1 minute read
Maria Rezende
(1977)
Poeta mineira, é doutoranda em estudos da literatura e da cultura pela Universidade de Santiago de Compostela (USC). Possui textos poéticos, ensaísticos e resenhas publicados em várias revistas eletrônicas como Germina, Mallarmagens, Alagunas, Diversos Afins, Escritoras Suicidas, Zunái, Jornal Relevo, Contratiempo. Estreou recentemente com o livro de poemas Cadencia do Caos (2016).
Advertisement
[ ] o poema não tem nenhuma missão ulterior que conduza a uma explicação da vida o poema é só esta mosca triste girando em volta de uma ferida
OS GESTOS QUE ESTREMECEM OS TRIGAIS sou atravessada por todos os rios que naufragam no sul por todos os gestos que estremecem os trigais há uma espessura que só cabe o silêncio porque nenhuma palavra tem a cicatriz exata do mapa do meu ventre porque meu sopro é distância e diáspora [língua sem gramática e gravidade] e as noites estão feitas para os dedos e as cavidades
TODO TOCAR É UMA CANÇÃO enquanto acordo os pássaros a mãe tece a mortalha do anoitecer agora estamos fora na linha curvilínea de uma folha que chora que farei com minhas mãos depois de tocarem aquilo que não se toca? todo tocar é uma canção - murmulha a mãe entre seus galhos e rascunhos é isso que se perde, minha filha e sua voz vibra as águas do meu punho