Revista Hidroponia - Edição 15

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Conheça o LabHidro, referência na Hidroponia

TECNOLOGIA Produção de erva-sal e camarão marinho em Aquaponia

EVENTO

Tudo sobre o 11º Encontro Brasileiro de Hidroponia, em Florianópolis

novembro/2016

EDIÇÃO 15

ESPECIAL


EDITORIAL

EDIÇÃO 15 | NOVEMBRO/2016

Direção-geral Roberto Luis Lange direcao@revistahidroponia.com.br

Editor Gustavo Paes – MTB/RS 6147

Jornalista Emerson Ribeiro – MTB/RS 17570

Produção Editorial Rodolpho Tsvetcoff

Consulta técnica Equipe Revista Hidroponia consultatecnica@revistahidroponia.com.br

Consultores técnicos Adriano Edson Trevizan Delazeri Jorge Barcelos Oliveira Liliane de Diana Teixeira Luís Cláudio Paterno Silveira Pedro Furlani Wéber Velho Marcelo Arrighi

Assistente técnico Ederson Ziza Magni

Comercial comercial@revistahidroponia.com.br

Assinatura assinaturas@revistahidroponia.com.br

Tradução para o espanhol Carolina Jung Kremer

Gestão de Mídias Sociais Júlia Vieira Pires Rede de Agronomia

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Revista Hidroponia

A Revista Hidroponia é uma publicação da Editora Equilibrio Comunicação Sustentavel.

Roberto Luis Lange

Sintonia com o produtor

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einventar-se. Essa é uma busca frequente de quem empreende em comunicação e está em sintonia com seu público. E, se estamos nessa, somos inquietos por natureza. Melhorar nossos processos e ir ao encontro de nosso mercado é uma constante e, para ser prazeroso, deve ser feito com naturalidade. Neste sentido, a Revista Hidroponia está em constante amadurecimento, que avança como a linha do horizonte. Apresentamos a edição 15 com um novo projeto gráfico. Um novo layout mais interativo e dinâmico e novas abordagens. Mas as novidades não param por aí. A seção “Na Prática” terá novo formato e vai se aproximar ainda mais do dia a dia do produtor hidropônico, trazendo dicas relacionadas ao manejo. O espaço será mais interativo e os leitores poderão mostrar as técnicas que utilizam em suas instalações de cultivo sem solo. O “Caderno Técnico” da Revista Hidroponia, espaço que reúne conteúdos com maior profundidade sobre diferentes áreas do sistema hidropônico de produção, vem sendo apresentado, nas últimas edições, de forma mais marcada. Ele vem impresso em papel reciclato e está localizado na parte central, facilitando o destaque para ser guardado como um acervo especial. O Prêmio Brasil Hidroponia está em sua segunda edição, com duas novas categorias especiais, Viveirista Destaque e Destaque Ação Social. A expressão “Valorizar a Hidroponia e reconhecer talentos” é o conceito que bem define a iniciativa. Os resultados obtidos em 2015 demonstraram que o mercado hidropônico assimilou os objetivos e “comprou” a ideia. Os registros absolutos de votos e votados foram muito acima do esperado, mas, o que mais repercutiu, foi o reconhecimento da distinção pela comunidade envolvida na promoção. A segunda edição terá uma estrutura de divulgação ainda mais atuante. Somos profissionais de comunicação a serviço da Hidroponia. No entanto, de nada vale compartilhar conhecimento sem o devido embasamento técnico. E esse respaldo nós temos de um incansável grupo de Consultores Hidropônicos Avançados que nos apoia e valida os conteúdos que elaboramos. A estes parceiros de valor, nosso muito obrigado. Ótima leitura!

Rua Visconde de Taunay, 565 - Bairro Rio Branco Novo Hamburgo/RS – CEP: 93310-200 Fone: +55 (51) 3594-2361 www.revistahidroponia.com.br Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É permitida a reprodução parcial ou integral das matérias e artigos publicados, desde que com autorização do editor.

Roberto Luis Lange DIRETOR-GERAL


EDITORIAL

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CORREIO HIDROPÔNICO

Sintonia com o produtor

Sua linha direta com a nossa redação

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CONSULTA TÉCNICA Dúvida de um, resposta para todos

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TEORIA

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ESTRUTURA

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INSUMO

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ESPECIAL

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GESTÃO

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LEGISLAÇÃO

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TECNOLOGIA

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NA PRÁTICA

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PRODUTOR DESTAQUE

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AGENDA

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PLANETA ÁGUA

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ESPAÇO PARLAMENTAR

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MIX

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EU LEIO A REVISTA HIDROPONIA

HIDRONOTAS Em poucas linhas, muitos fatos

REDAÇÃO EM PAUTA Prêmio Brasil Hidroponia 2016 terá novidades

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ENTREVISTA

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EVENTO

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RECEITA HIDROPÔNICA

Opções de folhosas para o cultivo hidropônico

Encontro Brasileiro de Hidroponia discute novas tecnologias

Salada de morango

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C A D E R N O

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T É C N I C O

ÍNDICE

Produção de forragem hidropônica é a aposta para a alimentação animal Diferentes métodos de cultivo hidropônico e seus manejos Valorize seu instrumento de pH e EC LabHidro, referência na Hidroponia Cuidados com o descarte da solução nutritiva Carga tributária aumentou em 2015, apesar de queda na arrecadação Produção de erva-sal e camarão marinho em Aquaponia

Como montar uma horta hidropônica em casa

Do lixo para a horta

De olho nas datas

Tóquio aluga estufa hidropônica para trabalhadores

O cultivo do futuro

Personagem; Sustentabilidade; Instituição; Publicação...

Especial 11° Encontro

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OPINIÃO Incentivos governamentais para a Hidroponia


HIDRONOTAS

ALIMENTOS HIDROPÔNICOS CONQUISTAM MERCADO Está cada vez mais fácil encontrar produtos hidropônicos em supermercados, feiras e sacolões. Um dos termômetros do mercado hortícola, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), reflete esse cenário positivo para o setor. Entre os alimentos hidropônicos mais comercializados na Ceagesp, se destacam o agrião e a rúcula. A distribuição de agrião, por exemplo, saltou de 570 toneladas em 2012 para cerca de 900 toneladas do produto em 2015, segundo o levantamento da companhia. Já a rúcula teve um volume de 2,1 mil toneladas comercializadas no ano passado. E, considerando o comportamento atual do consumidor e a regularidade de oferta de alimentos hidropônicos, a tendência é que setor continue a crescer, conforme a engenheira agrônoma Anita de Souza Dias Gutierrez, da Seção de Controle de Qualidade Hortigranjeira da Ceagesp.

LA NIÑA DE FRACA INTENSIDADE Nos próximos meses, os agricultores deverão ouvir falar muito do La Niña, fenômeno marcado pelo resfriamento do Oceano Pacífico, em uma região próxima à América do Sul. O La Niña influencia a circulação de ar e acaba trazendo umidade para a região. Existe a probabilidade de o fenômeno se formar nos próximos meses, mas especialistas acreditam que não será tão forte quanto o El Niño, que terminou em maio deste ano. Regiões que enfrentaram seca podem receber chuvas acima da média. O La Niña pode se desenvolver até fevereiro, mas a Organização Meteorológica Mundial (OMM) acredita que a intensidade será fraca, se comparado com o episódio de 2010-2011.

MERCADO PARA AS MINI-HORTALIÇAS As mini-hortaliças já são encontradas nas gôndolas dos supermercados e empórios de hortifrutis e estão cada vez mais presentes na mesa dos consumidores. Elas têm abocanhando entre 15% e 20% do mercado brasileiro de hortaliças a cada ano, mas ainda há muito espaço para crescer. O tamanho reduzido das mini-hortaliças pode ser resultado de uma semente com genética miniaturizada, que são importadas, ou do processamento do produto. Alguns ajustes no sistema de produção também interferem no tamanho da hortaliça como a colheita antecipada ou o plantio adensado. Embora os minitomates sejam o grande destaque desse nicho de mercado, outros produtos como pequenas abóboras e berinjelas, ou pequenas folhas de alface e rúcula, também despontam devido ao grande potencial para culinária.

DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS Aproximadamente 45% dos vegetais e frutas produzidos no mundo acaba na lixeira ou vai à mesa de pessoas em situação de vulnerabilidade social antes mesmo de serem comercializados, é o que indica o relatório de 2015 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Somando os demais tipos de alimentos, 1,3 bilhão de toneladas de comida é desperdiçada por ano no planeta. No Brasil, a cada ano, 26,3 milhões de toneladas de alimentos vão para o lixo, sendo a maior perda (45%) de frutas e hortaliças, segundo os dados da FAO. As principais perdas de frutas e hortaliças estão concentradas nos níveis de manuseio e transporte (com 50%) e comercialização (com 30%). Os desperdícios no campo e de consumo somam 20%.

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REDAÇÃO EM PAUTA

Prêmio Brasil Hidroponia 2016 terá novidades Distinção ganhou duas novas categorias: Destaque Ação Social e Viveirista Destaque

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Prêmio Brasil Hidroponia 2016, uma iniciativa da Revista Hidroponia que tem o objetivo de reconhecer o trabalho e homenagear personalidades, lideranças, produtores, pesquisadores e fornecedores da cadeia hidropônica que se destacaram em 2016, terá novidades em sua segunda edição. Foram criadas duas novas categorias especiais: Destaque Ação Social e Viveirista Destaque. “Nós ouvimos a comunidade hidropônica e recebemos como sugestão a inclusão dessas duas novas categorias, que são muito importantes para o segmento”, ressalta o diretor-geral da Revista Hidroponia, Roberto Luís Lange. Nesta segunda edição, serão avaliadas duas modalidades: Técnica e Especial. A modalidade técnica é dividida em nove categorias: produtor destaque; pesquisador; fornecedor de insumos; fornecedor de estruturas; fornecedor de serviços de gestão; fornecedor de tecnologia e inovação; destaque parlamentar; destaque internacional e instituição de ensino. Já na modalidade especial serão escolhidas: hidroponias destaque (nacional e estaduais), destaque ação social e viveirista destaque. A modalidade especial é voltada para valorizar os produtores que desejam ter maior visibilidade para seus cultivos dentro do setor da Hidroponia. Prazos - Na primeira fase do prêmio, os Consultores Hidropônicos Avançados da Revista Hidroponia indicaram os cinco nomes para cada categoria da modalidade técnica. Ao

final das indicações, no dia 30 de setembro, foi feita a contabilização dos cinco nomes mais citados pelos Consultores Hidropônicos Avançados. Na segunda fase, desde o dia 10 de outubro, os cinco indicados de cada categoria técnica ficaram aptos a serem votados pelo público em geral no site oficial do prêmio. Na categoria especial, os produtores hidropônicos interessados em participar podem realizar as suas respectivas inscrições diretamente no site do prêmio desde o dia 10 de outubro, sem a necessidade de indicações. Só podem participar do prêmio aquelas instalações hidropônicas que estiverem devidamente registradas. O cadastro para participação pode ser feito no site oficial (www.premiobrasilhidroponia.com), na aba inscreva-se, por meio do preenchimento do formulário de inscrição. As informações de cada inscrito passarão por uma avaliação preliminar e, se aprovadas, automaticamente estarão concorrendo aos prêmios. A votação ocorre pelo site oficial. A votação está aberta até o dia 31 de dezembro no site oficial do prêmio (www.premiobrasilhidroponia.com). A divulgação dos vencedores ocorrerá no dia 12 de janeiro de 2016 pelo link ao vivo no Facebook da Revista Hidroponia, assim como nas redes sociais integradas – Linkedlin, Rede de Agrônomos, Twitter, Google+ e Instagram. O anúncio será feito às 14h (horário de Brasília). Uma edição especial da Revista Hidroponia será veiculada com o perfil e o trabalho de cada um dos destacados, que ainda receberão um certificado pela distinção. •

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RECEITA HIDROPÔNICA

Salada de morango

Ingredientes:

Modo de preparo:

• • • • • • •

• Em uma vasilha, misturar bem o vinagre, o suco de limão, a água, o mel e o azeite. Reservar; • Misturar os morangos e as folhas e temperar com a mistura reservada; • Colocar a ricota triturada com as mãos e as nozes (inteiras ou trituradas); • Essa receita rende, aproximadamente, quatro porções.

1 colher de sopa de vinagre de vinho branco; 1 colher de sopa de suco de limão; 3 colheres de sopa de água; 1 colher de sopa de mel; 2 colheres de sopa de azeite; 3 xícaras de morangos cortados em quatro; 1 boa porção de folhas de alface hidropônica, rúcula hidropônica e agrião hidropônico, bem lavadas e escorridas; • sal, ricota e nozes a gosto.

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CADERNO TÉCNICO

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Caderno Técnico da Revista Hidroponia é um espaço que reúne conteúdos com maior profundidade sobre diferentes áreas do sistema hidropônico de produção.

Para destacar as abordagens e se diferenciar do conjunto da revista, vem impresso em papel reciclato e está localizado na parte central, facilitando o destaque para ser guardado como um acervo especial. É formado pelas seções Teoria, Estrutura, Insumo, Gestão, Legislação e Tecnologia, além de uma matéria especial de destaque.


ESPECIAL

LabHidro, Estrutura é responsável pelo desenvolvimento de muitas tecnologias que alavancaram o cultivo sem solo no país

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ESPECIAL

referência na

Hidroponia

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ESPECIAL

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ma crise de meia idade há 21 anos fez com que o professor doutor Jorge Barcelos começasse a pensar na criação de uma horta hidropônica no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis (SC). Cheio de inquietações, ele, de repente, se viu em uma encruzilhada, tendo de decidir se ficava esperando a vida passar ou traçava novos objetivos. Felizmente, o gaúcho nascido em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, optou pela segunda alternativa e criou o primeiro laboratório brasileiro focado exclusivamente no sistema de cultivo hidropônico e no cultivo protegido. “A solução foi olhar para trás, reunir toda experiência acumulada entre tropeços e conquistas, olhar em volta para levantar questões pendentes e, então, partir para a definição do caminho a seguir. E assim, a criação do LabHidro foi só uma consequência”, afirma. A experiência acumulada por ser filho de produtor rural e ter passado sete anos em um internato em ginásio agrícola e em escola técnico-agrícola ajudaram. A isso se somaram o conhecimento de engenheiro agrônomo, de professor universitário e dos cursos de doutorado e de mestrado. Jorge Barcelos percebia, pela fisionomia do trabalhador rural, que a agronomia continuava sendo uma área carente e tinha a certeza de não era

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Produção de diferentes tipos de alface nas instalações no LabHidro

mais possível contentar-se apenas com o que lhe ensinaram a fazer. “Qualquer tentativa diferente valeria a pena”, avaliava. Ele definiu então que qualquer meta a ser traçada deveria atender às questões ergonométricas, ambientais e econômicas. Nascia ali o Laboratório de Hidroponia, conhecido internacionalmente como LabHidro, que funciona no bairro Itacorubi, na região central da capital catarinense. Desde então, a estrutura tem sido utilizada tanto para a produção e para ganho de experiência como para pesquisa direta. Mas o começo não foi nada fácil. A falta de equipamentos adequados era um grande problema. E os ataques de pragas e doenças o tiraram o sono várias vezes. Durante cerca de nove anos, ele lutou contra a pior praga de verduras como a alface: o tripes, que ocorre em períodos quentes e de baixa umidade relativa do ar. A praga foi controlada com o uso combinado de cola entomológica e uma prosaica fita adesiva (daquelas usadas em agências bancárias) no pé das bancadas de cultivo. Nesse caso, o velho jeitinho brasileiro se mostrou altamente eficaz. Difusão de tecnologia – Mesmo com dificuldades, ele foi em frente e o sucesso não demorou a chegar. Hoje, avaliando o trabalho à frente do LabHidro diz que o esforço valeu a pena e o fez amadurecer. “A sensação é de que pouco se sabe, mas mesmo assim, olhando para trás, percebe-se que houve bastante amadurecimento neste pe-


ESPECIAL

ríodo. A maior virtude que caracteriza o LabHidro é ter se dado a oportunidade de tentar fazer, de errar, de tentar acertar, de tropeçar, sair mais forte a cada tropeço e dividir os conhecimentos adquiridos”, ressalta. As tecnologias geradas durante esse período de aprendizagem acabaram servindo de base para alavancar o cultivo hidropônico em todo o país. Hoje, não há um produtor hidropônico sequer que não utilize pelo menos uma técnica que tenha sido desenvolvida no LabHidro. “Mesmo que o agricultor não saiba, muitos produtos disponíveis hoje no mercado têm alguma influência ou inspiração do LabHidro”, salienta. “Ao visitarem o laboratório, as pessoas se deparam com a materialização das teorias que apresentamos no próprio Encontro Brasileiro de Hidroponia”, acrescenta. Um exemplo é a inclinação das bancadas. Antes, a recomendação era uma inclinação de 2,5% a 3%, mas hoje a inclinação mínima é de 4%. “Também contribuímos para a criação dos perfis aluminados, mais brancos, para evitar a formação de algas”, frisa Barcelos. Uma de suas maiores contribuições, no entanto, foi a criação do sistema de bancadas individuais voltado para o cultivo comercial. A tecnologia, que foi criada na UFSC em 2005, depois de três anos em produção, é considerada por alguns pesquisadores como uma evolução do sistema NFT. “As bancadas individuais foram, sem dúvida, a maior contribuição do LabHidro e ajudaram no combate ao Pythium, o mais poderoso dos fungos já verificados na Hidroponia”, sublinha. A diferença entre o NFT convencional e em bancadas individuais é que, no primeiro, todas as bancadas ou um número grande delas é atendido por um reservatório. Como todas as bancadas são interligadas, plantas em diferentes estágios são atendidas pela mesma solução nutritiva, o que torna baixa a oxigenação na solução nutritiva, devido ao tamanho do sistema, e principalmente em altas temperaturas. Isso também provoca um desequilíbrio nutricional nas plantas, pois as necessidades dos vegetais é diferente, conforme o estágio de desenvolvimento.

Maternidade do LabHidro

Produção de morango em potes de sorteve

Já no sistema de bancadas individuais, as plantas estão no mesmo tempo de desenvolvimento, com necessidades nutricionais iguais, o que torna a solução mais equilibrada. Outro ponto é que, nos sistemas interligados, caso haja contaminação de uma bancada, todas elas ficam contaminadas e o problema se espalha por toda a estufa. “Em bancadas individuais, caso uma bancada seja contaminada, essa contaminação fica restrita”, destaca Barcelos. Linha gourmet – Atualmente, o LabHidro possui duas estufas, onde o especialista e os alunos cultivam folhosas como alface e rúcula e frutas como tomate e morango, além de um experimento com Aquaponia usando tilápias. O cultivo do morangueiro pelo sistema NFT tem se mostrado um desafio. “Estamos trabalhando com morango desde 1999, mas a produção tem ficado bem abaixo do esperado e não apresenta uma uniformidade. O morango gosta de ficar num substrato totalmente umedecido”, salienta o pesquisador. Do lado de fora das estufas do LabHidro o visitante encontra várias espécies de árvores frutíferas conduzidas no sistema hidropônico, como banana, limão, pitanga e jabuticaba. Mas o especialista quer ir além e diz que o objetivo maior do LabHidro sempre foi reunir e gerar conhecimentos visando apontar para uma agricultura mais atraente e menos agressiva. Para permanecer neste caminho, a proposta é seguir acumulando e trocando experiências práticas. Outra meta é continuar reunindo e gerando conhecimentos, repassando e trazendo novidades. “Atualmente estamos trabalhando com verduras crocantes, fazendo pesquisas com a linha gourmet”, adianta.

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ESPECIAL

Até então, isto foi conseguido à custa de muito trabalho prático, onde se priorizou o ato de cultivar hidroponicamente, simulando um caso real de produtor. Agora, sem abdicar do cultivo hidropônico, pretende-se investir mais energia na pesquisa, trabalhando justamente os temas que foram levantados durante esse período inicial. Portanto, a próxima meta será priorizar a investigação científica (pesquisa), para que os resultados obtidos sejam repassados à comunidade externa (extensão) e interna (ensino) com cunho mais científico. Curso de Hidroponia – A ideia de repassar o conhecimento acumulado foi posta em prática já no final de 2001, com a criação do curso básico de Hidroponia da UFSC. “A tentação pela oferta de cursos dirigidos à comunidade começou a aparecer desde os primeiros meses de trabalho”, lembra. Por isso, foi necessário definir que os cursos seriam oferecidos somente após alguns anos de experiência prática, vivida diariamente. “A principal razão disto era primar pela qualidade do curso. O mais difícil foi definir a carga horária total mais adequada e quantas horas seriam destinadas para as aulas práticas”, recorda. A opção por cursos de dois dias de duração, sendo um dia só de aula prática, foi resultado de troca de ideias com a pessoa que primeiro praticou Hidroponia no Brasil: Raul Vergueiro Martins. A cada ano, são promovidos três cursos – em março, julho e novembro. Até o momento, já foram realizados 51 treinamentos e capacitadas aproximadamente 2 mil pessoas. O perfil dos alunos é bastante diversificado, com diferentes interesses, idade variada e de diversos locais. Participam da atividade desde engenheiro civil, elétrico, mecânico, de alimentos e mecânico industrial, técnico agrícola, gestor ambiental, biólogo e produtores hidropônicos novatos e experientes até advogados, aposentados, donas de casa, avicultores, jovens estudantes de matemática, física, química, agronomia e administração.

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ESPECIAL

Cultivo de pimenta e banana hidropônicos chama a atenção dos visitantes

Nos últimos cursos, porém, o perfil dos participantes vem mudando. “Temos notado uma maior participação de técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos que querem conhecer a o sistema de cultivo sem solo, além de proprietários e empregados das revendas que atuam no segmento hidropônico, em busca de maior conhecimento sobre a técnica”, diz. Desde o início, pela qualidade diferenciada, o curso de Hidroponia coordenado por Barcelos também atraiu o interesse de estrangeiros. “Já tivemos alunos da Argentina, Uruguai, França, Portugal”, salienta o coordenador do LabHidro. O especialista coordena o Encontro Brasileiro de Hidroponia, considerado o maior evento do setor na América Latina. Neste ano, o Encontro, realizado em Florianópolis, reuniu 382 pessoas, do Brasil e de países como Argentina, Colômbia, Estados Unidos, México, Paraguai e Uruguai. O evento, desde o início, foi um divisor de águas e alavancou o crescimento do cultivo sem solo no país, segundo Barcelos. “O encontro serviu para que as empresas que atuam no setor conhecessem o produtor e lançassem equipamentos para atender à demanda dos agricultores, além de ser uma oportunidade ímpar para a troca de experiências entre produtores, técnicos e pesquisadores”, ressalta o professor. •

Jorge Barcelos criou o LabHidro há 21 anos

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TECNOLOGIA

Produção de erva-sal e camarão marinho em Aquaponia Experimento conjunto da Epagri e UFSC avalia a viabilidade econômica da integração da planta com o crustáceo

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ma pequena planta encontrada em regiões litorâneas de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul pode ser a alternativa saudável para o vilão da pressão alta, o sal de cozinha. Ao contrário do tempero utilizado hoje, o sal verde - pó extraído da espécie Sarcocornia ambígua - contém três vezes menos cloreto de sódio, além de evitar o envelhecimento das células, combater o colesterol e até alguns tumores. A planta foi descoberta inicialmente há quase dez anos pela bióloga e fitoterapeuta Cecilia Cipriano Osaida na foz do Rio Aririú, no bairro Barra do Aririú, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Porém, devido a aterramentos e degradação, encontra-se quase em extinção na área. No entanto, há registros da espécie em São Francisco do Sul e na Ilha da Pólvora, no Rio Grande do Sul, o que levanta a hipótese de que ela está presente em todo o litoral. A erva-sal está sendo estudada por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que avaliam a viabilidade econômica da planta e como produzir em escala. “A erva-sal é muito procurada, por ser muito suculenta e ter menores índices de cloreto de sódio”, ressalta o professor Walter Quadros Seiffert, da UFSC, que, em setembro, foi um dos palestrantes do 11º Encontro Brasileiro de Hidroponia, em Florianópolis (SC). Análises químicas – Foram feitas coletas e a parte aérea da planta foi lavada, pesada e desidratada em estufa com circulação de ar, à temperatura de 45ºC, durante seis horas, para avaliação de matéria seca. Após pesagem seca, uma amostra do material desidratado foi calcinado em mufla à temperatura de 550ºC durante três horas e pesado. A amostra calcinada foi moída em graal até se obter pó fino. Uma amostra de 20g do pó foi misturada a 100mL de água destilada, agitada em agitador magnético por cinco minutos e depois filtrada em papel filtro.

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Cultivo de erva-sal na UFSC


TECNOLOGIA

Erva-sal está sendo estudada por pesquisadores da Epagri e da UFSC

A solução resultante da filtragem foi submetida a um banho-maria para evaporação completa da água, obtendo um resíduo cristalino de sais. Testou-se o teor de sódio e de potássio do sal de Sarcocornia previamente moído, comparado com uma solução padrão de NaCl comercial. A quantificação analítica destes íons foi realizada em fotometria de chama. Obteve-se um rendimento de 11,58% de matéria seca, 32,39% de cinzas (base seca) e 77,10% de sal recristalizado (base cinzas). Os teores de sódio e potássio no sal de Sarcocornia foram de 30,15% e 5,51%, respectivamente. O sal de Sarcocornia quando comparado com NaCl comercial (sal de cozinha) apresentou 26,75% a menos de sódio, podendo ser considerado como um sal light segundo a legislação brasileira vigente. A relação Na/K foi 5,47, semelhante à da espécie europeia Salicornia bigelovii, que é de 5,67. O experimento concluiu que a espécie é altamente promissora para a utilização de sal light para hipertensos e condimento nutracêutico. Na Europa e em países como México e Kuwait, a planta, que é de outra espécie, é comercializada como tempero, salada, cosméticos e óleo essencial, porém custa caro. O sal cristalizado chega a ser comercializado por oito euros (cerca de R$ 29,00) o grama. Aquaponia com bioflocos – A UFSC estuda a Sarcocornia ambigua há cerca de seis anos, porém as pesquisas se

intensificaram nos últimos três anos. O interesse está além da produção de sal, mas no cultivo integrado com camarão marinho, da variedade Litopenaeus vannamei. O processo é chamado de Aquaponia com bioflocos, que é um sistema inovador e altamente sustentável, já que promove o crescimento dos animais aquáticos e das plantas de forma integrada. “Os bioflocos são aglomerados de micro-organismos que se desenvolvem junto com os camarões nesse sistema de cultivo”, explica Seiffert, que coordena o Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC. “Os bioflocos são formados na presença de aeração por microbolhas”, acrescenta o pesquisador. Os camarões são cultivados em bioflocos dentro de estufas. O método de cultivo tem vantagens por ser um sistema fechado, com alta produtividade, baixa renovação de água, bioseguro e que permite um melhor controle das variáveis de qualidade de água, conforme Seiffert. Inicialmente, os pesquisadores começaram com um tanque de apenas 800 litros. Hoje, eles utilizam um reservatório de 50 metros cúbicos (50 toneladas), que comporta 500 camarões por metro quadrado. “Com esse tanque, dá para produzir 200 quilos de camarão e cerca de 400 quilos de erva-sal, mas temos pensado em utilizar um maior, de 60 metros cúbicos”, adianta o pesquisador.

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TECNOLOGIA

Bancada hidropônica Irrigação das calhas Saída do sobrenadante Retorno de água Entrada d’água

Substrato

Decantador

Bomba de retorno do lodo Bomba para encher o decantador Aeração

Tanque de camarões Esquema do tanque de produção aquapônica com camarões marinhos e erva-sal

Seiffert salienta que o processo é o máximo do reaproveitamento e que já existe Aquaponia com alfaces e outras plantas e peixes de água doce, porém com água salgada é muito raro, já que as plantas não sobrevivem ao sal, ao contrário da Sarcocornia ambigua. “É a primeira pesquisa desse tipo no Brasil. Agora, estamos estudando para desenvolver as viabilidades técnica e econômica. Além de aguentar sal, é um alimento funcional”, afirma o pesquisador, que desenvolve os estudos com oito estudantes e em parceria com os departamentos de Tecnologia de Alimentos, Laboratório de Hidroponia da UFSC (LabHidro) e Laboratório de Cultivo de Algas (Labcal), com financiamento do CNPQ. •

Erva-sal

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MIX

O NÚMERO

VOCÊ VALORIZA O BOM CULTIVO.

90

NÓS VALORIZAMOS VOCÊ.

A

estimativa é de que o Brasil possua uma área entre 70 mil e 100 mil hectares de cultivo hidropônico, técnica de cultivo protegido, na qual o solo é substituído por uma solução nutritiva contendo apenas os nutrientes indispensáveis aos vegetais e que pode reduzir o consumo de água em até 90%, se comparado ao sistema convencional, conduzido no solo. O cultivo de alface, por exemplo, utiliza, no sistema convencional, cerca de 25 litros de água por pé da folhosa. Já no sistema hidropônico, o gasto cai para 4 litros por cada pé de alface.

FRASE “Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois, a razão”

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Valorizando a Hidroponia e reconhecendo talentos PATROCÍNIO

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