A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DAS AULAS COMO ESTRATÉGIA PARA A CONCRETIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM

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A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DAS AULAS COMO ESTRATÉGIA PARA A CONCRETIZAÇÃO DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NO AMBIENTE ESCOLAR NO ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

Janete Maria Scopel1 Roseli Fornaza2 Sandro George Luciano Prass3 Uiara Bonatto4

Em toda a história da humanidade é possível perceber que o planejar sempre fez parte da realidade humana. O homem quase sempre pensou as suas ações, utilizou a razão na tomada de decisões que lhe fossem mais favoráveis ou ao seu grupo social. O ato de imaginar, pensar, não deixa de ser uma forma de planejamento. “O planejar é uma realidade que acompanhou a trajetória histórica da humanidade. O homem sempre sonhou, pensou e imaginou algo na sua vida.” (Mengolla, San’tAnna, 2001, p.15). O planejamento é percebido em nosso dia-a-dia, desde o momento que as pessoas levantam de manhã ao fazerem uso de um despertador para não perderem um compromisso ou realizarem coisas. Como não se tem certeza do que realmente irá acontecer no passar dessas vinte e quatro horas, a pessoa obriga-se a pesar, prever, imaginar e tomar decisões, contudo, ela sempre espera tomar as decisões mais acertadas, para que sua ação alcance os objetivos esperados; mesmo não tendo consciência de que está realizando um planejamento, esta pessoa está fazendo o uso do ato de planejar.

___________________________________________________________________________ 1. Graduada em Ciências Biológicas, aluna do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade de Caxias do Sul. 2. Graduada em Ciências da Computação, aluna do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade de Caxias do Sul. 3. Graduado em Física e em Matemática, aluno do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade de Caxias do Sul. 4. Graduada em Ciências Biológicas, com Especialização em Psicopedagogia, aluna do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade de Caxias do Sul.


No ambiente empresarial, esportivo ou educacional não é diferente, as ações deveriam ser sempre planejadas para que os objetivos fossem alcançados. Mas, segundo Moretto, percebe-se que o planejamento é fundamental na vida do homem, porém no contexto escolar ele não tem tanta importância assim: (2007, p.100) “o planejamento no contexto escolar não parece ter a importância que deveria ter”. Moretto aponta existir dificuldades por parte dos professores para a construção de um planejamento das aulas, por falta de estrutura curricular, escolar ou de conhecimento por parte do professor. Para Moretto (2007), planejar é organizar ações. Essa é uma definição simples mas que mostra uma dimensão da importância do ato de planejar, uma vez que o planejamento deve existir para facilitar o trabalho tanto do professor como do aluno. O planejamento deve ser uma organização das ideias e informações. Segundo Libâneo (1994, p. 222) o planejamento tem grande importância por tratar-se de: “Um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”. No momento em que o professor elabora o seu planejamento, algumas características precisam ser lembradas, para que ele possa desenvolver um bom plano de ensino. Segundo Ricardo Nervi (1967, p. 56) estas são as características essenciais do bom plano de ensino. COERÊNCIA: as atividades planejadas devem manter perfeita coesão entre si de modo que não se dispersem em distintas direções, de sua unidade e correlação dependerá o alcance dos objetivos propostos. SEQUÊNCIA: deve existir uma linha ininterrupta que integre gradualmente as distintas atividades desde a primeira até a última de modo que nada fique jogado ao acaso. FLEXIBILIDADE: é outro pré-requisito importante que permite a inserção sobre a marcha de temas ocasionais, subtemas não previstos e questões que enriqueçam os conteúdos por desenvolver, bem como permitir alteração, de acordo com as necessidades ou interesses dos alunos. PRECISÃO E OBJETIVIDADE: os enunciados devem ser claros, precisos, objetivos e sintaticamente impecáveis. As indicações não podem ser objetos de dupla interpretação, as sugestões devem ser inequívocas.

Neste contexto é que trazemos a pauta através deste artigo alguns elementos que indispensáveis para o planejamento de uma aula que seja uma experiência de aprendizagem ativa e significativa no ensino de ciências e matemática.

(I) Observar os conhecimentos prévios dos alunos


Qualquer atividade a ser desenvolvida em uma unidade de ensino deve utilizar como ponto de partida o que o aluno traz consigo sobre o assunto que será desenvolvido. Iniciativa esta, provavelmente, a mais importante da teoria de Ausubel e suas possíveis implicações para o ensino e a aprendizagem, pois, “Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria o seguinte: o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Averigue isso e ensine-o de acordo.” (AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; e HANESIAN, H., 1980). Oportunizar ao aluno dizer o que eles sabem sobre um determinado assunto constitui uma oportunidade de faze-lo participar da aula e sentir-se ativo no processo. Para Gasparin (2002), cabe ao professor dar a devida importância para esse conhecimento dos alunos, leva-lo em consideração nas suas aulas, o que resulta numa prática que possibilita numa melhor relação do docente com o aluno e com o conhecimento.

(II) A resolução das atividades em equipe

Segundo Perrenoud (2000), no momento da resolução de problemas em grupos de alunos, percebe-se elementos da aprendizagem ativa na intensão de uma aprendizagem significativa, pois o confronto de pontos de vista estimula uma atividade metacognitiva da qual todos extraem um benefício de aprendizagem importante. A teoria do desenvolvimento intelectual de Vygotsky(2002), sustenta que todo conhecimento é construído socialmente, no âmbito das relações humanas. Essa teoria tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio- tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada, histórico-social. O conhecimento que permite o desenvolvimento mental se dá na relação com os outros. Nessa perspectiva o professor constrói sua formação, fortalece e enriquece seu aprendizado. Por isso é importante ver a pessoa do professor e valorizar o saber de sua experiência. Para o português Nóvoa (1997, p.26): “A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando.” O trabalho em equipe e o trabalho interdisciplinar se revelam importantes. Quando as decisões são tomadas em conjunto, desfavorece, de certa forma, a resistência às mudanças e todos passam a ser responsáveis pelo o sucesso da aprendizagem.


(III) A Experimentação

No planejamento de uma unidade de ensino, a experimentação encontra um espaço privilegiado, pois segundo Hodson (1994), o único modo eficaz de aprender a fazer ciência é praticando a ciência de maneira crítica, pois fazer ou desenvolver uma determinada tarefa não quer dizer “aprender”. É fundamental “fazer” e tomar consciência do que se faz para “aprender” procedimentos e saber utiliza-los, como pressuposto básico para uma maior autonomia por parte dos estudantes. O aluno aprende mais quando tem a prática associada a teoria, conforme Gadotti (1982), a educação é antes de mais nada, ação, práxis, decisão. Assim, falar “sobre” a educação sem esse pressuposto é trair a própria natureza da educação. Ideia defendida também por Axt (1991), pois o emprego da experimentação é uma ferramenta fundamental no ensino de ciências, embora pouco frequentes no ambiente escolar.

(IV) Apresentações ao grupo

Uma ferramenta potencialmente significativa no planejamento de uma aula é incentivar a participação dos alunos através da explanação das suas ideias, dos seus conhecimentos acerca de um assunto, a sua compreensão sobre o que está sendo estudado na medida em que os conteúdos está evoluindo ou no fim de uma atividade. A melhor forma de se verificar se a aprendizagem está ocorrendo é através da conversa, do debate propriamente dito. De acordo com Ausubel (1980), o uso de vocábulos para expressar ideias facilita o processo de transformar essas ideias em novos discernimentos, promovendo assim a compreensão, pois através da verbalização as ideias tornam-se mais claras e precisas. Ao dar-se a oportunidade para que os alunos participem da aula, questionando, refletindo e sugerindo soluções para as situações que vão se apresentando, estabelecendo conexões entre as atividades em questão e os conhecimentos conceituais correlacionados, concretiza-se o que se poderia chamar de aprendizagem significativa (Hodson, 1994; Ausubel, 1980; Anastasiou, 2006; Masetto, 2003).

(V) Avaliação


No planejamento de uma unidade de ensino deve-se deixar claro aos alunos como este será avaliado, quais os critérios e através de que instrumentos. É fundamental que a avaliação seja contínua e diversificada. “Na verdade, a avaliação acompanha todo o processo de aprendizagem e não só um momento privilegiado (o de prova ou teste), pois é um instrumento de feedback contínuo para o educando e para todos os participantes. Nesse sentido, fala da consecução ou não dos objetivos da aprendizagem. (...) O processo

de

avaliação

se

coloca

como

uma

situação

frequentemente carregada de ameaça, pressão ou terror.” (MASETTO, 1997, p. 98 in Macetto, Costa, Barros, 2008, p. 4)

Bibliografia

ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Univille, 2006. HODSON, D. Hacia un enfoque más crítico Del trabajo de lalaboratorio. Enseñanza de las Ciências, v. 12, n 3, p. 299-313, 1994. MASETTO, Marcos Tarciso. Didática: a aula como centro. FTD, 2003. LIBÂNEO, José Carlos, Didática. São Paulo. Editora Cortez. 1994. MENEGOLLA, Maximiliano. SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que planejar? Como planejar? 10ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

AXT, Rolando. O papel da experimentação no ensino de Ciências. Porto Alegre: Sagra: 1991 (p. 79 e 82).


AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; e HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro, Interamericana, 1980. GADOTTI, Moacir. A Educação contra a Educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. GASPARIN, J. L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

HODSON, D. Hacia un enfoque más crítico Del trabajo de lalaboratorio. Enseñanza de las Ciencias, v. 12, n 3, p. 299-313, 1994.

PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

NERVI, J. Ricardo. Introducción. Prólogo. In: PESTALOZZI, Johann H. Como Gertrudis enseña a sus hijos. Buenos Aires: Centro Editor de America Latina, 1967, p. 56.

NÓVOA, Antônio. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997. VYGOTSKY, L. S. Formação social da Mente. Trad. J.C. Neto, L.S. Barreto, S.c.Afeche, 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. MASETTO, Marcos Tarcísio. Didática: a aula como centro. 4. ed. São Paulo: FTD, 1997.


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