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Notícias | Vacas de leite
by RUMINANTES
VACAS DE LEITE INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO?
NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE.
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Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom
MELHORAMENTO GENÉTICO PARA A REDUÇÃO DA EMISSÃO DE METANO E AUMENTO DA EFICIÊNCIA ALIMENTAR NAS VACAS HOLSTEIN: UMA RESPOSTA INTERNACIONAL
(Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 8, 2021)
Este interessante artigo, de investigadores das universidades da Dinamarca, Austrália, Suíça e Canadá (Universidades de Guelph e Alberta), explora o papel da seleção genética dos animais como forma de reduzir as emissões de metano. A seleção de animais com menores emissões de metano (CH4) é uma das melhores abordagens para reduzir o CH4, uma vez que o progresso genético é permanente e cumulativo ao longo das gerações. Ainda assim, dizem os autores, uma vez que a seleção genética requer muitos animais com registos, e poucos países registam a emissão de CH4 ativamente, a combinação de dados de diferentes países poderia ajudar a acelerar a determinação de parâmetros genéticos precisos para a produção de CH4 e a construir uma população de referência em termos genómicos. Um aspeto importante da seleção genética é saber o impacto que a seleção de uma característica pode ter em outras características economicamente importantes. Os investigadores estabeleceram 3 objetivos para este estudo: estimar parâmetros genéticos de 7 características ligadas à produção de metano, bem como correlações entre essas características e indicadores de produção, manutenção e eficiência, usando um banco de dados multinacional. O segundo objetivo foi estimar correlações genéticas dentro de diferentes paridades e fases de lactação para a produção de CH4. O terceiro objetivo foi avaliar a resposta de parâmetros economicamente importantes, ao incluir-se parâmetros ligados à produção de CH4 no objetivo do melhoramento.
Os autores indicam que são necessários aumentos na produção de leite para fazer face à procura da crescente população mundial, e que esse aumento constante apresenta desafios de longo prazo de viabilidade econômica e sustentabilidade ambiental. A produção de laticínios (ou ruminantes) leva à produção de metano (o gás metano é gerado naturalmente pelos ruminantes através da fermentação entérica) e isso pode comprometer a sustentabilidade dos produtos lácteos. Segundo diversos autores citados no artigo, o gás CH4 produzido pela produção animal representa 17% das emissões globais de gases de efeito estufa e 2 a 12% das perdas de energia alimentar em ruminantes, tornando a redução das emissões de CH4 na produção pecuária um dos desafios deste século. Os autores referem vários estudos feitos na última década que mostram que os parâmetros genéticos ligados a produção de CH4 em bovinos leiteiros têm uma heritabilidade baixa a moderada, de 0,11 a 0,33, tornando a seleção genética uma forte abordagem para reduzir as emissões de CH4. Os autores referem que, além da necessidade de um grande número de dados, há também falta de consenso sobre qual a característica mais apropriada a ser incluída no critério de seleção, por exemplo, se deveria ser a produção diária de CH4 em g/cabeça/dia, ou produção de CH4 por kilo de matéria seca ingerida (CH4 (g/d)/MSI (kg/d)), por exemplo, ou outros?
Para este estudo, foram usados dados de um grande banco de dados internacional, de 4 países, com mais de 15.000 registos de produção diária de CH4 por vaca (g/d) de cerca de 3.000 vacas. Os autores concluíram que o metano está altamente correlacionado positivamente com outras características economicamente importantes, como a produção de leite, o peso vivo e o consumo de matéria seca e que, por esta razão, é importante ter um critério de seleção que seja ajustado para as características de produção. Os autores dizem que o CH4 residual (metano realmente produzido pelo animal vs. produção de metano prevista), ajustado em função do peso corporal metabólico e da produção de leite corrigido para a energia, parece ser a melhor opção para este critério. Além disso, o CH4 residual está positivamente correlacionado com o consumo alimentar residual, o que implica que animais com menor emissão de CH4 também são mais eficientes na conversão da dieta. Os autores dizem que a atribuição de um valor económico negativo para o metano poderia ajudar a reduzir substancialmente a produção de metano, mantendo ao mesmo tempo um aumento na produção de leite.
EFEITOS DO PROLONGAMENTO DO PERÍODO VOLUNTÁRIO DE ESPERA DO PARTO ATÉ À PRIMEIRA INSEMINAÇÃO NA CONDIÇÃO CORPORAL, PRODUÇÃO DE LEITE E PERSISTÊNCIA DA LACTAÇÃO.
(Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 7, 2021)
Este artigo, de investigadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, analisou os efeitos de 3 diferentes períodos voluntários de espera (PVE) desde o parto até a primeira inseminação no peso corporal, condição corporal, produção de leite e persistência da lactação. Também identificou as características individuais das vacas no início da lactação que contribuíram para a produção de leite e persistência de vacas com diferentes PVE. Os autores afirmam que o intervalo entre partos de 1 ano (IEP) está geralmente associado à maximização da produção de leite, devido ao pico de produção de leite estar associado ao parto. No entanto, a extensão do IEP pode beneficiar a saúde das vacas e a eficiência da produção, devido a menos períodos de transição (período pré-parto-período pós-parto) por unidade de tempo. A extensão do IEP pode afetar o
desempenho da lactação, devido a haver menos dias secos por ano, menor impacto negativo da gravidez na produção de leite e uma maior produção de sólidos do leite no final da lactação. O estudo usou 154 vacas leiteiras Holstein-Frisian que foram aleatoriamente alocadas a três PVE diferentes: 50, 125 ou 200 dias, e foram observadas durante uma lactação completa mais as primeiras 6 semanas da lactação subsequente, ou até ao refugo.
Os autores referem que é comum ter como objetivo um intervalo entre partos de 12 meses, uma vez que o parto está associado a um pico na produção de leite por volta da semana 4 até à semana 7 de lactação. Perto do parto, no entanto, as vacas passam por várias transições, como o período de secagem, o parto e o início da próxima lactação. Durante essas transições, as vacas têm um risco aumentado de desenvolver doenças e distúrbios metabólicos, o que significa que com um IEP de 1 ano, as vacas passam por essas transições todos os anos. Por outro lado, com um IEP de 1 ano, é comum ter vacas ainda com uma forte produção na altura da secagem, o que aumenta o risco de infeções do úbere no período de seca e no pós-parto. Um dos motivos para aumentar o PVE entre o parto e a primeira inseminação é reduzir o número de transições por unidade de tempo, bem como reduzir a produção de leite na altura da secagem. No entanto, dizem os autores, vacas com um IEP mais alargado têm menos picos de produção de leite por unidade de tempo em comparação com vacas com um IEP de 1 ano. Isso pode resultar numa menor produção de leite por vaca, por ano. Os autores explicam que os estudos feitos para avaliar a produção de leite com um IEP mais longo, normalmente concentram-se na produção de leite de 305 dias. Vacas com um IEP alargado, no entanto, têm períodos de lactação mais longos e menos dias secos por ano, o que influencia a produção média de leite por dia e por ano. Por causa disso, eles sugerem (citando vários outros investigadores) que, em alternativa à produção de leite em 305 dias, a produção de leite poderia ser expressa como a produção de leite por dia de IEP, o que teria em consideração períodos de lactação mais longos ou diferenças em dias secos por ano.
As conclusões do estudo foram que para vacas primíparas e multíparas, quando o PVE foi alargado até ao dia 125, não houve efeito sobre a produção de leite ou leite corrigido para gordura e proteína por dia de IEP. Para vacas primíparas, estender o PVE até aos 200 dias não afetou o rendimento por dia de IEP, embora, para vacas multíparas, estender o PVE para 200 dias tenha resultado num rendimento menor por dia de IEP. Além disso, vacas com um PVE mais longo tiveram menor produção à secagem. Os autores dizem que este facto pode beneficiar a saúde do úbere durante o período seco e possivelmente também na lactação subsequente. O estudo também mostrou que vacas multíparas com um PVE mais longo apresentaram maior condição corporal no período de secagem e nas primeiras semanas da lactação subsequente, o que pode ter consequências negativas em termos de saúde metabólica e na adaptação a uma nova lactação. Em resumo, os autores afirmam que o PVE poderia ser estendido de 50 dias para 125 dias, sem afetar a produção diária por dia de intervalo entre partos.