A PORTA DA
FRENTE DA PORTA DOS F U N DOS COM SEU HUMOR ÁCIDO E SEM MEDO DE INCOMODAR, UM GRUPO DE TALENTOSOS COMEDIANTES, ENTRE ELES FÁBIO PORCHAT E GREGÓRIO DUVIVIER, LEVOU A PRODUTORA PORTA DOS FUNDOS AO SUCESSO FORA DAS MÍDIAS TRADICIONAIS E ABRIU CAMINHO PARA VOOS MAIORES COM UM PROGRAMA DE TV
por Sarah Mund
PORTA DOS FUNDOS I A PARTIR DO DIA 14, TERÇAS, 22H30, FOX, 131 E 631 (HD)
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S INTEGRANTES DO PORTA DOS FUNDOS estão em tudo quanto é lugar: na internet, no teatro, no cinema, na televisão aberta, nos canais por assinatura, nas rádios, nos jornais, nas revistas, escrevendo roteiros, atuando, dirigindo, cantando, criando... Então é compreensível que tenham sido necessárias inúmeras ligações e um esforço conjunto com assessores de imprensa para conversar com Fábio Porchat e Gregório Duvivier, provavelmente as duas faces mais conhecidas do grupo. Mas a resposta sincera que ambos deram depois do tão esperado “alô” já revela um pouco da personalidade de cada um: “Desculpa não ter atendido o celular antes, eu dormi e não ouvi ele tocar”, foi o motivo pra lá de trivial dado pelo animado Porchat; e “Me avisaram que você ia ligar, mas não reconheci o número e fiquei com medo de ser propaganda”, admitiu o desconfiado Duvivier. Entre as diversas frentes em que atuam, a mais recente a entrar para o portfólio é um novo programa na televisão, mas desta vez é o grupo todo, do jeito que ficou famoso na internet, que vai parar na telinha. A atração que estreia em outubro é um compilado de pílulas retiradas das esquetes de sucesso online. Os mais de 250 vídeos produzidos ao longo de dois anos e meio ultrapassam a marca de 1 bilhão de acessos e fez do canal o mais assistido do YouTube no Brasil. Para realizar a ligação entre os diferentes conteúdos, Gabriel Carbonelli, ou Totoro, foi escolhido para fazer a apresentação dos 26 episódios de 30 minutos, que ainda contam com participações dos demais integrantes em aparições de estúdio. E eles não param. Em 2015, eles rodam o primeiro filme da trupe e devem desenvolver uma série de conteúdo inédito para o próprio canal Fox. Saiba o que se passa dentro da cabeça das mentes criativas por trás do sucesso:
Primeiro queria saber mais sobre o Porta dos Fundos na Fox. Depois das pílulas vocês planejam algo maior? Fábio Porchat: É um pouco nos moldes dos nossos pri-
meiros programas no canal do YouTube, quando a gente começou. Então tem um pouco de voltar na fonte que a gente já bebeu. Depois disso, a gente vai fazer no ano que
Mestre de cerimônias – Gabriel Carbonelli, mais conhecido pelo apelido de personagem de desenho animado que ganhou, o carismático Totoro, é o responsável por narrar as pílulas e interligar os assuntos das esquetes apresentadas a cada episódio
vem uma série inédita para a Fox. Só não dá para adiantar o que vai ser, porque a gente não tem a menor ideia [risos], ainda não temos nada definido. É apenas para o segundo semestre, então só começamos a pensar nisso agora. Gregório Duvivier: Vão ser as próprias pílulas da internet, só que costuradas por cenas no estúdio com o Totoro, nosso mascote, e com participações de todo mundo para costurar os esquetes de alguma maneira. O mais legal para a gente é que a Fox vai passar do jeito que a gente gosta e do jeito que o público gosta, sem nenhum corte, sem nada. É muito difícil, porque na TV geralmente não pode usar nudez, palavrão, marca, religião. Vai estar tudo lá, sem nenhuma censura. Nossa casa continua sendo a internet, mas a gente não se abstém de vender, a gente está aberto para qualquer oportunidade.
Vocês alcançaram tanto sucesso fora das mídias convencionais, por que migrar agora para a televisão? FP: É mais que migrar para a televisão. Como produtora de
conteúdo nós estamos interessados no maior número de mídias possível. A gente vai para o cinema, já lançamos um livro, a gente faz TV aberta, TV por assinatura... O negócio é o nosso produto chegar o mais distante possível. GD: Para nós, é perfeito. Nunca vamos sair da internet, porque somos fiéis ao nosso público, mas ao mesmo tempo podemos atingir um novo público que não está acostumado com a internet. A televisão atinge uma gama enorme de pessoas que não usam internet e as pessoas que já nos conhecem terão a chance de parar para nos ver na TV com intervenções do próprio Porta dos Fundos. Por que você acha que o Porta dos Fundos atinge tantas pessoas? Vocês têm algum cuidado quanto a isso, para englobar o maior público possível? FP: Não fazemos pesquisa para saber o que o público
quer ver, nem o próprio público sabe o que quer ver. Nos preocupamos mais com o que nós achamos engraçado.
“Não fazemos pesquisa para saber o que o público quer ver, nem o próprio público sabe o que quer ver. Nos preocupamos mais com o que nós achamos engraçado” – Fábio Porchat 3 6 + M on e t + O U T U B R O
“As pessoas estão interessadas em consumir entretenimento mais autoral e menos pasteurizado. Tem muita coisa legal na TV – isso prova que elas gostam de qualidade” – Gregório Duvivier
A gente tem que se divertir, a gente sempre se baseou no que nós achamos engraçado, desde o começo. Talvez se a gente tivesse se baseado em pesquisa não teria virado o que é o Porta dos Fundos. GD: As pessoas estão interessadas em consumir entretenimento mais autoral e menos pasteurizado. Tem muita coisa legal na TV – isso prova que elas gostam de qualidade. As empresas inventam teorias, fazem testes e supõem que a classe C gosta de determinada coisa. Mas a classe C gosta da mesma coisa que a A ou a B: qualidade. O Porta dos Fundos mostra isso, porque nunca fizemos nenhum tipo de pesquisa, fizemos o que gostamos e achamos engraçado. As pessoas mais autorais, loucas, que apostam na própria verve são as mais bem-sucedidas e as que eu mais admiro também. De todos os meios nos quais atua, stand-up, teatro, cinema, televisão, internet, dublagem, você tem um preferido? Por quê? FP: O teatro. Porque nada substitui o ao vivo. Ali, na hora,
é muito gratificante você ter a resposta imediata. GD: O teatro foi onde eu comecei a gostar desse ofício e me apaixonei por essa profissão de atuar, foi meu berço. Da internet eu gosto muito, por ter a possibilidade de reproduzir essa liberdade do teatro. Onde me sinto mais realizado é em meios livres.
De onde você tira inspiração para criar em áreas tão diferentes? FP: Eu acho que é preciso estar atento a tudo o que acontece
ao nosso redor. Qualquer coisa pode virar uma inspiração, às vezes uma situação que acontece com alguém ao seu lado ou até furar o pneu pode gerar uma ideia engraçada. GD: Eu acho que no fundo o que muda não é tanto atuar, porque é muito parecido para todas as áreas. O que muda é a quantidade de filtros. Na televisão são muitas etapas a serem cumpridas: tem o diretor, o produtor, o canal, os patrocinadores, o comitê de acionistas. Passa por muita gente e o grande barato das outras áreas é que elas atingem menos gente, é claro, mas elas permitem um contato sem tantos intermediários. Você já fez tanta coisa antes dos 30... você imaginava estar onde está na sua idade? FP: Eu não imaginava nada, mas muito porque eu
não olho para o futuro. Quando perguntam o que eu quero daqui a cinco anos, não faço a menor ideia. Eu olho só para os lados, em vez de ficar ligado no que pode vir lá na frente. GD: Não, nunca imaginei. Eu sempre fiz porque gostava, nunca planejei uma carreira. Sempre gostei de teatro, de atuar, de escrever e uma coisa foi levando a outra. Acho que se eu tivesse planejado não teria acontecido, porque o barato é estar com foco no prazer que se sente trabalhando. Desse jeito acho que as coisas acontecem naturalmente.
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