Especial
Economia Criativa
Ano II, nº 10, Dezembro 2014
Criatividade em cada canto da capital
Projeto Territórios Criativos faz uma leitura de sete áreas da capital baiana para incrementar negócios locais A Economia Criativa não é nova na Bahia. Na trajetória histórica do povo baiano, ela borbulha sempre com originalidade e inovação na construção de cada música, peça de artesanato, vestuário, comida, livro, quadro, poesia. Em Salvador, nos mais diversos recantos, são evidentes as iniciativas abastecidas de criatividade e talento dos moradores locais.
das comunidades, na promoção da qualidade de vida e na transformação socioeconômica. Para conhecer e analisar a potencialidade econômica de cada território, os consultores do Sebrae realizaram um diagnóstico com o mapeamento e identificação dos empreendimentos criativos locais e entrevistaram os moradores. Foram realizadas consultorias técnicas individualizadas em cada empreendimento, com abordagens relacionadas à gestão de negócio, comercialização e fortalecimento da governança. Neste Informativo Especial estão apresentados alguns cases de sucesso de cada um dos Territórios Criativos. São empreendimentos que revelam um valor para além do mercado, um valor que não pode ser mensurado. As histórias trazem paixão, garra e conhecimento, a fórmula perfeita do empreendedorismo. Foto: João Alvarez
O melhor é que estas iniciativas e projetos estão imbuídos de uma potencialidade econômica efervescente, salientada de vitalidade e paixão. E é com este olhar que repousa o Projeto Territórios Criativos, apostando na criatividade do empreendedorismo local, que atua nos sete territórios mapeados de Salvador: Candeal, Rio Vermelho, Ribeira, Bonfim, Comércio, Santo Antônio Além do Carmo e Curuzu. O projeto surgiu em 2011, com o objetivo de incentivar a competitividade dos destinos turísticos de Salvador. Dois anos depois, tomou corpo e passou a fazer parte do Projeto Estruturante da Economia Criativa da Bahia, recebendo
o apoio do Sebrae Nacional, com a disposição de fomentar os pequenos negócios nesses sete territórios criativos. Posicionadas estrategicamente, as áreas selecionadas no projeto reúnem características singulares, despertam a atenção de quem visita por exibir a diversidade da informação cultural, histórica e turística. São redutos acolhedores, habitados por um povo hospitaleiro e que emanam a beleza natural de suas praias, contam a história do Brasil em sua arquitetura, traduzem a religiosidade estampada nas igrejas e a arte na riqueza das suas manifestações musicais. O projeto Territórios Criativos atua nesses cenários, apoiando e qualificando 102 empreendimentos com a intenção de torná-los mais competitivos. O projeto desenvolve ações inovadoras no segmento criativo, buscando uma lógica de atuação intersetorial e participativa. Nessa linha, o projeto tem uma amplitude macrossocial, defendendo a valorização
A Ribeira integra o Projeto Territórios Criativos, que surgiu em 2011, com o objetivo de incentivar a competitividade dos destinos turísticos de Salvador
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Marca da identidade cultural Foto: João Alvarez
Empreendedores do Candeal buscam valorizar o espaço e preservar suas heranças
Em sua loja no Candeal, a microempreendedora individual Miralva de Souza Batista comercializa bijuterias, artigos de papelaria, objetos de decoração, roupas de cama, vestuários, brinquedos e sandálias
Caminhando pela rua principal do Candeal, uma menina para em frente à Esquina 43 e olha com a admiração o look da manequim da loja. “Todos os dias eu troco as roupas dos manequins. A criançada moradora da comunidade sempre para aqui em frente à loja e fica apreciando os shorts, biquínis, vestidos”, comenta a microempreendedora individual Miralva de Souza Batista, que está a frente do negócio há 12 anos. Moradora do Candeal desde 2002, Miralva possuía uma pequena loja e se mudou para o espaço vizinho bem maior. A empreendedora comercializa itens demandados pela comunidade, desde bijuterias, artigos de papelaria objetos de decoração, até roupas de cama, vestuários, brinquedos e sandálias. A Esquina 43 fica numa localização privilegiada do bairro e apresenta uma fachada de cor vibrante amarela, com desenhos em grafites, que inspiram modernidade, e chamam atenção de turistas que posam na porta para fotografia. Ela conta que antes a cor externa do imóvel era verde e a ideia da mudança ocorreu durante consultoria do Sebrae, depois de se integrar ao Projeto Territórios Criativos, com o propósito de diferenciar e modernizar
o negócio, criando uma identificação cultural com o Candeal. “O importante é inovar, planejar e qualificar o atendimento sempre”, comenta a empresária, que mantém um vínculo com o Sebrae há mais de 10 anos. Já participou do Empretec e de vários cursos, dentre eles, o Saber Empreender, Atendimento ao Cliente, Formação de Preço, Como Arrumar Vitrine, entre outras capacitações. Com os ensinamentos da instituição, ela aprimorou suas características empreendedoras e hoje executa a atividade com capricho. Costuma fazer pesquisa de tendências da moda, todos os meses viaja para Pernambuco e São Paulo para comprar mercadorias e sempre participa de licitações de material escolar na Escola Pracatum e creches da região. Com um sorriso largo e bem falante, ela vai atendendo os clientes, constituídos, prioritariamente, por moradores do Candeal e Cidade Jardim, além de turistas e músicos que frequentam a região. Dentre eles, está o morador ilustre, o cantor e compositor Carlinhos Brown, que fielmente compra sandálias na Esquina 43.
URBANISMO NA SONORIDADE PERCUSSIVA A comunidade do Candeal, que integra o bairro de Brotas, apresenta um cenário acolhedor, com casarios preenchendo ruelas que, por sua vez, contrastam com a região vizinha do bairro Cidade Jardim, formada por suntuosos e modernos prédios. Tem ares urbanos embalados pela sonoridade percussiva, enraizada da herança cultural africana, que soa das escolas de músicas que ali se encontram. Ao longo de 30 anos, quando começou a ser habitado, o local foi palco de lutas dos moradores em busca de reconhecimento e de melhorias. Hoje, reúne associações comunitárias atuantes, que desenvolvem trabalho social, aliado à aprendizagem da música, a exemplo da Escola de Música Pracatum Ação Social, criada por Carlinhos Brown, além da Associação Lactomia Ação Social (ALA) e a Associação 9 de outubro. O comércio do Candeal é constituído de pequenas lojas, salão de beleza, mercadinhos e bares, que atendem a comunidade e moradores circunvizinhos.
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Memórias familiares Bistrô localizado no Rio Vermelho revive as lembranças dos avôs das empresárias Cristiane e Waldemea Souza de Oliveira aumentando a demanda e fazendo com que ela ampliasse a coleção de roupas. Há cinco anos, Cristiane abriu uma pequena loja no Rio Vermelho. Em seguida, aumentou a equipe de produção e se tornou sócia do marido, José Antonio Vieira, e da irmã. Há seis meses, o empreendimento está instalado na Vila 14, explorando moda, gastronomia e arte em um único espaço, o que destina um diferencial ao negócio. A maioria dos produtos é desenvolvida pelas próprias empresárias. As refeições e lanches seguem uma linha saudável, com massas artesanais, grelhados e saladas, além de 10 tipos de café. Já as peças e objetos decorativos, também
Foto: João Alvarez
Entrar no Bistrô Dona Xica /Seu Liberatto é conhecer um pouco a tradição familiar das sócias e irmãs Cristiane e Waldemea Souza de Oliveira. A mesa grande do restaurante lembra a casa da fazenda dos avôs, no município de Mutuípe, onde seu Liberato oferecia farto café para 12 filhos e vizinhos. Já a beleza das peças e objetos comercializados na loja remete à dona Xica, uma mulher vaidosa, que não dispensava joias e unhas pintadas. Inspirada no bom gosto de dona Xica, há oito anos, Cristiane começou a produzir bijuterias, bolsas e roupas, usando um quartinho da sua casa como ateliê. Despretensiosamente, vendia para clientes avulsos e nos bazares. Só que o negócio fez sucesso. O diferencial dos produtos agradou,
Junto com sua irmã, Waldemea Souza de Oliveira, Cristiane fundou o Bistrô Dona Xica /Seu Liberatto, no Rio Vermelho. No local, os clientes podem conhecer um pouco da tradição familiar das sócias
expostos no ambiente, evidenciam originalidade e delicadeza. A coleção de roupas e bijuterias exclusivas, muitas delas confeccionadas nas cores verde e azul, as preferidas de dona Xica, são assinadas pelas empresárias. Há um ano participando do projeto Territórios Criativos, o empreendimento vem recebendo consultoria técnica do Sebrae em Governança. O intuito é fortalecer a autonomia empresarial e uma das ações que está sendo incentivada é o intercâmbio entre Dona Xica e fornecedores de camiseteria do Território da Península de Itapagipe. “Está sendo muito bom esse intercâmbio comercial, pois os fornecedores têm muita qualidade”, avalia Cristiane, que está ampliando o cardápio e promete ainda incrementar até o final do ano eventos culturais, como apresentações musicais, recitais de poesia e exposições. HISTÓRIA, BOEMIA E EMPREENDEDORISMO As ruas apertadas, com casas que um dia serviram para o veraneio de abastadas famílias de Salvador, fazem do Rio Vermelho um local charmoso e atraente para baianos e turistas. Ele é considerado um bairro boêmio, de vida noturna movimentada, a qual determina um forte perfil empreendedor, com variedade de bares, restaurantes, hotéis, albergues, pousadas, lojas de antiguidade e teatro. Os históricos largos de Santana e da Mariquita cativam baianos e turistas que se deliciam com o tradicional acarajé da Dinha e de Cira, respectivamente, sob a brisa marítima da praia da Paciência. A partir das quintas-feiras, o espaço transforma-se numa festa ao ar livre, com direito a intermináveis burburinhos, que começa no fim da tarde e segue madrugada adentro. O bairro, que acolheu como moradores o casal de escritores, Jorge Amado e Zélia Gattai, guarda história e cultura brasileiras, desde que foi ocupado por Diogo Alvarez Corrêa, Caramuru, por volta do século XVI, único sobrevivente do naufrágio na praia do Rio Vermelho. Marcado pela religiosidade, o Rio Vermelho tem uma das festas populares mais concorridas de Salvador, a de Yemanjá, no dia 2 de fevereiro. A protetora dos pescadores é reverenciada por uma multidão que toma conta das ruas, dispondo presentes à rainha do mar, durante procissão marítima.
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Saborosa receita da vovó Família fabrica licor de forma artesanal durante todo o ano, cativando uma clientela fiel
“Começamos com 50 garrafas no São João de 2000. Logo, recebemos muitas encomendas. Em 2001, chegamos a produzir quase mil garrafas”, conta Edna, que aperfeiçoou a produção e fornece licor o ano inteiro. Ela executa a tarefa com dedicação e cuidado em todas as etapas de fabricação, com a escolha criteriosa de frutas sadias e a utilização de cachaça com qualidade, além da adoção de práticas de higiene e saúde. “Não temos funcionário, pois tememos a perda do controle de qualidade”, diz o filho de Edna, Alonso Carvalho. E é esse formato artesanal, a qualidade e o sabor do produto, assim como o atendimento familiar, que tanto cativam a clientela antiga e fiel. Por ser localizada numa área turística de Salvador, atrás da igreja do Senhor do Bonfim, a empresa costuma receber um fluxo significativo de turistas, inclusive de origem internacional. Os clientes degustam à vontade os diversos sabores e, quase como um ritual, saem elogiando o licor, levando mais de um produto. Para Edna, o tratamento aos clientes é feito com carinho e atenção, mas o negócio não pode perder o foco. Do Sebrae, adequou sua prática empresarial no estilo artesanal à dinâmica do negócio, recebendo consultoria de planejamento e participando de diversos cursos e das oficinas SEI Administrar, SEI Vender e SEI Comprar. “Essas ações do Sebrae foram importantes para administrar o negócio, mudando minha postura com relação ao cliente. Aprendi a dar o preço correto ao produto. Pois, quem quer qualidade tem que pagar um preço justo”, afirma ela.
Foto João Alvarez
A qualidade e tradição são características fortes do Licor da Vó Nieta, mas a excentricidade também faz parte do pequeno negócio que funciona no bairro do Bonfim. Quando iniciou a atividade, a família produzia os sabores tradicionais: jenipapo, passas, maracujá, cajá e tamarindo. Mas, hoje, o mix cresceu bastante e conta com 65 opções, podendo encontrar bebidas de atemoia, aniz, abiu, pistache, pétala de rosa, nicuri, chocolate com pimenta, milho, dentre tantos outros. O know-how de produção de licor veio de Maria Antonieta, sogra de Edna de Jesus Resch, proprietária do negócio, que iniciou a atividade com 14 anos. Com o marido e os filhos, Edna tocou com vontade o negócio, a partir 2000, alcançando excelente receptividade.
Licor da Vó Nieta, que funciona no bairro do Bonfim e é liderado pela empresária Edna de Jesus Resch e sua família oferece 65 opções de sabores para o cliente
TODOS OS CAMINHOS LEVAM AO BONFIM Os casarões antigos e a Basílica do Senhor do Bonfim traduzem a idade do bairro localizado na Península Itapagipana. As obras do templo religioso foram concluídas em 1754, na Colina Sagrada. Entretanto, a imagem do santo chegou antes a Salvador, por volta de 1745. A igreja, então, se tornou uma referência mundial, recebendo na segunda e quinta-feira do ano fiéis católicos e do candomblé, que compartilham a devoção ao santo na Lavagem do Bonfim, uma das festas mais populares do Brasil. No entorno da igreja funciona um comércio turístico atuante, que inclui
a venda de souvenires, com realce às famosas fitinhas do Senhor do Bonfim. A fita original tinha em média 47 cm de comprimento, correspondente ao braço direito da imagem de Jesus Cristo, postada no altar-mor da igreja do Senhor do Bonfim. Comercializado em toda a capital, o souvenir mais famoso da Bahia tem uma representativa enorme e corre no mundo em diversas cores, cada uma correspondendo a um orixá. Ela representa um amuleto que, segundo a tradição, a cada nó, de um total de três, deve-se fazer um pedido para que o santo concretize após o desgaste da fita.
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Ponta da arte, cultura e história Instituto funciona como ponto de visitação turística da Cidade Baixa e moradores da região Há 12 anos, quando chegou ao Brasil, o jornalista e professor de música e teatro, Pietro Gallina, ficou fascinado com a beleza natural e a riqueza cultural e histórica da Península Itapagipana, no Subúrbio de Salvador. Entretanto, ele desejava que toda essa memória fosse respeitada, preservada e difundida. Logo, identificou um majestoso casarão construído pela família Amado Bahia, datado de 1902, situado à beira-mar do bairro da Ribeira, para desenvolvimento de um projeto social. Com a mulher Marlene Souza e um grupo de professores e artistas, ele criou o Instituto Cultural Brasil Itália Europa (ICBIE), voltado aos moradores e visitantes da Cidade Baixa. A proposta era valorizar e difundir as características locais e motivar a integração da Bahia com a cultura europeia, em especial a Itália, tendo sempre como pano de fundo a arte, cultura e história de ambos os povos. “É evidente a riqueza histórica da Península Itapagipana, com tanta autenticidade dessa gente, tão cheia de vitalidade e com vida pulsante”, afirma o jornalista. Ele ressalta que o local tem inúmeros motivos para ser uma das regiões consideradas de significativo valor histórico, vistos em arquitetura, artesanato, música, dança teatro e outros.
E não deu outra. O ICBIE se tornou uma forte referência artístico-cultural dos moradores da região. Integrado ao Núcleo de Governança do Projeto Territórios Criativos do Sebrae, recebeu consultoria técnica para funcionar como ponto de visitação turística da Cidade Baixa. O local fervilha criatividade, sendo contemplado com ações temporárias relacionadas à Economia Criativa. Os jovens, principalmente, ocupam as amplas instalações do casarão, reúnem-se em ações educativas, sociais, artísticas e musicais. Eles usam o espaço para apresentação de produções locais, como bandas, recital de poesia, vídeos, documentários e realização de bazar. Ainda participam das turmas dos cursos de idiomas (sobretudo inglês e italiano), dança, capoeira, informática, fotografia, cinema e música, ministrados gratuitamente pelo Instituto. O salão principal abriga exposições artísticas e possui biblioteca com rico acervo de 14 mil títulos. O ICBIE é provido de doação de voluntários e parcerias com os governos locais. O dinheiro é utilizado na manutenção do espaço e na realização dos cursos. Atualmente, atende cerca de 100 jovens com a proposta de formação de cidadania e valorização cultural, com
a consequente geração de emprego e renda e qualidade de vida. O espaço ainda recebe estudantes e voluntários de outros países para intercâmbio cultural a baixo custo. ARES BUCÓLICOS DA RIBEIRA O encantador bairro da Ribeira integra a Península Itapagipana, e congrega também os bairros da Calçada, Mares, Roma, Bonfim, Boa Viagem, Baixa do Fiscal, Machado, Ribeira, Vila Rui Barbosa, Monte Serrat, Mangueira, Uruguai, Massaranduba, possuindo uma população de 200 mil habitantes. A Ribeira tem personalidade própria. Seus moradores ainda preservam costumes de cidades do interior ao colocar cadeiras nas calçadas para sentar e conversar. A principal avenida do bairro, Porto dos Tainheiros, é integrada por igrejas, casarões antigos, clubes de regatas e de remo, escolas e um comércio diversificado. Destaca-se a tradicional Sorveteria da Ribeira, que se consolidou como um dos atrativos da Cidade Baixa, sem falar dos restaurantes típicos de comida baiana e frutos do mar. A orla da Ribeira ampara boa parte das atividades náuticas de Salvador e favorece a prática de esportes dessa natureza, sobretudo o remo. Foto: João Alvarez
Pietro Gallina identificou um majestoso casarão na Ribeira, datado de 1902, para fundar o Instituto Cultural Brasil Itália Europa (ICBIE), voltado aos moradores e visitantes da Cidade Baixa
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Autenticidade cultural e produtiva Casal de artistas reconhece importância do empreendedorismo para projetos culturais Foto: João Alvarez
produto da dupla de empresários, com forte apelo cultural. É reconhecido pela qualidade musical levada às ruas no Carnaval e na Festa do Bonfim. Este ano, participou da programação da inauguração da nova Barra, da Prefeitura de Salvador. “É um prazer enorme perceber o olhar das pessoas enquanto tocamos e muito gratificante ter essa chance de colocar música com padrão de qualidade em evidência”, diz Huol. Tanto o microtrio quanto a banda base do Jam no MAM levam a boa música para ambientes corporativos também. Os empresários e artistas conquistam, assim, um novo nicho empresarial, integrado por grandes empresas do segmento automobilístico, petróleo e gás e imobiliário. A diversificação das atividades da Huol Criações se deu em 2007, na retomada da jam session, aproveitando as novas condições da política cultural regionalizada, adotada pelo governo federal. A empresa aproveitou para explorar o ramo da dramaturgia, produzindo alguns espetáculos, como o projeto “Um Piano, o Bolero e a Galinha”. Além disso, eles produziram o musical infantil “Papagaio”, com músicas inéditas de Chico César. “Acho muito importante a política de fomento e capacitação. O segmento artístico tem grande potencial em todo o Brasil para movimentar a economia e o turismo”, opina Cacilda. TURISMO E NEGÓCIOS NO COMÉRCIO
Ivan Huol e Cacilda Povoas fundaram o Huol Criações, espaço para encontro casual de músicos do Brasil e de outros países
O músico Ivan Huol e a dramaturga Cacilda Povoas têm em comum não apenas a paixão pela arte, mas o reconhecimento de projetos culturais como negócio produtivo. Dessa forma, o casal concebeu, em 1998, a Huol Criações, atualmente com foco na criação e produção artísticas. A empresa foi criada, em 1992, com a intenção de produzir o Jazz no MAM, criado por Huol, a partir de uma bem sucedida experiência de palco aberto a músicos durante um almoço de seu aniversário. “O negócio cresceu tanto que levamos para o espaço público do Icba”, lembra Cacilda. Após uma parada de cinco anos (de 2001 a 2006), o projeto é atualmente o principal produto da empresa, apresentando uma versão
baiana de uma jam session, que acontece em várias partes do mundo. Com o nome Jam no MAM, o projeto é realizado, sempre aos sábados, no cenário encantador do Museu de Arte Moderna (MAM), na Avenida Contorno, em Salvador, iniciando sempre ao pôr do sol. O que ocorre é um encontro casual de músicos, do Brasil e de outros países, dedicados à música instrumental. Recebidos pela banda anfitriã do Jam no MAM, os músicos dão uma “canja” e transformam o momento num grande espetáculo. Também idealizado pelo músico, em 1996, o inusitado microtrio é outro
É indiscutível como a região do Comércio foi desenvolvendo características empreendedoras, o que lhe confere como um dos principais centros financeiros de Salvador. Bancos, faculdades, restaurantes, correio, empresas e um fluxo intenso de pessoas e carros que transitam pelo local contrastam com a maravilhosa vista da Baía de Todos-os-Santos que margeia a região. Edificações, praças e monumentos deste território revelam a história do Brasil e fazem do Comércio um dos locais mais visitados e apreciados pelos turistas. A região é demarcada por atrações, como Mercado Modelo, Forte São Marcelo, Solar do Unhão, Museu de Arte da Bahia, Associação Comercial do Estado da Bahia, Mercado do Ouro e, atualmente, o Museu do Ritmo. Ali estão instalados três importantes meios de transporte que ligam a parte alta e baixa da cidade: o Elevador Lacerda e os planos inclinados Gonçalves e da Liberdade.
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A boa comida baiana O empresário Jorge Lopes está à frente de um estabelecimento situado em uma das áreas privilegiadas de Salvador Quem chegar ao bairro de Santo Antônio Além do Carmo e procurar o Bar e Restaurante Ulisses, não tem como errar. Todo mundo sabe onde fica. Após o Largo, segue à Rua Direita do Santo Antônio e lá está ele, no casarão azul, número 541. A visibilidade do empreendimento de Jorge Lopes vem desde quando o seu pai o criou, então como um bar, há 50 anos, do outro lado da mesma rua, onde está instalado. Mas foi a partir de 2010, quando Lopes assumiu os negócios, que a dinâmica da atividade tomou novos rumos empresariais. Atualmente, o restaurante tem uma equipe de 15 funcionários e se destaca como um atrativo turístico e gastronômico do Centro Histórico de Salvador. Com forte presença da comida baiana, o cardápio apresenta uma variedade de petiscos, caldos, bebidas e pratos que agradam diferentes paladares, indo da moqueca de peixe, passando pelo cozido, feijoada, mocotó e massas. “Quando mudamos para o novo casarão, eu queria um grande restaurante”, conta o empresário, lembrando que o entusiasmo, nesse período, fez ele procurar o Sebrae. De lá para cá, não largou mais o apoio técnico da instituição e não perdeu
a oportunidade de profissionalizar o negócio, adotando as propostas de soluções e inovações. Aproveitou para participar do Programa 5 Menos e que são Mais, o que garantiu uma economia de 70% nos gastos operacionais, com redução do desperdício de alimentos e gastos com energia elétrica, além de receber consultorias na área financeira. Neste ano, por meio do Projeto Territórios Criativos, o restaurante participou do curso de Manipulação de Alimentos, inserido nas ações do Festival de Gastronomia e Cultura da Bahia, promovido pelo Programa Sebrae 2014, em Salvador, entre julho e agosto. Jorge participou também do Projeto Comida di Buteco, que tem o Sebrae como um dos apoiadores. Ainda pelo Territórios Criativos, teve a chance de capacitar seus colaboradores e fez parte da turma do curso de Marketing e de Relacionamento com o Cliente, sempre com a preocupação de qualificar a atividade e promover a visibilidade do estabelecimento. “O trabalho é duro, mas procuro qualificar meu negócio, oferecendo bom atendimento à clientela”, acrescenta ele. RELÍQUIAS DO SANTO ALÉM DO CARMO
ANTÔNIO
Localizado no Centro Histórico de Salvador, entre o Barbalho e Pelourinho, tendo ao fundo a Baía de Todos-os-Santos, o Santo Antônio Além do Carmo revela-se uma das mais antigas comunidades de Salvador, com casarões, sobrados, monumentos e igrejas, verdadeiras preciosidades históricas. A Cruz do Pascoal, a Praça do Coreto, o Forte do Santo Antônio, a Igreja Ordem Terceira do Boqueirão e o charmoso Convento do Carmo dividem espaço com restaurantes, bares, cafés, pousadas, hotéis, ateliês, antiquários e espaços culturais. O Santo Antônio Além do Carmo teve moradores ilustres, como o poeta Castro Alves. O casarão onde o poeta morou com a família, quando criança, na Rua dos Passos, funciona hoje como espaço cultural. O bairro atrai predominantemente músicos, publicitários, escritores, pintores, jornalistas, historiadores e a programação cultural é diversificada, incluindo o tradicional Samba do Botequim, comandado pelo Grupo Botequim, todas as últimas sextasfeiras do mês, além da Feirinha Artes, Maravilhas e Esquisitices, montada pelos próprios moradores. Foto: João Alvarez
Bar e Restaurante Ulisses aposta na gastronomia local para dar visibilidade ao empreendimento criado há 50 anos
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Arte na cabeça Geruza Menezzes busca valorizar a cultura afro através de penteados Foto: João Alvarez
CULTURA E VIDA EM CURUZU O bairro do Curuzu, situado entre a Liberdade e Avenida San Martin, tem uma identidade cultural própria, com característica marcante da africanidade. Ali nasceu primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Ayê, que reúne diversas pessoas, em frente a sua sede, no sábado de Carnaval, para a tradicional saída do bloco. O universo do Curuzu é rico em música, dança e gastronomia africanas, permeado com o aroma dos quitutes da Bahia: o acarajé e abará. E a religiosidade é acentuada com a presença de 16 terreiros de candomblé. Densamente habitado, o bairro tem uma população com mais de 23 mil habitantes que se movimentam em ruas apertadas, becos e travessas, sendo a concentração maior na rua principal, a Direita do Curuzu. Geruza Menezzes, dona do salão que leva o seu nome, é referência na arte de trançar, fazer penteados e criar turbantes, promovendo a valorização da beleza e o fortalecimento da autoestima da mulher negra
Com movimentos rápidos, a empresária Geruza Menezzes vai trançando os cabelos da cliente do salão de beleza, no bairro do Curuzu, do qual é proprietária. Com 11 anos de funcionamento, o empreendimento leva seu nome, afinal foi naquela região que nasceu, cresceu e possui forte identidade cultural. Geruza, que já foi rainha do bloco IIê Ayê, se tornou referência afrobrasileira na região na arte de trançar, fazer penteados estilizados, criar turbante, realizar maquiagem, implantar megahair, promovendo a valorização da beleza e o fortalecimento da autoestima da mulher negra. Ela passa horas a fio com a cliente, conversando, dando boas risadas. O ofício, aprendeu com a mãe, Hilda, e foi profissionalizado com a famosa Negra Jô, especialista em penteado afro, quando morou no Pelourinho. “Fiquei muitos anos no Pelô, onde aperfeiçoei meu trabalho com a ajuda da minha mãe emprestada, mas quis voltar para o Curuzu”, disse. Na época, teve que optar pelo empreendedorismo na área de beleza e descartar a área de gestão de eventos. Com a renda obtida na atividade do Salão Negra Jô, onde trabalhava, foi montando o empreendimento, comprando equipamentos e produtos para então criar seu próprio negócio.
Geruza trabalha duro e cuida pessoalmente de todas as tarefas empresariais, como administração financeira e compra de material. O salão se tornou referência no Curuzu e Liberdade, ponto de encontro de turistas, inclusive estrangeiros. No período de verão, a demanda é grande e, no Carnaval, ainda mais intensa, atendendo muita gente que amanhece na fila de espera. Mas o melhor de tudo é que ela vive sorrindo enquanto atende a clientela, que mantém forte relação de respeito. “Os meus clientes são meus patrões. Ouço e entendo eles. Temos que ter um serviço de qualidade e que atenda a clientela. O que eles desejam, eu tento satisfazêlos”, afirma. Uma das suas inovações no negócio foi o Dia da Noiva, oferecendo um espaço dotado com banheira de hidromassagem e suprido com pétalas de rosa para a cliente passar o dia, antes da cerimônia, tendo todos os mimos e assistência à beleza. A relação com o Sebrae, Geruza mantém em toda a trajetória do negócio, com participação em cursos e consultorias, sobretudo na área financeira. Ela defende a importância de vender um serviço de qualidade que promova o crescimento e geração de receita. A sua expectativa é para o verão 2015, quando pretende colocar um bar intimista no próprio salão para a clientela e produzir brindes com a cara do empreendimento.
Expediente
Informe Conexão Especial
Economia Criativa Ano II, nº 10, Dezembro de 2014
Presidente do Conselho Deliberativo João Martins da Silva Júnior
Diretores
Edival Passos Souza Lauro Alberto Chaves Ramos Luiz Henrique Mendonça Barreto
Unidade de Marketing e Comunicação
Cássia Geraldi Montenegro – Gerente marketing@ba.sebrae.com.br
Agência Sebrae de Notícias
Carlos Baumgarten, Carla Fonseca, Maria Clara Lima, Silvia Araújo e João Alvarez (Foto) (Varjão & Associados Comunicação) www.ba.agenciasebrae.com.br
Sebrae Bahia
www.ba.sebrae.com.br 0800 570 0800
A utilização da marca Sebrae é de uso exclusivo do titular da mesma. Seu uso por terceiros, sem autorização prévia, expressa e formal da Unidade de Marketing e Comunicação do Sebrae Bahia, é passível de punição, conforme previsto pela Lei da Propriedade Industrial nº 9279/96.
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