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Alimentação | Bovinos de leite
by RUMINANTES
ALIMENTAÇÃO | RUMINANTES RESÍDUOS DA BANANEIRA NA ALIMENTAÇÃO O AUMENTO GLOBAL DA PROCURA DE ALIMENTOS, PRINCIPALMENTE PROTEÍNAS, LEVA A UMA NECESSIDADE DE ESTRATÉGIAS MAIS EFICIENTES E SUSTENTÁVEIS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL (HENCHION ET AL., 2017). SENDO A MACARONÉSIA UM GRANDE PRODUTOR DE BANANA, FIZEMOS UM ESTUDO, UTILIZANDO OS RESÍDUOS DA BANANEIRA (FOLHAS E CAULES), COM O OBJETIVO DE ESTUDAR O EFEITO NUTRITIVO DA MUSA SPP COMO FONTE DE FIBRA NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL.
Por Sofia Teixeira, Postdoctoral Research Fellow at IITAA, University of Azores na University of the Azores | Foto Sofia Teixeira
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Oaumento global da procura de alimentos, principalmente proteínas, leva a que exista a necessidade de estratégias mais eficientes e sustentáveis na alimentação animal (Henchion et al., 2017). Sendo a Macaronésia um grande produtor de banana, fizemos um estudo, utilizando os resíduos da bananeira (folhas e caules), com o objetivo de estudar o efeito nutritivo da Musa spp como fonte de fibra na alimentação animal.
A utilização dos mais diversos recursos alimentares para colmatar as exigências nutricionais nos ruminantes, é muito debatido na atualidade. O recurso a alimentos alternativos para ruminantes é uma estratégia que visa reduzir os custos com a alimentação e superar o problema da escassez de pastagens (fibra) que ocorre em diversos momentos. A produção pecuária em regiões de pastoreio muitas vezes vê-se confrontada com períodos de baixa produção de pastagens, motivada por condições climáticas adversas que influenciam fortemente a produção de gramíneas. Com os atuais conceitos de produção, nos países em desenvolvimento, o uso de cereais em dietas para animais é caro devido à competição direta como fonte de alimentação humana, o que leva à necessidade de maximizar o uso dos recursos disponíveis, que incluem o consumo de alimentos não convencionais.
A alimentação dos ruminantes nos Açores, baseia-se principalmente em gramíneas. A cada ano que passa, a produção de erva é insuficiente para atender as exigências nutricionais dos animais nos meses de seca, causando stress nutricional e diminuindo a produtividade animal. A deficiência de forragem torna necessária a importação de rações ou de fontes de fibra (Borba, 2015). No entanto, a suplementação com concentrados durante a estação seca pode não ser uma prática lucrativa devido aos altos custos. Uma potencial estratégia para aumentar a qualidade e disponibilidade de alimentos para ruminantes na estação mais seca, pode ser através da alimentação de forragens não convencionais como Pittosporum undulatum, Hedychium gardnerianum, Morella faya e Ilex perado (Borba, 2007), plantas já estudadas diversas vezes.
As plantas forrageiras não convencionais são produtos fibrosos de baixa qualidade que são caracterizadas por teores de celulose, hemicelulose e lenhina em torno de 70%, e baixas concentrações de hidratos de carbono solúveis, proteínas, minerais e vitaminas. Para melhorar o valor nutricional das forragens, estas podem ser submetidas a tratamentos físicos, químicos ou biológicos, podendo ser uma alternativa adequada para fornecer forragem de qualidade, atendendo às exigências nutricionais dos animais.
Existem várias vantagens no uso de alimentos não convencionais na produção animal. A principal vantagem é reduzir o custo dos alimentos utilizando recursos disponíveis localmente. Outra vantagem é a redução da competição por alimentos entre humanos e animais. A capacidade dos ruminantes de usar a fibra de forma eficiente possibilita a exploração de subprodutos agrícolas e resíduos de culturas tropicais, como a bananeira, que também pode fornecer energia e proteína.
A bananeira é uma planta muito conhecida e útil, da qual quase todas as partes podem ser utilizadas, exceto as raízes e os caules. As bananeiras são recursos naturais amplamente produzidos e abundantes nos países tropicais e subtropicais do mundo (Sango et al., 2018) cujo desenvolvimento requer calor constante, humidade alta e boa
distribuição de chuva ou irrigação. O seu fruto, a banana, é das frutas mais consumida no mundo, com uma produção de aproximadamente 113 milhões de toneladas em 2016. Canárias, Açores e Madeira possuem condições climáticas para produzir culturas subtropicais e algumas tropicais, Estas culturas têm vários anos de trabalho, nos quais se adaptaram técnicas culturais, permitindo conhecer profundamente não só a cultura, mas também as diferenças a serem consideradas nas regiões subtropicais. De acordo com Batabunde (1992), cerca de 30-40% da produção total de bananas está disponível para alimentação animal por ser rejeitada para exportação, sofrer danos no terreno ou simplesmente não ter as dimensões para ser vendida. As projeções da FAO (2020) para a produção mundial de bananas são de que deve crescer 1,5% ao ano, chegando a 135 milhões de toneladas em 2028.
Após o corte do cacho de bananas, as partes restantes da planta, ou seja, pseudocaule e folha, constituindo cerca de 80%, podem ser utilizadas como ração para ruminantes, pois contêm grandes quantidades de nutrientes. O maior valor de proteína bruta dos resíduos da bananeira é encontrado na folha. No pseudocaule é onde se encontram quantidades moderadas de fibra. Devido à baixa digestibilidade da folha e aos baixos valores de matéria seca e proteína bruta do caule, a alimentação deveria ser suplementada com alimentos concentrados proteicos para que uma alta produção animal possa ser obtida. Para otimizar o uso desses alimentos na alimentação animal, é importante estabelecer um equilíbrio entre os nutrientes da dieta, para garantir eficiência nos processos de fermentação ruminal e otimização do crescimento microbiano. Estes processos resultam na maximização da digestão das fibras, e na melhoria do desempenho produtivo. Contudo, é importante conhecer a composição química e o seu valor nutricional, no uso racional desses alimentos, considerando o nível que pode ser incluído na dieta, com o objetivo de obter dietas equilibradas que atendam as exigências nutricionais do animal, maximizando seu consumo (Clementino, 2008).
Sendo os Açores e a Madeira grandes produtores de banana, realizámos um estudo utilizando resíduos de banana (folhas e caules) para investigar o papel nutricional da Musa spp como fonte de fibra na alimentação animal.
Nos resultados obtidos, em relação aos valores de Matéria Seca e de Proteína, as folhas e o pseudocaule, apresentaram diferenças significativas entre si, como é possível verificar na Tabela 1.
Quanto aos valores de NDF, existiram diferenças significativas entre folhas e pseudocaules, sendo o maior valor encontrado nas folhas. Estes resultados e os resultados de DMS estão de acordo, mostrando que o pseudocaule tem um valor de NDF inferior 52,10% vs 70,07% nas folhas e o DMS nas folhas é 22,69%, mas no pseudocaule é 40,39%.
Quanto ao ADF, também apresentou diferenças significativas entre folhas e pseudocaules. O EE também apresentou diferenças significativas entre eles, como em Cinza e DMS. ADL não mostrou diferenças estatisticamente significativas entre os tratamentos (p > 0,05). Na maioria dos parâmetros, as folhas apresentaram os maiores valores, exceto cinzas e DMS. Isso é normal, pois as folhas têm mais NDF do que os pseudocaules, por isso têm menor digestibilidade. Por outro lado, os pseudocaules possuem menos proteína, no limite das atividades ruminais e assim a sua digestibilidade não é tão alta.
Quase metade das culturas de bananeira, por volta de 40%, são consideradas resíduos no campo, produzindo cerca de 60-80 toneladas/ha/ano de pseudocaules de bananeira (Salehizadeh et al., 2017). Estes apresentam baixo valor nutritivo e alto teor de água, em torno de 93,4 %, mas com base na MS, o valor nutricional da PB é de 6,5% e o valor nutricional de gordura é de 1,5% (Tuan, 2004). Estes valores estão de acordo com os resultados obtidos no nosso estudo, em que os valores do pseudocaule são semelhantes e inferiores aos apresentados nas folhas. Segundo Cordeiro et al., 2004, o pseudocaule apresenta alta percentagem de cinzas (14%), mas baixo teor de lenhina (12%), quando comparado com outras plantas.
De forma a valorizar o valor nutritivo da bananeira, foi efetuado um outro estudo com diferentes concentrações de hidróxido de sódio (NaOH) (2%, 4%, 6% e 8%) e com ureia. Após a análise dos resultados, verificámos que, em relação às diferentes concentrações de NaOH, o melhor para tratamento seriam concentrações de 6 e 8%. Esta conclusão deve-se a serem os tratamentos que apresentaram melhores variações na diminuição dos teores de NDF e que aumentaram os valores de digestibilidade. Isso sugere que este subproduto pode ser utilizado na alimentação animal, sendo uma estratégia promissora para melhorar a eficiência alimentar de ruminantes.
No entanto, a qualidade pode ser melhorada se for feita uma silagem com outra folhagem ou com levedura, como promotor de crescimento, de forma a melhorar o teor de proteína, o consumo de ração e também o ganho de peso vivo (Manivanh & Preston 2015). Oliveira et al., (2014) estudaram o efeito do uso de feno do pseudocaule de bananeira na alimentação de pequenos e grandes ruminantes. Estes concluíram que devido ao baixo teor de proteína, a sua inclusão na dieta desses animais deve ser acompanhada de suplementação, na qual é possível incluir a própria folha da bananeira, que possui alto teor de proteína. Esta inclusão deve ser efetuada na produção do volumoso na proporção de, no mínimo, 50% de folha ou silagem de erva, utilizada na dieta do animal.
De momento, está a decorrer um estudo com silagem, com o objetivo de procurar melhorar o valor nutritivo e digestibilidade in vitro da bananeira, com a aplicação de aditivos no momento de ensilar.
Em síntese, os resíduos da bananeira, que não têm valor para benefício humano, poderão sofrer uma reciclagem e reprocessamento, e a sua utilização poderá oferecer a possibilidade de aliviar a escassez de recursos alimentares em períodos mais complicados.
TABELA 1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E NUTRITIVA DA MUSA SPP
Tratamento MS 100 g MS DMS
(%) PB NDF ADF ADL EE Cinza (%)
Folhas
Pseudocaule
16,54 11,25 70,07 42,38 9,90 2,6 17,74 22,69 (±0,58) (±1,18) (±2,28) (±1,63) (±0,63) (±0,42) (±0,94) (±1,27) 6,54 7,25 52,10b 30,62 6,57 1,36 24,07 40,39 (±0,25) (±0,66) (±0,51) (±1,29) (±1,10) (±0,09) (±1,95) (±3,10)
MS – Matéria Seca; PB – Proteína Bruta; NDF – Fibra em Detergente Neutro; ADF – Fibra em Detergente Acido; ADL- Lignina em Detergente Acido; EE – Extrato Etéreo; DMS – Digestibilidade da Matéria Seca In vitro.