The Walking Dead - Monet

Page 1

Os zumbis podem estar em decomposição, mas eles nunca estiveram mais em alta na cultura pop, especialmente no mês do Halloween e com a estreia da quinta temporada de The Walking Dead

Z

PRODUÇÃO E MAQUIAGEM: HENRIQUE JANUARIO, IONE SAWAO E SARAH MUND / FOTO: BIAH SCHMIDT / TRATAMENTO DE IMAGEM: MARCELO CALENDA

por Henrique Januario e Sarah Mund

2 4 + M o­n e t + O U T U B R O

UMBIS não surgiram do dia para a noite e nem são uma invenção atual. Mas não dá para negar que hoje em dia eles parecem estar em todos os lugares. Se por um lado os vampiros partiram do letal e sensual Lestat de Tom Cruise em Entrevista com o Vampiro (1994) para o comportado e brilhante Edward da Saga Crepúsculo (2008-2012), os zumbis mantiveram, bem, o frescor de sua podridão. “São decomposições ambulantes. Não tem como fugir ou inventar muita moda em cima disso”, aponta Rodrigo Aragão, cineasta de terror brasileiro, diretor de Mangue Negro (2008) [dia 8, 19h20, Space, 154 e 654 (HD)] e Mar Negro (2013). Enquanto a imagem dos

DÁ UMA MORDIDA? sanguessugas foi romantizada e se desgastou com a superexposição, a mordida dos mortos-vivos continua firme e forte sem grandes mudanças. E olha que esses seres habitam a indústria pop desde os anos 1930, quando surgiram as primeiras obras cinematográficas estreladas por corpos em decomposição, como Zumbi, a Legião dos Mortos (1932). “É legal ver uma nova geração admirando zumbis, achando que eles são uma coisa de The Walking Dead. Greg Nicotero [maquiador vencedor de quatro Emmys, dois deles pela série] em Dia dos Mortos (1985) foi aprendiz de Tom Savini [cultuado ator e especialista em efeitos especiais] e de George A. Romero [diretor do seminal A Noite dos Mortos Vivos (1968)]”, destacou Aragão. Ou seja, essa não é uma moda passageira, mas sim um movimento de longa data. Nos primeiros filmes, o conceito de zumbi seguia a origem na cultura haitiana. No sincretismo do país caribenho acreditava-se que cadáveres poderiam ser reanimados THE WALKING DEAD – 5a TEMPORADA I DIA 14, TERÇA, 22H55, FOX, 131 E 631 (HD) ESPECIAL A ERA DOS ZUMBIS I DIA 2, QUINTA, A PARTIR DAS 20H35, SPACE, 154 E 654 (HD) O U T U B R O + M o­n e t + 2 5


CABEÇA, MIOLO, JOELHO E PÉ Destrinchamos a anatomia dos zumbis para saber o que se passa por trás daqueles olhos vidrados, do cheiro de podridão e do caminhar capenga. Confira nossa criatura vitruviana que faria inveja a Leonardo Da Vinci, se já houvesse mortos-vivos em sua época

AI SE EU TE PEGO > A Naegleria fowleri é uma bactéria que causa a meningoencefalite amebiana primária. Para leigos, ela simplesmente devora o tecido cerebral de suas vítimas

CECÊ MATADOR > A carne em avançado estado de decomposição libera gás metano, cadaverina e putrescina, que causam o aroma característico dos mortos

Ameaça real – Na quinta temporada, o grupo de sobreviventes que acompanha Rick (Andrew Lincoln) em The Walking Dead enfrenta o maior perigo de todos no apocalipse zumbi: os humanos. No detalhe, Eu Sou a Lenda (1954), de Richard Matheson

O TERROR ESTÁ NOS OUTROS O primeiro a se inspirar na obra de Matheson foi George A. Romero, que em 1968 lançou A Noite dos Mortos Vivos. A produção foi a primeira a incluir uma característica fundamental do zumbi moderno: a alegoria à crise

Terror nacional – O cineasta brasileiro Rodrigo Aragão já produziu três filmes de terror, entre eles dois com zumbis: Mangue Negro (2008) e Mar Negro (2013) – na foto

2 6 + M o­n e t + O U T U B R O

existencial humana. “Os zumbis são formados por dois medos: o da morte e o de sermos devorados. São medos universais”, ponderou Aragão. Mais que isso, todas as produções modernas deixam claro que o inimigo a ser temido não são os monstros, e sim os próprios humanos vivendo em uma situação-limite. “Existe uma certa pureza nos zumbis. Eles agem por instinto. Nos filmes do gênero, os sobreviventes são mais perversos e até mais perigosos que as próprias criaturas”, completou o cineasta. Os personagens centrais de The Walking Dead vão sentir isso na pele, já que o novo ano começa com eles encarcerados por outro grupo de pessoas que se organizou em uma colônia chamada Terminus. Não é à toa que os quadrinhos de Robert Kirkman fazem tanto sucesso e deram origem à popular série. De Romero para The Walking Dead as mudanças foram sutis, porém significativas. Danny Boyle deu sua contribuição à composição da figura dos zumbis com Extermínio (2002). As criaturas eram humanos normais, infectados por um tipo brutal de raiva. Eram seres vivos e se movimentavam com velocidade, semelhante à fórmula usada em Guerra Mundial Z (2013). Até em Meu Namorado é um Zumbi, em que você pode achar que a coisa desandou com um romance entre humanos e mortos-vivos, é possível enxergar uma sátira ao mito da decomposição. Apesar da superexposição e das novas características atribuídas aos zumbis, eles não perderam a popularidade, como já aconteceu mais de uma vez com os vampiros. E tem quem leva tão a sério o apocalipse zumbi, que já se prepara para o que pode estar por vir. Enquanto presidente, George W. Bush pediu um suplemento de US$ 50 bilhões para proteger os EUA dos zumbis; o governo de uma província canadense e o Pentágono americano prepararam cartilhas com planos de ação em caso de uma pandemia zumbi. “Eu me preparo para o apocalipse. Mas os elementos da atualidade, como descrença na política, falta de água e destruição dos recursos naturais fazem a gente se sentir no apocalipse. Eu vejo zumbis todo dia na porta de casa por causa do crack. Se os zumbis fossem gosmentos como os de The Walking Dead, seria mais divertido. A realidade é muito pior”, decreta Aragão, que manja muito de terror e pelo jeito também da vida real.

LARICA DO MAL > Como é feita a digestão, permanece um mistério, mas não dá para negar que a fome por carne fresca dos zumbis é insaciável

ORIGEM MÁGICA > O conceito de zumbi surgiu nos rituais vodus haitianos. A figura do morto-vivo sempre retornava à vida com a ajuda de feitiçaria

PERNAS PRA QUE TE QUERO > Os mortos-vivos têm andar trôpego, enquanto os infectados muitas vezes conseguem correr

MORTO-VIVO MULTIUSO

Não só de babar e comer cérebros vive todo zumbi. Selecionamos alguns que apresentam habilidades especiais

FOTOS: DIVULGAÇÃO / ILUSTRAÇÃO: DENIS FREITAS

por feiticeiros, criando uma relação de servidão – lembra de Um Morto Muito Louco (1989)? Especula-se que tudo não passava de um truque para enganar o pobre coitado que acreditava ter sido ressuscitado e por isso jurava eterna gratidão – leia-se escravidão. Mas, em 1954, Richard Matheson publicou um livro que mudaria isso. Por incrível que pareça, Eu Sou a Lenda, que em 2007 ganhou sua terceira adaptação, estrelada por Will Smith, era sobre vampiros. Mas as criaturas descritas pelo autor atiçaram a imaginação de muitas pessoas para chegar no que seriam os mortos-vivos que hoje estão na moda (mesmo feios).

DOENÇA DE MARINHEIRO > A dieta baseada em proteína e a ausência de vitamina C podem causar escorbuto, o que explicaria a quantidade de mortosvivos (e marinheiros dos séculos 16 e 17) banguelas

EMPILHAR > Parecem formigas, mas são zumbis capazes de ultrapassar inúmeras barreiras, como visto em Guerra Mundial Z (2013)

AMAR > Eles podem não ter memória, mas isso não impede as criaturas de Meu Namorado É um Zumbi (2013) de se apaixonarem

DANÇAR > O som de Michael Jackson é tão contagiante que tirou os mortos da tumba no videoclipe Thriller (1982)

ASSEDIAR > No distante Japão, as necessidades de um zumbi vão além de saciar a fome, vide Rape Zombie: Luxúria dos Mortos (2012)

SENSUALIZAR > As personagens de As Strippers Zumbis (2008) perderam a vida, mas não o rebolado e nem a clientela mais fiel

O U T U B R O + M o­n e t + 2 7


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.