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Viviane Barroso
(1979)
Poeta baiana, é doutora em estudos literários e professora de teoria de literatura na Universidade Federal da Bahia. Realiza oficinas de criação literária e estreou com o livro Água Negra e Outras Águas(2011) premiado pelo Concurso Literário do Banco Capital. O poema Quadrilha foi colocado em outdoor – programa “Poesia nas Ruas” – e causou polêmica e rebuliço em Salvador. É autora também dos livros “Correntezas e outros estudos marinhos”, “Dia Bonito pra Chover” e “Sobejos do Mar”.
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QUADRILHAS Maria não amava João. Apenas idolatrava seus pés escuros. Quando João morreu, assassinado pela PM. Maria guardou todos os seus sapatos.
OXUN JANAÍNA Descobri que, para mim, ser mulher basta. Para puxar véus, levantar saias pintar as unhas de vermelho feroz –mesmo que seja só para dizer: para. Ou para ver a dança des-contínua do seu corpo sobre o meu (o meu oposto) pelo espelho que se emancipa das paredes deste quarto e desta tarde delicada. Mas sempre ser mulher basta: posto que é inteiro e vão, onda que bate na pedra e despedaça apenas para voltar inteira – afogada –num mar de (in)diferenças onde cada gota solitária e única forma um discurso descomposto, cambiante, plural: mesmo quando me atiro sobre esta pedra, que me rechaça.