Dossiê CSI - Monet

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Dossiê Csi

reuniMoS todAS AS evidênciAS pArA entender A fórMuLA de SuceSSo dA frAnquiA csi, que MeSMo depoiS de 13 AnoS continuA fAzendo SuceSSo entre oS fãS

Foto: shutterstock

por Sarah Mund, de Los Angeles, e Barbara Bigarelli

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C

como explicar que, após 13

anos, mais de 700 episódios, inúmeros diretores e mais de 800 atores, CSI continue sendo uma das principais atrações da Tv? a resposta não é simples e para tentar entender o sucesso da franquia, que conta com três séries distintas, conversamos não só com os atores mas também com uma das mentes por trás dos roteiros e da produção. elizabeth Devine, ou liz, como prefere ser chamada, le­ vou a sua experiência como perita criminal para a televi­ são ao se tornar consultora técnica logo no início da pro­ dução. Gostou tanto do sangue cenográfico que mudou de carreira sem abandonar sua verdadeira vocação: a de desvendar crimes. “eu ajudava com a parte científica dos roteiros e do cenário, mostrando aos atores como fazer o quê. Depois disso, pedi para me tornar uma roteirista. o que eu trouxe para a série são experiências que ajudam cSi i ePIsóDIos INéDItos a deixar o show mais próximo A PArtIr Do DIA 18, seGuNDA, da realidade”, explica liz. 21h, soNY, 49 e 549 (hD) cSi: nY i seGuNDA A seXtA, o seu papel é essencial, já 19h, AXN, 34 e 534 (hD) que parte do sucesso de CSI foi cSi: MiAMi i seGuNDA A o de pela primeira vez focar seXtA, 17h, AXN, 34 e 534 (hD) não só na rotina dos detetives, mas de apresentar o traba­ lho dos peritos envolvidos em uma investigação forense. “existiam séries policiais antes de CSI, mas eram todas so­ bre o trabalho dos detetives. até mostravam as evidências, mas ninguém sabia de onde elas tinham surgido. o que anthony e. Zuiker [criador da franquia] buscou foi que as evidências contassem a história. então, a investigação se­ gue os fatos e não o que as pessoas dizem”, explicou.

a série e a cidade

O que Las Vegas imprime à produção original da franquia cassinos

A mistura de ricos poderosos, pobres esperançosos, bebidas, jogatinas e strippers chega no limite entre diversão e tragédia. Não é à toa que a cidade tem um dos maiores índices de criminalidade dos estados unidos.

bizarrices

Numa cidade que se desenvolveu em função do entretenimento, é de se esperar que coisas estranhas aconteçam. exemplos inusitados vão desde um papagaio culpado (ep. 11, temp. 9) a uma vítima que morreu por acreditar que podia voltar à infância bebendo leite com LsD e dormindo em um berçário gigante (ep. 5, temp. 15).

deserto

Quer ver um bandido pensar que sairá ileso? coloque à disposição intermináveis quilômetros de terra árida e vazia pela frente para esconder vítimas e evidências. Prova disso é que nem mesmo os csIs saíram ilesos do deserto de Nevada.

“existiam séries policiais antes de csi, mas eram todas sobre o trabalho dos detetives. Até mostravam as evidências, mas ninguém sabia de onde elas tinham surgido”, diz Liz devine, produtora e roteirista

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WHo are YoU?

Embalado pela música-tema, descubra qual personagem de CSI, versão Las Vegas, disse cada uma das frases abaixo:

1

“persigo algo que não interessa ao Gil Grissom: um palpite”

2

“Leis não deixam de valer porque se está em vegas”

3

“É estranho, mas todo caso nos ensina algo sobre o seguinte”

4

“os bandidos ganharão mais sem você aqui. quem é o Watson sem o Sherlock?”

5

“quando quer a prova, não acha. quando não se quer, ela é enorme”

A Gil Grissom (William Petersen)

B

Warrick brown (Gary Dourdan)

mas não bastava mostrar somente o modo de trabalho desses profis­ sionais, mesmo porque na vida real a resolução de um caso pode levar anos – e, no fim das contas, ninguém quer sentar em frente à Tv após um dia de trabalho e não ver a justiça ser feita. a solução encontrada foi explorar a curiosidade do público com tramas cheias de surpresas e reviravoltas, além de uma equipe dinâmica capaz de resolver os mis­ térios em questão de 45 minutos. “apresentamos um enigma tão ho­ nesto quanto possível, considerando o tempo que temos para contar a história. as coisas têm sido assim por 13 anos e acho que é isso que torna CSI um sucesso”, acredita o “novato” Ted Danson, intérprete de russell, chefe da equipe de las vegas que já teve como líderes Grissom (William petersen) e ray (laurence fishburne). No fundo, as pessoas não ligam que a televisão não acompanhe o ritmo da vida real, já que o que todo mundo quer mesmo é exercitar o detetive amador que existe dentro de si. “o telespectador adora tentar solucionar

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catherine Willows (Marg helgenberger)

d

Jim brass (Paul Guilfoyle) resPostAs: 1-D; 2-B; 3-A; 4-e; 5-c

entre areia e roletas – No alto à esquerda, o carro onde Sara (Jorja Fox) foi deixada no deserto após ser sequestrada; na sequência, em sentido horário, o astro teen Justin Bieber em participação especial na série; Sara e Catherine (Marg Helgenberger) em cassino; e Ray Langston (Laurence Fishburne) coleta evidências em um local pra lá de inusitado: os dentes de um dinossauro de museu

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david Hodges (Wallace Langham)

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por dentro do laboratório Claro que nem tudo acontece ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Mas com uma licença poética do mundo da perícia criminal, reunimos aqui os personagens principais de CSI fazendo o que mais gostam: investigando ilustração Sattu

LUMinoL

A luz forense prova que há sempre algo além da superfície. Aqui, quem a utiliza é o eloquente legista Dr. Robbins, que mostra a Langston hematomas recentes na face do morto, o que acrescenta novos indícios e suspeitos antes descartados (ep. 6, temp. 10).

reaGentes

Um comediante fanfarrão e que colocava a cocaína na cueca para ganhar coragem morre na frente do público durante stand-up provocativo. A investigação só se encaminha após Greg descobrir todos os componentes da água que a vítima bebeu e que (alguém) provocou o ataque cardíaco fatal (ep. 20, temp. 3).

softWares

O corpo embalado que boiava em um córrego já estava em decomposição avançada. Dos restos, o mais decente era um pedaço de tênis. Pois foi isso que Hodges submeteu aos muitos recursos e dados de softwares, descobrindo assim a data de fabricação e jogando luz na identificação da vítima e do culpado (ep. 9, temp. 9).

Microscópio

A investigação estava confusa até Catherine descobrir o motivo após análise minuciosa da amostra no microscópio. O assassino plantava ketchup e sêmens distintos na vítima. Mas ela também achou fibras de algodão, o que acabou finalmente direcionando as coisas (ep. 23, temp. 1).

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dica do céU

Um sensor que capta o calor de um corpo bípede e gera uma imagem na tela já ajudou a encontrar vítimas enterradas na imensidão silenciosa do deserto. A bordo do helicóptero, foi com essa ferramenta que Sara realizou um resgate crucial. O problema foi descobrir só depois que a vítima merecia mesmo era ter ficado debaixo da terra (ep. 3, temp. 1).

interroGatório

O interrogatório ganha força na voz do detetive Brass, que parece estar sempre pronto para ajudar a perícia ou ir até onde acabam as evidências. Nesse caso, ele se junta à equipe liderada por Russell, que só depois de muitas teorias, palpites e análise desvendam o assassinato de uma família inteira (ep. 2, temp. 12).

absorção

Durante investigação da morte de um estudante, Warrick utilizou uma técnica simples: no interior de um tubo de vidro ligado a uma bomba de ar ele inseriu um agente absorvente. Foi o suficiente para encontrar o cheiro que depois um software iria identificar como perfume feminino, revelando assim a verdadeira culpada (ep. 4, temp. 2).

aMpLiador

O assassino das miniaturas desafiou Grissom diversas vezes ao enviar uma maquete representativa do crime que seria praticado em breve. Foi analisando os detalhes minuciosos delas com lupas que o líder dos CSIs desvendou a mente assassina por trás de todas as crueldades (ep. 16, temp. 7).

iMpressões

O olhar atento de Nick enxergou muito além do que a morte à queima-roupa de Warrick. Desconfiado do vidro do carro em que o parceiro morreu, com a ajuda de um pincel de cerdas, ele obteve impressões digitais. O que acabou por provar que o vidro estava fechado e que Warrick só teria aberto se fosse para um conhecido (ep. 1, temp. 9).

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casos. É como parar para ver um acidente de trânsito: talvez faça parte de uma mórbida curiosidade humana de tentar juntar as peças”, opinou a atriz sela Ward, que vive a detetive Jo Danville em CSI: NY. e para não deixar nenhum fã com a pulga atrás da orelha, a maioria dos crimes é descoberta, investigada e resolvida em um úni­ co episódio. “parte do que torna o programa tão viciante é o seu andamento. as pessoas não precisam assistir a to­ dos os episódios para entender o contexto”, afirma eric szmanda, que vive o típico nerd de laboratório Greg. se por um lado não é necessário acompanhar constan­ temente a série para se entreter, o fã que o faz ganha além do prazer da investigação a oportunidade de se envolver com a história de cada personagem. elisabeth shue, que interpreta Julie finlay, a substituta recente de catherine Willows (marg Helgenberger), aponta essa característica. “em CSI, há o esforço de desenvolver ao máximo os per­ sonagens. Há a tentativa de manter os relacionamentos sempre em evolução, com o objetivo de manter a vivaci­ dade do show.” só assim mesmo para um ator se sentir estimulado a permanecer na produção por tantos anos, como szmanda, que interpreta Greg desde a primeira temporada. “É um desafio sempre ter novas ferramentas para trabalhar e novos membros no elenco com quem tra­ balhar. ainda gosto muito do que faço, me sinto desafiado e com vontade de ir além”, declara o ator. FiCÇÃo Vs. REALiDADE a tentativa de deixar a série mais realista muitas ve­ zes acaba atenuando a divisão entre o que é ou não real. obviamente, para liz essa proximidade é ainda maior, já que usa sua experiência de vida para escrever os roteiros. “uma coisa é escrever sobre os casos nos quais trabalhei e outra diferente é ver os atores vivenciando aquilo. esses

pega ladrão!

dexter (2006- )

Quais elementos outras séries criminais de sucesso “roubaram” de CSI

só mesmo depois de CSI para criarem um perito protagonista, charmoso, herói para alguns, e ao mesmo tempo com um lado misterioso. Quando há sangue espalhado na cidade de Miami, Dexter (Michael c. hall) é chamado para reconstituir os crimes que a sua delegacia investiga. é nesse cenário que também encontra suas vítimas – matando-as com a experiência de um perito a favor de sua mente assassina, ou seja, sem deixar evidências, rastros de DNA e quaisquer provas.

bones (2005- )

tudo parte do ponto de vista forense: desde a habilidade da antropóloga Brennan (emily Deschanel) de encontrar o assassino até sua relação com o agente Booth (David Boreanaz). Perito e detetive se unem em busca de respostas para a investigação. Mas, como o nome aponta, as evidências provêm dos ossos das vítimas. se CSI não tivesse colocado a prova científica em evidência provavelmente as piadas de Booth não teriam muita graça e nem Brennan seria tão autoconfiante.

ncis (2003- )

uma sigla em inglês que confunde quase todo mundo (até mesmo os americanos): o trabalho é praticamente o mesmo, só que envolvendo a marinha americana. A equipe de agentes especiais da NcIs (Naval criminal Investigative service) está situada em Washington, mas frequentemente viaja ao redor do mundo para solucionar casos envolvendo oficiais da marinha e seus parentes. Para isso, contam com talentos diferentes, como o do interrogador e líder Gibbs (Mark harmon).

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a série e a cidade

Nova York é ponto de encontro de diversas tribos. Naturalmente, um programa nela ambientado teria um ritmo próprio MetrópoLe

Alguns tipos de crime só poderiam mesmo acontecer em uma populosa cidade. As grandes aglomerações abrigam todo o tipo de loucos e radicais, e as numerosas ruas e avenidas só dificultam o trabalho policial.

terrorisMo

Não tem como falar da Big Apple sem lembrar dos ataques terroristas. como espelho do país, a cidade já foi alvo mais de uma vez. A série, por seu lado, prestou as devidas homenagens aos policiais e bombeiros que morreram como heróis no 11 de setembro.

Máfia

A cidade dos sonhos (para alguns) é também terreno fértil para os mafiosos. é na área reservada das cantinas italianas que muitos crimes são planejados. claro que os restaurantes russos, gregos e chineses também têm sua parcela de culpa.

pelas ruas de nY – No alto, em sentido horário, o atentado terrorista às Torres Gêmeas foi lembrado no aniversário de 10 anos, em 2011; os portos da cidade também são cenários de perseguições; Mac Taylor (Gary Sinise) em ação; Lindsay (Anna Belknap) recolhe evidências em uma cena de crime

Las veGas (2003-2008)

o clima é o de noitadas em cassinos da famosa cidade no meio do deserto. Mas, diferentemente das outras atrações, o trabalho de Mccoy (Josh Duhamel) e cannon (James Lesure) é feito de forma discreta, mantendo a polícia afastada e garantindo que tudo corra bem no Montecito casino & hotel. Além de ficar de olho em possíveis trapaceiros, eles são responsáveis por manter a privacidade dos famosos que frequentam o local e também a segurança daqueles que ganham uma bolada nas apostas.

episódios são muito emocionantes”, revelou. para os atores o envolvimento também pode ser intenso, como explicou Gary sinise, o mac Taylor de CSI: NY. “É um privilégio poder interpretar alguém dedicado ao serviço público policial e que perdeu a esposa no atentado de 11 de setembro às Torres Gê­ meas. me sinto capaz de homenagear tantas pessoas que conheço dedicadas à mesma causa”, ponderou. em compensação, o que afasta a trama da vida real é o tempo em que o trabalho técnico é realizado. por exemplo, uma busca simples em um banco de dados provavelmente não daria resultado imediato. Na verda­ de, o sistema costuma levar horas e até mesmo dias – além de ser ne­ cessária uma checagem posterior. afinal, estamos falando de máquinas. “É muito complicado. são várias etapas necessárias para chegar a um parecer. seria muito confuso para o público ver cada passo que leva a um resultado de DNa. essa parte não é real, pois temos que fazer tudo em um curto período de tempo”, explicou liz.

criMinaL Minds (2005- )

o único jeito de solucionar um caso é se apoiando no trabalho em equipe: na série, eles tentam evitar que criminosos tenham a chance de agir usando o conhecimento de crimes anteriores aliado à psicologia. claro que nem sempre essa unidade especializada em comportamento do FBI chega a tempo – de outra forma, não sobraria muito para mostrar ao longo da temporada, certo? Assim, boa parte do trabalho é ajudar em investigações baseadas nas características dos suspeitos e vítimas.

investiGação criMinaL (2012)

A série tenta suprir um desejo (mórbido) do espectador: mostrar o trabalho investigativo da polícia em casos de repercussão nacional. o trabalho forense – e real, nesse caso – é o protagonista, sendo divulgado através de entrevistas com delegados, peritos, legistas e com imagens secretas do inquérito. tudo isso disposto em um visual influenciado pelas faixas amarelas que CSI firmou no imaginário popular e montado em um clima de suspense que o telespectador espera, mesmo já sabendo o final.

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Mar e céu azuis – Em sentido horário, Calleigh (Emily Procter) fotografa evidências; Eric (Adam Rodriguez) em ação durante perseguição em uma praia; Horatio Caine (David Caruso) e Eric observam Natalia (Eva La Rue) analisar um corpo na cena do crime

a série e a cidade Praticamente uma filial latina, com suas leis próprias, Miami tem os crimes mais calientes da franquia praia

os mais de 56 quilômetros de areia branca formam um cenário inspirador para as férias de verão, mas também para assassinatos e perseguições. o clima quente deixa as emoções à flor da pele, a ponto de uma briga de bar se transformar em caso de polícia.

iMiGrantes

A proximidade com cuba e outros países da América central facilita a entrada de estrangeiros. entre a adaptação da vida em um novo país, passando pelo processo de obtenção do visto, muita gente se aproveita para passar a perna nos despreparados.

carteL

A sua localização geográfica acaba abrindo passagem para o tráfico de drogas. e, se depender da série, a cidade tem um representante para cada país envolvido com a produção de narcóticos.

para se ter uma ideia do alcance de CSI, uma das séries dramáticas mais populares do mundo, as três produções da franquia estão entre as atrações mais assistidas em paí­ ses como estados unidos, austrália, frança, alemanha, itália, espanha e reino unido. “faz sentido que seja uma atração tão popular, porque transcende barreiras cultu­ rais”, apontou elisabeth shue. mas, mesmo que o discur­ so seja tão otimista – e os números indiquem isso –, nem tudo dura para sempre. em 2012, os fãs de CSI: Miami viram as últimas frases de efeito de Horatio caine (David caruso). o canal americano cBs anunciou que a produ­ ção não seria renovada para a temporada 2013 e a versão acabou em seu décimo ano. a decisão deixou claro que as irmãs não eram tão unidas assim: “cada série é indepen­ dente e não interagíamos com muita frequência. mas ao menos eles ficaram no ar por bastante tempo. então acho que não foi um choque tão grande”, disse Gary sinise. independentemente de qualquer pedra no caminho é inegável que CSI deixa um legado – e dos mais poderosos: não só inspirou diversas outras séries (o que pode ser visto no box da página 32), como criou um novo olhar para os dramas policiais. “o fato é que as pessoas agora sabem o que faz um criminalista e essa é uma conquista do progra­ ma”, declarou liz. e para sela Ward essa influência vai além: “É fascinante que tenha se tornado parte da cultura popular, agora todos acham que são capazes de solucionar um crime! antes ninguém sabia o quão interessante uma investigação pode ser e provavelmente criou um interesse em toda uma área profissional que antes não existia”. mas se uma carreira na polícia científica não for a melhor op­ ção, não hesite em libertar o sherlock Holmes que existe dentro de você – nem que seja para descobrir quem pegou o último pedaço de bolo da geladeira de casa.

Fotos: JDIvuLGAção

CoMo EsTÁ E o QUE FiCA

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roteiro da vida real

Foto: José BAssIt

Os peritos da cidade de São Paulo também contam com equipamentos de ponta, mas na prática o trabalho esbarra no alto número de casos e na legislação brasileira

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e o seriado coloca uma equipe inteira e todas as ferramentas de alta tecnologia à disposição da resolução de um único crime, a realidade é bem mais limitada e,digamos,fragmentada.em 2011, por exemplo, cada um dos 790 peritos do Instituto de criminalística (Ic) de são Paulo atendeu quase mil casos na cidade. Foram mais de 637 mil requisições, totalizando cerca de 3,2 milhões de peças de exame. A análise de tudo isso foi realizada na sede (na capital) ou em uma das 63 unidades da perícia do estado. Distribuídos pela demanda regional, você pode encontrar equipamentos de alto nível iguais aos da série,mas com um banco de dados, de impressões digitais e DNA bem mais modestos.se a ficção e os dispositivos judiciais da realidade americana permitem compor softwares que encontram quase todos os dados imagináveis, no Brasil o trabalho da perícia esbarra na legislação. “A situação de que você não pode fornecer prova contra você mesmo bloqueia o banco de dados. Quando você foi tirar a carteira de identidade, naturalmente colocou os dez dedos porque sua vida não se

reflete na criminal.Agora,e o criminoso?”,explica Adilson Pereira,perito e diretor do Ic. crimes pirotécnicos também podem ocorrer na vida real, mas a maioria dos casos fora das telas é muito menos interessante – e mais dolorosa. segundo Pereira, a principal demanda da perícia em são Paulo corresponde a crimes contra o patrimônio/pessoa e a acidentes de trânsito. os raros casos de laboratório ou grandes crimes arquitetados são explorados substancialmente nas séries, mas são minoria na realidade.“existem aquelas situações de laboratório que lidam com a exceção. em cem tentativas de certo experimento, eu consigo uma. o episódio enxerga essa única possibilidade – muito mais interessante do que o cotidiano.” Além disso,o roteiro da vida real é bem mais lento quando o que se deseja é o resultado das análises.um exame de DNA na melhor das hipóteses,ou seja,com sangue fresco, demora 48 horas. o tempo é ainda maior se a obtenção for através de um osso: são utilizados de dois a oito procedimentos,o que pode levar até seis meses.“No seriado, o preparo da amostra não é apresentado. Do contrário, seria cansativo. o que o público quer é resultado,o que o povo quer da polícia técnico-científica é o resultado.” A televisão acaba dando a impressão de uma rapidez que se transforma em cobrança para os peritos.o que aumenta em casos de repercussão pública,como explica Pereira, quando uma das dificuldades é explicar que cada amostra tem o seu preparo,utiliza tecnologiaespecíficaeobtémresultadosemtemposdistintos.Nessesentido,comparar um caso com o outro acaba sendo tão destoante quanto a própria ficção.

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