Psi - Monet

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Mente inquieta

ACOMPANHAMOS AS GRAVAÇÕES DE PSI, NOVA SÉRIE NACIONAL DA HBO, PARA VER QUE TIPO DE PSIQUIATRA, PSICÓLOGO E PSICANALISTA É O PERSONAGEM CRIADO À IMAGEM E SEMELHANÇA DO SEU AUTOR: CONTARDO CALLIGARIS por Sarah Mund

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calças na hora de escrever”, explicou o próprio Calligaris, que também assina os roteiros e a produção da série. Vale explicar que nenhuma das histórias dos livros foi aproveitada na trama da atração, que inclusive se passa alguns anos depois do que foi narrado neles. LEVANDO PARA O LADO PESSOAL – Apesar de motivado pela vontade de auxiliar os outros, Antonini acaba deixando para trás a linha que divide as relações profissionais e pessoais. Durante o seriado, ele se envolve com pacientes, trata pessoas que conhece em lugares inusitados, mantém amizade com um coveiro e com um policial e não raramente põe sua vida em perigo pelos outros. “Ele não é um protagonista tão benfeitor assim. Tem a ilusão de que pode melhorar a vida das pessoas e o mundo de alguma forma, mas possui

Mais ação que reflexão – 1. O ator Emilio de Mello (à direita) observa uma cena no monitor ao lado do diretor Marcus Baldini; 2. Registros de cena de rua; 3. Com sua enteada, Marina (Bianca Vedovato), de 12 anos; 4. E com sua amiga e colega de profissão, Valentina (Claudia Ohana)

“Não é para ressaltar a arquitetura da cidade, mas para abrir janelas para quem são as pessoas que vivem em São Paulo”

– Marcus Baldini

também uma grande vontade egoica de se sentir útil. Ele quer se relacionar com as sarjetas humanas, de forma que sua vida possa se tornar memorável. Quanto mais bizarra a experiência, mais interessante”, descreve Baldini. Cada um dos 13 episódios de 60 minutos apresenta um caso diferente, mas alguns dos personagens voltam a aparecer. Entre os retratados estão o de uma malabarista e sua filha com o diagnóstico equivocado de autismo, de uma adolescente que acredita ser uma vampira e de um casal que quanto mais briga mais se excita. Ao mesmo tempo que acredita estar agindo em prol dos outros, Antonini sacia sua sede por experiências. Ainda assim, nada disso o torna um personagem desprezível. Pelo contrário, seu humor ácido e suas sacadas pontuais acabam lhe rendendo o mesmo charme de um certo médico ranzinza que fez história na TV.

EM OUTROS DIVÃS

Prova de que a televisão é fascinada pela figura do psicanalista (e do psicólogo e do psiquiatra, já que muitas vezes a distinção é deixada de lado), é o fato de que Psi não é nem a primeira e nem a última a mostrar a rotina dos profissionais que mais chegam perto de entender a mente humana. Mas nem todos são aventureiros como Carlo Antonini e a maioria das produções acompanha seus protagonistas apenas durante a terapia

EM TERAPIA

FOTOS: GETTY IMAGES, MARCIA FOLETTO / AG. O GLOBO E DIVULGAÇÃO

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LOCAL ONDE A MONET ACOMPANHOU AS gravações de Psi, em uma bela casa no bairro paulistano do Sumaré, deixa transparecer a forma como São Paulo é retratada na trama criada por Contardo Calligaris. A verdade é que a cidade, quase uma personagem a ser analisada pelo psicólogo, psiquiatra e psicanalista Carlo Antonini, é bela, mesmo sendo plural. Para argumentar a favor dessa tese ficam as declarações de Emilio de Mello e Claudia Ohana – ele dá vida ao protagonista e ela à melhor amiga e colega de profissão, Valentina. “Acho que a produção tem bem a cara de São Paulo, cosmopolita, com um clima mais frio e essa coisa chique das pessoas estarem sempre comentando a cena cultural”, opinou a atriz carioca, ao que discordou seu colega paulistano: “Por ser daqui, eu conheço melhor a realidade de São Paulo e sei que ela não é sempre assim. A cidade tem inúmeras desvantagens. Mas não deixa de ser um belo retrato”. Essa complexidade que resulta em diferentes olhares não é muito diferente da forma de atuar de Antonini, um profissional que trata da mente humana mas que, frustrado com a impossibilidade de curar alguém, mais foge de seu consultório do que atende seus pacientes do jeito tradicional. “São Paulo serve como esse mosaico PSI I de realidades, para que possamos entender o lado huA PARTIR DO DIA mano das pessoas em vez de só observar suas bizarrices 23, DOMINGOS, 21H, de fora. Não é para ressaltar a arquitetura da cidade, HBO, 171 E 671 (HD) mas para abrir janelas para quem são as pessoas que vivem em São Paulo”, aponta o diretor Marcus Baldini. Tanto que é nas ruas que Antonini exerce o seu melhor, bancando o detetive e protegendo pessoas que nem estão sendo tratadas por ele, um meio ponto entre House (2004-2012) e Em Terapia (2008-). O personagem apareceu em dois livros de Calligaris, Conto do Amor e A Mulher de Vermelho e Branco. Um estudioso italiano que depois de uma temporada nos EUA se estabelece no Brasil. Quase à imagem e semelhança de seu autor. “É uma tradição na arte do romance. De certa forma, é uma facilidade narrativa, pois não tenho que me preocupar para ter uma ideia de como é esse personagem. Se eu o crio com as mesmas características e experiências que tenho e tive, consigo me enfiar em suas

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Criador e criatura – Contardo Calligaris admite que seu personagem, Carlo Antonini, um estudioso italiano que depois de um período nos EUA se instala definitivamente no Brasil, é um reflexo de suas próprias trajetórias

>> No ar desde 2008, e vencedora de um Globo de Ouro e dois Emmy, é uma adaptação da israelense BeTipul. O psicoterapeuta Paul Weston (Gabriel Byrne) questiona suas habilidades e atende um paciente a cada dia da semana.

LIE TO ME

>> Apesar de ter apenas temporadas que foram exibidas entre 2009 e 2011, foi indicada a vários prêmios ao mostrar o trabalho do psicólogo Cal Lightman (Tim Roth), expert em expressões corporais que auxiliava o trabalho da polícia.

HANNIBAL

>> Poucos gostariam de ter uma consulta com o Dr. (a não ser que as manias sejam tão macabras quanto as dele). A série, que chega à 2a temporada em março, explora o período em que o psiquiatra (Mads Mikkelsen) conheceu Will Graham (Hugh Dance).

SESSÃO DE TERAPIA

>> A representante nacional, dirigida por Selton Mello, também é inspirada em BeTipul. Segue o modelo, mostrando o psicólogo Theo (Zécarlos Machado) com um paciente por dia, mas seu lado agressivo ameaça a sua reputação.

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