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Telma Scherer
(1979)
Poeta paulistana, é mestre em literatura e crítica literária, e colabora como resenhista em alguns jornais. É autora dos livros de poesia Trajetória de antes (1999), Duas chagas (2001), Passagens (2003), Fazer silêncio (2005 – finalista dos prêmios Jabuti e Bravo! Prime de Cultura 2006), Almádena (2007 – finalista do prêmio Jabuti 2008), Treva alvorada (2010) e O amor e depois (2012). Em 2011 obteve menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas (Cuba) pelo livro Treva alvorada.
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FILHOS DO FOGO Não foi o cansaço da jornada Que de novo nessa noite nos venceu, Mas um sofrimento antigo, igual a sempre, A realidade com sua mão espadaúda Juntando a poeira de uns castelos demolidos, De tudo extraindo o que sobra de nosso, afinal: O irreversível. Cultivamos rituais silenciosos, Temos dentro de nós a alma do mundo. Fomos feitos para a solidão, A mesma que sente um animal Ao largar o seu rebanho E esperar a morte suavemente Numa longa tarde de chuva em Gibeon. Damos calor às coisas enquanto é tempo E mais tempo há enquanto estamos mudos. Gozamos um amor tranqüilo, sem heroísmo. Assim acontece certas vezes, por espanto: De um golpe, o infinito nos apanha. VOZ DE NINGUÉM Tão somente um gesto E não o fiz. Que muitos houvessem tentado, Apenas eu resisti. Homens que marcham, que se deixam levar, Porque vivem. Estranho guerreiro, eu não marcho. Corpo morto, já não me carrego. À frente de cem milhas agrestes, Como se contra o nada, respondi: - Estou aqui e aqui perduro. Isto que hoje fala em mim, em mim se cala