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As mulheres poetas

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Simone Teodoro

Simone Teodoro

Não faz muito tempo que elas deixaram a cozinha, os crochês e as costuras. Hoje elas são executivas, médicas, empresárias, políticas, professoras -- e até presidentes. Mas já faz tempo que elas ingressaram na literatura. Onde fizeram e fazem um excelente trabalho. Este e-book pretende divulgar o trabalho das nossas poetas. Antes, porém, leia este histórico.

Uma das últimas fotos de Virginia Woolf, escritora, ensaista e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo. Nasceu em 1882 em família abastada. Seu pai, Sir Leslie Stephen, era escritor e historiador ilustre da Inglaterra vitoriana.Virginia morreu em 1941.

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MULHERES POETAS AS

NA LITERATURA BRASILEIRA

Na década de 1920, Virgínia Woolf afirmava que, para as mulheres produzirem sua poesia, precisavam de um quarto com chave e uma renda anual de quinhentas libras. Em verdade, enquanto os homens dispunham de uma estrutura adequada ao trabalho intelectual, para as mulheres restava o canto da mesa da cozinha depois de realizadas todas as tarefas. Um quarto com chave proporcionaria o sossego necessário à concentração, e a renda contribuiria com a independência financeira indispensável para a liberdade de pensamento e o exercício da criatividade.

Como se vê, não é privilégio tupiniquim o esquecimento proposital da contribuição cultural da mulher, em vários campos do saber e das artes. No caso específico da literatura, a questão é mais séria ainda. Afinal, tanto Silvio Romero como José Veríssimo –famosos historiadores da nossa literatura no século 19-- registraram pouquíssimos nomes femininos.

E na História Concisa da Literatura Brasileira –a mais usada no ensino atual— o prof. Alfredo Bosi só menciona quatro nomes de poetisas: Francisca Júlia, Gilka Machado, Auta de Sousa e Narcisa Amália. Mesmo assim, somente a primeira mere-

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Raquel de Queiroz tomando posse na ABL.

ceu biografia e algum destaque.

Mas essa ausência, que passa uma idéia equivocada da influência feminina na cultura do país, vem sendo corrigida através de pesquisas, teses, livros, artigos e ensaios. Escritoras Brasileiras do Século XIX, organizado por Zaidhé Muzart, foi o pontapé inicial em direção a uma reavaliação desse nosso patrimônio literário e cultural.

Publicado em 2000, o livro, com cerca de 1000 páginas, revela nada menos que 52 autoras e mostra nomes que nunca ouvimos falar —resultado desse trabalho paciente de “revolver escombros e garimpar entulhos” conforme texto introdutório da própria autora, Zaidhé Muzart

É inquestionável o mérito desse trabalho --e de um sem número de outros que foram surgindo sobre as questões relativas à mulher. É crescente, sem duvida, a presença delas em todas as áreas das atividades humanas. Tivemos até uma presidente mulher. Quanto à literatura mais recente, não podemos nos queixar. Existem muitas escritoras mulheres e elas também se apresentam em dissertações, teses de doutorado, pesquisas apresentadas em congressos e outras publicações.

Sem a pretensão de desenvolver uma avaliação desse panorama, utilizo este espaço para prestar

uma homenagem às mulheres. Mais especificamente às mulheres escritoras. Ou mais especificamente ainda: às mulheres escritoras de poemas. Afinal, por incrível que pareça, existe uma nítida predominância em nossa literatura de escritoras que se dedicaram à prosa, notadamente ao romance.

Caso de Rachel de Queiroz, por exemplo, a primeira mulher a ingressar, em 1977, no clube do bolinha que era a Academia Brasileira de Letras. Pouco depois, a ABL acolheu duas outras prosadoras consagradas: Dinah Silveira de Queiroz e Lygia Fagundes Telles. O incrédulo leitor poderá perguntar: e as nossas poetas, onde estão?

É curioso observar que mesmo em épocas mais recentes as poetas continuavam sendo preteridas. Um exemplo é a inexistência de qualquer nome feminino vinculado à literatura na Semana de 22. Nem Cecília Meirelles, que já havia publicado Espectros, em 1919 , teve aí a sua hora e a sua vez.

Só para não ficar sem registro, relaciono aqui alguns nomes femininos. Alguns são desconhecidos até de especialistas, outros conquistaram alguma visibilidade. Mas todas essas escritoras desempenharam um papel que não se restringia às funções de esposa, mãe e dona-de-casa. Elas foram à luta e deixaram seu recado --para além do recato.

Lygia Fagundes Telles também entrou na ABL

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