A Cultura Organizacional A cultura organizacional expressa o que é mais importante para uma empresa: sua história, seus mitos, seus ritos, suas crenças, seus valores, seus símbolos, suas ações simbólicas, suas datas mais importantes, suas normas e paradigmas organizacionais. Isto envolve três elementos básicos: •

Os valores ou crenças dominantes que definem as prioridades na organização.

As normas, bem como os mitos e ritos que regem o comportamento das pessoas na organização.

Os símbolos e atividades simbólicas usados para desenvolver e sustentar as partes d valores e normas.


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Valores O conceito de valores ou crenças dominantes sustenta a cultura, especificando o que é importante. Necessitam ser partilhados por todos na organização, para que sejam reforçados e amplamente aceitos. "Os valores podem envolver qualquer área operativa da empresa, tais como marketing, serviços, pessoal, produção, execução, qualidade ou contabilidade", cita David Aaker. Também Peters e Waterman, baseados em um bem sucedido estudo realizado em diversa empresas, chegaram a definir alguns poucos e básicos valores ou crenças: •

A crença em ser o melhor. David Ogilvy deseja que todos em sua agência de propaganda acreditem que eles trabalham na melhor agência do mundo.

A crença na importância do detalhe de execução, para fazer bem feito. A Pepsi Cola e a Frito-Iay, ambas dão ênfase à estratégia de execução.

A crença na importância das pessoas como indivíduos. Há empresas que fazem da liberdade aos empregados o valor central, mantendo uma organização informal com poucas regras formais, como na Tandem Computer, citada por Peters e Waterman.

A crença na qualidade superior e no serviço. Segundo Peters e Waterman, a Procter and Gamble é uma das empresas que mais focalizam a qualidade do produto.

A crença de que muitos membros da organização deveriam ser inovadores e estarem dispostos a correr o risco de fracasso.

A crença na importância da informalidade para aumentar a comunicação.

A crença explícita na importância do crescimento econômico e do lucro.

A ênfase nos valores organizacionais e nas crenças como indicadores do que é importante em uma organização não é nova; há estudos de 1938 que já tratavam do assunto, lembra Aaker, citando Chester L Bamard Normas O que realmente faz a diferença é que a cultura seja fortemente apoiada por normas de comportamento que influenciam as decisões e outras ações organizacionais. Portanto, as normas de comportamento devem ser devidamente enfatizadas e observadas, para que elas não inibam, mas, ao contrário, fortaleçam a cultura da empresa. Símbolos e Ações Simbólicas A cultura organizacional é largamente desenvolvida e mantida pelo uso de persistentes, consistentes e visíveis símbolos e ações simbólicas. Inclui-se neste item a Identidade Visual (logotipia e comunicação visual) e solenidades, como a comemoração de alguma data importante para a empresa. A Cultura Organizacional e a Estratégia A cultura organizacional é particularmente importante para o desenvolvimento de estratégias, pois há evidências que sugerem uma associação entre estratégias bem sucedidas e culturas fortes. Por outro lado, fica difícil a adoção de determinadas estratégias que não sejam compatíveis com a cultura da organização. Uma estratégia, por exemplo, de verticalização de negócios pode esbarrar nas resistências de uma forte cultura centrada no negócio básico da empresa.


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Um outro exemplo: uma cultura de comércio fortemente arraigada dificultará a incorporação de atividades industriais. Neste caso, a empresa dedicada ao varejo ou ao atacado terá uma certa incompatibilidade cultural com a adoção de atividades fabris, ainda que esta estratégia, por alguma razão, venha a ser de conveniência. Uma equipe de vendas acostumada à venda de alta pressão encontra dificuldade em trabalhar com vendas de baixa pressão; isso porque a cultura de alta pressão está incorporada à postura de todos, na organização. Objetivos e Campanha Publicitária CORRÊA (1998) nos alerta que é muito importante distinguir os objetivos da empresa, de marketing e de propaganda, estabelecendo as seguintes definições:

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Ainda segundo o mesmo autor, ao seguir essa unha de raciocínio, a meta seria, em determinado período: •

Da empresa: seria X% de lucro sobre o capital investido.

De marketing: X% de participação no mercado

De propaganda: X% da preferência do total de consumidores.

Já KOTLER (1998) nos explica que o processo de marketing tem uma relação direta com os resultados que este trabalho deve trazer para a instituição. Neste sentido, o estabelecimento de objetivos deve ser: •

Financeiro: Estes objetivos são estabelecidos pela administração da empresa e estão relacionados com a necessidade financeira da companhia.

Relacionada a Taxa de Retomo (ROI, Retum Of Investiment). Representada em percentuais, pode estar relacionada ao investimento total ou ao resultado da empresa . Ex.: obtenção da taxa de retomo sobre o investimento de 15% após os impostos, nos próximos 5 anos.

Lucro Líquido

Fluxo de Caixa

Marketing: Após a determinação financeira sobre o investimento, esses números devem ser convertidos em outros, mensuráveis.

"Poderíamos dizer que o objetivo: •

Da empresa: é ter lucro com produto X

De marketing: é ganhar participação de mercado com esse produto.

De propaganda: é criar imagem da marca para este produto".

O autor ainda complementa que os objetivos, "ao serem especificados em tempo e em intensidade, se transformam em metas da empresa, do marketing e da propaganda" e que a avaliação dessas metas, para simples acompanhamento ou correção, "do ponto de vista do marketing, mediria a participação do mercado, da mesma forma que vendas mediria o volume de mercadoria colocada no canal de distribuição e que a propaganda avaliaria o grau de informação sobre o produto adquirido pelo consumidor."

o Exemplo: Empresa deseja lucro de R$ l .800.000. A margem de lucro é de 10% sobre as vendas. Então, a meta de vendas deve ser R$ l S milhões. Por outro lado, sendo o preço médio do produto R$ 260, a empresa deverá vender 69.230 unidades. Caso o mercado deste


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produto seja R$ 2,3 milhões de unidades, a meta de participação de mercado será alcançar 3% de participação. •

Participação de Mercado

Índice de lembrança de marca

Expandir o número de revendedores

Estabelecer novo preço do produto

Segundo KOTLER (1998), os objetivos de Marketing estão relacionados diretamente ao posicionamento de mercado que a empresa ou seu produto/serviço desejam atingir.

Conhecimento: quando a marca ainda não é conhecida o suficiente. Pode ser que o público alvo saiba da existência da empresa, mas que ainda falte subsídios para entender o que ela oferece.

Simpatia: Qual a percepção do target sobre o produto. Caso seja desfavorável, será necessária uma campanha que resolva este problema, a partir da descoberta do(s) motivo(s) que levam a esta posição desfavorável.

Preferência: A percepção sobre o produto é favorável, mas o consumidoralvo prefere outros a ele. Deve-se promover a qualidade, valor, desempenho e outras características da campanha.

Convicção: Quando a preferência da marca está estabelecida, embora não haja convicção de que seja a melhor opção de compra. Deve-se trabalhar para que o target tenha convicção que o consumo do produto/marca é a decisão correta.

Compra: estágio em que os obstáculos anteriores foram vencidos, mas ainda assim o consumidor não age favoravelmente.

Já os objetivos de comunicação estão relacionados à resposta desejada da audiência da campanha. Esta pode ser: •

Cognitiva: A atenção da audiência foi requisitada, gerando estágios de consciência e conhecimento sobre o produto, em estágio de aprendizado.

Afetiva: A audiência está na fase de percepção do produto. Nesta fase, desenvolvem-se o interesse e o desejo de adquirir o produto, pois está alcançando estágios de simpatia, preferência e convicção sobre a sua reputação.

Comportamental: A audiência está no ponto de agir, partindo para a experiência da compra.

A forma como a comunicação será realizada, tem relação direta com os estados de disposição de compra do consumidor-alvo. KOTLER (1998) nos descreve um modelo que apresenta uma hierarquia de efeitos: •

Consciência: quando a maior parte do target desconhece o produto. A tarefa da comunicação será justamente criar consciência sobre o mesmo, trazendo o reconhecimento da marca.

Campanha Publicitária Quando fala de campanha publicitária, SAMPAIO (1999) define que ela é "a soma de diversos esforços publicitários integrados e coordenados entre si, e realizados para cumprir determinados objetivos de comunicação dos anunciantes". Além de se compreender claramente que uma campanha é o planejamento e realização de um conjunto de ações, que podem envolver publicidade, propaganda, promoção, relações públicas e demais estratégias de comunicação, o autor ainda lista alguns objetivos de comunicação como:


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Lançamento de uma nova marca no mercado

IANHEZ, João Alberto. Manual de Relações Públicas. São Paulo; lanhez, 2001.

Promoção de uma liquidação

Sustentação de vendas e da imagem de produto ou serviço existente

KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Atlas, 1998.

Esforço de caráter institucional, entre outros exemplos.

Considerações Finais É preciso que o planejador tenha consciência de que os objetivos podem até ser coincidentes. Mas, em muitos casos, os objetivos de marketing, comunicação e campanha podem ser diferentes, até mesmo porque estarão sendo relacionados a assuntos diferentes. Bibliografia COBRA, Marcos. Vendas - Como ampliar o seu negócio - São Paulo: Marcos Cobra, 1994. CORRÊA, Roberto. Planejamento de Propaganda. São Paulo: Global, 1998.

SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. São Paulo: Campus, 1999. SANTANA, Armando. Propaganda Teoria e Prática. São Paulo: Pioneira, 1997.

O autor Rodolfo Nakamura é publicitário, jornalista, professor universitário e coordenador de curso na Anhanguera Uniban campus ABC. Graduado em Comunicação Social, é especialista em Gestão de Novas Tecnologias (E-business) e Ciências da Administração. Autor de quatro livros, já publicados: “Mídia – como fazer um planejamento de mídia na prática”, “Moodle – como criar um curso utilizando a plataforma de Ensino à Distância”, “Sete Missões : o caminho do desenvolvimento pessoal passando pela região dos Sete Povos das Missões” e “E-commerce na Internet – Fácil de Entender”. Email: rodolfo.nakamura@aedu.com


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Artigo

A análise SWOT aplicada à Produção Audiovisual Jorge Serrão Resumo: O artigo propõe a utilização de uma conhecida ferramenta de Marketing, a análise SWOT (do inglês: Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) como instrumento para a avaliação objetiva da qualidade da Produção Audiovisual. O objetivo é sugerir uma ferramenta mais simples e facilmente assimilável por acadêmicos, estudantes, profissionais ou leigos como modelo simples de exegese. A proposição é testada na avaliação de documentários. Abstract: This paper proposes the use of a well-known marketing tool, SWOT analysis (of English: Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) as a tool for objective assessment of the quality of Audiovisual Production. The aim is to suggest a simpler tool and easily assimilated by scholars, students, professionals or laymen as simple model of exegesis. The proposition is tested in the evaluation of documentaries. Palavras-chave: cinema-documentário, jornalismo, produção audiovisual, globalização

“Concentre-se nos pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-se contra as ameaças”. (Ensinamento atribuído ao General SUN TZU, 500 a.C.)

I) Introdução: o papel do documentário “O documentário é uma mentira verdadeira”. Assim ironizou o cineasta e jornalista Eduardo Coutinho, em entrevista à Revista da TV do jornal O Globo, em 25 de março de 2010. A pegadinha de um dos “papas” do documentário brasileiro nos remete para a questão da “Verdade” – que pode ser conceituada, simplificadamente, como uma “realidade universal permanente”.

Conceitualmente, o documentário é uma produção audiovisual com predominância da criação autoral, beirando o ensaio. A linguagem documental é um atrito permanente entre a obsessão do “realizador” e a imponderabilidade do real, na tal busca em “descrever a verdade”. O documentário é uma produção audiovisual com predominância da criação autoral, beirando o ensaio. O documentário difere do jornalismo, já que este deve retratar aspectos


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objetivos da realidade, independentemente da marca subjetiva imposta pelo “criador” da reportagem. Documentário e jornalismo vivem seus impasses. O jornalismo vive um dilema quando descreve a “realidade” conforme a visão imprecisa ou subjetiva do autor da reportagem ou de seu editor manipulador. Já o impasse da documentação acontece quando ela se aproxima do Jornalismo e perde a força do Diretor/Ator/Criador como marca original ou unicidade registradas em uma obra. Em suma, o documentário pode ser definido pela intenção de seu autor em fazê-lo. Isto porque o documentário tem sua marca na originalidade do diretor ou roteirista, o que lhe empresta alguma subjetividade. Já o jornalismo carrega o fardo de ser (ou tentar ser) mais objetivo, para seu produto final não se transformar em uma mera opinião pessoal, subjetiva. Aí reside o desafio documental: expor a verdade usando uma narrativa com imagens, que depende essencialmente da visão do “olho” da câmera. Aí também mora o perigo documental: o tal “olho”, que retrata a verdade, pode ser o de um “idiota da objetividade” ou de um escravo da subjetividade. O “olho” precisa de equilíbrio para “saber ver” (o sapere vedere do Leonardo Da Vinci). As múltiplas possibilidades de asserções ou proposições sobre o mundo histórico são o campo próprio do cinema documentário. O trabalho (ou arte) documental lida diretamente com a observação, reconstituição, reinterpretação ou “reinvenção” de fatos passados ou presentes, podendo até se arriscar a prognósticos futuros.

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Quem documenta vive neste fio da navalha. Ou pende para o lado da “mentira-verdadeira” (como bem provoca Eduardo Coutinho) ou descamba para o caminho da “verdadementirosa” (que também foge do retrato da realidade universal permanente). O desequilíbrio pode ser fatal para a qualidade final da obra. O desafio documental consiste em se manter equilibrado, no fio da navalha, para exercitar a plena capacidade de produzir, combinando objetividade, subjetividade, originalidade, criatividade e unicidade. Será que tal equilíbrio é possível? Se não é, precisa ser. Como o desequilíbrio parece ser muito comum no maravilhoso mundo do documentário, propomos duas ações. Primeiro, uma viagem ao começo da década de 60, quando norte-americanos e franceses (principalmente), bem como os brasileiros do “cinema novo”, descobriram as maravilhas do “cinema direto/verdade” (capaz de enunciar asserções dialógicas). Segundo, e nosso foco principal, vamos pedir ajuda aos “marqueteiros”. Apliquemos a “análise swot” para uma avaliação objetiva de quatro filmes. Identificaremos as Forças (Strenghts), Fraquezas (Weakenesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) presentes nos documentários: “Primary” e “Crisis” (ambos de Robert Drew), para uma reflexão sobre as “teses” e a estética nos filmes “Obama Deception: the mask comes off” (de Alex Jones) e “The Corporation” (de Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan) – que chegou a ser exibido no festival “É tudo Verdade”, no Brasil, em 2005. Tal metodologia swot (conhecida em Portugal pela sigla FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) pode e deve ser aplicável a uma


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análise bem objetiva da Produção Audiovisual. II) Verdades documentais em quatro filmes Cinema é uma linguagem que opera com determinados registros (documentais ou não), mas que, dificilmente, podem ser tomados como comprovação de um fato ou fatos. Muito menos como “comprovação” ou “documentação” da “verdade”. Por isso, muitos têm dificuldade em aceitar a separação entre ficção e documentário. Afinal, todo registro tem um componente “documental” em sua essência. O objetivo do cineasta é criar a impressão de realidade com a linguagem do cinema. Nós, espectadores, somos coniventes com isto. Deixamos nos iludir. Acreditamos que vemos algo real. Mas não é real. No entanto, fingimos que é. Apesar de sabermos que são ilusórias (sombras projetadas na tela), alimentamos uma convicção de que assistimos a uma “reprodução fiel da realidade” em fotogramas. Este é o fascínio do cinema. Só que fica contraditória a idéia do cinema como comprovador de fatos, reprodutor fiel da realidade ou “documentador” da verdade. A imagem nem sempre é igual ao que se refere. A diferença resulta do uso da linguagem que dá a impressão de realidade. No documentário, a interferência do autor/diretor é fundamental para isto. O documentário Direto (ou verdade) ultrapassou o modelo clássico da escola documental inglesa, da década de 30. Naquela época, o narrador em off tinha o privilegio de descrever as imagens. Mas o cinema direto ou verdade, que era contra a voz off, teve uma evolução. Atualmente, se valoriza a narração, desde que ela seja mais intimista e interativa.

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Quando a narração é ligada ao filme, servindo de testemunho de quem “vive” a História ou estória contada, a obra ganha dimensão autoral, às vezes única. Subjetividade e objetividade se equilibram, se complementam. O gênero documentário ganhou seu tom mais autoral a partir da década de 60. Nos EUA, o precursor foi o documentárioPrimary (53 minutos). Robert Drew (ex-editor e correspondente da revista Life) revolucionou a linguagem do documentário. Foi além da tradicional narração e ultrapassou as técnicas tradicionais de reportagem. Usou equipamentos portáteis de captação de imagem e som. Inovou ao filmar “em tempo real”, com estética cinematográfica direta, as eleições primárias que escolheram John Kennedy, em 1960, em uma disputa com o sisudo senador Hubert Humphrey, no estado do Wisconsin. Primary representou uma oportunidade de experimentar uma nova tecnologia, aplicando-lhe fino senso estético. Drew e sua equipe conseguiram mostrar detalhes “aquilo que só o olho câmera deles viu”. Três cenas chamam atenção. Um close nas tensas mãos de bela Jackeline Kennedy, na hora de um discurso para o marido. Um flagrante próximo do senador Humphrey dormindo no carro de campanha. E o desfile dos pés dos eleitores durante a votação. Complementando a análise swot, como ponto forte, Primary exercitou a observação direta, com uma sutil interação entre a equipe de filmagem e os personagens enfocados. Drew conseguiu unicidade por ter transmitido a noção discreta de intimidade com as cenas filmadas. Na edição final, o que seria um perdoável ponto fraco foi exatamente um excesso de intimidade e certo favorecimento à


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imagem de Kennedy. Pela estética inovadora do documentário, Primary escapou da ameaça de ser classificado como um “filme de propaganda”.

filme que inspiraria João Moreira Salles a fazer “Entreatos” – expondo os bastidores da campanha de Lula da Silva, em 2002, em ritmo de cinema direto.

Depois de eleito, Kennedy assistiu ao filme e aprovou. Três anos depois, aceitou outro desafio do documentarista. Robert Drew aproveitou bem a oportunidade de mostrar as 30 horas de tensão, a partir do dia 10 de junho de 1963, entre Robert F. Kennedy (o procurador-geral dos EUA e irmão do presidente) e o governador do Alabama, claramente racista, George Wallace.

Na análise swot, sem forçar a barra, Crisis teria um ponto fraco? Na visão dos racistas, com certeza. O filme exibiu uma visão contra o segregacionismo racial, ainda resistente no Sul dos EUA. Mesmo sem ser claramente tendencioso, o documentário expunha uma visão liberal de seu diretor, transmitindo uma noção de heroísmo dos Kennedy contra a maldade conservadora de Wallace e seus seguidores.

O ponto forte do filme Crisis (60min) foi retratar a tensão e o drama dos Kennedy na disputa com Wallace que queria impedir que dois jovens negros se matriculassem na elitista Universidade do Alabama. Crisis registrou imagens irônicas, como a empregada negra de Wallace, e o discurso nitidamente “Klus Klux Klan” do governador, em favor de uma segregação racial. Outro mérito de Drew foi a inédita filmagem no salão oval da Casa Branca, exibindo closes de um Kennedy sob pressão. Parecia uma antevisão de seu brutal assassinato na fatal sexta-feira, 22 de Novembro de 1963. Aliás, Robert Drew produziria um curta de 13 minutos – “Rostos de Novembro” – mostrando o velório e enterro do mito John Kennedy, em 25 de novembro de 1963. Seu foco documental foi nas feições dos presentes ao evento fúnebre. Tudo em preto e branco. A beleza da Jackie de viúva negra, com a marcha fúnebre tocada ao fundo, parece uma imagem contraditória com o acontecimento. Drew mostrou que o pressionado Kennedy de Crisis era bem diferente do Kennedy descontraído de Primary. A comparação deu dimensão ainda mais histórica a Primary –

III) Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades da Militância documental e suas “teses” A bem sucedida abordagem estética de Primary e Crisisserve de contraponto a outros dois longos documentários em análise: “The Corporation” (2003, 144 min) e “Obama Deception: the mask comes off” (2009, 111 min). Os dois filmes representam a tentativa do documentário ser usado para construir ou sedimentar uma “tese”. Os diretores Mark Achbar, Jennifer Abbott, Joel Bakan e Alex Jones ultrapassam o papel de cineastas. Agem como “militantes” de uma causa a ser divulgada e propagada. “A Corporação” é baseado em roteiro adaptado por Joel Bakan de seu livro (The Corporation: The Pathological Pursuit of Profit and Power, sem versão em português). O filme tem como ponto forte usar consistente pesquisa e farto material de arquivo – desde cenas de filmes B, vídeos institucionais antigos, comerciais do passado e outras imagens documentais. Tudo para analisar o surgimento das grandes corporações como pessoas jurídicas. Mas seu


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mérito maior é mostrar as contradições e excessos do mundo corporativo no “Admirável Mundo Novo Globalitário”. Disponível na Internet, o filme fez 40 entrevistas com executivos, historiadores e ativistas anti-globalização, como Noam Chomsky, Naomi Klein, Vandana Shiva e o polêmica Michael Moore (que seria o sumo pontífice do “documentarismo militante” – como bem diria Odorico Paraguassu). Ouvindo tantas “fontes”, sempre focalizadas em um fundo negro, The Corporation tem uma inovação: os entrevistados não são Identificados em legendas ou letreiros. O documentário se importa mais com as “teses” por eles defendidas do que com quem está proclamando as mesmas “teses”. Seu ponto máximo é no capítulo 15 do DVD original: “Unsettling Accounts” (Relatos Perturbadores). Trata-se de um dos mais impressionantes casos de censura econômica e jurídica impostos a jornalistas de renome. A equipe do programa “The Investigators”, da FOX TV, foram vítimas da Monsanto. Só porque denunciaram e comprovaram que um produto da super corporação (o Maxim-100), que aumenta a produtividade do leite bovino, fazia mal à saúde humana. O remédio tinha o hormônio sintético Posilac que comprovadamente causa câncer. Jane Akre e Steve Wilson, dois renomados jornalistas investigativos dos EUA, foram “detonados” da FOX 13 pelo diretor Bob Linger – um dos homens de confiança do magnata da mídia Rupert Murdoch, da News Corporation. Jane e Steve denunciaram à Justiça e à Comissão Federal de Comunicação que foram obrigados a editar (nada menos que 83 vezes) o programa que nunca foi ao ar, porque acabou autocensurado pela FOX, por

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pressão “amigável” da Monsanto e seus advogados. Ironia da história no País que tem à Quinta Emenda à Constituição de 1776, garantindo a Liberdade de Imprensa e Expressão. Em primeira instância, a Fox foi condenada a pagar US$ 425 mil de indenização a Jane. Na apelação, falou mais alto o “prestígio” da empresa, que teve o apoio de outros gigantes da mídia dos EUA. Além de demitidos, Jane e Steve acabaram condenados a pagar as custas do processo. A FOX saiu inocentada. Compensou o criminoso ato de manipulação de informação e censura. No final das contas, valeu a máxima de Bob Linger, quando propôs aos jornalistas uma “indenização” para ficarem calados sobre o caso: “Eu direi o que é notícia. É aquilo que dissermos que é”. Confira o triste episódio contra a Liberdade de Expressão em: http://www.youtube.com/watch? v=eZkDikRLQrw&feature=chann el Ao contrário dos concisos Primary e Crisis, The Corporation tem um ponto fraco. Alonga-se demais. Podia ser mais curto, para dizer a mesma coisa. Também devia ser menos repetitivo, na defesa de suas “teses”. O filme também só joga a culpa nas corporações, cujo comportamento é um efeito do modelo globalitário. O documentário desconhece ou não aborda o papel da Oligarquia Financeira Transnacional no comando do processo. A “tese” acaba mal fundamentada – correndo o risco de acabar rotulada como mais uma “teoria da conspiração”.


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O documentário Obama Deception: the mask comes off tem como ponto forte abordar um tema pouco conhecido: o papel político da chamada Oligarquia Financeira Transnacional. Conhecido radialista norteamericano, Alex Jones não se limita a atacar Barack Obama, como sugere o título do filme. Apenas mostra como o Presidente dos EUA é mais um instrumento dos patrocinadores ou controladores da Nova Ordem Mundial: a velha nobreza européia, que se reúne em clubes de poder, centros de inteligência, organismos multilaterais acima dos Estados Nacionais e grandes corporações transnacionais – comandadas pela lógica do modelo financeiro, imposta por Bancos Centrais privados. O trabalho de Alex Jones tem unicidade. Ele é o principal narrador do filme. Mas não atua como um mero narrador tradicional. Ele emprega técnicas do cinema direto. Interage com os acontecimentos. Só exagera em um aspecto: ele mesmo é um dos atores principais do documentário. Porta-se mais marcadamente como um militante da causa anti-globalização – e não como o diretor de uma obra cinematográfica, em interação com seu tema. Justamente aí mora o perigo. A interação do personagem-diretor com sua obra acaba comprometida em termos de isenção e observação. Obama Deception perde a oportunidade de abordar um assunto de extrema importância sem influência de um exagerado emocionalismo. A militância documental de Jones tira o foco de depoimentos importantes de estudiosos do assunto “Globalização”, como Jim Tucker, Webster Tarpley, Gerald Celente e Daniel Estulin (autor do censurado livro “A Verdadeira História do Clube

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Bilderberg”). O documentário de Alex Jones tem outro evidente ponto fraco em sua finalização. O editor Rob Jacobson exagerou na repetição de argumentos da “tese” defendida no filme. As denúncias e fatos expostos até são bem fundamentados, mas se tornam redundantes, enfadonhos. O mesmo assunto se repete em vários blocos, como se fosse uma catequese. A edição coloca em risco a credibilidade do documentário para quem não é iniciado no tema “Globalitarismo”. O documentário-tese Obama Deception seria mais eficaz do ponto de vista do “convencimento” se fosse mais direto, menos didático. Não sendo, acaba se igualando á expressão “deception”, que aceita vários sinônimos, na língua inglesa: fraude, engano, desilusão. Se “o editor é o segundo espectador” – como sugeriu Jean Rouch, numa entrevista em 1982 -, Alex Jones e Rob Jacobson pisaram na bola. Faltou a eles a sabedoria Davinciana do sapere vedere. Só vale destacar que os exageros não tiram o mérito da informação que veiculam. Apenas comprometem a estética do trabalho. IV) Considerações finais “O documentário é um desdobramento de todos nós”. Assim define Evaldo Mocarzel. Mesma visão de Karla Holanda no artigo “Documentário brasileiro contemporâneo e a micro-história (2004)”, citado por Consuelo Lins em seu livro “Filmar o Real”: “os documentários buscam seus temas através do recorte mínimo, abordando experiências e expressões estritamente individuais”. A tal “verdade subjetiva” é sempre perigosa por não corresponder, necessariamente, ao requisito de “realidade universal permanente”. Mas isto não inviabiliza o uso do subjetivismo


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para conhecimento e apreensão da experiência do “outro” retratado. Lidar com a realidade exige uma certa flexibilidade e relativismo. Afinal, o documentário não brota do real. Mas tem sua base naquilo que o senso comum considera real. O cinema direto tinha a intenção original de observar a realidade, tentando não interferir para afetá-la. A proposta estética consistia em neutralizar os indícios mais explícitos da presença de uma equipe de filmagem na imagem que é produzida. Pregava-se que o ideal é filmar como “uma mosca na parede”, quase imperceptível. Tudo perfeito para esta interação “neutra” e supostamente imparcial. Acontece que a interação depende do complexo ser humano – que não funciona assim, tão mecânica e previsivelmente. Além disso, a ação psicológica do tempo é implacável. O tempo conta, produz efeitos e provoca mudanças nas relações entre cineastas e personagens retratados. O tempo parece ser o senhor da razão documental. Também pode transformar aqueles que são observados. O cuidado com a ação do tempo é fundamental para uma justa, equilibrada e perfeita interação entre o autor e os personagens ou objetos documentados. Como bem definiu Consuelo Lins, “documentário é um gênero de cinema que se interessa pela vida dos outros”. A vida precisa de equilíbrio. As abordagens sobre ela – documentais ou não - necessitam mais ainda. Na tendência à falta de equilíbrio na abordagem reside o perigo do uso indiscriminado do cinema documentário para produção ou reafirmação de “teses” ou pretensas “verdades” a serem proclamadas. O filme de tese tende a ser “tendencioso” (perdão pelo trocadilho infame).

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Tudo é possível na arte cinematográfica. Pode-se filmar a ficção como se fosse um documentário. O eternamente polêmico Orson Welles comprovou esta “tese” (sic) no seu bem humorado e irônico “Verdades e Mentiras” (F for Fake, 1972). Welles provou que uma montagem impecável, criativa e inteligente é capaz de fazer um milagre em favor de uma obra. Basta conectar bem diferentes materiais de imagem e o diretor obtém o resultado estético (ou “ideológico”) esperado. Eduardo Coutinho tem razão em sua ironia: “O documentário é uma mentira verdadeira”. Na verdade, o documentário não é o real. Apenas o representa. O real não é o dramático. Nem o lírico e nem o épico. A característica do documentário nasce da narrativa. Dela depende a visão do autor, para persuadir, emocionar ou levar o espectador à reflexão. Em suma, o documentário representa uma arquitetura do inesperado. Conta sempre com a imponderabilidade do acaso exposto ao “olho” por trás de uma câmera e ao cérebro que vai editar o material filmado. A linguagem documental é um atrito permanente entre a obsessão do “realizador” e a imponderabilidade do real, na tal busca em “descrever a verdade”. Por tudo isso, é recomendável prudência na hora de cuidar da “verdade” documental. Defender teses objetivas é possível. Só é perigoso. No mínimo, requer rigor informativo e uma consistente pesquisa. A Ética deve servir de base do trabalho. Ética significa reconhecimento e prática consciente daquilo que é Verdadeiro, Correto, Justo e Bom. Ética é tão fundamental quanto a estética.


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Defender teses subjetivas não chega a ser um pecado. Mas pode ser mais danoso e perigoso ainda que a “idiotice da objetividade”. A reação interpretativa do espectador pode ser bem diferente da intenção do formulador da “tese”. Se isso ocorre, as conseqüências negativas são imprevisíveis para o criador. O documentário deve ter compromisso com as liberdades de pensar, expressar e agir. São precisamente estas liberdades as mais atacadas, desvalorizadas ou desrespeitadas pelo globalitarismo vigente. Não é preciso formular uma “tese” para fazer documentários que sigam esta linha de defesa das liberdades. Basta trabalhar com ética, equilíbrio e sabedoria para buscar, conhecer ou retratar a verdade. Fácil não é. Mas vale a pena praticar o desafio criativo. Referências: A) Sobre Documentário: Análises e reflexões em sala de aula. LINS, Consuelo e MESQUITA, Cláudia. Filmar o Real. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Campinas,SP: Papirus, 2005. PUCCINI, Sérgio, Roteiro de Documentário. Campinas, SP: Papirus, 2009.

B) Sobre os temas abordados em “Obama” e “The Corporation”: BENAYON, Adriano. Globalização versus Desenvolvimento. São Paulo: Escrituras, 2005. COLEMAN, Dr John. The Tavistoch Institute of Human Relations: shaping the moral,

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spiritual, cultural, political and economic decline os the United States of América. Carson City (USA): World in Review, 2006. ESTULIN, D a n i e l . A Verdadeira História do Clube Bilderberg. São Paulo: Planeta do Brasil, 2 0 0 6 . FRATINI, Eric. A Santa Aliança: cinco séculos de espionagem no Vaticano São Paulo: Boitempo Editorial, 2009. MARS, Jim. O Governo Secreto. São Paulo: Madras, 2005.

VI) fontes cinematográficas Primary – (Robert Drew, Videofilmes, 1960, 60 min) Crisis – (Robert Drew, Videofilmes, 1963, 53min) The Corporation (Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan, Big Picture Media Corporation, 2003, 114 min) No You Tube, em 23 capítulos: http://www.youtube.com/wat ch?gl=BR&hl=pt&v=Pin8fbd GV9Y - Obama Deception: the mask comes off” (Alex Jones, Alex Jones Productions, 2009, 111 min) No You Tube, filme documentário completo em: http://www.youtube.com/wat ch?v=eAaQNACwaLw

O Autor Serrão, Jorge – Professor de Comunicação e Coordenador Acadêmico dos cursos de Jornalismo, CST Produção Audiovisual e CST Marketing da Anhanguera (Campus Vila Mariana, São Paulo – SP); Editor-chefe do Alerta Total - www.alertatotal.net – site diário de política, economia e assuntos estratégicos. Email: jorge.serrao@aedu.com


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Artigo

O rádio como elemento multimídia Fabrizio Albuja Cristina Guimarães Cyro Alexandre Cruz da Silva Resumo: Este artigo pretende compreender as circunstâncias pelas quais mesmo com o avanço tecnológico e surgimento de novas plataformas de comunicação o meio rádio continua servindo de forma efetiva. A grande diferença está na evolução do meio em relação à capacidade cognitiva aplicada em função de novas oportunidades de comunicar. O rádio não é mais uma ferramenta de sentido único e de exercício imagético constante. Desta forma, esta pesquisa pretende fazer um comparativo principalmente entre o meio rádio e os avanços da interatividade na web. Como resultado é possível enfatizar a metamorfose tecnológica, comportamental e de produção de rádio que fez com que esse meio não ficasse ultrapassado, apenas adquirisse novas características. Abstract: This article aims to understand the circumstances under which even with technological advances and the emergence of new communication platforms through the radio continues to serve effectively. The big difference is in the evolution of the environment in relation to cognitive ability applied in light of new opportunities to communicate. The radio is no longer a tool unidirectional and constant exercise imagery. Thus this research aims to make a comparison between the mainly through radio and advances in web interactivity. As a result it is possible to emphasize the metamorphosis technological, behavioral and radio production that made this way would not be exceeded, only acquired new characteristics. Palavras chave: radio, tecnologia, globalização, mídias sociais.

INTRODUÇÃO De todos os meios de comunicação eletrônicos, o rádio é aquele que melhor se adapta aos outros tanto pela sua história de evolução tecnológica como pela capacidade de adaptação na transmissão de conteúdo. Ele está disponível na internet, na televisão, na telefonia e, obviamente, no transmissor original. Isso o torna uma mídia onipresente. A capacidade tecnológica atual lhe permite melhorar a qualidade sonora e propõe novas formas de trabalhar essa mídia tanto

isoladamente como em conjunto com as demais. Segundo CÉSAR (2005), o rádio na internet ainda passa por mudanças estratégicas decorrentes do avanço tecnológico muito semelhante ao impacto gerado na década de 1990 em que, novas mídias como o CD1 e o

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CD é o acrônimo de Compact Disc, formato físico de distribuição de conteúdo multimídia ou musical, enquanto mp3 é a designação de um formato digital que foi popularizado na internet pela facilidade de distribuição neste novo meio de troca de informações.


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mp3, passaram a fazer parte da exigência da própria audiência. O provável grande vilão das rádios AM e FM que poderia ser a rádio web se tornou um aliado de todo tipo de emissora que tenha o interesse em expandir o seu conteúdo independente da potência do seu transmissor e da disponibilidade física de antenas. Um comprovante dessa aplicação é o site Rádios (2013) que é na verdade um banco de dados mundial com uma listagem enorme de emissoras de rádio em freqüência modulada, amplitude modulada, via satélite eu apenas uma rádio web. Ao fazer uma simples filtragem é possível escutar a programação de uma emissora da Letônia, por exemplo: Krievu Hitu Radio 96.2 FM, cuja programação musical é direcionada ao estilo Word Music. Assim como as emissoras nacionais passam a ter a possibilidade de comunicar pelo mundo para brasileiros ou apenas curiosos. Na era dos Smartphones2, os mais simples dos celulares, mesmo aqueles sem acesso à internet, possuem em sua capacidade técnica a possibilidade de sintonizar uma emissora de rádio em freqüência modulada. RÁDIO LOCAL - GLOBAL Na redação de destaque no vestibular da Unicamp, e em seguida publicado como referência de qualidade estética e de conteúdo, COSTA (2012) afirma que o rádio já poderia ter se tornado obsoleto, mas é exatamente o contrário que acontece, pois, a cada dia mais e mais pessoas adquirem um

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“Os Smartphones tornaram-se verdadeiras centrais de multimídia e permitem, por exemplo, mandar emails, navegar na internet com acesso rápido 3G, abrir arquivos do Office, tirar fotos, ouvir música e muito mais.” (PC WORLD, 2008, p. 26).

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aparelho de rádio. O mecanismo de funcionamento é mais simples, o que implica um menor investimento tecnológico e menor preço no mercado. Quando não há um investimento direto, ele ocorre mediante a aquisição de algum outro equipamento com a possibilidade de integração física dessa mídia. Assim, tem ao se tornar mais compacto, continua proporcionando entretenimento e informação e atinge pessoas de todas as classes sociais. Isso mostra que não é a toa que grandes multinacionais ainda investem em tecnologia para estes aparelhos. O cientista político francês Dominique Wolton é um intelectual que rema contra a corrente. Adora a TV e lamenta ter pouco tempo para assistir. Dedica no máximo uma hora e meia do dia ao principal objeto de seus estudos. "A TV e o rádio são os alicerces da democracia de massas. São eles que asseguram a tolerância ao diferente, reforçam os laços sociais e promovem a identidade de uma nação", afirma. Seu discurso também destoa da visão convencional sobre a internet. "É uma besteira dizer que ela promove a democracia, a não ser em regimes totalitários", diz ele. (ÉPOCA, 2012).

A influência da globalização sobre as rádios muitas vezes não é tão sentida quanto nos outros meios, o que dá espaço para uma maior liberdade de expressão, sem preocupações de cunho estético e ideológico. É essa capacidade do rádio que deixa a população rural em igualdade com a população urbana, pois ele pode agradar a todos com a programação oferecida. Para Modesto (2012), mudanças acontecem também nas rádios menores que, para enfrentar a concorrência dessas grandes redes (que possuem uma grande estrutura de


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jornalismo), reduzem seus custos, a começar pela equipe de profissionais, investem na automação e muitas vezes perdem o calor das locuções ao vivo e interação com o públicoouvinte.

censura, por meio de uma aplicação chamada Podcast3.

EMISSORAS E AS MÍDIAS SOCIAIS

Este fenômeno já ocorre atualmente, segundo Cheni (2012):

Segundo Silva (2012), as redes sociais vêm desde o principio da humanidade quando os homens se organizavam em pequenos e grandes grupos, os quais estabelecem vínculos, criam tecnologias, desenvolvem economia e constroem os mais diversificados tipos de comunicação e aprendizagem para produção de conhecimento.

A Internet integra o sistema de comunicação da rádio e se apresenta como um suporte complementar para as emissões em AM/FM.

Com o aumento considerado de internautas no Brasil e conseqüentemente as redes sociais, a maioria das emissoras de rádio estão se adequando a nova linguagem, novos canais de comunicação com o ouvinte surgem todos os dias. Hoje as emissoras voltadas ao jornalismo possuem sites ou blogs e dentro deles o ouvinte tem a opção de escutar a programação on-line. As emissoras aproveitam esse canal para divulgar o endereço de suas redes sociais como twitter, Facebook entre outros existe também os Blog direcionados ao publico alvo como o Show de Bola da Rádio Capital e o Pimba na Gorduchinha da Rádio Globo/SP. Comunicação via email e telefone ainda existem, mas aos poucos serão ultrapassados. E o mais interessante, com a OBRIGATÓRIA "Voz do Brasil", as emissoras estão explorando a prestação de serviço e o entretenimento com programas exclusivos para a Internet dentro desse horário das 19 às 20 horas.

Num mundo globalizado, com o uso da internet como forma de propagação de conteúdo, tornaram-se comuns expressões como: “redes sociais” e “indivíduo conectado”. De olho nesse tipo de publico as rádios se adaptaram essa forma de comunicação diferenciada. Até hoje ainda é muito utilizado o telefone como forma de interação entre o comunicador e o ouvinte, no entanto a possibilidade de resposta direta e interativa tornando o ouvinte um novo comunicador dentro dessa fenomenologia, transformou redes sociais como twitter, facebook, instagram, entre outros, na capacidade de abraçar e mensurar a audiência e direcionar o formato da produção de informação e entretenimento. Cordeiro (2012) afirma que o rádio é “tradicionalmente conhecida como um meio imediato e irrepetível [no entanto] a rádio, com o advento da Internet, pode redefinir-se”. Nesse conceito está inserida a possibilidade de registro eletrônico de uma programação completa, independente da obrigatória pela

CONSIDERAÇÔES FINAIS A capacidade de comunicação do rádio está aliada ao fator de socialização inerente ao seu custo, acesso e principalmente à competência de fazer companhia ao ouvinte, integrando-o dentro de um universo que ao mesmo tempo

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"O termo podcast surgiu da combinação de iPod, o tocador de MP3 da Apple, e "broadcasting", que em inglês quer dizer transmitir programação linear por rádio ou TV" (SOBRINHO, 2013).


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pode ser uma conexão individual com participação coletiva. Novas plataformas não fizeram o rádio ser extinto, apenas possibilitou a existência novos canais de ligação entre o emissor e o receptor criando assim formas de se atingir a audiência desde os recursos mais básicos até o poderio de evolução tecnológica desta era. A forma de comunicar continua a mesma, porém o formato e a abordagem das produções de programas de rádio com esse novo ouvinte, forçaram-no a se capacitar não como um meio cuja ferramenta era apenas o áudio, senão num componente de multimídias capaz de transmitir e receber conteúdo de forma audiovisual. Bibliografia CÉSAR, Cyro. Rádio: a mídia da emoção. São Paulo: Summus, 2005. CHENI, Anderson. Redes Sociais e o Rádio. Disponível em: <http://cheninocampo.blogspot.com.br/20 11/05/redes-sociais-e-o-radio.html>. Acesso em 11 Nov. 2012 CLEMENTE, Isabel.TRAUMANN, Thomas. REVISTA ÉPOCA: Sociedade. MÍDIA: A diversidade no mundo globalizado. Ed. 426. 25 Jul. 2006. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/E poca/0,,EDG74786-6014,00A+DIVERSIDADE+NO+MUNDO+GL OBALIZADO.html>. Acesso em 4 Nov. 2012. CORDEIRO, Paula. Rádio e Internet: Novas perspectivas para um velho meio. Universidade do Algarve. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/cordeiropaula-radio-internet-novasperspectivas.pdf>. Acesso em 11 Nov. 2012.

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COSTA, Thiago Cardoso da. Redação do vestibular UNICAMP: O fascínio do rádio. Disponível em: <http://www.elitepoa.com.br/vis_not16.a sp>. Acesso em 4 Nov. 2012. MODESTO, Cláudia Figueiredo. Observatório da Imprensa. Mídia Radiofônica: Papel social do rádio na era globalizada. Ed. 533. 01 Set. 2009. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.co m.br/news/view/papel_social_do_radio_n a_era_globalizada>. Acesso em 4 Nov. 2012. PC WORLD. Escolha o seu Smartphone.São Paulo, n. 197, p. 26, dez. 2008. RADIOS. Disponível em: <http://www.radios.com.br> Acesso em 19 Set. 2013. SILVA, Ulisses Valadares Moreira da. Novas redes sociais na era da mobilidade. Disponível em: <.www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=&co _obra=197523>. Acesso em 11 Nov. 2012. SOBRINHO, J.J. Guia de internet para os pais. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=S Dsws6q0j2EC&pg=PA10&dq=%22Podc ast+%C3%A9%22&hl=ptBR&sa=X&ei=_e46UvrmIIvi8gTTuYD 4Dg&ved=0CDUQ6AEwAQ#v=onepag e&q=%22Podcast%20%C3%A9%22&f= false>. Acesso em 19 Set. 2013.

Autores Fabrizio Albuja é Professor de Comunicação Social da Anhanguera campus Vila Mariana e Anhanguera Uniban campus ABC. Email: fabrizio.albuja@aedu.com Colaboradores: Cristina Guimarães e Cyro Alexandre Cruz da Silva são alunos do curso de Produção Audiovisual da Universidade Anhanguera Uniban campus Vila Mariana.


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Artigo

Jornalismo e cidadania na cobertura de casos envolvendo o adolescente em conflito com a lei Ilana Alves

Resumo: O Jornalismo pode ter papel fundamental como ação informativa para reverter ou contribuir para a reversão de uma posição de vulnerabilidade social, que tem como base principal a pobreza, reforça a sensação de frustração por muitas vezes não se conseguir atingir as expectativas econômicas de uma sociedade capitalista. O presente artigo defende a tese de que o jornalismo comprometido com uma cobertura responsável sobre temas que envolvam adolescentes em conflito com a lei trabalharia para o desenvolvimento da nação e da cidadania. Abstract: Journalism can play a critical role as informative action to reverse or contribute to the reversal of a position of social vulnerability, which is based mainly poverty, reinforces the sense of frustration that often can not attend the economic expectations of a capitalist society. This article makes the case that journalism committed to a responsible coverage of issues involving children in conflict with the law can work for the development of the nation and the citizenship.

O jornalismo, profissão a qual me dedico há 13 anos, lecionando nos cursos de jornalismo e também atuando como repórter, redatora, pauteira e produtora em emissoras de rádio e tv, me possibilitou ver mais de perto a questão do adolescente em conflito com a lei. O que ao longo do tempo me foi causando preocupação com relação a divulgação de notícias que envolvem as questões sociais. Ao avaliar algumas publicações voltadas para esse segmento pude perceber a parcialidade na informação, informações passadas pela metade, informações que não apresentam todos os lados de uma mesma história. Talvez isso aconteça pelo tempo escasso no jornalismo, pela grande quantidade de informações geradas em um mesmo dia, ou ainda pela falta de conhecimento sobre o tema. Independente da situação, uma

informação não passada de forma completa abre margem para diversas interpretações e formação de opinião unilateral. De certa forma, os mais atingidos por esse vácuo são os integrantes de um grupo menos favorecido financeiramente, os que se apresentam em situação de vulnerabilidade. A posição de vulnerabilidade social, que tem como base principal a pobreza, reforça a sensação de frustração por muitas vezes não se conseguir atingir as expectativas econômicas de uma sociedade capitalista. Sociedade que se baseia no consumo, que vive o agora e que julga pelas aparências. Nesse grupo prevalece o status, você vale o que você tem ou o que parece ter. Diante desse cenário surge, o adolescente, personagem principal deste estudo. Esse


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indivíduo, em fase de desenvolvimento social, psicológico e físico, está mais sensível a essas condições, o que pode, em partes, conduzi-lo a entrar em conflito com a lei. Essa sensação de vulnerabilidade social também pode estar sendo sustentada pela mídia que massifica e que vende. Vende serviços, produtos, sonhos e informação. Assim, com o espaço já em vias de ser conquistado, o desafio de jornalistas, empresas de comunicação e os “geradores” de notícias é exatamente a melhoria do conteúdo dessas reportagens. Nessa nossa era da informação, onde tudo é tão rápido e imediato, a boa cobertura jornalística em Educação tem a difícil missão de ser reflexiva, de aceitar o convite à pesquisa, de buscar compreender o processo da Educação e não apenas suas consequências mais óbvias. (MANRIQUE, 1999, p.9).

O papel do jornalismo é informar. E atualmente a informação está ali, ao alcance dos dedos. Na TV, Rádio, Internet, Jornal, Revista. Mas poucos conseguem ter uma visão crítica sobre o que é divulgado pelo jornalismo. Muitas podem ser as explicações, dentre elas a superficialidade no trato com os fatos. A linguagem jornalística se baseia na objetividade, na clareza e na simplicidade de palavras o que visa facilitar o entendimento por parte do receptor da mensagem. Essa lógica aliada ao tempo, geralmente curto, torna as informações muito objetivas e por tanto, superficiais. O jornalismo está sempre em busca do furo4 e quase nunca faz acompanhamento dos casos. A cada dia uma informação nova surge nas redações.

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Furo, termo êmico dado para as matérias jornalísticas conseguidas com exclusividade

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Essa busca pelo novo e a falta de continuidade no acompanhamento de divulgações torna as informações fugazes e superficiais. A divulgação em massa de uma infração cometida por um jovem, o tempo curto para divulgar os detalhes e a quantidade massificante de vezes e de veículos (TV, Rádio, Internet, Jornal, Revista) que publicam a mesma informação podem gerar sentimentos diversos, como medo, raiva, angústia, em seus receptores. Segundo Paim, 2009, na sociedade contemporânea há uma nova concepção de tempo e satisfação de desejos que interferem diretamente em nossas vontades pessoais. Para Paim, esse discurso midiático forma opiniões modifica valores e identidades. “Na atualidade, a intensa busca dos veículos de comunicação por uma programação que desperte o interesse do público provocou um movimento de superexposição da vida real” (PAIM, 2009, p.13). A situação assume maior complexidade na medida em que o adolescente portador do estigma da delinquência tende a partilhar das mesmas crenças sobre sua identidade e o processo de descrédito desencadeado pelo estigma passa a compor seus sentimentos mais profundos sobre si mesmo. Esse adolescente passa a acreditar que “é um sujeito criminal, isto é, alguém de quem esperamos que sempre continue a cometer crimes (MISSE, 2007, p. 193).

Ao longo de minha trajetória profissional no jornalismo pude perceber que a notícia atinge de várias maneiras seus receptores. Ao entrar em contato com uma informação impactante, como um assalto, por exemplo, já presenciei parentes dos envolvidos em estado emocional balado, uns choram, outros ficam atônitos, há


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pessoas que chegam ao extremo de começar a rir. Por outro lado, já fiz coberturas jornalísticas nas quais a falta de informação, ou a informação passada pela metade, também causa uma resposta inesperada e até me arrisco a dizer uma resposta negativa, em seu receptor. A segunda possibilidade pela qual a mescla de sentimentos pode atingir o indivíduo é por meio da desinformação, ou seja, a informação passada pela metade. Uma informação parcial não apresenta vários lados de um mesmo fato pode gerar certa preocupação e revolta que é agravada quando não apenas um, mas sim vários casos de violência são transmitidos frequentemente. A população diante de informações industrializadas, parciais e sensacionalistas se sente frágil, se tranca em casa alarmada, sem saber o que fazer. Clama por justiça. Acredita que o jovem que pratica um ato infracional não é responsabilizado. Então, transfere a culpa para o governo sem se questionar onde termina a atuação das autoridades e onde começa a ação social. Em razão disso, seria cabível creditar ao jornalismo, condutor na formação de opiniões, que apresentasse fatos de maneira mais imparcial possível, ouvindo os diversos lados de uma mesma história. Fazer uso de linguagem e termos pertinentes que não instiguem a sociedade ao caos e ao alarme e sim a ponderação, a ação cidadã. Uma sociedade “bem informada5” dá início ao processo socialização de bairro, na qual a dificuldade do vizinho pode ser um problema social dessa comunidade. E sabe mais. Sabe que essa dificuldade pode ser resolvida rápida

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O conceito bem informada, neste contexto, vem colocar em destaque uma boa cobertura jornalística que levaria a seu público notícias de qualidade.

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e efetivamente se toda a comunidade local se unir em prol dessa causa. Item que inclusive é previsto no artigo 4º do ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), que alerta para o dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à convivência familiar e à comunitária. Segundo o artigo 1º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros o cidadão tem direito fundamental à informação. O direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação. Porém, em grande parte das vezes, as questões sociais têm sido tratadas de forma inteiramente superficial pelos veículos de comunicação. Seria necessário trabalhar a proteção social como forma de prevenir riscos que provoquem perdas, privações e vulnerabilidades sociais, principalmente voltadas ao adolescente em conflito com a lei. Uma das funções dos veículos de comunicação é desempenhar um papel social, atuando como a voz da população. O comunicador é o intermediário entre ações do governo e problemas das comunidades. É a voz do povo em alto falantes. Sua capacidade de atingir grande número de pessoas dá poder ao comunicador e transforma a imprensa no chamado 4º poder. Todo cidadão sabe que têm direitos e deveres. O que falta é saber como exercer esses direitos e onde procurar ajuda. Este trabalho pretende fazer um elo entre os temas do Adolescente em Conflito com a Lei e Veículos de Comunicação, mais precisamente voltados ao jornalismo, ao comprometimento com a informação.


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Os veículos de comunicação de massa são meios que tem grande alcance. A TV, por exemplo, é assistida por grande parte da população. Suas imagens dizem mais que mil palavras, o que facilita o entendimento até de um semianalfabeto. O rádio é outro exemplo de veículo de comunicação de massa com baixo custo e de grande alcance, por não requerer um tempo disponível de atenção focada para recebimento da mensagem. Com linguagem simples, objetiva e direta, ele atinge tanto analfabetos quanto deficientes visuais. Levando em conta esses aspectos, poderia-se dizer que o jornalismo tem condições de criar caminhos alternativos. De acordo com o jornalista Alberto Dines:

O homem se informa para sobreviver. A sobrevivência física, pura e simples foi buscando formas mais sutis, podendo-se hoje dizer que um indivíduo não integrado no seu ambiente e no seu tempo está morto para a sociedade. A ignorância de certos fatos da vida contemporânea pode ser fatal para um cidadão. (DINES, 1986, p. 68).

Essa afirmação prova que o conhecimento é base da sobrevivência, ou seja, quanto mais informada está uma pessoa, mais ela se insere na sociedade. Quando o jornalista diz que a ignorância pode ser fatal para um cidadão, ele se refere ao fato de que uma pessoa pode morrer ou deixar o outro sem socorro por não saber como agir ou a quem recorrer. De nada adianta políticas públicas se o cidadão não sabe que elas existem e, mais, não sabe como fazer uso dessa conquista. Os meios de comunicação são considerados o quarto poder na sociedade e são, em tese, dirigidos por jornalistas, que tem por objetivo

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ser a voz de uma sociedade. “Ao menos em teoria, o papel do jornalista é ser instrumento transmissor de notícias junto à comunidade (...). O papel do jornalista como agente conciliador, gerador e modificador de contextos, mediante seu papel de transformação pode criar melhorias para a sociedade” (PINTO, 2010, p. 10). Para que um jornalista seja autônomo não pode ter laços com políticos ou com empresários, isso os podaria de divulgar informações, muitas vezes comprometedoras sobre seus “amigos”. É preciso ter liberdade para escrever uma manchete e uma notícia de forma a buscar a imparcialidade. Divulgar os fatos como eles acontecem, isso significa dizer que seria necessário apurar o caso através de olhares diversos e de depoimentos diferentes. Pesquisar as possíveis interpretações dadas da história. Amarrar as pontas soltas do laço. Isso deve ser feito por um simples, mas importantíssimo papel social: ética profissional. A busca desse ideal deveria nortear comunicadores de todos os segmentos a trabalharem pela promoção integral de direitos. Os jornalistas têm papel relevante no trabalho de esclarecimento sobre essa grave questão. Ainda excessivamente factual, descontextualizada, plena de lacunas e centrada no ato infracional, (...) a cobertura sobre adolescentes em conflito com a lei também precisa ser repensada, com vistas ao efetivo enfrentamento do fenômeno. (ANDI, 2012, p. 11).

O jornalismo comprometido com uma cobertura responsável sobre temas que envolvam adolescentes em Conflito com a Lei conseguiria proporcionar à sociedade um


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melhor conhecimento na área, evitando distorções no entendimento da notícia. O jornalismo comprometido com uma cobertura responsável sobre temas que envolvam adolescentes em conflito com a lei trabalharia para o desenvolvimento da nação. Para isso é preciso oferecer informações que apresentem os diferentes lados de um mesmo fato. É preciso contextualizar as informações, mostrar de que forma cada cidadão está envolvido no assunto e apresentar formas de ações sociais, para que a própria sociedade tenha conhecimento e participe ativamente da vida política. Bibliografia ANDI, AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA. Adolescente em conflito com a lei. Guia de referência para cobertura jornalística. Brasília: Andi, 2012. BRASIL. Presidência da República. Estatuto da Criança e do adolescente. Lei Nº 8.069. Brasília, 1990. DINES, Alberto. O papel do jornal: uma releitura. São Paulo: Summus Editorial, 1986. MARINQUE, M. Fórum Mídia & Educação: Perspectivas para a Qualidade da

Núcleo de Produção Audiovisual

Informação. Brasília, 1999. 80 p. Disponível em: < http://www.unicef.org/brazil/pt/midiaedu. pdf>. Acesso em: 14 set 2013. Às 18h54. PAIM. D. R. C. Mídia e Subjetividade: O Adolescente e a Glamourização Cultural Midiática da Periferia. Disponível em <http://www.pucrs.br/edipucrs/IVmostra/ IV_MOSTRA_PDF/Psicologia/72010DENISE_REGINA_DA_CRUZ_PAIM. pdf>. Acesso em: 26 ago 2013. Ás 15h41. PINTO, Frei Isaías Silva. O papel do jornalismo na transformação da sociedade. Disponível em: <http://jornalesp.com/doc/19075>. Acesso em 20 nov. 2012. Às 02h52.

A Autora Ilana Alves, Jornalista Graduada, Especialista em Gestão Ambiental e Mestre em Políticas Sociais.


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