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DA
UNIMED
A Cooperação conta
A NOSSA HISTÓRIA
F Dr. Francisco Vieira de Oliveira Presidente da Unimed
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eliz daquele que possui uma história para contar e que dela se orgulha. Uma trajetória palmilhada pelo trabalho, pelo aprendizado, pelo crescimento e pela cooperação. Há 45 anos, construímos uma identidade, um perfil que se confunde com as raízes de Campina Grande, cidade pioneira, um povo forjado no trabalho. Contar a história da Unimed Campina Grande é estar diante de conceitos que não se perderam com o tempo, a exemplo da coragem e da ousadia de quem sempre acreditou na força do trabalho solidário, no pioneirismo da cooperação médica. A Unimed é um marco nesta cidade, onde 37 médicos de forma ousada, naquele ano de 1971, serviram de inspiração para que a força do cooperativismo médico rompesse barreiras e frutificasse em grandes centros do Nordeste. Hoje construímos muito mais do que uma sólida instituição com raízes sociais vinculadas a nossa cidade. Somos hoje uma cooperativa viva em processo de evolução contínuo, vinculados às necessidades do nosso tempo. São 636 médicos a assistir mais de 56 mil vidas, e mais de 100 prestadores representando as fontes de trabalho direto e indireto e sendo lastro de cidadania e dignidade. Muito além dos números, nossa marca em mais de quatro décadas e meia está indelével nas várias vidas que cuidamos, na assistência que prestamos, no respeito que se inicia no ofício médico e termina no bem-estar do paciente. Este patrimônio de valor imensurável, só pode ser descrito porque a cooperação se faz presente em cada trecho da nossa história, sendo sintetizada em uma só palavra: a confiança. Nesta edição celebrativa você, leitor, ajuda a contar a nossa história, cujo o próximo capítulo tem sinônimo de progresso, fazendo valer a máxima de que CONVIVER é sim uma forma de cooperar para o futuro.
ÍNDICE 32 30
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Dra. Adriana Melo
Unimed 45 anos
Muito além da ciência, o humanismo
a cooperação conta a nossa história
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50 Targino Gondim a sanfona e a sua vida: sem acordos e mais acordes
Idoso ativo e saudável A velha guarda repaginada
Matérias&Artigos 16
Vive Dr. Germano, UM imortal na Medicina
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Alcoolismo feminino, por que as emoções também viciam
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JOSÉ MOYSÉS DE MEDEIROS NETO, Um vocacionado para a Medicina
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Cultura de paz, Estamos sempre em busca de paz. E não de guerras?
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Animais peçonhentos, o veneno inoculado pela desinformação
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Promovendo a Saúde do Trabalhador pela Informação
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Sociedade “Humanodeficiente”
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Partiu o grande poeta ZÉ LAURENTINO, estrela maior da poesia
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Atos de uma crônica, ética e comunicação
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Miguel de Cervantes, e sua vida quixotesca
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Rosil Cavalcanti, pra dançar e xaxar na Paraíba...
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Ler / ver / ouvir
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Conviva! / eventos
DA DIRETORIA 2014-2018 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO 2014/2018 Presidente: Dr. Francisco Vieira de Oliveira Dir. Adm. Financeiro: Dr. Alexandre de Castro Batista Leite Dir. Médico Operacional: Dr. Norberto José da Silva Neto Diretora de Mercado: Dra. Teresa Cristina M. V. da Nóbrega VOGAIS Dr. Aurélio José G.de M ventura Dr. Carlos Alexandre G. de Araújo Dr. Expedito Nóbrega de Medeiros Dra. Gesira Soares de A. Florentino Dra. Waldeneide F. de Azevedo CONSELHO TÉCNICO E DE ÉTICA - CONTECE Dr. Antônio Roberto Vaz R. Filho Dr. José Bismarck Fernandes Dr. Juarez Carlos Ritter Dr. Márcio Rossani F. de Britto Dr. Rodoval Bezerra Cabral Dr. Saulo Gaudêncio de Brito CONSELHO FISCAL 2016 MEMBROS EFETIVOS: Diane de Sena M. Alves Terezinha de Jesus T. Rocha Leal Francisco Couto Bem MEMBROS SUPLENTES: Dagjane Martins Frazão Edilman Soares de Araujo Marcio Rogério O. Duarte ASSESSORIA JURÍDICA Dr. Giovanni Bosco Dantas Medeiros Dra. Ramona Guedes COMITÊ DE COMUNICAÇÃO Dr. Evaldo Dantas Nóbrega Dr. José Alves Neto Dr. José Morais Lucas Dr. José Moisés de Medeiros Neto DIREÇÃO/EDIÇÃO Dra. Teresa Cristina Mayer Ventura da Nóbrega Alice Rosane Correia da Silva Ribamildo Bezerra de Lima Ulisses Praxedes JORNALISTA RESPONSÁVEL Ribamildo Bezerra DRT 625/99 REDAÇÃO Ulisses Praxedes DRT 2787/08 FOTOGRAFIA Leonardo dos Santos Silva CAPA E PROJETO GRÁFICO Gráfica Moura Ramos ASSESSORIA DE MARKETING Alice Correia REVISÃO Eliene Resende CIRCULAÇÃO 2.000 exemplares Distribuição Gratuita ATENDIMENTO/ESPAÇO DO LEITOR (83) 2101.6576/6568 - revistaconviver@cg.unimed.com.br PARA ANUNCIAR (83) 2101.6580 - alice@cg.unimed.com.br A Revista Conviver é uma publicação sem fins lucrativos, custeada pelo material publicitário veiculado na mesma. Todo o conteúdo das matérias/artigos veiculados nesta edição é de inteira responsabilidade dos seus autores e não correspondem necessariamente à visão de mundo e opinião institucional da Unimed Campina Grande Cooperativa de Trabalho Médico Ltda.
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REDAÇÃO
Uma edição comemorativa
A
Conviver celebra, nesta edição, a história da Unimed Campina Grande. História esta que se confunde com a própria história do cooperativismo médico na nossa região. Completar 45 anos de atividade é sinônimo de solidez e integridade para qualquer instituição. E quando se trata de assistência à saúde, este momento se torna ainda mais memorável. Celebramos a vitória do ideal cooperativista que, nas mãos de médicos pioneiros, tomou forma e cresceu, resultando em um modelo de trabalho único, baseado na arte do Conviver. Nosso presidente, Dr. Francisco Vieira de Oliveira, contempla bem este momento em sua palavra inicial. Como exemplo de dedicação à vida e à prática médica, o ginecologista Dr. Germano Carvalho eterniza seu trabalho e história nas páginas do nosso colunista Dr. José Morais Lucas. Em nossa matéria de capa, trazemos importantes recortes da história da Unimed Campina Grande e toda a sua contribuição para a Medicina e para a saúde da nossa cidade. A vocação do Dr. José Moysés, personalidade marcante da nossa cidade, é retratada com maestria pelo Dr. Evaldo Nóbrega. E ainda contemplando nomes que são verdadeiros patrimônios nossos. As páginas verdes trazem a Dra. Adriana Melo que revolucionou a medicina mundial em sua pesquisa sobre o vírus da Zika e sua relação com a Microcefalia. A coluna Natureza Médica, escrita pelo Dr. Flawber Cruz, nos fala de um tema atual e de grande importância: a busca por uma cultura de paz, tema este que se relaciona diretamente com a abordagem da Dra. Andréa Barros, em seu texto Sociedade “humanodeficiente”. Na área da cultura e das artes, o músico Targino Gondim ganha espaço em nossas páginas e assim podemos conhecer mais sobre sua história de sucesso. O pesquisador Rômulo Nóbrega nos traz toda a contribuição artístico-cultural do grande Rosil Cavalcante, e a vida quixotesca de Miguel de Cervantes é descrita nas páginas do pesquisador Thélio Farias. Muitas outras páginas igualmente importantes permeiam esta edição tão especial. Páginas que trazem verdadeiros presentes para quem as folheiam. Portanto, não deixe este presente escapar das suas mãos! Leia cada texto, "deguste" todas as palavras e seja você também, mais que presente na edição comemorativa de 45 anos da Unimed, celebrados na Revista Conviver. Boa leitura! www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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COOPERADORES COLUNAS Unimed - Uma marca no seu tempo Dr. José Morais Lucas Médico Anestesiologista Cooperado Unimed Campina Grande Membro da Academia Campinense de Letras Viver Bem - Natureza Médica Dr. Flawber Cruz Médico Pediatra Perito Médico do INSS Membro do Conselho Regional de Medicina Viver Bem - Ciência da Vida Dra. Andréa Barros Médica Infectologista e Clínica Geral Professora de Infectologia da UFCG Cooperada Unimed Campina Grande Artes em Movimento - Histórias e Estórias Dr. José Alves Neto Médico Ultrassonografista Cooperado Unimed Campina Grande Cidade - Urbi Campinense George Gomes de Araújo Rodrigues Pós-graduado em Historiografia e Ensino de História pela UFCG Nosso Sabor Marcela Cavalcanti Antunes Barros Nutricionista pela UFPB Curso Personal Diet – NTR Especialista em Nutrição Clínica
ARTIGOS Dr. Evaldo Nóbrega Artigo "Medicina, Humanismo e Cidadania" Membro da Academia de Letras de Campina Grande. Oficial Médico do Exército Brasileiro. Cirurgião Coloproctologista. Ex-Superintendente e Ex-Diretor do HUACG - UFCG Cooperado Unimed Campina Grande Dra. Aline Guerra Artigo “Idoso ativo e saudável” Endocrinologista Cooperada Unimed Campina Grande Médica do setor de Promoção à Saúde da Unimed Campina Grande Bárbara Vasconcelos Artigo “Animais peçonhentos – o veneno inoculado pela desinformação” Bióloga pela UEPB Lorena Tavares Artigo “Promovendo a saúde do trabalhador pela informação” Enfermeira graduada pela UEPB Pós-graduação em Estratégia de Saúde da Família e em Auditoria em Saúde, pela UNAERP (Universidade de Ribeirão Preto) Enfermeira do setor de Promoção à Saúde da Unimed Campina Grande Severino Gomes Filho Artigo “Atos de uma crônica: ética e comunicação” Jornalista, escritor professor e pesquisador na área de Comunicação Thélio Queiroz Farias Artigo “Miguel de Cervantes e sua vida quixotesca” Advogado Estudioso e colecionador da obra de Miguel de Cervantes Ademar Santana Artigo “Rosil Cavalcanti – pra dançar e xaxar na Paraíba” Jornalista, cantor, compositor e poeta
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DOS
LEITORES
Parabéns à Unimed pelos seus 45 anos em Campina Grande-PB U N I M E D C À M P I N A
nidos no mesmo ideal o dia 20 de dezembro de 1971, ncentivados pela força de vontade, trinta e três édicos, entre eles: José Juraci Gouveia (fundador), Firmino Brasileiro, Raul Torres, Milton Medeiros, Paulo Pinto outros, assumiram a fundação a Unimed Campina Grande. Por falta de
apital, Dr. Milton Medeiros colocou disposição, no Edifício João Rique, o elhor da cidade (na época), duas salas ara os trabalhos burocráticos. Foi uma niciativa que deu certo ada ficando a desejar, no sentido de tendimento médico-hospitalar, aos campinenses.
Alfredina C. Leão Leitora da Revista Conviver
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CONVIVENDO COM VOCÊ
Cooperativismo A CIÊNCIA DA PAZ SOCIAL
O
cooperativismo possui em seu cerne, uma preocupação vital com a sociedade. Não é à-toa que o sétimo princípio do cooperativismo é o “envolvimento com a comunidade”. Este princípio norteia toda cooperativa a adotar uma posição de agente transformador na localidade em que está inserida, assumindo o seu papel perante a sociedade e o meio ambiente como um todo. E para a Unimed Campina Grande, que tem o cooperativismo como filosofia de trabalho e modelo de gestão, não seria diferente. Há 45 anos atuando na maior cidade do interior paraibano, a sua relação com a comunidade local é bastante estreita, fazendo com que a história da própria cidade se confunda, em alguns pontos, com a história da Unimed. A semente do trabalho solidário, plantada por 37 médicos, em 20 de dezembro de 1971, germinou, cresceu e se ramificou em muitas vertentes. A maior rede de assistência à saúde do interior do Estado gera quase 200 empregos diretos e milhares de empregos indiretos, fomentando uma movimentação impactante na economia. A Unimed Campina Grande é uma das cinco primeiras insti-
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tuições de maior contribuição tributária para o município. Entre pagamentos diretos e repasses de empresas contratadas perfazemos o valor de mais de 300 mil reais por mês. E se a instância é Federal, a Unimed preza por sua adimplência fazendo a sua parte. Entre pagamentos e repasses contribuímos em tributos com o valor de mais de um milhão e oitocentos mil reais por mês. Além disso, ações voltadas para o social, como encontros, cursos e palestras, desenvolvem o conhecimento e a prevenção à saúde, promovendo a qualidade de vida das comunidades campinenses. São impactos sociais beneficamente complexos, que se espalham em uma rede de convivência e ajuda mútua. Observando esta atuação em busca de uma cultura de paz social, a própria cidade reconheceu no último dia primeiro de dezembro a atuação da Unimed Campina Grande, quando o Poder Legislativo conferiu à cooperativa a Medalha de Mérito Municipal, um ato que reforça o compromisso que a instituição tem com a cidade que a acolheu e fez dela sua filha, dando-lhe um sobrenome: Unimed Campina Grande. Uma cooperativa que vive e convive com você.
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UNIMED - UMA MARCA NO SEU TEMPO
Vive Dr. Germano,
UM IMORTAL NA MEDICINA o inesquecível sorriso de dignidade e de esperança
Dr Germano no exercício da sua missão de vida
Dr. José Morais Lucas
O
médico Germano Antonio de Carvalho, falecido em 01/04/2016, com 55 anos de idade, exerceu a sua profissão na cidade de Campina Grande, onde conquistou a simpatia e amizade de todas as pessoas que com ele conviveram, isto é, familiares, clientes e colegas de trabalho. Foi um abnegado na sua especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, tendo adquirido os seus vastos conhecimentos na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, cidade onde residiu durante seis anos, pois, após concluir a sua Residência Médica, ainda atuou algum tempo como profissional liberal naquela metrópole.
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No entanto, sempre na sua mente, o desejo de voltar para o seu Estado de origem, a Paraíba, onde havia deixado familiares e muitos amigos. Nascido em 30 de março de 1961, na cidade de Monteiro, onde residiam os seus pais – Alamir Ferreira de Carvalho e Lindalva Barros de Carvalho. Mas, a família veio residir em Campina Grande, onde Germano deu prosseguimento aos seus estudos, tendo passado pelos colégios Alfredo Dantas e Damas, ingressando a seguir na Faculdade de Medicina da Universidade da Paraíba – Campus II Campina Grande, onde concluiu o curso médico no ano de 1986, ao lado de Mª do Socorro Farias Morais, mais adiante sua esposa e companheira inseparável até o último dia da sua vida. O
“Era muito difícil não encontrá-lo rindo e feliz da vida” casamento de Germano e Socorro aconteceu em 29/10/1988, vindo a seguir o nascimento dos filhos, Lucas Morais de Carvalho e Marina Morais de Carvalho, que resolveram fazer o curso de Direito, estando ambos realizados no que escolheram. Desde cedo, Germano chamava a atenção pela inteligência, amabilidade, simpatia e simplicidade. Era muito difícil não encontrá-lo rindo e feliz da vida. Tinha como hobby na juventude o Basquete, quando era conhecido como o “cestinha” da equipe, o que aumentava mais a sua popularidade e sua espontaneidade. Pouco antes de ser acometido da enfermidade que tirou a sua vida, Germano descobriu e se empolgou com o pedal, porém, por pouco tempo, pois as limitações físicas causadas pela doença o fizeram desistir. Era Professor da Universidade Federal de Campina Grande, na cadeira de Ginecologia, circunstância que foi mais comemorada do que qualquer loteria que tivesse conseguido conquistar. Amava ensinar, atividade que exerceu desde jovem como professor de Biologia de vários colégios em Campina Grande. Como cirurgião-ginecologista costumava esquecer o tempo, quando entrava no Centro Cirúrgico para operar as suas pacientes, ou quando enfrentava uma “empolgante” discussão de casos clínicos nos ambulatórios do HU com acadêmicos ou com colegas médicos. Tinha grande parte do seu tempo dedicado ao consultório, que cuidava com extremo zelo. Foi também médico da Maternidade Municipal de Campina
Grande (ISEA), onde ajudou muitas mães a darem à luz seus bebês, sempre recebidos num clima de muita alegria, como se fossem seus próprios filhos. Além de Germano - o penúltimo a nascer, o casal Alamir/Lindalva teve também como filhos, Lindamir (falecida), João Bosco, Alamir Filho, Arlete e Tibério Rômulo. Dos seus colegas de turma na Faculdade de Medicina, além da esposa Socorro Morais Carvalho, que é minha amiga e colega de especialidade, pois, trabalhamos juntos via Cooperativa Campinense dos Anestesiologistas – Cocan, ficaram ou voltaram para trabalhar na nossa terra, Drs. Andréa Barros, Ana Lúcia Cantalice, Ana Lígia Feliciano, hoje, vice-governadora da Paraíba, Doralice Rodrigues, Elisabeth Cavalcanti, Evânia Claudino, Francisco Vieira, Giovaninni César, Ivana Villar, José da Costa Leão, João Alves, Luciano Guedes, Márcio Rossani, Marília Nunes, Olga Leite e Wania Freire. Feliz a turma de Medicina que teve como um dos seus membros, o inesquecível Germano Carvalho, com muito orgulho dos que fazem esta revista, hoje biografado. Como não poderia deixar de ser, o Comitê de Comunicação, por unanimidade aprovou o seu nome para figurar entre os biografados, atendendo a sugestão da Dra. Teresa Mayer Ventura da Nóbrega, Diretora da Unimed Campina Grande. Feliz também aqui me encontro, por ter tido a missão de redigir este texto, além de ter sido amigo de Germano e em muitas ocasiões, ter tido o privilégio de ter feito anestesia para que ele operasse. www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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PONTO DE VISTA
Alcoolismo
feminino
por que as emoções também viciam
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Por I.L. – membro de A.A.
A
pesar do seu consumo liberado, e evidentemente estimulado por grandes campanhas publicitárias, é essencial considerar que o álcool é uma substância psicoativa a deprimir o sistema nervoso central. Sua dependência nas últimas décadas vem aumentando em escala surpreendente e, como patologia crônica, traz o reflexo de complicações familiares, ocupacionais, sem falar nos danos psicológicos, físicos e sociais na vida de um dependente. Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas o consumo abusivo de álcool no Brasil cresceu 31,1% nos últimos seis anos, onde mesmo com uma tendência maior para os homens (19,5%,) do que entre mulheres 6,9%, tal diferença ainda é discutida. A forma como a sociedade percebe o alcoolismo feminino também é diferente de como o alcoolismo masculino é compreendido. Essa mulher é vista como imoral, inadequada, sofre com o preconceito. Segundo a psicóloga Frances Jan Bauer “a mulher que bebe em excesso parece sujeita a ser considerada antes perversa que enferma." O sexo fala contra ela ainda mais que o problema. Para Bauer, quaisquer que sejam os números exatos atualmente, a quantidade de mulheres alcoólatras, seja na América ou na Europa, está mesmo aumentando. Para se ter uma ideia, de cerca dois milhões de membros de AA no mundo, um terço deste número é de mulheres. Como acontece com os homens, e talvez mais, o quadro do alcoolismo feminino também é distorcido por estereótipos oriundos do papel obscuro que o alcoólatra desempenha na nossa sociedade. No entanto, contrariando esses estereótipos, o alcoolismo nas mulheres não se limita a atrizes histéricas, camponesas grosseiras e solteironas frustradas. A mulher alcoólatra pode sim ser uma dona de casa exemplar, uma profissional dinâmica ou a esposa de um renomado político, só para exemplificarmos. Não existe perfil. Porém é possível detectar no alcoolismo destas mulheres, como no de qualquer outra pessoa, certos padrões clássicos, que apontam para o consumo não normal de bebidas. Do ponto de vista clínico, as razões que induzem a mulher a beber e certos traços de caráter frequente nas mulheres alcoólatras podem ser considerados semelhantes aos dos homens, independente da formação individual, sendo alguns desses, vontade de amenizar o peso do trabalho e das relações pessoais, livrar-se da tensão e da ansiedade, assim como do tédio e da fadiga, liberar sentimentos, entre outros. Contudo em se tratando das
mulheres, esse quadro muda um pouco porque mesmo numa sociedade de bebedores, elas não podem beber e são menos pressionadas do que os homens, para quem álcool e virilidade caminham juntos. Portanto, para a opinião pública em geral, a mulher que bebe em excesso ou de maneira “errada” recebe mais críticas. Sendo assim, enquanto o homem pode ser aconselhado e estimulado com toda sorte de recompensas para conseguir o objetivo de moldar-se, a mulher é quase sempre castigada – e com mais severidade. Assim, uma vez que as mulheres alcoólatras têm consciência dessa discrepância e chegam a exibir a mesma atitude para consigo mesmas, frequentemente procuram beber às escondidas. Isso inaugura o círculo vicioso de vergonha e culpa, tornando o problema delas mais difícil de identificar e tratar. O conceito dos AA é o único que vem obtendo sucesso em larga escala na ajuda aos alcoólatras. Entre as razões disso está, em primeiro lugar, o fato de não serem fatalistas nem moralistas. Considera os doentes e, ao falar de doença, afastam a culpa moral do indivíduo, seja ele homem ou mulher. Em meados dos anos 60, as mulheres dos AA eram consideradas pioneiras num mundo masculino. Atualmente, elas não são mais exceção e não há um só grupo que se atreva a barrá-las. A declaração no preâmbulo dos AA é bem clara: “A única exigência para adesão é o desejo de deixar de beber.” Por causa disso, enquanto as barreiras sociais referentes a etnias, sexo e educação continuam a ceder unicamente à força da lei no mundo exterior, dentro dos AA, o poder de uma doença, que acomete homens e mulheres, estabeleceu uma democracia natural. Em suma, a mulher alcoólatra pode até ficar triste por causa dessa doença, mas não deve gastar energias censurando-se. Pelo contrário, é importante aceitar-se e assumir a responsabilidade pela sua recuperação.
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PONTO DE VISTA
JOSÉ MOYSÉS DE MEDEIROS NETO
Um vocacionado para a Medicina Por Dr. Evaldo Dantas
T
em coisa melhor neste mundo de meu Deus do que escrever sobre quem a gente gosta, admira e respeita, caríssimo leitor? Pois bem. E essa foi a tarefa (ou presente!) que eu recebi, recentemente, da direção da Equipe Editorial da Revista Conviver - que é elaborada e distribuída pela Unimed Campina Grande - para que eu escrevesse algumas palavras sobre a biografia – extremamente ampla e rica de valores ético-científicos, humanísticos e até mesmo socioculturais – deste gentílico santa-luziense que atende pelo carinhoso nome de Zé Moysés. Desse modo e de forma mais
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que prazerosa, nem contei conversa, e saí à cata de informações sobre tão importante personagem. Assim, logo me deparei com os escritos de sua filha, a ortopedista doutora Tatiana Medeiros, que - por ocasião do Dia do Médico, que foi comemorado na Associação Médica de Campina Grande (AMCG), em 18 de outubro de 2015, nesta Rainha da Borborema -, relatou sobre a referida criatura humana. Na verdade, ela foi bastante feliz em ter conseguido resumir graficamente, com elegância e boa capacidade literária - um pouco da vida deste homem que é um exemplo vivo de um verdadeiro cristão. Exponho aqui, sim, nas linhas que se seguem nesta minha modesta tentativa de levar aos inúmeros leitores (e leitoras, claro!)
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algumas das informações que considerei necessárias para a composição deste texto literário. Noutro momento, encontrei depoimento do doutor Moysés, como ele é mais conhecido, em um primoroso documentário do tipo DVD, em que com suas próprias palavras ele fala sobre acontecimentos importantes de sua existência humana, a qual é pautada por uma vida de lutas hercúleas, porém de grandes conquistas. O referido DVD, pois, faz parte de extraordinário trabalho de preservação histórica da memória de alguns membros do Conselho Regional de Medicina, e que é elaborado pelo seu Departamento do Museu da Imagem e do Som. José Moysés de Medeiros Neto, segundo filho do jovem casal Maria
Fernandes e Jovino José Medeiros, nasceu no dia 1º de outubro do ano de 1932, na cidade de Santa Luzia (PB). Naquele ano, ali ocorreu a conclusão da construção do Açude Maior. Com apenas seis meses de idade, Moysés se tornou órfão da mãe, posto que ela não resistiu ao forte surto de febre tifoide que acometeu o sertão da Paraíba, ocasião em que morreram 386 pessoas. Ele, naturalmente, foi criado pelos avós maternos. Para Tatiana Medeiros, “a vida do pequeno Moysés seguiu no sertão Paraibano até seus 13 anos. Apesar da seca e até dos poucos recursos que a família possuía, não lhe faltou amor (nem carinho!)”. E acrescentou: “No ano de 1945, aos 13 anos, Zé Moysés chegou a Campina Grande. Pré-adolescente, mesmo sem ter frequentando uma escola, já sabia ler e realizar as quatro operações matemáticas, o que facilitou a conquista do seu primeiro emprego: balconista, na mercearia do seu tio José Feitosa. Permaneceu nesse emprego por três anos. E, paralelo ao emprego, frequentou a escola de dona Maria da Luz para se preparar para o exame de admissão do Colégio Diocesano Pio XI, no qual foi aprovado em um dos primeiros lugares”, concluiu. Enquanto adolescente, estudou o curso ginasial no Colégio Diocesano Pio XI e o curso de Técnico em Contabilidade no Colégio Alfredo Dantas, no ano de 1954. Depois, foi estudar em Recife (PE), onde fez o curso científico, já de olho na esperança de poder prestar o vestibular para o curso de Medicina. Àquela época, mesmo ouvindo de seu patrão que “pobre não faz Medicina”, Zé Moysés instalou-se na pensão de Donina, na Rua Barão de São Borja, e recomeçou o trabalho durante o dia e se matriculou no Cursinho Pernambucano à noite. E, enfim, tendo sido aprovado para cursar a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, este jovem vocacionado para a Medicina, lá se diplomou no ano de 1962. Posteriormente, especializou-se na área de Urologia, tendo sido orientado profissionalmente nesta sua pós-graduação pelo conceituado médico e professor Alberto Gentili, no antigo Hospital do IPASE, no Rio de Janeiro. Pela graça divinal e por força do destino, a vida lhe reservou o dia 13 de junho de 1964, para que ele se casasse com a jo-
vem e bonita Zoé de Oliveira Brito, com quem, posteriormente, passou a constituir uma bela família de quatro filhos: Marta, Tatiana, Wilma e Renato. Eles têm dez netos. De volta para Campina Grande/PB, em definitivo, no dia 5 de fevereiro de 1964, ele assumiu o emprego de servidor público federal como médico do antigo Hospital do IPASE daqui da Rainha da Borborema, e que, depois, chegou a ser denominado Hospital do INAMPS – sendo que, atualmente, ele é o nosso muito tradicional e bem conceituado Hospital Universitário Alcides Carneiro da UFCG. Aqui, ele se aposentou em 1999, mas para a minha grande felicidade, eu ainda pude conviver profissionalmente com ele, a partir do ano de 1986, quando, por concurso público, fui admitido na gestão do também urologista doutor Marco Pimentel. E posso dizer que aprendi muito com os seus ensinamentos hipocráticos, até porque ambos sempre tinham muito a nos ensinar profissionalmente. O doutor Zé Moysés, se filiou à Sociedade Brasileira de Urologia em 1971, tendo recebido, então, o honroso Título de Especialista em Urologia em 1978. Foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Campina Grande, no início da década de sessenta. Chegou, evidentemente, a ser Preceptor do Curso de Pós-Graduação, no HUAG da UFCG, por alguns anos, antes de sua aposentadoria naquele nosocômio campinense. Em 1997, já aos 65 anos de idade, ele começou a aprender a tocar saxofone, com o famoso maestro Chiquinho. E essa é uma atividade artística que, atualmente, ele já faz com maestria e elegância, e diz de forma bastante modesta que somente “toca o que já está cifrado musicalmente”, ao tempo em que afirma que este é, pois, um “instrumento de sonoridade solitária, ainda que dentro de uma orquestra”. Como compositor-letrista, já teve suas músicas cantadas e tocadas pelos poetas Amazan e Francinaldo, pelo irreverentemente extraordinário artista João Gonçalves e, inclusive, pelo famoso e alegre grupo Os Três do Nordeste. Finalmente, portanto, como me disse o amigo jornalista Ribamildo Bezerra: este doutor Zé Moysés, na verdade, é mesmo “pau-prá-toda-obra”, e disso ninguém duvida, minha gente! www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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PONTO DE VISTA
Falta Matéria
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Falta Matéria
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CAPA
Unimed 45 ANOS a cooperação conta a nossa história
CAPA CAPA
P
ara se contar uma história de liderança, é preciso conhecê-la e vivenciá-la. Em mais de quatro décadas a Unimed Campina Grande trouxe a responsabilidade de estar à frente do seu tempo agregando, trabalho, credibilidade e ética num pacto de crescimento conjunto com a nossa cidade. No dia 20 de dezembro de 2016 a Unimed Campina Grande estará completando 45 anos de fundação e consolidação de um ideal de 37 médicos que, no ano de 1971, deram início à prática do cooperativismo médico na cidade através da marca Unimed, hoje responsável por mais de 65 mil vidas no município. No começo tudo era um ideal e um longo caminho de trabalho. Era o Brasil da virada de década dos anos 60 para os anos 70. Um país que reafirmava a sua industrialização e que tinha como cenário político a implantação do Regime Militar que conduzia o Brasil através dos atos institucionais.
Sede atual, construída com recursos próprios em 1984, na gestão do presidente Dr. José Juraci Gouveia
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No campo da saúde o então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) mesmo sendo o modelo de assistência vigente, representando o Governo da época, enfrentava dois desafios: a insatisfação dos profissionais de Medicina quanto à remuneração paga e à fragilidade na qualidade dos serviços prestados à população. Era nesta lacuna que começa a ser firmar a assistência médica privada no país. Dos vários modelos vigentes, dentre eles o da prática da Medicina de grupo, que consistia na terceirização da assistência à saúde por empresas criadas por médicos, nenhum deles até então viria a mostrar uma solução satisfatória para resolver o problema da mercantilização da Medicina. A prática médica sempre contava com a presença daquele que ganhariam mais, diante a exploração de qualquer serviço.
Em 1967 é o sindicato médico da cidade de Santos representado pelo presidente Dr. Edmundo Castilho, que demonstra a primeira ação contrária a esta tendência, através da criação naquele mesmo ano da União dos Médicos – Unimed. Surge no país a primeira organização médica de trabalho cooperativista, com o objetivo de oferecer serviços de qualidade com um custo acessível e a livre escolha do médico cooperado de acordo com a preferência do cliente. Definidas como sociedades que se constituem para prestar serviços a seus associados, com vistas ao interesse comum e sem o objetivo de lucro, as cooperativas são administradas nos moldes de uma empresa, porém sem fins lucrativos, porém com grande responsabilidade com a comunidade a qual presta serviço. A Unimed é um marco na história de Campina Grande, isto porque apenas quatro anos depois da criação da primeira cooperativa médica no Brasil, era em nossa cidade que o pioneirismo dessa forma de trabalho influenciaria todo o Nordeste. Em 20 de dezembro de 1971, o médico ortopedista Dr. Firmino Brasileiro conjuntamente com mais 36 médicos assinariam a Ata de Fundação da primeira cooperativa médica da cidade e a segunda no Estado onde assumiria o cargo de presidente até o ano até de 1975. “Aqueles eram tempos, onde os poucos que sabiam e entendiam o cooperativismo médico tinham que despertar e conquistar novas pessoas que abraçassem aquela ideia, argumentos e fatos não faltavam. Os cooperados seriam os próprios donos do negócio, todo o sucesso do investimento também seria compartilhado, isto sem falar que os clientes teriam opção para escolher o seu médico, além de valorizar os profissionais que aqui residiam” destaca Dona Zenilda Chaves de Góes, primeira contadora e colaboradora da Unimed. Com a futura clientela o trabalho era de convencimento e os próprios médicos ajudavam na divulgação da própria Unimed. “Quem me convenceu a adquirir o plano foi Dr. Fernando Rabello, que afirmou ser a Unimed o primeiro plano de saúde da cidade com uma modalidade di-
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ção da Unim
a Ata de fund ferente de trabalho, o cooperativismo. Não tive dúvidas.”, afirma o empresário José Alves de Sousa Filho, o cliente de cartão número 01 da Unimed Campina Grande, há quarenta anos. Desafios não faltaram em quatro décadas de trajetória. As duas primeiras gestões representadas nas administrações do Dr. Firmino Brasileiro (1971 a 1975) e Dr. José Juraci de Gouveia (1975 a 1987), tiveram como missão consolidar o cooperativismo médico como forma de trabalho, sendo este um novo caminho na prestação de serviço no campo suplementar. Cursos de formação cooperativista eram realizados na época como forma de levar aos médicos um profundo conhecimento no novo campo de trabalho. Três vértices deste projeto acabavam motivando o ritmo de crescimento da cooperativa: “Na medida em que os novos cooperados ingressavam na Unimed, novos prestadores passavam a acreditar no projeto, uma
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CAPA
UMA MARCA NO SEU TEMPO
2016
A Sede Administrativa da cooperativa passa por uma grande reforma que duplica sua área construída. Este processo foi necessário diante do aumento da complexidade do negócio, bem como a quantidade de atividades administrativas realizadas foi crescendo de acordo com a dinâmica do mercado
A Unimed Campina Grande, mesmo com todos os desafios do setor, conquista seu Registro Definitivo junto à ANS, conferindo credibilidade e solidez na sua atuação
2000
2009
É criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, órgão que começa a regular todas as atividades das operadoras de planos de saúde. Se iniciam aí grandes mudanças no setor da saúde suplementar em todo Brasil
Através da gestão do então presidente Dr. José Juraci Gouveia, a Unimed constrói a sua sede atual, com recursos próprios. Este momento impulsiona ainda mais os serviços da cooperativa, promovendo um melhor fluxo de processos e melhoria no atendimento
1971
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1984
A busca pela valorização do trabalho médico e pela melhoria na assistência à saúde culminou na união de 37 médicos, que, no dia 20 de dezembro, instituíram a Unimed Campina Grande
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positiva vitrine para que novos clientes se somassem aos demais, oferecendo à cooperativa a solidez e a qualidade nas opções de serviços oferecidos à comunidade, destaca o médico Dr. Gil Braz um dos pioneiros na fundação da cooperativa. As duas primeiras décadas foram não só de conquistas no quesito credibilidade, mas também na consolidação de um patrimônio. À medida que a cooperativa crescia, no mesmo ritmo cresciam também as necessidades estruturais, a começar pela busca de uma sede própria. De uma sala doada no Edifício Rique, pelo médico Milton Medeiros, no centro de Campina, passando pelo primeiro prédio próprio na Rua Pedro II, é no ano de 1984 que a Unimed ganha a sua Sede planejada e construída para um maior e melhor atendimento ao público. A virada de década dos anos 80 para os 90 impulsionou a força democrática da cooperativa que elegeu o médico Mário de Oliveira Filho para o mandato de 1987 a 1990. O mercado de planos de saúde já mostrava uma concorrência bastante acirrada. Os novos tempos exigiam não só a fidelização, mas a ampliação do número de clientes, um atrativo a agregar paralelamente no aumento do número de cooperados. “Precisávamos acompanhar o nosso tempo, a informatização já era uma realidade, a Unimed, à época, exigia dinamismo e segurança além da qualidade a qual sempre nos propuséramos. A Unimed avançava a cada época,” destaca Dr. Mário. Na gestão seguinte, tendo à frente o ortopedista Dr. Arlindo Carvalho (1990 a 1994), destaque para introdução da tabela da Associação Médica Brasileira, um importante parâmetro de reconhecimento ao ato cooperado, essência primeira na filosofia de trabalho da Unimed Campina Grande. A Lei nº 9.656, do ano de 1998, viria marcar o processo de regulamentação dos planos no Brasil, trazendo mais equilíbrio nas relações entre operadoras e clientes. Nesse contexto, a então presidente Dra. Santana Maria Florindo (1994 a 2002), reforça ações de marketing, reafirmando a liderança e a força da marca.
Sede atual, após reforma de duplicação da sua área construída em 2014, na gestão do presidente Dr. Francisco Vieira de Oliveira
Mas é em 2002 quando toma posse como presidente da Unimed Campina Grande que o médico Dr. Francisco Vieira de Oliveira assume um dos maiores desafios administrativos de uma gestão à frente da cooperativa. Além da regulamentação dos planos, era criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar. O setor de planos de saúde vivia tempos de definição pois só sobreviveria no mercado quem se adequasse às novas determinações pontuadas pela ANS. “Encaramos os desafios, nos adaptando às resoluções normativas. Não fugimos de nenhum compromisso financeiro, no que competia ao pagamento de impostos assim como os lastros de garantia financeira exigidas pela ANS, tudo isso num tempo onde o pessimismo reinava no mercado brasileiro. Saímos vitoriosos.”, destaca Dr. Francisco Vieira, presidente da Unimed Campina Grande. A conquista do Registro Definitivo concedido pela ANS à cooperativa simbolizou a maturidade administrativa adquirida pela Unimed Campina Grande num
setor tão dinâmico e cheio de desafios. O registro acaba sendo uma chancela de qualidade e referência no setor no País. Passado 45 anos de uma sólida história a Unimed Campina Grande é atualmente um dos exemplos de saúde estrutural e financeira que referencia uma instituição com a sua comunidade. Representada hoje por 636 cooperados, com uma rede de 104 prestadores e responsável por mais de 56 mil vidas, a Unimed não só construiu uma história de credibilidade, mas de trabalho também, justificando o seu crescimento conjuntamente com Campina Grande, através da geração de empregos diretos e indiretos e em caráter interdisciplinar trazendo em seu estofo a ação maior de valorização da Medicina aqui praticada, elevando-a a caráter de excelência. Promover qualidade de vida para nossa gente, um compromisso histórico que a Unimed assume por ser parte de uma trajetória de cooperação, um longo caminho que se confunde à célula maior da Grande Campina. www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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NOSSO PATRIMÔNIO
Muito além da ciência, o
humanismo Dra. Adriana Melo, uma médica sem fronteiras, que usou o seu empenho científico para uma pesquisa inédita no mundo: a relação do Zika Vírus com casos de Microcefalia
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iência no Brasil é feita com coragem e ousadia. O nome da médica e pesquisadora Adriana Melo é prova disso. O ano de 2015 parece ter colocado à prova todo o empenho científico desta médica que parece nunca ter medido fronteiras quando o desafio é ter o conhecimento a favor de uma causa. A comprovação do elo entre o Zika Vírus e os inúmeros casos de microcefalia no Brasil, segundo o Ministério da Saúde há mais de 1.600 casos comprovados, traz uma saga de determinação que ecoará para o futuro, sendo um importante recorte histórico-científico onde a ciência e assistência tiveram que dar as mãos em nome de vidas que em primeira instância só podiam contar apenas com uma única medicação e acolhimento. E foi a humanista Adriana Melo, que deu o combustível essencial para que a cientista não visse barreiras. Uma luta que iniciou com o mais importante e essencial de todos os apoios - mães em busca de respostas para cuidarem dos seus filhos. Nesta entrevista veremos que muito mais que interrogações, o maior desafio enfrentado por Adriana, foi o descrédito e a burocracia inicial para a sua tese, fato este que a fez bancar do próprio bolso
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as primeiras análises que viriam a mudar o olhar sobre o surto de microcefalia no Brasil. Confira a entrevista: Revista Conviver - Em 2015, o Nordeste apontava crescentes casos de microcefalia em bebês, e de repente essa realidade chega até o seu consultório. Como a senhora se deparou com este desafio? Adriana Melo - O surto de microcefalia já começava a surgir em alguns estados do Brasil no ano de 2015, principalmente em Pernambuco, estado com o maior número de casos. O nosso sinal de alerta surgiu entre agosto e setembro quando a equipe de Medicina Fetal da Maternidade Instituto de Saúde Elpídio de Almeida já detectava casos de bebês com danos no Sistema Nervoso Central. Um caso em particular me chamava a atenção. A de uma gestante que carregava um bebê com uma combinação inédita: a microcefalia e o cerebelo atrofiado sugerindo uma patologia genética, mas ambos junto a calcificações na caixa craniana que indicavam infecção. E como se não bastasse, havia excesso de líquido no cérebro o que deveria fazer a cabeça da criança aumentar de tamanho e não diminuir. www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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RC - Que caminhos a levaram a uma conclusão? AM - Na mesma época atendi uma segunda mãe, já no consultório particular, cujo bebê possuía as mesmas características. Além disso, nos dois casos, essas mães relataram terem tido exantema, típico da Zika. Era a primeira sexta-feira de outubro, um fim de tarde e tinha acabado de receber um WhatsApp com uma nota técnica da Secretaria do Estado de Pernambuco, alertando para o aumento de 60 casos de microcefalia em mulheres que tiveram manchas vermelhas nos primeiros meses de gravidez. Levei em conta na troca de informações com o Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Brito, o aumento no número de casos de Guilliain-Barré, síndrome neurológica associada ao Zika. Intrigada, disse: “Esse vírus gosta de nervos”. Passei a pesquisar em sites de artigos médicos e encontrei apenas oito sobre o tema. Só um deles mencionava a transmissão do vírus no parto. Daí a questão: era preciso comprovar a presença do Zika Vírus nas mães. RC - Havia uma peça que ainda não se encaixava? AM - Era preciso cruzar dados, realizar comparações e afastar falsas hipóteses. Em uma situação que pedi urgência, foi preciso quebrar protocolos para realizarmos os primeiros testes, já que se optássemos pelas vias normais isso poderia levar meses. O grande diferencial desta história está na coragem das mães em permitirem a coleta do líquido amniótico dos seus filhos para que pudéssemos fechar este elo. Foi no dia 5 de novembro, dia do meu aniversário, que soube que a única instituição no Brasil que poderia me dar respostas que eu precisava era a Fiocruz. Cinco dias depois já estava coletando o material destes bebês. No dia 16 de novembro, um telefonema em caráter confidencial, do próprio instituto me confirmava: “É Zika”. Um dia após esse telefonema, o então Ministro da Saúde, Marcelo Melo, viria oficialmente confirmar a associação entre o vírus e os casos de microcefalia. RC - Com que apoio a senhora contou diante deste novo quadro que se desenhava? AM - O primeiro grande apoio foi das gestantes, das duas primeiras mães gestantes, uma da clínica privada e outra da clínica pública, que se uniram a nós por busca de respostas. Os amigos, também pesquisadores, que deram respaldo e acreditaram em nosso olhar, a Secretaria Muni-
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cipal de Saúde em nossos primeiros passos nessa pesquisa. Se bem que muitas promessas de outras tantas instituições se fizeram mais presentes do que ajudas reais. Essa doença me ensinou que quando você quer fazer as coisas, você deve contar com o apoio que se tem. Pesquisadores da UFRJ e da UNIFES e cientistas voluntariamente abraçaram esta causa. RC - De um lado, uma médica pesquisadora em busca de respostas e de outro uma mãe de família que também se compadece com a realidade enfrentada pelas mães desta nova geração de bebês. Como a senhora conseguiu equilibrar estes dois lados? AM - Sempre digo que o fato de ser mãe, me faz sentir no lugar delas. E o pior do que ver uma mãe sofrer com um filho doente, é não saber qual a causa daquela patologia Com uma realidade em mãos, é preciso unir forças para saber
"Hoje estamos mais próximos de descobrir uma medicação que possibilite que a mãe que tenha tido Zika não venha a passar o vírus para o bebê". estão sendo negados, e muitas delas tendo que aguardar a próxima administração para regularizar o transporte. Vale salientar que algumas mães percorrem até 200km para realizar uma sessão de fisioterapia, sem falar nas demais logísticas de mobilidade. Por isso nossa luta agora e pelo acolhimento dessas mães e seus bebês. É preciso entender que os dois primeiros anos na vida dessas crianças são fundamentais, quando através de estímulos podemos ampliar a qualidade de vida desses bebês no futuro. Por isso nossa luta maior está na celebração de importantes parcerias que possam oferecer esta logística para as famílias. RC - E como pesquisadora, quais os seus maiores desafios no momento? AM - Recentemente estávamos contanto com uma verba de mais de dois milhões de reais em projeto enviado ao CNPq, tendo como instituto proponente o IPESQ- Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, por uma interpretação de que eu não teria vínculo empregatício com o instituto, e o tenho já que a Prefeitura Municipal possui laços com a instituição. O projeto mesmo ganhando caráter de excelência, no primeiro momento não foi aceito. Um dia a gente se abate, outro se levanta. Não vamos desistir dessas crianças. A parceria com a Prefeitura Municipal de Campina Grande, assim como a doação
o que fazemos com ela. Lutar por qualidade de vida destes bebês. Muitas vezes na falta do que dizer, simplesmente abraçava. O apoio é fundamental nesta hora. Além disso, sem elas, as mães, não teríamos chegado onde chegamos. Somos uma família hoje. Não as vejo apenas como elementos essenciais nesta busca científica. O que elas nos fornecem, retribuímos com resultados para a melhoria da qualidade de vida delas e dos seus bebês. RC - E qual a maior dificuldade enfrentada hoje por esse país? Os desafios são muitos. Desde a fralda até uma locomoção para uma fisioterapia, já que muitas mães são do interior do estado. Com essa mudança de quadro político, certos serviços básicos
voluntária de valores pela comunidade através da conta de energia pelo número 0800 0830196, nos mostra que não estamos sozinhos. RC - E como andam os avanços das pesquisas? AM - Hoje estamos mais próximos de descobrir uma medicação que possibilite que a mãe que tenha tido Zika não venha a passar o vírus para o bebê. O Instituto D’or, no Rio de Janeiro, nos aponta para isso. Mas por outro lado não podemos esquecer as crianças que já nasceram. Essas são frutos de mães que não sabiam do mosquito, elas não tiveram a chance de se proteger. E foi pela coragem delas que hoje avançamos. Por isso meu apelo se dirige a mães de bebês saudáveis, que passaram pelas mesmas aflições e expectativas das mães das crianças com microcefalia, que agradeçam a vida, doando um pouco do que tem para essas vidas que precisam tanto. RC - Os atuais reconhecimentos pelo seu trabalho nessa pesquisa têm ajudado a causa? AM - Esses prêmios, nada mais são do que “caixas de ressonância” que ampliam não só a minha voz, mas as vozes de tantos que estão empenhados nesta luta, figuras tão abnegadas quanto ocultas, e que tem doado grande parte do tempo na busca por resposta. Hoje temos duas linhas de fronteira: a prevenção com as futuras mamães, e a responsabilidade como os bebês já nascidos. Muitas questões ainda intrigam a ciência, como a presença do Zika em outros países, que não obrigatoriamente desenvolveram um surto de microcefalia. Esses prêmios têm absoluta função de fazer com que sejamos ouvidos cada vez mais. RC - E onde a mulher Adriana Melo reabastece suas forças diante de uma rotina tão desafiadora como exigente? AM - Se não tivesse o apoio que tenho dos meus filhos e do meu marido Romero, acho que não “seguraria o barco”. Minha religiosidade também me fortalece em dias de fragilidade emocional. Mas principalmente essas mães e essas crianças que me acolheram como membro da família e me trazem o impulso de continuar lutando e acreditando que podemos fazer ainda mais.
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VIVER BEM / NATUREZA MÉDICA
Por Dr. Flawber Cruz
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e d a r u t l u C Estamos m sempre e busca de o paz. E nã as? r r e u g e d 36
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m tempo, podemos ameaçar como se com armas em punho “Agora eu quero ver!”. De outra sorte, esbravejamos “Me deixe em paz!”. Cada um de nós reclama para si essa paz com significado de descanso, ausência, silêncio. E assim o fazem vizinhanças, e mesmo nações. Às palavras, aos movimentos, ao contato dos que podem ou parecem incomodar, reagimos pedindo distância, construindo refúgios e demarcando fronteiras. E o mundo, por nós mesmos colonizado em séculos de guerras. E esse novo mundo há pouco globalizado, que tornou as fronteiras e refúgios tão tênues e inúteis como erros de um passado ilegítimo. Esse mundo parece agora, em nome da paz dos que não toleram o incômodo vindo do lado de lá, dividir-se em vários pedaços de cá, escondidos em mapas antigos, de fronteiras desenhadas à tinta espessa e vigiadas pelos olhos dos satélites. Deixados nessa paz silenciosa e solitária, não queremos mais ver o outro. Não haverá vozes, não haverá estrondos. Não haverá guerra? Dizem que paz sem voz, não é mesmo paz. Sem voz, os homens e mulheres se fazem de medo. E o medo é a seiva bruta e sanguínea que percorre o chão onde pisamos até as raízes mais profundas e ancestrais do que nos fez homens, para nutrir pouco a pouco sementes escondidas em nossas almas ao longo dos tempos, esteriliza-
das pela razão. Enquanto brotam, essas sementes precárias precipitam a intolerância, o desafeto, a impulsão. Medo, vindo do silêncio dos que se escondem, vindo do estalo das armas, é sempre prenúncio de guerra, de fronteiras findas para que novos limites mais duros se imponham entre as pessoas. Em medida oposta, palavras e proximidade, escuta e acolhida, razão e sensatez, derrubam muros cinzas e abrem territórios de verdadeira paz. Pois ter paz é poder construir, sobre o chão de seiva bruta e sangue, mesmo que entre vozes e dialetos diferentes, mesmo que entre gestos e vontades que ainda desconhecemos. E nesses territórios de paz, apenas se constrói se outros tantos vierem, se prescindirmos, portanto, do limite dos mapas e da vigilância de olhos ocultos. Se paz é construir, nada se fará em nome dessa paz se estivermos sozinhos, se formos poucos, amedrontados, ou repletos de nossas próprias fórmulas e conceitos. Esse território de paz concebe-se na exata medida da cooperação entre nós mesmos. Paz, simplesmente, é estar em conjunto, quando a falta de um desconstrói o sonho de todos. Como a mãe que acolhe e pacifica o choro de seu bebê, como quem cuida da dor de quem padece, como quem empresta agasalho para os que sentem frio, como quem sempre antes de fazer, questiona a si mesmo sobre o que acontecerá. Se há mais tempo vivêssemos em cooperação, vastos caminhos estariam abertos para uma vida maior, sem tanto desses obstáculos que dia a dia a diminuem violentamente quando esbarramos em muros, armas, horas vigiadas, em comida e tempo que cada vez mais faltam, como se eternamente competíssemos com os do lado de lá, esperando a próxima batalha enquanto matamos um leão, ou quem sabe outro de nós. Como se a vida precisasse se limitar a quem pode vencer e quem deve fugir. Se o sono da razão produz monstros, o silêncio dessa paz sem voz produz guerras invisíveis que matam utopias, sonhos e palavras. Deve cada um de nós, urgentemente, buscar a paz de quando minha mão encontra a sua, de quando minha voz pode ser ouvida, de quando pelo chão por onde ando, percorre a água para o plantio do que irá te saciar. www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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Idoso ativo e saudável A velha guarda repaginada
Por Dra. Aline Guerra
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e existe algo que envelheceu durante o tempo, foi o olhar para se definir um idoso saudável. Antigos parâmetros que se diluíram em clichês e que já não possuem mais serventia. Aposentados que calçavam chinelos e meias e que se amparavam em atividades como tricô para ocuparem o tempo, são imagens que em muito destoam do idoso ativo, que continua investindo no seu futuro; em um amanhã que parece ser cada vez mais promissor. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) até o ano de 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, e diante deste rápido processo de envelhecimento da população, é necessário repensar o conceito de saúde diante deste novo perfil populacional que se edifica para o futuro. É a própria OMS que define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença. Neste contexto, como definir um idoso saudável? Uma pessoa que não possui doença? Ou seria mais coerente pensar que trata-se de alguém que consegue manter sua autonomia (capacidade de gerir a própria vida e de tomar decisões) e sua independência (capacidade de realizar atividades sem ajuda)?! Em um olhar mais abrangente entendemos que grande parte dos idosos, são portadores de, pelo menos, uma doença crônica que pode até trazer algum comprometimento da autonomia e da independência, mas este idoso com doença crônica dos dias atuais não é mais uma pessoa frágil, incapaz e dependente. Um bom controle da doença crônica e de suas repercussões clínicas e funcionais associado a medidas preventivas, além da facilidade de informações e permuta de experiências, principalmente em “tempos virtuais”, reforçam a manutenção da funcionalidade do idoso.
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O idoso está se mostrando cada vez mais participativo na vida social, merecendo todas as oportunidades de viver bem e com saúde. Sua capacidade funcional está hoje exemplificada na presente força de autonomia que o mesmo possui para desempenhar suas atividades de vida diária como vestir-se, alimentar-se, cuidar da higiene pessoal, locomover-se, deitar e levantar da cama. Isto sem falar nas também evidentes atividades instrumentais exercidas com integridade como cuidar do próprio dinheiro, realizar compras, utilizar meio de transporte e arrumar a própria casa. Muitos fatores aparentemente não visíveis têm servido de alicerce positivamente para a mudança do perfil do nosso idoso. Poderíamos destacar, por exemplo, o harmônico equilíbrio entre a saúde física e mental a refletir em seu bem-estar seja qual for a sua idade, proporcionando por consequência uma maior integração com a família e o seu meio social. Um exemplo prático destes nichos são os clubes da terceira idade, onde experiências e desafios são compartilhados numa espécie de terapia coletiva. É preciso entender que na soberania da vida envelhecer é lei natural, perpassa por nossas escolhas, e a partir de agora é este paradigma que a sociedade brasileira começa a refletir, que grau de convivência teremos com os nossos idosos cada vez mais ativos, conscientes e integrados. O idoso ativo e saudável é um novo olhar para um futuro, que começa a ser construído agora, onde a contribuição interdisciplinar, geriatras, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos convergindo ações para que nossos idosos alcancem cada vez mais vantagens e possibilidade de uma vida ampla e de qualidade se faz primordial, fazendo valer a máxima do professor de gerontologia da Universidade Católica de Brasília, Vicente Faleiros, de que “A velhice não é um peso, é sim uma conquista”. www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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Animais peçonhentos
o veneno inoculado pela desinformação Por Bárbara Stheffane Santos Vasconcelos Presentes em meios rurais e urbanos os animais peçonhentos são definidos como aqueles que fazem uso de alguma parte do corpo para injetar veneno em suas presas na hora da caça ou em predadores quando se sentem ameaçados. Existe uma diferença entre o animal peçonhento e o venenoso. Os peçonhentos são aqueles que possuem glândula de veneno e aparelho inoculador (presas ou esporões), já os venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho especializado para injetar o veneno. Grande parte dos acidentes envolvendo animais peçonhentos e humanos acontecem dentro ou nos quintais das casas, muitos deles envolvendo crianças ou idosos, que por terem suas defesas baixas, acabam sofrendo com as sequelas dessas picadas. Se fossemos classificar, por exemplo, entre cobras, aranhas, escorpiões, lacraias, taturanas, formigas, abelhas e marimbondos para citarmos alguns, a espécie campeã no ranking, seria a dos escorpiões. Só no Nordeste segundo o Ministério da Saúde chegamos a uma média de 30 mil casos/ano.
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daptados à vida domiciliar, os escorpiões podem ser encontrados em locais com condições favoráveis à sua sobrevivência: lixo, entulho, pilhas de tijolos e telhas, locais de pouca luz e alimentação farta (baratas). Por isso recomenda-se um cuidado redobrado a quem frequenta esses espaços, devendo os mesmos serem limpos em uma faixa de pelo menos um a dois metros de proximidade de muros e cercas. Importante ressaltar que o exame de calçados e roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las, também se faz necessário assim como vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés. Para quem mora em sítio, chácara ou fazenda recomenda-se o uso de telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; preservar predadores naturais como seriemas, corujas, sapos, lagartixas e galinhas destes animais peçonhentos também é uma forte estratégia nessa luta. O acidente escorpiônico no Brasil constitui um problema atual de saúde pública, não só pela sua grande incidência em determinadas regiões, como pela sua potencialidade em ocasionar quadros graves, às vezes fatais, principalmente, em crianças. No Brasil, três espécies de escorpiões do gênero Tityus têm sido responsabilizadas por acidentes humanos graves e mesmo fatais. O T. serrulatus Lutz & Mello (1922) ou escorpião amarelo, T. bahiensis Perty (1833) ou escorpião marrom e T. stigmurus Thorell (1877), sendo o T. serrulatus o responsável pela maioria dos casos de maior gravidade. Além dos escorpiões, são as serpentes que ocupam o segundo lugar em acidentes com humanos no Brasil. No mundo, por exemplo, vivem mais de 3.100 espécies e dessas 370 podem ser encontradas no Brasil. O mito criado sobre as serpentes como “animais perigosos associados a muito folclore e falta de informação em muito tem contribuído de forma negativa em conflitos entre a espécie humana e as serpentes.” Esse medo impregnado no imaginário popular, em nada tem contribuído para a redução desses acidentes. Conforme o Ministério da Saúde, através do Conselho Nacional das Secretarias Municipais (CONASEMS),
as serpentes peçonhentas de importância em saúde pública no Brasil são as do gênero Bothrops Wagler (1824) – jararaca, jararacuçu, urutu, cotiara, caiçaca –, Crotalus Linnaeus (1758) – cascavéis, Lachesis Daudin (1803) – surucucu, surucucu-pico-de-jaca – e Micrurus Wagler (1824) corais verdadeiras. Sabe-se, todavia, que em nosso país, em especial nas regiões Norte e Nordeste, diversas espécies são utilizadas, por exemplo, na medicina tradicional e em rituais religiosos. Pelo seu comportamento forrageador ativo nas horas mais quentes do dia, as serpentes frequentemente penetram nos quintais ou mesmo no interior das residências, principalmente naquelas mais próximas a áreas com vegetação, aumentando as chances de contato com o homem. Já as aranhas, em sua diversidade no mundo, resumem-se ao número de apenas 20 espécies no Brasil, realmente perigosas. Mesmo carregando a característica de trazer a presença de glândulas de venenos associados à quelíceras, uma espécie de apêndice, é bom frisar que nem todas são responsáveis por acidentes graves em humanos, devido a diversos fatores como: baixa toxicidade de veneno para humanos, quantidade insuficiente de veneno injetado, quelíceras não capazes de perfurar a pele ou pelo fato de as espécies viverem em locais pouco frequentados pelo homem. Em nosso país as espécies de aranhas que têm provocado um maior interesse médico pertencem aos gêneros Loxosceles Heineken & Lowe, (1832) (aranha-marrom), Phoneutria Keyserling (1891), (aranha armadeira) e Latrodectus Walckenaer (1805) (viúva negra). E de onde vem a nossa aversão a estes tipos de animais? Especificamente, no que se refere ao sentimento de medo, a falta de informação contribui muito para a criação de mitos, a generalização do risco de letalidade, têm motivado o abate indiscriminado desses animais em todo o mundo, causando inclusive diminuição populacional de algumas espécies em determinadas regiões. No trato com animais peçonhentos, prevenção, cuidado e informação devem sim estar aliados, pois se todos fazemos parte de um sistema, conhecer as particularidades de cada espécie animal, é uma importante forma de respeito e convivência. www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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VIVER BEM
Promovendo a Saúde do Trabalhador pela INFORMAÇÃO
Números sobre a saúde dos trabalhadores
Além disso, a empresa passou a intensificar campanhas de estímulo à prática esportiva e combate ao uso de drogas. “Hoje, a incidência de uso de cigarro e álcool entre os funcionários são mínimas e passamos agora a dar mais suporte aos familiares”, conta Cosme. Essas iniciativas contribuíram para a elevação do bem-estar e melhora da saúde dos trabalhadores. “Além da melhoria do ambiente de trabalho, com essas ações conseguimos reter talentos”, comemora.
VIVER BEM UNIMED X CLIENTES EMPRESARIAIS
No Brasil através de uma pesquisa realizada pelo Serviço Social da Indústria (SESI) com 500 médias e grandes empresas é possível perceber que o olhar para a saúde do trabalhador vem mudando, dado a importância ao tema que estas mesmas instituições vem dando.
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Cerca de 48% destas empresas acreditam que promover a qualidade de vida e segurança no ambiente laboral reduz substancialmente as faltas ao trabalho;
Enfª Lorena Carneiro Tavares de Almeida Como forma de reorientação dos modelos assistenciais em voga, ações de promoção e proteção da saúde, têm sido uma importante estratégia na melhoria e na qualidade de vida do trabalhador, promovendo a redução dos riscos à sua saúde, seja dentro ou fora do seu ambiente profissional. Podemos definir a Saúde do Trabalhador como um conjunto de atividades que se destina, através de ações de vigilância epidemiológica e sanitária, à promoção e proteção a sua saúde, assim como visa a recuperação e reabilitação dos submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. Cerca de 45% da população mundial e 58% da população acima de 10 anos de idade fazem parte da força de trabalho. Esses grupos representam grande parte da base econômica e material das sociedades mundiais. Por isso qualidade de vida no trabalho é um pré-requisito crucial
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para a produtividade assim como de suma importância para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável de qualquer meio. Exemplo de empresa que vai além das exigências legais quando o assunto é saúde e segurança no trabalho é a Coteminas, do setor têxtil. Desde 2009, a empresa, com 4 mil funcionários, realiza diagnósticos para mapear as necessidades dos trabalhadores para combater os principais problemas de saúde dos funcionários das unidades de João Pessoa e Campina Grande. Na primeira pesquisa a indústria identificou mais fortemente problemas de obesidade, sedentarismo e uso de drogas, como álcool e cigarro. A partir daí, a Coteminas passou a desenvolver projeto de reeducação alimentar de trabalhadores e dependentes e reavaliou o próprio cardápio servido nas fábricas com ajuda de nutricionistas. “Envolvemos a família nesse projeto. Muitas vezes, são as esposas quem faz a comida dos funcionários”, explica o gerente de Recursos Humanos e Gestão da Qualidade da empresa, Iran Cosme.
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Já para 43,6% destas instituições investir em programas de qualidade de vida reflete direta e positivamente na produtividade da instituição; Quase 35% destas empresas apontam que ações que valorizam a saúde do trabalhador, estão diretamente ligadas à redução de custos.
A Unimed Campina Grande como prática social de promover qualidade de vida através do Setor Viver Bem, tem incentivado ações contínuas de reflexão a qualidade de vida no trabalho com os seus clientes empresariais. Muitos desses clientes possuem uma programação anual de promoção à saúde voltada para os seus colaboradores e corriqueiramente solicitam, de forma consciente, a participação da Unimed como operadora de plano de saúde, com palestras voltadas aos temas relacionados às suas ações. A Unimed Campina Grande tem hoje aproximadamente 221 contratos empresariais, dos quais muitos são assistidos através de palestras com os profissionais da saúde de diversas áreas, como: Urologia, Ginecologia, Pediatria, Nutrição, Psicologia e Enfermagem. Esses abordam os mais diversos temas contemplando a saúde do trabalhador, como: A mulher e a sua autoestima; Os desafios da criação de filhos nos dias atuais; Nutrição Saudável; Cuidados com o Recém-Nascido, Retorno ao trabalho após a licença-maternidade; Incentivo ao Parto Normal; Inclusão do RN no plano de saúde; Prevenção das DSTs; Conhecendo as Drogas Lícitas e Ilícitas; Doenças causadas pelo mosquito Aeds aegypti; Saúde do Homem; Prevenção do Câncer Uterino; Prevenção do Câncer de Mama. A positiva resposta a estas parcerias é notável, visto o entusiasmo e o aumento da frequência dos colaboradores às reuniões temáticas. Tem sido crescente a satisfação diante das informações repassadas e mediante perguntas e esclarecimento de dúvidas após cada tema abordado estão sempre presentes. Pensar a saúde no trabalho e aproximar filosofia e prática, onde assim como no cooperativismo, todos ganham em produtividade, em potenciais descobertos, em novas consciências. Afinal, como já dizia Paulo Freire, uma utopia necessária se faz quando engloba sonhos possíveis.
Além desses positivos números é possível perceber que a maioria dessas empresas vêm realizando programas de promoção da saúde de trabalhadores que vão além do cumprimento de requisitos legais. Entre as principais ações estão a gestão dos afastamentos por doenças, executada por 87,8% das indústrias, e o monitoramento de aspectos ergonômicos no ambiente de trabalho, feito por 84% dos empreendimentos.
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VIVER BEM / CIÊNCIA DA VIDA
Sociedade “Humanodeficiente” Por Andréa de Amorim Pereira Barros Há 35 anos, homens adultos procuraram serviços médicos em Los Angeles, com quadro de pneumonia, diagnosticada como pneumocistose, revelando ao mundo uma nova entidade nosológica. Surgiram outros casos com manifestações clínicas como candidíase, sarcoma de Kaposi e doenças comprometedoras do sistema imunológico, sendo denominada AIDS (acquired immunodeficiency syndrome), sigla da língua inglesa adotada globalmente. Em 1983, Montaigner e Sinoussi, do Instituto Pasteur, isolaram e descobriram o agente causador: o vírus da imunodeficiência humana - HIV. Diante do novo agente, de transmissão sexual, sanguínea e vertical (da mãe infectada para o concepto), descortinou-se uma síndrome gigantesca, seja do ponto de vista clínico, do epidemiológico e social ou do terapêutico, tornando-se a AIDS uma pandemia. Tal pandemia tem um comportamento variável conforme o país ou continente consiga enfrentá-la: nos países desenvolvidos ou com programas eficazes de tratamento, como o Brasil, pode ocorrer uma estabilização, com menos pessoas falecendo pela doença; nos países economicamente desfavorecidos, suas populações não têm acesso ao tratamento, ao aconselhamento, aos programas de acompanhamento, determinando que a doença comprometa os indivíduos gravemente, visto que os pacientes não têm acesso à terapia combinada (coquetel). Apesar dos avanços, dos conhecimentos, das possibilidades de informação, independentemente do nível social, a doença estigmatiza, constituindo um desafio a mais a ser enfrentado pelo portador/doente. A partir da suspeita diagnóstica, o indivíduo se vê e é visto como diferente, necessitando de disfarces, de mentiras, de julgamentos que acarretam mais sofrimento, muitas vezes levando ao isolamento e à depressão. Trata-se, pois, não do doente, mas da visão doentia da sociedade diante de uma doença, possível de ser adquirida (como seu próprio nome anuncia) por qualquer indivíduo que tenha vida sexual, citando a forma mais comum de contaminação. Entretanto, a infecção que tem reconhecidos agentes, curso clínico, diagnóstico e tratamento é vista como a doença do erro de alguém, “doença de culpado”. É uma visão errônea e pequena, que determina inimaginável dor às pessoas diagnosticadas. Consiste numa enfermidade da sociedade; de uma sociedade que não se conscientiza nem promove educação do seu povo, que desampara crianças, adolescentes e mulheres, vítimas da vulnerabilidade social, sexual e cultural. Não é a AIDS a síndrome de um indivíduo que merece o sofrimento porque adotou este ou aquele comportamento – pensamento absurdo e comum que veladamente se perpetua em pleno século XXI -, mas doença da sociedade que perpetua a ignorância e o preconceito, que aceita desigualdades sociais e econômicas, afastando pessoas do acolhimento e da educação, privando-as do direito à saúde.
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ARTES EM MOVIMENTO / HISTÓRIAS E ESTÓRIAS
Partiu o grande poeta
ZÉ LAURENTINO
estrela maior da poesia
Por José Alves Neto
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ó o conhecia pela fama e pelos livros que lia. Depois de muitos anos, quando comecei a trabalhar no Hospital Universitário Alcides Carneiro, através de Zuca do HU, que apresentou-me ao vate José Laurentino da Silva (nascido em Puxinanã, em 11 de abril de 1943 e falecido em 15 de setembro de 2016). A nossa amizade começou a florescer, inicialmente, por admiração; após, como colegas de trabalho, evoluindo para amigos. Era comum, aos domingos, encontrar-nos formando uma roda de poesia no bar de Guedes, no bairro de Santa Rosa, em Campina Grande, juntamente com
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os amigos, Dione Feitosa ao violão, Inajá Borges, poeta Rui Vieira, poeta Francisco D’Assis, sargento Mendes, Carlos Fernandes, o emotivo Petrônio Leite do DER, o poeta-advogado Apolônio Cardoso, o grande violonista Ednaldo Feitosa, Hilton da ENERGISA, a cantora Dionalda Feitosa, coronel Tarcísio Murta e tantos outros que ficavam à mesa conosco... Era um dia de música, poesia, piadas, contos e causos que cada um contava. Era um verdadeiro oásis de cultura popular. José Laurentino era um trovador de mão cheia que sabia de forma singular transformar uma crônica em forma de poesia. Era um perito de rima fácil, fecundo e inspirado. Um mestre em escrever o coloquial de uma forma singela, tirando os temas de fatos das suas amizades ou do seu ambiente de trabalho. Para mim, um verdadeiro gênio da poesia popular, rica em detalhes. Este vate desenhava, de forma rimada, belíssimos quadros falando sobre a natureza, o cotidiano e o amor. Uma vez lhe perguntei: - Zé, de onde vem essa inspiração? Respondeu-me com esta estrofe: - Não empresto minha pena/ Pra fazer bajulação/ Escrevo poemas para atender meu coração/ Que canta de alegria/ E chora de emoção... Em qualquer ocasião que ele começasse a falar ou declamar, o ambiente se calava pela magia de seus versos. De seus versos só, não; de seus gestos, do timbre particular da sua voz cadenciada, de sua atitude, da expressão do seu olhar. Tudo nele contribuía para revelar o declamador, o artista raro e inigualável. Feliz a sociedade poética que teve um intérprete do seu porte. Daí o porquê de suas poesias permaneceram e permanecerão osbléticas, sendo os seus livros e CDs, já publicados, guardados como relíquias nas mãos dos seus amigos e admiradores.
"Não empresto minha pena Pra fazer bajulação Escrevo poemas para atender meu coração Que canta de alegria E chora de emoção... "
Foi presidente do Grêmio Estudantil Plínio Lemos, vereador e presidente da Câmara Municipal Zoroastro Coutinho, em Puxinanã. Era funcionário público federal aposentado, e trabalhava no Hospital Universitário Alcides Carneiro, como agente administrativo. Publicou nove livros e vários cordéis. Tem poemas gravados e musicados por Amazan, Rolando Boldrin, Sebastião Marinho, Jorge Macedo, Geraldo Amâncio e Francisco Alves, Raimundo Borges, Wilson Aragão, entre outros. Tem nove CDs gravados, alguns com o poeta Chico Pedrosa e o radialista Tião Lima. Era radialista e membro da Academia de Letras de Campina Grande. Apresentador de festivais de violeiros pelo Brasil inteiro. Participou de programas de televisão, como: Som Brasil, TV Globo, Viola Minha Viola, com Inezita Barroso, TV Cultura, Raízes da Terra, com Saulo Laranjeiras, TV Record; participou do encontro Galegos Latinos do Mundo em Pó, em Santiago de Compostela, na Espanha. Apresentou programas como: Domingo Especial, Aquarela Nordestina e Show da Noite, na Rádio Borborema. Em parceria com Amazan, apresentou os programas: Sala de Reboco, na TV Borborema; e Amazan e Convidados. Na Rádio Panorâmica, com Tião Lima, apresentou: Dois Matutos na Cidade. Passados alguns anos, houve a confecção de um livro com suas po-
esias resgatadas de discos de vinil, CDs, cordéis e dos livros: "POEMAS, PROSAS E GLOSAS"; "MEUS VERSOS FEITOS NA ROÇA"; "POESIAS DO SERTÃO"; "SERTÃO, HUMOR E POESIA"; "MEUS POEMAS QUE NÃO FORAM LIDOS"; "DOIS POETAS, DOIS CANTARES" (Edvaldo Perico e Zé Laurentino) e de tantos outros trabalhos por ele realizados. Todas as poesias são boas, mas, tenho algumas preferidas, como: A Lição do Gato; Dia dos Pais; A Vendedora de Flores; Amor Platônico; Dor da Saudade, Inveja do Cão; Carona de Candidato; Eu, a Cama e Nobelina; Esmola Prá São José; O Menor Abandonado; Chico Pedreiro; O Mal se Paga com O Bem; Somente Para Você; O Bezerrinho; Etilismo; O Herói do Sertão; Ciúmes; João do Riso; Meus Dois Sonhos com Jesus; Existe Felicidade; A Menina do Bar, Como Vou Pedir a Mão Dela?, Meu Parque de Diversão... São tantas, que fico impressionado como se tem inspiração para escrever tantas coisas bonitas. Com o seu ar de boêmio, de sonhador, de romântico, foi predestinado por Deus. José Laurentino não é simplesmente um poeta cujos versos saíam num improviso; necessitava de uma inspiração que nascia inicialmente no coração, passava pela emoção, iam ao cérebro, para depois serem concluídos. Ele, era um ser que chorava com facilidade e com o seu talento sabia lapidar e esculpir, como
ninguém, versos tão excelentes. Esse vate desenhava, de forma rimada, belíssimos quadros falando sobre a natureza, o cotidiano e o amor. Profetizo que a história da poesia popular paraibana será dividida em dois tempos: antes e depois da poesia de José Laurentino. A Paraíba, envaidecida, terá como herança, deste poeta o registro do seu talento, trabalho e da nobreza do seu caráter. Por tudo isso, os seus trabalhos poéticos constituirão prestimosas e valiosas escrituras sagradas para quem gosta da arte da poesia, vindas de um espírito superior dos versos nordestinos. Hoje, José Laurentino pertence, como uma estrela rutilante, à constelação dos boêmios e dos artistas do Céu. Tenho convicção que a história poética de Campina Grande, da Paraíba..., guardará com zelo a lembrança desse que se foi, marcando para a eternidade com o seu trabalho literário para que a posteridade saiba dar a sua verdadeira notoriedade a esse menestrel que sabia versejar de uma forma tão fascinante. Como o poeta Iponax Vilanova resumiu numa só estrofe: Zé é uma quadra em cada acento, / Um repente em cada passo, / Uma glosa em cada espaço, / Um verso em cada momento, / Um riso a cada lamento, / Um soneto em cada esquina, / Só Deus é quem determina, / Que isto em você aflore, / ZÉ LAURENTINO É FOLCLORE/ DA CIDADE DE CAMPINA!
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ARTES EM MOVIMENTO
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Targino Gondim a sanfona e a sua vida: sem acordos e mais acordes
Por Ribamildo Bezerra
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argino Gondim é um desses músicos que não merece molduras. Ainda que seu principal sucesso nos remeta a um enquadramento, uma janela. Em um olhar em 3x4, ainda assim, sua obra seria plural, pois suas referências nordestinas são matizes de uma poética viva, de um sertão verde, onde a esperança se faz cor e canto. Targino Sanfoneiro de Ouro, foi talhado pela vida, cujo o senhor tempo soube esperar o momento certo para que aquele jovem franzino de um família de dez irmãos, todos nascido em Salgueiro Pernambuco, se afinasse à melodia do seu destino. Até mesmo a geografia nordestina de sua região pareceu contribuir com importantes referências junto ao ilustre filho do caminhoneiro José Targino Alves Gondim e Dona Maria Monteiro Gondim. Salgueiro fica a pouco mais de 100km de Serra Talhada, terra onde nasceu o ícone do cangaço, Lampião. De outro lado, a quase a mesma distância temos Exu, berço do nascimento de Luiz Gonzaga, isto sem falar da proximidade com Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero Romão. Como caminhoneiro seu pai cruzava as
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estradas do interior de Pernambuco ao Rio de Janeiro, a serviço do seu avô Zeca Targino, um dono de engenho de rapadura, na famosa região da Formiga, zona Rural de Salgueiro. Nestas idas e vindas, o mapa musical de Luiz Gonzaga ditava a rota melódica do velho Targino, tanto que mesmo sem saber tocar, o mesmo teria arriscado comprar uma sanfona de 80 baixos, só para estar perto da sonoridade do seu maior ídolo. A paixão por Luiz Gonzaga era tanta que o destino acabou por unir o velho Targino com Eugênio, um antigo morador da casa de Dora Santana, mãe do Rei do Baião, e que tinha deixado Exu para viver em Salgueiro, em condições precárias. Dois interesses se cruzariam a partir dali: Eugênio com vontade de aprender a dirigir para comprar a sua própria sanfona e Seu Targino a fim de aprender os primeiros acordes no seu instrumento. Mas o destino é légua tirana com seus traços e meandros tal qual a poesia de Patativa do Assaré. Targino viria a nascer muitos anos depois. As coisas por Salgueiro já não andavam boas economicamente, já não existia mais o Engenho de Rapadura do seu avô. O pequeno Targino, aos dois anos de idade, vai a morar em Juazeiro da Bahia com a família. O motivo: seu pai
passa a trabalhar na construção da barragem de Sobradinho. A fidelidade do pai a Luiz Gonzaga era um ritual sagrado, “Por influência dos meus irmãos, cresci ouvindo Chico Buarque, Gal Costa, mas bastava meu pai chegar de viagem e era lei ouvir a o canto de Gonzaga”. O Rei do Baião nunca conheceria e nem veria Targino Gondim tocar. O contrário seria diferente. Aos oito anos, o pai o levaria a um show de Gonzaga, mas ainda assim, não seria suficiente para que a vida daquele garoto despertasse para um novo mundo. Porém, dizem que o extraordinário se disfarça de acaso, e aos 12 anos em noite comum, assistindo televisão, Targino vê o seu pai sentar ao lado e tocar Asa Branca e diante da sonoridade daquele instrumento que entoava o ABC de qualquer sanfoneiro, Targino Gondim pede a sanfona ao pai, e diz dela nunca mais dela se separou. É então que Eugênio, o coadjuvante de quase uma década atrás, reaparece, desta vez como Eugênio Gonzaga, com autorização do próprio Rei do Baião e iria, ao lado do pai de Targino, guiar os primeiro acordes daquele jovem talento. O Targino-pai, parecia ter previsto, antes mesmo do filho nascer, que aquela Sanfona Scandalli de 80 baixos teria serventia e mudaria para sempre a história de um dos seu filhos, “A alegria do meu pai, era silenciosa, tímida, mas era uma alegria verdadeira, perceptível ao olhos, toda vez que me via tocar’, ressalta Targino. Porém um recorte de memória marcaria as lembranças Targino Gondim diante do pai. O ano de 1989, naquele 2
de agosto. “Ouvi logo cedo a notícia da morte de Luiz Gonzaga pelo rádio. Meu pai ainda não tinha chegado, e ao ouvir o som do motor do caminhão, corri para lhe informar. Tal foi a surpresa ao vê-lo encostado sob o volante, com os olhos marejados de lágrimas. Até então, nunca o tinha visto chorar”, afirma Targino. Pela sanfona uma frase sintetiza a importância deste instrumento na sua vida, “é a extensão da minha voz, pontua’. Para Targino Gondim o instrumento não só trouxe a sua evolução como músico, com ela veio também o cantor e o poeta. “Se Luiz Gonzaga foi a minha bússola por sua extensa obra como intérprete da nossa cultura, a busca da simplicidade melódica presente na obra de Dorival Caymi e João Silva, forma também influências para meu trabalho”, afirma sem disfarçar o seu ecletismo. O belo e o simples na obra de Targino não são necessariamente sinônimos de caminho fácil, uma melodia não complexa. Muitas vezes é a moldura perfeita para que uma construção poética se faça livre em matizes sonoras que logo de primeira cativam os ouvidos do público. O caso da música ‘Pra se Aninhar’ é uma prova sonora disto. “Compus esta canção quase como um desafio de chegar à beleza melódica e poética de um antigo sucesso cantado por Luiz Gonzaga. “A sorte é cega”, enfatiza. O desafio parece ter sido cumprido à altura, pois ouvindo as duas canções mesmo com forças melódicas distintas, uma parece estar umbilicalmente vinculada a outra.
Por influência dos meus irmãos, cresci ouvindo Chico Buarque, Gal Costa, mas bastava meu pai chegar de viagem e era lei ouvir a o canto de Gonzaga”
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Meu forró não é pé-de-serra, meu forró é forró. Quando Luiz Gonzaga falava em suas canções o termo no meu Péde-Serra, o registro funcionava como figura poética de uma lúdica localidade geográfica”
SEM TIPOS, NEM ESTEREÓTIPOS
Se a comparação fosse permitida, e ainda assim se permitisse definir, Targino Gondim poderia ser lido como uma canção nas mãos do seu segundo maior ídolo Dominguinhos, uma obra aberta, sem as amarras e livre de conceitos e modismos. Fácil de entender. Para seus 26 trabalhos já lançados, por exemplo, o termo “independente” jamais se adequará a uma definição verdadeira. “Que independente é este, quando dependemos de tantos para lançar o seu próprio trabalho?”. Independente mesmo se sentia quando fazia seus primeiros shows ao lado dos irmãos entre Juazeiro e Petrolina e tinha que atravessar a ponte que separa as duas cidades, carregando os instrumentos a pé. Isto sim é que era independência, e aí já se vão mais de 20 anos. Forró pé-de-serra? “Meu forró não é pé-de-serra, meu forró é forró. Quando Luiz Gonzaga falava em suas canções o termo no meu pé-de-serra, o registro funcionava como figura poética de uma lúdica localidade geográfica”, ressalta.
O ACESSO AO SUCESSO
Desde o lançamento do seu primeiro e único LP, Baião de Novo, Targino já possuía uma carreira estruturada, da Bahia a Pernambuco. Porém no seu quarto CD, a obra autoral de Gondim ganharia uma importante lupa, a do Cinema. A força da canção Esperando na Janela, cativou a todo da equipe de filmagens do longa, EU, TU, ELES, do diretor Andrucha Waddington e principalmente a estrela do filme, Regina Casé. O que era para ser um arrasta-pé em um dia de folga das filmagens, acabou se tornando na captura da estrela de Targino, que um dia depois estava no set de filmagens como uma participação que mudaria a cena da sua vida. O resto é um filme que a gente conhece de tanto querer bem ouvir...
SANFONA , DIVINA SANFONA...
A musicalidade de Targino Gondim pelo som de sua sanfona, já o levou onde nunca imaginaria chegar...de shows ao lado de Gilberto Gil,
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Elba Ramalho e Dominguinhos só para citar alguns, o talentoso músico conseguiu por sua poética reconstruir a imagem de um Sertão visto apenas como terra árida de gente sofrida. O verde dos olhos da menina, um cantinho para se aninhar são algumas das metáforas que o olhar deste jovem talento consegue imprimir num espaço físico que sempre será fértil em inspiração. Ideias são fontes vivas em sua cabeça e duas delas mostram o vigor das suas ações: o Festival Internacional da Sanfona que ocorre em Juazeiro e Petrolina foi criado para mostrar as possibilidades e a força internacional deste instrumento. “A sanfona foi acolhida tão bem pelo nordestino, sendo a música da sua tristeza e alegria. Porém este Festival visa um olhar além de como outros povos fazem a sua musicalidade por este nobre instrumento. Foi por isso que em parceria com o produtor Sérgio Carvalho abraçamos este projeto” ressalta. E olha que para reunir instrumentistas como Sivuca, Dominguinhos e o ucraniano Frank Marocco, tem que ter muita ousadia e foco no que se quer. E como para Targino ousadia pouca é bobagem, o lançamento do trabalho “Canções Divinas” em 2014, com músicas católicas, trouxe um importante aval, o do Papa Francisco. O CD que traz as canções nordestinas ligadas a sua fé em Deus, representada por músicas como ‘Romaria’ e ‘Súplica Cearense’, mas que incluiu a música autoral “O Papa Francisco”, numa referência direta ao pontífice, que também leva o nome do Rio e que lhe trouxe tantas inspiracões. O Papa Francisco, por meio de sua assessoria enviou uma carta ao sertanejo parabenizando-o pelo CD. Como bem diz um dos maiores pesquisadores da cultura nordestina na atualidade, o Professor José Nobre, dono de um dos maiores acervos sobre Luiz Gonzaga, “Culturalmente o Nordeste nunca ficará desamparado pois muito além dos modismos existirão talentos como Targino Gondim, que ao contrário da sua mais ilustre canção não ficará ‘esperando na janela’ para fazer seu valioso trabalho acontecer”.
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Atos de uma
crônica
"Quando o indivíduo age independentemente das normas “da boa convivência” é ninguém; o seu feito é nada. O poeta Chico Buarque identifica este “agente solto” no mundo" Severino Gomes de Sousa Filho (Prof. Biu)
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Entregou-me o mais recente exemplar de “CONVIVER” e foi disparando: — Eita como foi bom. Bom pelo reencontro e oportuno para pedir uma colaboração destinada ao próximo número. Deu certinho! — Deu certinho, mesmo: para ele!... Aos que chegavam ou passavam, ele me apontava e desapontava: — Fale com o professor que me fez! Olhei para o eterno mangador e arrisquei minha defesa: Qué qué isso?
2 ética e comunicação 54
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Antes que chegasse mais gente, reconheci que o tema do título acima é empolgante e atraente. — Eu: umas 10 páginas?! — Ele: duas. E se vire! Provoque o leitor. Sem ver saída, saí assim mesmo. Riba é o anjo demiurgo que Deus tinha consigo na hora da criação. Comunicativo. Habilidoso. Fino no trato.
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Não faz muito tempo que ética era “coisa de filósofo”... Algo teórico e livresco. Ontem, como hoje, os formados, inclusive os médicos, deviam colocar na sua maletinha um compromisso ético, ao penetrar nos segredos do corpo e da alma dos seres humanos. No caso dos médicos, este compromisso solene vem de muito longe, com Hipócrates e Asclépio; este, filho de Apolo, tocado pelo raio divino que o fez plenamente humano na arte de curar. Hoje em dia, ética é semelhante a mel de uruçu verdadeiro: relíquia em extinção.
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A ÉTICA é uma parte da Filosofia que estuda a conduta humana. O termo conduta já diz tudo: refere-se à prática; fala do imediato. A ética é trabalhada pela razão, pela consciência e pela ação globalmente integradas. A ética trata dos princípios que regem a liberdade individual. A consciência, agindo sobre a vida, organiza, a partir dos costumes vigentes, as normas, os códigos que, por sua vez, irão guiar a ação dentro do mundo em evolução. A ética acontece no tempo e nos espaços. A ética é mais abstrata e mais universalizada. Ao seu lado, no dia a dia, acontece a MORAL. A moral é mais concreta e particular. Ambas nascem e vivem pela ação comunicativa que acontece dentro do próprio indivíduo (razão e consciência). Este é o estágio da reflexão. Num segundo momento, ética e moral existem na relação de integração com o semelhante (eu-tu) pelo diálogo, e, num terceiro estágio, a ética e a moral se aplicam na comunicação com a História (eu-mundo). Ética e moral são respectivamente coluna e viga da existência do ser racional, fazendo e sendo feito pelas culturas na vivência dos valores. Quando o indivíduo age independentemente das normas “da boa convivência” é ninguém; o seu feito é nada. O poeta Chico Buarque identifica este “agente solto” no mundo, como aquele que não tem e nem se dá valor, porque “não tem juízo”. Quando o profissional age aquém ou além da ética vai “contra a moral e os bons costumes”, como o povo diz. A falha não está em ser do contra; ela se verifica, sobretudo na ausência de geração do novo, embora que a ação venha acompanhada de “novidades.” Na prática, muita faceta da ação que se diz ética, pertenceria à moral e vice-versa. Grosso modo, no linguajar menos metódico, ética e moral são sinônimos e isto não faz mal. Na Grécia antiga, a ética estava na arte de arrumar a casa, ou de estar em paz, tendo por base a harmonia: do cidadão consigo; com o semelhante e com a natureza. O mundo pós-moderno, globalizado se pretende uno, porém de uma forma anárquica e desumana. Perdeu-se o senso das relações simétricas da comunicação. Tanta ciência, tanto cálculo e tanta trombada. Curiosamente, os ditos irracionais que participam de uma “natureza” desprovida de ética e de normas morais, no entanto estabelecem forte justaposição comunicativa que os faz sobreviver, oferecendo um belo exemplo de unidade e acordo existencial.
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Miguel de Cervantes
E SUA VIDA
QUIXOTESCA Thélio Queiroz Farias*
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om Quixote de La Mancha” é considerado uma das maiores obras literárias de todos os tempos, sendo editada e reeditada há mais de quatrocentos anos e em mais de cem línguas conhecidas. As aventuras do cavaleiro que ficou louco de tanto ler livros e saiu pelas terras da região espanhola de La Mancha buscando reparar injustiças, proteger os mais fragilizados e lutar por sonhos sempre utópicos para a humanidade - como liberdade, justiça e dignidade -, continua a encantar gerações. Acompanhado do realista Sancho Pança e embalado pelo amor impossível de Dulcineia, o livro do Engenhoso Cavaleiro inspirou escritores, artistas, músicos, escultores, poetas de todo o planeta, como o
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russo Dostoievsky, os franceses Molière, Voltaire e Paul Cezanne, os portugueses Fernando Pessoa e José Saramago, os brasileiros Machado de Assis e Cândido Portinari, o colombiano Gabriel Garcia Marquez, os espanhóis Pablo Picasso e Salvador Dali, dentre milhares e milhares de artistas famosos ou não, de localidades tão diversas como o Japão, a Arábia Saudita, o Brasil, Angola, Estados Unidos, China ou a África do Sul. No entanto, pouco se conhece sobre a vida do autor da obra, o espanhol Miguel de Cervantes Saavedra, sendo um dos poucos casos literários em que o personagem é muito mais famoso que o próprio escritor. Entretanto, Cervantes, nascido em 29 de setembro de 1547, na pequena Alcalá de Henares, teve uma vida tão ou mais aventurosa do que seu próprio personagem: sua vida pode ser intitulada de “quixotesca”! www.cgunimed.com.br // Revista Conviver
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Preparado e culto, fluente em várias línguas inclusive português e latim (há quem sustente que fez os seus estudos com Jesuítas), Miguel de Cervantes com menos de 20 (vinte) anos se envolveu num duelo na cidade de Sevilha, na região da Andaluzia, sendo condenado ao decepamento da mão direita, o que fez fugir da condenação viajando para Roma. Sim, Cervantes foi um fugitivo da Justiça! Em Roma, foi camareiro do Cardeal Júlio Acquaviva, que se impressionou com a cultura e inteligência do então jovem espanhol. Em que pese à comodidade do prestigioso cargo e a proteção cardinalícia, Miguel de Cervantes não conseguiu se adaptar ao trabalho burocrático, tendo se alistado voluntariamente no exército cristão europeu – capitaneado pelo Vaticano e pela República de Veneza -, que lutava contra os turcos, o que ensejou sua participação na famosa e histórica Batalha de Lepanto/Grécia (1570), que representou o fim da expansão islâmica na região do Mar Mediterrâneo.
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Na guerra, saiu com menções à sua coragem e com uma grave ferida na mão esquerda, que levou o futuro escritor a ser chamado de “O Maneta de Lepanto”. Condecorado pela aventura militar, Cervantes foi premiado pelo próprio comandante D. João de Áustria e, mesmo ferido, ficou envaidecido com a ferida vitalícia, símbolo de sua aventura militar. Miguel participou das expedições naval de Navarino (1572) e, no ano seguinte, esteve na conquista de Túnis e Bizerta (ambas cidades da atual Tunísia). Posteriormente, passa temporada na cidade de Palermo, na Sicília, internado, tratando dos ferimentos de guerra. Em 1584 planeja retornar a sua terra natal, embarcando em Nápoles e tendo Barcelona como destino. Seu navio é atacado por piratas islâmicos e Cervantes é levado para Argel como escravo, permanecendo preso por vários anos. Participa de várias tentativas de fugas do cativeiro, não chegando a ser morto pelos mouros em face de portar carta de recomendação do nobre D. João de Áustria, que além de comandante das tropas cristãs, era irmão do Rei da Espanha Felipe II. Só foi libertado, após pagamento do resgate, inclusive com contribuição da ordem trinitária. Retornando a Espanha, vai a Lisboa (era época da União Ibérica sob o reinado de Felipe II), assume emprego público e é preso por erros na cobrança de tributos que se mostrariam inexistente no futuro. Preso, solta sua imaginação e escreve sua obra-prima, Dom Quixote de La Mancha. Seus biógrafos são unânimes: só quem teve uma vida de aventuras poderia escrever um livro como Dom Quixote. A lição que ficou para a eternidade do escritor Miguel de Cervantes Saavedra foi o amor, a justiça, a dignidade e, especialmente, a luta pela liberdade, conforme falou seu mais famoso personagem: “A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os céus deram aos homens, com ela não se podem igualar os tesouros que encerra a terra nem o mar encobre, pela liberdade, assim como pela honra, se pode e se deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pode vir aos homens”. *Thélio Queiroz Farias é advogado militante, membro da Confraria dos Bibliófilos do Brasil e estudioso e colecionador da obra de Miguel de Cervantes.
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ARTES EM MOVIMENTO
Rosil CAVAL CANTI Por Ademar Santtana Rosil de Assis Cavacanti, foi um pernambucano que 'nasceu' para dançar e xaxar na Paraíba, mas para isso acontecer levou tempo. Com raízes no Engenho Zebelê, localidade de Macaparana, era um garoto de muitos talentos. Hoje seria batizado de multimídia ou com como já se dizia na época, “jogava nas onze”. Fez os cursos primário e ginasial no Recife. Em 1936 entrou para o 22º Batalhão de Caçadores da 7º Região Militar, na cidade de Aracaju, em Sergipe. Em 1937, licenciou-se do Batalhão de Caçadores e passou a trabalhar no Fomento Agrícola de Sergipe. Nesse período sagrou-se como jogador tricampeão de futebol sergipano pelo Cotinguiba Sport Clube. Em 1941 foi trabalhar na Secretaria de Agricultura da Paraíba, na cidade de João Pessoa. Em 1943 mudou-se para Campina Grande, onde permaneceu até 1947, quando retornou a João Pessoa. Mas como em toda história sempre existe sempre um “meio de campo” é no ano de 1942 que Rosil inicia a carreira artística fazendo com Jackson do Pandeiro a dupla "Café com leite", que atuou na Rádio Jornal do Comércio, em Recife. A parceria com Jakson rendeu em 1953 um dos maiores sucessos da dupla, o coco "Sebastiana", (um 78 rpm) que seria regravada, em 1969, por Gal Costa e Gilberto Gil, em LP da cantora baiana. O cenário era propício para que a música estourasse na capital pernambucana. O clima de pré-carnaval arrastou sonoramente 'Sebastiana' pelas ruas, literalmente na boca do povo. Ainda com Jackson , Rosil compôs Quadro-negro", "Cumpadre
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Pra dançar e xaxar na Paraíba...
João" e "Os cabelos de Maria, para citar algumas de uma longa e bem-sucedida jornada de sucessos assim como os xotes "Moxotó”, Forró na gafieira", "Chapéu de couro" e "Coco do Norte" só para citar alguns nomes como Marinês, Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Pedro Sertanejo, Trio Orixá, Jacinto Silva, Gilvan Chaves, Zito Borborema, Zé Ramalho, Dominguinhos, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Biliu de Campina e mais recentemente por Lucy Alves, imortalizaram obras de Rosil. O Nordeste evocado por Rosil Cavalcanti sempre teve as cores e as peculiaridades do seu povo, através de um leitura sensível do ritmo e dos distintos perfis da nossa gente, tudo isso diluído em mais de oitenta composições expressas ritmicamente em forma de baião, xote, marcha, samba, entre outros estilos, sendo o coco seu ritmo mais recorrente. Rosil como personalidade era um paradoxo em si, pavio curto, ríspido para muitos, por outro lado sereno, conseguia angariar a simpatia e amizades de tal forma que lançou o Programa Zé Lagoa”, pela Rádio Borborema de Campina Grande, cujo comandante era o seu alter ego o “Capitão Zé Lagoa”.
O Livro "Pra dançar e Xaxar na Paraíba" traz um resgate biográfico deste ícone da cultura popular nordestina
Falecido prematuramente no dia 10 de julho de 1968, vítima de um infarto fulminante, seu desaparecimento comoveu não só Campina Grande, mas toda a região nordestina. Rosil deixou ecos por onde passou; sua obra reverbera até hoje na radiofonia, onde o também foi mestre, e na música. Sua memória continua sendo lustrada e ilustrada por talentos como o professor e pesquisador Jorge Ribbas, profundo conhecedor musical de sua obra, e muito recentemente pelo pesquisador e biógrafo Rômulo C. Nóbrega, que em parceria com José Batista Alves, lançou o livro Pra Dançar e Xaxar na Paraíba: andanças de Rosil Cavalcanti”, (445 p Editora Gráfica Marcone). Uma obra construída em mais de duas décadas, é um compêndio não só de um biografado talentoso e controverso, mas traz a reboque histórias de ilustres paraibanos que coadjuvam a história de Rosil sem perder o brilho particular de cada um. Exemplo disso está na luxuosa citação ao Comunicador Hilton Mota, que inicia a história numa famosa reunião para a escolha do primeiro jornalístico da Rádio Borborema, da Rede Associada do paraibano, de Umbuzeiro, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892 - São Paulo,1968). Mergulhar neste universo de mais de 400 páginas distribuídas em nove capítulos, é um convite a uma viagem extraordinária, onde o risco de sentimento de culpa é inevitável. Aquela sensação de que graças a obras como esta, tomamos a consciência de que conhecemos tão pouco aquilo que soberbamente pensávamos conhecer. De tão bão, afirmo, evite a primeira página pois a obra é viciante.
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...É tudo. Muito. Di-verso. Geneceuda Monteiro & Imara Queiroz Este obra é permeada de poemas e fotografias, numa mescla de imagem e textos entrelaçados, e que nos remete a muitas sensações. As autoras, uma jornalista e outra médica cardiologista, respectivamente, trazem sensibilidade e emoção a cada verso e a cada foto. Não é um livro para apenas ser lido, mas para ser apreciado... degustado! O professor Edmundo Gaudêncio descreve bem quando diz que “este é um livro que somente deve ser lido por quem seja capaz de escutar a melodia de uma fotografia e enxergar os azuis e verdes e amarelos e vermelhos de um poema em preto e branco”. Vale a pena ler!
Pequeno segredo – David Schurmann O filme é baseado em fatos reais e gira em torno da família Schurmann, grande conhecida do nosso país por suas grandes viagens marítimas e que, por muito tempo, guardaram a comovente história da adoção de uma menina. Kat é uma jovem frágil, porém de muita personalidade. O filme centra sua história na infância da menina e na fase em que seus pais biológicos (vividos por Maria Flor e Erroll Shand) se conheceram. Trata-se de uma belíssima produção nacional. Vale a pena ver!
Fazendo charminho – Gitana Pimentel Finalista do Prêmio Multishow 2013, Gitana Pimentel lançou seu primeiro CD autoral intitulado “Enfim Só”, no ano de 2011. O disco teve excelente repercussão. A cantora paraibana passeia por vários estilos musicais, mas atualmente seu foco é o nosso bom forró. Seu último CD, intitulado “Fazendo charminho” traz regravações de grandes sucessos do forró regional. A música que dá título ao CD é uma parceria de Targino Gondim e Moreira Filho. Vale a pena ouvir!
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CONVIVA! NOITE DE CELEBRAÇÃO
Como forma de celebrar esta trajetória de sucesso, a Unimed Campina Grande realizou a festa Unimed 45 anos, no dia 3 de dezembro. O evento aconteceu no salão de festas do Clube Campestre. Na oportunidade o Presidente Unimed, Dr. Francisco Vieira de Oliveira, e todo Conselho de Administração receberam os médicos cooperados, médicos fundadores, colaboradores, autoridades e demais convidados. A musicalidade da festa ficou a cargo de Janine e Banda e Capilé. Foram momentos de alegria e celebração, que coroaram a história de cooperação e de serviços à Medicina campinense. “Momentos como este trazem para a Unimed Campina Grande a certeza de que um trabalho realizado com zelo e dedicação resulta em solidez e credibilidade na nossa cidade”, destacou o Dr. Francisco Vieira.
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MEDALHA DE MÉRITO MUNICIPAL
Comemorando seus 45 anos, a Unimed Campina Grande ganhou o reconhecimento pelo seu trabalho de forma histórica. Em Sessão Solene da Câmara Municipal, no dia 1º de dezembro de 2016, o presidente do Poder Legislativo, Vereador Antonio Alves Pimentel Filho, outorgou Medalha de Mérito Municipal à Unimed Campina Grande pelos seus 45 anos. Em seu discurso de agradecimento e reconhecimento à contribuição social da Unimed para a comunidade de Campina Grande, o presidente, Dr. Francisco Vieira de Oliveira, destacou pontos como a valorização ao trabalho médico em nosso município, a geração de empregos diretos e indiretos e o crescimento conjunto. Enalteceu ainda a responsabilidade da Unimed para melhoria contínua da qualidade da assistência médica na cidade. Estavam presentes na solenidade a Diretoria Executiva Unimed, Ex-Presidentes, médicos fundadores, médicos cooperados, gerentes e supervisores da Unimed, imprensa, representantes religiosos e vereadores, representando o poder legislativo da cidade.
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