QUANDO A GENTE FALA BRINCANDO QUE ISSO [A DIREÇÃO] É COISA PRA MACHO, É PORQUE É COMO SE ESTIVESSE PARTINDO PARA UMA GUERRA
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RENOVADA
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Do outro lado das câmeras Estreando na direção com o documentário Contratempo, a estrela fala dos desafios e delícias de se arriscar em uma nova profissão
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por sarah mund foto daryan dornelles/folhapress
MALU MADER sentiu que era a hora de realizar um sonho mais antigo que o de atuar – sua profissão desde os 16 anos de idade – a direção. Mas, antes de se jogar de vez na ficção, ela começa com o documentário Contratempo, realizado em parceria com Mini Kerti, que mostra projetos que ensinam música erudita a jovens de comunidades carentes. A seguir, os principais trechos da conversa com a estrela e, agora, cineasta. A ideia do documentário surgiu a partir do seu envolvimento com o VillaLobinhos [projeto administrado pelo Viva Rio, com o apoio do Instituto Moreira Salles e do Museu Villa-Lobos]?
Isso mesmo. Eu estava envolvida com o projeto e, quando a Mini e eu começamos a fazer o filme, a gente partiu de quem conhecíamos de lá. Só que nós queríamos ser surpreendidas por pessoas novas também. Porque, no fundo, acho que o que a gente queria com o documentário era mostrar que, diferentemente dessa desesperança, dessa falta de perspectiva em relação à juventude na favela, o que se via ali era uma vontade muito grande de reverter essa
situação. Quando começamos o filme, descobrimos que havia muitos outros projetos. Foi uma surpresa ver que estava cheio de músicos eruditos nas favelas. Não tem só batuque na favela. Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou como diretora? Todas as possíveis! Se não estivesse acompanhada da Mini, certamente não conseguiria ter feito o filme. Tinha muitas dificuldades técnicas. A minha facilidade está nessa coisa de escolher título, saber perguntar. Como foi feita a escolha do nome do documentário? A gente queria um título ligado à música e que tivesse a ver com algum sentido do filme. Contratempo é a parte fraca do tempo, mas sem ele não existe a música e também tem esse sentido do transtorno, mas que também pode te jogar em uma situação positiva. E esses jovens são cheios de acontecimentos bastante transformadores na vida deles e que de certa forma os jogaram na música. Como vocês selecionaram as histórias que entrariam no filme? Em geral, as escolhas se dão por empatia. A gente não teve um critério rígido, não era por virtude, certamente, porque o filme não procurou os melhores músicos. Sem dúvida, tínhamos alguns queridinhos ao longo dos anos. Tentamos mostrar algumas histórias felizes, embora no geral seja uma tragédia plena. A vida nas favelas é mesmo sempre marcada. É diferente de fazer um filme sobre a classe média, pois quando você entrevista pessoas que moram na favela, não tem jeito, a favela
se impõe. Mesmo que você não filme a favela, cenograficamente falando, ela vai aparecer no filme de uma forma ou de outra, vai se fazer presente. De todas as histórias que você acompanhou, qual foi a que mais te emocionou? A do Thiago. Foi um susto a morte dele. Tanto que mudou a edição do filme no final. Foi surpreendente para mim porque eu estava, não certa de que ele tinha se recuperado, porque sei que uma pessoa viciada em drogas sempre tem o perigo da recaída, mas eu estava muito esperançosa. Ele virou o final do filme não por uma questão apelativa, mas porque mexeu com a gente, e achamos importante mostrar que, apesar de todos julgarem o viciado uma pessoa fraca, nós não o víamos assim. Fizemos questão de uma homenagem. Como você definiria as diferenças entre as experiências que teve até agora atrás das câmeras: no documentário, no curta ficcional feito para o Multishow [Essa História Daria um Filme] e no clipe dos Titãs [Quanto Tempo]? Todas foram muito realizadoras. Era exatamente o que eu esperava desde que comecei a sonhar em me tornar diretora. Mas é uma empreitada que exige muita coragem. Quando a gente fala brincando que isso é coisa pra macho, é porque é como se estivesse partindo para uma guerra. É delicioso! Há muito tempo não ficava tão feliz trabalhando em alguma coisa. Mas é preciso bastante empenho, dedicação e responsabilidade, até para que seja uma experiência feliz e harmoniosa no set. Já que você gostou tanto da experiência de direção, você tem novos projetos para isso? Ou vai voltar a trabalhar como atriz ou produtora? Tem um roteiro que escrevo há quase uma vida inteira, mas que na verdade já me dei conta de que vou precisar de ajuda profissional para pôr uma estrutura nisso, porque não sou uma pessoa disciplinada. Também não é assim que você sai da profissão de atriz para a de roteirista, do dia para a noite. Pelo menos, Contratempo já fiz, além dos outros projetos. Acho que deu para ter uma noção. Agora vou partir para essa ambição maior. ■ CONTRATEMPO,
21h, Canal Brasil, 66
dia 25, sábado,
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