Entrevista Laerte Coutinho - Monet

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Tête-à-tête No melhor sentido da expressão setentista, transamos um papo animado e sem medo de polêmicas com Laerte Coutinho. A partir de junho, ELA (é assim que a artista prefere) recebe convidados dos mais divertidos em seu programa de entrevistas Transando com Laerte

por Lucas Alencar e Sarah Mund

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Transando com Laerte

A PARTIR DO DIA 2, TERÇAS, 0H, CANAL BRASIL, 150 E 650 (HD)

Para quem passou anos acompanhando o trabalho de Laerte Coutinho nos jornais, pode ser confuso aceitar sua nova identidade. Mas bastam apenas alguns segundos de conversa para ficar claro: quem fala se coloca como uma mulher. E das mais simpáticas e atenciosas. Desde que assumiu sua nova identidade de gênero publicamente, em 2009, a cartunista adotou a questão transgênero como sua principal bandeira. “É uma vivência minha da maior centralidade. Esse tem sido meu movimento principal nos últimos anos. Eu conheci muita gente interessante, fascinante e importante no movimento. Então é lógico que eu queria essa discussão no programa”, revelou sobre sua empreitada na televisão, o programa Transando com Laerte. A atração, que conta com a participação do filho de Laerte, o também desenhista Rafael Coutinho, vai trazer inúmeros convidados para um bate-papo descontraído e sem barreiras. Entre os que participaram estão Xico Sá, Fernanda Takai, Angeli, Antonio Prata, Tom Zé, Marisa Orth, Gregório Duvivier e Marcelo Tas. “Tem de tudo, gente de diversas áreas. São pessoas que sempre me impressionaram e eu tinha vontade de trocar uma ideia. A maioria eu já conhecia, outros, não. Foi bem ampla

a convocatória”, explicou. Além deles, amigos e colegas de Rafael também atuam com uma intervenção gráfica de acordo com a temática da conversa. A presença do filho, inclusive, foi fundamental para que o projeto saísse do papel – tanto que em momento algum Laerte chegou a pensar em desistir. “A participação do Rafael foi muito decisiva, determinante”, admite. Vendo a mulher confiante em que se tornou, fica difícil acreditar que estar sob os holofotes pode ser um incômodo. “Eu sou mais travadi-

nha do que pareço. Mas não diria que tive timidez, tive terror! Protagonizar um programa e receber pessoas não são coisas tranquilas. Foi medo de estar no centro das atenções, não é uma coisa confortável para mim”, desabafa entre risos. Apesar de não se sentir tão à vontade com o fato, é impossível que Laerte não se torne o centro das atenções. Embora a timidez ainda esteja presente na hora de falar sobre sua mudança. “Eu tenho aparecido bastante por aí. Não tenho o menor receio de chocar as pessoas, estou

FOTOS: ALINE ARRUDA, CAUE PORTO, DIVULGAÇÃO

Do jornal para a TV – Na página ao lado, uma das tirinhas com o estilo característico de Laerte. Nas imagens acima, registros de seus encontros no programa do Canal Brasil. Em sentido horário: com Tom Zé, sozinha no estúdio, abraçando Marisa Orth, rindo com Marcelo Tas e recebendo Gregório Duvivier

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vivendo um momento muito tranquilo. Nem todo mundo sabe quem é Laerte ou que Laerte desenha ou que a pessoa que faz aqueles desenhinhos se chama Laerte. Quem me conhece sabe que sou uma mulher e não homem”, completa. Tanto que ela não teve dúvidas na hora de batizar a atração. “Queria in-

corporar a palavra trans, de algum jeito, por causa da ideia que o prefixo carrega, de travessia, transição. Quis também recuperar o sentido que a gíria transar tinha nos anos 1970, que era se ligar com as coisas, trocar experiências e ideias e não só fazer sexo. Uma transação se referia a qualquer coisa que estivesse sendo criada e produzida. Quis fazer esse duplo sentido, deixar uma sugestão maliciosa interessante. Não que eu tenha feito sexo com alguém no programa, mas isso nem é da conta dos telespectadores...”, provoca ao explicar o nome.

O medo das câmeras foi claramente superado, como sua empolgação com a estreia na TV deixa claro: “Gostei muito! Essa experiência me deu vontade de fazer mais algumas coisas, talvez em um modelo diferente. Algo que vá ao ar imediatamente e com teor jornalístico, de reportagem. Não sei ainda. São ideias que estão aqui cozinhando. Continuar na televisão é uma possibilidade, gosto da ideia”. Ou seja, mesmo depois dos 26 episódios que irão ao ar no Canal Brasil, pode contar que em breve você verá mais de Laerte Coutinho, se depender da vontade dela. J U N H O + M o­n e t + 5 5


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