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Campus

Revista-laboratório do Curso de Jornalismo Universidade Sagrado Coração ISSN 2317-3041 Ano 4 – Número 1– 2014

m a g a z i n e

Invisibilidade social Tratados como invisíveis e marginalizados pela sociedade, os moradores de rua enfrentam a rotina de preconceito, violência e abandono

Você conhece o Slackline?

Quando a luta dá sentido à vida

A importância da beleza na vida das pessoas

Estudos e boa alimentação, como conciliar

p.04

p.11

p.41

p.46


ÍNDICE

EDITORIAL

N

esta edição, um repórter da Campus Magazine vivenciou a experiência de se passar por morador

de rua na cidade de Bauru, em São Paulo. A ideia era permanecer 48h sem dinheiro, sem comida e sem banho para narrar suas sensações e percepções. A reportagem “A voz de um invisível” traz um texto aprofundado e narrado em primeira pessoa, com um material fotográfico contundente, resultado de um trabalho integrado entre as disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso II (Revista), Fotojornalismo e Design Gráfico para jornalismo impresso. Mergulhar em um cotidiano que está diante de nossos olhos, mas é como se não enxergássemos, traz lições, experiências e reafirma o papel do jornalismo e sua responsabilidade social diante de um contexto desigual e desumano. O jornalismo, por meio de uma abordagem humanizada, além de tornar visível esse contexto ao reportar e registrar fotograficamente a situação, fornece ferramentas para a nossa interpretação de mundo. O resultado é uma reportagem exclusiva para o leitor. Acompanhe-nos! Erica Franzon

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Ed. 03 Slackline......................................... 04 Profissionais e aventureiros...... 07 Uma vida por um ideal ................. 11 Areceitado“bom”sono............... 14 É hora do estágio........................ 16 Destino: Cidadania.................... 18 Em busca de um sonho.............. 21 Gente alternativa......................... 35 Busca sem fim .............................. 39 A importância da beleza.............. 40 Entre gostos e estilos....................42 A paquera e a tecnologia........... 44 Estudos e boa alimentação....... 46 Jovens e liberdade...................... 49 Feminilidade................................. 51 O desafio da igualdade............ 52 Reflexões pós-Copa.................. 54


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ELE NÃO É INVISÍVEL

GENTE ALTERNATIVA

PAQUERA VIRTUAL

Incompreensão, abandono e preconceito: a rotina de um morador de rua

A modificação corporal como estilo de vida e forma de expressão

Descubra como funciona a paquera na era da tecnologia

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Além da corda bamba

slack

Esporte que “viralizou” no mundo chega forte em Bauru e faz sucesso entre os jovens João Pedro Godoy, João Vitor Cordeiro e Gustavo Diccine

U

ma fita ou corda é esticada entre duas árvores, e a pessoa ca mi n ha de u ma ponta até a outra, mov imenta o corpo como um todo, reajusta os músculos, o que exige extremo equilíbrio e sintonia entre a mente e o corpo. Esta é a descrição do slackline, esporte que surgiu em meados dos anos 80, nos Estados Unidos, e que vem se popularizando. No Brasil, o slackline começou a ser praticado nas areias das praias do 4 • Campus Magazine 2014

Rio de Janeiro, aproximadamente no ano de 2010, e rapidamente viralizou entre os jovens. A jornalista Aline Rodrigues, uma das criadoras do grupo “Slackline Bauru” no facebook, conta que conheceu o esporte pela TV e logo se interessou. “Vi alguns documentários e achei muito legal. Comprei uma fita com um amigo, das mais básicas, e começamos a praticar. Pegamos tanto gosto que compramos uma prof issiona l ”,

conta Aline, que sempre comenta que sempre que pode incentiva amigos e conhecidos a conhecerem o esporte. O grupo criado por Aline já possui mais de 500 integrantes, que praticam o slackline em diversos locais pela cidade. “O mais legal é incentivar os novos participantes, vê-los pegar gosto pelo esporte e irem progredindo nos movimentos”, afirma a jornalista. Foi o caso de Juliana Midena, de 23 anos, que se


Esporte

line interessou pelo slack vendo a prática nas pracinhas bauruenses. “Interagi com o pessoal e tinha vontade de tentar, mas no começo eu tinha medo. Aos poucos, fui pegando confiança, pois sempre tinha alguém para me ajudar”, diz Juliana. “Aprendi que no esporte, cair faz parte”, completa. A mba s têm u ma v isão muito parecida sobre o esporte. “O slackline é uma forma de superação”, comenta Aline. “Fico deter m i nad a a fa z er u ma

manobra nova, e não paro de tentar até conseguir. Isso me faz treinar até cansar e , quando atinjo meu objetivo, me sinto super bem!”, finaliza a jornalista, animada. Juliana concorda com a parceira de slackline. “A cada desequilíbrio na fita dá vontade de continuar e ir um pouco além. Entendi que para praticar slackline é essencial ter muito equilíbrio, força e confiança, exatamente o que a vida exige de nós”, define.

Benefícios Após a popularização do esporte no mundo, surgiram rumores sobre a possibilidade de o slackline ajudar em aspectos como equilíbrio e força muscular. Para o fisioterapeuta Daniel Martinez, professor doutor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ainda não existem estudos significativos para afirmar esta tese. “Já foram publicados oito artigos científicos tendo o slackline como Campus Magazine 2014 • 5


Esporte

objeto de estudo e ainda não foram encontrados resultados satisfatórios”, diz o professor. “Todos eles apresentaram uma melhora no que se refere à prática do espor te, mas não na vida cotidiana”, explica o docente da UFJF à Campus Magazine. De acordo com Daniel, os testes ainda são pouco conclusivos e o esporte é muito novo. “Como o slackline é uma prática relativamente nova, ainda não se debruçaram muito sobre ele e é possível que, em breve, tenhamos resultados que mostrem benefícios do esporte na fisiologia”, co6 • Campus Magazine 2014

menta. “Mas é importante ressaltar que toda atividade física traz muitos ganhos para a saúde e bem estar pessoal”, completa o professor.

Modalidades O e s p or t e d a “c ord a bamba” é usualmente praticado por pessoas que o veem apenas como lazer e atividade física. Porém, o slackline tem modalidades diferentes de prática e competições nacionais e internacionais, e o Brasil já tem um campeão mundial. Carlos Neto, carioca de 24 anos, foi campeão mun-

dial de Slackline em 2013, na modalidade trickline. Carlos é um profissional do esporte, possui patrocínio e viaja para as etapas do Campeonato Mundial com despesas pagas. O trick line é uma das quat ro moda lidades do espor te e consiste em o praticante fazer o maior número de saltos e manobras possíveis na fita, sem se desequilibrar. Longline envolve fitas com mais de 20 metros. Highline é a prática em locais a, no mínimo 5 metros do chão, e a Waterline é praticado sobre a água.


Hobbies

Profissionais

Aventureiros Para aliviar o estresse e fugir da rotina, eles apostam em hobbies cheios de adrenalina Luana Correia Lima e Lucas Cabrero

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esquisa realizada pela Universidade de Brasília em abril de 2011 revelou que o estresse é uma das principais causas de afastamento do trabalho. Em alguns casos, a doença pode causar depressão, ansiedade e até Síndrome do Pânico. A falta de tempo é motivo de sobra para muito estresse. Praticar alguma atividade paralela ao trabalho pode ajudar e muito a evitar a fadiga, o hobby pode ser desde a coleção de algum item peculiar da cultura até investir bastante em um esporte. Algo que começa como uma brincadeira pode se tornar algo sério e os ganhos não ficam apenas na eliminação do estresse. Pensando em todas essas vantagens que

um hobby provoca num profissional com uma rotina bastante agitada, a Campus Magazine entrevistou Elton Grava, mais conhecido como Tinho, técnico em meio ambiente na região de Bauru e que todos os fins de semana, ao invés de descansar do trabalho, tira sua moto da garagem e parte com um grupo de amigos para praticar motocross, um hobby levado muito a sério. O motocross não é apenas dirigir por estradas de terra, a equipe “Nóis na Trilha”, da qual Tinho faz parte, percorre há dois anos estradas em sítios e fazendas de Borebi com motos que variam de cinco mil a 20 mil reais. E o investimento não para nisso: o Campus Magazine 2014 • 7


Arquivo Pessoal

Felipe Juan, João Gomes e Beto Copi. Membros do “Nóis na Trilha”

equipamento de segurança tem valores entre 160 reais (kit com camisa, calça e capacete) e 950 reais (camisa, calça, colete, óculos, capacete, bota, joelheira, cotoveleira, cinta abdominal e luvas). Para Tinho, praticar motocross é uma chance de provar uma liberdade que a rotina não permite. “O Motocross é uma forma de desestressar, é uma liberdade, é adrenalina”, afirma. Apesar de a prática do motocross ter um custo, o técnico em eletricidade João Gomes, adepto do hobby, afirma que, além de ser uma válvula de escape para o estresse, o esporte cria um vínculo de amizade entre os integrantes da equipe. “Na mata não tem rico nem pobre, não tem ‘minha moto é melhor que a sua’, somos um só, uma irmandade, uma família,” comenta João. Motocross é um esporte viciante, é o que deixa evidente os membros do “Nóis na Trilha” sobre essa paixão. Além do motocross, outros hobbies fazem 8 • Campus Magazine 2014

as pessoas trocarem a televisão do sábado à tarde por alguma prática regada à muita adrenalina É o que conta C.B. Ele é advogado e de segunda a sexta se dedica à profissão de comandar processos judiciais em Bauru e Região. Uma rotina que exige horas de leitura e trabalho, mas isso apenas de segunda a sexta-feira. Aos sábados, C.B. deixa o terno de lado e veste calças táticas, joelheiras, cotoveleiras e coturno e parte rumo a mais um fim de semana de um praticante de Airsoft. O Airsoft é um esporte que busca simular operações de campo de batalha com armas de pressão. A prática é quase um Paintball para gente grande, o que difere do clássico jogo das armas de tinta é que os equipamentos do Airsoft e os jogos se inspiram em operações militares. A arma (chamado de marcador) é uma réplica a gás ou elétrica de um rifle (o que diferencia de uma arma verídica é a ponta em vermelho e laranja) e


Hobbies

professores, arquitetos, bancários e dentistas. Alguns desses membros participaram da Operação Fênix em 2012, encontro nacional de Airsoft em Curitiba com apoio do Exército. “Essa confraternização é importante para dar uma divulgação positiva para o esporte, ainda mais com esse tipo de apoio”, afirma C.B. O Airsoft já chegou a ser usado como recurso de terapia em departamentos pessoais de empresas americanas. Numa roda de conversa bastante informal depois do jogo com a equipe, C.B. afirma que a prática ajuda a ter mais autoconfiança no trabalho. “O Airsoft lida com situações de conflito e exige muita calma para resolvê-las, muitas vezes utilizamos dessa calma para enfrentar os problemas do dia a dia”, analisa C.B. Nem só de adrenalina são feitos os hob-

Lucas Cabrero

as balas são pequenas bolinhas de plástico de 0,02 gramas. Mas praticar Airsoft não é tão simples assim: o investimento vai de dois mil a quatro mil reais (incluindo o marcador e equipamento de segurança) e muitas vezes os mais ávidos por começar logo a praticar o esporte precisam esperar autorização do Exército Brasileiro. “O Exército regula a entrada de marcadores no país, só maiores de idade podem ter um marcador e o usuário precisa estar sempre com a nota fiscal de compra em mãos”, explica C.B., enquanto ele e sua equipe se preparavam para entrar na mata fechada no jogo da semana. Ter um hobby como o Airsoft esbarra em muitas polêmicas. A prática ainda não é reconhecida como esporte e só é regularizada por uma portaria do Exército que pode ser derrubada a qualquer momento se o esporte não for cercado de cuidados. “A maior preocupação é com a violência simbólica que a prática pode trazer. Muitos utilizam o Airsoft com más intenções e isso prejudica a imagem do praticante”, aponta C.B. No esporte, discrição é o principal – alguns nomes, localizações e situações foram omitidos dessa matéria a pedido da equipe. Na ocasião de um jogo de Airsoft perto de área urbana, a polícia é informada do evento. O motivo para tamanha discrição é pelo fato da equipe que acompanhamos ser um grupo seleto de nove pessoas entre vinte e quarenta anos. “Temos cautela com novos membros exatamente pelos riscos do Airsoft. Precisamos ter pessoas de confiança e uma divulgação ampla do esporte pode trazer muitas pessoas sem consciência da importância da prática segura”, comenta C.B. Bauru tem adeptos do Airsoft desde 2010 e foi pioneiro no país, apesar dos primeiros equipamentos começarem a aparecer em 2002. C.B. comenta que nesses quatro anos já passaram pelo Airsoft publicitários, músicos,


Lucas Cabrero

Hobbies

Doctor Who teve diversos livros inspirados em roteiros da série lançados no Brasil e em Portugal, alguns foram encontrados pelo Trekker ABC Sci-fi & Cia.

bies. Em São Paulo todos os anos desde 2012 acontece a GallifreyCon. O evento é uma reunião de fãs da série de ficção-cientifica “Doctor Who”, criada em 1963 pela BBC e no ar até hoje. Lá conversamos com Ricardo Lanes, membro do fã clube “Trekker ABC Sci-fi e Cia”. O fã clube se dedica a colecionar objetos e colecionáveis de séries, filmes e animes de ficção cientifica. “A nossa maior paixão é o seriado ‘Star Trek’, mas o grupo é uma mistura de vários gostos, temos membros que gostam de faroeste, por exemplo”, explica Ricardo. Para Ricardo, ter um hobby como esse de colecionador é quase como um torcedor 10 • Campus Magazine 2014

fanático por um time de futebol. “Somos que nem torcedores do Corinthians, queremos ter tudo relacionado à nossa paixão,” brinca ele. Os hobbies são uma válvula de escape, conhecer o “Trekker ABC”, o “Nóis na Trilha” e a equipe de Airsoft de Bauru provou isso. Podem ser práticas cercadas de polêmicas, estranheza ou até curiosidade, conhecê-las e tentar entender a paixão dos adeptos de um hobby fez cair por terra muitos desses pré-conceitos e entender que sair da zona de conforto deve ser algo tão presente na vida das pessoas quanto uma rotina agitada.


ProjetoCrônica de vida

Uma vida por um ideal Quando a busca por sentido vai além de olhar para a própria realidade

Adham Marin e Letícia Aguiar

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utar – é isso. Em diversos momentos históricos da humanidade, uma forma que as minorias encontraram de ecoar suas vozes e, talvez promover alguma mudança, foi acreditando em uma causa comum e lutando por ela. Agindo individualmente ou coletivamente, na linha de frente ou na retaguarda, o que importa é acreditar e fazer algo por um mundo melhor. Pode ser sonho, sim, mas o escritor uruguaio Eduardo Galeano certa vez disse que o sonho estava lá no horizonte. Se andássemos dois passos, ele se afastaria dois, por mais que o seguíssemos, jamais poderíamos alcança-lo. Serviria para que, então? Para que nunca deixássemos de caminhar. Contamos aqui duas histórias de personagens anônimos que acreditaram em um mundo melhor e que não deixaram de caminhar. Seu Nelson e a luta ambiental Quem vê Nelson Roger Souza, um senhor bem humorado, sorrindo e carregando inseparavelmente sua pasta preta sob o braço, não imagina o labirinto de valiosas lembranças Campus Magazine 2014 • 11


Projeto de vida

Letícwia Aguiar

Nas mãos calejadas, Nelson exibe a preciosa pasta de lembranças: Vale a pena lutar.

que traz consigo – algumas guardadas na inseparável pasta – outras na intacta memória de “Seu Nelson”, que conta com orgulho um pouco de suas histórias de luta em prol da causa ambiental. Fotos, matérias jornalísticas, notas e outros recortes são recordações guardadas pelo senhor que desde os 18 anos já se interessava pelo movimento ambientalista e, desde então, iniciou sua militância por meio de manifestações pacíficas. Hoje, dedica-se aos trabalhos da ONG EcoBrasil, criada por ele e que dá assistência a animais abandonados. “A ONG conseguiu a aprovação de várias leis engavetadas há muito tempo”, relata Nelson. Ele conta que os protestos do grupo de jovens, naquela época, conseguiram dar visibilidade, até então tacanha, à causa ambiental e fazer com que projetos de lei fossem votados e aprovados rapidamente. Em uma mobilização pela preservação da represa Guarapiranga, o grupo de ambientalistas do qual Nelson participava vestiu-se de caveiras e foi até o prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a FIESP, na capital paulista. “Reunimos amostras de água dos rios, peixes mortos, lixos e perguntávamos a quem passava se alguém teria coragem de beber aquela água”, conta. Esse 12 • Campus Magazine 2014

protesto repercutiu em todo país e o fundador da EcoBrasil saiu em jornais, telejornais e revistas de grande circulação. Suas memórias não são apenas de momentos felizes, Nelson recorda-se também de um protesto pacífico na sede do Palácio do Planalto, o militante estava seminu para chamar a atenção acerca da proteção dos rios. “Fui preso por atentado violento ao pudor, levaram-me de lá de helicóptero”, relembra. Hoje, a luta de Nelson gira em torno do resgate e cuidado de animais abandonados. A Fundação EcoBrasil abriga mais de 60 animais de rua e resgatados por sofrerem maus -tratos. Além disso, promove palestras e expõe a importância da mobilização da sociedade por um mundo melhor. “Vale a pena acreditar e lutar por um mundo melhor”, completa emocionado. Igreja Inclusiva Diferente de Nelson, a causa pela qual Aloísio Pereira da Silva Júnior luta diariamente não foi uma escolha, nasceu com ele. Homossexual assumido, hoje é pastor evangélico e presidente da Associação Bauru pela Diversidade. Nessa relação dicotômica de sexualidade e religião, pastor Júnior pre-


Projeto de vida

side a Igreja Inclusiva em Bauru, que agrega o público LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e travestis, transexuais e transgêneros) e simpatizante, e foi o primeiro na região, após a aprovação civil, realizar o casamento homoafetivo no âmbito religioso. Júnior contou que nunca se percebeu diferente e que por volta dos 12 anos começou a enfrentar o preconceito, inicialmente porque gostava de esportes considerados “de menina”, dentro dos padrões da heteronormatividade. “Começou com algumas piadas e risos, mas o que mais me pesava mesmo era a questão religiosa”, relata. Sempre aplicado à prática religiosa de forma piedosa, ele conta que por muitas

vezes pedia a Deus a cura da sua homossexualidade e inclusive chegou a viver em um seminário católico até o ano de 2009, quando resolveu romper com a Instituição. “Eu tinha que escolher entre viver na mentira e agradar a sociedade ou ser feliz comigo mesmo”, desabafa. Sua grande luta começou com um projeto chamado “Presença de Deus”, que visava o evangelismo de todas as pessoas, sem distinção, iniciado em 2009, após sair do seminário. Documentada em 2012, hoje chamada Igreja Inclusiva, o projeto atualmente realiza suas reuniões nas casas de voluntários – são aproximadamente 150 envolvidos de forma direta e indireta.

QUANDO ELAS LUTAM... “Comecei a me interessar pelo feminismo por volta dos 16 anos, mas acredito que apenas de um ano e meio pra cá comecei a ler mais e estudar a história do movimento, assim como realmente participar de ativismo. Acho que desde pequena tinha consciência das desigualdades entre os sexos, mas quando criança minhas reclamações sempre tinham como resposta “é assim que as coisas são”. E por ter feito colégio técnico

de informática (uma área dominada por homens), comecei a sentir desde os 15 anos pressão dos professores e das pessoas ao meu redor que me diziam que informática não era “a minha cara”. Começou com algo simples como ter uma vaga de estágio recusada enquanto um dos meus amigos homens com menos coisas no currículo foi chamado, e daí em diante passei a ver situações muito mais sérias de assédio e violência que acontecem o tempo todo, mas assim como as minhas preocupações de criança, também eram “como as coisas são”. Já perdi amigos e briguei com muita gente, mas sempre que consigo fazer uma ou duas pessoas enxergarem a opressão que as mulheres sofrem é um alívio e uma pequena vitória. Acho importante que cada vez mais jovens se juntem a essa luta, principalmente quando o pensamento misógino já está tão infiltrado em nossa cultura. Cada um que se levanta e se pronuncia contra o sistema patriarcal dá um passo a mais na direção da libertação das mulheres.”. Beatriz Polita Franchin tem 20 anos e cursa o primeiro ano de Design na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP/Bauru.

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Saúde

Watana Melo

Qual é a receita do “bom” sono?

Prática de atividade física, yoga e música relaxante ajudam a dormir melhor

Karina Alonso e Watana Melo

“P

odemos dizer que o momento em que deitamos com o intuito de dormir deve ser precedido de um ritual. Este preparo envolve tornar o ambiente propício ao sono, com pouca ou nenhuma luz, sem ruídos”, explica o fisioterapeuta Cesar Waisberg. Com a rotina cada vez mais corrida, é normal os universitários não tomarem esses cuidados e terem dificuldades para dormir. O estudante de jornalismo Ednan Gomes conta que quando está preocupado com algum problema ligado à faculdade, é comum ter insônia. Dedicação e cobranças do curso e a nessidade de invadir a noite estudando são as duas principais razões para as dificuldades que os universitários tem para dormir, segundo o otorrinolarin14 • Campus Magazine 2014

gologista da Clínica de Distúrbios do Sono, Carlos Henrique Ferreira Martins. Para ele, se há alteração na rotina de sono, o prejudicado é o próprio estudante. Entre os problemas causados, pode-se citar a falha na liberação do hormônio do sono, melatonina, e do hormônio do crescimento, além da regulação da temperatura corpórea e do cortisol, hormônio envolvido na resposta ao estresse. Cesar Waisberg explica que, para ter uma noite bem dormida, é preciso manter a higiene do sono. “São hábitos como preparar adequadamente o ambiente em que iremos dormir, evitar alimentação pesada e a prática de exercícios físicos intensos antes de se deitar, mas, acima de tudo, manter uma rotina”, conclui o fisioterapeuta.


Saúde

Terapia complementar O

s primeiros registros sobre a prática de yoga surgiram há mais de 5 mil anos. Ao buscar a totalidade do corpo, a atividade une o exercício físico, mental e do espiritual. Segundo a psicóloga e terapeuta corporal Eliane Rodrigues, essa união ocorre porque os orientais não acreditam em uma divisão entre a mente e o corpo, diferentemente do que ocorre com os ocidentais. Eliane explica que uma das modalidades praticadas, o Hatha Yoga, trabalha muito a respiração, importante para o controle das emoções. “Ela aprende a respiração, o relaxamento, e o ideal é

que todos os dias ela pratique um pouco. Nem que seja uns cinco minutos antes de dormir, ela deite faça uma respiração relaxante e a mentalização do relaxamento”, conta a terapeuta. A prática de yoga não exclui a necessidade de procurar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra, porque é preciso encontrar a causa da insônia e trabalhá-la. “Mas é um auxiliar poderoso, porque você tem o domínio da situação. Se você aprende a respirar e a relaxar, é algo que você pode fazer em casa, não depende de outra pessoa”, conclui Eliane.

Ajuda eletrônica O celular costuma ser considerado o vilão na hora de dormir. O especialista Charles Czeisler, da Faculdade de Medicina de Harvard, aponta em sua pesquisa fsobre o sono que a luz emitida por tablets e celulares atrapalha a liberação de melatonina e, consequentemente, a indução natural ao sono. E se ao invés de usar o aparelho para trocar mensagens enquanto está deitado na cama, transformá-lo em um aliado? Alguns aplicativos podem ajudar a dormir melhor:

tempo quer deixá-lo funcionando.

SleepmakerRain Quem não gosta de ouvir o barulho da chuva enquanto está pegando no sono? Com layout simples, este aplicativo imita o barulho da chuva, em diversas intensidades, e tem um relógio em que você pode escolher por quanto

Sons da natureza Este aplicativo é parecido com os outros citados, mas com o diferencial de ter disponível som de canção de ninar e da neve caindo, além de ter um relógio em que pode-se selecionar por quanto tempo vai deixar a música tocando.

Relax Melodies Na hora de dormir, vários sons relaxantes podem ajudar. Este aplicativo oferece opções como barulho de rio, do vento, de pássaros e sapos, além de ronronar de gatos e sons de flautas. É possível selecionar até 10 músicas para tocar ao mesmo tempo e escolher a intensidade de cada uma.

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Isabella Lima, Mayara Crepaldi e Vitor Manfio. Produção: Djalma

É a hora do estágio! Confira quais são os benefícios e a importância dessa prática para o sucesso profissional Isabella Lima / Mayara Crepaldi / Vitor Manfio

A

tualmente, com a sociedade intensamente competitiva e irreversivelmente globalizada, quem não corre atrás de uma formação de excelência fica para trás na disputa pelo sucesso profissional. Isso se dá porque as empresas não desejam apenas “portadores de diplomas” e, cada vez mais, são cobrados profissionais proativos e qualificados. Para a Analista de Recursos Humanos, Camila Previdello, a partir deste ponto encontra-se a necessidade do exercício de estagiar. A especialista acredita que esta prática é fundamental para a formação do profissional, pois o estágio pode ser considerado uma “chance de ouro” para quem deseja ter uma carreira bem desenvolvida.

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Camila também diferencia esta modalidade de um emprego tradicional. Para ela, essa experiência agrega ao estudante um conhecimento que se relaciona com o que é aprendido em sala de aula. Além disso, serve como uma confirmação da escolha do aluno e uma porta de entrada para o primeiro emprego efetivo na área em que escolheu atuar. “A situação, hoje, no mercado de trabalho para os estágios é favorável. Por isso, as empresas optam por contratar estagiários, que são jovens sem experiência profissional e sem vícios”, afirma a especialista. Conforme uma retrospectiva realizada dos últimos onze anos pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, houve


Currículo

um aumento no percentual de oportunidades destinadas aos estagiários, sendo que em 2003, 46,5% deste segmento da população tinha uma vaga. Já entre 2013 e 2014, o total foi de 49,9%. Segundo o economista Reinaldo Cafeo, o Brasil possui enormes potenciais e este setor de estágio tende a crescer cada vez mais, juntamente à economia. Mesmo com o crescimento na oferta desta mão de obra, Reinaldo assegura que sempre haverá espaço no meio profissional às pessoas que efetivamente fizerem a diferença. “O mercado deseja bons profissionais, que possuam qualificação e competências emocionais, então o estudante universitário precisa demonstrar na prática os seus diferenciais”, afirma.

Mercado em alta O assistente administrativo da empresa CIEE (Centro de Integração Empresa-Es-

cola), Daniel Benetti, também afirma que o mercado de trabalho para os universitários tem crescido consideravelmente. Pode-se levar em conta que esse crescimento ocorre tanto pela busca de novos profissionais qualificados para os devidos cargos, quanto pela possível redução de impostos que podem ser gerados pela contratação do empregador CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. Daniel frisa que o estudante que procura um estágio deve se preparar e mostrar seus diferenciais frente aos concorrentes, pois, apesar do constante crescimento desse mercado, as vagas continuam muito disputadas, ainda mais em cidades do interior. Segundo dados da empresa, no ano de 2014, na cidade de Bauru, foram abertas mais de 40 vagas de estágio para diversos cursos do ensino superior. Para mais informações sobre as oportunidades disponíveis e como é possível se candidatar, entre em contato com a empresa pelo site: www.ciee.org.br.

Um exemplo que deu certo! Independência e experiência. Estes são os anseios que rondam a vida do universitário que entra no mercado de trabalho. Muitas vezes, sem noção do que acontece fora das paredes da universidade, o estagiário se vê perdido neste novo mundo, recheado de novidades. Foi assim que a estudante de Design Laura Mira, de 19 anos, se viu há praticamente um ano. Estagiária na Editora Alto Astral, em Bauru, como auxiliar de arte, ela garante que essa experiência transformou todos os setores da sua vida. “Posso dizer que meu conhecimento se expandiu de maneira imensurável. É muito diferente ter apenas o conteúdo teórico das matérias e realizar um trabalho para notas no final do semestre, e acabar ali. Já na prática, não, eu preciso realmente aplicar tudo

o que aprendi, puxando na memória coisas feitas desde o primeiro ano até o momento”, afirma Laura. A estudante também comenta que um de seus maiores desafios é enfrentar a responsabilidade que o estágio proporciona e o quanto essa oportunidade qualifica o cidadão, tanto pessoal quanto profissionalmente. “Referente ao meu lado pessoal, me sinto muito mais madura e certa de algumas decisões. Já profissionalmente, me vejo com mais noção do que ocorre ‘lá fora’. Antes do estágio, eu nem arriscava fazer um freelancer (trabalho desenvolvido por profissionais autônomos), mas, agora, já fecho alguns negócios. Atualmente, o meu maior motivo de orgulho é ver aquela revista, feita na tela, impressa em minhas mãos”, comenta a aluna.

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Destino:

Cidadania Projeto Rondon leva estudantes para locais completamente diferentes de sua realidade

André Donati e Tiago Migliani

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estemidos e muitas vezes considerados loucos, os exploradores foram muito importantes para desbravar o planeta. O espírito aventureiro faz muitas pessoas entrarem para a história, como David Livingstone, famoso por explorar a África e achar a nascente do Nilo; Roald Amundsen, primeiro homem a chegar no Polo Sul; ou até mesmo Cristóvão Colombo, considerado descobridor da América. O Brasil também teve seus desbravadores, dentre eles se destaca o matogrossense Cândido Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como Marechal Rondon. Descendente direto de índios, Rondon foi muito importante na modernização da Região Norte, levando li-

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nhas de telégrafo e fazendo mapeamentos da região, além de pacificar os encontros entre índios e brancos. Morto em 1958, Rondon recebeu homenagens da ONU e seu lema era “Morrer se for preciso, matar nunca”. É por isso que um importante projeto tem o seu nome. O Projeto Rondon foi criado em 1967 . A ideia na época era levar o desenvolvimento a regiões remotas do país. Na década de 1980, deixou de ser prioridade do governo, foi extinto em 1989, e retornou em 2005. Coordenado pelo Ministério da Defesa com apoio das Forças Armadas, o projeto tem o objetivo de realizar a integração social que une universitários de todo o país em busca


USC Divulgação

Extensão

Estudantes caminham na paisagem pernambucana em Junho de 2014

de ideias para o desenvolvimento sustentável e melhorar a qualidade de vida de regiões carentes do país. Desde 2005, o projeto já levou mais de 12.000 rondonistas a 800 cidades. Muitos jovens aceitam o desafio de sair do conforto de casa para ajudar outras regiões do país, como é o caso de Fernanda Martezolo, Aline Del Nero e Raphaela Lima, que passaram cerca de 14 dias no município de Palmeirina, no Pernambuco, em 2014. Localizada na região sul do estado, próximo à divisa com Alagoas. A cidade possui 8 mil habitantes, com PIB (Produto Interno Bruto) de 43 mil reais e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,549, considerado baixo. O IDH, medida comparativa para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento humano, combina três dimensões: expectativa de vida ao nascer, índice de educação e renda per capita.

A seleção Para ser selecionado para o projeto, os jovens passam por uma seleção curricular, e depois os pré-selecionados participam de uma entrevista que irá identificar o perfil para a missão. Os meses que antecedem a viagem são de intenso trabalho pelos rondonistas. A universitária Fernanda Martelozo conta que o grupo reunia-se com frequência para preparar a missão. A aluna Aline del Nero diz que os participantes receberam apoio psicológico e cultural. “A preparação conteve muita pesquisa sobre o local e reuniões entre coordenador e alunos”, afirma. Assim que o grupo chega à cidade, procuram colocar em prática as ideias desenvolvidas em Bauru. Apesar da situação de pobreza, os moradores são bastante receptivos diz Raphaela Lima. “Fomos muito bem recebidos pela liderança e principalmente pela cidade Campus Magazine 2014 • 19


Extensão

Apesar de todas as dificuldades, não faltaram os momentos emocionantes e, em alguns casos, até engraçados. Um dos colegas foi convidado para almoçar na casa de senhor, e ao descobrir o prato viu que era carne de gambá, conta Aline Del Nero. Passado o período da missão, chegou o dia da despedida. Raphaela Lima diz que se emocionou ao despedir-se de uma criança. “Na despedida onde um menininho me abraçava e chorava dizendo que eu estava abandonando ele, e que nunca mais voltaria. Que ele me amava e que eu era uma professora que ele nunca iria esquecer”. Esses alunos voltaram para Bauru com uma grande bagagem de recordações para se lembrar para toda a vida.

USC Divulgação

que faziam de tudo para nos agradar. Aliás, voltei com uma mala só de presentes, pois aniversariei lá e alguns moradores proporcionaram uma festa de aniversário em uma escola da cidade”, conta a estudante. Aline Del Nero afirma que várias oficinas culturais foram montadas para ajudar a população. A estudante conta que foram dias de muito trabalho, às vezes praticamente o dia todo, não só no seu projeto, mas também para ajudar os colegas do projeto em suas missões. Dentre os desafios apontados, o problema da falta de saneamento fez com que a estudante passasse mal após beber uma água não tratada.

As estudantes Raphaela Lima, Caroline Lourenço, Aline Del Nero e Fernanda Martelozo em Palmeirina (PE).

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Educação

Nunca é tarde

para a realização de um

sonho Estudantes considerados "maduros" representam hoje sete milhões de universitários matriculados em 2,5 mil instituições de ensino superior no país Guilherme Müller e Mariana Ribeiro

O

Ingresso nas universidades brasileiras para algumas pessoas é, às vezes, um pouco tardio. O aumento da oferta de cursos à distância, o acesso à tecnologia, a busca por uma melhor colocação no trabalho são alguns dos motivos que levam à expansão do acesso de alunos à graduação. Além disso, pessoas que trabalham muito cedo e que conseguiram crescer dentro da empresa podem ter a carreira interrompida por não terem ensino superior. Há também mulheres que optaram por dedicar sua vida à criação dos filhos ao invés de estudar. Maria de Lurdes Leandro Pereira, de 59 anos, é uma dessas pessoas. Mãe, avó, professora e estudante universitária, dona Lurdes para os íntimos, cursa o 2º ano de Filosofia na USC e ainda pretende fazer uma especialização na área de educação,

pela qual diz ser apaixonada. Ela resolveu fazer faculdade após a formação dos filhos e contou com o total apoio deles nessa nova etapa. Maria de Lourdes é professora de Sociologia na Escola Estadual Henrique Rocha de Andrade, em Bauru, e sempre teve o sonho de cursar Filosofia. “Quando me formei no ensino médio no ano de 77, fiz dois anos de faculdade de Direito e parei, contudo, minha grande paixão sempre foi a Filosofia. Meus filhos são a razão pela qual estou fazendo faculdade, eles são meus maiores incentivadores”, ressalta . Apesar da correria do dia a dia, dona Lurdes diz ser uma mulher realizada: “Estou muito feliz por ter conseguido realizar esse sonho. É a conquista de um novo horizonte, mais um degrau alcançado”. Os alunos mais experientes podem trazer excelentes contribuições para os Campus Magazine 2014 • 21


Guilherme Müller

“Estou muito feliz por ter conseguido realizar esse sonho”. Maria de Lurdes.

estudantes da nova geração. O estudante do curso de Filosofia da Universidade Sagrado Coração, Rafael Silveira, é a prova disso. Ele é amigo de dona Lurdes e ambos trocam experiências. “Ela me transmite muita confiança e ensinamentos de vida e eu a ajudo na parte da tecnologia (auxilio com formatação de trabalhos e manuseio do computador)”. Rafael vê dona Lurdes como um exemplo de determinação, foco nos estudos, confiança e coragem para ingressar no mercado como professor, além disso, um incentiva o outro a nunca desistir e nem desanimar. Outro que começou a fazer faculdade tardiamente foi Julio Polli. Ele tem 40 anos, é Diretor do Museu de Jaú e está cursando o último semestre de História na USC. “Sempre desejei fazer faculdade. Enfrentei muitas barreiras, principalmente, financeiras. Quando conheci a ciência histórica, descobri porque vim ao mundo. Sempre fui bom aluno, agora estou no meu último semestre, é uma imensa felicidade viver este momento”, explica.

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Julio acredita ser muito saudável o intercâmbio de gerações e não enxerga preconceito em relação aos alunos mais novos. “Existe uma troca grande de experiências e valores, os mais novos se beneficiam com a nossa experiência de vida e deles resgatamos o idealismo, a esperança de que uma nova geração e isso nos motiva”, defende. Emocionado, Julio, revela seu sentimento por ter conseguido realizar seu grande sonho: “Primeiro é de gratidão a Deus, à família, namorada e amigos, a todos que me apoiaram e me encorajaram a não desistir, mesmo nos piores momentos. Superação, pois encontrei muitos obstáculos. Certeza por estar me formando no que amo e o sentimento de orgulho pelo dever cumprido”, diz. A graduação na terceira idade Trabalho, garra, força e dedicação. Palavras presentes na vida do povo brasileiro. Hoje vive-se uma época em que as pessoas, principalmente os idosos, não querem mais ficar em casa só para assistir televisão ou


Mariana Ribeiro

Educação

“Estou no meu último semestre, é uma imensa felicidade viver este momento”. Julio Polli dormir, grande parte se aposenta, mas quer se manter ativa. De acordo com o Professor do curso de Geografia da USC Sebastião Clementino da Silva (conhecido como Macalé), essa mudança se deve ao fato de o Brasil estar vivendo um Bônus Demográfico. “Nosso país está tendo uma longevidade devido às melhorias na infraestrutura, saneamento básico e também porque os brasileiros estão aprendendo a se alimentar melhor e isso favorece e o aumento na expectativa de vida. As vovós de hoje não se parecem em nada com as que na década de 60 ficavam sentadas em suas cadeiras de balanço fazendo tricô. Hoje, fazem academia e voltaram a estudar. Muitos idosos estão indo para as universidades, com isso, estão tendo uma nova vida social, facilitando a questão da sociabilidade, e melhorias nas condições de vida, e isso é muito bom”, explica o professor.

A UATI (Universidade Aberta à Terceira Idade) da USC é uma das entidades pioneiras de referência para os idosos em Bauru e região. Fundada em agosto de 1993, tem como objetivo oferecer atividades de boa qualidade ao público idoso. De acordo com a coordenadora da UATI, Gislaine Aude, a grande procura pela instituição começou depois do ano 2000. “Percebemos um retorno do público em relação às atividades oferecidas e constatamos que o perfil do idoso de hoje mudou. Muitos já possuíam formação universitária, e procuravam a universidade porque estavam se aposentando, e não queriam ficar parados. Cerca de 50 idosos da UATI fizeram um cursinho, prestaram vestibulares, e ingressaram em universidades (especialmente na USC). Temos casos de alunos que se formaram em Jornalismo, Artes Cênicas, História, Pedagogia, Psicologia”, informou Gislaine. Campus Magazine 2012 • 23


A voz de um

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Retranca

Matéria de capa

invisível

As sensações e percepções de um estudante de Jornalismo após horas vivendo como um morador de rua

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Matéria de capa

Paulo Macarini | Fotografias de Junior Domingues

V

iver como um invisível, mimetizado em meio às ruas e sobrevivendo com a ajuda alheia por 48 horas. Este era o objetivo desta reportagem, planejada por cerca de dois meses. Apesar de uma vivência como esta não ser nada inédito, alguns fatos e comportamentos foram muito surpreendentes pra mim. Ao longo da experiência, deparei-me com atitudes diversas, entre elas as minhas reações - que foram inesperadas, mesmo após conversa prévia com uma psicóloga. O nervosismo na saída não era nada anormal. Últimos retoques, sujar o rosto com um pouco de terra pega do chão de uma pequena praça no Jardim Panorama, próximo à universidade onde estudo. Pronto. Início da caminhada às 9h da manhã da sexta-feira de 12 de setembro.

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Caminhei algumas quadras sem ser notado ou, pelo menos, sem perceber essa sensação. Já era o momento de experimentar uma interação. Apesar do horário, estava calor, ainda mais por ter optado por roupas pesadas. Pedir água seria uma boa forma de falar com alguém. Em um portão aberto, me aproximei de uma senhora lavando a calçada. A senhora foi bem solícita e não apenas encheu a garrafa com a mangueira que usava como entrou em casa e buscou água bem gelada. Apesar de tentar ser simpática, o olhar e a expressão facial eram de pena, uma leve repulsa e estranhamento, mas era só o começo. Garrafinha cheia, de volta à caminhada. E não demorei a ficar espantado pela reação de uma pedestre. Quando atravessava a avenida Nações Unidas, uma das mais importantes e movimentadas da cidade, percebi que uma de minhas sacolas tinha caído. Ao voltar para buscar, uma moça que


Matéria de capa

estava logo atrás saiu em disparada na direção oposta. O medo que causei foi algo que não esperava. Não saí correndo, não disse nada, simplesmente me virei em direção ao outro lado da rua. O meu susto passou, o da moça, talvez. Atravessei o Parque Vitória Régia e fui em direção às áreas nobres de Bauru. Já nos Altos da Cidade, percebi os primeiros olhares cegos. Enquanto fazia a caminhada, fui recolhendo latas, mas o aspecto de morador de rua me tornava parte da paisagem. Não havia olhares de solidariedade, nem aconchego, apesar do ambiente da região inspirar aconchego, por ser cheio de pequenos comércios, lojinhas e quitandas. Parte do cenário Chegando à Praça Portugal, a primeira grande sensação de invisibilidade. Um colega passava de carro e não resisti ao costume:

gesticulei a fim de cumprimentá-lo. Recebi um olhar rápido meio de lado. Um ronco forte do motor e lá se ia a primeira pessoa que não me reconheceu. Ponto para a caracterização, mas mesmo sendo essa a intenção, me senti um pouco estranho por não ser notado por alguém que convive comigo há muito tempo. A sensação era de muitas horas andando, muito embora o sol ainda não estivesse a pino. Depois de alguns quilômetros, passei por uma feira livre realizada sempre no ultimo dia útil da semana na rua Virgílio Malta. Com um pouco de fome, optei por usar os dois reais que havia levado pra emergência. Mantive-me no personagem. Ainda andando com dificuldade por carregar as sacolas e um cobertor, recolhi as latinhas que estavam pelo chão, fechei a sacola e peguei uma moeda. Resolvi comprar uma maçã com um feirante, olhei bem e escolhi uma, a mais

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Matéria de capa

barata. Quando peguei a escolhida, ouvi um grito alto e imponente: “Larga isso aí!”. Tomei um grande susto e mostrei a moeda, percebi um choque no vendedor, que sequer deu algum troco. Mesmo assim saí logo dali. Não queria ter que explicar a situação logo no começo do trajeto para sair de um problema maior. Voltei a caminhar pelas redondezas, recolhendo latas e recebendo olhares indiferentes. Como a região não conta com moradores de rua, achei que ali estaria chamando muita atenção, estava deslocado. Pane temporal Resolvi voltar para a região do Vitória Régia. O tempo parecia ter parado, a distância, que sempre pareceu grande, foi percorrida em minutos. Apresentava certo cansaço, mas o movimento baixo indicava que ainda não passava de meio-dia. Parecia pouco, mas já haviam se passado três horas. Três horas de caminhada e estranheza. Senti, então, uma pane temporal, não fazia muita ideia de horário. Meu corpo caminhava entre o cansaço, a fome e uma sonolência. Optei por ir a um lugar mais familiar, a praça Luiz Zuiani. Mais próxima de casa, talvez lá me sentiria familiarizado com o ambiente e menos desconfortável. Funcionou por alguns minutos. Sentei-me, tomei água de um bebedouro da praça, fumei um cigarro e fiz algumas anotações sobre o percurso nos espaços entre os textos de um livro antigo que carregava. Após perguntar a hora a uma funcionária dos Correios, ouvi uma resposta qualquer. A mulher sequer olhou no relógio que estava em seu braço ou em nenhum outro aparelho. Sem diminuir o ritmo, falou: “Três horas”. Então, ela pegou o celular quando já estava uns 50 metros à frente. Cinco minutos depois apareceu uma viatura da Polícia Militar. O policial me reconheceu, já estava ciente do trabalho e não houve abordagem padrão, mas fui orientado a não ficar ali, pois moradores da região já haviam acionado a PM.

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Fome A fome chegou mais forte e eu precisava de dinheiro pra comer. O cruzamento entre as avenidas Nações Unidas e Rodrigues Alves já apresentava grande movimento e parecia bem interessante. Fui pedir dinheiro de janela em janela entre os carros parados no sinal vermelho. Esse momento já renderia um texto à parte. Várias curiosidades ocorreram nessa mendicância. As que mais me marcaram foram duas, uma positiva e uma negativa. Logo no início vi um colega de faculdade se aproximando em seu carro. Percebi que estava fechando o vidro, mesmo assim me aproximei, ele sequer olhou. Insisti e bati no vidro, nada. Outra pessoa que me conhecia não me viu, mas nesse caso porque se recusou a ver, a olhar para a pessoa que estava na sua janela pedindo ajuda. A experiência positiva chegou a ser cômica. Ao acionar um dos carros que estavam parados no sinal, além de me dar dinheiro, o motorista pediu um trago do meu cigarro. Olhei no banco de trás e reparei em uma cadeira de bebê vazia. Ele então explicou que a esposa não o deixava fumar desde que a criança tinha nascido. Não demorou muito para que eu arrecadasse cerca de dez reais. Fui, então, a um restaurante popular que fica no mesmo cruzamento. Os olhares de estranhamento dos funcionários soaram como um alerta para não entrar. Pedi a um cliente que estava entrando se ele poderia comprar a comida com as moedas que tinha recebido. O rapaz buscou e não aceitou as moedas, fez questão de pagar. Simples, foi simpático e solidário. Aquilo me comoveu bastante. Como um deles Depois de almoçar, fui ao centro da cidade, um lugar com muitos moradores de rua, para tentar uma interação com um deles e para sentir como são tratados. Mesmo forçando, não houve muita interação, apenas olhares de estranheza e desvios de caminho.


MatĂŠriaRetranca de capa

Cada vez mais as pessoas se anestesiam, seja com ĂĄlcool ou drogas, seja com antidepressivos.

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Matéria de capa

Percebi que, quando me sentava em uma calçada, era comum atravessarem a rua para continuar o caminho pela outra calçada. Coisas que pareciam fáceis foram mais complicadas. Andar pela cidade seria cansativo, mas aparentemente seria um cansaço apenas físico. Não ter com quem conversar, o que fazer nem para onde voltar foram pensamentos que criavam grande ansiedade. Isto, apesar de não justificar, explica comportamentos como consumo de álcool e drogas. Sou fumante e o cigarro, de qualidade bem duvidosa, foi a muleta para esses momentos de reflexão sobre o dia. O simples fato de pensar em beber já mostra essa tendência social de anestesia. Eu não me sentia especial e tentar fazer aquela angústia passar, fosse voltando pra casa ou bebendo como outros moradores de rua, era um pensamento recorrente. Nesse

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período passaram por mim vários conhecidos, colegas de profissão, inclusive. Eu esperava que repórteres tivessem um olhar mais apurado, que perceberiam algo estranho como um mendigo ruivo com uma coberta pendurada no ombro. Não foi o que aconteceu. Quatro repórteres de quatro veículos diferentes passaram sem nem notar. À noite A tarde passou cheia de caminhada pelo Centro e muita reflexão. A noite estava chegando e precisava me preparar para dormir. Com parte do dinheiro que recebi no almoço, comprei um salgado, comi e fui descansar. A falta de alguém para conversar e a temperatura que caía eram fatores que já dificultavam o sono horas antes de dormir. O suporte que recebi foi o alívio para começar o sono.


Matéria de capa

Cinco minutos de conversa com meu colega no desenvolvimento do trabalho foram suficientes para relaxar e dormir. Apesar do frio, o cansaço do dia me permitiu deitar de forma quase tranquila sob a marquise de comércio na quadra 32 da Avenida Rodrigues Alves. Dormi como uma pedra e acordei estranhamente bem disposto. Na manhã de sábado, uma difícil decisão: comprar um maço de cigarros ou comer. Tomei a decisão mais complicada de entender. Comprei o cigarro. Já tinha percebido que comida não seria problema de conseguir. Me enganei. Fui ao Centro da cidade, onde o fluxo de pessoas era grande, porém a invisibilidade foi maior. Foi difícil conseguir dois reais em uma hora. Por outro lado, o centro comercial foi rico para a análise de comportamentos. Choque Parei em um ponto de táxi e não demorou a chegar um taxista para me expulsar de lá. Feliz ou infelizmente, ele me reconheceu, entrou em estado de choque e começou a chorar. O taxista já me conhecia há quase um ano e demorou a entender o que eu estava falando. Quando entendeu, se explicou, dizendo: “Eu sou pai, sou avô, senti como se fosse uma situação irreversível acontecendo com um filho”. Jonas Ayudarte Lopes, ou Seo Jonas, é taxista, tem 56 anos e recentemente havia tido seu filho preso por porte ilegal de arma e roubo. Outra reação que julguei positiva foi de Anderson Kauffman, que serviu como soldado do Exército junto comigo na 6ª CSM (Circunscrição do Serviço Militar) em Bauru. Ele viu, parou o carro e perguntou o que estava acontecendo. Como fiz anteriormente, agradeci e expliquei sobre o trabalho, porém a reação foi mais inesperada ainda: “Que trabalho o quê? Vou te levar pra casa. Você não pode ficar nessa situação, morando na rua”. Mas depois de outras explicações, ele

entendeu, acreditou e foi embora. Me surpreendi com essa reação, mas nem tanto quanto com outra registrada logo em seguida. Uma colega que não via há alguns dias, mas que costumava a frequentar minha casa pouco tempo atrás, olhou, reconheceu, deu um “Oi” de forma tímida, baixou o olhar e foi embora. Chegou a desviar o caminho quando voltou a seu trabalho. Não sei se por choque ou por desinteresse, mas depois de uma reação tão positiva quanto a de Anderson, o simples fato de me reconhecer e não falar nada me deixou mal novamente. Paralisia Infelizmente não consegui passar mais tempo nessa experiência. O cansaço, bolhas nos pés, problemas causados por intolerâncias alimentares ignoradas no processo e a falta de perspectiva por mais histórias me paralisaram. Mesmo mudando de 48 horas desejadas para 30 horas de experiência, ainda foi muito válido. Houve essa grande variedade de comportamentos e essa autoanalise que foi desafiadora e exigiu a conversa com uma psicóloga. O caminho do Centro até a minha casa nunca pareceu tão longo. Repensar tudo o que aconteceu durante essas 30 horas, os olhares e as reações, não foi fácil. Escrever sobre a vivência, apesar de ser o principal objetivo, também não foi fácil. Relembrar esses momentos e a riqueza dentro do turbilhão de sentimentos e ressentimentos é bem complexo. Cada momento e as bagagens dessa caminhada não cabem num texto, talvez num livro, quem sabe um dia. Uma coisa eu aprendi e não vou esquecer jamais: cada olhar que damos é importante, cada sorriso e cada palavra. Ter consciência e viver um lado onde não se recebe sorrisos e palavras positivas aumentam ainda mais a minha responsabilidade como ser humano, como repórter, como comunicador.

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Matéria de capa

Diário de uma reportagem Junior Domingues

Como vivenciar a experiência de 48 horas, sem dinheiro, sem comida, sem banho? Esta foi a primeira pergunta com que nos deparamos ao decidirmos por esta pauta. Uma das preocupações envolveu a segurança. Em consulta à Secretaria Municipal do Bem Estar Social de Bauru, Polícia Militar e Polícia Civil, fomos orientados a ter somente um personagem. Justificativa: quando se trata de mais pessoas, a aceitação por parte dos moradores de rua é menor, despertando a desconfiança entre eles. Fato: seriam duas pessoas a mais pedindo comida, dinheiro nos semáforos e lugar para dormir. Demasiado arriscado. Desta forma ficou decidido que Paulo passaria dois dias na rua, enquanto a cobertura fotográfica e a “vigilância” caberiam a mim. Orientações recebidas e funções atribuídas, passamos a definir os últimos detalhes da reportagem envolvendo a caracterização. No período da manhã do dia 12 de setembro de 2014, foi dado início à atividade. Com roupas sujas e sem zelo, barba por fazer, cabelo desalinhado e unhas compridas e sujas, Paulo passou a percorrer as ruas, inicialmente na região da avenida Nações Unidas, um dos principais acessos de Bauru. Para não despertar estranheza, decidimos que Rodrigo Alexandre, morador com quem dividia apartamento na ocasião, seria o intermediador entre nós. Quando Paulo precisava dar algum recado, dirigia-se até Rodrigo, como se fosse pedir alguma coisa, e aí avisava pra que lado da cidade iria e o que ia fazer. Se Rodrigo não estivesse por perto, Paulo ligava de um telefone público. No primeiro dia de reportagem, horário do almoço, fiquei próximo ao restaurante em que ele estava pedindo comida, localizado entre a Rodrigues Alves e a Nações Unidas, as principais avenidas de Bauru. 32 • Campus Magazine 2012

Não me esqueço. Em uma das circunstâncias, Paulo chegou a uma roda de cinco pessoas. Todos disseram que não tinham dinheiro, logo depois, uma delas se afastou da roda para fumar e viu que estava fotografando. Voltou dizendo: “Será que é da TV ou jornal? Chama o moço, vou dar dinheiro pra sair bem na fita”, disse. Paulo foi chamado e a moça ofereceu uma marmita. Nesse momento, ele já tinha ganhado comida de outra pessoa. Como o grupo não parava de olhar pra mim, resolvi sair de cena. À noite do mesmo dia, fiquei na Central de Polícia Judiciária (CPJ), próximo onde Paulo dormiu. O que me chamou a atenção era o desprezo com que as pessoas olhavam pra ele, talvez por medo. Durante a madrugada, o entregador de jornal nem notou a presença do Paulo quando chegou, mas, ao sair, ficou olhando com receio. Quando amanheceu, fui para o apartamento tomar banho e descansar um pouco. O cansaço era intenso. Havia mais de 24 horas que não dormia. Após o almoço, Paulo ligou dizendo que já não era possível continuar a experiência. Estava muito cansado, com bolhas nos pés e assaduras. Não questionei. Tínhamos a matéria.


Matéria de capa

Estresse mental e falência econômica motivam abandono de casa “Um cara forte desse deveria estar trabalhando.” Comentários desse tipo costumam indicar a percepção generalizada que a sociedade tem sobre moradores de ruas, sejam eles uma pessoa em necessidade financeira, um delinquente, um dependente de drogas ou alguém com fragilidades mentais. As causas variadas espelham a realidade dos mais de 150 moradores de rua que vivem em Bauru, de acordo com dados da Sebes (Secretaria Municipal do Bem Estar Social). O órgão atribui a traumas que geram estresse mental e falência econômica familiar algumas das causas que levam ao abandono do lar. E por trás dessas motivações, problemas de ordens psicológica e afetiva. Tal constatação motiva a secretaria a tentar prestar o apoio necessário aos moradores de ruas, assistindo-os e dando suporte. Os profissionais da Sebes, no entanto, sabem que não existe forma uniforme de tratar todos os casos. Em geral, as soluções são pontuais e, muitas vezes, temporárias. Segundo a psicóloga Tatiana Gallucci, antes de se começar a analisar esses moradores, é preciso entender se ele “é morador de rua” ou “está morando na rua”.

“Para entender e tentar ajudar essa pessoa, precisamos saber a razão que a levou até ali. Na maioria das vezes, quando a família está na rua, é um problema financeiro, relativamente fácil de ser reordenado. Pessoas sem traumas ou problemas além do financeiro têm a capacidade e veem a necessidade de sair dessa situação temporária”, afirma Tatiana. Por esse motivo, constata a psicóloga, é difícil ver uma família morando na rua por muito tempo. Essa situação temporária também acomete um indivíduo sozinho em decorrência de algum problema ou acidente financeiro. No entanto, pelo fato de estar sozinho, esse indivíduo recorre à moradia fixa com maior frequência, bem como percebe outras possibilidades de tentar a sobrevivência nas ruas. Além das questões financeiras, problemas familiares, situações de agressão ou abuso, decepções e traumas motivam a decisão de viver nas ruas. “Para algumas pessoas, a rua, por mais estranho que possa soar, é um alívio, uma situação melhor ou mais tranquila do que viver “em casa”. Na rua, o fato de não ter objetivos e nem cobranças, muitas vezes, gera uma situação de conforto”, completa a psicóloga. (PM)


O destino profissional Trabalhos que cruzam fronteiras são desafiadores, mas recompensantes. Ana Castilho e Heloísa Casonato

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Desde os primórdios o homem sente a necessidade de se locomover, conhecer novos povos e diferentes culturas. Há pessoas que escolhem profissões em que podem unir o trabalho a essa paixão por viajar. O advogado Fabrício Spadotti, 35, achou interessante a experiência obtida em uma viagem a Sant’Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul. “Tive a oportunidade de ir a pé à cidade de Rivera, no Uruguai, delimitadas por uma faixa pintada no chão”. A partir disso, o advogado se deu conta de que, com do trabalho, ele poderia cruzar fronteiras.

Destinos surpreendentes

Viagens marcantes

Hoje, as empresas estão mais focadas no crescimento e reconhecimento no mercado. As negociações a longa distância se ampliaram, e a relação entre os países se tornou comum. Contudo, muitos profissionais passam boa parte de seu tempo viajando para conquistar mais clientes. Mesmo com recursos como videoconferência, o contato “cara a cara” passa mais credibilidade é essencial para o negócio.

E dentre tantas fronteiras, o profissional pode se deparar com um destino atraente. Antônio Ivan C., 42, gerente de manutenção portuária, destaca uma cidade do Pará entre os diversos os lugares que conheceu no Brasil. “O que mais me chamou a atenção foi a região de Santarém, no estado do Pará, onde os costumes e a culinária local diferem dos demais lugares que conheci no país. Conviver com uma cultura diferente, desperta curiosidades”, explica. Antônio acredita que o ponto positivo de sua profissão estar relacionada à viagens é a oportunidade de conhecer muitas culturas. Ele também destaca o cuidado que se deve ter com a saúde neste ir e vir. “Gosto de comer saladas, o que geralmente é item ornamental em pratos nos restaurantes que encontro, nem sempre consigo ir ao meu dentista preferido, e fico cansado por dias, pois passo noites em aeroportos”, explica o gerente de manutenção portuária.

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Poatã Souza Branco, 35 anos, empresário e farmacêutico comenta sobre a viagem à Índia como o lugar mais atrativo por conta de sua filosofia de vida e a desigualdade social e explica: “mesmo com muita desigualdade social, a Índia tem uma tecnologia ultramoderna e na área farmacêutica que é meu segmento, estão entre os principais do mundo”. O farmacêutico também viajou para a Turquia, Chile, Argentina e Paraguai. Expandindo a empresa

Distraindo a saudade Existem viagens profissionais que podem durar dias e conciliar o trabalho com o lazer de maneira mais agradável. Antônio diz que passou seis meses no porto de Pacém, no Ceará, para descontrair, comprou uma bicicleta e pedalava pelas praias nos finais de semana. Tanto tempo longe de casa pode ser um grande desafio para profissionais que tem família como o caso de Poatã: “falo diariamente com minha família, porém nada substitui a presença corporal, pois o marcante nos relacionamentos são as experiências que compartilhamos juntos”, acrescenta.


Estilo

Gente

Alternativa A modificação corporal como estilo de vida e forma de expressão

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Carolina Cachoni

T

Mercado de trabalho Apostar em um estilo diferente, portanto, é um risco. Em geral, os empregos que requerem lidar com o público ou empresas com um perfil mais conservador preferem contratar quem não aderiu a esse estilo, ao invés de “arriscar” algum tipo de constrangimento por parte de um cliente por causa da aparência do funcionário. Com o uso de tatuagens, piercings e alargadores, o mercado de trabalho tem se mostrado um pouco mais maleável, mas é “mais seguro” ter tatuagens que podem ser facilmente ocultadas ao possuir modificações corporais extremas.

Carolina Cachoni

atuagens, piercings, alargadores, cabelos coloridos, roupas rasgadas... Todos fazem parte do que se chama de estilo alternativo. Recebem este nome por apresentarem um visual descolado e, muitas vezes, diferente do que é usual na sociedade. Sarah Corrêa tem 20 anos, estuda Publicidade e Propaganda, é tatuada, possui piercing, alargadores, e diz ser muito feliz do jeito que é. “Cada vez que alguém me olha torto ou faz algum tipo de comentário maldoso, eu sinto mais vontade ainda de ser assim. Não me importa o que as pessoas pensam sobre minha vestimenta, a cor do meu cabelo ou minhas tatuagens. Pra mim está bonito, gosto de mim desse jeito”, afirma.

A estudante de Publicidade e Propaganda, Sarah Corrêa se sente feliz e realizada com suas modificações corporais.

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Estilo

Davi Alexander, 20 anos, é modelo fotográfico, vendedor e estudante de Design. Ele respeita quem pensa de forma mais tradicional e não julga as pessoas que pensam dessa maneira. “Compreendo, pois se fosse comum não chamaria a atenção delas e não as fariam questionar. Meu avô é um homem muito tradicional e quando viu como fiquei diferente, apenas me alertou para tomar cuidado com minhas atitudes a partir de então. Achei aquilo incrível e me fez pensar”, conta.

Preconceito A tatuagem passou por quase todo o século XX sofrendo com o preconceito ancestral que vem desde a Idade Média. Porém, com o passar dos anos, essa modificação corporal começou a ser vista também como uma forma de expressão artística. Hoje, os estúdios de tatuagem estão se multiplicando graças a uma parcela crescente e insaciável de jovens e adultos que aderem às “tattoos” como forma de expressão e homenagem. Contudo, mesmo que algum tipo de preconceito ainda perdure nos dias atuais, a tatuagem e as modificações corporais não são tão malvistas pela população como antigamente, e isso se deve ao fato de as pessoas famosas e adoradas pelo público ostentarem esse tipo de mudança sem nenhum pudor. Vitória Galhardi tem 22 anos e estudante de produção audiovisual e não sofre nenhum tipo de preconceito, mesmo tendo várias tatuagens espalhadas pelo corpo. “Sempre apreciei tatuagens. As minhas são inspiradas em sigilos mágicos, frases e citações de livros. Não me arrependi de tê-las feito e nunca sofri preconceito por ser tatuada, pelo menos não que eu me lembre. Apesar de a maioria das minhas tatuagens é em regiões que consigo cobrir. Não acho que isso mostre o caráter de alguém. Não concordo com o pré-julgamento que as pessoas fazem de quem tem tatuagem. Não muda nada entre uma pessoa tatuada e outra que não é”, expõe.

O modelo Davi Alexander, encara as tatuagens com bom humor e entende quem não aceita os jovens alternativos.

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AndrĂŠ Carvalho

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Comportamento

A busca sem fim Questões psicológicas que norteiam a dependência e o consumo André Carvalho

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busca incessante por algo perfeito é um ponto que está sempre em discussão. A mídia e os veículos de comunicação têm o papel importante nesse processo. O que vemos na sociedade contemporânea, são pessoas que criam a própria personalidade por meio de algo que já existe. O famoso espelho, não o tradicional, mas aquele que está dentro da cabeça das pessoas, revelam coisas que geralmente são baseadas em ilusões. De acordo com a Psicóloga clínica, Elisangela Fernandes Silva, formada pela UNESP com especificação em psicoterapia psicanalítica, “a personalidade humana desenvolve-se na inter-relação de aspectos constitucionais, genéticos e heredi-

tários de uma pessoa, com o meio social no qual está inserido”. Dentro desse assunto e com base na sociedade capitalista em que vivemos, podemos abordar o consumismo. Como o modo de produção se releva no indivíduo e o torna consumista? “O capitalismo permeia todas as atividades humanas: com quem você se relaciona, o que produz, como produz, o quê e como consome, e em ultima instância, quem é você e qual o seu valor. Com isso, surge o respaldo ao consumismo e a busca compulsiva por padrões de beleza impostos socialmente e difundidos pelos meios de comunicação, principalmente pelos mais jovens por sua natural suscetibilidade à opinião e aprovação do grupo”, explica Elisângela. Devido a essa busca sem fim de pessoas insatisfeitas com seu corpo, com rosto, com a sua aparência, nos deparamos com outra questão, à dependência. Ela não se restringe apenas as necessidades físicas, mas também a psicológicas. Abrande desde substâncias psicoativas, até mesmo ideias e padrões. Segundo Elisângela “a dependência se caracteriza pela necessidade crescente, exclusiva e imediata de algo, para se atingir um nível máximo de funcionamento ou sentimento de bem-estar”. Relacionando algumas das características do ser humano, incluindo ele no contexto sócio histórico, com base em suas necessidades, é notório que o consumismo e o padrão de beleza não são algo superficial. O que sempre será questionado é a influência que um grupo social tem para uma pessoa. Sobretudo, o desejo de mudança que reina em si mesmo, faz com que a pessoa absorva informações de todos os lados, incluindo todos os veículos de comunicação. Campus Magazine 2014 • 39


Comportamento

A incansável busca pelo tão sonhado padrão de beleza Da Pré-História, passando pela Idade Média, pelo Renascimento, até chegar no Século XX e XXI, nos dias atuais. A procura pela beleza é muito mais antiga do que as pessoas imaginam Marcela Gambini

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padrão de beleza começou lá na época da Pré-História, quando o corpo era muito bem cuidado por ser considerado como uma arma de sobrevivência, a fim de caçar e correr dos pedradores. Nesse período, as mulheres mais rechonchudas eram as representantes da beleza feminina. Isso se deu por muitos anos, já que a ideia da saúde e beleza estava ligada ao peso de cada mulher. As mais “cheinhas” eram um modelo a ser seguido. Logo nas primeiras civilizações, as atividades eram sempre voltadas à guerra, então os cuidados com a forma física passaram a ser os principais. Isso marca os indícios de ter que seguir um padrão imposto pela sociedade. As pessoas precisavam se encaixar em tal forma para guerrear e conseguir sobreviver. Mas foi em 1920, que o padrão de beleza imposto até os dias de hoje veio à tona. Foi quando surgiu a expressão “sex-appeal”, que demonstrava a sensualidade das mulheres no jeito de andar, falar e até de encarar os homens. As mulheres começaram a ficar mais poderosas, deixando de ficar cuidando da casa para o marido e passando a conquistar o espaço de cada uma no mercado de trabalho. Nessa época, elas adotaram um visual mais andrógeno com cabelos curtos, seios e quadris disfarçados em vestidos retos. A partir dos anos 40, os astros de Hollywood passaram a ser as grandes referências de beleza e forma física. Foi aí que a ideia de querer ter o estilo igual de determinada pessoa se difundiu. Os principais pedidos nos salões de beleza eram ter o mesmo corte e a 40 • Campus Magazine 2014

cor exatamente igual a da Marilyn Monroe, um dos ícones que impôs o padrão de beleza que se segue até o Século XXI. Nos dias de hoje, as pessoas sobrevivem da aparência não só na vida pessoal, mas principalmente na profissional. A beleza deixou de ser apenas um status e tornou-se um modo de vida. A estética só evoluiu e a procura pela beleza aumentou em 100%, segundo a esteticista e cabeleireira Rose Borges. Ela explica que o principal motivo desse aumento foi pelo fato de, a cada ano que se passa, os produtos e aparelhos estão mais acessível e baratos. As pessoas consumem muito mais em todos os sentidos e a beleza não ficou para trás. De acordo com Rose, a pessoa que procura por um esteriótipo de beleza passa a ter uma saúde física e mental, pelo fato dela ficar bem com o seu corpo e a sua aparência, por dentro e por fora. Sobre padrões de beleza, a cabeleireira diz que de 10 clientes, 9 levam uma foto ou citam uma pessoa famosa como modelo para pintar e cortar o cabelo, “As minhas clientes trazem até fotos de famosas para mostrar como elas realmente querem que fiquem. Querem fazer igual o da outra pessoa”. Ela ainda explica que o trabalho dos profissionais da beleza é muito importante para a sociedade, já que são capazes de ajudar o cliente a se adequar a sua imagem pessoal ao seu estilo de vida. Mesmo a pessoa se espelhando em algum famoso na hora de montar a sua imagem, ela acaba colocando a própria personalidade e as suas características, compondo o seu próprio look.


Comportamento

André Carvalho

A importância da beleza na vida das pessoas

O padrão de beleza e sua evolução em tempos modernos Ana Silvia Souza

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esde o período da Segunda Guerra Mundial, as mulheres vieram conquistando mais respeito e admiração na sociedade, tornando-se independentes e transmitindo isso aos que estavam ao seu redor. Nessa sociedade tão democrática as pessoas acabam se tornando “escravas” do espelho por conta do espaço e amplitude que os meios de comunicação tomaram e acabou gerando. Os direitos humanos nunca estiveram tão violados, banalizados e sem importância nenhuma como ultimamente. As cobranças que as mulheres têm feito a si mesmas para atingir o padrão de beleza imposto pela mídia, tem lhes prejudicado em todos os sentidos, tanto psicológico, como os do seu corpo. Os meios de comunicações criaram estereótipos e impôs isso as pessoas por meio de desfiles, novelas, propagandas e comerciais mostrando pelos manequins, a pura perfeição.

Cuidar da casa, dos filhos, trabalharem independentemente e ainda cuidar de sua estética e aparência gerou estresse e a não aceitação de seu corpo. Com o surgimento de indústrias de novos produtos e inovações no mercado da moda as pessoas deixam de enxergar sua beleza interior e passam a consumir compulsivamente esses produtos para maior satisfação e bem-estar. Hoje em dia, o corpo feminino vendo tudo, mas esta imagem de um “corpo perfeito” juntamente com a espetacularização da sociedade acarreta em diversas conseqüências drásticas aos seres humanos, que estes deveriam repensar suas atitudes na maioria das vezes, pois cada um tem uma beleza única, se cuidar e ser vaidosa faz parte da natureza, mas não se escravizar por isso, se tornando obcecado pelo o que a mídia oferece porque pessoas bem satisfeitas não precisam disso, elas vivem bem consigo mesmas. Campus Magazine 2014 • 41


Bem-estar

Entre gostos e estilos o que vale é o conforto Jovens quebram estereótipos e cada vez mais buscam conforto no modo de se vestir para ir à universidade, ao invés de se preocuparem apenas com a aparência . Nayara Suelen e Isabella de Castro

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ue roupa você coloca para vir à universidade? A primeira que aparece no guarda-roupa ou tem algum critério por trás? As opiniões de muitos alunos da Universidade Sagrado coração (USC) ficam divididas quando se deparam com essas perguntas. Alguns optam pelo conforto, enquanto outros focam na aparência e estilo, e você, qual é a sua? Esta cada vez crescendo mais o interesse de homens e mulheres que desejam melhorar a aparência. Uma prova disso é a proliferação de academias, salões de beleza e estética. Embora as mídias influenciem muito e, por sua vez, ditam regras e padrões de beleza, já preestabelecidos, cada individuo carrega em si sua subjetividade. Portanto, o ambiente em que estão inseridos, a cultura, os costumes e a religião, também se tornam fatores determinantes no modo de vestir, falar ou até mesmo agir. Para muitos, o curso de moda possui um estereótipo de sempre se vestirem bem e cuidarem de sua aparência, desde o momento de ir ao supermercado até a universidade. Porém, não foi isso o que as alunas do último ano de Design de Moda da USC comentaram. Para Julia Bacarin, de 18 anos, não existe um padrão na forma de se vestir da turma, tem uns que vem mais arrumados, outros nem tanto, completa. Ela particularmente busca inspirações nas redes sociais, não necessariamente das modas de passarela. Já Lanai, de 19 anos, fala que todos buscam estar bem vestidos, no entanto, cada um com sua característica e estilo, de modo geral o conforto é 42 • Campus Magazine 2014

essencial, em qualquer ocasião, mas gosta de se diferenciar dos outros. Também no último semestre de moda, Lilian, de 19 anos, diz que o curso influencia no modo de se vestir, porém, na sua turma cada um se veste de uma forma, desde o elegante ao mais versátil. Lilian acredita que como está tudo mesclado, não há como distinguir o curso de uma pessoa apenas pelo modo dela se vestir. Já Luiza, de 20 anos, diz que o seu curso antes influenciava mais no seu vestuário, hoje ela busca mais conforto e varia muito. Discordando de outras meninas do seu curso, Luiza acredita que o modo de se vestir marca muito e dá para distinguir em qual curso aquela pessoa está inserida, ou ter uma base, já que o pessoal de História e Filosofia se veste mais formalmente, enquanto que Design e Moda são mais criativos e versáteis. Alguns meninos do curso de Design optam por um estilo mais alternativo, com cabelo roxo e alargadores na orelha. Guilherme Vazoneri, de 20 anos, diz que não se preocupa muito na hora de se vestir para ir à universidade e que tem influencias da mídia e de gostos musicais. Leonardo Guaralto, de 19 anos, diz que o modo de se vestir alternativo se aplica para uma boa parte da sala, mas não são todos. Enquanto que Silvio, de 23 anos, afirma que seu curso nunca influenciou no seu modo de vestir, ele já tinha o mesmo estilo antes mesmo de começar o curso. E assim como Leonardo, Silvio também nota semelhanças entre os colegas de sala, mas não são todos com o mesmo perfil.


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Nayara Suelen e Isabella de Castro

Na USC notamos uma gama muito grande de gostos e estilos, entre os mais de seis mil alunos, divididos entre os centros de Ciências Exatas, Humanas, Biológicas e Sociais Aplicadas, das mais variadas idades e classes econômicas. Sobretudo, é possível perceber, de modo geral, uma subjetividade eminente em relação à aparência entre esses universitários.


Relacionamento

A paquera na era da tecnologia Tinder, o aplicativo que virou cupido, relaciona pessoas através de informações do Facebook e localização Pedro Sacardo e Renan Watanabe

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uem nunca entrou no perfil de uma pessoa no Facebook para olhar as fotos? Ou então a seguiu no Twitter para acompanhar suas postagens? Tudo para conhecer melhor sobre os interesses da paquera. O clima de flerte na internet é algo normal entre pessoas de todas as idades. E, muitas vezes, as redes sociais fazem o papel de “cupido”, aproximando-os por interesses pessoais. Atualmente, aplicativos de celular estão indo mais além, buscando perfis e pessoas pela distância, além das fotos e informações básicas expostas na internet pelo usuário. O Tinder, aplicativo de namoro, é considerado um dos programas de relacionamentos mais utilizados pela população mundial, totalizando 100 milhões de usuários no mundo inteiro, segundo a pesquisa feita por alunos da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. A partir do momento em que duas pessoas curtem fotos, uma conversa é estabelecida e o jogo de interesse se torna o elemento principal. No Brasil. os jovens são os maiores usuários do aplicativo. Aproximadamente 10 milhões de brasileiros utilizam o aplicativo de namoro. Mas será que as relações pessoais, que antigamente iniciavam as conversas, estão sendo deixadas de lado e substituídas pelas virtuais? 44 • Campus Magazine 2014

A psicóloga, Maria Célia Ribeiro afirma que as pessoas buscam preencher um vazio pessoal ou tentam suprir a carência conhecendo novas pessoas. “A sensação de vazio ou carência provoca no ser humano a vontade de encontrar meios que possam aliviar ou amenizar este sentimento. O contato com pessoas que você conhece em aplicativos não vai suprir totalmente esta sensação, pois, na maioria dos casos, é algo momentâneo. É necessário cuidado. A fragilidade de pessoas que se encontram nesta situação pode ocasionar danos psicológicos ao idealizar um relacionamento com alguém que você não conhece completamente”, esclarece.

Amores passageiros O sociólogo Zygmunt Bauman, no livro “Amor Líquido”, contesta o comportamento humano com a modernidade tecnológica. “Acostumados com o mundo virtual, e com a facilidade de se “desconectar”, as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros”, escreve Bauman. Muitos usuários buscam um relacionamento de momento, como se estivessem em uma balada. “Eu fiquei com um menino que conheci no aplicativo. O momento foi legal,


mas não rolou nada sério. O Tinder acabou virando um cardápio humano, onde você curte o físico da pessoa”, conta a estudante de 21 anos Deborah Evaristo dos Reis. É necessário muito cuidado para não se decepcionar. As informações no perfil são as únicas formas de “conhecer” a pessoa e, através de fotos o interesse é exposto. Nem tudo o que está na internet é verdadeiro, o contato pessoal ainda é a forma de conhecer alguém.

VOCÊ SABIA? • O Tinder foi criado no final de 2012 pelos americanos Sean Rad e Justin Mateen. • O software chegou ao Brasil em agosto de 2013. • San Rad, um dos criadores do aplicativo, conheceu a sua atual namorada através do programa. • Cerca de 20 mil usuários brasileiros se conectam no Tinder diariamente, segundo a pesquisa da Forbes, revista de economia americana.

Arquivo pessoal

Presente de um bom velhinho

Fabíola e Érico se conheceram no Tinder em dezembro de 2013 e estão casados desde março deste ano

Um ponto fora da curva. É assim que pode ser caracterizado o casal Fabíola Cottet Rodrigues, 26 anos, e Érico de Oliveira Rodrigues, dez anos mais velho. Eles fazem parte do seleto grupo de pessoas que se conheceram através do Tinder e mantêm um relacionamento sério. Mais do que isso, são casados, e toparam contar sua experiência à Campus Magazine. Ambos estavam descontentes com o sexo oposto, e buscavam, mesmo sem esperanças, que o aplicativo pudesse proporcionar alguma experiência nova. Foi então que bateu a

combinação, na proximidade do Natal, e no curto espaço de uma semana saíram três vezes, tamanha a surpresa positiva. “Me surpreendi demais, ele era um genuíno cavalheiro. Gentil, educado, bonito, elegante, inteligente, daqueles caras que abrem a porta do carro pra você, e não existem mais por aí”, conta Fabíola. Para driblar a rotina e horários distintos, eles apostam na confiança e em viagens juntos. Já conheceram toda a rota turística do Rio Grande do Sul, a Argentina, e a segunda lua-de-mel está programada para a Califórnia. Campus Magazine 2014 • 45


Nutrição

Estudos e boa alimentação como conciliar?

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Nutrição

Aprenda a organizar sua rotina e saber quais alimentos podem ajudar nas atividades intelectuais Brayane Camargo e Natália Lemos

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m cada fase da vida, cada um de nós precisa de alimentos ricos em nutrientes para suprir as necessidades energéticas do organismo e conservar a saúde. Na fase acadêmica, onde muitos jovens mudam de cidade, modificam seus hábitos e sua rotina, consequentemente a alimentação também muda. Entrevistamos uma nutricionista para falar sobre a alimentação irregular por parte dos jovens universitários e como eles podem conciliar estudos e hábitos alimentarem saudáveis. Beatriz Matos, formada em nutrição, conta que a má alimentação acaba interferindo nos estudos, porque a maioria dos jovens acaba ingerindo alimentos que não possuem vitaminas minerais e nutrientes que o corpo precisa. Além disso, a alimentação errada causa também fraqueza e preguiça, ou seja, ter uma alimentação errada acaba prejudicando as atividades intelectuais. A nutricionista ainda acrescenta que é muito comum os jovens, ao ingressarem na vida universitária, ganharem peso, pois o estudo muda o estilo de vida. “Atualmente, é possível conciliar estudos com boa alimentação. Hoje em dia está na moda as pessoas levarem seus próprios lanches de casa, como pães e biscoitos integrais, frutas e sucos para consumir nos locais”. Acrescenta ainda que, se todas as pessoas se tornarem dependentes de lanchonetes universitárias, fica complicado, já que não é sempre que encontramos sucos e lanches naturais nas vitrines dessas lan-

chonetes e o custo é ainda maior. Os estudantes que passam a noite estudando acabam ingerindo alimentos errados, como bolachas e doces, quando eles deveriam focar nos alimentos ricos em vitamina C para estimular as atividades intelectuais. Além de não possuírem muito tempo para praticar atividades físicas, o que inclui também a falta de tempo para organizar uma alimentação correta. Existe uma busca constante pelos jovens que moram sozinhos ou em republicas, por alimentos práticos e fáceis de fazer. O que eles não se lembram é que apenas futuramente eles vão presenciar as consequências que esses alimentos acarretam a saúde deles. Em relação aos fast foods , Beatriz diz que é muito triste ver o quanto eles têm crescido e esse aumento se deve principalmente à população que está na universidade, ou seja, a população jovem. Acrescenta ainda que como nutricionista não recomenda aos seus pacientes que não consumam esses alimentos, apenas orienta para que seja selecionado um dia da semana para frequentar lanchonetes e fast foods, pois os alimentos produzidos nesses locais contêm uma quantidade exagerada de sódio e gorduras e se consumidos diariamente é prejudicial à saúde. É necessário ter força de vontade para se alimentar bem, pois não é fácil manter uma boa alimentação quando não se tem uma rotina organizada.

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Nutrição

DICA IMPORTANTE Os jovens que não possuem o habito de preparar seu próprio alimento podem trazer comidas congeladas da casa dos pais, pois o alimento, quando congelado, está preserva-

do, por isso, não perde seus nutrientes. Por esse motivo, pesquisamos receitas praticas e saudáveis para melhorar os hábitos alimentares dos jovens universitários.

Sanduíche natural Ingredientes 2 folhas de alface picado Milho a gosto 1 cenoura ralada bem fina 1 colher (sopa) de maionese light 1 pitada de sal 2 fatias de pão de forma integral

Doce Ingredientes: 3 bananas maduras 2 ovos 2 colheres (sopa) de aveia em flocos finos 2 colheres (sopa) de cacau em pó sem açúcar 2 colheres (sopa) de achocolatado sem açúcar 2 colheres (sopa) de adoçante culinário 1 colher (sopa) de fermento em pó 1 colher (sopa) de mel orgânico ou agave Modo de preparo: Fatie uma banana em rodelas e reserve. Coloque as outras duas bananas fatiadas no processador ou liquidificador, adicione os ovos e bata. Um a um, adicione os outros ingredientes, deixando o fermento por último.

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Distribua forminhas de papel para cupcake em uma forma de silicone para bolinhos e, em seguida, acrescente a massa, preenchendo até 2/3 da altura das forminhas. Adicione as rodelas de bananas no topo de cada cupcake e leve ao micro-ondas por três minutos. Retire os bolinhos e cubra com o mel orgânico. Sirva quente ou frio.

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Modo de preparo Pique a alface e coloque num recipiente, juntamente com a cenoura ralada fininha. Coloque o milho e depois uma pitada de sal. Acrescente a maionese e mexa bem. Use esse recheio para montar um sanduíche com o pão integral.


Jovens em busca de liberdade

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Universitários criam responsabilidades ao fazer graduação em outra cidade

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udar de cidade para estudar ou trabalhar, sair do conforto da casa dos pais, onde se tem tudo à mão, e se jogar de braços abertos na vida universitária. É preciso ter muita coragem e força de vontade. Não é fácil e também não é pra qualquer um. Morar longe dos pais, sem toda aquela mordomia de roupas lavadas e passadas, e também sem comida pronta no horário. Ser independente, trabalhar para pagar suas próprias contas e ainda ser um bom aluno na graduação. Isso é crescer, porém, ninguém disse que ia ser fácil. Muitos jovens ingressam nessa vida acadêmica tendo como objetivo criar responsabilidade e amadurecer, sem toda proteção dos pais. Outros saem porque não aguentam mais o “supercontrole” que tem em casa.

Isso faz com que o comportamento dos jovens longe dos pais seja diferente, o quedepende muito da criação e do meio que irão encontrar, como a psicóloga Gabriela Sampaio diz. “Filhos de pais controladores certamente sentirão tamanha liberdade que podem se exceder um pouco, pois se acostumaram a viver com controle. Já os filhos de pais que tenham um relacionamento de diálogo, não sentirão tanta diferença”, explica. A busca por uma formação acadêmica e as chances de um futuro melhor é o que motiva o jovem a vencer o desafio. Um exemplo disso é o aluno do curso de letras da Universidade Sagrado Coração Rodrigo Jacomin. O universitário mora em Bauru há um ano e oito meses, e revela que, a experiência de morar sozinho é fantástica. Campus Magazine 2014 • 49


Para Rodrigo, morar longe da família sozinha, pois, tudo sai do seu bolso, água, tem seus prós e contras. Ele conta que é diluz e aluguel. fícil sem os pais por perto, que auxiliam nas Pelas contas estarem muito pesadas, Thais diversas tarefas do cotidiano, mas diz que resolveu dividir apartamento, o que no coencarou a vida universitária com muita começo não foi nada fácil, pois é filha única e ragem e vontade. mesmo que muitas coisas não estava acostumada a conviver com mais tenham mudado. “As regalias se tornaram pessoas, a dividir, emprestar e ajudar. Com extintas, roupa lavada e passada, então, o tempo, aprendeu a conviver com tudo isso nunca mais”, explica. e agora diz que sua relação com as meninas Rodrigo entende que se continuasse é muito tranquila. em sua cidade, talvez não teria aprendido a ter as responsabilidades necessárias para o seu amadurecimento. Hoje é responsável pelo seu aluguel, paga suas próprias contas e também tem cuida de si mesmo. Ele afirma que pretende voltar a morar em sua cidade natal depois de formado. Diferente de Rodrigo, a estudante de Recursos Humanos do Instituto de Ensino Superior de Bauru (IESB) Thais Mendes já conhecia a cidade antes de ir estudar. Ela trabalhava há seis meses em Bauru e optou por mudar para cá porque viu que seria a melhor solução. Mas, morar longe dos pais, tem suas dificuldades. E Após ingressar na faculdade o aluno deve se para a estudante, a primeira foi pagardedicar tudo aos estudos, isso trará um futuro melhor.

Por outro lado Morar longe dos pais pode tem um impacto muito positivo. O jovem cresce, amadurece, cria responsabilidade, trabalha, estuda, tem liberdade para fazer o que quer e não deve satisfação a ninguém. Ele tem um crescimento pessoal com o aumento de relações interpessoais, aprende a cuidar de si e se relacionar com pessoas diferentes. Essa vida escolhida pelo universitário faz com que se relacione com diversas pessoas, em uma cidade até então desconhecida. E proporciona, principalmente, aprendizado,

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conhecimento e amadurecimento. sempre uma coisa com cada pessoa nova e, assim, aumenta o seu nível de conhecimento pessoal. E o essencial é sempre crescer e amadurecer para quando as dificuldades que a vida impõe surgirem, esteja preparado para enfrentá-las. E apesar de toda a falta dos pais no dia-a-dia, em todos os sentidos, seja na falta da comodidade de viver com eles ou da falta de carinho e segurança, é um aprendizado enriquecedor morar numa cidade nova e com gente nova, aprendizado esse levado para toda vida.

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Comportamento / Jovens


Mulher

Feminilidade: a busca pelo autoconhecimento Lutar pelos direitos sim, mas não deixar de lado a feminilidade, o prazer de viver Thais Gonçalves

sendo essa, uma das partes. Ela precisa A mulher do século XXI não é mais reivindicar isso sem desprezar a sua energia uma simples esposa e mãe. Hoje feminina. Temos gratidão ao feminismo, mas trabalha, estuda, cuida dos filhos e não podemos perder a nossa feminilidade. da casa. Mas será que ela sabe dar a devida Que é o poder da nossa sexualidade, o poder importância a si mesma? Lourdes Pedretti de gestar, gerar, nutrir, criar e ter prazer de Suguimoto é fonoaudióloga, buscadora de vida”, ressalta. diversos caminhos espirituais, e aprofunO que fazer para viver plenamente a femida-se na mulher. “O feminino tinha algo nilidade? “Para assumir a sua feminilidade diferente, não melhor que o masculino, você tem que ser uma artista. É uma arte. mas algo de muito especial. O sagrado Cada mulher é um universo, luz e sombra. feminino é um conheciEla é o resultado de tudo o que mento milenar, onde tudo aconteceu desde antes de ser era espiritual”, explica. concebida, carrega sua linhaA filosofia do Sagrado gem feminina. É necessário Feminino traz um desbuscar autoconhecimento per tar para uma nova para extrair sua essência inconsciência para a mudividual. Isso também pode lher, pode ser interpretado ser encontrado em diversos como a saída da supremasegmentos da ciência, arte e cia patriarcal - repressora espiritualidade. Na arte da e cheia de regras - para feminilidade, o autoconhea entrada em um mundo cimento é feito através das mais maternal, afetivo, deusas que estão em toda Lourdes Pedretti Suguimoto, artístico e sensível. Isso fonoaudióloga e experiente mulher”, explica. é energia feminina, criar, no universo feminino A mulher que não cultiva gestar, não só um ser husua beleza interior através do mano, gestar ideias e projetos. A energia autoconhecimento constante, e não entende feminina é uma força, um poder. E ela pode seus ciclos de vida, se perde quando chega ser aperfeiçoada constantemente, o potencial à velhice. Quando a beleza da mulher se de amor, de afeto, o lidar com as pessoas com expressa na sabedoria, ela colhe tudo o que amor. Resgatando isso, a mulher será mais plantou, o conhecimento vivo sobre si mesinteira, segundo Suguimoto. ma e sobre a vida. Suguimoto indica à muMas e o feminismo? “O movimento lher que ela não carregue culpas, viva com feminista foi muito importante para romper prazer, cultive boas emoções e pensamentos, com esse domínio do sistema patriarcal, mas invista no autoconhecimento e busque desa conquista que elas tiveram foi de recuperapertar o potencial do Poder Feminino que ção da sua atuação no sistema mercantilista, há dentro de si. Thais Gonçalves

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Mulher

O desafio da igualdade Barbara Gatti e Ana Ruiz

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ovimentos como o feminismo que tem origem no ano de 1848, na convenção dos direitos da mulher em Nova Iorque, reivindicou - por ocasião das grandes revoluções, como a Revolução Francesa, que tinha como lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade - que os direitos sociais e políticos adquiridos a partir das revoluções deveriam se estender a elas enquanto cidadãs. A busca pelo direito ao voto pelas sufragistas foi uma das primeiras lutas do feminismo. O movimento sufragista começou em 1897, com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino pela educadora britânica Millicent Fawcett (1847-1929). No Reino Unido, o voto feminino foi aprovado em 1918. No Brasil, o voto feminino foi assegurado no dia 24 de fevereiro de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas. Após intensa campanha nacional, as mulheres conquistavam o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo. Nos anos 60, a publicação do livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, viria inf luenciar ainda mais os movimentos feministas ao mostrar que a hierarquização dos sexos é uma construção social e não uma questão biológica. Outro episódio, a emblemática queima de sutiãs, em 1968, protestou contra os padrões vigentes de beleza e a situação de opressão vivida pelas mulheres na época. A partir desse episódio, muitas mulheres que trabalhavam em situações precárias em indústrias se uniram para lutar por seus direitos. Esse

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dia ficou conhecido como o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. O Professor de Psicologia da UNESP de Bauru, Ari Maia, explica que, após o surgimento da pílula, na década de 1960, e também com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, houve uma mudança significativa na liberdade das mulheres. Emma Watson, atriz da série cinematográfica Harry Potter é embaixadora da ONU em favor dos direitos femininos e, em um discurso dado no dia 27 de setembro de 2014, pediu para que os homens também se engajem nessa causa. O discurso da atriz, famosa pela série, obteve repercussão mundial. O professor de Filosofia da USC, Jackson Valentim Bastos, acredita que, se os homens apoiarem a luta pela igualdade, eles também sairão beneficiados, pois os homens podem ser vítimas do “papel social” que lhes é imposto. “Quanto mais os homens experimentam a sua própria liberdade social, mais eles se tornam conscientes dos papeis que podem ser compartilhados”, avalia. Pa ra Jack son, o apoio ma sc u l i no ao feminismo torna-se benéfico não só para o indivíduo homem e mulher, mas, sim, para a família e a estrutura social. Sobre o fato de alguns homens sentirem-se ameaçados pela mulher do século XXI, o professor acredita que não é um medo real. “É confortável para os homens perceberem que as mulheres passam a exercer certos papéis que antes eram esperados apenas deles, pois assim eles podem dar mais atenção à construção da sua própria identidade”, avalia.


Retranca

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Reflexões pós-Copa Resultado frente à Alemanha levanta discussões sobre a reestruturação do futebol brasileiro

“O vexame no Mineirão ajudou para que discussões antigas do futebol brasileiro voltassem à tona.”

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Esporte

Will Araújo, Renato Sônego e Luis Felipe Carrion

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s olhos do mundo estavam voltados para o Brasil, uma nação apaixonada pelo futebol. Começou no dia 12 de junho o maior evento esportivo do planeta. A imprensa mundial destacou que o país foi um excelente anfitrião e todos esperavam que a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari levantasse a taça do hexa. No decorrer da disputa, a opinião de seleção favorita começou a mudar. Atuações que não agradaram, como o empate com o México e uma classificação nos pênaltis contra o sempre freguês Chile. O golpe final veio com a dolorida goleada que sofreu frente à Alemanha na semifinal. Um 7 x 1 que chocou torcida e imprensa. Os torcedores que se prepararam em suas casas, nos comércios, no trabalho, para o grande espetáculo, dizem que não queriam que o Brasil passasse vergonha em uma derrota sem reação. O funcionário público formado em Direito, Bruno Henrique Carneiro Bueno, considera-se um torcedor apaixonado pelo futebol. “A falha foi achar que era invencível por jogar dentro do próprio país e a comissão técnica não mexer no time no momento em que alguns jogadores não estavam rendendo o esperado. Além da falta de humildade”, comenta Bruno. O vexame no Mineirão ajudou para que discussões antigas do futebol brasileiro voltassem à tona. Os problemas de uma seleção não se resumem a falta de qualidade dos jogadores disponíveis. É preciso olhar para as questões do esporte dentro do nosso próprio país, como o futebol de base e o calendário de jogos. André Henning, narrador do canal Esporte Interativo, opina sobre o que precisa mudar no futebol brasileiro: “precisa haver um consenso nacional sobre qual seria nossa forma de jogo nas categorias de base. Unificá-la e fortalecê-la com um pensamento direcionado a melhorar nossa qualidade. A adequação ao calendário europeu seria uma boa, o desencontro entre o deles e o nosso provoca muitas diferenças nos estágios físicos dos jogadores e na programação dos clubes”, opina o locutor.

A administração dos clubes brasileiros foi outro assunto muito discutido após a Copa do Mundo. Muitos times estão endividados e tentando buscar meios para pagarem o que devem, apesar de continuarem gastando fortunas com salários para técnicos e jogadores vindos do exterior. Contudo, não são somente os grandes clubes do país que precisam ter uma boa administração. As equipes do interior também precisam cuidar bem de seus clubes. É o que vem tentando fazer Sidnei Maluza, presidente da Associação Esportiva Santacruzense, clube de futebol da cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo. “Em relação a grandes dívidas, a Santacruzense ate deve pouco e estamos trabalhando para o clube trabalhar com as finanças em dia. Buscamos fazer parcerias com clubes, campanhas de sócio torcedor, sermos transparentes na administração, entre outras campanhas pontuais como licenciamento de marca e vendas de camisas”, afirma o presidente do clube que, em 2014, disputou a Copa Paulista de Futebol.

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Expediente UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO Profª Drª Irmã Susana de Jesus Fadel Reitora Profª Drª Irmã Ilda Basso Vice-Reitora e Pró-Reitora Acadêmica Profª Mª Daniela Luchesi Diretora do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas Profª Mª Daniela Pereira Bochembuzo Coordenadora do Curso de Jornalismo CAMPUS MAGAZINE Publicação da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II (Revista) com o apoio das disciplinas Design Gráfico para Jornalismo e Fotojornalismo, do Curso de Jornalismo da USC. Editora de conteúdo e fotografia, professora e jornalista responsável: Profª Mª Érica Cristina de Souza Franzon (MTB 39.590) Editor de Arte e professor de design gráfico: Prof. Me. Renato Valderramas Editor assistente de Arte: aluno Thiago Colaboração: Prof. Ma. Daniela Pereira Bochembuzo Tiragem: 1.200 exemplares. Edição 1 / Ano 3: Dezembro de 2014. Endereço para correspondência: USC/Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas. Curso de Jornalismo. Rua Irmã Arminda, 10-50, Jardim Brasil, Bauru – SP. CEP 17011-170. Telefone: (14) 2107-7255. E-mail: jornalismo@usc.br.

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Campus Magazine: revista-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade do Sagrado Coração / Universidade do Sagrado Coração – Ano 4, n. 1 (2014). – Bauru, 2014. 56p.: il. ; 15,0 x 23,0 cm Anual Texto em português ISSN 2317-3041 1. Ensino Superior. 2. Comunidade Universitária. 3. Jornalismo. I. Universidade do Sagrado Coração. CDD 378.05 Elaborado por Biblioteca Central “Cor Jesu”

EQUIPE DE REDAÇÃO Texto e fotografia: alunos da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II (Revista) – Adham Fillipe Marin, Ana Beatriz Dainezi, Ana Beatriz Garcia Santos, Ana Carolina Castilho Pereira, Ana Livia Rodrigues Ruiz, Ana Silvia Dorador de Souza, Andre Luiz de Carvalho Alves da Silva, Andre Nascimento Donati, Barbara Wentz Gatti, Brayane Camargo, Carolina da Silva Guidio Cachoni, Débora Maroneze, Evelin Dos Santos Nunes, Guilherme Muller Cardoso, Gustavo Diccine Silva, Heloisa Paulucci Casonato, Isabella Christina Silva de Lima, Isabella de Castro Matheus, Jair Domingues de Almeida Junior, João Pedro Libório Godoy, João Vitor Silva Cordeiro, Juliana Pereira Pinheiro, Karina Dias Alonso, Leticia Albuquerque Monteiro Aguiar, Luana Holanda Correia Lima, Lucas Murari Cabrero, Luis Felipe Zago Carrion, Luis Roberto Machado de Araújo, Marcela Aparecida Rodrigues Gambini, Mariana Ribeiro Camargo, Mayara Crepaldi Chaves, Milene Aparecida Felicio Dias, Natália Lemos Lima, Nayara Assis Fabiano, Paulo Henrique Macarini Domingues, Pedro Henrique Sacardo, Renan da Silva Watanabe, Renato Francisco Sonego, Samantha Ciuffa Jacyntho, Suelen de Almeida, Thais Paiva Gonçalves, Tiago Renan Pelegati Migliani, Vitor Reghine Manfio, Watana Martins de Melo. Projeto gráfico e diagramação: alunos da disciplina Design Gráfico para Jornalismo – Angélica Regina Martins de Souza, Bruno Luiz Dorna Gomes, Ednan Gomes de Souza, Felippe Gabriel Catellan Juares, Flavia Alexandre Stopa, Flávia Eloisa Izidoro, Gabriel de Oliveira Fatori, Gabriel Müller Rueda, Guilherme Lima de Souza, Guilherme Prudente Soares, Jéssica Caroline de Oliveira Pirazza, Loyce Gabrielle Policastro Barros, Maicon Simoes de Oliveira, Mariana Costa Candido, Mariana Fernanda Dellasta Orlandi, Mayara Caroline Martins Gândara, Mirella Lopes de Santana, Monique Glaucia Claro de Lima, Renata Alves Ribeiro, Talessa Siqueira da Silva, Thiago Thadeu Dias Paluan, Vitória Palmejani Augusto, Amanda Fazzio Sanches, Ana Beatriz Grandini Casali da Silva, Ariane Frassato Generozo, Bruna Marangon Dos Santos, Denis Eric de Jesus, Gabriel Lima Pinto Marques de Castro, Guilherme Fenelon Santos Dorini, Inaiá Brandão Mello, Jacqueline Scarabelo, João Rafael Panchoni Venâncio, Juliana Costa Neves, Letícia Peña Azevedo, Luiz Augusto Salles Campbell Ramos, Mariana Berro Pompeia Fraga, Marina Godoy Barrios, Matheus Henrique Rodrigues Paiva, Mayrilaine Garcia Batista, Nathalia da Costa Piccoli, Roberto Jacintho Valin Filho, Ronaldo Aparecido Carvalho de Oliveira, Tainá Vétere de Brito, Thayná Fogaça, Tiago Samuel de Moraes, Valquíria de Cássia Tavares.


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