Entrevista Lucy Liu - Monet

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[ LUCY LIU ]

A atriz afirma que, além de conseguir trabalhos que não dependam somente de sua ascendência, é mais difícil assumir um personagem tradicionalmente masculino na televisão por Sarah Mund, de Los Angeles*

PRESTES A VOLTAR À TV COM A TERCEIRA temporada de Elementary, Lucy Liu deixou bem claro em um encontro com a imprensa internacional que as críticas à sua Elementary A PARTIR DO DIA escalação para viver Dr. Watson, na última adaptação das 19, QUINTAS, 23H, histórias de Sherlock Holmes, não foi o maior desafio de sua UNIVERSAL, carreira. Na indústria do entretenimento, difícil mesmo é ser 130 E 630 (HD) escolhida para papéis que explorem mais que sua aparência asiática, herança dos pais chineses. E olha que até agora ela conseguiu fugir bem dos estereótipos, alguns de seus maiores sucessos não contavam com nenhuma questão étnica, entre eles Ally McBeal: Minha Vida de Solteira (1998-2002), As Panteras (2000, 2003, 2013) e Southland (2012). O que podemos esperar da terceira temporada de Elementary?

A primeira coisa que você pode notar é que houve uma ruptura entre Sherlock e Watson. Ele passou uma temporada em Londres e quando volta a Nova York tudo mudou entre eles: já não moram juntos, Watson tem um novo namorado e trabalhando por conta própria. É incomum que um homem e uma mulher não acabem em um relacionamento romântico na TV. Isso irá acontecer, ou vocês consideram importante evitar essa fórmula?

As pessoas perguntam isso o tempo todo e muita gente quer ver eles juntos. Mas acho que o Rob Doherty [criador da série] considera muito importante manter pelo menos esse aspecto dos livros, mesmo que a gente fuja de muitos outros. É essa dinâmica entre os personagens que conduz a história, não importa quão maluco seja o caso da vez. Nos livros os casos são muito interessantes, mas não é por causa deles que você volta para a história, mas sim por causa da relação de amizade entre os dois. 5 4 + M o­n e t + M A R Ç O

Você acha que interpretar uma versão feminina de Watson foi arriscado? Muitos fãs são fiéis à história original

Ah, sim, foi um risco. Mas se eu não me arriscasse, ainda estaria trabalhando como vendedora ou secretária. Minha vida inteira foi um grande risco. Caso contrário não teria feito As Panteras, já que no original as três mulheres eram caucasianas. É claro que nossa versão de Watson é diferente, mudamos a raça e o gênero, mas isso é um avanço. Algumas vezes essas tentativas funcionam e outras não. O programa poderia não ter feito sucesso e não necessariamente seria por causa disso. Sem riscos eu estaria puxando um riquixá em algum filme.

Me parece que existe um esforço em escalar mais atores de origem asiática hoje em dia. Como você vê isso?

Acho encorajador e muito importante. Os Estados Unidos são uma grande mistura, mas não necessariamente é visto dessa forma internacionalmente. E quando você viaja para outros países, vê como todos eles são diversos atualmente. Não é por que alguém

O que você acha que contribui para o sucesso de um remake, como As Panteras e Elementary?

Eu gostaria de ter a resposta. Tudo depende de como é feito e qual é o público hoje. Muita gente achou que As Panteras não daria certo, mas nós nem nos levávamos muito a sério. Hoje você tem mais mulheres em filmes de ação, como Jogos Vorazes e Divergente. Naquela época eles nem sabiam como colocar mais de uma mulher na capa de uma revista e nem faz tanto tempo assim. Você está sempre rompendo estereótipos. Isso é parte da sua criação ou algo que adotou em sua trajetória?

Penso que é parte da minha criação. Eu sou a mais nova de três filhos e meus pais trabalhavam tanto que não tinham tempo de cuidar de nós. Cada um se tornou muito independente, eu cresci mesmo com meus irmãos mais velhos. Eu nem sabia como pôr uma mesa até a faculdade, quando uma amiga me convidou para jantar na casa de sua família e eu não sabia o que fazer com tantos talheres, por que só comíamos com palitinhos. Então, creio que sem querer eu desafiei o que é considerado normal, não por que eu me opusesse a ele, mas por que para mim o normal era diferente. * A repórter viajou a convite do canal

FOTO: GETTY IMAGES

Defensora da diversidade

é oriental que não pode ter cabelos claros. As pessoas acreditam que você só pode ter determinada aparência dependendo da sua raça, mas hoje os estúdios entendem que é preciso diversificar. Isso pode ser um começo, mas ainda vai levar muito tempo. O importante é ser ativo nessa questão, não só na frente das câmeras, mas nos bastidores também. Eu tenho muito orgulho das minhas origens, eu mal conseguia falar inglês quando criança por que meus pais só falavam chinês. Então é bom ter a capacidade de interpretar alguém da China, mas eu gosto de me perder em outras coisas. Agora que estamos na terceira temporada, tenho a impressão que as pessoas já nem notam mais que sou oriental e mulher.

SE EU NÃO ME ARRISCASSE AINDA ESTARIA TRABALHANDO COMO VENDEDORA OU SECRETÁRIA. MINHA VIDA INTEIRA FOI UM GRANDE RISCO M A R Ç O + M o­n e t + 5 5


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