Revista Conviver #16

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ANS nº 397397

REVISTA

CONVIVER BEM É DAR AO OUTRO O DIREITO DE SER FELIZ Uma publicação trimestral da Unimed Campina Grande | Distribuição Gratuita | Ano III | Número 16 | Outubro de 2012

ISSN 1983-1102

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LUIZ GONZAGA MAIS DE 40 LÉGUAS DE SAUDADE UMA EDIÇÃO COMEMORATIVA AO CENTENÁRIO DO REI DO BAIÃO

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Campina Grande




Índice

Como vai doutor? O prazer em atender: Atendimento ao cliente Unimed

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Dr. Fernando Rabello: referência em Dermatologia

16| Água é vida!

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Luiz Gonzaga: a voz que redescobriru o Nordeste |23

Baião: o sentimento universal na melodia sertaneja

25| Museu Luiz Gonzaga: um passado sempre presente

A cantiga da saudade |28 HIV no idoso

Luiz Gonzaga e o poético coração de um povo

37| Doutor, ela só pensa em namorar

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Semana do Bebê Campina Grande The Beatles e o encontro simbólico com o Rei do Baião

Olha pro céu

4 | Revista Conviver

41| Ser tão Luiz Gonzaga

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46| Acessibilidade do surdo na sociedade brasileira

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Pingos de silêncio No tom de Antônio Barros e Cecéu

30| O Maior São João do Mundo: Luiz Gonzaga cantou primeiro

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Trófeu Gonzagão: O Oscar da música nordestina

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54| O inesquecível amigo Didio

60| O Maior São João do Mundo

|6266| O Açude Velho em estado de arte

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Colunistas UMA MARCA NO SEU TEMPO

NATURALMENTE

Médico Anestesiologista, cooperado da Unimed Campina Grande, Membro da Academia Campinense de Letras.

Graduada em Ciências Biológicas pela UEPB; Mestre em Agronomia pela UFPB; Doutora em Recursos Naturais pela UFCG.

Dr. José Morais Lucas

NATUREZA MÉDICA

Rosângela Alves de Souto

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS

Dr. Flawber Antônio Cruz

Dr. José Alves Neto

Perito médico do INSS - Especialista em Pediatria Membro do Conselho Regional de Medicina.

Médico Ultrassonografista, Cooperado da Unimed Campina Grande.

MEDICINA: CIÊNCIA DA VIDA

URBE CAMPINENSE

Dra. Andréa de Amorim Pereira Barros

George Gomes

Médica Cooperada da Unimed Campina Grande e professora de Infectologia da UFCG.

Historiador, pesquisador da memória de Campina Grande.

SENSIBILIDADE CRÔNICA

CONVIVA

Mica Guimarães

Jornalista, professor do curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba, radialista.

Equipe Conviver

Participações especiais Francisco de Assis Costa

Radialista, jornalista, servidor do Fisco estuadual, bacharel em comunicação soc ial,direito e faz parte dos estudiosos da vida e obra de LUIZ GONZAGA,em Campina Grande.

Dr. Evaldo da Nóbrega

Membro da Academia de Letras de Campina Grande. Oficial Médico do Exercito Brasileiro. Cirurgião Coloproctologista. Ex-Superintendente e Diretor do HUCG.

Dr. Guilherme Veras Macena

Graduado em Medicina pela UFPE - Residência em Clínica Médica no Hospital Barão de Lucena em Recife – Residência em Cardiologias no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia em São Paulo/SP.

Johniere Alves Ribeiro

Formado em Letras pela UCFG. Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB. Professor na área de Língua Portuguesa em graduações e pós-graduações.

Aline Durães

Jornalista, Graduada em Letras-Inglês/UEPB. Especialista em Mídia e Assessoria de Comunicação/CESREI e Mestre em Literatura e Interculturalidade/UEPB.

Luciana Pimentel Figueiredo

Bacharel em Ciências Contábeis pela UEPB. Especialista em Libras pela UNICID; Especialista em língua inglesa pela PUCRS; Graduanda em Letras/Libras pela UFPB-Virtual. Atualmente é Coordenadora Pedagógica da Uptime.

Geuma Ângela Cavalcante Marques

Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Fundação Universidade Regional do Nordeste. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal da Paraíba, e em Educação Profissional na área de saúde pela Fundação Sérgio Arouca - ENSP.

Gabriel Alves

Jornalista formado pela UEPB e mestrando em Desenvolvimento Regional pela UEPB/UFCG. Atua na Unidade de Comunicação da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba

Heloisy Medeiros

Enfermeira bacharel e licenciada pela Universidade Estadual da Paraíba. Especialista em Saúde da Família e Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba. Coordenadora do setor de Promoção a Saúde da Unimed Campina Grande.

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Da Unimed UMA SECULAR HISTÓRIA DE COOPERAÇÃO COM NOSSA CULTURA

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iante dos 100 anos que marcam o legado do Rei do Baião, a ser celebrado no dia 13 de dezembro, a Unimed Campina Grande, no alto dos seus 40 anos de criação, ressalta que são léguas de saudade e experiência ainda a serem vividas para celebrarmos uma história secular; mas o que não diminui nossa alegria é saber que, essencialmente, a história de Luiz Gonzaga e a da Unimed Campina Grande se unem pelo respeito às raízes do nosso povo, que não teve limitações na oportunidade do trabalho e da cultura para se mostrar de forma íntegra para esta nação. Na história da música popular brasileira, impossível dissociar a íntima relação entre a obra de um artista com suas raízes. Que olhar o Brasil teria para a cultura nordestina se não tivéssemos a obra de Luiz Gonzaga? A força poética de suas canções, a voz singular de um marcante intérprete que soube escolher, nas suas parcerias, a tradução mais fiel de um sentimento chamado nordestinidade. De Exu, em Pernambuco, até o sul maravilha, Luiz Gonzaga percorreu muitos caminhos tocando em bares e beiras de cais do Rio de Janeiro para perceber, enfim, que, ao assumir as suas raízes, cantando as dores e amores do seu povo, pôde, sim, ser fiel ao caminho que o levou ao sucesso. Ao assumir, de forma autêntica, a sua sanfona e o seu chapéu de couro, Luiz Gonzaga conseguiu imortalizar uma obra, graças ao compromisso e à autenticidade dedicada à cultura nordestina. Quantos nomes trilharam e ainda seguem este grande legado deixado pelo imortal “Seu Lua”? O pernambucano do século, como foi eleito em 2009, concorreu com nomes como Gilberto Freire, Capiba, João Cabral de Melo Neto, fez, com simplicidade e dignidade, o maior cons-

truto representativo da alma de um povo, talvez entendendo sempre que, para se chegar em algum lugar, como costumava dizer, bastava ter “tendência e definição”. Esta a dimensão da sua inigualável marca. Foi nesta terra, cantada pelo Rei do Baião, que o espírito de vanguarda, deixado pelos velhos tropeiros, foi herança para que o pioneirismo do cooperativismo médico crescesse e mostrasse que a força solidária, associada à determinação por seguir um caminho, constituem a força capaz de impedir que uma história de sucesso desafine. Pois foi no ritmo desse “Baião de Dois” que, no dia 20 de dezembro de 1971, a medicina e o cooperativismo se uniram, e 37 médicos puderam construir a nossa saga. Através dessa cooperativa médica, foi possível que o sonho da valorização de uma classe de trabalho e o exercício ético e empenhado na medicina pudessem ser sinônimos de qualidade a assistência à saúde no campo suplementar. Saciando a sede daqueles que, tal qual o vôo simbólico da Asa Branca, batiam as asas para outras localidades na esperança da concretização dos seus ideais. A Unimed, nesta edição, faz uma justa homenagem ao tenor do sertão nordestino que, com seu canto aboiado, imortalizou a sensibilidade de uma nação, não impondo fronteiras, nem tampouco diferenças para quem ouvia suas canções. Somos todos brasileiros ao ouvirmos Luiz Gonzaga, temos, na sua poesia, o bálsamo para os males da alma, já que para os desafios do corpo você pode contar com a Unimed. Boa leitura!

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Dr. Francisco Vieira de Oliveira Presidente da Unimed

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CONVIVER É TORNAR NATURALMENTE O DIFERENTE IGUAL A TODOS

DIRETORIA 2010/2014 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO 2010/2014

Dr. Francisco Vieira de Oliveira Dr. Alexandre de Castro Batista Leite Dra. Teresa Cristina Mayer Ventura da Nóbrega Dr. Norberto José da Silva Neto VOGAIS

Dr. Antônio Dimas Cabral Dr. Emílio de Farias Júnior Dra. Gesira Soares de Assis Florentino Dr. Giovannini Cesar Abrantes L. de Figueiredo Dra. Waldeneide Fernandes Azevedo CONSELHO TÉCNICO E DE ÉTICA 2010/2014

Dr. Carlos Roberto de S. Oliveira Dra. Deborah Rose Galvão Dantas Dr. Ericsson Albuquerque Marques Dr. José Protásio Vieira Dr. Juarez Carlos Ritter Dr. Saulo Gaudêncio de Brito CONSELHO FISCAL 2012 Efetivos:

Dr. Crismarcos Rodrigues da Silva Dra. Maria das Graças Loureiro Chagas Dr. José Tadeu P. Vitorino Suplentes:

Dra. Kátia Maria Lima Vidal Dr. Luiz Barros Sobrinho Dr. Pedro Saulo Pereira dos Santos ASSESSORIA JURÍDICA

Dr. Giovanni Bosco Dantas Medeiros Dra. Maria Rodrigues Sampaio Dra. Ramona Guedes COMITÊ DE COMUNICAÇÃO

Dr. Evaldo Dantas Nóbrega Dr. José Alves Neto Dr. José Morais Lucas Dr. José Moisés Medeiros Neto DIREÇÃO/EDIÇÃO

Dra. Teresa Cristina Mayer Ventura da Nóbrega Alice Rosane Correia Ribamildo Bezerra de Lima Ulisses Praxedes Yonnara Araújo JORNALISTA RESPONSÁVEL

Ribamildo Bezerra - DRT 625/99 REDAÇÃO

Ulisses Praxedes - DRT 2287/08 FOTOGRAFIA

Leonardo dos Santos Silva CAPA

Ulisses Praxedes

Foto: Julio Cezar Peres

ASSESSORIA DE MARKETING

Alice Rosane Correia REVISÃO

Marcelo Coutinho de Oliveira Rocha

ESPAÇO DO LEITOR

DIAGRAMAÇÃO

ATENDIMENTO

Fernanda Castro IMPRESSÃO

Gráfica Moura Ramos CIRCULAÇÃO

2.000 exemplares Distribuição Gratuita Edição Trimestral

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(83) 2101.6576/2101.6580 revistaconviver@cg.unimed.com.br PARA ANUNCIAR, LIGUE:

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PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO

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Todo conteúdo veiculado nesta publicação é de responsabilidade dos seus autores. A Revista Conviver é uma publicação sem fins lucrativos, custeada pelo material publicitário, veiculado na mesma.

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Da redação

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esta décima sexta edição da Revista Conviver, ano em que a Unimed Campina Grande celebra quatro décadas, abrimos um justo espaço para um olhar mais contemplativo para a obra e histórias deixadas pelo Rei do Baião em seu centenário. Uma presença que é vida e melodia a superar qualquer lacuna física, afinal uma obra se imortaliza quando a lembrança a eterniza. Contando com o auxílio luxuoso de grandes colaboradores, dos quais destacamos o jornalista Xico Nóbrega que, implicitamente, com o seu jeito modesto e não menos talentoso, imprimiu, em incentivo, as diretrizes e as abordagens realizadas nas matérias referentes ao nosso homenageado, a Revista Conviver ousa ser a ponte a estreitar o caminho entre a arte e a informação junto ao seu público, palmilhada pela sensibilidade em cada linha aqui escrita. É possível entender este propósito quando nos deparamos com um relato histórico do próprio Luiz Gonzaga, resgatado aqui como registro, quando, no final da década de 70, o Rei do Baião já vislumbrava, em Campina Grande, o grande palco das manifestações nordestinas para o Brasil. Uma ideia que reverberou pelo tempo e foi materializada nas mãos de um poeta que deu ao povo o seu merecido parque, um São João do tamanho do sonho do inesquecível Ronaldo Cunha Lima. São versos, rimas e ritmos que descrevem todo o nosso jeito de ser, que, na voz e na verve de Antonio Barros e Céceu, já romperam fronteiras, mostrando que o mundo se identifica e carrega um pouco da nossa nordestinidade. Portanto, contrariando um pouco o seu Lua, é possível afirmar que não existe légua tirana que separe um povo, unido por uma memória e práticas que conservem a sua história. Este é o princípio maior da Unimed a qual, junto com a sua gente, mostra que a cooperação em qualquer aspecto é liga que se dá pelo sabor da parceria e crescimento conjunto, pois tal qual cantou Luiz: “Ai, ai ai, ó baião que bom tu sois Se o baião é bom sozinho, que dirá baião de dois...”

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Leitores

EDIÇÃO ANTERIOR

Foi com satisfação que através do Dr. José Augusto Neto, tive contato com a Revista Conviver, especificamente a publicação dos 40 anos. Gostaria de parabenizar a todos que fazem o corpo editorial desta revista, pela capacidade em ordenar momentos históricos, homenagens das mais justas, artigos de cunho técnico científico, contos e resenhas de articulistas médicos e de outras profissões. Com a leitura, além de desfrutarmos dos conteúdos, desfrutamos da descoberta em observarmos a verve de colegas para a escrita lúdica, consciente e clara. Deveria, esta revista, ser disponibilizada a um maior público, não só aos cooperados da tão honrosa UNIMED/Campina Grande. Josuel Cavalcante Cirurgião e Traumatologista Bucomaxilofacial Sem sombra de dúvidas a revista Conviver é um veículo de entretenimento e informação inestimável. Com uma leitura leve e agradável, parabenizo pela reportagem “ A maratona de chegar lá”, de Ribamildo Bezerra, que nos envolve na história da maratona e nos faz repensar sobre nossos limites. Fé e coragem aliados ao objetivo de chegar lá devem ser incorporados nas nossas metas de vida. Heluan Ruana A. de Medeiros Profissional de Educação Física

Conviver é uma revista que tem dado uma contribuição ímpar dentro do âmbito das publicações especializadas. Oferece um material de qualidade e que tem servido ao seu propósito fundamental que é ser um veículo de utilidade pública. Espero ansioso a chegada de cada edição. Geovanne Santos Jornalista

Convivendo com você SAUDADE: SENTIMENTO MAIOR QUE A PALAVRA

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informação veio da empresa britânica Today Translations que reuniu a opinião de mil tradutores para concluir o que todos nós já sabemos: que a palavra “saudade”, em português, é tida como uma das mais difíceis do mundo para se traduzir. Ocupando o sétimo lugar numa lista de dez palavras que no mundo não se descreve de forma consensual, a palavra “saudade” pode até ser entendida como sentimento nostálgico, sentir falta de alguma coisa ou alguém, mas na prática, sabemos que a experiência é diferenciada para quem vive a saudade no seu íntimo. É esta

vivência cultural provocada pela saudade, que a Revista Conviver tenta traduzir nessa edição. Fugindo do saudosismo gratuito, justificamos este sentimento presente na obras que superam o próprio tempo dos nossos homenageados, como Luiz Gonzaga e o poeta Ronaldo Cunha Lima, lembrados pelos ecos que ainda reverberam cultural e socialmente. Já disse o poeta Mário Quintana que “o tempo não para, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”. Conviver é isso: a experiência diária de um sentimento que só coopera quando é verdadeiro, saudoso e sem tradução. www.cg.unimed.com.br

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Unimed - uma marca no seu tempo

Dr. Fernando Rabello: REFERÊNCIA EM DERMATOLOGIA

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a falta de um profissional da medicina especialista em Dermatologia, alguns médicos em Campina Grande que faziam Clínica Geral, Clínica Médica ou Pediatria, tratavam as doenças da pele como uma segunda especialidade, e, de certa forma, ocuparam bem esse espaço. Porém, com a chegada do Dr. Fernando de Carvalho Rabello em nossa cidade no ano de 1958, na condição de único especialista em Dermatologia e dedicando-se, exclusivamente, às doenças da pele, este conceito mudou, de modo que o Dr. Rabello passou a ser, verdadeiramente, o primeiro Dermatologista, não só de Campina Grande, mas de todo o Compartimento da Borborema. Ao se inscrever no Conselho Regional de Medicina da Paraíba, obteve o nº 220. Com competência, o Dr. Fernando Rabello soube ocupar bem este espaço, e, mesmo tendo encerrado as suas atividades médicas, recentemente, ainda hoje é a principal referência da especialidade em nossa cidade, status que vai manter por muito tempo. Seguindo os seus passos, está a sua filha, Dra. Luciana Rabello Oliveira, dermatologista como ele, que deverá conquistar a fatia maior da sua fiel clientela, não só pela transferência natural de pai para filha, mas, sobretudo, pelos méritos pessoais, que são indiscu12 | Revista Conviver

tíveis. Filho de Francisco de Almeida Rabello e de Albertina Carvalho de Almeida Rabello, o Dr. Fernando nasceu em 10 de julho de 1932, no distrito de Macujê, que faz parte do município de Aliança, localizado na Mata-Norte do vizinho estado de Pernambuco. Fernando Rabello terminou o curso de medicina na Universidade Federal de Pernambuco em 08 de dezembro de 1957, sendo da mesma turma os doutores Mauro Farias e Emanuel Alves, que também exerceram a profissão nesta cidade, ambos falecidos. Em Recife, foi um fiel adepto do Professor Jorge Lobo, titular da cadeira, referência nacional na especialidade e chefe do Serviço de Dermatologia; Fernando acompanhou o Dr. Jorge Lobo desde os tempos de estudante, tendo, após concluir a sua especialização, dele recebido o conselho para se instalar em Campina Grande, cidade progressista, pólo regional e com um bom mercado de trabalho, principalmente na medicina, onde havia uma carência em dermatologia. Seguindo os conselhos do Mestre, veio para Campina Grande, onde se encontra há mais de meio século. Já em Campina, inclusive trabalhando no Hospital Alcides Carneiro, hoje Hospital Universitário, surgiu a oportunidade de complementar os www.cg.unimed.com.br

seus conhecimentos na especialidade, indo para o Rio de Janeiro, onde fez pós-graduação no Hospital dos Servidores do Estado, pertencente ao IPASE, considerado, na época, o melhor hospital do Rio de Janeiro e um dos melhores do Brasil. Na iminência de seu aniversário de 80 anos de idade – talvez quando esta edição estiver em circulação já os tenha completado – pode-se dizer que Fernando Rabello é um homem realizado profissionalmente, posto que também cumpriu muito bem a sua missão como cidadão e chefe de família. Depois de Fernando, os seus irmão médicos, Gildo Rabello e Luciano Rabello, respectivamente Gastroenterologista e Oftalmologista, seguiram os seus passos e também vieram para Campina


Por Dr. José Morais Lucas |

Grande. Hoje, numa reunião social da família Rabello em nossa cidade, reúnem-se, facilmente, cinquenta pessoas deste importante clã de origem pernambucana, porém, bem ramificado na Paraíba. Logicamente, neste contexto, além dos descendentes consanguíneos dos irmãos Fernando, Gildo e Luciano, entram os parentes colaterais, como esposas, genros, noras etc. O seu currículo é vasto, tendo sido professor fundador da Faculdade de Medicina de Campina Grande, onde exerceu a Cátedra de Dermatologia, tendo também ocupado o cargo de Diretor desta Escola Superior, no período 1975/1979. Foi também professor-adjunto de Dermatologia na Universidade Federal da Paraíba e coordenador da disciplina, além de assessor de Ensino do Departamento de Medicina

Interna, Social e Preventiva desta instituição. Consta também, no seu currículo, que ocupou os cargos de vice-presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, secretário da Sociedade Médica de Campina Grande nas gestões de Fiúza Chaves, Ulisses Pinto e José Arnóbio, membro titular do Colegiado do curso de Medicina da UFPB, membro titular do Consepe da UFPB e presidente da II Câmara do Consepe na Universidade Federal da Paraíba. No seu rico histórico ainda são encontrados os títulos adiante citados: Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e do Colégio Ibero-Latino-Americano de Dermatologia; Presidente da XI Jornada Norte-Nordeste de Dermatologia; Médico dermatologista do Hospital Alcides Carneiro, IPASE, onde também foi presidente do Centro de Estudos; Chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Pedro I; Membro Titular do Conselho Regional de Medicina da Paraíba; Médico plantonista do SAMDU, em Areia; Médico do Centro de Saúde Dr. Francisco Pinto; Sócio fundador da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional PB; Coautor do livro texto CONTROLE DA HANSENÍASE, editado pelo Ministério da Saúde. Em 1971, foi um dos fundadores da Unimed Campina Grande, tendo exercido cargos na Diretoria dessa cooperativa médica em várias gestões. Maria Luiza Silveira Rabello, sua primeira esposa, faleceu quando tinha 65 anos de idade. Era prowww.cg.unimed.com.br

fessora de inglês, fundadora e diretora do curso Yázigi desta cidade. Deste matrimonio nasceram todos os seus quatro filhos, a saber: Márcia (falecida); Luciana; Fernando e Marcelo. Márcia lhe deu um casal de netos; Mayra (falecida) e Rodrigo, que é advogado e está cursando um mestrado na sua área. Luciana, médica dermatologista, é casada com o também médico Francisco Vieira, ortopedista e presidente da Unimed Campina Grande; Vieira e Luciana são os pais de Lucas, Letícia e Lorena. Fernando Filho é empresário e casado com Daniele, ambos donos da empresa “O Vergalhão”, tendo como filhos, Maria, Felipe e Fernanda. Marcelo, engenheiro, tem como esposa Célia, médica que não exerce a profissão, dedicando-se inteiramente à direção do Yázigi; Neli e Rafael são os filhos do casal. Casou-se em segundas núpcias com a odontóloga Renilza Bezerra Fernandes, com quem vive muito bem. Ela também era viúva. Esta história não poderia deixar de ser contada, pois o Dr. Fernando Rabello, que hoje vive em função da família, é um homem tranquilo, que deu importante contribuição à medicina campinense como o primeiro dermatologista, como professor do curso médico e como dirigente universitário. Campina só tem a agradecer-lhe. Revista Conviver

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|Cooperado|

Unimed - uma marca no seu tempo:

COMO VAI DOUTOR? PROJETO DE RELACIONAMENTO COM O MÉDICO COOPERADO UNIMED: CUIDANDO DO MÉDICO ENQUANTO ELE CUIDA DO SER HUMANO

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omo vai doutor? É com essa pergunta que um representante da Unimed Campina Grande adentra aos consultórios dos nossos médicos. O novo projeto de relacionamento da Unimed Campina Grande traz o princípio de que o relacionamento da cooperativa com o seu cooperado é de suma importância, visto que é dessa relação harmoniosa que se tem o bom andamento da instituição. Conhecer e atuar de forma intensiva em seu próprio negócio o faz sentir participante do cotidiano da cooperativa e do trabalho solidário. Uma maior integração com o cooperado Unimed Campina Grande é a motivação principal deste projeto, que se baseia na ampliação 14 | Revista Conviver

dos canais de comunicação com o médico, implementando confiança e segurança em querer participar das ações da cooperativa. Esta participação e o bom relacionamento entre cooperado, cooperativa e cliente tra-

zem vários benefícios para todos os lados, a exemplo de uma melhoria na prestação de serviços, uma vez que o cooperado conhece e atua incisivamente na realidade dos trâmites administrativos.

A Unimed Campina Grande se aproxima do seu cooperado precisando saber como está:

• • • • •

A sua saúde O seu check-up A sua família O seu trabalho Os seus projetos

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Para o alcance desses objetivos estão sendo utilizados meios de aproximação com o cooperado que extraiam de conversas o seu real entendimento acerca do que seja a cooperativa. Essa aproximação acontece em visitas presenciais de representantes da Unimed aos consultórios através do programa denominado “Como vai Doutor?”, como ressaltado acima. “Temos, na implementação deste projeto e em todas as estratégias incluídas nele, uma ótima ferramenta para estreitarmos o relacionamento com os nossos colegas cooperados. É uma boa oportunidade para que possamos trabalhar em conjunto pela cooperativa e pelos nossos clientes.”, destaca o presidente da Unimed Campina Grande, Dr. Francisco Vieira de Oliveira. Além de servir como método diagnóstico da situação, as visitas também estreitam os laços e apresentam novos canais de comunicação entre o cooperado e a cooperativa. Seguindo a mesma linha que visa a aprimorar esse relacionamento temos, já em circulação, o Informativo do Cooperado, que traz informações relevantes sobre sua atividade profissional e sobre a cooperativa. Também se destacam, como meios de contato, o envio de SMSs e E-mails, através dos quais sempre são levados conhecimento e informação ao médico.

Quais as vantagens? • Permitir que a Unimed fique mais próxima do cooperado, assim poderá conhecê-lo melhor e saber mais sobre o que ele pensa, espera e deseja da sua cooperativa. • Estabelecer um melhor suporte para as suas necessidades de atendimento ao cliente. • A aproximação irá diminuir falhas de comunicação e melhorará o rendimento do trabalho.

Após ter sido consolidada esta aproximação e de se verificar uma consciência participativa bem disseminada, todos ganham. O Projeto de Relacionamento com o Cooperado veio para cumprir esse papel e integrar o médico ao seu negócio, tendo, como resultando, um traba-

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lho sério, qualificado e mais saúde na vida dos nossos clientes. Afinal, sabemos que fazer parte de uma cooperativa é saber que o sucesso é fruto do mérito e da responsabilidade de cada um, sempre buscando a realização coletiva.

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|Cliente|

Unimed - uma marca no seu tempo

ÁGUA É VIDa! CAGEPA E UNIMED: A RESPONSABILIDADE DE UMA ASSISTÊNCIA SAUDÁVEL

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palavra Sanear vem do Latim Sanu, tornar saudável, higienizar, limpar. Saneamento é o conjunto de medidas utilizadas para preservar as condições do meio ambiente, prevenir doenças e melhorar as condições de saúde pública. As principais atividades do saneamento estão ligadas à coleta e ao tratamento dos resíduos produzidos pelo homem, como esgoto e lixo tornando-os inofensivos à saúde. No histórico da Unimed Campina Grande e da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA há um ponto de convergência: assistir, com eficiência, para preservar a qualidade de vida. Para entender a importância deste órgão de abastecimento em nosso Estado, é necessário um olhar histórico para compreender que, desde os primórdios, o homem manteve a sua relação de sobrevivência graças à qualidade da água que consumia; prova disso é que, mesmo em seu estado gregário, as comunidades sempre buscavam acomodar-se próximo aos mananciais deste precioso recurso.

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“Mas como é lindo ver depois pro entre o mato Deslizar calmo regato transparente como um véu No leito azul das suas águas murmurando E por sua vez roubando as estrelas lá do céu” Luar do Sertão - Luiz Gonzaga

Com o surgimento das cidades na Idade Antiga e o crescimento da população foram necessários o desenvolvimento de projetos de engenharia e de armazenamento de água. Na região da Mesopotâmia, a Babilônica já possuía projetos de saneamento, a exemplo dos coletores de esgotos, datados do ano de 3.750 A.C. O primeiro sistema público de abastecimento de água conhecido no mundo é o de aqueduto (construção destinada ao transporte de água que abastecia fontes públicas) de Jerwan, que foi construído na Assíria, em 691 A.C, caracterizado por ter tido a cerâmica como matéria prima destinada à construção de canais que viriam a dar origem ao que chamamos hoje de canos. Na história da humanidade, cada vez que o sistema de saneamento era falho, as pestes e epidemias dizimavam vidas, um capítulo paralelo que motivou a pesquisa no campo das vacinas. Algumas curiosidades na história do saneamento também podem

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ser destacadas, a exemplo do tabu que era tomar banho nos monastérios e conventos, algo que só viria a acontecer duas ou três vezes ao ano, no período de pasça ou no natal. Destacam-se os curiosos reinados de Luiz XIII e Luiz XIV, que costumavam dar audiência enquanto usavam o vaso sanitário, daí a tradição da expressão “estar no trono”. Fora no período da Revolução Industrial, na transição do século XIX para o século XX, que surgiram as Companhias de Água e Esgotos, as quais passaram a demonstrar uma maior preocupação no contexto de saneamento, haja vista um maior volume de pessoas que mudaram do campo para cidade em busca de trabal h o, assim como o volume de detritos jogados por muitas indústrias nos mananciais.


Na capital da Paraíba, o primeiro projeto destinado à implantação de um sistema de esgotamento sanitário foi apresentado em 26 de junho de 1922, quando foi autorizado um empréstimo para a construção de uma rede de esgotos em João Pessoa. Outras experiências de implantação de sistemas de abastecimento foram implementadas em vários municípios paraibanos, embaladas pela criação das comissões municipais de abastecimento. Campina Grande foi uma das pioneiras no Estado ao institucionalizar o saneamento da cidade, através da criação da Sociedade de Economia Mista (SANESA), a qual era responsável por administrar o sistema de abastecimento de água do município no ano de 1955. Onze anos depois, em 1966, foram constituídas, no dia 30 de dezembro, a Sanecap Companhia de Saneamento da Capital e a CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, que tinha abrangência estadual. As três empresas funcionaram paralelamente até 1972, quando houve a

unificação de todas as companhias, que passaram a funcionar sob a denominação CAGEPA. Desde então, praticamente todas as cidades paraibanas passaram a ser atendidas pela companhia. A CAGEPA é, hoje, um patrimônio da Paraíba avaliado em 389 milhões de reais sendo responsável pelo abastecimento de água em 181 municípios e 22 localidades. A empresa também é responsável, atualmente, pela coleta de esgotos em 22 municípios do Estado. Todo o atendimento da CAGEPA e feito através de Gerências Regionais, distribuídas em toda a Paraíba; a do Litoral é a Sede da Companhia em João Pessoa, a gerência do Brejo é localizada na cidade de Guarabira; quanto à região da Borborema, esta possui a sua gerência em Campina Grande; na região das Espinhas, a CAGEPA tem sede na cidade de Patos; na região do Rio do Peixe atua na cidade de Sousa e do Alto Piranhas de modo que é a gerência da CAGEPA, de Cajazeiras, quem admi-

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nistra o abastecimento desta região. O fortalecimento destas gerências tem proporcionado uma forte administração dos recursos hídricos das suas regiões o que favorece o estreitamento do relacionamento com os administrações municipais de cada localidade. Com uma límpida e transparente história de grandes serviços prestados à comunidade paraibana, a Unimed Campina Grande se orgulha de ter, como cliente nobre, esta companhia que, assim como nós, busca saciar a sede de mais qualidade de vida junto ao nosso povo.

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|Colaborador|

Unimed - uma marca no seu tempo

O PRAZER EM ATENDER: ATENDIMENTO AO CLIENTE UNIMED

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mercado competitivo de hoje exige, cada vez mais, uma atenção maior ao cliente, o qual, por sua vez, adquire mais conhecimento dos seus direitos e se torna mais preocupado com a qualidade do produto e

do atendimento que lhe é prestado em qualquer instituição. A definição de um atendimento realizado, com excelência, ao cliente depende do produto ou serviço oferecido e da atenção que se dedica ao público. Na condição de fornecedor de serviços,

Equipe de atendimento ao cliente da Unimed Campina Grande

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a Unimed Campina Grande propicia a seus usuários uma maior atenção que reflita seu reconhecimento pela preferência. Por esse motivo, destacamos, nesta edição, o setor de Atendimento ao Cliente. Há 40 anos no mercado, a cooperativa busca estratégias que visem otimizar o relacionamento junto ao seu cliente. Uma das soluções encontradas foi a informatização de todo o processo, agilizando ainda mais os trâmites realizados por telefone e presencialmente. Segundo a teleatendente Janaína Cavalcante, a informatização dos processos facilitou não só a vida dos clientes como a dos próprios colaboradores: “Agora podemos agilizar nosso trabalho e dar uma maior atenção ao nosso cliente. Isso faz com que o atendimento tenha mais qualidade e o usuário tenha suas demandas supridas por completo”, ressalta. Por falar nessas modalidades de trabalho, ressaltamos que a Unimed Campina Grande subdividiu o setor de Atendimento ao Cliente em “Atendimento” (presencial) e “Teleatendimento” (por telefone); este último foi implantado em 1999 pela cooperativa visando facilitar e estreitar a comunicação entre usuário, prestador e operadora, oferecendo facilidade e praticidade no que se refere ao esclarecimento de dúvidas e autorizações através do Sistema de Atendimento Via Web – SAW. Na época, este constituiu um verdadeiro desafio, uma vez que rotinas administrativas e burocráticas foram modificadas completamente. Atualmente, os setores de


Atendimento Presencial e Teleatendimento contam com dez colaboradores cada. Em cada setor, os profissionais se dividem em dois turnos para abranger o máximo de horário possível à disposição do cliente Unimed. O Atendimento presencial funciona das 7:30 às 18h (sem intervalo para almoço) e o Teleatendimento de 7 às 19h (Também sem intervalo). “Apesar de estes horários contemplarem, quase na totalidade, os atendimentos que os clientes necessitam, a Unimed Campina Grande, atendendo à exigências da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), está em

fase de conclusão dos estudos para expansão dos horários de atendimento para 24 horas por dia, sete dias por semana”, declara a Gerente Administrativa Maria das Graças, mais conhecida como Gal. Outro serviço que a Unimed Campina Grande implantou, antecipando-se às exigências da Resolução Normativa 259 da ANS, foi a Central de Marcação de Consultas, que procura facilitar o agendamento de consultas e procedimentos dos clientes aos médicos cooperados e serviços credenciados. O Sistema identifica, de acordo com a necessidade do usu-

ário, qual médico/serviço possui a disponibilidade de atendê-lo com a maior brevidade possível, não ultrapassando os limites de tempo de espera dispostos na Resolução Normativa. A realidade é dinâmica e o mercado incisivo! As exigências não param de surgir e as mutações no sistema fazem com que nos reinventemos a cada dia. Essa é uma premissa que faz com que a Unimed Campina Grande invista cada vez mais em um atendimento ágil e qualificado ao seu cliente. Ele é o nosso bem maior, e é da vida de cada um que nós cuidamos como se fosse única.


Ponto de vista

O SENTIMENTO UNIVERSAL NA MELODIA SERTANEJA

N

a seca de 1915, uma das mais severas do século passado, todo o desafio do nordestino era embalado por um gênero musical, o baião. Das “incelenças” de novena, dos lamentos dos cegos ao pedir esmolas, das bandas de pífanos, da sonoridade das violas dos cantadores de repente, era a batida do baião que estava presente. Calcula-se que o baião seja tão antigo quanto o sertão que lhe deu berço, com uma história de mais de três séculos entre as manifestações eruditas, sacras e populares na região sertaneja. Em sua essência primitiva, o baião não pode ser considerado uma música alegre, também está muito distante de ser uma expressão triste, mas em seu quadradismo melódico, com marcação determinada, traz o lamento, a saudade e a contemplação como evocação poética, uma manifestação telúrica das raízes do sertão. Melodicamente, o som do baião tem sua sonoridade bem evidente na batida dos violeiros que, na busca de inspiração para o mote, entre um desafio e outro do repente, dão o tempero e a cadência ao toque através de acordes bem característicos. “Eu tenho a impressão que nasci e cresci ouvindo a música da minha terra. É sim, na minha terra 20 | Revista Conviver

“De onde é que vem o baião? Vem debaixo do barro do chão De onde é que vêm o xote e o xaxado? Vêm debaixo do barro do chão De onde vêm a esperança, a sustança espalhando o verde dos teus olhos pela plantação?” De onde vem o baião? - Gilberto Gil a música era o baião; Aliás, em todo o polígono da seca, só se tocava o baião.”, afirmou, certa vez, Humberto Teixeira, cearense da cidade de Iguatú no Ceará, em entrevista para o Museu da Imagem e do Som, um dos importantes compositores e parceiros de Luiz Gonzaga, ao lado de Zé Dantas e Zé Marcolino. Conhecido como “Doutor do Baião” Humberto Teixeira era advogado por formação, poeta, escritor e músico por exercício prático; quando morou no Rio de Janeiro, Humberto era conhecido, no início da década de 40, pela sociedade carioca, por compor em vários gêneros, a exemplo de valsas, toadas, modinhas e sambas, a exemplo do sucesso “Deus me perdoe” em parceria com seu cunhado Lauro Maia, em 1946. Mas é um ano antes, quando conhece Luiz Gonzaga, que Humberto viria a dar um impulso ao baião fazendo-o romper com a fronteira www.cg.unimed.com.br

do regionalismo: “ – Luiz era um caboclo sorridente e falante, conhecido como grande instrumentista e quis me conhecer, já que buscava um letrista que se interessasse pelos ritmos nordestinos” destacava. O Brasil pós Segunda Guerra estava se estabilizando com o crescimento econômico, a industrialização se expandia no sul do país sendo um dos pontos a motivar a migração dos nordestinos . Paralelamente a isso, o som de gêneros musicais estrangeiros à época, como o bolero, o tango e o jazz davam sinais de uma certa saturação, o Brasil precisava ouvir o Brasil. “Podemos dizer que foi arrebatadora a invasão desse ritmo no sul maravilha, Gonzagão e Humberto eram muito antenados, eles tiveram a astúcia de perceber que o baião era a música que aproximava, culturalmente, os nordestinos dos lares que eles tinham deixado para trás” ressalta, Lírio Ferreira, diretor do documen-


Por Ribamildo Bezerra tário “O Homem que engarrafava nuvens” (2010), que conta a historia de Humberto Teixeira e o ápice do baião no Brasil e no mundo. Nas palavras de Luiz Gonzaga, o encontro marcou a redescoberta de um gênero que já existia e que, pela sua riqueza, trazia um universo de possibilidades dentro do universo poético a que se propunha aquela parceria; “O baião já existia como música de folclore, eu o tirei do bojo da viola do cantador; a palavra já existia, uns dizem que vem do baiano, outros que vem de baia grande, ou simplesmente do termo baiar corruptela do verbo bailar. O que não existia era um música que caracterizasse o baião como ritmo”, afirmava Luiz Gonzaga. Curiosamente, a primeira música gravada do gênero, chamada “Baião”, não foi pela voz de Luiz Gonzaga, ainda que ele, juntamente com o Humberto Teixeira, assinassem a autoria da obra. O versos “Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião/E quem quiser aprender/É só prestar atenção” foram interpretados pelo grupo 4 Ases e um Curinga pelo selo Odeon, já que a RCA (selo fonográfico norte-americano em que G o n z a g a gravava seus

discos) não apostava muito na voz daquele que, futuramente, viria a ser batizado como o Rei do Baião. Anos depois, já com o nome consagrado, Luiz Gonzaga foi visitado pelo diretor da RCA, mister Evans, que queria conhecer aquele que ocupava todas as suas prensas de fazer disco, dizem que o americano ao ver aquele caboclo usou um lenço na boca para conversarem. Queria evitar entrar em contato com a saliva do interlocutor, que acreditava ser contagiosa. Para o crítico musical Tarik de Sousa, o baião em muito se beneficiou pelo encontro de Gonzaga e Humberto, “Luiz Gonzaga era o perfil popular, um cantor de multidões afinado com os anseios da sua gente, já Humberto Teixeira era um literato, somou muito do seu eruditismo para construção de obras que deram ao baião uma significação poética jamais vista”. De fato, as primeiras músicas gravadas do gênero por Luiz Gonzaga traziam ousadas inovações, a exemplo da presença da sanfona que substituía a rabeca, regionalmente utilizada e com sonoridade similar ao lado da viola. O lirismo, presente na poesia de Humberto, chegou a dar um caráter épico a algumas composições da dupla, a exemplo da saga Asa Branca (1947), Juazeiro(1949) e Assum Preto (1950). “Humberto fazia uma música poética de primeira ordem salpicando um pouco de cidade grande com o Sertão”, costumava afirmar Luiz. O baião logo se tornou a coqueluche nacional www.cg.unimed.com.br

no início da década de 50, onde a imprensa da época reconhecia não haver motivo para negar a forte influência desse gênero junto ao gosto popular. É nesta época que Luiz Gonzaga grava o registro da consolidação do Baião, como gênero nacional, a música a Dança da Moda, já em parceria com Zé Dantas ; No Rio tá tudo mudado/ Nas noites de São João/Em vez de polca e rancheira/O povo só pede e só dança o baião... A parceria com Zé Dantas deu ao baião um caráter mais politizado, pela abordagem social, evocando problemas do Nordeste, aumentando ainda mais a recepção dos nordestinos para esse gênero musical. Músicas como “A Volta da Asa Branca”, de 1950, “Aldogão” e “Vozes da Seca”, de 1953, e “Paulo Afonso”, de 1955. Além dessas, a dupla fez “Vem, Morena”, em 1949, “Cintura Fina”, em 1950, “O Xote das Meninas” e “ABC do Sertão”, em 1953, e “Riacho do Navio”, em 1955, num total de 43 composições. Para Luiz Gonzaga, o parceiro Zé Dantas veio potencializar, ainda mais, o crescimento do baião no Brasil, “Zé Dantas era puro, era autêntico, era o Nordeste vivo, tinha cheiro da terra”, costumava ressaltar. A época dourada do baião transcorreu, aproximadamente, de 1945 a 1955, período em que Luiz Gonzaga conquistou e consolidou uma imensa popularidade, tanto nas zonas rurais, como nos centros urbanos do país. Esse gênero musical chegou a ser gravado por ilustres nomes da MPB, a exemplo de MarRevista Conviver

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Ponto de vista lene, Emilinha Borba, Ivon Curi, e até Carmem Miranda. A cantora Carmélia Alves foi aclamada como a “Rainha do baião” e, Luiz Gonzaga, o Rei. Pouco depois, Claudete Soares tornou-se a princesa e, Luiz Vieira, o príncipe do baião. No exterior, chegou a ganhar imitações, no filme italiano “Arroz amargo” de 1949, a atriz italiana interpreta a música “O baião de Ana” de autoria dos seus conterrâneos V. Roman e F. Gionda. Em 1953, a música do filme “O cangaceiro”, baseado no baião “Muié rendeira”, recebeu a menção especial no festival de Cannes na França. Houve ainda um caso escanSobre Baião, Forró e Blues Mesmo tendo gravado em 1949 a música “Forró de Mané Vito” o termo forró ainda não se referia a um gênero musical. O nome Forró era usado só para designar o local onde aconteciam os bailes e só mais tarde foi caracterizado como estilo musical, derivado do Baião. Na definição de Luiz Gonzaga, Forró é baile de ponta de rua, dentro da zona boêmia, de letra provocante e geralmente insultuosa, contando proezas e valentias. A diferença básica apontada por muitos músicos quando indagados sobre a diferença entre o Baião e o Forró é que a batida do Baião é mais “quadrada”, ou seja, tem menos balanço que o Forró que, também pela introdução da guitarra, e mesmo da bateria na sua orquestração, possi22 | Revista Conviver

daloso em que a jazzista norte-americana Peggy Lee gravou Wandering Swallow, um plágio do baião Juazeiro sem os devidos créditos aos seus criadores. Os autores da versão em inglês disseram ter se inspirado no folclore, algo que o advogado Humberto Teixeira se mostrou tão competente quanto compositor que era, para resolver a questão. Outros baiões ganharam versões estrangeiras com menos tumulto. Asa Branca, por exemplo, pode ser cantada em inglês; Paraíba, até em japonês. Para Gilberto Gil, músico assumidamente apaixonado pelo baião, este gênero chegou a influenciar até mesmo a bossa nova

“Desconfio que até a batida de João Gilberto seja devedora ao baião, e para quem pensa que este gênero morreu, é bom lembrar que o baião vai se renovando a cada volta da história do Brasil”, pontua. Para seu maior divulgador, o baião nunca irá morrer, pois este é o caminho mais belo que o sertanejo tem para decantar o seu povo e a vida da sua gente “... os trabalhadores, o campo, as coisas bonitas e fortes do nosso sertão. A influência do baião estará presente mesmo nos novos ritmos, desde que a descrição da realidade do sertanejo seja fiel e telúrica, essa é a maior herança do baião”, afirmava seu Lua.

bilitou que a música se “mexesse” mais, na prática o forró já nasce um gênero musical dançante. Para Dominguinhos, tido como um dos herdeiros de Gonzagão, Um dos motivos que Dominguinhos expressa como empecilho para que hoje não se esteja mais tocando Baião, é justamente o fato de as pessoas não saberem o que é o Baião e o que é o Forró. É justamente aí que está a perda da “memória”, ou seja, as pessoas perderam o referencial. É com o blues, gênero musical do sul dos Estados Unidos, que o baião também impressiona, tamanha é a similaridade poética e sonora existente nesses dois gêneros musicais. Os negros que deixaram o campo e partiram para a periferia das grandes cidades americanas como Chicago, Memphis e a região do Delta do rio Mississipi, nos esta-

dos de Arkansas, também cantavam a distância de casa real ou metafórica permeada por uma lúdica saudade. Assim como no baião, a esperança da volta às raízes, edificada pelos migrantes nordestinos, também era cantado de forma eloquente pelos cantores de blues que traduziam o clamor de muitos ex-escravos, esperançosos pelo retorno à vida no campo. Baião e blues também se baseiam em um acorde que não se resolve, se sustentam na instabilidade. A harmonia é trabalhada para fins expressivos, evitando maiores ousadias na escala musical; em outros tipos de canções, geralmente ocorre um fechamento do tema, a sensação de ponto final; com o baião e o blues, não, predomina a instabilidade, o último acorde fica no ar, continua suspenso, uma volta para casa nunca concretizada.

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Ponto de vista

Luiz Gonzaga A VOZ QUE REDESCOBRIU O

O

Por Francisco de Assis Costa

NORDESTE

Nordeste e o Brasil unem os seus segmentos culturais para a comemoração do centenário de nascimento de um dos seus mais preciosos talentos dentre tantos outros que também deixaram marcas indeléveis na luta pelo reconhecimento dos nossos valores, tantas vezes renegados e até ridicularizados. Isto por falta de quem mostrasse que o Nordeste não era apenas povoado por cangaceiros pavorosos, coronéis radicais reprimindo uma gente sofrida e sem qualquer importância no cenário político, econômico social e cultural nos anos 30 do século passado. Refiro-me ao extraordinário menino prodígio Luis Gonzaga do Nascimento – Rei do Baião – Gonzagão. Nascido no amanhecer de uma sexta-feira, 13 de dezembro de 1912, num

casebre humilde na Fazenda Caiçara, no pé da serra do Araripe, próximo ao riacho da Brigida, atual município de Exú – Pernambuco. Muito cedo Luiz Gonzaga começou a freqüentar tudo que era festa na região localizada nas divisas do oeste de Pernambuco com o Ceará. De novenas aos famosos “sambas”, como eram conhecidas as improvisadas festas de forró. Ali, os trabalhadores faziam promessas e pediam ajuda aos santos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro) para que lhes protegessem com boa colheita de feijão de corda, milho verde, mandioca e algodão. Aí as coisas “melhoravam” para o “Mestre Januário”, pois, contando com boa safra, os festejos eram multiplicados com bailes todos os finais de semana. Luiz com seis ou sete anos foi flagrado pelo pai bolindo com as sanfonas guardadas em um quartinho anexo ao casebre. Foto: Acervo Museu Um namoro as escondidas com a jovem Nazarena. Milfont (Nazinha) provocou sério constrangimento culminando sua fuga de casa aos 18 anos incompletos para Fortaleza. Lá após aumentar a idade para 21 anos alistou-se no 23º Batalhão de Caçadores, onde após percorrer vários estados ganhou o apelido de “Bico de Aço”. No estado de Minas Gerais conheceu vários artistas que o ensinavam e o incentivavam a aprimorar-se na arte de towww.cg.unimed.com.br

car acordeom, já que como o seu pai, dominava foles de oito baixos, muito mais difícil de ser dominado. O apoio moral do coronel Manoel Aires de Alencar, advogado e político, dono da fazenda Gameleira, no Araripe que ordenou suas filhas a ensinar o adolescente Luiz Gonzaga a ler e escrever. Somando-se a este gesto, outros estudos na escola de Escoteiros do sargento Aprígio da PM do Rio de Janeiro, que residiu pouco tempo ali. Servindo ao exército em plena revolução de 30, Luiz Gonzaga, muito admirado pela sua espirituosidade e fino humor, também tinha uma verdadeira paixão por Virgolino Ferreira da Silva, o famoso capitão Lampião (1898-1938), rei do cangaço, verdadeiro herói dos meninos do sertão. Daí, anos depois a razão dele ter caracterizado as suas vestimentas como os cangaceiros nordestinos. Foi esta transformação que mudou a vida de Luiz Gonzaga para o mundo artístico, ate então nunca inventada. Ao desembarcar no Rio de Janeiro em 1939, Luiz Gonzaga, já fora do exército, recebeu abrigo no Batalhão de Guardas. Deveria ficar ali esperando embarque no Loyd Brasileiro para o Recife até chegar de trem ao Crato, menos de 70 quilômetros de Exú. Não tinha planos de ficar no Rio de Janeiro, e nem tão pouco tentar a vida artística, embora fosse proprietáRevista Conviver

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Ponto de vista rio de uma linda sanfona de 80 baixos. Um amigo o viu limpando a sanfona e falou de um ambiente no Mangue, onde o futuro artista poderia ganhar dinheiro, na então Capital Federal. Descoberto pelo guitarrista Xavier Pinheiro, dono do ponto que ele ocupou, passou a acompanhá-lo. Xavier o levou para morar em sua casa no Morro de São Carlos. Este instrumentista, também conhecido por Baiano, logo se tornou novo mestre e protetor de Luiz Gonzaga. Foi ele quem ensinou os truques de ganhar dinheiro na vida noturna nos cabarés do mangue carioca. Os programas de calouros nas rádios, a partir de 1940, eram sucessos e verdadeiros celeiros de revelações artísticas em todos os ritmos e gêneros. O apresentador mais importante era Ary Barroso. Foi no seu programa, que Luiz Gonzaga despontou como instrumentista, apenas tocando sanfona. Ele só veio ser admitido como cantor em 1946/47, após superar vários degraus, testes, desafios e imprevistos, até atendendo exigências de estudantes nordestinos do Ceará que ameaçaram não lhe darem ajuda caso não tocasse coisas do (sons) de música do “pé de serra”. Dias depois ele ensaiou o que memorizou do pai e surpreendeu o estudante cearense Armando Falcão e outros cearenses e pernambucanos com uma mistura de chamego na sanfona que quase botam no chão o frequentado cabaré naquela marcante noite. Um “olheiro” da gravadora Americana RCA Victor vinha seguindo as suas apresentações e o apontam como grande revelação 24 | Revista Conviver

naquele momento em que a música internacional perdia espaço. Contratado, Luiz Gonzaga começou a se bater com os diretores de Rádios e produtores que não admitiam vê-lo cantando, mas só tocando. Prudente, aceitou e venceu seus algozes. Seu sonho era encontrar um letrista (compositor) para o gênero musical que pretendia propagar a partir do Rio de Janeiro chegando aos ouvidos dos nordestinos que naquela época povoavam a então Capital Federal e São Paulo. Lauro Maia o levou ao advogado cearense Humberto Teixeira e logo os dois firmaram uma exitosa parceria de sucesso com a fenomenal Asa Branca, Meu Pé de Serra, Juazeiro, entre outras músicas inesquecíveis. A parceria explodiu e se firmou com a chegada do seu conterrâneo Zé Dantas, que produziu A volta da Asa Branca, letra I, Riacho do Navio, Xote das Meninas e músicas com motivações para os festejos juninos do Sul ao Nordeste. Com o ascendente sucesso, Luiz Gonzaga atraiu outros compositores nordestinos como Miguel Lima, João Silva, Zé Marcolino, Onildo Almeida,Severino Ramos, Antonio Barros, Zé Clementino, Jandui Filizola, Raimundo Grangeiro, João do Vale, Luiz Bandeira, Dominguiwww.cg.unimed.com.br

nhos e o seu filho Luiz Gonzaga Junior, o “Gonzaguinha” grande orgulho e herdeiro, porém faleceu dois anos depois de sua morte. Desta legião de compositores foram gravadas 675 músicas em 52 anos de vida artística, além de compor 30 músicas sozinho, gravadas por ele e outros intérpretes. Também participou de mais de 50 discos de outros cantores nordestinos influenciados e lançados diretamente por ele ao longo da vida encerrada em 2 de agosto de 1989, aos 76 anos de idade. Como grande reconhecimento do seu valor, em 2000 o povo de Pernambuco escolheu Luiz Gonzaga como o “Pernambucano do século”. Também, o ex-presidente Lula, sancionou uma Lei Federal de autoria da paraibana Luiza Erundina, declarando o dia 13 de dezembro data do nascimento do famoso Rei do Baião- Luiz Gonzaga , como o dia nacional do forró. Sem a existência de Luiz Gonzaga não se contaria com o milionário acervo da música popular nordestina e brasileira. E, muito menos, a legião de músicos que surgiram e se revelaram grandes talentos artísticos a partir do que propagou, produziu e defendeu por mais de 50 anos Luiz – Lua – Gonzaga – O Gonzagão.


Ponto de vista

Por Ribamildo Bezerra

Minha sanfona minha voz o meu baião Este meu chapéu de couro e também o meu gibão Vou juntar tudo dar de presente ao museu É a hora do Adeus De Luiz rei do baião Hora do Adeus - Luiz Gonzaga

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Ponto de vista

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a mitologia grega, as Musas, divindades que inspiravam as artes, possuíam um templo próprio chamado museum, palavra do latim, de onde derivaria o termo museu. Esses espaços se justificam como depositários da memória de um povo. E é pelas memórias do professor José Nobre de Medeiros, ou simplesmente Zé Nobre, que mergulhamos numa extraordinária história de admiração, que se transformou em amizade, e que, tendo como cenário Campina Grande, consolidou-se num compromisso de preservação memorial, materializado na criação do Museu Luiz Gonzaga . Sendo hoje um dos espaços mais visitados por turistas e pesquisadores, o museu paraibano guarda, ainda, uma das mais importantes coleções de discos de Luiz Gonzaga de todo País, compreendendo todas as fases da discografia dele, desde o disco de 78 rotações por minuto (os rpm com duas músicas), os acetatos (disco: propaganda de produtos, jingles políticos), discos 10 e 12 polegadas, de 33 rotações (os LPs de 8, 12 músicas), e compactos simples e duplos (2 a 4 músicas), de 33 e 45 rpm. Além da importante discografia, iconografia e fonografia do Rei do Baião, o Museu Luiz Gonzaga de Campina Grande (PB) guarda, ainda, preciosas coleções completas e incompletas de discos de diversos artistas brasileiros, especialmente os de origem nordestina expoentes da MPB: Jackson do Pandeiro; Marinês; Dominguinhos; Trio Nordes26 | Revista Conviver

tino; Zé Calixto; Genival Lacerda; Ary Lobo; Os Três do Nordeste e diversos outros cantores, compositores e músicos. Mas essa história tem início nos idos dos anos de 1954, na cidade de Currais Novos no Rio Grande do Norte. O município conhecido como a capital brasileira do minério xelita, um componente de ligas especiais de largo uso industrial, foi o berço cultural do menino Zé Nobre que lapidou o seu gosto musical, escutando sucessos de Luiz Gonzaga, Chico Alves, Vicente Celestino, Augusto Calheiros, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, através da difusora do Mercado Público. Luiz Gonzaga e seu pai, Januário, já eram figuras conhecidas na região, isto por que o pai do Rei do Baião tocara fole na Fazenda Barra Verde, de propriedade de Tomaz Salustino, Juiz de Direito, Desembargador, Vice-Governador de Estado, um dos pioneiros na exploração de xelita em Currais Novos. Mas, naquele ano de 1954, algo chamara a atenção do garoto Ze Nobre, e não era necessariamente o show do Rei do Baião no coreto da Praça Cristo Rei de Currais Novos, “Fiquei impactado com a figura do anão Oswaldo, ritmista e percussionista de Luiz Gonzaga, também conhecido como Salário www.cg.unimed.com.br

Mínimo que, vestido como um cangaceiro, dançava xaxado em cima de uma camionete, anunciava o show de logo mais; era primeira vez que via um anão dançar daquele jeito. Hoje, passados tantos anos, percebo a grande noção que Luiz Gonzaga tinha do Marketing, quando nem se conhecia esta palavra”, destaca. A cidade do Recife seria, na vida do já rapaz José Nobre de Medeiros, outro ponto de proximidade junto à vida do Rei do Baião. Prestando serviços na ex-Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, SUDENE, ele passa a ver, com mais frequência, o seu ídolo junto àquela autarquia: “A Sudene tinha a missão de desenvolver a região nordestina, e, como Luiz Gonzaga era a expressão maior da nossa música, ele tinha livre trânsito na autarquia, a ponto de ter carro e motorista à sua disposição para andar pela região e divulgar os seus trabalhos e empreendimentos desenvolvidos no Nordeste”, lembra. A partir de 1973, viajando pelos estados do Nordeste, pela Companhia Nordestina de Sondagens e Perfurações, CONESP, subsidiária da Sudene, Zé Nobre começa a adquirir os discos de Luiz Gonzaga. No começo, apenas como fã-colecionador da obra do Rei do Baião.


No ano de 1988, Zé Nobre, já homem casado pai de filhos e filhas, vivendo em Campina Grande, decide ir ao encontro de Luiz Gonzaga, no Hotel Ouro Branco, a intenção era dar-lhe, de presente, uma asa-branca, esculpida em mármore, para o acervo do museu dele do Parque Aza Branca em Exu – PE. O Rei do Baião agradeceu comovido pela gentileza do fã. Em seguida, faz uma proposta inusitada. Ele pergunta a Zé Nobre se ele poderia ir a Exu (PE) num prazo de quinze dias. – “É o seguinte, você num veio me dar uma asa-branca para o Museu do Baião? Vamos fazer o seguinte: eu vou lhe dar o museu todinho para você montar aqui em Campina Grande. Tá bom assim?” Zé Nobre não acredita no que ouve: – “Mas mestre, quem sou eu para assumir tamanha responsabilidade?” Na oportunidade, o sobrinho de Luiz, Joquinha Gonzaga, estava de testemunha. E em 1990, na festa do aniversário de Luiz Gonzaga, no Parque Aza Branca de Exu, Joquinha Gonzaga recordou às tias desse fato envolvendo Zé Nobre e Luiz Gonzaga: – “Pia, tia, o homem que tio deu o museu lá em Campina foi esse aí. Mas saiba que, se tivesse vindo, não levaria o museu não, viu?”

Embora o museu do Exu, felizmente, não tenha sido transferido para a Paraíba, Zé Nobre aproveitou esse impulso inicial, e resolveu concretizar o sonho do seu museu próprio, providenciado a sua instalação em área de sua propriedade, onde reuniu o acervo que guardava em casa. Localizado no bairro do Cruzeiro, na Rua Presidente Costa e Silva, quem chega ao Museu Luiz Gonzaga, se depara com três estátuas de aproximadamente 1,90cm de altura pesando 800 kg cada uma,

“É o seguinte,

você num veio me dar uma asabranca para o Museu do Baião? Vamos fazer o seguinte: eu vou lhe dar o museu todinho para você montar aqui em Campina Grande. Tá bom assim?” www.cg.unimed.com.br

representando a tríade da cultura e fé nordestina, Luiz Gonzaga, Padre Cícero e Frei Damião. Ao entrar no Museu o visitante encontrará, à disposição, um acervo de 200 quadros que mostram a história da música nordestina, com discos originais e fotos em alta resolução que contam a história de Gonzaga em momentos especiais, inclusive em comerciais. Objetos pessoais do Gonzagão, desde o inconfundível gibão à inseparável sanfona, podem ser apreciados em perfeito estado para alegria dos visitantes. Todo um acervo de áudio e vídeo nos ajudam a entender quem era a pessoa por traz do mito do Rei do Baião; são arquivos raros da década de 50 até a atualidade, que contam a história da música popular nordestina e como o rádio acabou sendo um importante meio para consolidação da nossa musicalidade. O sanfoneiro e cantor Dominguinhos é um dos grandes colaboradores do Museu Luiz Gonzaga paraibano, hoje reconhecidamente uma das principais entidades brasileiras de preservação, fomento e difusão da vida e obra de Luiz Gonzaga, ao lado do Museu Aza Branca, em Exu (PE) e do Memorial Luiz Gonzaga do Recife (PE). Revista Conviver

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|Natureza Médica|

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elas ruas pelas quais andamos, estamos sempre em busca do tempo perdido. Por certo, somos feitos muito mais de coisas idas, bem pouco de coisas de agora, em nada de coisas que virão, estas ainda suspensas na atmosfera da espera e do destino. Para Proust, que escrevia com palavras de letrado, na passagem do tempo dos homens, a natureza do coração é de desejar coisa diversa da que vai possuir. Assim, faz-se o tempo perdido das pinturas e sentidos dos desejos por coisas que se foram. Ter saudade é o desejo de se buscar o que nessa ida do tempo se perdeu, do que se quis e não se pôde, do que se teve e logo esqueceu. Perder, quando não magoa, ao menos sugere um princípio de melancolia; faz-nos esperar que centenas de sabiás voando na superfície de espera e destino carreguem nosso psiu, nossa súplica, para as ilusões que pelos caminhos do mundo se distanciaram de nós; ou impele, à natureza do coração, promessas de retorno ao sertão que havíamos deixado sob o sol de nossos sonhos; ou ilumina nossos olhos com a luz dos amores que partiram roubados nas asas de um assum. Lembrar é exercício da memória, restauração de nós mesmos no passado que ressurge em átimos 28 | Revista Conviver

“Ai quem me dera voltar pros braços do meu xodó Saudade assim faz roer, e amarga que nem jiló. Mas ninguém pode dizer que me viu triste a chorar... Saudade, o meu remédio é cantar!” Que nem Jiló - Luiz Gonzaga inalcançáveis. Tal como o fazem os museus, nos afeta o olhar, nos aguça a visão, com suas reminiscências de cores e movimentos e cenas. Faz-nos rir; nos faz chorar. E passam as lembranças como quando terminamos o corredor da exposição, ou fechamos o álbum de retratos, e voltamos ao pouco que somos das coisas de agora. Saudade, arte da memória em reacender desejo e sonho, subverte a matéria sólida dos homens, e atinge-lhes o coração. Feito lâmina, corta, feito escassez, dá fome, feito seca, dá sede, feito ressaca, dá desgosto, feito arrebentação, finda. Saudade faz doer. Amarga feito o jiló que engana a sede, engana a fome, de desejo do que nem é mais de se ver, de se tocar. Traz, ao homem letrado, suswww.cg.unimed.com.br

piros de nostalgia, deixa o matuto doido a sofrer, ambos querendo o que não se tem, lamentando a falta do amor ideal, da estória sem lacuna, os braços calorosos do xodó. Todos têm de algo que ficou, ou de algo que partiu, o exato desejo, o mesmíssimo gosto, entremeado entre as lembranças, guardados no silêncio das ausências. Ter saudade é nos sabermos perda. Sabermo-nos da vida efêmera, da vida que passa, do rosto que foi moço, do braço que foi forte, da cabeça que foi astuta, da alma que ansiava. Saudade é a chuva que não veio em setembro, em outubro, em novembro, na reza do plantador. É chão que, de tão árido, rachou, pé de milho que, de tão seco, desistiu. Mas, quem nunca se cortou,


Por Dr. Flawber Cruz | nunca sentiu-se de fome, de sede; quem nunca se desgostou, quem nunca se findou, ou findará? Quem diz nunca ter saudade, que destino e que espera terá? Pois que o futuro, timidamente, se abre de penumbra e murmúrio, enquanto o passado já tilintou no ar sanfona e zabumba na festa de roçados que esverdearam, de açudes que ingurgitaram, de amores que se batizaram de chuva. Saudade é fogueira bem acesa, ronco de trovão, chão bem molhado, cheiro de quem se dançou o primeiro baião, saliva de primeiro beijo, barriga de mulher prenha, choro de menino nascendo, abraço do derradeiro amigo, apelo de mãe, permissão de pai, lamento de partir, jura de voltar. Saudade é teima em não querer passar, é a astúcia de desenhar, nas lembranças, a continuidade do menino no homem, o retorno do silêncio ao xote. A eternidade do pai na substância do filho. Para Gonzaga, que cantava com palavras de matuto, a saudade se faz boa quando o homem se lembra só por lembrar, e assim não se sofre, não se destoa a cantiga. Do matuto Gonzaga, ao intelectual Proust, saudade de um lado geme à espera do erro, do amor partido, da ilusão velada. Mas, em sendo saudade, peleja contra o que se perdeu, apenas perde quem ganhou, ou tentou ganhar. Assim, de outro lado, saudade é cantiga de paixão que aquietou, de semente que germinou, de reencontro da gente com quem a gente havia se acostumado a viver.

“Saudade é

cantiga de paixão que aquietou, de semente que germinou, de reencontro da gente com quem a gente havia se acostumado a viver”

se teve do bom da vida. Do nostálgico, ao que se rói da vontade que se foi, saudar-se com o passado é querer um tanto de bem da nossa história, dando fartura a quem poderemos ser, dando estiagem a nossa descrença, dando inverno para a semente de nossas promessas. Esta vida de quando em tempos a terra arde, a água falta, a fome é feroz, de quando em tempos resEm parte, a medida da vida é ta de coragem e cara, esta vida de de lembrança e saudade. Enquan- quando em tempos avançamos feito lembrança se pode ter de tudo, to rês desgarrada, tem seu remédio, saudade apenas se tem do que foi e seu aconchego, no gemido da sanbom. Quanto mais saudade, mais fona, em cantar-se de saudade.

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|Entrevista|

Nosso patrimônio

*A presente entrevista é um registro do Jornal Diário da Borborema, publicada no ano de 1979 e organizada por Ribamildo Bezerra, especialmente para a edição 16 da Revista Conviver.

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Por Ribamildo Bezerra*

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expressão “cantar primeiro” ou “cantar a pedra”, traz, em seu contexto, divagações sobre acontecimentos futuros. No dia 26 de junho de 1979, o Jornal Diário da Borborema publica uma entrevista com Luiz Gonzaga, intitulada “Luiz Gonzaga quer ajudar o sanfoneiro, o músico e o turismo de Campina Grande”. Trata-se de um diálogo mantido com o futuro, uma ponte com a nossa contemporaneidade, que mostra o quanto de visionário tinha o Rei do Baião. Temas como o duplo sentido no forró, e até a erotização na música são abordados de forma direta como era o jeito do seu “Lua”, quem seria seu sucessor, e os caminhos trilhados por Gonzaguinha também são temas abordados neste registro que se mostra mais atual do que nunca. Luiz ainda fala do filme “O ninho da Asa Branca”, projeto que não chegou a ser concretizado, e ainda da sua influência para apaziguar um capítulo triste escrito na cidade de Exu (PE): a sangrenta disputa política entre as famílias Alencar e Sampaio. Briga essa que motivou a ida da família Gonzaga para o Rio de Janeiro em 1949. Graças ao arquivo do Professor José Nobre de Medeiros, e o apoio na transcrição de Heloisy Medeiros, a Revista Conviver traz esse documento jornalístico materializado num diálogo entre o passado e o presente, e o que se eterniza, são os ecos de tudo aquilo que fazemos ou falamos visando ao bem comum. Luiz Gonzaga sabia disso:

DB: Como você encara a colonização cultural através da música? LG: “Você sabe o que é dinheiro, tem pessoa que faz até negócio, eu não digo um punhado, meia dúzia de dólar, vendem até a alma. Mas eu acho que eles não estão fazendo mal assim a nós, porque quando um país está querendo evoluir, progredir, prosperar, os governos, os jornais, está faltando é investimento, é capital estrangeiro. O que está faltando é capital estrangeiro, chega o capital estrangeiro, aí se resolve tudo, se planta, os governos dão tudo. A RCA, onde eu gravo há quase 40 anos, é uma bruta de uma multinacional, mas entrei lá analfabeto, ou semi-analfabeto. Consegui aprender a tocar lá dentro, a cantar, fui cartaz, continuo a cantar lá dentro. Consegui uma situação boa graças ao disco, e a RCA ainda é multinacional, então sou eu que vou dizer: bota pra fora, bota pra fora esses gringos?

Não... vamos é viver bem com eles, de comum acordo. Agora o que existe é o mal brasileiro, mal informado, desassociado, que fica ai tocando tudo quanto é bagulho importado em detrimento do que é nosso, aí eu vejo um mal muito forte contra nós. Agora os gringos estão aí caladinhos, o que eles fazem questão é dos números, eles não dão nem palpite”.

‘‘...riqueza

DB: Você está em plena forma conforme atestam seus últimos trabalhos. Se parasse agora encerraria sua carreira ciente de ter dado sua contribuição relevante à música popular brasileira? LG: “Sim, já me sinto assim, e não é de hoje, mas a questão é que o povo brasileiro com a sua generosidade continua me prestigiando, e a prova está aí, olha eu aqui de novo. Então, a bondade não é minha, porque eu estou cantando pior, mas eles acham que eu continuo bom, então o brasileiro é um bom caráter, obrigado, mande mais tutu para eu ganhar.”

é uma vaidade, é um estado de espírito, é uma besteira’’ www.cg.unimed.com.br

DB: Dizem que foi Gilberto Gil quem relançou você numa época em que sua música era considerada cafona... LG: “Que foi, foi, tanto ele como Caetano, como João Gilberto, como muitos outros baianos aí, você sabe que é muito bacana saber que essa juventude universitária que entrou na música, entrou com força, com muito Brasil dentro deles, reconhecendo os valores velhos. Ah!, isso foi maravilhoso, e eu fui beneficiado... obrigado, Gil... obrigado, Caetano... Gal... obrigado, Maria Betânia... minha bichinha... sucesso danado”.

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Nosso patrimônio DB: Como você vê as músicas de duplo sentido, já que você é cantor nordestino e não faz esse gênero? LG: “Não, às vezes eu dou uma apelaçãozinha, assim de forma que eu acho válida. Você sabe que tem por aí produtos que, para aparecer, botam mulheres nuas, ou apresentando assim um pedacinho das partes, num chega a mostrar as partes em sua totalidade, mas mostra uma beradinha, porque nós nordestinos não vamos apelar dentro daquilo que nós sabemos fazer, então é válido. Agora quem não pode apelar sou eu, nem devo”. DB: Falam os jornais de Pernambuco que você pretende encerrar sua carreira no próximo ano, com um filme autobiográfico e a implantação de um centro de turismo em Recife, para apresentação de música regional... LG: “Tenho algumas coisas em vista, já encaminhadas, estou regressando. Estou preparando uma propriedade em Exú, deve estar quase pronta, com coisas essenciais para funcionar aquilo que eu pretendo criar, aqui como Manoel da Carne de Sol que tem uma fazendinha, com um gadinho, eu também tenho a minha, estou com uma indústria de farinha, de feijão enlatado, feijão de corda, estou criando um gadinho em Santa Gertrudes, vou criar um estilo moderno de animais. Estou nesse sistema lá em Exú para manter no Recife a casa que vou instalar, restaurante, forró, comendo no centro, e também um estúdio que a RCA pretende montar, um estúdio para gravar com os caboclos do nordeste inteiro. E eu não tenho muito tempo 32 | Revista Conviver

“Então o

brasileiro é um bom caráter” para esperar, que já estou meio velho, com 67 anos, então daqui para oitenta que tenho de fazer uma lenha danada”. DB: Como vai o filme “O ninho da Asa Branca”? LG: “É o filme que vou rodar em Exú, vamos fazer as primeiras tomadas agora na missa do vaqueiro, e depois vamos rodar o filme a partir de setembro, vou fazer um filme de doze a quinze milhões, esse dinheiro não é meu não. Tenho quarenta dias para fazer este filme. Um sertão maravilhoso, sertão alegre, espirituoso, cheio de música, inteligente, moças bonitas, o sertão e Luiz Gonzaga, é como será o filme”. DB: Gonzaguinha está acontecendo no cenário nacional? O que ele leva do pai, Luiz Lua Gonzaga, no campo da música? Você deu a mão a Gonzaguinha ou foi o talento dele? LG: “Não, o Gonzaguinha nasceu com música no sangue, eu dei o berço. Então ele é um rapaz que segue o caminho dele, a trilha dele. Você ouvindo as músicas dele percebe isso, que foi criado com liberdade. Agora é que estamos encostando um no outro – você é bom velho, mas eu também sou, mas eu gosto de você – eu digo – eu também te amo. A ideia de cantarmos juntos foi dele, dei liberdade para ele organizar da maneira que quiser, www.cg.unimed.com.br

tem até um erro na gravação que eu disse vamos fazer outra?... ele disse, não, vai assim ora, tem muita coisa que o senhor fez por aí e deu certo. Eu disse – inclusive você”. DB: Nas brigas da família Alencar e Sampaio você quis apaziguar a situação. Deu resultado? LG: “Deu, mas não que eu fosse o autor do resultado positivo, foi sorte minha o que aconteceu para desgraça dos outros. Dr. Eraldo Gueiros, ex-Governador de Pernambuco, antecessor de José de Moura achou que eu, como filho de Exú , como artista conhecido no Brasil inteiro, possivelmente, daria resultado eu regressando a Exú e olhasse esses problemas. Mas não sou doutor, não tenho cultura, não sou político. Então ele disse, não, a sua presença lá, veja os problemas mais fortes e fale pra mim. Eu fui, encontrei boa receptividade”. Mas não fui o pacificador de Exú, foram o próprios acontecimentos que deram resultado”. DB: Quem será o seu sucessor no baião? LG: “Dominguinhos, eu acho o mais chegado a mim, não por ser o mais talentoso, e para substituir Luiz Gonzaga eu não procuraria um talento, um músico só por ser bom, só por ser espetacular. É a pessoa dele, a maneira de amar o Nordeste, o carinho que ele tem de tocar o forró criado pelo velho”. DB: Você que conhece muito deste Brasil, como vê a política e a situação do país? LG: “É como aquele cabra de lampião que a polícia de Campina Grande estava no encalço dele para prendê-lo e matar. De ordem para


matar o homem porque ele tinha mais de vinte crimes nas costas, para matar o homem de uma maneira que não assustasse a ninguém, e não matasse covardemente para salvar o bom nome da polícia paraibana. Descobriram que ele fazia feira aqui, todo sábado ele estava aí, a policia investigou, pegou o homem, mas o homem sabia que no dia que a políicia botasse a mão nele devia morrer, mas o cabra era valente demais, ele também achava que devia muito além até que se matasse não era covardia não. Então, quando a polícia o descobriu na feira, combinaram para não matar, mas surrá-lo até o quartel, e quando ele chegar no quartel, se ainda estivesse vivo -– morre depois, mas não fomos nós que matamos. Então, quando botaram a mão nele disseram – você está preso – agarraram o homem e o pau comeu. Vinha o povo atrás, a meninada, e o pau pá... pá... pá... e ninguém protestava. De repente apareceu uma mulher no sobrado e disse – mas que covardia; dar num homem preso desse jeito – aí o preso olhou para ela e disse – deixe dona, como vai... vai bem?” DB: O que você pensa do presidente João Batista de Figueiredo? LG: “Olha eu não conhecia não. Conhecia o pai dele, mas depois que ele foi lançado, ora, você acha que o General Geisel ia lançar um cara que não tivesse capacidade, o próprio Geisel foi lançado pelo Médice, então, está provado que o homem é genial, estou encantado pela personalidade dele. O homem que não gosta de cavalo não gosta de mulher também não”.

DB: Você acha que a música terá melhoria neste governo, que diminuirá a entrada da música estrangeira no país, como é um dos propósitos do Ministro da Educação? LG: “Se ele acabar com a música estrangeira, eu vou ficar com pena dele. Se acabar com a música estrangeira como é que nós vamos saber em que grau estamos. Deixa ela aqui, é como o Nordeste, temos seca, mas precisamos dela para brigar e vencermos a parada. Agora acabar com um troço para a gente não ter com quem brigar. Se ele acabar com o excesso aí eu vou aplaudir. Deixa os gringos aí, agora vamos arroxá-los”. DB: Você se considera um homem rico? LG: “Olha, a riqueza é uma vaidade, é um estado de espírito, é uma besteira. Tem muito nego rico que não está ligando para isso e tem

“Tem até um erro na gravação que eu disse, vamos fazer outra?... ele disse, não, vai assim ora, tem muita coisa que o senhor fez por aí e deu certo. Eu disse – inclusive você – .” www.cg.unimed.com.br

muito nego na miséria se achando que é rico. Eu tenho uma besteirinha pra deixar os meninos, agora os meus filhos são tão maravilhosos que eu nem penso em deixar para eles, eu penso nos meu netos”. DB: Como você sente este amor brasileiro por tudo que você fez e continua fazendo pela nossa música? Encerrando a carreira dará a mão para alguém que queira seguir seu estilo? LG: “A RCA resolveu montar um estúdio em Pernambuco por uma má criação que eu tive a coragem de soltar para eles. Eu disse que ia parar o ano que entra, quarenta anos de música na RCA mas levava uma grande mágoa comigo, de não ter criado na RCA um nome, um cartaz, um artista, um colega do meu gênero, e citei Abdias como o elemento que foi levado do Nordeste por mim e ficou no meu conjunto uns tempos com Marinês, depois entrou na CBS como produtor e hoje é solista de oito baixos. Já criou mais de vinte cartazes, faz uma média de oito a dez LPs no ano, ?então um auxiliar meu se tornou mais importante do que eu dentro da RCA, que só cuidei de mim mesmo, em beneficio próprio, e eu me considero um velho rigoroso, cachorro da mulesta, nordestino, durão, espero ainda continuar lutando, e agora criando um estúdio em Recife para eu gravar com o povo do Nordeste, porque não me considerava ter ajudado os meus irmãos, na minha maneira de ver as coisas. Então era objetivo da RCA, e disse – vamos assinar o contrato, quantos anos? Eu vou morrer velho aqui dentro mas assino”. Revista Conviver

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Nosso patrimônio DB: Sua música tem a mesma exaltação no interior do Sul do país como tem no interior do Nordeste? LG: “Eu acho que tem mais. Lá eles interpretam a música como cultural, uma música que exalta a vida de um povo, a poesia de um povo. E aqui, no Nordeste, na minha terra, eles me recebem como Luiz Gonzaga, só”. DB: Você que faz seus protestos através da música, e hoje, com a abertura, o Brasil está protestando através de greve. Como você vê esses movimentos? LG: “É isso mesmo, é a abertura, está tudo aberto aí, agora tem muito nego fechado também. Mas está tudo muito bom”. DB: O que você acha da criação dos novos partidos? LG: “Acho válido, agora lamentarei se vierem com quatro, cinco, seis, dez, é uma nojeira. Se vencemos até aqui com dois, agora que não pode encher demais, porque tem que dar uma furadinha para sair um pouco de água. Agora uns quatro dá, uma meia direita, uma meia-esquerda, um centro, cinco no máximo”. DB: Quem é o berço do forró, Campina Grande ou Exú? LG: “Eu quero crer até que, é possível que o berço do forró seja Campina Grande, porque antes de ser forrozeiro já vinha forró aqui. Mas como quem lançou o forró primeiro fui eu, me considero dono do berço porque: Seu delegado, digo a vossa / senhoria /Eu sou fio de uma famia / Que não gosta de fuá 34 | Revista Conviver

/Mas tresantontem No forró de Mané Vito/ Tive que fazer bonito /A razão vou lhe explicar .O forró de Zé Dantas, primeiro gravado e cantado”. DB: Qual a música que mais o marcou? LG: “Para o povo foi Asa Branca, mas para mim foi triste partida poesia de Patativa do Assaré. Quando o verde dos teus olhos/ Espalhar na plantação/ Eu te asseguro não chore não viu eu voltarei viu/ Meu coração/. Triste Partida: Setembro passou/ Outubro e Novembro/ já estamos em dezembro meu Deus que é de nós/ Assim fala o pobre do seco Nordeste, com medo da peste, da fome feroz”. DB: Porque, numa música do seu novo LP, você fala nos bancos do Nordeste? LG: “O matuto de repente ficou muito feliz, sabendo que o banco dá dinheiro, ele pode comprar mais uma vaquinha – E que o matuto deu de garra dos papéis/ foi bater ao Banco de Juazeiro/ Tirou dinheiro e comprou cinco vaquinhas/ E para tanto contratou logo vaqueiro/ O tangedor comprou logo um alazão/ coitada da baiada encabulada/ com o chocalho tocando assim/ eu sou do banco do banco/do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste/ Cabra da Peste/ No Ceará eu sou do BI C/ Mas em Pernambuco eu sou é do BANDEP, BANDEP, BANDEP/ há he gadão/ que zuada é esse vaqueiro/ para que tanto barulho com cinco vaquinhas tão mansinha”. www.cg.unimed.com.br


Medicina preventiva

o coquetel, permitiu aos portadores do vírus, muitos dos quais, hoje, estão atingindo o envelhecimento. Mas, não podemos deixar de mostrar que muitos pacientes idosos nos procuram com sinais clínicos da síndrome, inclusive já investigados por outros colegas, que nem sequer suspeitam de uma doença sexualmente transmissível porque, ante uma equivocada cultura estabelecida, presume-se que o idoso não possua vida sexual ativa. Analisando os fatores, a partir da óptica da sociedade, a AIDS é doença de homossexuais, de jovens, alguns julgam que seja típica de drogados. Ao olhar o idoso, inconscientemente /desconhecidamente, o estamos julgando como um aposentado da vida, doente por demência ou câncer, cumprindo o tempo que lhe resta sem direito à diversão ou interações sowww.cg.unimed.com.br

|Medicina: ciência da vida|

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econhecida no mundo científico a partir de 1981, a AIDS revelava-se uma doença que acometia a faixa etária mais sexualmente ativa, entre os 20 e 50 anos, mais frequentemente no sexo masculino, com crescimento posterior no sexo feminino. Tal mudança comprovou que a doença incide em homens e mulheres, caracterizando-se como doença sexualmente transmissível, predominantemente dentre os heterossexuais, desde a década de 90. A doença começa a ser descrita em homens, mulheres, jovens e crianças; estas adquirem o vírus de sua mãe durante a gestação. O perfil epidemiológico de mais mulheres infectadas não só faz crescer o número de crianças expostas, como também retrata outro lado da sociedade: o abuso de meninas por homens mais velhos que as prostituem e as contaminam. Na história do HIV, havemos de lembrar o ganho de sobrevida que a terapia combinada,

Por Dra. Andréa Barros |

“Eu quero um ovo de codorna pra comer O meu problema ele tem que resolver... Eu tô madurão passei da flor da idade Mas ainda tenho alguma mocidade, Vou cuidar de mim pra não acontecer Vou comprar ovo de codorna pra comer” Ovo de Codorna - Luiz Gonzaga ciais outras. Então, o diagnóstico também não é imediato, há um retardo na comprovação da doença neste grupo, levando a um comprometimento mais severo de um organismo que, por si só, já não tem a mesma capacidade imunológica. Outro fator importante é Revista Conviver

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Medicina preventiva

que o idoso também não recebe informação nem aconselhamento sobre AIDS, porque nós achamos que tal doença não lhe cabe, e porque falar de sexo com os mais velhos ainda seja considerado tabu. Ainda nesta análise multifatorial, encontramos pessoas solitárias, viúvas ou não, aposentadas, com algum dinheiro ou não, que mantêm aceso um desejo sexual espontâneo, procurando amparo em profissionais do sexo ou companhias furtivas. Por acharem que não gerarão filhos, o uso do preservativo não é nem remotamente lembrado, ainda mais se se considerar que tal procedimento poderia inibir a ereção. Com o advento do uso das drogas para disfunção erétil, a camada de homens que redescobriu a vida sexual foi também fator muito importante para o aumento do número de infectados pelo HIV entre os idosos, como também o despreparo psicológico de ainda ter que acrescentar o preservativo a esta nova realidade. Temos, realmente, uma geração de pessoas que contraiu AIDS, em decorrência de terem reingressado na vida sexual sem se protegerem das doenças sexuais, devido ao avanço farmacêutico nessa esfera. Quando o paciente idoso adoece ou é levado ao médico para realização do check-up, médicos e familiares fazem avaliações digestivas, cardiológicas, urinárias, pul36 | Revista Conviver

monares, prostáticas, enfim, não estamos treinados para enxergar a AIDS como enfermidade passível de ser detectada nessa classe de pacientes, pois, realmente, as doenças mais comuns ocorrem nesses sistemas orgânicos; só que, muitas vezes, uma diarreia prolongada, um emagrecimento, são julgados como câncer digestivo ou de outro local, mas raramente pensamos em diarreia como manifestação do HIV para eles. Na mesma linha, pneumonias repetidas em idosos são justificadas pela idade, pelo tabagismo, mas não por possibilidade de HIV. Muitas vezes assistimos a filhos e familiares espantarem-se desde a solicitação do exame, e a famosa pergunta ao final do diagnóstico positivo: “– Como é que o senhor pegou isto? (...)” Esta surpresa familiar atrapalha no seguimento, pois aumenta o preconceito, faz o idoso sentir-se afastado dos que deveriam acolhê-lo, omitindo sintomas, retardando consultas, não aderindo ao tratamento preconizado. Todos esses pontos negativos das relações familiares prejudicam o doente, fazendo com que o vírus se aproveite mais de um organismo debilitado, favorecendo uma evolução mais célere para o insucesso e aumentando a chance de morte do idoso com AIDS. Sabemos, também, que os idosos geralmente já usam medicamentos para outras doenças como hipertensão ou insuficiênwww.cg.unimed.com.br

cia cardíaca, por exemplo. A soma de mais remédios também contribui para que a adesão ao coquetel não ocorra. Diante do idoso com precária situação financeira, a síndrome viral e a síndrome social caminham juntas para o abandono terapêutico, porque muitos dos nossos idosos não possuem nenhuma assistência. Para alguns, o isolamento social é ditado de outra forma – depressão. A depressão, já frequente entre os mais velhos, também ganha mais espaço no cotidiano, prejudicando o seguimento regular dos cuidados à saúde. Mesmo passados mais de 30 anos do conhecimento oficial da AIDS, o preconceito e a desinformação ainda imperam em todas as faixas etárias e classes sociais, mesmo com o alerta proferido há muitos anos por Luiz Gonzaga, que cantava: “ eu quero ovo de codorna pra comer, o meu problema ele tem que resolver, eu tô madurão, passei da flor da idade”.


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adolescência é uma das mais intrigantes, incompreendidas e complexas fases da vida de uma pessoa, independentemente do seu gênero. Na puberdade há quem já queira ser adulto, achando-se cheio de vontade, não mais aceitando as opiniões ou sugestões dos mais experientes; isso porque muitos se sentem totalmente amadurecidos para pensar, decidir e agir. Assim, pelas suas intransigências, às vezes são carinhosamente chamados de aborrescentes. O romancista cearense José de Alencar, no seu livro intitulado “Til”, ao se reportar sobre um casal de adolescentes, descrevendo sobre a convivência dos personagens Berta e Miguel, entre outros jovens ali citados, a certa altura registrou: “Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém-aberta ali com os orvalhos da noite, explicitando a seiva d’alma”. Contextualizando essa temática, cabe aqui dizer que, como uma espécie de cortina de fumaça, a beleza plástica na juventude normalmente chega a esconder os proble-

Por Dr. Evaldo Dantas da Nóbrega

“Mas o doutor nem examina, Chamando o pai de lado lhe diz logo em surdina Que o mal é da idade que prá tal menina Não tem um só remédio em toda medicina... Ela só quer, só pensa em namorar...” Xote das meninas - Luiz Gonzaga mas por eles vividos, na condição de seres humanos em desenvolvimento. Assim, vê-se que é mesmo na adolescência que são mais evidentes as buscas dos seres humanos em relação às novas descobertas – principalmente em seus próprios corpos. A curiosidade deles está à flor da pele, mesmo porque estão bem estimulados pela significativa profusão hormonal própria dessa idade. Destarte, com suas reações endócrinas incrementadas, inevitavelmente acontece grande alteração em seus organismos, em particular no desenvolvimento físico-mental, na sexualidade e, ainda, nos seus comandos cognitivos, influenciando nas relações de convívio familiar e também nos seus círculos de amizades de um modo geral. Na verdade, o despertar da sexualidade desses púberes deve ser realmente vista com cautela e www.cg.unimed.com.br

muito bem estudada da forma mais holística possível, até porque isso envolve conceitos amplos e complexos. Isso implica em reanalisar novas formas de relacionamentos que necessitam ser bem alicerçadas em entendimentos multidimensionais, visando a um aprofundamento científico-educacional pautado em estudos da medicina, da ética jurídica e, até mesmo, focando-se em fatos históricos e culturais, isso em respeito à delicada situação enfrentada por eles, adolescentes. Percebemos, com efeito, que a mentalidade desses jovens funciona como uma espécie de caixa-preta recheada de interrogações, impulsividades, fobias ou excesso de ousadia e confiança, ainda que de forma irresponsável, como dirigir alcoolizado e em alta velocidade. No entanto, acreditamos que tudo isso pode - e deve - ser enfrentado calmamente pela utiRevista Conviver

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Medicina preventiva lização de informações claras e diálogos precisos, com a devida compreensão de ambas as partes, até que, aos poucos, os adolescentes comecem a assumir as suas próprias identidades individuais. Também essas abordagens e conversações contribuem para a concreta melhoria dessas relações, ao tempo em que vão lhes fortalecendo estruturalmente do ponto de vista físico-psicológico, além de igualmente começarem a desmistificar os seus tremendos desafios no campo da sexualidade. Na contemporaneidade, de forma mais genérica, nós todos vivemos diante de situações bastante diversificadas e complexas, as quais envolvem perigos e riscos às nossas vidas, muito especialmente porque viver implica estar, diuturnamente, em contato com instrumentos e mecanismos de comunicação que fragilizam a segurança das pessoas. Tal vulnerabilidade tem relação também com a internet, o telefone celular e as conhecidas redes sociais, que praticamente expulsaram, do nosso convívio, aquelas tradicionais formas de correspondência que fazíamos através de conversas, cartas, telegramas etc. Apesar de nos possibilitar uma enorme facilidade de comunicação, isto pode se tornar, infelizmente, um prato cheio de presas fáceis para a atuação de pessoas inescrupulosas e criminosas. São ilicitudes estas que eles exercem por encontrarem nas crianças e nos adolescentes os seus alvos preferidos em face da imaturidade mental e do despreparo nos relacionamentos interpessoais próprios dessas pessoas ainda em desenvolvimento físico-psicológico. Daí porque a real necessidade de uma 38 | Revista Conviver

“Vê-se que é mesmo na adolescência que são mais evidentes as buscas dos seres humanos em relação às novas descobertas - principalmente em seus próprios corpos” constante e imprescindível vigilância dos pais, dos educadores escolares e das autoridades competentes do nosso país, visando a acompanhar, mais de perto, tal problemática e de forma a conscientizá-las sobre tais perigos. Precisamos estar alertas com os nossos queridos entes familiares que costumam navegar virtualmente pela internet, mas sem lhes tolher a liberdade ou a individualidade, evitando-se agressividades ou formas destrutivas e intimidativas. Aqui, podemos citar, como exemplo, os frequentes casos de pedofilia, de gravidez indesejada, de sequestros de jovens e de envolvimentos com drogas, dentre outros crimes que aumentaram depois do advento dos contatos sociais via internet, o que ensejou uma significativa preocupação, especialmente para os pais. Assim agindo, bem que se poderia trabalhar melhor para a diminuição dos casos de perversidades sexuais, através da persistência na conscientização dos adolescentes, que são frágeis e estão diante de uma enorme vulnerabilidade nos dias de www.cg.unimed.com.br

hoje, em todo o mundo. E até porque há uma verdadeira carência nas escolas e nos lares em relação a uma abordagem crítica e eficaz que alcance e faça bom enfrentamento quanto aos distúrbios afetivo-sexuais presentes nessa específica faixa etária da nossa vida social. Sabendo que a família é a célula mater da sociedade, a nossa maior esperança ainda repousa na crença do poder da infinita misericórdia divina, visando a contornar, o mais rapidamente possível, tais situações que denigrem e prejudicam a vida de milhares de adolescentes em todo o nosso planeta. Concluindo, dizemos que, à luz da medicina, em relação àquela conhecidíssima música O Xote das Meninas (Ela só quer /Só pensa em namorar!...), cantada por Gonzagão, ainda enfrentamos muitas dificuldades quando tentamos entender o porquê e como ocorrem as coisas na mente dessa juventude; é que, nessa conturbada fase da vida, o jovem, imaturo ainda, está diante do primeiro amor, o que lhe poderá acarretar vários problemas, inclusive no viés da sexualidade!


Medicina preventiva

Por Dr. Guilherme Veras Mascena

LUIZ GONZAGA E O POÉTICO CORAÇÃO DE UM POVO

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metáfora que liga o coração aos sentimentos e inspira menestréis mundo afora não começou com nosso poeta centenário, Luiz Gonzaga. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) já imaginava que o coração era fonte de calor e estava na origem de sensações como dor, prazer e desejo, atribuindo, ao coração, uma função “nervosa”. As palpitações eram a própria expressão dos sentimentos mais ardentes. Séculos depois Galeno (129 d.C. – 217 d. C.), um destacado médico de seu tempo, fez importantes descobertas como a distinção entre veias e artérias, hipotetizando o controle do coração pelo cérebro. Graças ao apoio do compadre, amigo e músico, Percy Marques Batista que, de Recife, se prontificou a procurar quais as músicas de Luiz Gonzaga versavam sobre o tema, confesso que foram gratas as descobertas sobre as múltiplas referências na obra do poeta nordestino que falam sobre o mais inquieto dos órgãos de nosso corpo. O estudo histológico do coração mostra uma elaborada rede de fibras musculares que têm a propriedade de relaxar e se contrair numa média de 37 milhões de vezes por ano. Os nervos que suprem o cora-

ção têm função cardiorreguladora com vistas a adequar a frequência de batimentos às nossas demandas fisiológicas. Mas, esse é um texto sobre Gonzagão, o “Lua”, ou sobre fisiologia cardíaca? Falemos então do Rei do Baião, expressão maior da cultura nordestina, nascido na cidade de Exu, em Pernambuco que, no dia 13 de dezembro desse ano, se vivo estivesse, completaria 100 anos, e que tão bem metaforizou, com lúdica inspiração, o nosso órgão dos “sentimentos”. Comecemos uma das mais belas e emblemáticas canções, compostas e cantadas pelo rei do baião: www.cg.unimed.com.br

“Olha pro céu, meu amor Vê como ele está lindo Olha praquele balão multicor Como no céu vai sumindo Foi numa noite, igual a esta Que tu me deste o teu coração O céu estava, assim em festa Pois era noite de São João Havia balões no ar Xote, baião no salão E no terreiro O teu olhar, que incendiou Meu coração” Olha pro céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes) Revista Conviver

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Medicina preventiva Essa percepção que temos no peito quando sentimos boas e más emoções se deve ao fato de no coração haver receptores para substâncias específicas como adrenalina/ noradrenalina. Esses hormônios são produzidos pelas glândulas suVejam outros trechos de ou- prarrenais em situações, digamos, de emergência. Num cenário de tras lindas canções: Nada mais ardente do que “entregar seu coração” ao outro. O incêndio a que Lula se refere na canção há de ser facilmente entendido pelo leitor que já esteve apaixonado...

“Minha vida é andar Por esse país Pra ver se um dia Descanso feliz Guardando as recordações Das terras por onde passei Andando pelos sertões E dos amigos que lá deixei. Chuva e sol Poeira e carvão Longe de casa Sigo o roteiro Mais uma estação

E alegria no coração. Minha vida é andar... Mar e terra Inverno e verão Mostra o sorriso Mostra a alegria Mas eu mesmo não E a saudade no coração Minha vida é andar...” A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil)

“...Esse teu fungado quente Bem no pé do meu pescoço Arrepia o corpo da gente Faz o véio ficar moço E o coração de repente Bota o sangue em arvoroço ...” Vem Morena (Luiz Gonzaga)

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emoção diante de um evento ou numa preparação para perseguição ou fuga, doses maciças dessas substâncias caem na circulação sanguínea e promovem as alterações necessárias para as circunstâncias: aumento da pressão arterial e da circulação para os músculos e aceleramento dos batimentos cardíacos, dentre outras. Mas como o cérebro, guia principal dessas emoções, conecta-se com esse sistema? É que os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares que se ligam às glândulas adrenais também estão conectados ao sistema límbico e a seus importantes núcleos, como o hipocampo e a amígdala e, em meio do qual, está situado o hipotál amo. O sistema límbico é, digamos, o processador emocional da informação sensorial que dá contornos coloridos a estímulos em preto e branco. Nossa, parece até poesia, reflexo de um coração “incendiado” pelas canções do Gonzagão.


Responsabilidade socioambiental

Por Rosângela Souto |

|Naturalmente|

“Gostaria que lembrasse muito de mim, que sou filho de Januário e de Santana, que decantei os pássaros, os animais, os valentes, os covardes, os pobres, os beatos e o Nordeste, gostaria que lembrasse que este sanfoneiro amou muito seu povo e o seu Nordeste”.

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música vem desempenhando, ao longo da história, um importante papel no desenvolvimento do ser humano, seja no aspecto religioso, moral ou social; tornou-se uma ferramenta de grande valia para a formação de valores indispensáveis ao exercício da cidadania. Ela é, além da arte de combinar os sons, uma maneira de expressar diversos tipos de opiniões e sentimentos, assim como um eficiente estímulo à interação social e à sensibilização dos povos. Um dos grandes colaboradores para a riqueza da Musica Popular Brasileira

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Responsabilidade socioambiental (MPB) foi o mestre Luiz Gonzaga, um sertanejo à frente do seu tempo, responsável por musicalizar e mostrar para o mundo a saga da vida no Sertão através de um gênero musical denominado Forró. As canções de Luiz Gonzaga fizeram muito sucesso em todo país, pois além de um ritmo dançante e de natureza lúdica, suas letras retratavam as peculiaridades nordestinas e regionais como símbolos de nacionalidade. No entanto, vale lembrar que no início de sua jornada, não só sua música sofreu preconceito, como ele próprio, em vista dos trajes com que se apresentava – o chapéu de couro e a roupa de cangaceiro – que tornavam visível uma identidade nordestina. Mesmo com as adversidades, com o tempo, o forró foi conquistando o gosto de uma boa parte da sociedade paulista e carioca, devido ao fato de essas cidades se terem transformado em fonte de esperança às populações rurais e aos habitantes da Região do Nordeste na década de 40. Nesta época os nordestinos começam a migrar à “terra civilizada” pela falta de perspectiva de mudança do padrão social da região marcada pelas constantes secas, onde reinavam o coronelismo e os grandes latifúndios, onde a estrutura social esteve e ainda está marcada por um processo de cristalização das desigualdades sociais. E é esta realidade dura que o Rei do Baião queria fazer chegar ao Sul através da sua música, assumindo, desta maneira, a “voz do Nordeste”. Luiz Gonzaga, antes de qualquer condição, era um homem 42 | Revista Conviver

apaixonado por sua terra, conhecia cada detalhe do lugar onde nascera – da geografia à cultura – pois nada escapava aos olhos do filho de Santana e Januário. Falava dos cangaceiros, da caatinga, dos mandacarus, carcarás e gaviões, do solo rachado pela seca, da asa branca e da preocupação com o meio ambiente deteriorado pela ação humana. Cantava a saudade de seu povo, de um dia poder voltar pro seu sertão, como se percebe claramente na música Riacho do Navio (“ah, se eu fosse um peixe ao contrário do rio/ nadava contra as águas e nesse desafio/ saia lá do mar pro riacho do navio... pra ver o meu brejinho, fazer umas caçadas/ ver as pegas do boi, andar na vaquejada/ dormir ao som do chocalho e acordar na passarada/ sem rádio e sem notícias da terra civilizada”), música de sua autoria com o folclorista Zé Dantas. Também cantava a dor de uma terra castigada pelo clima e pelo descaso dos nossos governantes – Asa Branca retratou brilhan-

“Falava dos canga-

ceiros, da caatinga, dos mandacarus, carcarás e gaviões, do solo rachado pela seca, da asa branca e da preocupação com o meio ambiente” www.cg.unimed.com.br

temente esse seu desencanto (Que braseiro, que fornalha/ nem um pé de plantação... morreu de sede meu alazão...) – pois a falta de água e apoio político assolavam a vida e a esperança do povo no sertão. As composições de Luiz Gonzaga e seus parceiros não só transmitiam a saudade por sua terra, as tradições nordestinas e a vida sofrida do sertanejo, mas também incorporavam toda uma postura política de defesa ao meio ambiente, como podemos observar na música Xote Ecológico (Não posso respirar, não posso mais nadar/ a terra está morrendo, não dá mais pra plantar/ se plantar não nasce se nascer não dá... e nem o Chico Mendes sobreviveu...). Embora o mestre Lua, como carinhosamente era chamado, não tenha se amparado em teorias científicas, ele demonstrou muita propriedade na forma com que tratou as questões de ordem ecológica. Devido a sua vasta experiência de vida e nordestinidade, desenvolveu saberes, sensibilidades e valores que o tornaram, de certa forma, um educador ambiental. Dessa forma, as vias de acesso que conduziram Luiz Gonzaga aos ritos de entrada para o campo ambiental podem ter sido sua paixão por tudo o que sempre povoou a paisagem nordestina e, por isso mesmo, a necessidade de preservá-la como elemento de tradição e identidade, além da consciência de que suas músicas – capazes de tocar o coração do sertanejo e do povo em geral – serviam de instrumento para uma militância eficaz pelas causas sociais e ambientais.


Responsabilidade socioambiental

Por Heloisy Medeiros e Geuma Marques

I SEMANA DO BEBÊ:

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oda história positiva tem um bom começo, algo suficiente que a torne marcante. A realização da I Semana do Bebê no município foi o passo inicial para que um importante capítulo de vanguarda fosse idealizado e construído a partir da união de interesses interinstitucionais que convergiram para a valorização da saúde do núcleo familiar. Com o tema intitulado “Criança feliz é criança saudável”, a 1ª Semana do Bebê em Campina Grande buscou mobilizar toda a sociedade para fomentar os cuidados com a primeira infância, a relação afetiva entre seus cuidadores, a saúde integral das crianças nesta faixa etária, fortalecer o vínculo familiar, orientar e educar para a prevenção e criação de canais de comunicação, que divulguem a importância da primeira infância para um desenvolvimento sadio da humanidade. A Semana do Bebê, que já é realizada há 12 anos no município de Canela-RS, cidade precursora do projeto, teve o objetivo de reunir ações entre governos e sociedade em torno da garantia dos direitos das gestantes, mães e seus filhos. Com o apoio do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância) a experiência foi sistematizada e apresentada na publicação “Como realizar a Semana do Bebê em seu município”; Tal evento tem

CAMPINA UNIDA PELA PRIMEIRA INFÂNCIA

sido um exemplo seguido por muitas cidades do Brasil e até por outros países, a exemplo de Portugal, Argentina e Uruguai. Investir nos seis primeiros anos de vida é fundamental para o desenvolvimento de meninas e meninos, e é nesta fase da vida que a criança desenvolve grande parte do potencial cognitivo que terá quando adulto, fato este que reflete em um impacto incisivo nos processos de aprendizagem e de construção de relações sociais, fatores que influenciarão a vida afetiva, profissional e social desse ser. Tendo iniciado em Canela, no ano 2000, a experiência da Semana do Bebê vem ganhando características próprias junto à realidade de cada município que abraça a ideia. Com o endosso do UNICEF, cujo objetivo é priorizar ações que garantam o direito de cada criança brasileira a sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento, a Semana do Bebê vem estimular programas e projetos voltados para a primeira infância, cujas práticas sejam entendidas como novas tecnologias sociais que identifiquem e ampliem os positivos resultados obtidos neste contexto. A abertura oficial da I Semana do Bebê ocorreu no dia 25 de março em uma das principais áreas de convívio social de Campina Grande, o Parque da Criança. Numa ensolarada www.cg.unimed.com.br

manhã de domingo, entidades governamentais e não governamentais, realizaram, para comunidade presente, a apresentação dos indicadores sobre a realidade da primeira infância no município. Segundo o Sistema de Informações de Nascidos Vivos – SINASC, o número de partos cesarianos ainda é maioria em Campina Grande, representando 52% do número de partos realizados. Quanto ao aleitamento materno, segundo o Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB, das 5.680 crianças nascidas vivas no município, 61% delas são alimentadas, exclusivamente, com leite materno até os 4 meses, e 30% é o percentual de crianças que continuam mamando até os dois anos, mas de forma complementar. Quando a questão é Pré-natal, o número de consultas realizadas pelo Sistema Único de Saúde em Campina Grande foi assim quantificado: mães que realizam de 4 a 6 consultas: 31%; mães que realizaram de 07 ou mais consultas: em torno de 51%. No decorrer das ações, destaque para a celebração do “Bebê Cidadão”, que foi escolhido em dois Hospitais Amigos da Criança FAP e CLIPSI, e o “Bebê Prefeito”, no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, com o objetivo de fazer-se conhecer junto à sociedade o trabalho destas instituições que, com o referendo da Organização Mundial da Saúde e UNICEF, orientam e apoiam Revista Conviver

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Responsabilidade socioambiental

Unimed Campina Grande representada pela Diretora de Mercado Dra Teresa Cristina

as mães para o sucesso da amamentação, desde o pré-natal até o puerpério. Ainda dentro das ações programadas, realizamos o I Seminário de Nutrição e Alimentação Saudável: Da Gestação à Primeira Infância, entres os dias 27 e 28 de março, cuja temática principal traduziu um olhar de responsabilidade e informação no processo de nutrição saudável com foco no combate e prevenção às doenças crônicas não transmissíveis. Numa singular e positiva provocação, a escolha do “Bebê Unimed” marcou uma ação de caráter inédito no qual a saúde suplementar foi inserida dentro do contexto dos preceitos de uma gestação e nascimento saudável, conforme preconiza o Ministério da Saúde. A participação da Unimed também se deu na exitosa realização do I Curso de Gestante da Unimed Campina Grande – o Unigestante, entre os dias 28 e 29 de março que, de forma prática, buscou somar esforços visando a sensibilizar a comunidade sobre a importância do pré-natal, do parto natural, da amamentação e da imunização, com o propósito de potencializar, positivamente, os nossos indicadores de saúde. O curso foi realizado gratuitamente para clientes da Unimed e gestantes do SUS. Ainda 44 | Revista Conviver

Saúde Suplementar e Saúde Pública integrados em nome da primeira infância

inserido no tópico gestação, o Hospital CLIPSI realizou o Curso de Orientação à Gestante e seu Companheiro – Casal Grávido, ministrado por uma equipe multidisciplinar, o que garantiu o sucesso do evento. A I Semana do Bebê culminou com um olhar sobre a saúde feminina através do II Colóquio de Fisioterapia da Saúde da Mulher – Assistência ao Ciclo Gravídico-puerperal, como precursora da saúde infantil, promovido pela Faculdade de Ciências Médicas e que ocorreu nos dias 29 e 30 de março. Como extensão da democratização do saber junto às escolas municipais, foi realizado o Ciclo de Palestras que incluiu, dentre os temas, questões como violência à gestante, à criança e à gestação na adolescência. Paralelamente, nas Unidades de Saúde do Município, eram realizadas programações de caráter lúdico-educativas, e contextualizadas à semana do evento. Outro importante marco foi o desfile de gestantes, além das ações descentralizadas nas Unidades de Saúde da Família, que deram um toque especial à semana junto as suas comunidades, abrilhantando esse evento, e, o mais importante, que é destacar a importância do vínculo e do cuidado com a primeira infância. O dia 31 de março marcou o www.cg.unimed.com.br

fim da Semana com a Serenata do Bebê, onde artistas renomados, como a grande Tina, Cátia e Gabimar, Alexandre Tan e Janine Lima resgataram a força melódica e poética das cantigas de ninar. Na oportunidade, foram premiadas as redações escolhidas em concurso realizado nas escolas municipais, cuja temática referiu-se ao slogan “Criança Feliz é Criança Saudável”; a serenata ainda contou com a bênção ecumênica dirigida às várias vertentes religiosas que professaram a sua fé para o êxito da semana. O evento foi antecedido pela realização de um passeio ciclístico a convidar a cidade para o evento ápice de fechamento da I Semana do Bebê Campina Grande. O êxito da semana do bebê foi conquistado graças à união entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Unimed Campina Grande, através da Comissão Organizadora composta por Dra. Graça Caldeira, Dra. Joelza Guerra, Dra. Geuma Marques e Dra. Heloísy Medeiros, e do apoio das secretarias municipais de Cultura, Educação Ação Social, Esporte e Lazer, do Ministério Público do Trabalho, Fadinha Moda Infantil, Hyundai, Facisa/ FCM, Fome Zero, Aluízio Bicicletas, Jumbinho, SESI, Ruan Filmes, Doutores da Brincadeira e Grupo Cáritas.


Parceria entre Unimed Campina Grande e Prefeitura Municipal é destaque em Canela-RS

CONQUISTAS REAIS E TRANSFORMADORAS Tal foi o êxito da realização da I SEMANA DO BEBÊ em Campina Grande, que a cidade foi contemplada, entre os 16 municípios selecionados, para compartilhar experiências durante a I Mostra Internacional das Semanas do Bebê, realizada no mês de maio, no município de Canela, durante a 13ª Semana do Bebê da cidade no Rio Grande do Sul, sendo aplaudida e elogiada por representantes de todo o Brasil e de outros países presentes. Tendo a importante participação da Unimed como um ‘case’ inédito, além de uma grande referência de mobilização municipal em nome de uma causa. Como conquistas já codificadas, ressalta-se a criação da lei municipal de autoria dos Vereadores Cassiano Pascoal e Olímpio Oliveira, que instituiu, oficialmente no calendário de ações do município, a Semana do Bebê, votação obtida por unanimidade pela Câmara dos Vereadores. A Unimed Campina Grande passou a realizar, periodicamente, o Curso Unigestante em quatro edições anuais, preservando o seu caráter gratuito e não restritivo apenas a clientes da cooperativa. O CD gravado com

as cantigas de ninar interpretadas por artistas campinenses durante a Serenata do Bebê deve ser lançado como trabalho a integrar as ações culturais promovidas pelo município, e distribuído gratuitamente nas creches do município, como forma lúdica de embalar o sono das crianças, uma ideia materializada por sugestão obtida das redes sociais. A oficina de massagem Shantala, realizada pela fisioterapeuta Dra. Valéria Cordeiro, será realizada de forma contínua nas unidades de saúde da família, estimulando precocemente o vínculo afetivo entre mães e bebês. A Secretaria Municipal de Saúde inaugurou, em sua Maternidade Pública, leitos dirigidos à prática do método Mãe Canguru, um tipo de humanização e assistência neonatal que implica no contato precoce pele a pele entre mãe e o bebê prematuro. Como continuidade, foram ministrados cursos para gestantes na maternidade pública Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA). Exemplos mais do que concretos da solidez das transformações proporcionadas pela realização da I SEMANA DO BEBÊ CAMPINA GRANDE, foram as práticas consolidadas com o respaldo da comunidade, uma produtiva semente a germinar frutos de dimensões sociais realizadoras.

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“Lá no meu sertão pros caboclo lê Têm que aprender um outro ABC O jota é ji, o éle é lê O esse é si, mas o erre Tem nome de rê” ABC do Sertão - Zé Dantas e Luiz Gonzaga

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Por Luciana Pimentel Figueiredo

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trajetória histórica do ontem e do hoje mostra o quanto as pessoas, que se diz serem portadoras de deficiência, foram excluídas da sociedade. A surdez foi uma delas ao longo dessa trajetória. O surdo era tido como um ser irracional, não educável, não cidadão. Pessoas nascidas surdas eram tidas como castigadas, enfeitiçadas, doentes e privadas de serem educadas, eram forçados aos trabalhos mais desprezíveis. Eram consideradas como incapazes perante a lei. Em algumas sociedades eram até sacrificadas. Assim, começou a história dos surdos: triste, silenciosa e dolorosa. O Encontro de Salamanca, em Junho de 1994, assim conhecido como Declaração de Salamanca, termo assinado por 392 representações governamentais e mais de 25 organizações internacionais, visou à inclusão dos portadores de necessidades especiais regulares. Esta declaração foi uma das mais integrativas, posto que fomentou um maior acesso à políticas inclusivas do surdo e dos demais portadores de deficiência na sociedade O Brasil assinou esta declaração, e nela baseou as suas leis de políticas inclusivas, mas há muito a ser feito em prol da causa. Os direitos de acesso necessitam de uma maior aplicabilidade delas. Temos que entender o surdo como um sujeito agente, que possui uma cultura, uma língua e valores que precisam ser compreendidos, e nunca vistos como incapazes ao longo da história.

A lei n.º 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a língua brasileira de sinais – libras, em seu preâmbulo estabelece que o atendimento ao surdo nos serviços públicos deve ser diferenciado pelo uso e difusão da libras, vejamos o que ela dispõe em um de seus artigos: Art. 17: “Os estabelecimentos prestadores de serviçõs públicos, as instituições financeiras e os órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional deverão viabilizar o tratamento diferenciado aos surdos por meio do uso e difusão de LIBRAS e da tradução e interpretação de LIBRAS e Língua Portuguesa, realizados por servidores e empregados capacitados para essa função.”

Desde 2002, o Brasil lançou uma lei que estabelece um direito que, na prática não tem sido cumprido dentro do que foi estabelecido para que o surdo tenha o seu direito assegurado como cidadão dentro da sociedade brasileira. A inclusão, tão bem divulgada pelos meios de comunicação, precisa também estar incluída dentro da sociedade de ouvintes (termo usado pelos surdos para designar as pessoas que não são surdas). O desconhecimento da Libras começa a partir do próprio nome, da sua existência como língua dos surdos brasileiros, e que ela é reconhecida por lei. Faz-se necessário uma difusão www.cg.unimed.com.br

da cultura surda, onde sua língua seja disponibilizada cada vez mais dentro dos setores de atendimento públicos e privado para que o acesso comece realmente a acontecer. O surdo deve ser entendido não como um deficiente auditivo, mas sim como um sujeito normal, agente e capaz de exercer os seus direitos em sociedade, assim como instituído em lei. Muitos paradigmas ainda devem ser quebrados, e a melhor forma de fazermos o rompimento será a integração entre as suas culturas, ouvintes e surdos, trocando saberes e poderes em prol do crescimento da sociedade como um todo. Revista Conviver

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Artes em movimento

T h e b e at l e s E O E N CO N T RO S I MBO´ L I CO CO M O R E I D O BA I AO

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uiz Gonzaga é um dos músicos mais inventivos do cancioneiro nacional; estabeleceu, em suas canções, uma relação direta com o povo nordestino, principalmente com o sertanejo. Desse sertão, cantou sua dor e seu sofrimento como ninguém; representou, em seus versos, a fauna, a flora e a cultura regional, tão castigada pela falta das chuvas. Gonzangão é, sem dúvida, um dos pilares de nossa música, tanto que Nelson Mota – em uma de suas colunas publicadas no dia 13 de fevereiro de 2012 afirma que: “Luiz Gonzaga, o célebre rei do baião, foi o primeiro a colocar o Nordeste no mapa da música popular brasileira”. Mesmo apresentando letras de caráter regionalista, conseguiu influenciar artistas de renome no Brasil e no exterior. Mas, talvez, tenha sido esta característica que fez com que seus versos ficassem obscurecidos pelo requinte da batida do violão e do som sincopado da Bossa Nova. Todavia, os jovens da MPB, na busca de um “tom” nacionalista 48 | Revista Conviver

“Percorri o mundo inteiro Pra ver se encontrava um destino melhor Mas até no estrangeiro esse bom brasileiro Também é o maior” Estrela de ouro - Luiz Gonzaga para a nossa música, revisitam a coletânea gonzagueana e a reconduz ao seu devido lugar: o sucesso. Isto porque, em seus repertórios, passaram a inserir músicas do mestre Lua, como é o caso dos seguintes artistas: Caetano Veloso; Gilberto Gil; Tom Zé; Chico Buarque; Maria Betânia; Geraldo Vandré; Elba e Zé Ramalho... E, na atualidade: Lenine; Marisa Monte; Bicho de Pé; Rastapé etc, que dão seguimento ao legado daquele menino artista, forjado nas feiras do interior pernambucano. Alguns movimentos como a Tropicália, liderado pelo próprio Caetano, Gil e Tom Zé; e o Mangbeat trazem consigo, direta ou indiretamente, a essência das músicas de Luís. Dessa forma, entendemos que o sanfoneiro pernambucano se www.cg.unimed.com.br

associa a outros grandes nomes da nossa música, na construção de uma “sonoridade tipicamente brasileira”. O som da “sanfona” do filho de Januário conquistou o mundo, como bem apresenta o título do livro de Gildson Oliveira: “Luís Gonzaga, o matuto que conquistou o mundo”(2000). São vários os livros, as dissertações e as teses sobre o fenômeno do rei do baião, mas algumas são curiosas, por terem sido também lançadas fora do Brasil, a saber: “Vida Do Viajante: A Saga De Luiz Gonzaga (1997)” da francesa Dominique Dreyfus; “Luiz Gonzaga: A Síntese Poética E Musical Do Sertão (2000)”, da professora Elba Braga Ramalho, tese defendida em Liverpool. E, por falar em Liverpoool, no


Por Johniere Alves Ribeiro

ano de 1968, há quem diga que o compositor Carlos Imperial espalhou, no Rio de Janeiro, que THE BEATLES acabara de gravar a música “Asa branca” de Luís, logo se descobriu que tudo não passava de uma brincadeira. Todavia, quem sabe se não era uma “brincadeira profética”, pois, em 2012, a “Beatles songs” rederam-se ao baião, e um dos meninos de Liverpool, teve que reconhecer o garoto de Exu. Uma reportagem no estadão. com.br/cultura, intitulada “Salve a terra de Luiz Gonzaga”, diz o seguinte sobre Paul McCartney em Recife: “...os Beatles se encontraram com o Rei do Baião, uma das fusões nunca imaginadas do mundo do pop. E, justamente, no centenário de nascimento de Gonzagão, o que

“No ano de 1968,

há quem diga que o compositor Carlos Imperial espalhou, no Rio de Janeiro, que THE BEATLES acabara de gravar a música “Asa branca” de Luís”

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configura uma jogada de mestre [...] O elogio a Luiz Gonzaga, em seu centenário, mostra uma disposição de McCartney em usar sua popularidade para despertar, em suas plateias, o melhor delas mesmas.” Não que necessitamos de opiniões de estrangeiros – na música ou na academia – para, só assim, referendarmos a genialidade e a importância do velho Lula. Contundo, é no mínimo inusitada uma declaração como aquela de Carlos Imperial se concretizar nos elogios de Paul. Por isso, não podíamos, no ano do centenário de Luís, deixar de prestar uma homenagem àquele que enriqueceu a música popular brasileira e pôs a cultura nordestina num lugar de destaque até então jamais visto. Sendo assim, viva Luís Gonzaga! Revista Conviver

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O OSCAR DA MÚSICA NORDESTINA Troféu celebra a cultura popular e homenageia Centenário do “Rei do Baião” 50 | Revista Conviver

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ma noite marcada pela celebração da cultura popular do Nordeste. Esta é a tônica do Troféu Gonzagão, que há mais de 10 anos tem buscado fortalecer e valorizar a tradição regional. Considerado o “Óscar da Música Nordestina”, o evento abre espaço à musicalidade típica da sanfona, que se mistura às batidas do triângulo e da zabumba para dar o brilho regional à festa. O Troféu Gonzagão é um reconhecimento público à trajetória de artistas regionais que cantam e tocam a música do Nordeste. A premiação acontece em Campina Grande e tem dois grandes objetivos: homenagear os nomes de destaque da música popular nordestina e premiar os artistas regionais que promovem o resgate e incentivo da cultura.


Por Gabriel Alves

O evento nasceu pela iniciativa do Centro de Ortodontia Integrado de Campina Grande, mas há quatro anos ganhou o apoio cultural da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP), através do Projeto SESI Cultura Tradição da Paraíba. Por meio do Projeto, o SESI promove o acesso do trabalhador aos bens culturais, oferecendo várias atividades como oficinas de músicas e danças populares, o Forró do Industriário, além de estudos e exposições culturais. O Projeto também possui um espaço (Barraca da Cultura) durante o São João de Campina Grande, onde desenvolve o resgate da cultura regional.

O Troféu Gonzagão já homenageou artistas consagrados como Marinês, conhecida como a “Rainha do Xaxado”, e também o paraibano Jackson do Pandeiro, considerado o maior ritmista da história da música popular brasileira. Tanto Marinês quanto Jackson do Pandeiro foram grandes responsáveis pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Em 2012, o Troféu homenageia o Centenário daquele que dá nome ao evento: Luiz Gonzaga. Artistas como Antonio Barros e Ceceu, Flávio José, Genival Lacerda, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alcimar Monteiro, Os www.cg.unimed.com.br

Três do Nordeste, Pinto do Acordeom, Dorgival Dantas, Sirano e Sirino, Biliu de Campina, Inaudete Amorim, entre tantos outros, são alguns dos ídolos nordestinos que já cantaram no evento ao longo desses anos. Conhecido pela mistura de ritmos nordestinos, o cantor Capilé (natural de Campina Grande) considera o Troféu Gonzagão como combustível para manter acesa a chama da cultura. Para ele, a homenagem ao Centenário do “Rei do Baião” não é mais que a obrigação do povo nordestino. “Seria muito bom se pudéssemos homenagear o saudoso Luiz Gonzaga todos os dias. Ele merece nosso reconhecimento, pois foi através de sua música que o artista do Nordeste passou a ter voz no país”, comentou. Em uma terra tão farta de talento como o Nordeste, o Troféu Gonzagão acaba se transformando em um reconhecimento público ao artista nordestino, que tem no sangue o gosto pelo forró. A mistura da perfeita afinação de sua gente, aliada ao gingado gostoso de seu povo forrozeiro só poderia mesmo se consagrar como a mais autêntica representação da cultura popular do Brasil. E como todos já sabem, o Forró é um ritmo democrático, ou seja, todas as idades são bem-vindas a um bom arrasta-pé. Basta trazer o fôlego para encarar as maratonas de dança e aproveitar o melhor da festa com animação e rebolado. Revista Conviver

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Artes em movimento Sobre o Rei do Baião Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912. Foi um compositor popular. Aprendeu a ter gosto pela música ouvindo as apresentações de artistas nordestinos em feiras e festas religiosas. Saiu de casa em 1930 para servir o exército como voluntário. Viajou pelo Brasil como corneteiro, tendo baixa na função em 1939. Quando migrou para o Rio de Janeiro fez de tudo um pouco, inclusive tocar em bares de beira de cais. Entretanto, foi exatamente quando estava no Sul do país que se atentou para tocar as músicas do distante Nordeste. Pensando nisso, compôs dois chamegos: “Pés de Serra” e “Vira e Mexe”. Sabendo que o rádio era o melhor vínculo de divulgação musical daquela época (ano de 1941) resolveu participar do concurso de calouros de Ary Barroso, onde solou sua música “Vira e Mexe” e ganhou o primeiro prêmio. Isso abriu caminho para que pudesse vir a ser contratado pela emissora Nacional. No decorrer dos anos, Luiz Gonzaga foi simbolizando o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico a assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz. Nos seus vários anos de carreira nunca perdeu o prestígio, apesar de ter se distanciado do palco várias vezes. Os modismos e os novos ritmos desviaram a atenção do público, mas, o velho “Lua” nunca teve seu brilho diminuído. Quando morreu, em 1989, tinha uma carreira consolidada e reconhecida. Ganhou o prêmio Shell de Música Popular em 87 e tocou em Paris em 85. Seu som agreste atravessou barreiras e foi reconhecido e apreciado pelo povo e pela mídia, tocando sua sanfona e se vestindo como típico nordestino.

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Artes em movimento

PINGOS DE SILÊNCIO

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ó a seca era fartura naquelas plagas esquecidas. Mesmo que chuva houvesse, não chegaria lá; se perderia no meio do caminho. Verde, nem de esperança. As folhas ressequidas lembravam retirantes perambulando no solo escaldante. E uma cena tristonha foi retirada de um arquivo do cinema novo. Um coitado de mochila sobre as costas, tentando se livrar de mosquito renitente, que passeia em seus lábios rachados, sem perceber que ele, também, calcava os pés sobre o chão em brasa. “Vida insetífuga”, disse o inseto, olhando o pobre-diabo. Seca, seca de não querer nem mais chorar. Seca, semente de desertos, de nômades, de caminhos incertos, regurgitando solidão, sob o ritmo monótono de passos em busca mesmo do lugar errado. Afinal, quem sabe, se apenas chegar não é o propósito de toda vida sobre a terra, e que toda viagem é exitosa, se chegar ao fim? Apesar dos pensamentos, das ideias misturadas e de ter de ocupar a mente para que a desolação não fosse mais forte que ele, o empoeirado retirante tirou o chapéu da cabeça, parou, balançou o cantil-goles-contados, olhou para o céu, e duvidou se Deus estaria lá realmente. “Será que Deus entende fala tão rude? Não conheci escola. Perdi meu tempo cavando terra pela vida, mas acho que o tempo todo estive cavando minha sepultura”. Levou o cantil à boca, tomou meio gole, e voltou a pensar na imponderabilidade do além. Era ainda meio-dia, mas seu corpo era meia-noite. O sol teria muito trabalho. O pensamento em Deus era recorrente. Veio-lhe o versículo bíblico que seu velho pai sempre cita-

“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado Que de joelhos rezou um bocado Pedindo pra chuva cair sem parar...” Súplica Cearense - Luiz Gonzaga

va, quando em aflição: o justo viverá pela fé. E passou a refletir. “Deus é justo; é Ele mesmo a justiça. Se Ele só entende a reza dos letrados, dos doutores, não é justo”, e, sem querer, sorriu um riso de menino em lampejo. Adiante, lembrou do inseto que há pouco insistia em seus lábios. E imaginou uma comparação. Se o mosquito fosse um homem e ele fosse deus. O mosquito querendo conversar, bem próximo à sua língua. Ele pensando em seus problemas, na complexidade de sua vida, como poderia ouvir o apelo de criatura tão insignificante, cujo idioma desconhece por completo, e que talvez nem fosse este o melhor meio de comunicação entre seres aparentemente tão díspares!... Daí, outro lampejo. O homem intuiu algo valioso. Deus não entende, nem fala línguas. Diante Dele, todo mudo se faz entender, e que é na ausência de todo pensamento que o diálogo se dá, desprezando todo ruído. E mais: Deus entende qualquer homem através do idioma universal, que é o silêncio. Nada pedir, pois Deus já sabe. Silenciar, para que o léxico divino fale, compondo, assim, a melhor oração. Chuva? A alma do homem transbordou em espírito...

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|Sensibilidade crônica|

Por Mica Guimarães |


|Histórias e estórias|

Artes em movimento

O INESQUECÍVEL AMIGO DIDIO

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as minhas lembranças de molecagens hilárias e românticas, as que mais deixaram saudades foram as do meu amigo Didio (Edimilson Garcia de Menezes, irmão do Dr. João Edilson de Menezes, um dos melhores cirurgiões de Campina Grande que, com sua coragem inédita, foi um dos cabeças para a implantação do Hospital de Urgência e Emergência Dom Luiz Gonzaga, em Campina Grande). Saí da cidade de Patos para estudar em João Pessoa e ingressei no Lyceu Paraibano, preparando-me para enfrentar o vestibular de Medicina. Morei, inicialmente, no bairro de Jaguaribe, onde fui surpreendido com um ótimo time de futebol na minha rua que logo me convidou para jogar. Havia um campinho de futebol no cruzamento entre a Rua João Machado com a Rua Vasco da Gama, onde, atualmente, existe um posto de gasolina. Nos finais das tardes, aconteciam os confrontos dos times que ali participavam das disputas rápidas de futebol. E assim, começou a minha amizade com Didio. Passei a presenciar algumas molecagens, outras tantas tomei conhecimento e, com vocês, dividirei algumas das histórias do meu querido amigo de juventude. TESTANDO ACABAR UM NAMORO A menina já se afeiçoara a ele quando ele resolveu testar o fim do namoro. Faço aqui uma observação que o pai 54 | Revista Conviver

AS TROCAS DE ETIQUETAS DE PREÇOS DAS BOLAS DE PLÁSTICOS NO BOMPREÇO DA da moça não ficava atrás da velha, era RUA JOÃO MACHADO COM A RUA TABAJARA Aos finais de tarde, como já homem duro e metido a arroxado. Certa noite, num pequeno instante mencionei, íamos jogar bola, no que eles ficaram a sós – a mãe foi campinho que ficava no início da atender a um telefonema, disse: – Rua Vasco da Gama em João Pessoa. Resolvi acabar o nosso namoro, pois Frequentemente, a bola se acabava, não estou mais a fim. A moça ime- furava ou ficava meio oval. A bola diatamente começou a chorar. Nesse era feita de um plástico meio grosmomento, ele levantou a cabeça e viu so e ficava quase no peso de uma o pai da moça entrando no terraço. de futebol de salão. Era a hora de Então, rapidamente, afagou seu ros- uma bola nova. Então, ele saia com to, enxugou suas lágrimas, passou a Everaldo, entravam no Bompreço e mão no seu cabelo e disse: – Linda, trocavam as etiquetas de duas bolas, estava só brincando, era só para ver uma de maior valor pela de menor se você gostava de mim de verdade! valor, passando em seguida no caixa e pagando pela bola mais barata. Sorte, ela logo se consolou. ESPANTANDO OS NAMORADOS DA IRMÃ NAMORO ACABADO NA LAGOA, A irmã de Didio era uma moreDidio estava doido para acabar um namoro antigo. Vinha ele e a ninha bem feita de corpo, simpática, namorada, a pé, do cinema Plaza em dos cabelos pretos e lisos feito cabeJoão Pessoa, quando, circundando los de índios. Como era bonita, não pela calçada da Lagoa, ele olhou para tinha dificuldade para arrumar nacima, viu uma palmeira imperial e dis- morado, no entanto, corria o risco de se para a namorada: – Veja que pé de não noivar e nem casar. Didio, quancoco alto. Ela, toda cheia de sapiência, do sabia que a irmã estava de namorespondeu: – Didio, isto não é um pé rado, tomava uma cachaça que já era de coco, é uma palmeira imperial. Ele, quase do cotidiano, e descia o cacete todo bocão, retruca: – Não! Tenho no rapaz que estava de namoro com certeza que é um pé de coco baiano! a irmã. Chegou a uma situação que – É não, Didio, eu tenho certeza que ninguém queria mais namorar com a é uma palmeira imperial. – Não, você moça, com medo de Didio. não sabe, é um pé de coco! – Se fosse BRIGA NO CABARÉ DA MACIEL PINHEIRO um pé de coco, Didio, teria cocos, e EM JOÃO PESSOA não esses cachos de pequenos coquiMuitas das vezes, Didio, saia nhos. Era tudo o que ele queria: – Olhe, vamos acabar esse namoro, por- todo de branco, do curso de Odontoque se por agora como namorados, logia que fazia, direto para o cabaré na já está havendo incompatibilidade de rua Maciel Pinheiro. Numa das ocasigênios, dê por vista, quando casarmos! ões, um rapaz entroncado pediu uma www.cg.unimed.com.br


Por Dr. José Alves Neto | lapada de cana ao pessoal que estava no cabaré, e a turma negou. Didio tomou a iniciativa e disse: – Venha cá, e pode pedir uma lapa passada a palheta. O cara tomou e agradeceu. O tempo passou e certo dia, Didio entrou em um daqueles inferninhos na Maciel Pinheiro e engraçou-se de uma rapariga que estava bebendo, à mesa, com quatro rapazes, gerando um fuzuê imenso, partiram e começaram a dar uma sova imensa. Ele no chão, deitado, brigando, dando murros e levando, parecendo um grande “faixa preta” naquele “boi de fogo”, quando de repente, viu-se aliviado dos murros e os caras saindo de cima, nesse momento, todo quebrado, apareceu um anjo da guarda que estava metendo o braço nos agressores do meu amigo, colocando todos para correr. Com os olhos edemaciados e todo quebrado perguntou ao cara quem ele era. Falou seu salvador: – Tá lembrado de mim? – Eu sou aquele cara que um certo dia você pagou uma lapada para mim... O DODGE DART DO PAI Seu Menezes, pai de Didio, comprou um Dodge Dart. Com medo do “santo filho” tirar o seu carro novo às escondidas, comprou um Volks usado e deu-lhe, dizendo: – Você agora tem o seu carro e não pegue no meu. Didio pegou esse seu Volks, e vivia dando “cavalo-de-pau”, subindo nas calçadas do Jardim Glória, em Jaguaribe, até que um dos dias, estourou um dos pneus, ficando o carro impossibilitado de sair para a farra do sábado à noite. Ora, ora, não contou conversa. Entrou na sua casa, colocou o carro do pai em ponto-morto,

empurrou o carro e tirou-o da garagem. Quando o carro estava na rua, ligou-o e partiu para suas aventuras. Até aí, tudo bem. O pior foi o que aconteceu. Há, no cruzamento entre as ruas das Trincheiras e João Machado, a Igreja Nossa Senhora de Lourdes na qual, nos sábados à noite, é celebrada a missa das 19h. Grande parte da população de João Pessoa frequenta essa missa, como as pessoas que frequentam à missa tem uma boa condição financeira, ficavam (ficam) carros enfileirados de um lado e do outro em uma mesma “mão” da rua. Certa noite de sábado, quando a igreja estava repleta de homens crentes em Deus, carros fazendo quatro fileiras, duas em cada “mão” da rua, o meu amigo Didio, sobe acelerado na rua Trincheiras, puxa o freio de mão do Dart do seu pai, e entra de vez na rua João Machado. Ouviu-se o barulho de vidros quebrados de um carro batendo em vários carros e em disparada, fugindo em direção do bairro, em Jaguaribe. O povo de dentro da igreja saiu apavorado para ver o estrago de cinco carros amassados sem saberem até hoje o autor daquele momento de filme americano. Mas, o pai do meu amigo viu o seu Dodge Dart, novo, porém todo amassado nas laterais feito um maracujá maduro. Caro amigo Didio, não terás o direito de ver escritas tuas travessuras, mas fiques sabendo que sempre tivestes um amigo de escola e de campo de futebol que sempre te admirou. Fostes cheio de molecagens, mas, não fostes perverso ou malvado. Eras cheio de traquinagem, mas, eras um ótimo amigo. Quando os meus filhos perguntarem: – Quem eram estes teus amigos? www.cg.unimed.com.br

Com muita saudade e orgulhoso, responderei: – São meus velhos amigos do passado, que o tempo e a distância não conseguiram apagar. Com muita propriedade, Antônio Ademir Fernandes escreveu sobre a amizade: AMIZADE VERDADEIRA A amizade verdadeira é aquela que não te explora, Que está sempre ao seu lado, Que te procura em cada aurora, Que te apoia mesmo que você esteja errado. Que te aceita não pelo que tens, Mas simplesmente se doa como amigo E se preocupa se tu não vens, Que te procura e te dá abrigo. Que nas horas difíceis te dá força, Depositando, em ti, toda a confiança E pra fazer você feliz se esforça Para que sua vida tenha mais esperança. A verdadeira amizade é eterna e sincera, Contenta-se na mais pura simplicidade, Nasce, cresce, vive e prospera. Amizade verdadeira é transparente, Sabe guardar segredo, É linda, pura, eterna e decente, Não te trata como um mero brinquedo. José Alves Neto Médico Itaporanguense Revista Conviver

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Por Ribamildo Bezerra

É

como o mote e a inspiração, a letra e a melodia difícil de dissociar quando existe uma marcante harmonia entre dois lados. Assim é a história de Antonio Barros e Céceu, unidos pelo amor e pela música e que construíram um legado músical que ajuda a contar a história da música nordestina. Se elencarmos pelo menos 10 músicas de forró compostas nas ultimas quatro décadas no mínimo quatro serão de autoria da dupla. Um marco em 40 anos de união como marido e mulher, e mais de 700 composições na parceria musical. Antonio Barros e Céceu acertaram o compasso da vida, assim nas canções e de todas as suas melodias, a mais harmônica chama-se Mayra Barros, filha e companheira na estrada da música. Então, deixemos que letras de suas canções falem por si: “Eu faço a moda e o cantor canta/ A moda sai cabeça e o cantor diz na garganta” Eu faço a moda – Antonio Barros Antonio Barros da Silva, ou simplesmente Antonio Barros, é paraibano natural da cidade de Queimadas município localizado na Região Metropolitana de Campina Grande. Antonio Barros sempre trouxe o mote certo para a sua moda contar cantando. A sua vivência na zona rural foi determinante na sua musicalidade. O jovem garoto que costumava pegar uma lata vazia de 20 litros que colocava a cabeça den-

tro, batia do lado de fora com as duas mãos, fazendo ritmo, enquanto cantava para ouvir sua própria voz com efeito reverberado, mal sabia que seu talento ajudaria a escrever grande parte da história musical nordestina “Já trilhava uma carreira na música e me influenciava bastante pelos cantores de músicas românticas como Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Silvio Caldas etc; e, lógico, que é através de inspiração e motivação por amor a arte”, afirma.

Rádio Tamandaré em Recife, Pernambuco, trabalhando como músico “Em Recife convivi com Jackson do Pandeiro, com o qual construí uma amizade e de onde obtive apoio e incentivo quando optei por morar no Rio de Janeiro”, afirma. Na época, alguns artistas já começavam a gravar Antonio Barros, a exemplo do próprio Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Zito Borborema, leque esse que se expandiu quando fixou residência na então capital do Brasil; nomes como “Quando eu estava prá nascer/ Luiz Gonzaga, Marinês, Trio NorDe vez em quando eu ouvia /Eu destino passaram a cantar as comouvia a mãe dizer:/Ai meu Deus posições desse talentoso paraibano. como eu queria / Que esse cabra fosse ‘home’...” “O forró daqui é melhor do que o teu / O sanfoneiro é muito Homem com H – Antonio melhor / As moreninhas a noite Barros e Céceu inteira / Na brincadeira levanta pó / É animado ninguém cochiPara seguir sua carreira musical la / Chega faz fila pra dançar...” teve que mostrar que era HOMEM COM H, aos dezenove anos vai traÉ proibido Cochilar – Antonio balhar como músico tocando panBarros deiro na Rádio Caturité em Campina Grande, um ano depois já estava na Para Antonio Barros, um dos momentos mais marcante da sua vida, e registrado, foi quando conheceu o Rei do Baião. “Conhecer Luiz juntamente com Zé Dantas no Quando Rio de Janeiro me fez construir um ambiente musical de relevância no Antônio Barros meu início de carreira, algo mare Cecéu se cante que influenciaria em toda a minha trajetória como compositor. encontraram,

em 1971, foi amor à primeira música” www.cg.unimed.com.br

“Tum, tum, bate coração/Oi, tum, coração pode bater/Oi, tum, tum, tum, bate, coração/ Que eu morro de amor com muito prazer...” Revista Conviver

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Artes em movimento

Bate Coração – Antonio Barros e Cecéu Quando Antonio Barros e Cecéu se encontraram em 1971, foi amor a primeira música. Cecéu ainda era Mary Maciel Ribeiro, filha de Campina Grande, que costumava ir à escola cantarolando várias músicas que gostava de ouvir no rádio tardes enquanto trabalhava na mercearia de secos e molhados de seu pai. “Mariêta ta, Mariêta ta, Mariêta ta, entalada com cajá...”, essa era uma das músicas que gostava de cantar, nem sabia que era uma composição de Antonio Barros. “Numa das vindas ao Nordeste conheci a Cecéu e o amor foi a primeira vista, percebendo também a sintonia de nós dois na arte, pois ela também escrevia seus poemas.” destaca o apaixonado compositor de olhos fixos brilhantes dirigido a sua amada.

“Para Cecéu, não existe fórmula para o sucesso, mas compromisso com o que se faz”

dos e como parceria na música, é natural que a influencia afetiva na vida de pessoas que se amam, se separam e voltam esteja presente nas nossas canções, pois falar deste sentimento tão presente em nosso cotidiano é motivador; o amor acaba sendo uma importante fonte de inspiração em nosso trabalho. Além de tudo, bebemos desta fonte cultural chamada nordeste. um cordão umbilical que nos acompanha desde a infância e que há de ser a eterna aliança em tudo o que fazemos”.

“Ninguém desata esse nó/Ninguém desata esse nó / Ninguém “E haja fum, haja fum, haja desata esse nó/ Quanto mais fum,/ forró com esse fole é forró aperta mais fica melhor...” número 1...” Ninguém desata este nó Antonio Barros e Ceceu Para Cecéu não existe fórmula para o sucesso, mas compromisso com o que se faz: “Buscamos realizar um trabalho bem feito, com sinceridade e carinho, desinteressadamente, fazendo apenas por amor à arte, e isso ocasiona, normalmente, numa reação positiva, para quem trabalha, o sucesso vem espontaneamente. Bom, são 40 anos de casa58 | Revista Conviver

Forró número 1 – Cecéu Um grande desafio para qualquer pesquisador é elencar os grandes sucessos da dupla sem correr o risco de omissão; para Cecéu existem músicas que já ultrapassaram as cem regravações “A Música ‘Procurando Tu’ já ultrapassa as 134 regravações, só de composições que inclui, ‘Bate coração’, ‘É proibido cochilar’, ‘Homem com H’, Forró do poeirão’, ‘Forró de tamanco’, www.cg.unimed.com.br

‘Pra Virar Lobisomem’, ‘É madrugada’, canções que se tornaram verdadeiros clássicos nordestinos, e que já romperam as fronteiras nacionais, algumas sendo gravadas por cantores internacionais em Portugal, Itália e Israel”, reforça Cecéu. “Quem não quiser dançar saia do meio do salão / Porque a dança hoje é pra quem tem disposição...” Forró do Poeirão- Antonio Barros e Cecéu ‘’Inegável a força com que as nossas canções ganham com interpretações magistrais com Elba Ramalho, Dominguinhos, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga para citarmos algum nomes; as características que predominam nestes ícones está na alma nordestina de vivência e de contextualização de uma realidade


que eles conhecem tão bem. É, li- eu quero /Cuida bem do que é teralmente, para levantar poeira”, seu... Um neném bonitinho /Saafirma Antonio Barros. fadinho, sem vergonha como eu” “Eu sou o estopim da bomba/É você quem me faz ser assim/Se não quer ver o estouro da bomba/ Não encosta esse fogo em mim” Estopim da Bomba – Antonio Barros e Ceceu Se o assunto é o polêmico forro estilizado, acreditem, a bomba não estoura, com certa franqueza a dupla demonstra respeito às diferenças existentes atuais no gênero “Não temos nada a comentar a esse respeito, nosso trabalho já nos toma todo empenho e não precisamos criticar ou elogiar qualquer outro estilo musical”, responde Cecéu. “Você faz de mim neném/ Você me bota no colo/ Me dá tudo que

ros de algum artista de peso, uma forma responsável de efetuar seu trabalho. E ainda bem que ela está sempre se sobressaindo de forma Um Neném – positiva, pois é muito dedicada e Antonio Barros e Cecéu tem bom senso”, coruja Cecéu.

Como filha de Peixe, Mayra Barros, filha da dupla, optou por nadar no mesmo mar musical, um talentoso peixinho filho de verdadeiros tubarões; “Nossa filha Mayra Barros é uma cantora que já assumiu a sua autonomia musical; sabemos que ela bebeu de nossa fonte a qual já bebemos das fontes da verdadeira música nordestina e da música romântica. Mayra conviveu, logicamente, desde que nasceu com nossas obras sendo criadas, acompanhando todo o processo de composição”, orgulha-se Antonio Barros. “Sabemos da responsabilidade que recai sobre Mayra, pois o público sempre aguarda dos herdei-

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“...Nessa onda violenta, a canoa se arrebenta /E o pesado vai pro fundo/O que é bom já nasce feito, por isso vamos com jeito/Pro maior forro do mundo...” O Maior Forró do Mundo – Antonio Barros e Cecéu “Nós não conseguimos imaginar passar um São João sem cantar em Campina, afinal foi aqui onde tudo começou”, brinca Cecéu. Acho que fazemos parte dessa cultura. Aqui é o nosso berço cultural, tanto é a importância de nossa região de origem que já compusemos uma música intitulada Rainha da Borborema.

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|Urbe campinense|

Cidade

O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO

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tradição de festejar São João foi trazida pelos portugueses e difundida pelas margens dos rios, riachos, ribeiras e nos oitões das casas grandes de fazenda, com seus currais de pau-a-pique, nas capelas de padroeiros, mata à dentro com muita alegria, de um costume agradável, logo, o modo de se comemorar São João Menino era o melhor para a conversão dos cariris canibais. Em 1583, Fernão Cardim (Jesuíta) escreveu a respeito das três festas religiosas, celebradas pelos indígenas com maior alegria, aplauso e gosto inicial, “a primeira é as fogueiras de São João, porque suas aldeias ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusque o couro”. A fazenda de gado foi o embrião do sítio campinense, e Campina Grande, encravada no Agreste, era circundada por fazendas de gado e lavouras de subsistência, foi lentamente evoluindo o incipiente aldeamento, no dizer da historiadora Josefa Gomes de Almeida e Silva. Percebe-se que o aldeamento foi um acontecimento posterior às construções das fazendas. Aos poucos, os nativos preados nas matas pelo Capitão-mor, Teodósio de Oliveira Lêdo, e levados às margens do riacho das piabas (atualmente, o Açude 60 | Revista Conviver

“No clube a ano novo Bom na rua é carnavá Nata só presta em casa São João no arraiá”

São João no arraiá - Luiz Gonzaga Velho) e aí serem aldeiados, foi mais uma pequena aglomeração dentro do complexo social já existente. As dificuldades enfrentadas pelos pioneiros criadores de gado, que havia nos arrabaldes de Campina Grande, desde a segunda metade do Século XVII, eram diversas tais como: períodos de estiagem e ataques dos índios cariris (pois, muitos eram ferozes canibais). E, ainda, o franciscano Frei Vicente do Salvador, na segunda década do Século XVII, dava notícias de que “os nativos só acodem todos com muita vontade nas festas em que há algumas cerimônias, porque são mui amigos de novidades, por causa das fogueiras e capelas”. Conforme Lino Gomes da Silva, “foi fundada a primeira igreja em Campina Grande no dia 09 de maio de 1702 sobre o orago de São João”. Com isso, percebemos uma relação de poder entre o criador de gado e o índio, ou seja, uma relação de dominação de um sobre o outro, a partir da desterritorialização dos índios após o grande conflito, no fim do Século XVII. Porém, nesse momento de fragilização deles , ocorreu o seu apreamento, e milhares deles (de índios) dispersavam-se www.cg.unimed.com.br

pelas matas e, com as instalações das missões católicas fundadas pelos capuchinhos, muitos nativos passaram a assimilar costumes católicos. São João é o santo batizador, o qual se comemora durante o mês de Junho, e este mês é o momento das invernadas, é o santo para o qual se faz a festa da colheita e da apartação do gado, tradições trazidas, principalmente, pelos portugueses, transmitidas, culturalmente, pelos seus descendentes criadores de gado nas fazendas. Entretanto, esses senhores tinham patentes militares e apresentavam-se como autoridades. Acumulavam as funções de pecuaristas, mestres de campo da conquista, chefes de arraias e cobradores do fisco. Nisto, percebe-se que houve uma relação de saber e de poder entre o criador de gado e o índio, entre o Estado, a Igreja e o referido nativo; pois o criador de gado é o mesmo personagem histórico autorizado a prear o índio. Quando imbuído da patente de Capitão-mor, Teodósio de Oliveira Lêdo exerceu o papel de cristão devoto quando da ausência dos padres jesuítas “trouxe um frade do convento de São Francisco, da capital da capitania, que veio a


Por George Gomes |

Campina Grande para catequizar os índios”. Os índios catequizados passaram pelo processo de transculturação, fenômeno estabelecido na zona de contato. O termo transculturação tem sido usado por etnógrafos “para descrever grupos subordinados ou ‘marginais’ selecionam e inventam a partir de materiais a eles transmitidos por uma cultura dominante ou metropolitana”. Percebe-se ao mesmo tempo, que o índio assimilou, dos portugueses, várias tradições católicas e, ao mesmo tempo, tradições culturais dos índios foram assimiladas pelos portugueses, tais como comer beiju, tapioca, bem como a assimilação da culinária advinda do milho, apropriada posteriormente, durante a realização dos festejos a São João. Da mesma forma, os criadores de gado que levaram a mensagem de conversão para o “gentio bravo” são os mesmos que passaram a assar milho nas fogueiras, assimilando, consideravelmente, tradições culturais dos índios, ocor-

rendo assim, uma troca de práticas culturais entre esses atores sociais. Atualmente, a cidade de Campina Grande é a referência maior em nível nacional, e até mesmo internacional, no que se refere aos festejos de São João, e pelo fato de ter dado maior visibilidade a eles, essa tradição, advinda dos tempos da fundação de Campina Grande, vem passando por outras formatações, pois em fins da década de 70 e início da década de 80 do século passado, o executivo municipal resolveu construir uma grande palhoça coberta de palha de coco para que a população de Campina Grande, a partir de então, saísse dos seus bairros para dar continuidade aos festejos de São João Menino, debaixo do referido palhoção, tendo em vista o fato de que a população já comemorava em suas casas acendendo fogueiras, fazendo canjica, pamonha, milho cozido e assado nas fogueiras de São João. Campina Grande sempre teve essa identidade cultural de festejar São João! A partir da primeira metade da década de 80, o antigo palhoção do Açude Novo foi derrubado e em seu lugar foi construída a pirâmide, denominada forródromo, inspirada

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no sambódromo do Rio de Janeiro. A pirâmide lembra um dos tipos de fogueiras de São João, precisamente, aquela do tipo vertical. Além disso, os festejos de São João, em Campina Grande, passaram a ter outras roupagens, tais como quadrilhas redesenhadas, passos reinventados, forrós reelaborados, sem que tivessem perdido os antigos passos do xote, do xaxado e do baião. O São João de Campina Grande, ao se revestir de outros significados, quer sejam quanto ao aspecto do turismo, do desenvolvimento sustentável ou quanto ao aspecto folclórico propriamente dito, tem suas raízes nos tempos coloniais da Paraíba, da Fé Católica, pois a festa que ocorre durante o mês de Junho está relacionada ao nascimento de São João Batista, portanto, São João Menino foi o protótipo do Menino Jesus, tanto é que todos os anos, no Parque do Povo, é hasteado o estandarte e, durante os festejos, a imagem sagrada de São João Menino fica na capela cenográfica da Vila Nova da Rainha, no mesmo Parque do Povo, para que os fiéis possam pagar suas promessas e acender velas em homenagem ao padroeiro do Maior São João do Mundo. A festa social do Maior São João do Mundo tem o seu lado espiritual através da realização do Círio de São João. Nos tempos modernos, a festa tradicional de São João foi nomeada de: o “Maior São João do Mundo”. Revista Conviver

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Cidade

OLHA PRO CÉU

BRILHA UMA ESTRELA POÉTICA DE SONHO E CORAGEM

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morte de Ronaldo Cunha Lima no dia 07 de julho, aos 76 anos, vitimado por um câncer de pulmão, encerra um capítulo de homens públicos que, na Paraíba, souberam unir intelectualidade e ações políticas que influenciaram, diretamente, a história do estado. Um perfil de marcante presença que, contextualizando emoções e atitudes, soube ser plural nas várias leituras que se podem fazer de uma personalidade que é, ao mesmo tempo, poética e prática, construindo a imagem do lúdico e inesquecível político. “Aqui morreram tantos poetas! Tanta Guitarra morta este lugar encerra!... Aqui é o Campo-Santo, aqui é a Terra! Em que a alma chora e em que a Saudade canta!” (Terra Fúnebre - Augusto dos Anjos) Na memória afetiva das muitas histórias sobre Ronaldo Cunha Lima, uma pode ser utilizada como exemplo de dois perfis que já não se delimitavam, o homem público e o poeta. Era o ano de 1988, quando o então prefeito de Campina Grande ganhava uma notoriedade nacional 62 | Revista Conviver

por participar de um quizz show, programa de perguntas e respostas: “Sem Limites”, cujo tema versou sobre a obra de Augusto dos Anjos na extinta TV Manchete. Ao ser perguntado pelo apresentador Luiz Armando, já falecido, sobre como se aprendia a fazer verso na base do repente, Ronaldo respondeu: “Para fazer verso de improviso Assim na ocasião, Apenas é preciso Ter um pouco de juízo e Sentimento no Coração” O vencedor daquela edição do programa, daria uma pequena mostra ao Brasil não só por sua marcante capacidade intelectual, mas por uma inquestionável empatia a agregar em toda sua trajetória, fiéis seguidores, seja no campo da poesia, como no da política. De personalidade humanista, Ronaldo José da Cunha Lima era filho da cidade de Guarabira, mas foi em Campina Grande que sua alma “nasceu”. Aprendeu a tomar “banho de poeira” com o povo, pois o jovem, vendedor de jornais e que também foi garçon, logo cedo percebeu que, na faculdade das ruas, habita o jeito lúdico de se gostar de gente, de se conhecer os sentimentos de um povo e entender que a poesia nem sempre habita a clausura das bibliotecas. www.cg.unimed.com.br

Nascido em 18 de março de 1936, o Poeta era viciado em viver, o filho de Dona Francisca Bandeira e Sr. Demóstenes Cunha Lima não media a ‘vida pelo tamanho mas sim pela largura’, expressão que costumava dizer. Por isso, administrou e foi administrado pelo coração, sendo, como político, advogado ou poeta, um ser muito sensível e honesto com suas paixões. Em 50 anos de vida pública, Ronaldo em muito contribuiu para uma cidade onde os sentimentos são hiperlativos, tendo iniciado sua vida pública como vereador (1959 a 1963); deputado estadual por dois mandatos (1963-1967 e 1967 a 1969); e prefeito de Campina Grande (1969), cargo que exerceu por pouco mais de dois meses por ter seus direitos políticos cassados por dez anos, com base no artigo 4º do Ato Institucional nº 5, também conhecido como AI-5 na época da repressão. Era o momento do advogado Ronaldo da Cunha Lima já casado


Por Ribamildo Bezerra o terno açoite De suas cordas leves e sonoras. Libere o violão, Dr. Juiz, Em nome da Justiça e do Direito! É crime, porventura, o infeliz, Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?” (Habeas Pinho – Ronaldo Cunha Lima)

com Maria da Glória Rodrigues, assumir a responsabilidade de uma prole que representaria, no futuro, o espelho de um consolidado clã, representado pelos quatro filhos Ronaldo, Cássio, Glauce e Savigny Cunha Lima. Paralelamente ao ofício da advocacia, estão as histórias do poeta Ronaldo que ajudam na construção da figura popular e suas extraordinárias histórias, como a do “habeas pinho”, uma poética petição dirigida ao Dr. Artur Moura, então Juiz de Direito da 2ª vara para que fosse liberado um violão, apreendido pela polícia em pleno “ofício” de serenata. Em um dos versos Ronaldo assume a defesa do instrumento apresentando sérios argumentos que livrariam o violão de uma possível “culpabilidade”: “Mande soltá-lo, pelo Amor da noite Que se sente vazia em suas horas, Para que volte a sentir

Curiosamente, a obra teria sido redigida em uma madrugada do mês de junho, período do ano que nunca mais seria o mesmo muitos anos depois após o seu retorno à vida pública em Campina Grande, como prefeito da cidade, a partir do ano 1982. O retorno à cidade querida foi apenas a consolidação de laços que nunca se partiram, haja vista que, mesmo no Rio de Janeiro, era leitor fiel do extinto jornal Diário da Borborema:

decisivo, tenham sido eles positivos ou não em sua trajetória. Ao projetar Campina Grande para o Brasil com a marca do Maior São João do Mundo, Ronaldo cria o espaço apoteótico do forró, O PARQUE DO POVO, em 1986, cenário de 30 dias de festa, deixando uma marca tão sua, imortalizada numa placa inaugural: “Que este meu gesto marque O nascer de um tempo novo O povo pediu o parque Eu fiz o Parque do Povo” (Ronaldo Cunha Lima - Prefeito) Como Governador, conquistou o reconhecimento da Universidade Estadual da Paraíba junto ao Ministério da Educação, além de implantar dois importantes projetos que marcariam sua administração, a eletrificação e o Projeto Cooperar. Na educação, foi um grande incentivador na criação de creches no Estado, e para não fugir à regra utilizava da poesia para sensibilizar alunos das escolas estaduais a preservarem os livros distribuídos gratuitamente:

“Volto à minha Campina / No templo e no Evangelho! / E ao entrar nesta cidade / Afoguei minhas saudades / Nas águas do Açude Velho” “No livro que você lê/ Se apren(Ronaldo Cunha Lima) de bem direitinho/ Cada página é um caminho/ Que se abre pra Como político, Ronaldo você/ Se for muito bem usado/ Cunha Lima nunca perdeu um voto O livro que a escola deu/ De de confiança, sendo diplomado em certo, será usado/ Por outro cotodos os cargos os quais se candi- lega seu” datou; vereador, prefeito, deputado (Ronaldo Cunha Lima - Goverestadual, deputado federal, governador) nador e senador . Sempre pautou sua vida pública por marcantes moA complexidade humana, prementos, onde a emoção era o fator sente na história de Ronaldo, pode www.cg.unimed.com.br

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Cidade

ser conferida através de depoimentos de pessoas que com ele desfrutaram da sua convivência, a exemplo do senador pelo estado de São Paulo, Aloysio Nunes: “Era irresistível a conversa de Ronaldo Cunha Lima. Em pouco tempo, ele me contou sobre toda a sua vida política; o sofrimento da cassação, dos direitos de cidadão, de político, quando prefeito de Campina Grande; sua trajetória pelos cargos que ocupara”. Aloysio destacou o amor que Ronaldo Cunha Lima tinha pelo filho, Cássio, “Um amor que, segundo o senador, o levou a ultrapassar os limites da sensatez, lembrando o episódio em que o ex-governador proferiu tiros contra seu adversário político Tarcísio Burity em reação a 64 | Revista Conviver

críticas que estariam sendo feitas ao filho Cássio Cunha Lima, então superintendente da SUDENE, numa entrevista concedida por Burity minutos antes em uma emissora da TV da Capital”. Na época, Ronaldo Cunha Lima era o governador da Paraíba. O fato é que Ronaldo Cunha Lima foi intenso durante toda a sua trajetória, e, inegavelmente, uma personalidade que se sobressaiu para o campo dos inesquecíveis, mesmo já tendo recebido o título de imortal pela Academia Paraibana de Letras em 1994, onde ocupava a cadeira de número 14, cujo patrono foi o imortal Eliseu Elias Cezar. Conseguiu convergir, poeticamente, o clássico e o popular, politicamente amigos e adversários à altura, sendo uma personalidade a unir os mais diversos sentimentos e opiniões sobre o que construiu. Não existiu um só Ronaldo, mas vários ‘Ronaldos’, lidos por prismas tão particulares como marcantes, algo que apenas o julgamento da história poderá definir, de forma consolidada, através dos inúmeros aspectos que marcam a sua personalidade. Na tarde do domingo do dia 08 de julho poucas horas antes do seu sepultamento, de forma incessante sob o teto da sua catedral popular, a pirâmide do Parque do Povo, Ronaldo conseguiu exemplificar que, acima de qualquer opinião sobre sua história, sua personalidade conseguiu atingir um patamar inédito de reverência, onde amigos e adversários vestiram um só luto, estampado na saudade. Nas palavras do seu filho, o Senador Cássio, a certeza de que www.cg.unimed.com.br

Ronaldo cumpriu uma trajetória franca com seus sentimentos, prevalece no humanismo que norteou a vida do pai: “Peço perdão pelos erros cometidos pelo poeta, sabendo que, ao longo desta trajetória, Ronaldo se notabilizou pela fraternidade, pelo amor e pela correção nas relações de lealdade”. Ao longo das 15 obras de poesias publicadas, das quais muitas versaram sobre o amor, Ronaldo Cunha Lima continuará indescritível, oculto entre a voz dos apaixonados e reticente no registro dos seus críticos. Um ser iluminado pelo talento, porém ainda revestido de nublagem, tal qual as nuvens que serviram de cenário para a tarde do seu ocaso. Na passagem do seu cortejo, Campina foi só mobilidade, como outrora foram suas passeatas em tempos de campanha, só que desta vez era o silêncio que falava mais alto; onde os acenos de lenços brancos constituíram a forma prosaica dos anônimos campinenses em homenagear o homem público Ronaldo Cunha Lima, que até no sobrenome fez rima com esta cidade. Assim como Augusto dos Anjos, poeta que sempre bebeu da fonte como um grande manancial de sonetos, Ronaldo Cunha Lima ainda esconderá, por muito tempo, uma face lúdica da vida que ainda merece ser descoberta. Na tarde daquele domingo, uma chuva fina caía durante o cortejo; segundo um poeta anônimo, que o acompanhava no meio da multidão, aquelas gotas eram lágrimas que a natureza, na cidade de Campina, também chorava por Ronaldo Cunha Lima.


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Cidade Por Aline Durães

O AÇUDE VELHO EM ESTADO DE ARTE OITO MIL MOTIVOS PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

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bservar o Açude Velho de Campina Grande é um dos prazeres que todo cidadão da cidade ou turista desfruta quando se encontra na Rainha da Borborema; contudo, no período de 13 a 20 de maio passado, essa passividade sofreu um abalo. Nestes dias além de admirar o açude, o transeunte foi convidado a “andar” por sobre suas águas, através da intervenção “Com Roldão Mangueira nem Pedro Afunda”. Ação realizada pelo artista plástico Jarrier Alves com coautoria de Nivaldo Rodrigues, membros do Coletivo Mídias. A instalação, que é parte do projeto “A Cidade em Estado de Arte: Intervenções Urbanas”, contou com o apoio do Fundo de Incentivo à Cultura (FIC) Augusto dos Anjos, e consistiu na fixação de uma passarela de 147 metros – construída com material reciclável – que ligou duas extremidades do açude, do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) à Casa da Cidadania. Para a construção da passarela ecológica foram necessárias 8.000 garrafas PET, o que, segundo análise dos organizadores do evento, representa o consumo diário dessas embalagens pela população da cidade. A arrecadação delas foi realizada por alunos de escolas públicas, após sensibilização feita pelo Coletivo Mídias sobre o impacto do descarte irresponsável desse material no meio ambiente, além de 66 | Revista Conviver

parceria com a Cotramare, cooperativa de catadores de materiais recicláveis e a empresa Inove Embalagens. “Instigar a população a refletir sobre a preservação do meio ambiente através da arte é uma das propostas essenciais da intervenção. A escolha por matérias recicláveis é um caminho que socialmente deve ser construído, sobretudo porque reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta, ao ciclo produtivo, o que jogamos fora. Fundamentado neste pensamento, todo o material utilizado na construção da passarela será reutilizado. As garrafas voltarão para a cooperativa e as telas e madeiras serão reaproveitadas em oficinas de escultura e xilogravura nas escolas públicas do estado”, disse Jarrier Alves. O evento artístico também provocou a reflexão sobre o estado atual do Açude Velho. Todas as pessoas que ali passaram foram convidadas a colaborar com o abaixo-assinado que solicita a revitalização das águas do manancial, hoje degradado e assoreado. “Por meio da cidadania cultural, que são iniciativas que passam pela cultura – mas que têm impacto na vida de cidadão dos sujeitos envolvidos com a arte –, acreditamos que aguçamos, no espectador, um olhar reflexivo. Uma análise sobre a poluição do açude de forma geral e sua parcela de responsabilidade pessoal tanto neste aspecto, quanto no descarte de materiais no meio ambienwww.cg.unimed.com.br

te”, comentou Nivaldo Rodrigues. OS BORBOLETAS AZUIS E O FIM DO MUNDO Com ricas possibilidades advindas da arte, a intervenção contemplou, ainda, o resgate de uma parcela da história de Campina Grande. Os visitantes puderam conhecer a respeito de uma importante figura da cidade, responsável pela fundação da Casa de Caridade Jesus no Horto, o senhor Roldão Mangueira. Este líder religioso acreditava que o mundo iria acabar no dia 13 de maio de 1980 e as pessoas que comungavam desta fé, popularmente conhecidos por Borboletas Azuis, se prepararam para o grande dia. A comoção foi geral e a mídia, não só brasileira, como a internacional, acompanhou o desenrolar da previsão. A profecia não se cumpriu, mas muitas estórias cercam esse episódio. Uma delas conta que o senhor Roldão Mangueira teria dito que andaria sobre as águas do Açude Velho, já que o mundo teria fim por meio de um dilúvio que duraria 120 dias. A travessia simbólica deste líder religioso foi realizada na intervenção por meio de uma escultura de seis metros que também invadiu as águas do açude. Baseado neste mito a ação buscou homenagear, pela demonstração de genuína fé, o movimento messiânico Borboletas Azuis que, na época, foi alvo de agressões e hostilidades.




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