TUDO EM FAMÍLIA Superprodução em formato de série, com diretor e astro respeitados no cinema, Os Bórgias reescreve a saga do clã que tomou conta do Vaticano com táticas que não devem nada à máfia por Sarah Mund
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Em torno do poder – Os integrantes da família Bórgia reunidos na basílica de São Pedro, onde as amantes e os filhos do Papa Alexandre VI também se envolveram ativamente na política do Vaticano
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de uma boa história de conspiração e intrigas, a série histórica que mostra os bastidores do poder na Igreja Católica do século XV é um prato cheio. E os que se ligam mais em um bom drama recheado de sexo e romance também serão agraciados. Em um dos vídeos de divulgação de Os Bórgias, o próprio criador, roteirista e diretor da série, Neil Jordan – cineasta que tem filmes como Traídos pelo Desejo e Entrevista com o Vampiro no currículo –, fez uma boa comparação ao analisar o romance do qual adaptou as histórias sobre a infame família espanhola: “Mario Puzo [autor não só de Os Bórgias, como de O Poderoso Chefão] levou a máfia para a Roma da Idade Média”. A produção mostra as tramas da família Bórgia, OS BÓRGIAS que não só se tornou a mais poderosa durante I DIA 7, DOMINGO, o Renascimento, mas também, provavelmen22H, TCM, 91 te, a mais perversa, manipuladora e incestuosa de todos os tempos. No centro do clã, unido para o bem e o mal, está o personagem de Jeremy Irons (vencedor do Oscar de melhor ator por O Reverso da Fortuna), Rodrigo Bórgia, que através de propina e compra de votos foi eleito papa Alexandre VI em 1492. Ficou conhecido como um dos mais corruptos da história da Igreja Católica. “Naquele tempo, o papa não era tão diferente dos reis medievais. Isso choca uma parte da audiência e ela começa a questionar a honestidade da Igreja. Mas, para eles, naquele tempo, essa era a realidade. Eu acho que ele era um cara até decente, mas todos acham que são. George Bush, Silvio Berlusconi e Stalin provavelmente também se achariam boas pessoas. Cabe a nós julgá-los”, afirmou Irons, em rodada de entrevistas para promover a estreia nos EUA. Os relacionamentos do Papa com a mãe de seus filhos, Vanozza Cattaneo (Joanne Whalley), e com sua amante, Giulia Farnese (Lotte Verbeek) são de conhecimento não só de todo o colegiado de cardeais como de toda a cidade de Roma. Ele aproveita ainda para usar seus filhos para fazer política. O mais velho, Cesare (François Arnaud), é nomeado cardeal por seu pai, mesmo contra a sua vontade, e é responsável por manter os oponentes dos Bórgias dentro do Vaticano sob controle. Juan (David Oakes) foi criado com a mente de um estrategista militar e se torna o comandante do exército papal. Gioffre (Aidan Alexander) se casa, com apenas 13 anos de idade, com a filha bastarda do rei de Nápoles, numa tentativa de manter o ter48+Monet+AGOSTO
ritório italiano unido. E Lucrécia (Holliday Grainger), provavelmente a segunda integrante mais famosa da família depois do próprio pai, é usada por Rodrigo como moeda de negociação. Seu primeiro casamento foi com o nobre Giovanni Sforza (Ronan Vibert), na intenção de obter o apoio dos exércitos de sua próspera família. Mas o matrimônio foi de curta duração e anulado pelo próprio papa em uma audiência no mínimo humilhante para o marido, que não foi capaz de demonstrar sua virilidade na frente dos cardeais. Apesar de Lucrécia ser retratada como uma jovem ingênua, que precisa aprender que a inteligência é fundamental para as mulheres que almejam o poder, seu personagem vai crescendo ao longo dos episódios, chegando mais perto da imagem que habita o imaginário popular. “Aparentemente há várias interpretações de quem ela foi. De uma simples vítima sob influência de sua família a uma vilã manipulativa, que é o que o povo parece acreditar mais”, ponderou Holliday sobre sua persona-
Igreja x Cinema
Agnes de Deus (1985) Uma psiquiatra (Jane Fonda) é enviada a um convento para investigar a gravidez de uma noviça, que foi considerada milagrosa pela madre superiora (Anne Bancroft). Recebeu três indicações ao Oscar
FOTOS: DIVULGAÇÃO
ARA AQUELES QUE GOSTAM
Não é de hoje que a Igreja Católica
A Última Tentação de Cristo (1988) Baseado no livro de Nikos Kazantzakis, o filme de Martin Scorsese – indicado ao Oscar de melhor diretor – mostra Jesus em seus últimos anos de vida como um homem que sucumbiu aos pecados humanos.
Família em ação – A partir da esquerda: a afeição nutrida pelos irmãos Lucrécia e Cesare Bórgia quase beira ao incesto em alguns momentos; Rodrigo Bórgia, no dia de sua nomeação como o papa Alexandre VI; Abaixo, registro dos bastidores da gravação das cenas com o exército do rei francês
gem. Segundo Neil Jordan, Lucrécia irá se tornar a principal força diplomática do pai, chegando a ficar a cargo do Vaticano durante uma viagem do papa, o que chocou o mundo todo na época. “Isso não será mostrado na primeira temporada, mas na próxima, com certeza”, revela o autor sobre o segundo ano da série, cujo roteiro já está sendo elaborado. Mas não só as manobras políticas e o apetite sexual da família impressionam. Algumas sequências de batalha, em especial a da invasão francesa, em 1495, que com suas balas de canhão acorrentadas destruíram a cidade de Lucca, chocam. Outra cena, digamos, nauseante, mostra o mórbido hábito do rei de Nápoles, ele mesmo já à beira da morte, de embalsamar seus inimigos mortos em volta de uma mesa de seu castelo à imagem da Santa Ceia. O que não causa nenhuma estranheza em seus filhos, mas verdadeiro repúdio do reiCharlesdaFrança,quandoesteinvadeocastelo.“Havia muitas oportunidades para explorar os escândalos, mas eu estava mais interessado na história do esforço pelo poder e o que isso causou nessa família. Eu tentei ficar o mais próximo possível da história real, e não precisei inventar muito para deixar a história fascinante, porque o que eles viveram foi bastante extraordinário”, explica Jordan. Matéria-prima suficiente para fazer com que os nove episódios de Os Bórgias entrem para a história. Da televisão.
se desentende com produções que a retratam – de forma fiel ou não. Confira alguns dos filmes que entraram para a lista negra do Vaticano
O Padre (1994) Quando um padre é enviado a uma paróquia em Liverpool, ele se surpreende ao descobrir que seu superior não respeita o celibato e começa a se questionar ao descobrir sua própria homossexualidade
O Código Da Vinci (2003) O best-seller de Dan Brown já havia entrado para a lista de livros proibidos pelo Vaticano e o filme estrelado por Tom Hanks também causou polêmica, já que o romance teoriza que Cristo teria casado e gerado herdeiros.
A Paixão de Cristo (2004) O longa de Mel Gibson, que mostra a via-crúcis de Jesus de maneira relativamente fiel às Escrituras cristãs, foi criticado por ser excessivamente violento. Mas foi um grande sucesso de bilheteria
Má Educação (2004) Como bom provocador que é, o diretor espanhol Pedro Almodóvar mostrou a história de dois garotos descobrindo o sexo em uma escola católica nos anos 1960 e que foram separados por um padre pedófilo
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