Bahia: Terra da Cultura - 2014

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Bahia: Terra da Cultura

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Bahia: Terra da Cultura

eCONOMia da CULtUra CULtUra de Cara NOva Cultura é vida - 10 Agora é de lei: Novos marcos legais protegem a diversidade cultural na Bahia - 18 Democracia da Cultura - 26 Gente é para brilhar - 30 As falas do corpo - Beth Rangel | Perfil - 36 Tudo novo de novo - 38 Vai, Carlos - Carlos Prazeres | Perfil - 44 Fôlego renovado - Jorge Vermelho | Perfil- 49

CULtUra O aNO iNteirO Que Saudade da Bahia - 70 Festa da Diversidade - 76 Memória revelada - 84 Teia Viva da arte - 90 Êta cabra da peste - 98 Outra cena na Terra do Sol - 104 Mulheres em foco - 112 Antes de tudo um forte - 114 Honra ao mérito - 118 III Encontro das Culturas Negras – 124

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Investindo em sonhos - 52 Calendário feito de arte - 58 A gente quer dinheiro e felicidade - 64

bahia revisitada Cultura em movimento - 130 O segredo é preservar - 136 Mapa da Mina - 142 Nada será como antes – 146 Novos caminhos do Pelô - 150 Terra de todos nós - 160 Vitrines da Bahia - 172 Novos tempos, novos dias - 180

sUMÁriO

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Bahia: Terra da Cultura

BAHIA: TERRA DA CULTURA - PUBLICAÇÃO DA SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA | ANO 2 - Nº2 2014 GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA: Jaques Wagner SECRETÁRIO DE CULTURA: Albino Rubim CHEFE DE GABINETE: Rômulo Cravo

ENTENDA A SECULTBA A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia atua através de duas superintendências, três unidades vinculadas, um centro de Culturas Populares e Identitárias, e possui ainda como órgão vinculado o Conselho Estadual de Cultura. Conheça melhor cada unidade:

DIRETOR GERAL: Thiago Pereira SUPERINTENDENTE DE PROMOÇÃO CULTURAL: Carlos Paiva

SUPERINTENDÊNCIAS:

SUPERINTENDENTE DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DA CULTURA: Sandro Magalhães

Superintendência de Promoção Cultural (SUPROCULT) Gere os mecanismos financeiros de apoio à cultura, tais como o Fazcultura e o Fundo de Cultura do Estado da Bahia (FCBA). Além disso, a Superintendência também atua na área de Economia da Cultura.

DIRETORA DO CENTRO DE CULTURAS POPULARES E IDENTITÁRIAS: Arany Santana DIRETORA DA FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA: Nehle Franke

Superintendência de Desenvolvimento Territorial da Cultura (SUDECULT)

DIRETORA DA FUNDAÇÃO PEDRO CALMON: Fátima Fróes

Responsável pela política de territorialização da cultura, a SUDECULT trabalha em prol do desenvolvimento e fortalecimento da cultura e direito à cidadania na capital e no interior do estado.

DIRETORA DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA: Elisabete Gándara

PESQUISA E PRODUÇÃO DE TEXTOS REDE ASCOM SECULTBA: Adriana Jacob, Bruno Machado e Rodrigo Lago - SecultBA, Windson Souza - CCPI, Paula Berbert – FUNCEB, Camilla França e Jamile Menezes - FPC, Geraldo Moniz e Silvana Malta - IPAC, Gabriel Camões - TCA, Yara Vasku – DIMUS, Cátia Albuquerque e Susana Serravalle (MAM), Eder Santana - Conselho Estadual de Cultura e Cleide Nunes – Palacete das Artes e Museu de Arte da Bahia

UNIDADES: FPC – Fundação Pedro Calmon Responsável pela produção e gestão de acervos documentais e bibliográficos que compõem a memória do Estado e da sociedade, também atua na promoção e difusão do livro e da leitura, reconhecendo e valorizando a diversidade cultural da Bahia e o pleno exercício da cidadania.

FUNCEB – Fundação Cultural do Estado da Bahia PESQUISAS DE FOTOS: Tacila Mendes e Tai Oliver EDIÇÃO FINAL: Adriana Jacob e Hilcelia Falcão PROGRAMAÇÃO VISUAL E DIAGRAMAÇÃO: Tai Oliver CAPA: Arte de Tai Oliver

www.cultura.ba.gov.br www.facebook.com/secultba www.flickr.com/photos/secultba twitter.com/SecultBA

Tem como missão criar e implementar políticas e programas públicos de artes em articulação com a sociedade, que promovam a formação, a produção e a difusão das Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Dança, Música, Literatura e Teatro.

IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Atua na salvaguarda de bens culturais tangíveis e intangíveis, além de executar políticas de preservação do patrimônio cultural e promove atividades relacionadas aos museus, gerindo, organizando e difundindo seus acervos.

CCPI – Centro de Culturas Populares e Identitárias Prezar pelos valores culturais, transcendendo a dimensão simbólica, é tarefa do CCPI. O Instituto é responsável pela execução, proteção e promoção de políticas de valorização e fortalecimento das manifestações populares e de identidade.

CEC - Conselho de Cultura De caráter normativo e consultivo, é um órgão colegiado da SecultBA que tem por finalidade contribuir com a formulação de políticas de cultura para o Estado.

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bahia terra da CULtUra

a bahia fez história também ao ser o primeiro estado do país a aprovar, na assembleia legislativa, o plano estadual de Cultura. o documento garante estabilidade às políticas culturais pelos próximos dez anos. um compromisso que vai muito além da atual gestão, assim como o plano estadual do livro e leitura e a política setorial de museus. a mesma secretaria de Cultura do estado da bahia que planeja o futuro discute o passado para transformar o presente. os 50 anos golpe militar e os 30 anos das diretas pautaram uma semana de debates sobre autoritarismo e democracia no mês de março, no Fórum do pensamento Crítico. Já o centenário de nascimento de dorival Caymmi foi comemorado com festas que tiveram início no Carnaval da Cultura e duraram até o fim do ano. a beleza do abaeté e os mistérios de itapuã, bairro mais cantado pelo artista, protagonizaram a festa na data de aniversário do compositor. nos espaços culturais da secultba, mostra de vídeo, shows e exposições. Claudia Cunha, orquestra sinfônica da bahia, balé teatro Castro alves, orquestra rumpilezz, orquestra da Fundação Cultural do estado da bahia, saulo e luiz Caldas subiram ao palco do teatro Castro alves para homenagear, em diferentes espetáculos, o artista que ajudou a escrever, com notas musicais, a identidade da bahia e dos baianos. também no tCa, a reverência virou festa familiar em um show repleto de emoção em que danilo, dori e nana cultivaram a memória e o repertório do pai. o pelô que homenageou Caymmi no Carnaval abriu seus palcos e praças para aplaudir os 40 anos do ilê aiyê e o aniversário de tradicionais blocos de matriz africana. Considerado o espaço mais seguro da festa de momo, o Centro histórico vestiu-se com as cores e ritmos da diversidade durante a Copa do mundo. seus largos e ladeiras receberam passos de gente dos mais distantes países, que conheceram de perto a tradição dos festejos juninos e participaram de alguns dos mais de 1100 shows de variados ritmos musicais que animam o pelourinho durante os 12 meses do ano.

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ricardo prado

no que depender da cultura, 2014 já é um ano histórico. afinal, mais de quatro décadas se passaram para que se conseguisse romper um dos hiatos deixados pela ditadura militar e se retomasse a bienal da bahia. para dar voz à arte silenciada, artistas do brasil e de diversos países, ao lado de um público de 75 mil pessoas, movimentaram salvador e mais de 20 municípios baianos durante 100 dias. os olhos do mundo viram uma arte e uma programação que fugiu aos formatos convencionais e elegeu como pontos expositivos de galerias a igrejas, de museus a fábricas abandonadas, de ateliês a espaços comunitários em bairros populares.

a beleza do Carnaval reluziu no brilho das mais de cem entidades que desfilaram no ouro negro, na criatividade dos microtrios do Carnaval pipoca e na originalidade do palco do rock e da festa de mascarados de maragojipe. do recôncavo, avançamos até o sertão. a iv Caravana Cultural foi conhecer de perto a cultura fértil que brota no terreno seco de 12 municípios do semi-Árido. através deste e de projetos como o FunCeb itinerante, que visitou todos os 27 territórios de identidade, a secretaria pôde elaborar políticas culturais em sintonia com as necessidades de cada lugar. lugares que são cada vez mais atendidos pelas políticas de financiamento, através de mecanismos como o Fundo de Cultura, o Fazcultura e o Calendário das artes. gente de todos os cantos da bahia também passou a ser vista e alcançou a tão sonhada cidadania através de programas como o Cultura viva. em maio de 2014, os pontos de cultura de todo o estado se reuniram em salvador, compondo uma verdadeira teia que vai da cultura afro ao teatro, do samba de roda à literatura de cordel, passando pela zambiapunga e por muitas outras manifestações culturais. manifestações que ganharam espaço durante todos os meses do ano. se o agosto é da Capoeira, setembro foi o mês da semana do audiovisual baiano Con-

temporâneo e do retorno do quarta que dança. em outubro, a celebração foi das Culturas dos sertões e, em novembro, o encontro das Culturas negras abriu as portas para o registro especial de dez terreiros de candomblé de Cachoeira e são Félix. novembro também foi o mês de homenagear organizações e personalidades de importante contribuição para a bahia com a Comenda do mérito Cultural, e de abertura da temporada verão Cênico, que este ano traz o circo como novidade na alta estação. e um ano é pouco para celebrar os 30 da escola de dança da Fundação Cultural do estado da bahia. as três décadas de empenho na formação e qualificação de pessoas inspiram essa que é uma das prioridades da secult, na busca de organizar o campo cultural, através de sua institucionalização. inaugurado este ano no Forte de serviços Criativos, o escritório bahia Criativa é outro espaço voltado para a qualificação profissional. esta nova visão, em que riqueza cultural é sinônimo de cidadania e de desenvolvimento econômico, é o tema da matéria de abertura desta edição. ao longo das páginas, o convite a um passeio pelas ações e projetos que mostram como esse jeito de pensar a cultura vem transformando o cenário e a vida das pessoas em toda a bahia. boa leitura!

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rosilda Cruz

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CULtUra de Cara NOva 8

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CULtUra de Cara NOva

um olhar mais conservador haveria de se espantar. mas “a gente trabalhou às escuras por 19 anos, porque não éramos vistos. imagine jovens de um município do interior da bahia que esperavam o sábado ou o domingo da feira pra sair pra beber. era a única diversão. antes, as pessoas chamavam as meninas e meninos de maria ou João da roça. hoje, somos do grupo de teatro. produzimos arte e viramos referência na cidade”. a voz de irenilda galvão emociona porque ela é a face real de uma transformação que muitas pessoas conhecem através de duas palavras que às vezes parecem distantes da realidade material: políticas culturais. o palco, no caso de irenilda e de tantos outros brasileiros, é o caminho que transporta bem mais que a beleza da arte e a profundidade dos textos de shakespeare, cuja a obra o grupo Cultuart, que irenilda ajudou a criar, costuma adaptar. a riqueza cultural passou a ser sinônimo de cidadania e de desenvolvimento econômico na bahia e no brasil. o palco também é metáfora: pode ser uma tela de cinema, uma sala de aula, uma praça. 10

edson ruiz

luana araújo

nova polÍtiCa amplia aCesso da populaÇÃo aos bens e meios de produÇÃo Cultural e muda perFil do setor

Foi justamente o Cultura viva que transformou a vida de irenilda e de mais de 500 pessoas em Campo Formoso, município com 80 mil habitantes localizado no norte da bahia. em 2008, quando completou 18 anos de criação, o grupo Culturart, que ela ajudou a fundar, tornou-se um ponto de cultura. e uma nova história teve início. “Foi um divisor de águas. antes, nosso trabalho era bem feito, mas era restrito. hoje, temos quatro grupos de teatro, todos institucionalizados, formamos jovens multiplicadores. produzimos e estamos utilizando os editais estaduais para produzir mais e dar continuidade ao trabalho.

Cristhiany assad

Cultura é viDa

o secretário de articulação institucional do minC, bernardo mata machado, explica que uma evolução desse conceito foi colocar a dimensão cidadã no centro da política cultural. “penso que a maior contribuição da política cultural nos últimos 12 anos, para o desenvolvimento do país, deu-se principalmente no campo social, com ênfase na ampliação do acesso da população aos bens e meios de produção da cultura. dois programas criados nesse período bastam para confirmar esse fato: no pólo da criação, o programa Cultura viva, e na fruição, o vale Cultura (ainda começando). indiretamente, ao ampliar o mercado de produção e consumo da cultura, esses dois programas influem também no campo econômico, gerando emprego e renda”, afirma machado.

Irenilda Galvão à frente do Grupo Culturart

uma mudança profunda iniciada na gestão do baiano gilberto gil no ministério da Cultura promoveu uma verdadeira revolução na vida de milhares de brasileiros. ela se instaurou no campo de maior expressão da riqueza e da originalidade do país: a cultura. as políticas culturais, equipe... desde então, consideram - como determina a Constituição de 1988 - o conceito amplo de cultura, relacionado a todos os modos de viver, fazer e criar dos grupos formadores da sociedade brasileira.

Lula Dantas - “Hoje, temos autonomia, protagonismo e empoderamento nas políticas públicas”

Grupo Culturart encena Romeu e Julieta

além disso, prevê a promoção da diversidade cultural brasileira, com especial atenção aos grupos que sofreram e ainda sofrem marginalização e discriminação e a ampliação do acesso da população aos bens da cultura. Foi introduzido, nesse período, o conceito da tridimensionalidade da cultura, que leva em consideração suas dimensões simbólica, cidadã e econômica. 11


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CULtUra de Cara NOva maíra do amaral

mais empregabilidade das pessoas e aumento de renda. além disso, vai exigir cada vez mais pessoas preparadas e qualificadas para lidar com essas questões”, avalia. a formação e a qualificação de pessoas é uma das questões centrais da institucionalidade do campo cultural, uma das diretrizes da cultura na bahia (ver box). através de linhas centrais de atuação em consonância com essa nova forma de pensar a cultura, o estado tem buscado avançar na construção de políticas públicas que levem em consideração a diversidade em todos os seus 27 territórios de identidade.

servimos como inspiração para as pessoas de nossa cidade. o próximo passo é termos nossa própria sede e equipamentos”, explica a pedagoga, diretora e atriz.

da bahia, o diálogo entre os agentes culturais e o poder público é um dos sinais dessa nova forma de pensar e fazer as políticas culturais. “hoje, temos autonomia, protago-

reFerÊnCia mundial - Criados nismo e empoderamento nas polípara dar condições de sustentabilidade a projetos e manifestações culturais sem fins lucrativos que desenvolvem ações nas comunidades locais, os pontos de cultura – principal instrumento do Cultura viva – tornaram-se referência mundial. na bahia, são 150 pontos de cultura em atividade em todos os 27 territórios de identidade. outros 128 devem ser conveniados nos próximos meses. do norte do estado, em Campo Formoso, até itabuna, no sul 12

ticas públicas. a experiência como ponto de cultura, desde 2008, tem sido muito rica. alcançamos um importante espaço, que são as escolas, onde falamos de nossa cultura e propomos o respeito à diversidade, através de oficinas de arte-educação. a principal mudança é que hoje temos uma intervenção mais continuada. dessa forma, conquistamos maior representatividade na comunidade, estamos em todos os

maíra do amaral

Diálogo na construção das novas políticas culturais

conselhos municipais e nos mobilizamos para criar os que ainda não existem”, afirma lula dantas, gestor cultural na associação do Culto afro itabunense e membro da Comissão nacional de pontos de Cultura. esse empoderamento das pessoas, decorrente da visão da cultura como elemento estruturante da sociedade, é um dos pontos destacados pelo professor da Faculdade de arquitetura e urbanismo da universidade Federal da bahia (ufba) e pesquisador do grupo arquipop, que estuda arquitetura popular, eugênio lins. “a cultura já gerava emprego, mas com essa dinamização e po-

É importante, ainda, destacar que não se pode analisar a política cultural praticada nos últimos 12 anos no brasil sem situá-la no contexto mais amplo dos governos lula e dilma roussef. “É possível dizer que a prioridade desses dois governos foi tirar do papel objetivos fundamentais inscritos na Constituição Federal de 1988, particularmente: erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades regionais, promover o bem-estar de todos sem preconceitos de raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação e introduzir a gestão democrática das políticas públicas como método de governo”, afirma machado.

Debate na V Conferência Estadual de Cultura

tencialização ela vai gerar muito 13


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CULtUra de Cara NOva lógiCa do Favor nunCa mais maíra do amaral

romper a lógica do favor, que privilegiava poucas pessoas, e passar a desenvolver políticas culturais amplas e democráticas. a travessia realizada pela cultura na bahia nos últimos anos é profunda e cheia de desafios. parte, primeiro, da consolidação da ideia de que o estado precisa fomentar e desenvolver políticas culturais. “essa ideia não é automática, porque muita gente buscava apoio para o seu projeto. sair dessa lógica é um passo significativo, assim como construir políticas culturais através do diálogo com a sociedade, estabelecido através de conferências municipais, territoriais e estadual, colegiados, Conselho de Cultura e fóruns. a partir dessas políticas culturais, passamos às políticas públicas, construídas com a sociedade”, afirma o secretário de Cultura da bahia, albino rubim.

a promoção de diálogos interculturais, a territorialização das políticas culturais, o fortalecimento da economia da cultura e o alargamento das transversalidades da cultura. pesquisador e professor da universidade Federal da bahia, eugênio lins afirma que, pela primeira vez, temos uma política cultural e sua implementação na bahia. “um projeto que acho encantador é o mapeamento arqueológico do estado da bahia, parceria do estado com a ufba, que envolve todo um processo de educação patrimonial. as ações do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia no interior estão sendo significativas”, afirma eugênio lins. Já o representante da regional do minC na bahia e em sergipe, lula oliveira, destaca o protagonismo da bahia no desenvolvimento do pensamento e da ação em torno dos processos criativos que desaguam nos programas de políticas públicas para a Cultura em âmbito nacional. “esse protagonismo se deve a um pensamento intelectual que abre todas as discussões e caminhos apontados e praticados pelo governo de esquerda do brasil. tivemos dois baianos, ministros da Cultura, ao longo dessa gestão de 12 anos. uma revolução aconteceu nesse período e gil (gilberto gil) e Juca (Juca Ferreira), os ministros baianos, foram figuras públicas históricas no seu tempo”.

desde 2007, a política cultural da bahia esteve alinhada com os conceitos, programas e projetos do governo federal. pensar em ações e projetos para além da capital foi outro desafio que tem feito a bahia se destacar diante de outros estados. “penso mesmo que o estado avançou em relação ao país quando adotou, para fins de planejamento, uma regionalização baseada na identidade cultural. os territórios de identidade são uma experiência única e inovadora. pela primeira vez na história do brasil, um governo adota critérios culturais – identidade e diversidade – para orientar suas políticas, e não somente a política cultural. do ponto de vista estritamente cultural, o mais impressionante foi a expansão das ações do governo para todo o estado, criando uma política de descentralização da cultura das mais consistentes já experimentadas no brasil”, avalia o secretário de articulação institucional do minC, bernardo mata machado.

avanços em campos como o da legislação (veja matéria na página xx), entre eles a aprovação da lei orgânica da Cultura e, recentemente, a aprovação do plano estadual de Cultura na assembleia legislativa, são significativos para o avanço do setor. mas os desafios para uma cultura plenamente cidadã

ainda são grandes. “destaco, sobretudo, a construção efetiva do sistema estadual de Cultura e a continuidade das políticas públicas”, pontua albino rubim.

diretriZes - o desenvolvimento da cultura no estado nos últimos quatro anos foi estabelecido com base em diretrizes em sintonia com as políticas culturais do país. são elas: o fortalecimento da institucionalidade cultural,

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V Conferência Estadual de Cultura

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CULtUra de Cara NOva ConheÇa as diretriZes que guiam a gestÃo da Cultura na bahia instituCionalidade Cultural o fortalecimento da institucionalidade e da organização do campo cultural busca consolidar políticas, estruturas, gestão democrática e procedimentos republicanos de apoio à cultura, como as seleções públicas e editais, e mecanismos de participação político-cultural. a criação de novas instituições, a reforma de instalações existentes, a qualificação da gestão, a formação de pessoal em cultura e a criação de novos cursos na área de cultura são vitais para o desenvolvimento cultural. inclui o estímulo à organização de colegiados setoriais, de associações de amigos de instituições culturais, de consórcios intermunicipais de cultura e de todas as modalidades de organização do campo cultural.

diÁlogos interCulturais busca ampliar os diálogos interculturais entre os estoques e fluxos culturais, os sotaques brasileiros e outras culturas do mundo, em especial latino-americanas e africanas. na bahia, são muitos os sotaques que configuram a cultura: afro-brasileiro, do sertão, dos povos originários, entre tantos. ou seja, uma identidade produzida pela diversidade. É preciso, colocar esta diversidade em diálogo através de intercâmbios regionais, nacionais e internacionais.

territorialiZaÇÃo das polÍtiCas Culturais levar as políticas culturais ao interior e à periferia de salvador. este é o objetivo do aprofundamento da territorialização da cultura. a atenção com a diversidade de manifestações culturais em todos os territórios da bahia é um dos compromissos da secultba, que busca elaborar políticas públicos e projetos em sintonia com as necessidades locais. 16

eConomia da Cultura uma das áreas econômicas de maior expansão no mundo contemporâneo é a cultura. na bahia, o potencial é enorme, e ele precisa ser compreendido para integrar seu processo de desenvolvimento. nesse contexto, o financiamento é uma das dimensões essenciais da economia da cultura e requer modalidades diferenciadas que envolvam, pelo menos, estado, públicos e empresas. a secultba busca diversificar e tornar mais republicanos e transparentes seus procedimentos de financiamento à cultura, através de seleções públicas. hoje, existem na bahia quatro modalidades de financiamento estatal: o Fundo de Cultura da bahia (FCba), o Calendário das artes, o programa de incentivo cultural intitulado Fazcultura e o microcrédito cultural. além do financiamento, a secultba desenvolve programas e projetos voltados para potencializar a dimensão econômica de áreas culturais, nas quais isto é pertinente e adequado.

transversalidades da Cultura a cooperação não acontece apenas entre culturas e territórios distintos, mas também entre áreas de reflexão e de práticas diferenciadas. para desenvolver a cultura, é imprescindível considerar sua articulação, cada dia mais essencial, com campos afins. nesse sentido, a secultba busca desenvolver um trabalho colaborativo com outras áreas e secretarias, como educação, comunicação, ciência e tecnologia, turismo, economia, segurança pública, saúde, urbanismo e trabalho, entre outras. o trabalho colaborativo, com outras áreas e suas instituições, emerge hoje como vital para fortalecer as políticas culturais e consolidá-las como políticas integradas de governo e mesmo políticas de estado, que transcendam governos.

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aGora é De lei novos marCos legais protegem a diversidade Cultural na bahia

os marcos legais são cruciais para garantir recursos e ações que contemplem a diversidade cultural da bahia. É por isso que, em 2014, as legislações culturais ganharam aliados para atender demandas dos diferentes setores e dos 27 territórios de identidade Cultural. as novidades passaram por áreas como museus e patrimônio, chegando às ações focadas no livro e na leitura. este ano, no dia nacional da Cultura, 05 de novembro, a bahia tornou-se o primeiro estado do brasil a ter um plano estadual de Cultura aprovado pela assembleia legislativa. um passo fundamental para a estabilidade das políticas culturais no estado, na medida em que dialoga com o plano nacional de Cultura e traça medidas prioritárias para os próximos dez anos. “a questão das políticas culturais é estruturante para a aplicação de recursos capazes de atender especificidades das matrizes culturais locais. no caso da bahia, a lei é capaz de se voltar, por exemplo, às demandas dos povos quilombolas e da população cigana. isso é crucial para se contemplar a cultura além das linguagens tradicionais”,

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O financiamento das obras de preservação de prédios históricos ficará mais fácil a partir da nova lei

comenta o professor beto severino, membro do programa multidisciplinar de pós-graduação em Cultura e sociedade, da universidade Federal da bahia. nas próximas páginas, você vai conhecer um pouco mais sobre as principais legislações que fizeram a diferença no cenário cultural. Confira! o conteúdo das legislações da cultura na bahia, na íntegra, está disponível no www.cultura.ba.gov.br

plano transForma a Cultura em polÍtiCa de estado o documento tem o objetivo de melhorar a articulação, gestão e promoção da cultura, por meio de estratégias e ações que perpassam diversas áreas. Considerado um avanço entre marcos 19

elias mscarenhas

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CULtUra de Cara NOva


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CULtUra de Cara NOva ipaC/secultba

ipaC/secultba

lázaro menezes

legais do setor, o documento valoriza a diversidade artística e assegura o acesso de todo cidadão aos bens e serviços artísticos e culturais, além de estimular a criação e a produção cultural. terminar o ano de 2014 com o plano estadual consolidado é uma vitória compartilhada entre a gestão cultural e a sociedade civil. esse dois setores se uniram para a construção do plano estadual de Cultura a partir de debates entre os anos de 2007 e 2014, nas quatro conferências estaduais, setoriais e territoriais de Cultura, que, juntas, reuniram cerca de 160 mil pessoas. além disso, o desenvolvimento do plano contou com a colaboração de um grupo de trabalho (gt) criado a partir das quatro unidades vinculadas à secretaria de Cultura do estado da bahia (secultba): Fundação pedro Calmon (FpC), Fundação Cultural do estado da bahia (Funceb), instituto do patrimônio artístico e Cultural (ipac) e Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi).

Solar Ferrão, Museu Tempostal e Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica

as superintendências de promoção Cultural e de desenvolvimento territorial da Cultura também participaram do debate.

Consulta pÚbliCa - o plano passou por consulta pública e foi pauta de reuniões com representantes da comissão da rede de pontos de Cultura da bahia e a diretoria da associação de dirigentes municipais de Cultura (adimcba). seu conteúdo final, antes do envio à assembleia legislativa, foi aprovado na sessão plenária de novembro de 2013, no Conselho estadual de Cultura (CeC). o conselheiro de cultura sandro magalhães, superintendente de territorialização da cultura na secultba, fez parte da equipe que formulou o documento. “a aprovação do plano transforma essa política de governo em política de estado. isso vai combater a falta de continuidade das políticas, ações e programas que estão sendo desenvolvidas, além de estabelecer diretrizes gerais das políticas culturais da bahia”, explicou. 20

algumas emendas foram acrescentadas ao texto original durante sua fase de aprovação no Conselho estadual de Cultura, como, por exemplo, a que obriga o poder público a oferecer assessoria técnica aos conselhos de cultura. isso beneficiará os agentes culturais do interior que precisam compreender como as políticas culturais são desenvolvidas. outra alteração importante, oriunda da consulta pública, é a que determina a economia solidária no campo cultural como item que deve ser estimulado por meio de parcerias com entidades da sociedade civil e do poder público. o plano é divido em três eixos. o primeiro deles traça um diagnóstico cultural, que objetiva fornecer subsídios para definir ações prioritárias. o segundo discorre sobre os princípios e objetivos que devem orientar a sua construção, de acordo com lei orgânica da Cultura da bahia (nº

12.365/2011). o documento é finalizado com as diretrizes, estratégias e ações, que deverão ser executadas ao longo de uma década. agora, uma comissão terá 180 dias para elaborar as metas do plano e submetê-las à consulta pública.

leitura É vista Como prÁtiCa soCial as pastas da educação e Cultura precisam andar juntas. essa máxima de trabalho é crucial à viabilização de projetos que transitem pelas duas áreas. dentro dessa perspectiva, as duas secretarias estaduais se uniram para criação do plano estadual do livro e leitura da bahia (pell). o documento possui três eixos principais: democratização do acesso, valorização da leitura como prática social e desenvolvimento da economia do livro.

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nerivaldo góes

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ganhem força e vigor em todos os 27 territórios de identidade da bahia. “o pell institui um projeto a médio e longo prazo para o desenvolvimento de ações que estimulem o hábito leitor como prática social, além da democratização e mediação do livro através do sistema estadual de bibliotecas públicas e o desenvolvimento da economia do livro. tais iniciativas serão desenvolvidas com a participação de organizações colegiadas como o Colegiado do livro e da leitura e o Colegiado de bibliotecas”, afirmou moraes Filho.

leitura em FamÍlia - graças à execução das

A valorização da leitura como prática social é um dos objetivos do Plano Estadual do Livro e Leitura da Bahia.

a construção do documento envolveu debates com representantes da cadeia produtiva do livro, como editores e escritores, além de educadores, prefeituras municipais, bibliotecários e universidades. “o que se estabelece com o pell é o compromisso de nos próximos dez anos, ao lado da sociedade civil e do mercado, construir um estado de leitores, ampliando os serviços bibliotecários de mediação do livro e da leitura”, explicou o diretor do livro e da leitura da Fundação pedro Calmon, João vanderlei de moraes Filho. depois de aprovado pelos Conselhos de educação e de Cultura, o pell foi instituído em 2011. este ano, seu conteúdo foi definido pelo decreto 15.303 e publicado, em julho, no diário oficial do estado. sua elaboração foi feita em harmonia com o plano nacional do livro e leitura, o plano estadual de Cultura, o plano nacional de Cultura (pnC) e plano nacional de educação (pne). agora, o desafio é fazer com que as oito estratégias e 56 ações previstas

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diretrizes do pell tem sido possível investir em ações como o programa de agentes de leitura, hoje com 324 membros que atuam com 25 famílias, cada um. isso significa que há 8.100 grupos familiares com estímulos constantes à leitura. outra ação são os 361 pontos de leitura, que dinamizam ações e estimulam a prática do hábito leitor mediando livros e leituras de mundo. Com o plano, será possível ampliar essas iniciativas e partir para novos desafios, como o de acessibilidade nas bibliotecas e campanhas de promoção e valorização da leitura e do livro. “tivemos a inserção de assuntos relacionados à mediação do livro, da leitura e a biblioteca na agenda política do estado. a bahia insere-se em um contexto de construção de um espaço leitor, tendo o estado assumido esse compromisso”, completa moraes Filho. É previsto no pell que, apesar de traçar metas para 10 anos, o documento deve ser avaliado a cada três anos. a democratização do acesso à leitura prevê ações que contemplem os 27 territó-

rios de identidade Cultural. há ainda a meta de conquistar novos espaços de leitura com ações como o estímulo ao fomento de projetos de leitura com crianças em situação de vulnerabilidade social, além de criar linhas de financiamento para projetos sociais de leitura.

iCms Cultural FavoreCe o patrimÔnio históriCo o financiamento das obras de preservação de prédios históricos ficará mais fácil a partir da nova lei. É preciso garantir que o patrimônio histórico, seja material ou imaterial, tenha respaldos legais que facilitem sua preservação. por isso, o instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (ipaC) redigiu a minuta do projeto de lei que propõe a inclusão do patrimônio cultural nas normas da redistribuição do iCms, o imposto sobre operações relativas à Circulação de mercadorias e serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de Comunicação. a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 158, determina que 25% da arrecadação do iCms pertençam aos municípios. Cabe ao poder público definir os critérios dessa redistribuição. a minuta do projeto de lei vai inserir o item patrimônio cultural, ação que poderá garantir aos municípios mais verbas para investir em políticas de proteção e preservação de seus patrimônios.

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CULtUra de Cara NOva

a proposta foi desenvolvida pela Fundação João pinheiro, que tomou como experiência base a implantação do iCms Cultural em minas gerais. em 20 anos de implantação, o estado possui adesão de cerca de 80% das suas cidades. “a experiência de minas sinaliza impacto positivo na preservação do patrimônio na bahia. municípios terão mais recurso para trabalhar”, assinalou a diretora-geral do ipac, elisabete gándara.

ineditismo - essa é uma iniciativa inédita na bahia e conta com o apoio do ministério público da bahia, por meio do núcleo de defesa do patrimônio histórico, artístico e Cultural (nudephac). o iCms Cultural foi construído por meio de oficinas, com a participação de gestores municipais, técnicos do setor

cultural e interessados no patrimônio. “o objetivo é estimular a territorialização, o fomento e o cuidado à preservação do patrimônio através do repasse financeiro”, explicou elisabete. o projeto do iCms Cultural seguirá para a Casa Civil e, depois, para a assembleia legislativa do estado da bahia. após sanção do governador, os municípios que desejam o recebimento do repasse devem cumprir os critérios de pontuação e garantir que a metodologia seja cumprida de forma correta e dentro dos prazos estabelecidos. sua elaboração foi subsidiada pelo resultado de um censo apli-

cado nos 417 municípios baianos. o material identificou a realidade de cada município relacionada ao patrimônio cultural, permitindo que os repasses dos recursos financeiros sejam feitos de forma justa, com atenção especial aos locais que praticam em sua gestão ações de valorização, educação e salvaguarda do patrimônio.

polÍtiCa setorial de museus FortaleCe o setor lançado em maio de 2014, durante a 12ª semana de museus, a política setorial de museus foi formulada com o objetivo de dar visibilidade ao setor. a ação é voltada à necessida-

de de conservação e valorização dos espaços, diante da aplicação de um maior entrosamento entre o estado e os museus. suas diretrizes são válidas por 10 anos, sendo aplicadas em toda a bahia. À frente da iniciativa está a diretoria de museus do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (dimus/ipac), com apoio de museólogos e profissionais da área. “queremos mais visibilidade ao setor e, com isso, fazer com que as comunidades conheçam os acervos. espero que através deste plano e do estatuto dos museus, o setor se organize, modernize sua gestão e trabalhe focado na preservação e valorização destes espaços tão preciosos”, afirmou a diretora da dimus, ana liberato. essa profunda transformação permitirá que gestores trabalhem mais articulados e com a missão de promover, desenvolver e fortalecer o campo de museus. outra linha de ação é incentivar a visitação. isso permitirá que museus ganhem mais espaço e importância sociocultural na vida da população.

aprendiZagem - ana liberato destaca que, além de

maíra do amaral

importantes à preservação histórica, os museus contribuem no processo de ensino e aprendizagem de crianças e adolescentes. a política setorial nasceu com a função implícita de desenvolver mecanismos que potencializem o papel educativo dessas instituições e ajudem a desenvolver uma sociedade que valorize mais sua história. “nos museus as pessoas podem adquirir conhecimento sobre a sociedade e entender a contemporaneidade”, defende a diretora. o conjunto de ações da dimus já tem aquecido a quantidade de público nos museus baianos. o desafio agora é consolidar essa fase de crescimento e fortalecer os laços com a sociedade. “a história presente nos museus colabora na formação de crianças e jovens. É gratificante saber que a participação das escolas nos museus de salvador tem aumentado bastante nos últimos anos”, celebrou ana liberatto.

As conferências Estaduais, Setoriais e Territoriais foram fundamentais para a construção democrática do Plano Estadual de Cultura.

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Bahia: Terra da Cultura

CULtUra de Cara NOva

tacila mendes

DemoCraCia Da Cultura esColha de dirigentes por meio de eleiÇÕes amplia partiCipaÇÃo da soCiedade Civil na gestÃo Cultural

a participação da sociedade civil na gestão cultural da bahia ganhou fortes aliados em 2014. Foram instituídas eleições para que agentes culturais dos 27 territórios de identidade Cultural tivessem a oportunidade de ingressar como membros do Conselho estadual de Cultura da bahia (CeC), dos Colegiados setoriais de Cultura e Colegiados setoriais das artes. o objetivo é estreitar cada vez mais os laços entre a comunidade e o poder público. a maior prova de eficácia das eleições está no Conselho estadual de Cultura. a partir de 2015, o órgão terá 30 membros titulares e igual número de suplentes, sendo dois terços agentes culturais da sociedade civil. o outro um terço será indicado pelo poder público. o primeiro passo rumo às mudanças ocorreu em 2013, quando 20 representantes dos territórios de identidade Cultural foram eleitos na v Conferência estadual de Cultura, em Camaçari. outros 20 conselheiros foram eleitos por meio de uma eleição que aconteceu entre os dias três e 23 de novembro. desta vez, foram escolhidos representantes dos segmentos culturais e processos do fazer cultural da bahia. a expectativa é de que a nova gestão possa manter o fortalecimento cultural do estado, como afirma o presidente do Conselho estadual de Cultura, araken vaz galvão. 26

20 representantes dos Territórios de Identidade Cultural foram eleitos na V Conferência Estadual de Cultura

“espero que os futuros conselheiros mantenham acesa a vontade de trabalhar pela cultura. tenho priorizado nossa atuação como órgão importante nas decisões da política cultural”, afirma. vaz galvão lembra que um dos pontos que precisa ser priorizado no Conselho é sua Câmara de patrimônio histórico, artístico, arqueológico e natural, formada por especialistas que emitem parecer sobre processos de tombamento e registro especial de patrimônios materiais e imateriais da bahia. o Conselho é um órgão colegiado da secretaria de Cultura do estado (secultba). até antes das

eleições, sua composição era formada por representantes da sociedade civil indicados pelo poder público. Criado em 1967, possui caráter normativo e consultivo. sua missão é contribuir com a formulação de políticas culturais e intermediar a relação entre sociedade e estado. para o secretário de Cultura da bahia, albino rubim, as eleições sinalizam a importância de que a comunidade cultural seja convidada para escolher pessoas que as representem nos órgãos ligados à gestão, como o conselho e os colegiados setoriais. “este processo faz parte de um dos di-

reitos culturais relevantes, que é assegurar a todos a possibilidade de participar das definições das políticas culturais”, afirma.

gestÃo Colegiada – instituídos a partir da lei orgânica da Cultura da bahia (nº 12.365), sancionada em 2011, os Colegiados setoriais de Cultura e Colegiados setoriais das artes foram criados para que as demandas e o posicionamento das classes artísticas e culturais sejam organizadas e apresentadas politicamente por meio de planos setoriais. essas instâncias funcionam como espaço de consulta, participação e controle social das ações desenvolvidas pelo poder público. 27


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ascom Conselho de Cultura

a CULtUra de Cara NOva

gordo neto, membro do Colegiado setorial de teatro, as eleições garantem a continuidade de um trabalho que articula os agentes culturais e fortalece a representatividade no campo político. “os colegiados são mais uma instância de interlocução da sociedade com o governo. estamos nos primeiros dois anos, mas acredito que o desempenho pode melhorar a depender da articulação e organização da classe”, assinala.

A partir de 2015, o Conselho Estadual de Cultura terá 30 titulares e igual número de suplentes, sendo dois terços agentes culturais da sociedade civil.

nos Colegiados setoriais das artes da bahia são contemplados os setores das artes visuais, audiovisual, Circo, dança, literatura, música e teatro. para o coordenador do processo de construção dos Colegiados setoriais das artes da bahia, Kuka matos, a consolidação dessa instância representa a materialidade do sistema estadual de Cultura e a efetivação da política estadual de Cultura. “os colegiados contribuem na qualificação e garantia da efetividade dos mecanismos de participação e controle social. atuam na formulação, execução, acompanhamento e avaliação dos planos, programas, projetos e ações da política e ações culturais do estado”, explica. integrados à Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb), vinculada à secultba, os membros dos colegiados cumpriram seu primeiro mandato entre os anos de 2013 e 2014. o principal nesse período foi a elaboração dos planos setoriais das artes. Cada linguagem artística é representada pelo seu próprio Colegiado, que é individualmente integrado por nove membros, sendo três do poder público, nomeados pelo secretário de Cultura, e seis da sociedade civil – escolhidos a partir da eleição.

após a experiência dos Colegiados setoriais das artes da bahia, que iniciou a organização dos setores de cultura do estado, 2014 marcou a criação dos Colegiados setoriais de Cultura da bahia. os dez setoriais representam as áreas de arquivos e memória, bibliotecas, Culturas afrobrasileiras, Culturas indígenas, Culturas populares, design, livro e leitura, moda, museus e patrimônio. a composição e o período dos mandatos são idênticos aos dos setoriais das artes. a participação em colegiados setoriais não é remunerada e seus membros têm suas despesas pagas apenas quando do exercício de representação fora dos respectivos municípios de domicílio.

segundo o presidente do Colegiado setorial de música, Fernando teixeira, a ampliação dos colegiados é sinônimo de mais participação dos agentes culturais na gestão. “a grande importância dos colegiados é a participação direta da sociedade civil nas decisões e formulações das políticas culturais. É a sociedade civil quem subsidia as decisões”, finaliza. os processos eleitorais dos Colegiados setoriais e do Conselho de Cultura aconteceram com transparência, por meio de plataforma virtual disponível no site da secultba, onde eleitores e candidatos realizaram seu cadastro para participar dos pleitos.

LEI ORGÂNICA DEMOCRATIZA A GESTÃO CULTURAL a aprovação da lei orgânica da Cultura da bahia (nº 12.365), sancionada em 2011, é considerada um passo importante para que eleições acontecessem nos órgãos de representação da sociedade civil. a norma prevê a criação de instâncias de consulta, participação e controle social no âmbito da cultura. dentro desse contexto, estão os colegiados setoriais, as conferências estaduais, fóruns e debates. outra ação foi a criação do plano estadual de Cultura, que aguarda votação da assembleia legislativa da bahia. o documento foi construído a partir das discussões realizadas em quatro conferências estaduais de cultura e colocado em consulta pública. seu conteúdo estabelece metas que selam compromissos da política cultural do estado pelos próximos dez anos. a lei orgânica está disponível no: www.cultura.ba.gov.br

todos os representantes possuem suplentes. os mandatos dos novos valem para a gestão 2015-2016. para 28

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CULtUra de Cara NOva

Gente é Para BrilHar

e o qualicultura são as portas de entrada para a vida profissional de milhares de pessoas em todo o estado. “a bahia é reconhecida como um lugar privilegiado no que se refere à produção cultural. a secultba elegeu a área de formação em cultura como prioridade. nesses quatro anos, foram criadas diversas ações e programas que dinamizaram enormemente essa área. o desafio para a próxima gestão é ampliar e aprofundar estas ações, consolidando o estado da bahia como lugar de estudo e formação em cultura”, diz o assessor de Formação em Cultura da secultba, henrique andrade.

ana Camila

adultos, Jovens e adolesCentes sÃo beneFiCiados por proJetos de FormaÇÃo e qualiFiCaÇÃo gratuitos, Contribuindo para inserÇÃo em novos merCados de trabalho

a secultba apoia, ainda, a abertura de cursos de graduação e pósgraduação em áreas afins em todo o estado. Foi assim com a criação do Centro de Cultura, linguagens e tecnologias da universidade do recôncavo baiano. o compromisso histórico com a formação também foi o palco para fortes emoções neste ano. a escola de dança da FunCeb, primeira escola Curso no Escritório Bahia Criativa

Escola de Dança da FUNCEB

“É um prazer e um orgulho estar vivenciando e contribuindo como gestora-artista-educadora com o projeto político-pedagógico da escola de dança da FUNCEB. pude comprovar que a formação em dança prescinde a formação de corpos-sujeitos, sejam de crianças ou jovens, competentes, criativos e críticos. esta perspectiva projeta a arte e a educação como questões sociais e políticas prioritárias, com possibilidade de dar respostas a uma formação emancipatória da nossa sociedade brasileira”, afirma a diretora da escola de dança da FunCeb desde 2007, beth rangel. entre os resultados dessa trajetória, a escola de dança já apresentou à sociedade baiana 25 turmas de novos profissionais de dança através do

acervo escola de dança da Funceb

seja nos passos de dança ou na luz sobre o palco, no olhar para a câmera ou no sorriso do palhaço. na beleza que passa pelo figurino e pela maquiagem, e na emoção diante da arte rupestre ou das culturas digitais. na consciência despertada pela educação patrimonial e pela leitura de um bom livro. Fazer cultura é coisa séria, principalmente quando ela é vista como um elemento fundamental de desenvolvimento socioeconômico da sociedade, que deve caminhar junto com a educação. por isso, a formação e a qualificação são prioridades para a secretaria de Cultura do estado da bahia, peças fundamentais para o fortalecimento da institucionalidade do campo cultural.

pública do gênero no brasil, celebrou seus 30 anos de atividades. o marco da comemoração foi o espetáculo movimento escarlate, com direção de elísio lopes Jr., no dia 16 de outubro, no teatro Castro alves. na ocasião, foi aberta uma exposição tripla – de fotos, figurinos e vídeos sobre a história da escola, que integra hoje o Centro de Formação em artes (CFa) da Fundação, criado em 2011.

entre 2011 e 2014, cerca de 12 mil pessoas participaram de cursos e treinamentos oferecidos pela secultba em mais de 220 cidades baianas. o programa de qualificação em artes da Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb), o pronatec, os cursos de educação patrimonial do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (ipaC) 30

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Bahia: Terra da Cultura

Já os Cursos preparatórios, para crianças a partir dos cinco anos de idade e compostos por um total de 11 níveis anuais, acompanhando o crescimento de seus alunos até os 17 anos, iniciam jovens na formação em dança, como uma sólida opção educacional, artística e cultural para eles. realizados no turno vespertino, podem ser considerados como período complementar à escola formal. este grupo de cursos deu origem, em 2010, à primeira companhia constituída por crianças e adolescentes da escola de dança: a já premiada Companhia infanto-Juvenil de dança da FunCeb, coreografada por denny neves e integrada por jovens de 13 a 17 anos. entre diversas experiências dentro e fora da bahia, estes meninos e meninas mostraram a sua dança ao brasil na 27ª edição do Criança esperança, projeto da rede globo em parceria com a unesCo. a escola de dança atende uma média anual de mil alunos, entre crianças, jovens e adultos, em especial afrodescendentes, oriundos de escolas públicas e moradores de bairros populares. desde 2013, a escola também tem realizado cursos pronatec para as artes da bahia, tendo oferecido para 300 profissionais nos últimos dois anos – 200 em 2013, e 100 em 2014. entre as modalidades oferecidas, cursos de qualificação profissional de Fotógrafo, operador de Câmera, editor de vídeo e assistente de produção Cultural. para completar, na celebração de suas três décadas, a escola promoveu o inédito edital de residência artístico-educativa para Jovens talentos em dança, visando à formação e à experimentação artística em dança de crianças e jovens. nesta ação, estão sendo concedidas 28 bolsas de formação, de intercâmbio e de difusão artístico-cultural. 32

Centro de FormaÇÃo em artes além da experiência bem sucedida com a escola de dança, o Centro de Formação em artes da FunCeb já deu oportunidade a mais de 2 mil pessoas de iniciar ou se qualificar nas áreas de artes visuais, audiovisual, circo, dança, literatura, música e teatro. alinhado ao programa estadual pacto pela vida, também desenvolve ações através de núcleos de dança e música nas comunidades dos bairros do nordeste de amaralina, alto das pombas e na Casa da música, em itapuã. o programa de qualificação em música do CFa contribui para que jovens músicos e profissionais da área possam enriquecer seus conhecimentos, aprimorar sua atuação profissional e obter melhores condições de inserção no mercado de trabalho e na sociedade. atualmente, cerca de 300 músicos participam de cursos em diversos instrumentos e práticas, além de vivenciarem experiências artísticas de grande relevância. Concerto do Programa de Qualificação em Música

nathália mirando

Curso de educação profissional técnico de nível médio em dança, que tem duração de dois anos e meio e é reconhecido pelo ministério da educação. estes alunos formados vêm contribuindo de muitas maneiras para a produtividade das artes cênicas da bahia. um exemplo é o atual coordenador de dança da FunCeb, matias santiago, que fez parte da primeira turma do curso aos 16 anos de idade: “todo o meu trabalho como bailarino e como agente político dentro da área da dança foi plantado no momento que eu entrei na escola. lá, você compactua com várias ambiências, não somente a do aprendizado da dança, mas também do mercado e das pessoas que fazem dança na bahia”.

nathália miranda

CULtUra de Cara NOva

Já o programa de qualificação em artes no interior da bahia promove cursos das sete linguagens artísticas, além da modalidade brincante, relacionada a culturas populares, em diversas cidades de diferentes regiões. a iniciativa é fruto de parceria entre o CFa e a superintendência de desenvolvimento territorial da Cultura, através de sua diretoria de espaços Culturais. em três anos de ação, de 2012 a 2014, o programa alcançou todos os territórios de identidade da bahia. os cursos são gratuitos e acontecem nos espaços culturais da secultba ou em instituições parceiras. os alunos regulares obtêm certificado reconhecido pelo meC. em 2014, foram 18 cidades participantes, formando 20 turmas, cada uma com 25 vagas, totalizando 500 profissionais contemplados pela ação. 33


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CULtUra de Cara NOva programa de qualiFiCaÇÃo nos CirCos

eduCaÇÃo patrimonial

por meio de sua diretoria de economia da Cultura, a secultba vem desenvolvendo ações voltadas especificamente para a capacitação na chamada economia criativa. dentre essas ações, o programa qualicultura, desenvolvido em parceria com o sebrae, objetiva promover capacitação e formação técnica aos setores criativos. entre 2012 e 2014, mais de 3 mil pessoas foram beneficiadas.

sensibilizar as comunidades para a preservação de seu patrimônio e de sua memória, através da adoção de posturas preservacionistas, é o objetivo das ações educativas da diretoria de preservação do patrimônio (dipat) do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia. as atividades são executadas por uma equipe multidisciplinar formada por técnicos do ipaC e integram o projeto Circuitos arqueológicos. em 2014, foram realizadas oficinas de educação patrimonial e Fotografia em diversos municípios, como lençois, iraquara, seabra, mucugê, utinga, boninal, piatã, palmeiras e Wagner. Criado em 2006, via convênio com a universidade Federal da bahia, o projeto já sensibilizou 1,8 mil pessoas, treinou 450 multiplicadores e mapeou 67 sítios de pinturas rupestres.

tacila mendes

em sua segunda edição, o programa de qualificação nos Circos consolida uma iniciativa realizada em 2012, pela FunCeb, para a qualificação técnica dos artistas que circulam pelo interior baiano e a experiência de itinerância para profissionais do novo Circo. o programa é formado pelos editais de premiação dos Circos itinerantes e o de oficinas e atividades de intercâmbio nos Circos itinerantes. em 2014, o aporte foi de mais de r$ 214 mil. através do edital de oficinas e atividades de intercâmbio, cinco pessoas ministraram aulas durante 15 dias em três circos contemplados, com a realização de um espetáculo de encerramento com cada circo.

qualiCultura

pronateC

bahia Criativa

567 vagas para cursos profissionalizantes gratuitos foram oferecidos pelo programa nacional de ensino técnico e profissionalizante (pronatec) na bahia em 2014. através de parceria firmada entre os ministérios da Cultura e educação, a secultba, a secretaria estadual de educação e o serviço nacional de aprendizagem Comercial (senac), foram oferecidos 14 cursos gratuitos nas áreas de fotografia, organização de eventos, recepção de eventos, auxiliar de biblioteca, inglês, espanhol, entre outros. as aulas foram ministradas em salvador e em mais cinco municípios, a saber: porto seguro, Feira de santana, Juazeiro, ilhéus, Camaçari.

escritório público de atendimento e suporte a profissionais e empreendedores que atuam nos setores da economia da cultura, o bahia Criativa oferece informação, capacitação, consultorias e assessorias técnicas gratuitas. o equipamento, que funciona no Forte de serviços Criativos, no barbalho, integra a rede de incubadores brasil Criativo, em parceria com o minC. o escritório já ofereceu cursos de formação em marketing Cultural, exportação da música baiana e desenvolvimento de projetos Criativos. entre as ações oferecidas, estão consultorias individuais nas mais diversas áreas da economia da cultura.

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Pirofagia no Encerramento do Pronatec

para a diretora de preservação do patrimônio do ipaC, etelvina rebouças, as oficinas se configuram como um processo formativo e informativo que permite a difusão de conhecimentos sobre o patrimônio e seus mecanismos de preservação. “essas atividades objetivam a apropriação e valorização do patrimônio cultural local, fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania, formação de agentes patrimoniais e utilização dos bens culturais de forma sustentável”, explica

Centro de memória da FpC

ascom ipaC

Oficina de Educação Patrimonial

o Centro de memória da bahia, unidade da Fundação pedro Calmon, atua na preservação e difussão da história da bahia, através da guarda e conservação de acervos privados de personalidades públicas, e na realização de cursos e seminários gratuitos. entre seus projetos, há o Conversando com a sua história, realizado desde 2002, com palestras que visam debater questões e problemas ligados à história da bahia, promovendo a interação entre pesquisadores, historiadores, estudantes, professores e público em geral. o projeto, que já realizou mais de 220 palestras desde então, conseguiu atingir um universo de mais de 20 mil pessoas, acontecendo entre os meses de abril a novembro. no ano de 2013, as palestras começaram a ser transmitidas ao vivo pelo portal da Fundação pedro Calmon e, no ano de 2014, no site da biblioteca virtual 2 de Julho (www.bv2dejulho.ba.gov.br). realiza-se também o Curso de ensino de história da bahia, idealizado para capacitar estudantes e docentes da área de história a ensinar e debater questões e problemas ligados à história colonial, imperial e republicana de nosso estado na educação básica. mais de quatro mil profissionais da área de história já foram beneficiados com a iniciativa.

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aCULtUra de Cara NOva

BetH ranGel | PerFil

alberto Coutinho -secom

articulam, para fortalecê-lo enquanto políticas públicas prioritárias. o CFa tem uma interface com a arte-educação e, de alguma forma, com o trabalho, atendendo a dimensões diferentes do cidadão”, explica beth. Com uma perspectiva de iniciação artística, alinhada à educação integral e cidadã, a instituição que ela dirige atualmente atende uma média de 1500 a 1600 pessoas interessadas na dança. a ideia, já em desenvolvimento, é de ampliar ainda mais esse público e atender pessoas que tenham interesse na formação em outras linguagens artísticas, como a música, por exemplo.

to ao sujeito individual. não dá mais para sermos felizes sozinhos. a arte, a estética, a cultura têm papel fundamental nas bases dessa nova forma de pensar e agir. sinto que agora é uma questão de decisão”, afirma.

“propomos ir além da formação para o mercado. o nosso discurso e prática é que formamos para a sociedade, na qual há um espaço significativo voltado para o mercado, porém sabemos que existem demandas e espaços em que podemos nos inserir e nos tornarmos desejados. a ideia é além de sabermos quem somos, é sabermos aonde podemos chegar”, afirma a gestora.

baiana, nascida em salvador há 61 anos, a atual diretora do CFa licenciouse na escola de dança da universidade Federal da bahia (uFba) em 1977, instituição onde também atuou como professora e assessora do reitor para assuntos de extensão, entre outras funções. Com tradição na militância social, beth segue sua atual gestão com o olhar e a experiência da artista e da educadora. “nosso projeto deve estar alinhado às instâncias a que se

de acordo com a gestora, dos 60 alunos que costumam ingressar anualmente no curso técnico em dança, em torno de 30 conseguem seguir o fluxo e concluir o curso dentro do prazo previsto. após a formação na FunCeb, a trajetória dos alunos têm se diversificado. muitos vão para o curso superior na universidade, alguns se inserem em grupos profissionais, passando por audições (a exem-

beth rangel propõe uma formação artística alinhada à educação integral e cidadã

beth rangel ConduZ Centro de FormaÇÃo de artes Com a proposta de instrumentaliZar danÇarinos para a vida Crianças e jovens moradores de bairros populares são o público alvo do Centro de Formação de artes diretora do Centro de Formação de artes (CFa) desde 2011, entidade vinculada à Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb), beth rangel tem uma trajetória na dança marcada pela interdisciplinaridade com outras linguagens artísticas e associada à militância social. “o sujeito social também tem se fortalecido com novas políticas sociais em andamento, em detrimen36

arte Cidadà – a compreensão de beth rangel em relação ao fazer artístico vai além da estética e permeia o universo social. na sua trajetória acadêmica, fez escolhas e experiências baseadas no que ela considera como demandas e prioridades sociais.

aS FalaS Do CorPo

plo do musical rei leão) e, cada vez mais, os alunos se reconhecem não só como intérpretes, mas como criadores e propositores, e assim criam, junto a outros, seus grupos e coletivos

a escola de dança, assim como o CFa, são espaços públicos responsáveis por garantir educação em arte e produção de cultura para a sociedade, em especial ao público de crianças e jovens moradores de bairros populares, na sua grande maioria formada por afrodescendentes

reitos humanos. atuou como membro integrante do Fórum Comunitário de Combate a violência (FCCv), coordenando projetos socioculturais para a busca da compreensão e intervenção na questão da violência enquanto saúde pública. o reconhecimento de seus projetos levou à conquista de dois prêmios nas categorias cultural e social: o prêmio liF da Câmara França-brasil, e também o top social.

próXimos desaFios – na sua gestão, o Centro de Formação em artes (CFa) já percorreu 30 municípios. e esteve presente nos 27 territórios de identidade Cultural da bahia, levando cursos de 60 horas das sete linguagens artísticas que abrangem a Fundação. mas beth sonha com mais: “a ideia é construir núcleos no interior a partir da primeira iniciativa conquistada junto ao edital do ministério da Cultura e implantar programas pilotos nesses locais”. rangel prevê ainda a ampliação dos eixos de atuação (inicial, formação técnica e qualificação profissional) do CFa e torce pela realização de concurso público para professores no setor da dança. “a escola de dança da Funceb faz 30 anos agora em 2014 e não há nenhum professor concursado. quem faz a instituição são seus profissionais, qualificados, comprometidos, sensíveis”, revela a diretora.

beth rangel acredita que a sociedade contemporânea vive um momento de transição e de construção, antes de tudo, política. “esta mesma sociedade tem convivido com problemas produzidos há séculos atrás, sob um pensamento regulador, colonizador que não se coaduna mais com o momento atual. desde o final da década de 80 estamos vivenciando processos de mudanças que ganharam corpo a partir de 2002”, conta ela. embora tenha se especializado na área da dança, ela percebe que os desafios ultrapassam os problemas específicos de cada linguagem artística. beth rangel espera que a arte possa vencer um desafio muito maior: “ser reconhecida e aceita pelo sistema da educação brasileira. sabemos, novamente, que é uma questão de decisão. na minha visão, política, para se adotar outra forma de racionalidade baseada na arte. trazê-la para o lado da educação e juntas dialogarem, se complementarem, para intervirem em questões e acharem as respostas”, finaliza.

a partir deste engajamento, a profissional encampou mais de dez projetos estruturantes, sempre articulando arte, educação, saúde e di-

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CULtUra de Cara NOva

almir bindilatti

tuDo novo De novo teatro Castro alves passa por reForma e volta repaginado

“Assim como há gente que tem medo do novo, há gente que tem medo do antigo. Eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo e até a vida o antigo por causa do novo”.

augusto de Campos.

Com as obras finalizadas em julho de 1958, o maior e mais importante teatro da bahia seria entregue à população no dia 14 de julho daquele ano. Contudo, cinco dias antes, por conta de um incêndio, o sonho foi adiado e o teatro Castro alves (tCa) só foi de fato inaugurado em março de 1967, quase nove anos depois. agora, o espaço projetado por José bina Fonyat Filho e pelo engenheiro humberto lemos lopes, premiado na iv bienal de são paulo por suas linhas e conceitos modernistas, é alvo do projeto novo tCa. as obras foram iniciadas em dezembro de 2013 na Concha acústica e na área onde será construído um novo estacionamento. a iniciativa não se restringe à ampliação e qualificação física do teatro, que já nasceu com uma atmosfera vanguardista e logo se consolidou como um dos mais importantes do brasil. na verdade, ela atualiza um sonho que vem da década de 1940 com os projetos de anísio teixeira (1900-1971): retoma a ideia de um centro de formação em artes e avança no desenvolvimento de uma política cultural diversificada, ampla e acessível. “a reforma física deste

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Reforma da Concha Acústica integra primeira etapa das obras do Novo TCA

grande conjunto arquitetônico é a resposta a um desejo muito maior, que é o de recolocar o tCa na condição de um espaço artístico permeado por conceitos como acessibilidade e democratização”, afirma moacyr gramacho, seu atual diretor. a atual gestÃo – capitaneada por moacyr gramacho na direção geral e rose lima na direção artística – vem, desde 2007, investindo na criação de propostas que o conduzam por este caminho. projetos que investem na ampliação do acesso e no diálogo com os diversos públicos, como o caso domingo no tCa e Conversas plugadas foram criados, e outros como o tCa.nÚCleo e a sÉrie tCa foram repensados, a partir da premissa de que o acesso à cultura e à informação são componentes básicos para o desenvolvimento de uma sociedade. estas ações reafirmam o papel decisivo de um estado atuante e garantidor dos direitos de expressão artística e culturais.

avanÇo - para a atual gestão, requalificar este equipamento, tornou-se palavra de ordem desde o início em 2007. o tCa encontrava-se em condições físicas precárias. o tempo e o descaso mostravam seus sinais, demandando intervenções emergenciais. entretanto, não bastava apagar o fogo, era preciso ir além. “era preciso pensar o espaço em todo seu potencial, ampliá-lo e modernizá-lo. Contextualizá-lo e sintonizá-lo com o seu tempo”, justifica moacyr. a adequação das instalações do tCa ao avanço tecnológico dos últimos anos em curso resulta de um amplo diálogo realizado com a sociedade, os artistas e entidades representativas. resulta também de uma série de estudos e diagnósticos, elaborados por consultorias especializadas em arquitetura, cenotecnia e acústica avançadas.

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Bahia: Terra da Cultura

CULtUra de Cara NOva maurício serra

a intervenção e estruturação física foram concebidas a partir dos mais modernos e exigentes padrões de qualidade em equipamentos culturais. o Concurso público nacional de anteprojetos arquitetônicos, realizado em 2010, fruto de uma parceria com o instituto de arquitetos do brasil (iab/ba), premiou o projeto do estúdio américa/sp, focado na preservação dos valores arquitetônicos originais do teatro.

maurício serra

almir bindilatti

Obras do Novo TCA

esta primeira etapa de obras inclui a requalificação da Concha acústica, a construção de um estacionamento para 300 veículos e as bases estruturais para melhorar o acesso e utilização da sala de Concertos que será construída na segunda etapa, além da ampliação do Centro de referência em engenharia do espetáculo (Cree). além destas novidades e da requalificação dos espaços já existentes, faz parte desta etapa a implantação do Complexo de uma sala de Cinema e de um laboratório Cenográfico.

a orquestra sinfônica da bahia – osba ganha, com o novo tCa, uma sala de Concertos planejada pela mesma equipe que projetou a sala são paulo (espaço que abriga a orquestra do estado de são paulo – osesp), referência em qualidade acústica no mundo, garantindo um padrão de qualidade internacional. são incontáveis os ganhos para sinfônica da bahia, que vão desde qualificação artística à formação de plateias. Junto com o núcleo de orquestras Juvenis e infantis da bahia – neoJibÁ, a osba poderá intensificar o seu compromisso com a formação de jovens músicos.

novas alternativas de oCupaÇÃo dos espaÇos

Obras do Novo TCA

transFormar por Fora e por dentro

mas as transformações e conquistas não se esgotam aí. o projeto tCa.nÚCleo, por exemplo, deixou de ser um edital de montagem de espetáculo e se transformou num edital de ocupação artística. o novo conceito foi criado com o objetivo de propor alternativas de ocupação dos espaços do teatro durante o período da reforma.

a reforma do teatro Castro alves (tCa) foi cuidadosamente planejada para ser executada em etapas, de modo que as atividades do espaço não sejam completamente paralisadas. “o tCa é dotado de uma demanda artística intensa e, em respeito a isso, encaramos o desafio de tocar esta obra sem que fosse necessário fecharmos as portas”, pontua rose lima, diretora artística e responsável por montar a programação do tCa. mais do que manter abertas as portas do teatro, o projeto provoca os atores e personagens que vivenciam sua rotina e o frequentam diariamente a fazerem parte desta transformação que vai além das intervenções estruturais. É também cultural. um exemplo emblemático deste movimento que toma corpo é o projeto sob rasura, gestado e realizado pelo balé teatro Castro alves - btCa entre os anos de 2013 e 2014, que revela um corpo artístico integrado a esta at40

mosfera de mudanças. ao adentrar o canteiro de obras e compartilhar este espaço com operários e máquinas, o btCa buscou reformar-se e compreender o que mudou nestes mais de 33 anos de trajetória. o resultado desta investigação associa o universo da dança com outras linguagens que se materializam em duas obras de videodança e também em um livro.

Ray Lema e OSBA

as experiências com o grupo nata - núcleo afro-brasileiro de teatro de alagoinhas em 2013, e com o teatro popular de ilhéus (tpi) em 2014, mostraram-se iniciativas promissoras. “mais do que um ato de adequação, a aposta revelou um novo potencial e dinamizou ainda mais o edital, aumentando o número de atividades artísticas no complexo e estabelecendo diálogos significativos com grupos do interior e companhias de outros estados”, conta rose lima, diretora artística do tCa. 41


Bahia: Terra da Cultura

o objetivo central de todo o esforço empreendido nestes sete anos de gestão culmina com a materialização do novo tCa. a intenção é superar a ideia do teatro Castro alves como um espaço frequentado pelas elites e que operava antigamente apenas como uma grande e disputada “casa de pautas”. “a ideia é devolver ao teatro sua verdadeira vocação. ser de fato um espaço que alia qualidade técnica e excelência artística, mas que também potencialize o seu caráter formativo”, afirma gramacho. o teatro Castro alves caminha para se tornar o que nunca deveria ter deixado de ser: um centro cultural em ebulição, um complexo cultural vivo. e como tudo que é vivo, em contínuo processo de transformação.

mauríco serra

CULtUra de Cara NOva

mauríco serra

Bobby Mc Ferrin - Série TCA

Compra de ingressos FiCou mais FÁCil a modernização do tCa vai alémde sua estrutura física. desde setembro de 2014, o teatro Castro alves passou a comercializar ingressos também pela internet e pelo telefone. Com isto, tornouse o primeiro equipamento cultural público no estado a oferecer estes serviços. a implantação do novo sistema possibilita que o público compre seus ingressos de qualquer lugar com comodidade e segurança. o horário de funcionamento das bilheterias físicas também foi ampliado. para comprar ou saber mais, acesse www.tca.ba.gov.br ou ligue (71) 2626-5071.

Zulmira - BTCA

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vai CarloS...

CarloS PraZereS | PerFil ascom tCa

escola localizada no bairro de laranjeiras, zona sul do rio de Janeiro. por achar o piano um instrumento “muito solitário”, aos treze começou a estudar oboé e em pouco tempo já estava na classe do professor luís Carlos Justi, na universidade do rio de Janeiro. “a partir de então comecei a participar de orquestras jovens e festivais de música, o que me incentivou muito a estudar”, diz o maestro. Conhecido como um dos mais requisitados maestros brasileiros de sua geração, ele é hoje o regente titular da sinfônica da bahia, corpo artístico integrado ao teatro Castro alves e mantido pelo governo estadual através da secretaria de Cultura (secultba).

Maestro Carlos Prazeres

Curador artÍstiCo da orquestra sinFÔniCa da bahia tem traJetória Familiar de total dediCaÇÃo À mÚsiCa erudita a cultura e arte sempre fizeram parte do ambiente familiar de Carlos prazeres. Filho de mãe cantora e sobrinho do produtor cultural perfeito Fortuna, um dos fundadores do Circo voador, o carioca vive na bahia desde 2011, quando assumiu o desafio de se tornar curador artístico da orquestra sinfônica da bahia. Carlos é também filho do maestro armando prazeres (1934-1999), criador da orquestra petrobras sinfônica. 44

Com tantas influências ao seu redor, ele já sabia desde cedo que rumo profissional tomaria. “Creio que o momento chave para eu entender que seria um músico, foi acompanhar, com apenas dez anos de idade, todos os ensaios de coro e orquestra que o meu pai fazia”, conta ele. naquela época, manifestou a família o seu interesse de estudar oboé, instrumento que o encantou desde o princípio. a partir daí foi tudo muito natural, “como a água que segue o curso de um rio”, relembra Carlos. prazeres começou na música aos nove anos estudando piano clássico numa

graduado em oboé pela universidade Federal do estado do rio de Janeiro, prazeres acumula no currículo uma pós-graduação realizada na academia da orquestra Filarmônica de berlim/Fundação Karajan, uma das instituições mais respeitadas do mundo nesta área.

do instrumento À batuta - imbuído do desejo de expandir os horizontes musicais e viver experiências novas, sensibilizado pelas experiências acumuladas na temporada que passou na alemanha, decidiu arriscar novos voos: tornar-se maestro. então, foi estudar regência com o maestro isaac Karabtchevsky, um dos nomes mais respeitados no brasil e no mundo. “acho que foi algo muito natural. também pensei muito no lado institucional. ter um projeto concreto para uma instituição e transformá-la era

um sonho. realizo esse sonho a cada dia na orquestra sinfônica da bahia (osba)”. quando atuava como regente assistente da orquestra petrobras sinfônica (opes), em 2009, Carlos foi convidado pelo maestro ricardo Castro (então diretor artístico da osba), para reger a sinfônica da bahia no tCa. “aconteceu algo especial que não sei explicar. uma relação de cumplicidade com esta instituição fantástica que possui nomes tão respeitados do meio musical como os irmãos robatto e o trompetista heinz schwebel, só para citar alguns”, explica. dois anos depois, recebeu o convite de moacyr gramacho, diretor do tCa, com recomendações do próprio ricardo e destes músicos integrantes da osba. “eles me alertaram para as dificuldades, mas elas só me fizeram me sentir mais atraído por este desafio”, completa.

o ComeÇo de uma nova osba nestes mais de quatro anos a frente da osba, prazeres desenvolveu como proposta central a redefinição do papel da orquestra na sociedade. suas primeiras ações tiveram o objetivo de estabelecer novos diálogos e criar novos vínculos entre a orquestra e a cultura do estado. Com isto, a osba dobrou sua média de público e passou a lotar vários dos seus concertos.

CULtUra de Cara NOva

tenho muito orgulho, mas ressalto que o resultado não se deve só ao meu empenho. poucas vezes na minha vida profissional vi um grupo tão sério e compenetrado no seu trabalho. a disciplina, a entrega, a determinação destes músicos não poderia ter outro resultado.

para Carlos, as conquistas se devem a um conjunto de forças que deu certo. “acho que o público foi a nossa maior recompensa por toda esta seriedade. hoje, a sociedade baiana se orgulha da osba e o carinho é sentido em cada concerto”, comenta.

Bahia: Terra da Cultura

logo que chegou à orquestra baiana, ele criou e batizou a programação anual – dividida em séries de concertos – com nomes de importantes personalidades da bahia, artistas que através do seu trabalho difundiram o nome e a cultura do estado para todo o mundo. assim surgiram as séries Jorge amado, glauber rocha, Carybé e manuel inácio da Costa.

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mauríco serra

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orquestra e o início de uma grande era para esta instituição”, aposta. a partir desta nova realidade, prazeres enumera os desafios que esperam a sinfônica: “o maior deles é o de se conhecer musicalmente. para isso será necessário um enfoque em pilares fundamentais da música sinfônica, como a obra de beethoven, por exemplo. a osba precisa ser um organismo plural, capaz de incentivar os novos compositores, registrar o que há de melhor (e há muita coisa boa) na música de concerto da bahia”.

Osba - Cine conerto Série Glaueber Rocha

além da temporada de Concertos, a osba potencializou também a difusão da música de câmara com o projeto Cameratas, realizando uma programação mensal de apresentações gratuitas em diversas áreas da capital baiana, com foco principal na formação de novos públicos. no início da sua empreitada como gestor, colaborou para realização do seminário.osba, num encontro que reuniu, em 2011, grandes nomes na sala do Coro do tCa. especialistas e gestores de destaque no atual cenário orquestral brasileiro discutiram e refletiram sobre os principais desafios das orquestras na atualidade. Foi a partir dos debates desse encontro, que se consolidou a ideia de publicizar a osba, que enfim se materializa neste ano de 2014. “seria difícil enumerar as enormes vanta46

gens deste processo para a instituição, mas entre elas uma maior agilidade de gestão, a possibilidade de captar patrocínios, lidar com estatutos e regras pensadas para a nossa profissão”, pontua prazeres. esta iniCiativa, JÁ em Curso, transFere – a partir de um edital público – a gestão da orquestra das mãos do governo estadual para os cuidados de uma organização social, sem fins lucrativos. neste novo sistema, que deve vigorar a partir de 2015, o estado continuará repassando uma verba mensal para a manutenção da orquestra, mas a instituição, a partir de uma parceria com a sociedade civil, terá que buscar, junto a empresas e entidades interessadas, mais recursos para atingir as metas determinadas pelo estado. “não tenho dúvidas de que será um marco fundamental para a

para o maestro, é fundamental que osba tenha estrutura adequada e condições dignas de levar sua arte para toda a bahia e, no momento seguinte, para o brasil e para o mundo. e neste novo contexto, investir em educação e acessibilidade. “precisa ter um programa educacional que faça a diferença, ter um viés social ainda mais eficaz e, sobretudo, continuar arrebanhando legiões cada vez maiores de fãs para a música de concerto, tornando o acesso a ela cada vez mais democrático. são muitos os desafios, mas não tenho dúvidas de que a osba vai vencê-los”.

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FÔleGo renovaDo

sas, não somente vinculadas à interpretação, mas pensando também na atuação dos profissionais em outras frentes”, explica.

JorGe vermelHo | PerFil

algumas das mais recentes propostas artísticas são frutos de experiências e pesquisas dos próprios bailarinos da companhia, a exemplo de Álbum de Família (2013) e gretas do tempo (2014), que através do diálogo com outras linguagens, propuseram resgatar memórias e fortalecer as relações passado-presente-futuro das trajetórias dos próprios integrantes do btCa. “Compreende-se que a quebra de paradigmas não reside somente no âmbito da interpretação, mas também nas relações com o processo criativo assumido diversas vezes pelos próprios bailarinos”.

adenor gondim

lho constata que “a diversidade é o grande propulsor dos resultados atuais do btCa”. Com este pensamento, ele tem encarado o desafio de trabalhar com um grupo atualmente composto por 36 bailarinos, cuja faixa etária varia entre 25 e 60 anos, sendo que alguns atuam desde a fundação do balé, em 1981.

Jorge vermelho modiFiCa desenho da gestÃo e dÁ novo Ânimo aos bailarinos do balÉ do teatro Castro alves Jorge vermelho sempre atuou nas áreas do teatro e da dança, mas foi na fundação da sua Companhia de teatro, a azul Celeste, no interior de são paulo, que sua carreira ganhou projeção. além disto, por nove anos foi diretor geral do Festival internacional de teatro de são José do rio preto. em 2009, convidado para assumir a curadoria artística do balé teatro Castro alves (btCa), aceitou o desafio de propor um desenho de gestão que colocasse a experiente companhia de dança num novo caminho. 48

funda acerca do papel do intérprete e seus desdobramentos artísticos. “a linguagem da dança é o corpo e, cada vez mais, outras formas de expressão compõem esse arsenal de ferramentas criativas à disposição do intérprete e dos criadores”, explica vermelho, reconhecendo que o contato com o btCa revelou um novo olhar sobre como o teatro poderia reverberar neste corpo da dança. Com mais de cinco anos à frente da companhia de dança, verme-

ao assumir a figura de gestor, vermelho passou a desenvolver cinco núcleos de trabalho no btCa: difusão e Circulação; Formação de plateia e projetos especiais; extensão; pesquisa, memória e documentação; além da produção técnica. a ideia era apostar em novas perspectivas e mobilizar os bailarinos a experimentarem outras funções que não os limitassem a serem apenas intérpretes. “acredito que a dança pode proporcionar experiências diver-

BTCA - Gretas shai andrade

Jorge Vermelho é o curador artístico do BTCA

Com a chegada da maturidade, os intérpretes do btCa apresentam uma forte experiência de palco e de vida. entender este corpo como um veículo de expressão faz com que descubramos a real no btCa, Jorge vermelho consegue dialogar com as duas linguagens necessidade do encontro (dança e teatro), fruto da sua experiência na azul Celeste, o que nesta diversidade. possibilitou uma investigação pro-

FormaÇÃo e interCÂmbio – a gestão de vermelho como curador artístico do balé do tCa é também pautada pelo diálogo constante com grupos e centros de formação da bahia e de outros estados, com destaque para uma articulação permanente com a escola de dança da Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb). “Firmamos parcerias com essas instituições para que o btCa vá até esses espaços de formação, levando sua experiência e abrindo um debate para uma reflexão acerca do profissional da dança”, declara Jorge.

entre os diversos projetos desenvolvidos nesta gestão estão o btCa visita, que promove apresentações em espaços carentes e periféricos, e o btCa memória, fruto de uma parceria com a escola de dança da FunCeb e que tem como ideia resgatar uma coreografia consagrada do btCa com a presença de uma nova geração de dançarinos selecionados em processo de audições. “o btCa está alinhado com a política para a dança no estado da bahia e, por isto, desenvolvemos tantos projetos de inclusão e compartilhamento. projetos como btCa visita são interessantes, pois fazem o caminho contrário do que se esperaria, ou seja, do espectador/artista vir ao btCa”, ressalta. a estreia de cinco projetos inéditos em 2014 evidencia o fôlego renovado e a inquietude pulsante que a gestão de vermelho tem provocado nesta companhia de dança com mais de 33 anos de atuação. “na medida em que o tempo passa, os desejos também são alterados e após mais de 30 anos do exercício da dança, é necessário um esforço muito grande para a superação de pensamentos construídos”. para isso, tem se dedicado a colocar os integrantes do balé num permanente estado de prontidão e de generosidade para que entendam a importância de cada processo. ao ser questionado sobre os próximos desafios do btCa, vermelho finaliza reafirmando sua filosofia de trabalho de forma simples e direta: “reinventar-se”.

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milena palladino

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Bahia: Terra da Cultura

inveStinDo em SonHoS

lógica do favor nunca mais. se depender do novo modelo de gestão das políticas de fomento adotada na bahia, o financiamento do setor terá sempre como base os critérios republicanos e não políticos. Capitaneado pelo Fundo de Cultura do estado da bahia (FCba), que destinou, somente em 2014, r$ 41 milhões ao setor, o financiamento à cultura reúne ainda o programa de incentivo cultural intitulado Fazcultura, o Calendário das artes e o microcrédito cultural (Credibahia e CrediFácil).

leonardo pastor

novo modelo de FinanCiamento da Cultura por meio de editais desFaZ a lógiCa do Favor e garante reCursos para proJetos em vÁrias modalidades

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os projetos apoiados dialogam com as mais diversas linguagens artísticas e culturais. eles recebem recursos repartidos entre editais setoriais, mobilidade artística e Cultural, eventos Calendarizados e instituições Culturais. a lista completa dos projetos selecionados pelos editais setoriais em 2014 está disponível em www.cultura. ba.gov.br/editais2014. seleção democrática - o processo de seleção para o Fundo de Cultura é democrático, formado por comissões responsáveis pela avaliação dos projetos e pela realização de mais de 200 oficinas de orientação de participação nos editais em todo o estado, com material didático em formato impresso e audiovisual para permitir ampla participação dos agentes e grupos culturais. “para integrar a comissão, é fundamental que os profissionais indicados tenham experiência comprovada na área artístico-cultural para a qual foram indicados. a decisão da comissão é soberana, não havendo interferências nos projetos selecionados”, explica o superintendente de promoção Cultural da secultba, Carlos paiva.

principal fonte de financiamento para a cultura no estado, de periodicidade anual, o FCba - criado para incentivar e estimular as produções artístico-culturais baianas -, chegou a 2014 com número recorde de projetos apoiados: 396 selecionados através de 21 editais setoriais. “o uso dos editais setoriais do Fundo como mecanismo de financiamento, a partir de 2007, quebrou a antiga lógica do favor, também conhecida como ‘política do balcão’, possibilitando o acesso mais democrático e transparente aos recursos do governo para a cultura”, explica o secretário de Cultura da bahia, albino rubim. na gestão Jaques Wagner, ampliou-se o Fundo de Cultura para atender a toda a bahia. os valores saltaram de r$ 15,31 milhões, em 2006, com 40 projetos apoiados, para r$ 41 milhões em 2014, com quase 400 projetos apoiados. de 2007 a 2014, 2317 projetos – dados até novembro de 2014 – receberam um investimento total de r$ 195,41 milhões. Com o aumento de recursos para o FCba, o número de projetos contemplados cresceu

quase 1.000% e pôde alcançar muitas áreas culturais em todos os 27 territórios de identidade da bahia. uma realidade muito diferente do cenário de 2006, quando apenas 11,76% dos projetos selecionados tinham proponentes do interior do estado. em 2014, o percentual cresceu para 47,98%.

Algaravias: O Marujeiro da Lua. FIAC Bahia 2014 teve apoio do Fundo de Cultura.

em 2014, as 21 Comissões de seleção (uma para cada edital) formadas por representantes da sociedade civil e do poder público, avaliaram 2.402 propostas das mais diversas áreas. o trabalho envolveu cerca de 180 profissionais entre integrantes da comissão e equipe de apoio. nomes como aldri anunciação, bel borba, Carlinhos Cor das Águas, Clara trigo, denise stutz, eliane brum, Fernando belens, geraldo sarno, gilberto monte, João Carlos sampaio, manuela 53


Bahia: Terra da Cultura edward Félix

eCONOMia da CULtUra rodrigues, maria de medeiros, nadja turenko e roberto de abreu integraram as comissões setoriais entre 2012 e 2014.

dades no processo de inscrição dos editais anteriores.

outras modalidades de apoio

entre os membros das comissões de fora do estado, participaram profissionais de brasília, Ceará, minas gerais, paraíba, paraná, pernambuco, rio de Janeiro, rio grande do norte, rio grande do sul e são paulo. a indicação dos membros é feita através de consulta pública, por instituições e coletivos, e indicação de nomes pelas unidades vinculadas à secultba, sendo que cabe ao Conselho de Cultura, por lei, a designação de dois nomes. Viva Dança: Muvuca. Festival Internacional teve apoio do Fazcultura

proCesso simpliFiCado

Frank rebelo

desde 2012 que os editais foram ainda mais simplificados: para inscrição é exigido apenas formulário, orçamento e currículo do proponente, ficando à critério do proponente a avaliação de quais outros documentos devem ser enviados para análise de sua proposta. em 2014, para avançar ainda mais na simplificação, o edital de Culturas populares dispensou o preenchimento do formulário padrão e adotou um modelo de questionário, no qual as respostas poderiam ser enviadas no formato impresso ou através de áudio ou vídeo. a medida atendeu à demanda de grupos que haviam registrado dificul-

por certo, os editais não podem ser utilizados de modo adequado em todas as modalidades de financiamento à cultura. existem áreas em que eles não se mostram pertinentes e eficientes. por conta disto, outras iniciativas garantem financiamento a projetos culturais em modalidades que não se adéquam ao modelo de seleção do Fundo de Cultura. FazCultura, Calendário das artes, programa de mobilidade artística e Cultural e projetos Culturais Calendarizados, além do apoio a eventos, integram o sistema de incentivo à cultura na bahia.

FaZCultura Com a destinação de r$ 15 milhões por ano, o FazCultura oferece incentivos culturais através de renúncia fiscal. em 2013, teve investimentos de r$ 11,69 milhões. em 2014, o investimento atingiu o teto da renúncia fiscal, ou seja, r$ 15 milhões. este programa estadual incentiva o patrocínio cultural por meio de uma parceria entre a secretaria de Cultura do estado e da secretaria da Fazenda, desenvolvida desde 1996.

maurício almeida

Pérolas Mistas: Fazcultura no Museu do Ritmo

inserir fotolegendas dos projetos: pérola negra, natura musical (marcela bellas e outros), festival de pri-

Turnê do Balé Folclórico da Bahia foi financiada pelo Programa de Mobilidade Artística e Cultural

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Bahia: Terra da Cultura

eCONOMia da CULtUra

mavera morro de são paulo, vivadança, prêmio braskem de teatro, mundo afro, mercado iaô, Flica, turnê nacional do balé folclórico.

proJeto de apoio Às instituiÇÕes Culturais em 2014, 15 instituições foram apoiadas, com investimento anual de r$ 5,7 milhões.

programa de mobilidade artÍstiCa e Cultural

daniele rodrigues

academia de letras da bahia (salvador) associação educativa Cultural tarcília evangelista de andrade (Capim grosso) balé Folclórico (salvador) Fundação anísio teixeira (Caetité) Fundação Casa de Jorge amado (salvador) Fundação hansen (são Félix) Fundação pierre verger (salvador) instituto geográfico da bahia (salvador) museu Carlos Costa pinto (salvador) museu da misericórdia (salvador) museu do processo (valentim e boa nova) teatro gamboa (salvador) teatro popular de ilhéus (ilhéus) teatro vila velha (salvador) theatro Xviii (salvador)

Flica - Fliquinha: pelo 2º ano, a Feira literarária é apoiada pelo Fazcultura bob nunes

Com foco no desenvolvimento e na inserção nacional e internacional do setor cultural da bahia, a secretaria estadual de Cultura disponibiliza, desde 2007, recursos do FCba através do programa de mobilidade artística e Cultural. são três linhas de apoio: residências artísticas culturais, para artistas ou profissionais da cultura que pretendem desenvolver pesquisa, criação ou produção fora do estado ou país por um período mínimo de seis semanas; intercâmbio e difusão, para profissionais em atividades culturais nacionais e internacionais, promovidas por entidades de reconhecido mérito; ou formação artístico-cultural, para propostas de participação em cursos, oficinas e estágios fora do estado da bahia. para cada linha, há um valor máximo de financiamento. em 2014 foram investidos um total de r$ 525 mil.

apoio a eventos

eventos Culturais CalendariZados

além do financiamento através de editais e premiações, a secretaria apoia alguns eventos culturais. um dos destaques é a bienal do livro da bahia, com edições realizadas em 2007, 2009, 2011 e 2013. o maior evento literário da bahia, que mobiliza um público de 275 mil pessoas, teve patrocínio do governo da bahia, através das secretarias de educação, Cultura, Fazenda e turismo.

o apoio a eventos Culturais Calendarizados, num total de r$ 3,3 milhões por ano, visa consolidar uma agenda anual de projetos culturais realizados periodicamente no estado da bahia, apoiando a realização total ou parcial de cada um deles e potencializando a visibilidade dos projetos. a seleção tem como parâmetro as diretrizes da política estadual de Cultura, a descentralização das ações no estado, e a promoção da diversidade de expressões culturais. são contempladas iniciativas organizadas por pessoas físicas ou jurídicas, com temática cultural específica ou diversificada, sob forma de bienais, mostras, festivais, e similares, realizadas com ao menos três dias de duração consecutiva, periodicidade mínima anual, e com pelo menos três edições realizadas no estado da bahia. Fundo de Cultura: Filte Bahia, com Exu A Boca do Universo.

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Bahia: Terra da Cultura

eCONOMia da CULtUra

CalenDÁrio Feito De arte reCursos pÚbliCos tÊm aCesso FaCilitado e beneFiCiam artistas de todo o estado

a inventura, por exemplo, é de alagoinhas. o Cd, também intitulado inventura, foi gravado e produzido pela banda de maneira independente, e isso permitiu que lucas Costa (voz e baixo), Felipe Costa (bateria) e paulo dantas (guitarra) levassem para o estúdio uma energia que, por vezes, remete a de uma apresentação ao vivo. É esse mesmo clima que o grupo leva para os palcos, proporcionando ao público uma experiência bastante calorosa e peculiar, regada a muito rock.

um calendário feito de arte e voltado para quem ainda não ocupa os holofotes da cultura, como forma de estimular o desenvolvimento artístico no estado. É o que há em comum entre projetos diversificados como a turnê de lançamento do primeiro disco da banda de rock inventura, com shows em Feira de santana, salvador e vitória da Conquista, e o miss subúrbio gay, que busca ser uma vitrine da arte produzida no subúrbio de salvador. ambos participaram do edital Calendário das artes, financiado pela Fundação Cultural do estado da bahia (Funceb), entidade vinculada à secretaria de Cultura do governo do estado (secultba).

Jamile almeida

A banda Inventura, de Alagoinhas, conseguiu gravar o primeiro CD com recursos do Calendário das Artes

os dois projetos, apresentados em setembro deste ano, integram as 49 propostas selecionadas – das 515 inscritas – pela primeira Chamada de 2014, nas áreas de artes visuais, audiovisual, Circo, dança, literatura, música, teatro e artes integradas. somando-se aos 49 selecionados da segunda Chamada, são 98 projetos apoiados este ano, no total. em sintonia com a política de territorialização da cultura, os projetos são provenientes de 68 diferentes municípios, 34 selecionados em cada chamada. em seus três anos de existência, o edital alcança uma lista de 109 municípios contemplados em todos os 27 territórios de identidade baianos.

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Já a segunda edição do miss subúrbio gay levou luxo, glamour, elevação de autoestima e sensação de pertencimento ao Centro Cultural plataforma. o evento encerrou o Festival diversas suburbanidades, que promoveu atividades como exposição, exibição de filmes, videoperformance e bate-papos, tudo em torno da temática lgbt, além do tradicional desfile das misses. Com produção de Fabrício Cumming, o evento teve sua personagem, a Condessa tabatha vermont, como mestre de cerimônia. a noite contou com performances do grupo de dança new black, shows de dion, ivanelly vergman, andressa lamarck, aluvania butantã e ayana vitória (miss subúrbio 2013).

ian vitor

ian vitor

eCONOMia da CULtUra

diversidade - Com aporte financeiro total de r$ 637 mil por Chamada, o edital concede prêmios de até r$ 13 mil. ele se fundamenta na ampliação do investimento para a produção artística de toda a bahia, considerando sua grande diversidade e dimensões territoriais. são priorizadas propostas em benefício de populações com menor acesso a produtos culturais e que privilegiem a diversidade cultural, contemplando as mais diversas ideias de artistas, grupos e produtores, amadores ou profissionais.

Miss Periperi

lançado em 2012, o edital já financiou projetos como o Caetité metal open air, no sertão da bahia. Festival de rock pioneiro na cidade, o evento reúne shows, oficina de fotografia, workshops e mostra de cinema em torno deste universo, com atividades gratuitas. a iniciativa nasceu do jovem vinícius toledo, vocalista e guitarrista da natural hate, única banda de trash metal de Caetité, ao notar que, embora acontecessem shows de rock em sua cidade, ainda não existiam nela produtores e públicos mais estabelecidos e com o devido acesso aos diferentes produtos musicais. vinicius percebeu que ali se necessitava de mais atores e ações culturais para possibilitar o conhecimento de novas representações musicais e das suas contribuições para as linguagens artísticas, inclusive para além da música. “aqui em Caetité, não existia um público muito interessado no metal. até mesmo para o pop rock já era muito difícil. só após gravarmos nosso primeiro Cd, circularmos com ele por cidades vizinhas, nos inserirmos no cenário musical da região, que já continha uma galera boa produzindo o gênero, foi que percebemos que podíamos começar a mudar essa situação”, conta vinicius, que, desta maneira, abriu portas para novos consumos e olhares na região.

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Miss Subúrbio Gay levou um show de luxo e glamour ao público ao Centro Cultural de Plataforma

a primeira edição do Caetité metal open air foi realizada em 2013. na lista de bandas do evento, com shows no parque das Árvores, estiveram representantes de diferentes origens dentro da bahia, expressando um panorama do atual heavy metal baiano: suffocation of soul (poções), oldskull (guanambi), godslayer (guanambi), quebra Copos (Caetité), human (Feira de santana), rattle (salvador), bastard (santa maria da vitória), hellraiser b.s. (santa maria da vitória), Chaos Conspirancy (Jequié), blackoutt X (Jaguaquara) e a própria natural hate (Caetité), além de um convidado de recife (pe): o grupo Cangaço. alinhada à programação musical, foi feita uma mostra de cinema, com os documentários metal – uma Jornada pelo mundo do heavy e global metal – a Jornada Continua, além de uma oficina de fotografia, com a equipe

da querosene Fotos, e dois workshops no Conservatório de música anísio teixeira: música Clássica e heavy metal e técnicas de guitarra. devido ao comprometimento e capacidade de todos os envolvidos, o evento ganhou notoriedade, e, segundo vinicius, o apoio dado pela Funceb ao seu primeiro projeto foi muito fundamental para lhe dar credibilidade: “o apoio da fundação foi muito importante para fechar a parceria com os colaboradores. por causa da visibilidade que a fundação tem, conseguimos firmar de vez a parceria com a prefeitura, o Conservatório de música e o cine-teatro da cidade”, conta, enquanto confirma o potencial de agregar o suporte público, em diferentes níveis, com o apoio privado, incentivando a economia da cultura em sua cidade.

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Bahia: Terra da Cultura

eCONOMia da CULtUra muniCipios Contemplados

alex oliveira

Com o sucesso da estreia e a experiência obtida, o Caetité metal open air vai crescer. a sua segunda edição deu um passo à frente e foi selecionada pelo edital setorial de música 2014, garantindo um aporte financeiro cerca de três vezes maior. assim, a ação será ampliada e qualificada, com novas investidas e mais incentivos para a diversidade cultural da região.

veja abaixo a lista das 109 cidades baianas com projetos apoiados pelo Calendário das artes nas seis Chamadas realizadas em seus três anos (2012-2014):

mais de r$ 3,6 milhÕes investidos em dois anos somando as seis Chamadas realizadas entre 2012 e 2014, o Calendário das artes já disponibilizou um total de r$ 3,653 milhões para a execução de 282 projetos, selecionados dentre um total de 4920 inscritos. são projetos oriundos de 109 cidades, contemplando todos os 27 territórios de identidade do estado. o Calendário das artes é um concurso bastante simplificado: para a inscrição, exige apenas o preenchimento de um formulário como documento a ser apresentado pelos proponentes. e por ser concedido em forma de prêmio, a comprovação da realização do projeto não exige a prestação de contas contábil-fiscal. por isso, é uma experiência mais acessível para pequenos produtores e que os acolhe de forma diferenciada, até mesmo no sentido de prepará-los para novos desafios.

Vinícius Toledo é o organziador do Festival Caetité Metal Open Air

para completar, o edital traz premissas que buscam abarcar propostas de todas as regiões do estado em quantidade igualitária, com avaliação dos projetos feita de forma territorializada e com os inscritos de cada macroterritório da bahia concorrendo apenas entre si. o Calendário ainda divide o macroterritório 2 em duas categorias: propostas de salvador e propostas dos demais municípios do macroterritório 2. assim, atende à maior demanda da capital e garante maior competitividade das propostas dos outros municípios desta região. as comissões de seleção são específicas para cada macroterritório e formadas por representantes locais e de diferentes origens dentro do estado, escolhidos através de consulta pública e a entidades artísticas e culturais das diferentes regiões, além de membros do estado.

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abaré, Água Fria, alagoinhas, amargosa, amélia rodrigues, antônio Cardoso, araci, barreiras, belmonte, bom Jesus da lapa, buerarema, Cachoeira, Caetité, Cairu, Camaçari, Campo Formoso, Canavieiras, Cândido sales, Cansanção, Capela do alto alegre, Capim grosso, Caravelas, Carinhanha, Casa nova, Conceição do Coité, Correntina, Cruz das almas, dias d’Ávila, euclides da Cunha, Feira de santana, gandu, governador mangabeira, guanambi, iaçu, ibicoara, ibipeba, ibotirama, igaporã, ilhéus, inhambupe, ipiaú, irecê, itaberaba, itabuna, itacaré, itajuípe, itaparica, itapetinga, itarantim, Jacobina, Jaguaquara, Jequié, Juazeiro, lafaiete Coutinho, lapão, lençóis, livramento de nossa senhora, macaúbas, manoel vitorino, mansidão, maraú, muniz Ferreira, nordestina, nova Canaã, nova soure, oliveira dos brejinhos, palmeiras, paratinga, paulo afonso, pé de serra, pindaí, pintadas, planaltino, porto seguro, prado, quijingue, rio de Contas, salvador, santa bárbara, santa Cruz Cabrália, santa maria da vitória, santa terezinha, santo amaro, santo estevão, são domingos, são Félix, são Félix do Coribe, são Francisco do Conde, são gabriel, são gonçalo dos Campos, sátiro dias, seabra, senhor do bonfim, serra do ramalho, serrinha, serrolândia, simões Filho, sítio do mato, tanque novo, tapiramutá, terra nova, ubaíra, uruçuca, valença, varzedo, vera Cruz, vitória da Conquista, Wenceslau guimarães e Xique-Xique.

Calendário das artes: www.fundacaocultural.ba.gov.br/calendariodasartes

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Bahia: Terra da Cultura

eCONOMia da CULtUra acervo CCpi

a Gente Quer DinHeiro e FeliCiDaDe

FnC e mais r$ 125 mil do governo da bahia, num total de r$ 625 mil. a concepção do projeto partiu da necessidade de criar maiores oportunidades para segmentos que tiveram participação fundamental na construção do brasil, porém, que ainda carecem de ações específicas para valorização e salvaguarda, conforme explica a diretora do Centro de Culturas populares e identitárias, arany santana. “os povos tradicionais e de terreiros possuem acervos em suas casas e templos que guardam a memória das suas linhagens e culturas. a história deles é a própria história do povo brasileiro”.

bahia terÁ r$ 5,9 milhÕes para reForma de espaÇos Culturais, proJetos na Área da mÚsiCa e ÉtniCo-Culturais elias mascarenhas

Representantes da REMMUT e do CCPI reunidos no Terreiro Mokambo, onde está localizado o Memorial Kisimbiê. As demandas apresentadas pela Rede subsidiaram o projeto vencedor na categoria Promoção da Diversidade Cultural Brasileira

Comunidades de terreiros e culturas populares serão alvo de ações de formação e salvaguarda

a bahia terá r$ 5,936 milhões do governo federal para investir em cultura. É que três propostas do estado venceram o 1º edital de Fortalecimento do sistema nacional de Cultura (snC), lançado este ano, por meio da secretaria de articulação institucional do ministério da Cultura (minC). são elas: o projeto de valorização da memória e Fortalecimento da economia Criativa e solidária das Comunidades de terreiros e Culturas populares, o mapa musical da bahia 2014/2015 e a Construção de salas multiuso nos Centros de Cultura da bahia, este através do Centro de Formação em artes (CFa). o recurso será repassado à secretaria de Cultura do estado (secultba) via Fundo nacional de Cultura (FnC).

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a primeira proposta será executada pelo Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi) e as demais são ações realizadas pela Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb). a bahia, assim, obteve aprovação para projetos nos três eixos estabelecidos pela seleção. Classificado em primeiro lugar no eixo, com foco em culturas populares e culturas tradicionais, o projeto do CCpi, de valorização da memória e Fortalecimento da economia Criativa e solidária das Comunidades de terreiros e Culturas populares, viabiliza uma série de ações de formação, produção, salvaguarda e democratização de acesso, para garantir a valorização das comunidades de terreiros e culturas populares. o projeto receberá o investimento de r$ 500 mil do

a proposta prevê a realização de seminários, oficinas, simpósio, feira, e a produção de material informativo sobre a diversidade sociocultural destas comunidades, além da elaboração de um plano museológico-modelo a ser utilizado pelos museus e memoriais da rede de memoriais e museus de terreiros (remmut). Criada no ano de 2013 com apoio institucional do CCpi, a remmut busca impulsionar terreiros que já tem acervos organizados, e orientar outros na montagem de seus memoriais. dez terreiros de salvador e região metropolitana já fazem parte da rede. Criada no ano de 2013 com apoio institucional do CCpi, a remmut busca impulsionar terreiros que já tem acervos organizados, e orientar outros na montagem de seus memoriais. dez terreiros de salvador e região já fazem parte da rede. para o responsável pela condução da remmut, tata anselmo, além de dar visibilidade às histórias dos ancestrais, a abertura destes espaços para visitação nos terreiros é uma forma de levar mais pessoas a conhecer sobre as culturas de matrizes africanas e minimizar os preconceitos ainda existentes. o projeto aprovado no edital do snC foi baseado em demandas apresentadas ao CCpi através da remmut. “para a nossa comunidade a aprovação deste projeto tem um significado fantástico, pois oferece a possibilidade de implementação de ações que devem trazer reconhecimento, valorização e respeito à nossa diversidade”, comemora tata anselmo, que é também o sacerdote do terreiro mokambo.

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tiago lima

novos espaÇos e equipamentos Culturais o Centro de Formação em artes da FunCeb foi selecionado também em primeiro lugar no eixo “implantação, instalação e modernização de espaços e equipamentos Culturais” com a proposta de implantação de quatro núcleos do Centro de Formação em artes, chamados de nCFa, em áreas anexas aos espaços culturais da secultba localizados nas cidades de Feira de santana, itabuna, valença e vitória da Conquista, quatro polos regionais do estado.

mapa

musical da bahia Um núcleo do Centro de Formação em Artes será implantado em área anexa ao espaço cultural da SecultBA em Valença

para o responsável pela condução da remmut, tata anselmo, além de dar visibilidade às histórias dos ancestrais, a abertura destes espaços para visitação nos terreiros é uma forma de levar mais pessoas a conhecer sobre as culturas de matrizes africanas e minimizar os preconceitos ainda existentes. o projeto aprovado no edital do snC foi baseado em demandas apresentadas ao CCpi através da remmut. “para a nossa comunidade, a aprovação deste projeto tem um significado fantástico, pois oferece a possibilidade de implementação de ações que devem trazer reconhecimento, valorização e respeito à nossa diversidade”, comemora tata anselmo, que é também o sacerdote do terreiro mokambo.

mapa da mÚsiCa no segundo eixo, de “Fomento à produção e Circulação de bens Culturais”, r$ 2,5 milhões do Fundo nacional de Cultura serão somados a uma contrapartida de r$ 625 mil do governo da bahia para um investimento total de r$ 3,125 milhões na difusão da diversidade da produção musical da bahia. o mapa musical da bahia é uma ação da FunCeb de mapeamento, reconhecimento e promoção da música autoral de artistas que atuam nos 417 municípios baianos.

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“o mapa musical busca evidenciar a criação musical autoral na bahia, fortalecendo, por consequência, o segmento da música como um todo na medida em que foca no compositor, um elo fundamental no impulso à criatividade e à inovação artística”, considera o coordenador de música da Funceb, Cássio nobre. lançado em 2012, já cadastrou 913 compositores e músicos e 1732 obras musicais da bahia. deste grande acervo, 612 canções integram o portal do mapa musical, no ar desde agosto de 2013, que apresenta uma rádio online (www. fundacaocultural.ba.gov.br/mapamusical). a proposta selecionada pelo edital do snC foca na divulgação deste grande panorama, com a realização de 108 shows nos 27 territórios de identidade da bahia, dois grandes festivais e cinco oficinas de qualificação. o projeto ainda prevê a completa reformulação do portal, com novas ferramentas e melhor navegação; criação de aplicativo para smartphones e tablets; e a produção de uma coletânea de cinco Cds com 15 faixas de diferentes gêneros e 2 mil cópias cada.

serão salas multiuso, acompanhadas de salas auxiliares, que integrarão uma rede de Formação em artes, para ampliação do programa de qualificação em artes no interior da bahia, que vem ocorrendo desde 2012 e já formou cerca de mil alunos. o FnC repassará r$ 2.936.219,00 e a contrapartida da bahia será de r$ 434.880,52, totalizando r$ r$ 3.371.099,52 milhões aplicados neste projeto. a proposta de implantação da rede de Formação em artes nasceu da experiência com o programa de qualificação, que mostrou uma procura muito grande no interior por cursos nas sete áreas artísticas. “Com os novos núcleos, os programas de qualificação serão mantidos de forma permanente para atender a demanda do interior do estado durante o ano inteiro, e ainda potencializar as ações sazonais que já acontecem”, comenta rodrigo Figueiredo, assessor da diretoria das artes da FunCeb, que adianta que as atividades itinerantes promovidas anualmente pela Fundação serão mantidas nos demais municípios. além dos quatro novos núcleos e a própria sede do Centro de Formação em artes, localizada em salvador, a rede buscará envolver as prefeituras municipais e os grupos e instituições culturais das regiões do interior do estado.

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adenor gondim

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CULtUra O aNO iNteirO 68

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CULtUra O aNO iNteirO

Que SauDaDe Da BaHia perFormanCes musiCais, debates, mostras e atÉ aula de balÉ marCaram do CentenÁrio de dorival CaYmmi

Fortemente influenciado pela música negra, Caymmi desenvolveu um estilo peculiar de cantar e compor, tornando-se um dos maiores protagonistas da música brasileira. iniciou sua trajetória artística no rádio, onde começou a cantar. ao se mudar para o rio de Janeiro, casou-se com a também cantora stella maris, mãe de seus três filhos: nana, dori e danilo Caymmi. o primeiro grande sucesso foi “o que é que a baiana tem?”, cantado por Carmen miranda em 1939. através de suas músicas, a bahia foi construída simbolicamente, com um discurso típico que se estabeleceu nas primeiras décadas do século XX, retrato que a tornou mundialmente conhecida. Caymmi faleceu no rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 2008, deixando um grande legado para a história da música brasileira.

rosilda Cruz

SOBRE CAYMMI

Cortejo em homenagem a Caymmi em Itapuã

nem só de praia, coqueiros e maracangalha vive a memória de Caymmi na bahia. os 100 anos do mestre da canção foram celebrados em salvador com música, debates, mostras, balé, selo comemorativo e até caminhada pelas areias de itapuã. primeiro, foi o Carnaval, com direito a tema da decoração e programação no Centro antigo de salvador. depois, vieram os shows no bairro mais cantado pelo artista e a homenagem capitaneada pela família Caymmi: uma apresentação que encheu de emoção a sala principal do teatro Castro alves com nana, danilo e dori e o repertório inesquecível em reverência à memória do pai. um ano inteiro de saudações ao músico que cantou a bahia e encantou o mundo com sua arte. o Carnaval do pelô, o palacete das artes, a biblioteca Juracy magalhães de itaparica, o tCa, o pelourinho Cul-

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tural, dez espaços culturais e outros setores da secretaria de Cultura do estado da bahia (secultba) abraçaram diversas homenagens. Com apoio e recursos do governo da bahia, através do Fazcultura, o prêmio Caymmi de música foi retomado neste ano. as ações comemorativas começaram no Carnaval, quando o artista foi o tema da decoração “bahia negra: Caymmi e ilê” e da programação musical do Carnaval do pelô. “através de suas letras, ele imortalizou a bahia daquela época, com todos os seus costumes e tradições, que ainda fazem parte do imaginário popular e inspiraram a decoração que foi feita em sua homenagem. Foi muito adequado e pertinente associar dorival Caymmi, junto com o ilê aiyê, ao tema bahia negra”, afirma a diretora do Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi) da secultba, arany santana. 71


Bahia: Terra da Cultura

CULtUra O aNO iNteirO

no dia de nascimento de dorival, 30 de abril, o “Cortejo Caymmi! de itapuã para o mundo…” movimentou com samba de roda, capoeira e as ganhadeiras de itapuã o trajeto do abaeté até a praça dorival Caymmi, onde aconteceu o espetáculo homônimo. participaram do show os artistas aloísio meneses, Cláudia Cunha, Firmino de itapuã, Jussara silveira, orquestra de pandeiros de itapuã, roberto mendes e saraiva. a festa continuou com o show malê Canta Caymmi, com os artistas bambeia, Cultura popular, samba e sede e saraiva. na mesma data, houve o lançamento do selo comemorativo do centenário, dos Correios, na Casa da música do abaeté e a abertura da exposição “hoje e sempre dorival Caymmi”. outro ponto da cidade que comemorou o dia do centenário foi o pelourinho. o local recebeu três shows do projeto “versando Caymmi – 100 anos”, nos largos do Centro histórico. silvinha torres, Ângela lopo e robson moraes apresentaram sucessos de Caymmi e de seu filho dori, no largo pedro archanjo. Já a banda soul tambor, liderada por lucas di Fiori, comandou o show no largo tereza batista e no quincas berro d´Água. a festa ganhou sonoridade de mpb com a cantora Clau andries, com participação de mazo guimarães. os três shows foram gratuitos. 72

rosilda Cruz

tCa reCebeu shoWs em homenagem ao CentenÁrio do artista o projeto “Caymmi! de itapuã para o mundo…” estendeu as comemorações e promoveu o show “Caymmi é 100”, com a cantora Cláudia Cunha, em 11 de maio - dia das mães. no palco, um dos novos nomes da música brasileira e uma das principais artistas da cena musical da bahia apresentou um espetáculo dividido em três momentos, que buscavam abarcar os principais temas de inspiração do compositor: o mar, com canções praieiras que falam de saveiros, peixes, vento e iemanjá; as mulheres, cantadas pelo mestre, com músicas como “modinha para gabriela“, “dora“, “adalgisa”, “anália”, “rosa”; e a bahia de Caymmi, com canções que falam do jeito baiano, da vida urbana da época, culinária e beleza da capital, como “você já foi à bahia?”, “vatapá” e “Coqueiro de itapuã“. em agosto, foi a vez dos filhos nana, dori e danilo Caymmi dividirem o palco em um show especial para celebrar o centenário do pai. a escolha das músicas interpretadas surgiu a partir da inspiração do livro de Caymmi, “Cancioneiro da bahia”, publicado em 1947, que apresenta histórias de canções praieiras e evidenciam o fascínio do cantor pelo mar e seus personagens, como iemanjá. daí a tendência folclórica do repertório, com arranjos novos e uma visão mais contemporânea. Centenário Caymmi - As Ganhadeiras de Itapuã

também no tCa, a orkestra rumpilezz e a orquestra da FunCeb (oFun) renderam sua homenagem a Caymmi com uma apresentação no mês de setembro. o espetáculo rumpilezz visita Caymmi, protagonizado pelo maestro letieres leite, apresentou um repertório composto por dez composições, como as consagradas oração de mãe menininha e macarangalha, executadas pela oFun, que abriu o show, e as canções simbólicas “Canto de nanã”, “Canto de obá” e “o vento”, pela orkestra rumpilezz.

rosilda Cruz

em abril, o projeto Caymmi! de itapuã para o mundo…, realizado em parceria com a associação de moradores de itapuã (ami) levou para as margens da lagoa do abaeté a programação comemorativa dos seus 100 anos, com shows, exposições, cortejo e bate-papo musicado. as comemorações aconteceram na Casa da música, na sede do bloco afro malê debalê e na praça dorival Caymmi. entre os destaques, a exposição aquarela Caymmi, do artista mauritano - que circulou por espaços da secultba na capital (alagados e plataforma) e no interior (Feira de santana e alagoinhas), entre agosto e dezembro; além do viva o abaeté especial Caymmi, com as morenas e a velha guarda de itapuã.

Cortejo com aunos da Escolda de Dança da FUNCEB em homenagem a Caymmi

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rosilda Cruz

adenor gondim

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incluiu também a exibição gratuita do filme “mestre Caymmi da bahia” (2006), de delza schaun, em dez espaços culturais da secultba na capital e no interior. o documentário traz entrevista feita com Caymmi no rio de Janeiro, aos 92 anos, em que ele fala, entre outros assuntos, da carreira, dos momentos marcantes da vida e da saudade da bahia. personalidades do meio artístico e cultural aparecem em depoimentos sobre o compositor baiano. o filme integra o projeto terças na tela do Circuito popular de Cinema e vídeo dos espaços Culturais da secultba.

prÊmio CaYmmi de mÚsiCa reconhecer, fortalecer e premiar a produção musical baiana, impulsionando novas criações. este é o objetivo do prêmio Caymmi de música, que volta à cena através do apoio do programa de incentivo fiscal Fazcultura das secretarias estaduais de Cultura e da Fazenda. a idéia é premiar os melhores intérpretes, compositores, técnicos, produção, arranjo musical, fotografia, roteiro, entre outros quesitos. Domingo no TCA - Saulo e Luiz Caldas

Exposição Aquarela Caymmi

“a obra de Caymmi tem essencial destaque na estruturação da música brasileira. ele foi o primeiro a trazer a informação da música da bahia de maneira rigorosa e aproximou a música popular de elementos importantes da música de matriz africana. neste encontro, dialogamos com essa matéria-prima caymmiana e vamos adiante com, por exemplo, o samba presente em sua obra”, afirmou o maestro letieres leite.

o prêmio Caymmi de música busca o diálogo com as necessidades do mercado cultural do estado e é dividido em três categorias distintas: show, música e videoclipe, além da Categoria especial, onde a Comissão Julgadora premiará projetos de destaque na área de produção musical. os premiados serão artistas baianos ou que residam na bahia por no mínimo três anos. a festa de premiação será na data de aniversário do artista: dia 30 de abril de 2015, no teatro Castro alves.

os 1.500 lugares do teatro castro alves não foram suficientes para abrigar todo o público que compareceu na manhã do dia 16 de novembro para assistir ao show de saulo Fernandes e luiz Caldas em homenagem a Caymmi, pelo projeto domingo no tCa. sensibilizados com a plateia, os artistas decidiram capitanear dois espetáculos, no mesmo dia, para celebrar o compositor e atender ao apelo do público. as homenagens foram encerradas em dezembro com um espetáculo do balé teatro Castro alves.

Feira de livros e espeCial CaYmmi

assim, entre agosto de 2014 e abril de 2015, o projeto envolve toda a bahia, buscando cumprir uma importante função de pautar a produção baiana e valorizar a diversidade e o acesso dos artistas interioranos com maior repercussão de público e da indústria fonográfica local, além de criar um marco no calendário cultural do estado.

Selo comemorativo foi lançado na Casa da Música do Abaeté

o projeto trocando palavras, que aconteceu no palacete das artes, em abril, promoveu troca e doações de obras literárias. o evento contou com participações de alexandre leão e do violonista Kito matos, apresentando músicas de dorival Caymmi. a programação

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Bahia: Terra da Cultura

FeSta Da DiverSiDaDe investimento de r$ 10 milhÕes proporCiona valoriZaÇÃo das entidades de matriZ aFriCanas, do roCK e dos antigos Carnavais

Cerca de 12 mil artistas fizeram a festa dos foliões nos principais circuitos do Carnaval de salvador e maragogipe em 2014. resultado de um investimento de r$ 10 milhões, quatro programas - Carnaval ouro negro, Carnaval do pelô, Carnaval pipoca e outros Carnavais - possibilitaram o acesso gratuito a 218 atrações em vários pontos da festa na bahia. a programação do Carnaval da Cultura, patrocinada pela secretaria da Cultura do estado da bahia (secultba), animou as ruas do pelourinho e os principais circuitos da festa, com blocos afro e microtrios. o palco do rock, em piatã, e o Carnaval de mascarados, em maragogipe, também foram alvos dos investimentos estaduais.

lúcia Correia lima

na festa que teve como tema oficial os 40 anos dos blocos afros, o Carnaval ouro negro foi um dos grandes des-

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taques da folia, com 104 entidades carnavalescas dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e índio. Juntas, desfilaram com cerca de 10 mil artistas, incluindo músicos, dançarinos e percussionistas. para muitos blocos, 2014 teve múltiplas comemorações. Foram 65 anos do Filhos de gandhy, 45 anos do apaxes do tororó, 40 anos do ilê aiyê e do Comanche do pelô. também foram lembrados os 35 anos do olodum e do malê debalê, 15 anos do Cortejo afro e os 20 anos da didá e do bloco de samba alerta geral. aliadas a essas comemorações, três noites de desfile do afródromo reuniram cerca de 30 entidades, boa parte delas integrante do Carnaval ouro negro. “Com o afródromo, estes blocos, já valorizados pela secretaria de Cultura do estado desde 2008, com

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os foliões apreciaram a beleza e a musicalidade de grupos como o ilê aiyê, que fez um dos mais emocionantes desfiles deste carnaval no circuito mãe hilda Jitolu, na liberdade, na noite de sábado. Com participação de índios das tribos tuxá, pataxó, Kirirí e Kaimbé, o bloco apaxes do tororó se mostrou renovado. o desfile, que contou com a presença do boi garantido, trouxe de volta a bateria com cerca de 300 músicos.

Sábado de Carnaval no Curuzu: Saída do Ilê Aiyê

no cenário do maior conjunto arquitetônico barroco-europeu das américas, tombado como patrimônio do brasil pelo iphan, desde 1984, e chancelado pela unesco, desde 1985, como ‘patrimônio da humanidade’, passaram diversas estrelas da música baiana. Carlinhos brown, mariene de Castro, lazzo, margareth menezes, Jussara silveira, lucas santtana e márcia Castro fizeram a festa do folião. bandas e grupos lotaram a praça, como a baianasystem e a orquestra de pandeiros, além de instrumentistas, como rowney scott, Cacau do pandeiro, Júlio Caldas e marcos suzano. a cantora americana princess la tremenda e os cantorescompositores gerônimo e dão também marcaram presença no evento.

no ano em que comemoram suas quatro décadas, os blocos afros atraíram um grande público nos três circuitos da folia. “o desfile dos blocos de matriz africana é o que nos motiva a sair de casa, vir para o Carnaval e ficar aqui até mais tarde. eles representam a reocupação do espaço que é nosso”, disse marcos santos, 52 anos, gaúcho radicado na bahia há nove anos.

Tuk Tuk Sonoro: animação e criatividade dos microtrios

Mariene de Castro e Margareth Menezes

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o Carnaval do pelô brilhou com a pluralidade, no circuito considerado mais uma vez o mais seguro do Carnaval da capital baiana. no total, 73 atrações ocuparam as 12 ruas, três largos (pedro archanjo, tereza batista e quincas berro d’Água) e a praça José de alencar, mais conhecida como largo do pelô, onde foi armado o palco principal.

lúcia Correia lima

estrelas - o Carnaval ouro negro também trouxe estrelas de forte apelo popular para a avenida. artistas como dudu nobre, diogo nogueira, mariene de Castro, gabby moura, délcio luís, reinaldo, raimundo sodré, roberto mendes, aloísio menezes, É o tchan, harmonia do samba e o grupo revelação animaram mais de 50 mil foliões nos cerca de 20 blocos de samba. “estou muito feliz pelo samba ter invadido o carnaval de salvador”, destacou o cantor e compositor nelson rufino.

enContro plural no pelourinho

lúcia Correia lima

o ouro negro, passam a ter uma voz poderosa. eles podem, a partir disso, ter uma interferência maior nesta festa”, afirmou o secretário estadual de Cultura, albino rubim. para arany santana, diretora do Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi) da secultba, “o Carnaval ouro negro abraça grupos e entidades culturais que, além do Carnaval, desenvolvem trabalhos sociais e culturais em suas comunidades”.

Claudionor Junior

CULtUra O aNO iNteirO

no total, 950 artistas, entre cantores, músicos de orquestra, de cordas, de sopro e de percussão, além de dançarinos e atores, se revezaram em performances pelas ruas e largos nos cinco dias de folia. eram shows de reggae, pop-rock, afro-pop, axé, arrocha, hip hop e samba, além de bailes com orquestras, bandinhas, bandões e fanfarras. a programação eclética, democrática e diversificada cultural e artisticamente atraiu aproximadamente 900 mil pessoas nos cinco dias de folia. “Com a qualidade artística garanti-

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lúcia Correia lima

sidney rochate

Bahia: Terra da Cultura

Saída dos Filhos de Gandhy

Desfile do Olodum no Pelourinho

da no Carnaval do pelourinho, estamos atraindo públicos diferentes, atendendo a diversidade cultural. Falo não só da diversidade de gêneros musicais, mas da diversidade de faixas etárias e origens dos turistas e visitantes”, disse albino rubim. Com o tema “bahia negra: Caymmi e ilê”, o Carnaval do pelô também reverenciou os afoxés Filhos de gandhy (65 anos) e badauê (35); os blocos de índio Comanches do pelô (40) e apaxes do tororó (45); e, ainda, os blocos afro olodum e malê debalê (35).

Farol da barra, tocando marchinhas carnavalescas, junto com a banda bailinho de quinta, olodum, grupo stomp, quebales e baby Consuelo. depois, outros 50 músicos fizeram a festa do folião pipoca nas 15 apresentações dos microtrios, entre eles o liderado pelo baterista ivan uol, que completou 18 anos nesse Carnaval.

marChinha, perCussÃo e miCrotrio

na programação, houve ainda o rixô elétrico, o tuktuk sonoro, o Coreto elétrico, o retrofolia, o projeto 100 anos de dodô, além de Chico César, peu meurray & os pneumáticos, este, com 15 artistas, entre músicos percussivos, dJs, guitarristas, colaboradores da reciclagem, artistas plásticos e grafiteiros.

o Carnaval pipoca começou com o baile Concerto da orquestra sinfônica da bahia na abertura do carnaval, no

o sucesso da festa pode ser medido não apenas receptividade do público, mas também pela avaliação dos artistas.

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“É sempre bom fazer coisas novas, como essa proposta de proximidade que a gente tem com o público no microtrio”, disse rex, baterista da banda retrofoguetes. o músico alex da Costa, do Coreto elétrico endossa o coro: “nós mandamos o projeto e eles analisaram e acreditaram. É isso o que a gente precisa, desse incentivo do governo para o artista que quer levar a música para a rua e para o povo que está esperando a festa”. Já o guitarrista e bandolinista baiano Fred menendez, criador do rixô elétrico, destacou a importância do papel do estado nesse tipo de iniciativa. “É importante que o governo continue apoiando e oferecendo subsídios para os microtrios. o rixô vem influenciando a criação de outros microtrios, assim como a Fobica abriu espaço para os trios grandes”, afirmou.

tanto a folia nos palcos, quanto o investimento mais elevado em microtrios atenderam às mudanças do Carnaval de salvador, que pretende dar maior espaço a esses formatos mais democráticos e sem cordas. “o Carnaval pipoca democratiza o acesso de artistas de diferentes segmentos, tornando-os visíveis ao público e, ainda, democratiza o acesso do público a um espaço de lazer tão significativo como é o carnaval”, avalia a diretora do Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi), arany santana. segundo ela, “o microtrio é uma tradição que faz parte da história do Carnaval e da música baiana. É um elemento de resistência que permanece, mesmo após o domínio dos trios elétricos, e permite uma maior proximidade do artista com o folião”.

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Bahia: Terra da Cultura

proJeto valoriZa a singularidade no Carnaval da Cultura, o rock também tem espaço garantido, assim como a beleza e a alegria dos mascarados. em salvador e no interior, o projeto outros Carnavais dá a medida desta singularidade: o apoio a duas manifestações já tradicionais da festa, o palco do rock e o Carnaval de maragogipe. o primeiro reuniu, neste ano, 32 bandas e cerca de 25 mil pessoas em quatro dias de festival em piatã, na capital. Já a festa no recôncavo manteve viva a tradição que já dura quase 200 anos e é reconhecida, pelo governo, como patrimônio imaterial.

lúcia Correia lima

CULtUra O aNO iNteirO

investimento total: r$ 10 milhões incluindo Carnaval ouro negro, Carnaval do pelô, Carnaval pipoca e outros Carnavais. atraÇÕes 218 atrações Carnaval ouro negro – 104 entidades (10 mil artistas, entre músicos, dançarinos e percussionistas).

o palco do rock chegou à sua 20ª edição no coqueiral da praia de piatã como o maior festival de rock independente da bahia incluído nos carnavais do brasil. “o apoio do governo da bahia, através da secretaria de Cultura, torna-se, por conta da sua habilidade multidirecional e contextualização da cultura local, exemplo para todos os outros estados. proporciona uma nova leitura das ‘culturas paralelas’ que fazem parte da história do país”, afirmou a produtora do evento, sandra de Cássia.

Carnaval do pelÔ - 73 atrações (950 artistas, incluindo cantores, músicos de orquestra, de cordas, de sopro e de percussão, além de performers, dançarinos e atores). Carnaval pipoCa – orquestra sinfônica da bahia, 8 microtrios (50 músicos) e 10 projetos musicais no palco do largo do pelourinho. Cacau do Pandeiro no Carnaval do Pelô tai oliver

Fantasmas, diabos, assombrações e bruxas abriram o Carnaval de maragojipe na madrugada de sábado, com o bloco das almas. a partir daí até a terça-feira, cerca de 12 atrações musicais se revezaram por dia nos dois palcos na cidade. no domingo, uma média de cinco mil pessoas participaram das atividades do Carnaval de maragojipe quando foi realizado o concurso de fantasias – um dos pontos altos da folia. “precisamos priorizar a tradição e manter viva a cultura do nosso município. É necessário incentivar as manifestações populares para dar continuidade à história”, avaliou a prefeita da cidade, vera lúcia.

CARNAVAL DA CULTURA em números:

outros Carnavais – palco do rock – 32 bandas. pÚbliCo estimado Carnaval do pelô – 900 mil pessoas outros Carnavais – palco do rock – 25 mil pessoas ComuniCaÇÃo nas mÍdias soCiais - 17 horas de cobertura diária nas mídias sociais. - mais de 90 matérias publicadas no site oficial da secultba (www.cultura.ba.gov.br) e também no site do Carnaval da bahia (www.carnaval.bahia.com.br) - mais de 2 mil fotos de cobertura foram disponibilizadas no Flickr da secult, separadas em 121 álbuns.

Carnaval de Maragogipe

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memÓria revelaDa mais de CinCo mil pessoas partiCiparam de debates sobre repressÃo nos anos de Chumbo no iii Fórum do pensamento CrÍtiCo

presencial e virtualmente, mais de cinco mil pessoas acompanharam os nove debates envolvendo 40 palestrantes do iii Fórum do pensamento Crítico, realizado em março pela Fundação pedro Calmon (FpC), unidade da secretaria de Cultura do estado da bahia. o fórum teve como tema “autoritarismo e democracia no brasil e na bahia: 1964-2014” e foi transmitido online, a partir do teatro Castro alves, em salvador, para milhares de computadores em todo o brasil. o evento teve o apoio 84

da secretaria de educação do estado, Fundação perseu abramo, Faculdade de Filosofia e Ciências humanas da uFba, jornal a tarde, Cese e ministério da Justiça. Jovens, militantes, pesquisadores, historiadores, artistas e políticos puderam ouvir relatos e reflexões de renomadas personalidades como nilmário miranda, José sérgio gabrielli, bob Fernandes, luiza bairros, renato afonso, Joviniano neto, Franklin martins, ana arruda Callado, Zezéu ri-

beiro, geraldo sarno, paulo Costa lima, marcelo rezende, Juarez guimarães, paul singer, luiz dulci, venicio arthur lima, João Carlos sales, muniz gonçalves Ferreira, paulo miguez, João pedro stédile, mary Castro, emiliano José, pery Falcon, Clodomir moraes, renato da silveira, haroldo lima, Waldir pires, dentre outros. Com homenagens aos guerrilheiros mortos pela ditadura, o levante popular da Juventude também marcou

presença com atos poéticos ao longo da programação. durante o fórum, o estado brasileiro pediu desculpas a ex-presos políticos na ocasião da passagem da 79º edição da Caravana da anistia do ministério da Justiça, que julgou os processos do ex-servidor público edgar Joaquim Ferreira, preso em 1969, e José Carlos Zanetti, assessor da Coordenadoria ecumênica de serviços (Cese), preso pelo regime militar em 1971.

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além das palestras, o evento contou ainda com exposições, filmes e oficinas, além de uma edição especial do curso “Conversando com a sua história”, realizado pelo Centro de memória da FpC, que trouxe aulas abertas com o tema “50 anos do golpe civil-militar”.

Ato contra a repressão política e violação aos Direitos Humanos

no período de realização do fórum, marcando os 50 anos do golpe militar, outras atividades foram apoiadas pela Fundação pedro Calmon, a exemplo da mostra Cine memória 64, com exibição de filmes, documentários e debates na temática, a sessão especial de devolução dos mandatos cassados pela ditadura, na assembleia legislativa e o ato contra a repressão política e a violação aos direitos humanos, que contou com homenagens e manifestações espontâneas no Forte do barbalho (salvador), um dos locais de tortura durante o regime. no ato, o secretário de Cultura da bahia, albino rubim, ressaltou a responsabilidade do estado. “É um dever do governo democrático que vivamos em busca por nossa história e pela verdade. para que essas violências não sejam aceitas nem no passado, nem no presente, nem no futuro. É um compromisso do governo o apoio a todas as iniciativas de busca pela verdade, pela revelação desses crimes contra a humanidade”, afirmou.

mostra de Cinema encontros com agentes que lutaram contra a ditadura integraram a programação da mostra Cine memória 64, que reuniu a Comissão da verdade da assembleia legislativa e a Comissão milton santos de memória e verdade da universidade Federal da bahia. desta última, participou o professor othon Jambeiro, que falou do atraso no funcionamento das Comissões no país e de sua importância para a cidadania. “se tivéssemos começado há 20 ou 30 anos, ainda encontraríamos mais depoimentos de quem viveu o período, além de uma série de documentos fundamentais para contar essa história. essa investigação dará uma grande contribuição para deslegitimar a ditadura, afirmando seu malefício para a sociedade brasileira”, afirmou. participante do encontro, a estudante trícia almeida falou de justiça. “as comissões da verdade devem atuar para que a luta dos que morreram pela democracia não seja em vão. a justiça é necessária para construirmos um país livre como eles sonharam”, defendeu.

entre os homenageados, foram lembrados os advogados que defenderam os presos políticos, e que acabaram se tornando alvos do regime militar. nas palavras de Carlos marighela Filho, foram citados nomes como pedro milton de brito, augusto de paula, Jaime guimarães e ronilda noblat, entre outros. Memórias Reveladas: Fundação Perseu Abramo gravou depoimentos

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Feira de Livros no foyer do TCA

rosilda Cruz

“trata-se de uma contribuição pela gênese da história da ditadura. a diversidade das mesas e as diferentes narrativas aproximaram o público, principalmente os jovens, dos fatos ocorridos no período da ditadura militar brasileira”, destacou Zanetti.

rosilda Cruz

rosilda Cruz

CULtUra O aNO iNteirO

a programação cultural do Fórum, no Complexo Cultural dos barris, incluiu a realização de oficinas, apresentações de trabalhos acadêmicos, lançamentos de revistas e a exposição fotográfica imagens de uma bahia militarizada (1964-1985), organizada pelo Centro de memória da bahia. lembrando a mobilização do povo ocorrida no período ditatorial, o ex-secretário geral da presidência da república, luiz dulci afirmou: “o brasil nunca teve uma mobilização popular daquela dimensão, com o crescimento dos partidos de esquerda, dos movimentos sociais em prol da democracia. era o que não queria aquela concentração autoritária de poder da ditadura”, afirmou. presente no fórum, o governador do estado da bahia, Jaques Wagner, destacou a importância do evento. “não há como viver a democracia,

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sem que a verdade aflore. sem que todos tenham conhecimento da nossa história e da memória do período de autoritarismo implantado neste país”, afirmou.

rosilda Cruz

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heróis da resistÊnCia outra iniciativa voltada ao resgate desta história de resistência, o Centro de memória da bahia tem em curso o projeto “memórias reveladas”. trata-se de pesquisa de âmbito nacional que visa recuperar a memória da resistência à ditadura militar (1964 – 1988) por meio de entrevistas com pessoas que tiveram envolvimento com movimentos contrários ao regime autoritário. entre eles estão os movimentos estudantil, operário, Camponês, de bairros, partidos políticos Clandestinos, movimentos políticos legais e parlamentares, movimento das igrejas (Católica e protestante), intelectuais progressistas, dentre outros. a pesquisa será compartilhada com movimentos que lutam pela anistia, pelos direitos humanos e contra a tortura, bem como todos aqueles interessados na temática, com o intuito de fomentar novas pesquisas e estudos sobre a história política da bahia e localizar outros documentos. para a diretora da Fundação pedro Calmon, Fátima Fróes, o Fórum do pensamento Crítico foi uma oportunidade de refletir os caminhos percorridos pela sociedade brasileira na construção de sua própria história. “unindo profissionais e estudiosos de diferentes áreas do pensamento, pudemos conciliar experiências e olhares singulares em torno desta temática e, com isso, conseguimos concretizar espaços de troca, de resgate e de construção de novas histórias. o Fórum reuniu história, memória, cultura e participação popular, consolidou pensamentos e apontou caminhos a partir desta reunião”, enfatizou.

Performances e atos políticos marcaram a programação do Fórum

io e iio Fóruns a primeira edição do Fórum do pensamento Crítico, realizada em 2012, teve como tema “Cultura e Cidades”. em 2013, a discussão foi sobre “Cultura e transformação social”, e contou com a participação de nomes como a filósofa marilena Chauí, que lotou o teatro Castro alves, o sociólogo emir sader, o economista marcio porchmann e o antropólogo néstor garcia Canclini, um dos maiores estudiosos da cultura no mundo atual. 88

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teia viva Da arte

edson ruiz

pontos de Cultura qualiFiCam artistas e impulsionam aÇÕes Culturais JÁ eXistentes na Comunidade

Abertura da Teia com o governador Jaques Wagner

iniciativas desenvolvidas pela sociedade civil que, após seleção por meio de edital público, firmam convênio com a secretaria de Cultura do estado da bahia (secultba) e o ministério da Cultura (minC), e se tornam responsáveis por articular e impulsionar ações culturais que já existem nas comunidades. estes são os pontos de Cultura, entidades sem fins lucrativos, nos quais jovens e adultos desenvolvem e participam de atividades na área de produção, geração de renda e formação cultural, em suas mais diversas linguagens, considerando a cultura do local onde vivem. os pontos existem em todos os territórios de identidade baianos, em um total de 219. nessa linha de pensamento, a secultba, em articulação com a Comissão estadual de pontos de Cultura, realizou a teia bahia 2014 – ii encontro da rede de pontos de Cultura do estado, transformando salvador em um ponto de convergência de toda a rede de pontos de Cultura do estado. Foram 216 dos pontos já conveniados, mais 128 selecionados pelo edital 001/2014, reunindo ao todo cerca de mil pessoas no Centro histórico da cidade, entre os dias 8 e 10 de maio. a bahia, como primeiro estado a lançar no brasil o edital dos pontos de Cultura, em 2007, mostrou, durante o evento, ganhos e processos que estão em pleno amadurecimento, sendo fundamental para fortalecer o programa Cultura viva, além de incentivar o diálogo em rede e o estreitamento de laços entre atores e

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articuladores do segmento cultural. “o ponto de Cultura é o único espaço cultural da nossa cidade. precisamos de política para criar novos espaços e promover o que já existe de manifestação, como o Festival da Caatinga”, destacou matheus matos, 21 anos, de irecê.

rosilda Cruz

CULtUra O aNO iNteirO

visibilidade - a teia 2014 foi composta por uma extensa programação que incluiu um fórum, audiência pública, rodas de conversa, oficinas de formação, feira de economia criativa e manifestações artísticas de diversos municípios baianos, ocupando 18 espaços e possibilitando a visibilidade dos trabalhos dos pontos de Cultura. a segunda edição do evento - que aconteceu pela primeira vez em 2009 - configura-se como o principal espaço de diálogo da rede e um dos principais instrumentos para fortalecer o canal de comunicação entre a sociedade civil e o estado. o lançamento da teia 2014 foi marcado pela participação de artistas, gestores e mobilizadores de pontos de cultura baianos, no palácio da aclamação. o evento contou com a presença do governador Jaques Wagner, do

Performances artísticas na Teia

secretário estadual de Cultura, albino rubim, da secretária de Cidadania e diversidade Cultural do ministério da Cultura, márcia rollemberg, além de representantes de pontos de Cultura, artistas e gestores de cultura na bahia, como a diretora do Centro de Cultura e políticas identitárias da bahia (CCpi), arany santana, o presidente da Fundação Cultural palmares, hilton Cobra, e o membro da Comissão estadual de pontos de Cultura, lula dantas. na ocasião, a bahia ganhou um elogio: foi o estado que mais esteve presente na secretaria de Cidadania e diversidade Cultural (sCdC), segundo a própria secretária. Como um espaço fundamental de articulação, intercâmbio e de debates sobre o programa Cultura viva, que está completando dez anos em 2014 no brasil, a expectativa pelos melhores resultados para os pontos de Cultura era

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CULtUra O aNO iNteirO edson ruiz

grande. “todos nós envolvidos na teia temos a missão de extrair encaminhamentos concretos para melhorar ainda mais a relação entre sociedade civil e governo federal, desburocratizar a prestação de contas e execução de recursos. de outro lado, temos também a necessidade de ampliar o programa, que não deve se restringir a pontos de cultura ou prêmios pontuais, é preciso ganhar outra magnitude”, defende a diretora de Cidadania Cultural da secultba, gleise oliveira. a valorização da cultura local é uma das premissas do programa Cultura viva. por meio dele foi possível descentralizar recursos, incluir pequenos municípios, bem como a zona rural, e promover uma dinamização mais forte do setor também no interior, em especial com comunidades tradicionais - indígenas, povos de terreiro, ciganos e população ribeirinha. para lula dantas, membro da Comissão estadual dos pontos de Cultura da bahia “a teia foi um momento de recompactuação do movimento. É necessário que tenha mais comunidades de terreiros, comunidades indígenas também... estamos juntos para um novo momento”.

lei transForma programa em polÍtiCa de estado

Com o objetivo de ampliar o acesso da população brasileira aos seus direitos culturais, a lei 92

será utilizada como a política de base do sistema nacional de Cultura (snC) e estabelece a gestão compartilhada do programa Cultura viva entre a união, estados e municípios. assim, fortalecerá as ações de grupos culturais já atuantes na comunidade.

rosilda Cruz

a lei no 13.018, lei Cultura viva, foi sancionada no dia 23 de julho de 2014 e transforma o programa nacional de promoção da Cidadania e da diversidade Cultural – Cultura viva – em uma política do estado brasileiro. assim, suas ações tornam-se permanentes, independente de possíveis alternâncias na gestão pública. a lei potencializa a riqueza e a diversidade cultural brasileira, buscando fomentar as atividades culturais locais e regionais por meio da institucionalização dos pontos de Cultura e dos chamados “pontões de Cultura” - que articulam atividades entre vários pontos.

Abertura da Teia Bahia 2014 - Sociedade Cultural Fanfarra Simões Filhense

Cultura em todos os pontos do território baiano os pontos de Cultura são um importante elemento para a territoriali-

zação do campo cultural no estado. assim, os 27 territórios de identidade da ganham uma força a mais para seu desenvolvimento, a partir de iniciativas que potencializam as vocações de cada região. a diretora de Cidadania Cultural, gleise oliveira, comemora a contribuição significativa da teia para melhorar as ações relacionadas aos pontos: “sem dúvida, a teia se confirmou como um espaço privilegiado de diálogo da rede, principalmente pela realização do Fórum dos pontos, que teve a finalidade de eleger

a nova Comissão estadual de pontos de Cultura, e as rodas de conversa que contribuíram para o debate de temas relevantes para a cultura do estado, como: sustentabilidade da cultura, cultura de redes, culturas populares, etc.” para a mestre de Cultura popular Janete lainha Coelho, do ponto de Cultura “literatura de Cordel”, em ilhéus, a expectativa da teia foi importante para, além de divulgar os trabalhos e produtos desenvolvidos pelos pontos no estado, “que o evento se configure como um momento de

Rodas de conversas na capital

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edson ruiz

Bahia: Terra da Cultura

programaÇÃo multiCultural ainda à luz da diversidade cultural, a programação da teia 2014 também refletiu uma efervescência artística que se mostrou em palcos e praças do pelourinho. entre outras atrações, integraram o evento a sociedade Cultural Fanfarra simões Filhense; a banda griô – história da sanfona, da associação grãos de luz e do raiz do umbuzeiro Faz Folia de reis, do instituto de Formação Cidadã são Francisco de assis (isfa). na programação, espetáculos como aprendizes de picadeiro, da Cooperativa de teatro para a infância e Juventude da bahia, de Feira de santana; a peça teatral “a Cerca”, com elementos de cordel, dança e música; o espetáculo “pra lá de tempo”, do ponto de Cultura Cria; do samba de roda rolando na teia, do Centro de educação e Cultura do vale do iguape; além do show do cantor Chico César, que encerrou o evento. Formação também foi um ponto de grande destaque na teia 2014. Foram cinco oficinas de Cultura digital, utilizando software livre, nas modalidades: design e artes gráficas; Filmagem e edição em software livre; Fotografia; gravação e mixagem de áudio e transmissão ao vivo via internet, ministradas pelo iteia - instituto intercidadania. além disso, foram realizadas mais seis oficinas: linguagens arte-educação; artes Cênicas; metodologia da pedagogia griô; Capoeira; Xilo-Cordel e técnicas de som e iluminação.

mudança, um novo marco de cultura na bahia. Como alguém que veio da cultura popular tradicional, é através do ponto que tenho a oportunidade de preservar a memória dos meus mestres. a nossa característica é a sabedoria que passamos através da oralidade”.

rosilda Cruz

Atrações da Teia no Centro Histórico

buscando responder à pergunta “qual o valor da Cultura popular na nossa sociedade?”, foi realizada a roda de conversa “políticas para as Culturas populares”, no Forte da Capoeira, no santo antônio. de Zabiapunga aos terreiros de Candomblé, passando pela cultura do sertanejo e pelos brinquedos infantis, a conversa girou em torno da valorização do saber e da manifestação popular na política. o esforço foi para o fortalecimento de políticas que protejam e permitam o pleno florescimento das manifestações culturais populares que fazem parte do cotidiano e da memória da população. “nosso país precisa reconhecer a diversidade da produção cultural. É nossa identidade. a sociedade precisa ter voz e só assim teremos uma política mais precisa para o fortalecimento da nossa cultura popular”, pontuou marcelo amado, membro da Comissão dos pontos de Cultura da bahia. 94

Feira Criativa Pontos de Cultura

antônio amaral, de Capim grosso, e daniel santos, da comunidade de alagados, em salvador atuam com iluminação e sonorização cênicas e se surpreenderam com as novas informações que obtiveram no primeiro dia de oficina. “realizamos eventos em que manipulamos a sonorização e canhões de luz na minha cidade, com essas técnicas aprendidas aqui, vamos aprimorar ainda mais esse trabalho”, contou antônio. Já o participante Franklin silva, do ponto de Cultura troca de saberes, 95


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de nova viçosa, aprendeu exercícios corporais que não conhecia na oficina de artes cênicas. “Como eu já trabalho com teatro de rua e teatro convencional, foi uma experiência muito interessante para adquirir novas habilidades”, disse entusiasmado.

rosilda Cruz

CULtUra O aNO iNteirO

na Feira Criativa pontos de Cultura, realizada no terceiro dia do evento, foi possível encontrar artesanatos, comidas, artefatos populares de diversos gêneros que estiveram à disposição da freguesia. a ação buscou fortalecer o empreendedorismo de artistas populares do estado, possibilitando a visibilidade de produtores e produtos. muitos deles fabricados por cooperativas de artesãos, como é o caso da Cooperativa de paulo afonso, à qual pertence dona maria. ela montou sua barraca vendeu desde chaveiros feitos de coco, até moedeiras feitas de couro de tilápia, peixe comum naquela região. “muito bom poder mostrar nosso trabalho. Como fazemos em coletivo, conseguimos uma boa produção e temos orgulho disso”, declarou. do ponto de vista da articulação, porém, o momento mais marcante da teia 2014 foi a audiência pública para discutir a lei Cultura viva, a lei griô e dos mestres e o marco regulatório da sociedade Civil. Foi proposta uma maior articulação entre o executivo, o legislativo e os pontos de Cultura, ideia que foi apresentada pela bahia na teia nacional, em natal, entre os dias 19 e 24 de maio, que contou com 70 representantes de todas as macrorregiões do estado.

Chico César no show de encerramento da Teia.

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Êta CaBra Da PeSte bienal da bahia disCute ConCeito de nordeste em retomada 46 anos depois de ter sido interrompida pelo regime militar

afinal, é tudo nordeste? o questionamento lançado publicamente como mote pela 3ª bienal da bahia encerra respostas que, com certeza, não cabem numa só edição do evento. e foi justamente a capacidade de abrir o debate livre sobre o tema, e não esgotá-lo propondo soluções conciliadoras, que garantiu êxito a esta retomada da bienal, exatamente 46 anos depois da sua abrupta interrupção pelo governo militar. Com isso, ganharam a bahia, a arte baiana e os artistas durante quase 100 dias de realização do evento, projetado e executado pela secretaria de Cultura do estado da bahia, sob coordenação do museu de arte moderna. a bienal da bahia mobilizou a cidade de salvador e mais de 20 municípios baianos, de 29 de maio a 7 de setembro, com uma programação focada em diferentes formas de diálogo com o público, estimulando novas linguagens artísticas e a busca de um formato fora do convencional. na própria estratégia de ocupação dos espaços que elegeu como pontos expositivos – de galerias a igrejas, de museus a fábricas abandonadas, de ateliês a espaços comunitários em bairros populares – a bienal promoveu a diferença. se isso, no início, deixou as pessoas um pouco perdidas, no final, com o entendimento da proposta e o andamento da programação, veio o reconhecimento e o apoio. prova disso foi o público contabilizado nos três meses de evento: cerca de 75 mil pessoas. isso considerando apenas os principais espaços de salvador e as ações artísticas empreendidas no interior do estado.

alfredo mascarenhas

o mais interessante foi a capacidade que esse público teve de absorver e participar de toda a programação, que foi bem além do circuito tradicional artístico baseado em exposições, distribuindo-se em encontros, palestras e atividades. isto proporcionou o debate e o questionamento sobre os diferentes modelos de bienais no brasil e no mundo, estimulando o convívio entre as linguagens artísticas, visitando o passado, sem esquecer do momento atual e o que se projeta para o futuro. “a bienal dialogou com a interessante história cultural da bahia rememorando episódios quase esquecidos, mas ela se abriu obrigatoriamente ao presente e ao futuro”, reconhece o secretário de Cultura do estado da bahia, albino rubim. para ele, ao propor o questionamento sobre o nordeste, no universo da cultura e das artes, o evento definiu a sua singularidade, “constituin 98

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a CULtUra O aNO iNteirO

a primeira mostra apresentada, intitulada no litoral é assim, evidenciou a preocupação da bienal em universalizar suas ações, absorvendo influências tão diversas quanto as propostas por Yoko ono, artista de renome internacional, e por lina bo bardi, que produziu e viveu no brasil fazendo da cultura brasileira sua fonte maior de inspiração.

gillan villa

do um diferencial em relação às bienais mais marcantes existentes na atualidade no país. o nordeste acionado foi múltiplo e complexo, passado e presente, singular e universal, território e experiência”, completa. o curador chefe da bienal da bahia e diretor executivo do museu de arte moderna, marcelo rezende, vai além ao definir o que considera o principal legado desse retorno do evento tantos anos depois da sua última edição: cumprir o dever de memória diante da história cultural e de toda uma geração baiana que teve seu projeto não apenas interrompido, mas esquecido nas narrativas que pretendem dar conta da história da arte brasileira e seus confrontos sociais, artísticos e políticos. “o que é da bahia é do mundo, e o que é do mundo é da bahia. essa foi a mensagem daqueles que se mobilizaram para a criação de um programa que visava fomentar o debate cultural no nordeste pela via de uma bienal”, diz rezende.

Com esse mesmo intuito, a bienal espalhou suas ações por espaços pouco utilizados pelos artistas na cena cotidiana da cidade. Coube, por exemplo, ao mosteiro de são bento, histórico representante da resistência católica contra a ditadura, sediar a mostra a reencenação, que reviu as duas edições anteriores do evento, ocorridas em 1966 e 1968, esta última interrompida com rigor e punições pelo governo militar.

Obra Subsolo

aalfredo mascarenhas

segundo o curador, ao atingir um público de cerca de 75 mil pessoas com suas ações, a bienal retomou um diálogo que há muito a população baiana reclamava. além disso, o evento conquistou boas avaliações críticas, sendo alvo de reportagens na imprensa brasileira e ainda na inglaterra, alemanha, méxico, Colômbia, estados unidos, espanha, portugal, Cuba e suíça.

a itinerância dessa mostra, que começou em salvador e depois percorreu diversas cidades do interior do estado, colocou em prática a ideia de compartilhamento da programação do evento, procurando atingir o maior número possível de pessoas, criando novos focos de absorção da produção artística, promovendo novos olhares.

a igreja dos aflitos tornou-se espaço para a arte experimental de arthur scovino, que criou no espaço um ateliê vivo; o arquivo público centralizou o debate sobre a memória e a ficção, discutindo sobre o cangaço e outros temas; o acervo da laje, no bairro de plataforma, evidenciou o movimento cultural quase invisível que integra os subúrbios ferroviários de salvador; o estacionamento da escola de belas artes cedeu lugar para a construção de três casas de taipa que se transformaram em galerias de arte com programação permanente.

nem toda nudeZ É panFletÁria Já em sua abertura, que mesclou toques percussivos afro-baianos e um cortejo artístico libertário pelas ruas da cidade com direito a cenas de nudez explícita, a bienal disse a que veio. a partir daí, menos pelo choque moralista de uma abertura polêmica, mas calcada em desafios artísticos surpreendentes pontuados ao longo de sua programação, o evento ganhou a dimensão de um movimentado festival de ações artísticas questionadoras, não panfletárias, e afeitas ao diálogo com todo o tipo de público. 100

“É uma abordagem na qual qualquer expressão cultural e artística foi considerada e em diversas perspectivas, para além dos muros dos espaços institucionalizados”, justificou o curador marcelo rezende.

Abertura da Bienal da Bahia

Rogério Duarte - Pôster

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Bahia: Terra da Cultura

“para mim, a bienal foi um grande exercício de liberdade estética”, resume ayrson heráclito, um dos curadores do evento. ele lembra que, em seu projeto, a bienal trouxe questões fundamentais para se pensar a arte brasileira a partir de outros projetos: não hegemônicos, não cristalizados e à margem.

uma espécie de genealogia de uma cultura que nos informa o quanto é diverso o nosso repertório artístico

herÁClito – que se envolveu diretamente com inúmeras exposições e ações artísticas, tanto na capital como no interior do estado – acredita que a bienal fez acontecer aquilo que se propôs: “ela cumpriu um papel de revisão dos nossos arquivos silenciados por ordens e políticas reacionárias. Funcionou como um espaço de emissão, mediação e reflexão de poéticas artísticas, ampliando leituras sobre a cultura brasileira”, observa ele. 102

Ayrson Heráclito

alfredo mascarenhas

Zeza maria

além disso, a bienal da bahia transformou em ações a necessidade de diálogo entre diferentes gerações de artistas, estilos ou mesmo nacionalidades. mobilizando 336 participantes (entre artistas e pessoas das mais diversas áreas do conhecimento), a bienal promoveu a presença de convidados de 22 países, que realizaram residência artística, projetos especiais e exposições. tudo isso contribuiu para que o evento ganhasse a marca da contemporaneidade, do intercâmbio de ideias e da ousadia conceitual.

nessa leitura sempre inclusiva, a bienal da bahia reforçou a importância de três grandes artistas considerados fundamentais para a evolução da arte baiana: Juarez paraíso (que coordenou as duas primeiras edições) (incluir foto), Juracy dórea, artista que personifica a forte influência da cultura sertaneja numa arte universal (incluir foto); e rogério duarte, tropicalista e multi-artista, que colocou a bahia em diálogo com o mundo e, na bienal, fechou seu círculo criativo (da música ele veio, à música voltou). paraiso, dórea e duarte, considerados artistas “totais”, tiveram sua obra destacada pela bienal em exposições que ocuparam espaços no museu de arte moderna, num dos pontos altos do evento. mas nem por isso personificaram a bienal. muito pelo contrário: contribuíram, com suas visões artísticas sempre agregadoras e desafiantes, para que o evento, nessa sua terceira edição, ficasse na memória de todos como uma realização indispensável para o fortalecimento da cultura baiana.

O artista plástico Juarez Paraíso participou da três edições da Bienal da Bahia.

MAM EM REFORMA o governo do estado entrega até o final de 2014 a primeira etapa da reforma do museu de arte moderna da bahia, cujo investimento é de aproximadamente r$ 7,5 milhões. nesta primeira fase, estão sendo completamente restauradas a Capela, a galeria 1 - galpão do cinema - e a passarela do parque das esculturas. Já a segunda etapa, com investimentos na ordem de r$ 8 milhões e conclusão prevista para 2015, contempla o Casarão, as oficinas, a galeria 3, a sala da diretoria e outras demandas do parque das esculturas. “esta intervenção é a mais importante já realizada no mam desde a sua fundação na década de 60”, enfatizou elisabete gándara, diretora geral do instituto do patrimônio artístico e Cultural (ipaC), órgão vinculado à secultba que coordena as obras.

Obra de Juraci Dórea na Bienal da Bahia.

alfredo mascarenhas

eXerCÍCio de liberdade

ascom bineal

CULtUra O aNO iNteirO

Juraci Dórea na Bienal

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Bahia: Terra da Cultura

outra Cena na terra Do Sol semana do audiovisual baiano ContemporÂneo surpreende pela qualidade dos debates e boa avaliaÇÃo do pÚbliCo

Foram cerca de 100 filmes em uma semana em várias salas de salvador. mais do que promover o debate sobre o cinema, a semana do audiovisual baiano Contemporâneo, realizada entre 21 e 28 de setembro, virou vitrine da nova cena cinematográfica da bahia. Cineastas, produtores, atores, técnicos, professores e estudantes de cinema viram, na prática, o resultado de sete anos de investimento do governo do estado em programas e ações no setor. na maioria dos filmes, o público pode ver, nos créditos, o apoio do governo da bahia, via secretaria de Cultura do estado (secultba). de 2007 a 2014, a secultba destinou r$ 45 milhões ao fomento ao audiovisual no estado, por meio do Fundo de Cultura e Fazcultura, programa de incentivo via renúncia fiscal. os editais da Fundação Cultural do estado, através do Fundo de Cultura, destinaram r$ 17,5 milhões para o audiovisual nos últimos três anos (de 2012 a 2014), ajudando a revelar novos talentos na capital e também no interior. isso sem falar nos apoios através do irdeb e do Calendário das artes.

rosilda Cruz

surpresa para a maioria não foi só a quantidade de filmes produzidos na bahia neste século XXi, mas a qualidade das produções, que levou os espectadores a se encantarem com os roteiros, muitos deles baseados em histórias da cultura baiana e nordestina. os debates, O público acompanhou a exibição de cerca de 100 filmes em salas de cinema da capital e do interior

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Bahia: Terra da Cultura

rosilda Cruz

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A programação incluiu uma série de debates sobre o Audiovisual na Bahia e no Brasil

o resultado é o melhor possível. “pensar esta semana foi uma grande ideia. refletir no audiovisual de uma forma ampla e mostrando realmente um panorama da produção atual, acabou se revelando como essa produção é rica e diversificada”, afirmou a professora laura bezerra, da universidade Federal do recôncavo (uFrb). em sua opinião, “nós temos um complexo de vira-lata que é infernal, uma tendência a ficar reclamando e, com isso, não enxerga tudo de bom que está acontecendo, como a nossa filmografia recente”. além do debate sobre produção cinematográfica local, as homenagens aos críticos andré setaro e João Carlos sampaio, que morreram neste ano, foram um dos pontos altos do evento. houve ainda exposição dos cartazes de todas as edições

por sua vez, também foram acalorados, e chamaram a atenção para a questão do regionalismo versus internacionalismo, o gargalo da distribuição, o processo de financiamento e até para a atração de público para o cinema baiano. a ideia de reunir os filmes produzidos neste século XXi, segundo o cineasta e também curador da mostra, José araripe Jr, diretor do instituto de radiodifusão educativa da bahia (irdeb), foi mostrar uma visão panorâmica da grande produtividade que vive o setor audiovisual na bahia, cujos filmes são premiados em festivais. “infelizmente, os filmes ainda não ganharam a visibilidade que merecem, mas o objetivo da semana foi alcançado: essa grande mostra conseguiu surpreender a todos pela quantidade, qualidade e diversidade do audiovisual baiano”, analisa araripe Jr. 106

Revoada, de José Umberto Dias, Rito de Passagem, de Chico Liberato e João e Vandinha, de Aurelio Grimaldi, tiveram pré-estreia no evento

da Jornada internacional de Cinema. “a semana do audiovisual baiano foi muito rica, desde a abertura emocionante, à exposição dos cartazes e o encontro de cineastas de várias gerações até as mesas dos debates, com discussões muito produtivas e com uma grande participação do público”, opinou marcondes dourado, diretor de audiovisual da Fundação Cultural do estado da bahia, cineasta e também curador da mostra.

mais investimentos - também através do Fundo de Cultura, os realizadores contaram com o apoio dos programas de demanda espontânea e de mobilidade artística e Cultural. através do Calendário das artes, para incentivo a projetos artísticos e culturais de pequeno porte, r$ 377 mil foram destinados a 29 projetos de audiovisual. Com o apoio da bahia Film Comission, a secretaria de Cultura do estado contabiliza, de 2007 a junho deste ano, em torno de r$ 70 milhões para a economia do estado com a atração e apoio de 214 produções locais, nacionais e internacionais realizadas na bahia. há ainda o Festival nacional 5 minutos, que contribui para a difusão da produção audiovisual, além de formação de plateia e de novos profissionais do setor. além disso, vale destacar que praticamente todos os grandes eventos de audiovisual e cinema da bahia – Cachoeira.doc, Festival de Cinema baiano, mostra Cinema Conquista, panorama Coisa de Cinema, seminário Cine Futuro – têm recebido ajuda do governo estadual para sua existência, através de diferentes mecanismos. a semana do audiovisual baiano Contemporâneo foi uma realização das secretarias estaduais de Cultura – através da diretoria de audiovisual (dimas) da Fundação Cultural do estado da bahia (Funceb) e de Comunicação – por meio do instituto de radiodifusão educativa da bahia (irdeb) e da regional bahia e sergipe do ministério da Cultura. o evento teve o apoio de várias instituições parceiras: associação baiana de Cinema e vídeo (abCv), Clube de Cinema da bahia, associação de produtores e Cineastas, união de Cineclubes da bahia, instituto roque araújo, universidade estadual do sudoeste (uesb), universidade Federal da bahia (ufba) e universidade Federal do recôncavo (uFrb). 107


Bahia: Terra da Cultura rosilda Cruz

CULtUra O aNO iNteirO novos Caminhos para o Futuro nenhuma surpresa foi maior que a presença do público e a qualidade das discussões. na semana do audiovisual, a plateia não era apenas de cineastas, produtores, atores e técnicos da área. professores e estudantes de cinema também discutiram sobre produção, formação, preservação, financiamento, linguagem, distribuição e novos caminhos para o audiovisual da bahia.

o cineasta edgard navarro, que participou do acirrado debate sobre linguagem, destaca que o importante é o encontro. “tivemos a oportunidade de discutir os problemas do cinema baiano e aparar as arestas, tentando se entender num plano que interessa para todo mundo, embora sejam muitas opiniões sobre muitos assuntos diferentes. o denominador comum que deve ser buscado por todos é o que oportuniza o encontro, para a gente saber agir de uma forma generosa com o trabalho que tem sido feito pelos outros, tanto o de outras gerações como o que está sendo feito por essa rapaziada que está chegando agora querendo botar tudo abaixo pra fazer tudo de novo”, disse.

rosilda Cruz

para o cineasta e um dos curadores da mostra, lula oliveira, representante regional do ministério da Cultura, as discussões refletiram sobre a história e apontaram demandas e encaminhamentos para o futuro. “a plateia não foi formada apenas por realizadores cinematográficos, mas também por pessoas da sociedade e estudantes, que vieram escutar temas muito específicos da área do cinema e, curiosamente, querendo entender que cenário é esse que toma conta da vida de todo mundo”, afirmou. segundo ele, a participação da sociedade em torno dessas discussões também reflete a importância do audiovisual. “a semana nos impõe compromissos e desafios. assumi-los me parece fundamental para o agora e um futuro próximo”, analisa ramon Coutinho, do Coletivo urgente de audiovisual (Cual).

Exibição de filme

movimento - Já para o ator Jackson Costa, que atua no filme revoada, de José umberto dias, é importante ter um movimento como esse da semana do audiovisual baiano Contemporâneo. “tem muita coisa boa acontecendo no cinema baiano e espero que as pessoas de cinema entendam que nenhum de nós é melhor do que todos nós juntos. se a gente se une, a gente pode ver a força do cinema baiano, porque tem força sim, agora, se ficar em partículas separadas não tem movimento e, se não tem movimento, pode não se chegar a lugar nenhum”, opinou. o cineasta Caó Cruz também defende essa ideia. “acho que esse evento deveria acontecer todos os anos para que possamos nos atualizar. hoje está muito acessível fazer filmes, tem uma produção muito grande do audiovisual que precisa ser mostrada. acho que não há necessidade de se fazer um evento grandioso, mas que seja instigante para atrair atenção e também para a gente acompanhar o que as pessoas estão fazendo”.

Debate na Semana do Audiovisual

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rosilda Cruz

Bahia: Terra da Cultura

Filmes mostram a cara da Bahia e do Nordeste a cultura e a história da bahia e do nordeste estão em evidência em muitos dos 100 filmes da semana do audiovisual baiano Contemporâneo. desde o filme marco inicial 3 histórias da bahia, lançado em 2001, até as produções mais recentes, que tiveram pré-estreia na semana, como revoada, João e vandinha e ritos de passagem. em 3 histórias da bahia, de edyala Yglesias, José araripe Jr. e sérgio machado, as três narrativas que se passam em épocas distintas têm o mesmo final. o filme inaugura, após a lacuna de 20 anos, a retomada da produção de longas baianos. produzido no final da década de 90, é resultado do Concurso de roteiros Cinematográficos da Fundação Cultural do estado de 1996. em revoada, de José umberto dias, e também em ritos de passagem, de Chico liberato, (ambos lançados durante a semana e que contaram com apoio da secretaria de Cultura do estado nas suas produções) trazem personagens históricos da cultura do nordeste, como lampião e antonio Conselheiro. o primeiro conta a luta dos cangaceiros após a morte do líder lampião, resultado de mais de 20 anos de pesquisas do diretor sobre o cangaço.

Exibição de filme na parte externa do Complexo Cultural dos Barris

eXibiÇÕes no interior e na periFeria de salvador todos os filmes exibidos na semana do audiovisual baiano Contemporâneo também chegaram à periferia da capital e ao interior do estado. Cerca de 100 filmes da mostra continuaram em cartaz, no mês de outubro, nas salas Walter da silveira e alexandre robatto (barris) e circularam também pelos Centros de Cultura do estado (na capital e interior). através desse Circuito popular de Cinema e vídeo, os filmes foram exibidos em bairros da periferia de salvador e em alguns territórios de identidade. esse é um projeto estratégico da secretaria de Cultura do estado para garantir acesso público e gratuito à produção cinemato110

gráfica existente desde 2008, e que até o momento já realizou mais de 1.091 sessões e atingiu um público de aproximadamente 47 mil espectadores. o público também participou da semana do audiovisual baiano Contemporâneo pela tve bahia, que realizou debate com cineastas e acompanhamento diário da cobertura do evento. o grande destaque da programação, sem dúvida, ficou com a exibição da série doc territórios nos meses de setembro e outubro. no total, o instituto de radiodifusão educativa da bahia (irdeb) exibiu, diariamente, 26 documentários produzidos por realizadores baianos. todos os filmes valorizam a cultura regional e enfocam uma particularidade dos territórios de identidade da bahia.

o segundo, um filme de animação do estúdio liberato (o segundo longa de animação do norte, nordeste e Centro oeste do país) conta as aventuras dos dois personagens típicos do sertão nordestino, que se encontram após a morte na barca de Caronte. nos dois filmes, a ficção se mistura com documentário, com uma trilha sonora muito especial. destaque também para o lançamento da primeira produção baiana com uma produtora italiana, o longa João e vandinha, de aurélio grimaldi, que narra a história de dois jovens do subúrbio de salvador que precisam lidar com gravidez precoce, sexo, baladas e outras aventuras reais vivenciadas por adolescentes na periferia da cidade. além de aproximadamente 35 longas, destaque na semana do audiovisual baiano para a seleção de 70 curtas, como os premiados mr. abrakadabra, rádio gogó, a mãe, Catálogos de meninas e pixaim, entre outros, o que demonstra a relevância deste período para o cenário contemporâneo do cinema baiano. 111


Bahia: Terra da Cultura

CULtUra O aNO iNteirO

mulHereS em FoCo

mulher e Cultura de 28 a 31 de outubro, a capital baiana recebeu mais de 200 mulheres de todo o brasil para o seminário nacional mulher e Cultura (snmC), na biblioteca pública do estado da bahia. o evento discutiu as ações e os espaços de visibilidade das mulheres em diversos segmentos da Cultura. realização da Fundação pedro Calmon, em parceria do ministério da Cultura (minC) e a universidade Federal da bahia (uFba), o seminário contou com mesas de debate, apresentações culturais e rodas de diálogo, tendo como principal objetivo fortalecer as ações culturais realizadas por mulheres ou sobre mulheres, além de promover reflexões e debates sobre a temática. entre as convidadas, a ialorixá beatriz moreira Costa, a mãe beata de Yemanjá (rJ), a indígena do povo omágua/Kambeba, mestra e escritora, marcia Kambeba (pa), a doutora em literatura Comparada da uerJ, Fernanda Felisberto e a integrante da brigada de audiovisual do Coletivo nacional de Cultura do movimento dos trabalhadores rurais sem terra (mst), ana Chã (sp).

o protagonismo da mulher ganhou o palco principal do teatro Castro alves nos dias 13 e 14 de março, em um espetáculo com direção, cenário, figurino, iluminação e repertório assinado por mulheres. realizado pela secretaria de Cultura do estado da bahia, em parceria com a secretaria de políticas para as mulheres, o elas por elas destaca a dimensão cultural que emerge da luta histórica das mulheres para toda uma produção feminina nos mais variados campos do fazer artístico. no palco, rosa passos, Jussara silveira, marcia Castro, inaicyra, Juliana ribeiro e rebeca matta interpretaram um repertório que dialogou com o universo feminino, com direção musical assinada por andréa daltro e direção geral de hebe alves. a abertura da noite foi feita pela escola de dança da Fundação Cultural do estado da bahia, e contou com a Cia de Circo luana serrat e projeções assinadas por Karina rabinovtz e silvana resende. o espetáculo teve cenário de renata mota, figurino de márcia ganem e iluminação de irma vidal. além do show, a programação do elas por elas inclui o i seminário e Workshop trançados, torsos e turbantes na Cultura afrobrasileira: estética, moda, arte e religião, promovido pelo Centro de Culturas populares e identitárias.

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sidney rochate

elas por elas

estandarte photo e vídeo

eventos destaCaram o empoderamento da mulher no Campo da Cultura

Show Elas por Elas - Rosa Passos, Jussara Silveira, Marcia Castro, Inaicyra, Juliana Ribeiro e Rebeca Matta - 13 de março no Teatro Castro Alves

Mulheres e Conhecimentos Tradicionais no Seminário Nacional Mulher e Cultura

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lugar onde a cultura do couro é forte e está intimamente relacionada com o povo do sertão.

Cultura sertaneJa É Celebrada Com programaÇÃo que valoriZa as tradiÇÕes

shows, lançamento de livros, palestras, oficinas e exposições movimentaram a cidade durante o evento. a programação incluiu as palestras moda de vaqueiros, com germana araújo, economia Criativa, com Carmen lúcia lima e a Civilização do Couro - história e vaqueiros, com Washington queiroz. diretora de economia Criativa da secultba, Carmen lima enfatizou que “toda manifestação cultural tem seu viés econômico” e deu exemplos de como a economia criativa pode criar oportunidade de negócios na região.

denny silva

anteS De tuDo um Forte

o público pôde conferir o acervo da exposição “imagens dos vaqueiros da bahia”, que reúne uma mostra do material fotográfico do projeto histórias de vaqueiros: vivências e mitologia, coordenado por Washington queiroz, com fotos de Josué ribeiro, bauer sá e elias mascarenhas. a pesquisa de campo foi realizada em diversos municípios do sertão baiano entre 1985/91. Já os múltiplos olhares sobre o sertão inspiram o livro Culturas dos sertões (edufba). organizada pelo professor alberto Freire, a publicação reúne 16 artigos de pesquisadores sobre o tema.

Celebração das Culturas dos Sertões

a Celebração das Culturas dos sertões ganhou palco novo este ano. ipirá, a 212 km de salvador, abrigou, entre 13 e 17 de outubro, a iii Celebração das Culturas dos sertões, realizada pela primeira vez com programação completa em uma cidade do interior. até então, as atividades eram realizadas também na capital. Famoso com sua tradição do couro, ipirá realizou a celebração em convergência com a segunda edição do ipirá Couro show, evento realizado pela prefeitura, com apoio do estado. a feira reúne expositores e empresários de produtos derivados do couro da cidade e região. a realização da terceira edição do evento foi importante para consolidar a pauta das culturas dos sertões na cena baiana. a ideia é mostrar, apreciar e refletir sobre a identidade sertaneja em um

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o cantor targino gondim foi uma das atrações da programação musical da Celebração deste ano. além dele, se apresentaram em ipirá atrações como o sertanília, a orquestra sanfônica de serrinha, a orquestra santo antônio, sela vaqueira, paraíba do acordeon e seu maxixe.

merCado do Couro o ipirá Couro show surgiu com a proposta de inserir o município no mercado regional e nacional, com a realização da primeira feira voltada para venda e exposição de produtos derivados do couro, além de incentivar o turismo e ampliar negócios. “Com a Feira do Couro e a iii Celebração das Culturas dos sertões, visamos construir referência em artefatos de couro na bahia, contribuir para a geração de renda e o desenvolvimento a partir do fortalecimento dessa cadeia produtiva, bem como promover o resgate e valorização das culturas sertanejas”, afirma o prefeito de ipirá, ademildo almeida.

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Bahia: Terra da Cultura

denny silva

o público que participou dos dias de programação participou de discussões sobre a diversidade das culturas sertanejas. entre os professores, estudantes e artistas presentes, estava eudório Cintra santos, artesão do couro. “tenho 72 anos e há 40 eu trabalho com couro. vim assistir às palestras desde o primeiro dia. tem muita coisa para aprender. acho importante fazer com que nossa cultura e nossos produtos apareçam mais”, relatou seu eudório.

denny silva

CULtUra O aNO iNteirO

oFÍCio de vaqueiro a bahia foi o primeiro estado a reconhecer o ofício de vaqueiro, figura importante para a construção do brasil. o ofício de vaqueiro é patrimônio imaterial do estado, registrado em 2011, e assinado em Feira de santana em 2012, sendo, na ocasião, inscrito no livro de registro especial de saberes e modos de Fazeres, do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia.

incentivar e animar as expressivas culturas dos sertões da bahia é o objetivo principal da Celebração das Culturas dos sertões, um dos projetos prioritários da secultba. em maio de 2012, um público de mais de nove mil pessoas participou de diferentes atividades artístico-culturais em salvador e Feira de santana, durante a realização da primeira edição do evento. no ano seguinte, a celebração aconteceu em salvador e em Juazeiro, às margens do rio são Francisco. na programação, oficinas, exibição de filmes, cortejo pelas ruas da cidade, encontros de estudos, aulas-espetáculos, exposição de artes, lançamentos de filmes, livros e Cds e apresentações musicais.

A programação incluiu palestras sobre a Moda de Vaqueiros, Economia Criativa e A Civilização do Couro - História e Vaqueiros.

Vaqueiro: personagem central na Celebração denny silvai

históriCo

o evento promove a ampliação de duas das diretrizes da secultba: os diálogos interculturais, possibilitando o desenvolvimento cultural, e o aprofundamento da territorialização da cultura, que visa levar as políticas culturais à periferia da capital e ao interior do estado. “a Celebração das Culturas dos sertões funciona como um evento-programa, isto é, um evento que visa estimular todo um programa de atividades voltadas para as culturas dos sertões, pois elas são vitais para a diversidade cultural que constitui a identidade baiana”, explica o secretário de Cultura do estado da bahia, albino rubim.

Show de Targino Gondim

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Bahia: Terra da Cultura

Honra ao mérito Comenda cultural premia, no 5 de Novembro, destaques consagrados, póstumos e novos talentos da Bahia

Personalidades ou instituições em ascensão no cenário cultural receberam a Comenda na categoria Júnior, entre eles, a Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu – ACBANTU, representado pelo Tata Konmannanjy para quem “a Comenda gratifica os 14 anos da entidade dedicados à luta dos povos de terreiro e comunidades quilombolas”. Vencedora da mesma categoria, a atriz e cantora Laila Garin declarou: “Em minha profissão, vendo pelo mundo afora os sonhos que nasceram aqui na Bahia. Espero retribuir realizando coisas que sejam relevantes para todos nós”. Também receberam a premiação desta categoria o dramaturgo, escritor e ator Aldri Antonio Alves da Anunciação, o poeta e escritor Aleilton Fonseca, o músico Carlinhos Brown, o centro de conhecimento, cultura e inclusão social Cidade do Saber, localizado em Camaçari, o Circo do Capão, o diretor teatral Fernando Guerreiro, atual diretor da Fundação Gregório de Mattos, o maestro Ricardo Castro e a Orquestra Santo Antônio, de Conceição do Coité.

O 5 de novembro, Dia Nacional da Cultura, deste ano foi uma data memorável para a Bahia. Pela primeira vez, o Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura (SecultBA), premiou instituições e personalidades com a Comenda do Mérito Cultural em reconhecimento à contribuição e valorização da cultura no estado.

Bruno Santos

Um espetáculo multimídia, com direção de Elísio Lopes Júnior, e participação de artistas como Carlinhos Brown, Laila Garin, Saulo e Rebeca Matta, conduziu a entrega das distinções. A noite de homenagens foi de dupla celebração para a comunidade cultural: nesse mesmo dia, a Bahia tornouse o primeiro estado brasileiro a ter o Plano Estadual de Cultura aprovado na Assembleia Legislativa. O importante documento confere maior estabilidade às políticas culturais no estado.

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A Comenda do Mérito Cultural da Bahia, em sua primeira edição, homenageou 30 personalidades e entidades destacadas da cultura baiana. As condecorações da Comenda, instituída pelo Governo da Bahia através do decreto nº 14. 917, de 08 de janeiro de 2014, no âmbito da Secretaria de Cultura, foram entregues ao longo de um espetáculo que referenciou a Bahia e suas inúmeras faces como inspiração para toda a intervenção cênica. Para o secretário Albino Rubim, o evento foi diferente por inovar no formato que geralmente possuem as celebrações dessa natureza. “A entrega das Comendas foi um evento artístico, um encontro representativo da cultura da Bahia. Aqui, o mérito e a diversidade foram levados em conta”, observou Rubim. A noite foi de “aplauso e o diálogo com o nosso próprio umbigo”, pontuou o diretor do espetáculo, Elísio Lopes Júnior.

Um espetáculo multimídia marcou a entrega das medalhas que destacaram grandes nomes da cultura baiana

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Já a categoria póstuma, que foi entregue aos familiares dos agraciados, inclui personalidades de reconhecida atuação em prol da cultura baiana. para roberto santos, filho e representante do médico e criador e reitor da então universidade da bahia, edgard santos, reconhece os feitos de seu pai. “ele revolucionou a cena cultural do estado, fundando os cursos de teatro, música e dança, além de outros cursos superiores, e de ações que proporcionavam uma vida estudantil mais sadia, como o restaurante universitário e a residência para estudantes”, explicou.

bruno santos Comenda do Mestre Bimba e Pastinha entregue a seus discípulos bruno santos

distinÇÃo sÊnior - Condecorada pela categoria que contempla nomes já consolidados e de relevância incontestável para a cultura baiana, adeildes Ferreira de lima, representante da confraria religiosa afro-católica brasileira irmandade de nossa senhora da boa morte declarou emocionada: “somos uma irmandade de mulheres negras que existe há mais de 200 anos. para nós, é uma honra receber a Comenda e sermos reconhecidas pela secretaria de Cultura do estado”. os outros agraciados nessa categoria foram: o professor e historiador Cid teixeira, o músico elomar Figueira mello, o escultor, curador e museólogo emanoel alves de araújo, o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura gilberto gil, o professor e cineasta guido araújo, a ialorixá e escritora mãe stella de oxóssi, a escritora e poeta myriam Fraga e o teatro vila velha, além da associação Cultural bloco Carnavalesco ilê aiyê.

buno santos

CULtUra O aNO iNteirO

Laila Garin, uma das homenageadas na Categoria Júnior, canta com Saulo “Refavela”, de Gilberto Gil

instituiÇÕes - a homenagem foi estendida a nove instituições que integraram a Comissão de Concessão da Comenda e tiveram seu papel reconhecido através de menção honrosa: associação baiana de imprensa, sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversões do estado da bahia (sated), academia de Ciências da bahia, academia de letras da bahia, associação nacional dos dirigentes das instituições Federais de en-

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bruno santos

também receberam a Comenda o arquiteto diógenes de almeida rebouças, o músico dorival Caymmi, o cineasta glauber rocha, o escritor Jorge amado, o artista plástico, escritor e sacerdote afro-brasileiro mestre didi, os mestres fundadores da Capoeira pastinha e bimba, o geógrafo milton santos, o produtor, dramaturgo e ator ruy Cezar e o escritor João ubaldo ribeiro. Carlinhos Brown foi um dos homenageados

Jovens da Orquestra Santo Antônio - Comenda na Categoria Júnior

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bruno santos

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COMENDA DO MÉRITO CULTURAL DA BAHIA lista dos seleCionados

sino superior, Conselho estadual de Cultura, Fórum de reitores das universidades estaduais da bahia, o instituto dos arquitetos do brasil – departamento bahia e o instituto geográfico e histórico da bahia. “receber a menção é o reconhecimento pelos 25 anos de trabalho pelos profissionais de arte e da técnica de espetáculos da bahia”, declarou o presidente do sated, Fernando marinho. a indicação de nomes para receber a homenagem foi feita de forma democrática por toda comunidade

cultural e a sociedade baiana, que enviou sugestões por meio de preenchimento de formulário online, totalizando 991 indicações. a seleção final foi realizada por comissão qualificada - a Comissão de Concessão da Comenda - com base nos nomes indicados. a Comissão é composta por representantes de proeminentes instituições culturais da bahia, além da secultba. nas próximas edições, a condecoração homenageará 15 personalidades e instituições, sendo cinco de cada categoria.

bruno santos

Irmandade da Boa Morte - Comenda Sênior

Categoria JÚnior associação Cultural de preservação do patrimônio bantu - aCbantu aldri antonio alves da anunciação aleilton Fonseca Carlinhos brown Cidade do saber Circo do Capão Fernando guerreiro laila garin ricardo Castro orquestra santo antônio

Categoria póstuma diógenes de almeida rebouças dorival Caymmi edgard santos glauber rocha João ubaldo ribeiro Jorge amado mestre didi mestres fundadores da Capoeira – pastinha e bimba milton santos ruy Cezar

Categoria sÊnior associação Cultural bloco Carnavalesco ilê aiyê Cid teixeira elomar Figueira mello emanoel alves de araújo gilberto gil guido araújo irmandade de nossa senhora da boa morte mãe stella de oxóssi myriam Fraga teatro vila velha

menÇÃo honrosa associação baiana de imprensa academia de Ciências da bahia academia de letras da bahia andiFes: associação nacional dos dirigentes das instituições Federais de ensino superior Conselho estadual de Cultura Fórum de reitores das universidades estaduais da bahia instituto dos arquitetos do brasil – departamento bahia instituto geográfico e histórico da bahia sindicato dos artistas e técnicos em diversões do estado da bahia

Mãe Stella de Oxóssi foi uma das homenageadas

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CULtUra O aNO iNteirO

iii enContro DaS CulturaS neGraS mÚsiCa, danÇa, teatro, eXposiÇÕes e debates Celebram riqueZa Cultural de matriZ aFriCana na Capital e no interior do estado

“preparamos uma programação ampla e com diversas manifestações culturais para celebrar o mês de novembro. somos um território de forte presença étnica e cultural afro-descendente. nada mais natural do que celebrar e dedicar atividades à valorização e ao intercâmbio destas culturas. além dessas atrações, é fundamental aproveitar esse momento de celebração para discutir questões efetivas, como as políticas culturais para os afrodescendentes”, afirma o secretário estadual de Cultura da bahia, albino rubim.

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tacila mendes

música, ação poética, exposições, mostra de dança, circuito de cinema, espetáculos teatrais. o iii encontro das Culturas negras movimentou diversos espaços culturais em salvador e no interior do estado em homenagem ao mês da Consciência negra. para ampliar e aprofundar o debate sobre o assunto, no dia 21 de novembro, a secretaria de Cultura do estado da bahia (secultba) convidou a sociedade para participar de um seminário sobre as políticas culturais voltadas ao tema, no Complexo Cultural dos barris.

Seminário Poliíticas para as Culturas Negras

além do seminário, a programação na capital incluiu diversos shows no pelourinho, que celebrou o mês da Consciência negra com quase 80 atrações. entre elas, nomes históricos do cenário nacional e artistas locais que vêm fortalecendo a música de raiz africana, a exemplo de riachão, dudu nobre, Cortejo afro, gabi guedes, bankoma, olodum, didá, daganja, dão & a Caravana black, afoxé Filhas de ghandy, maracatu santo antônio, gabi guedes, dão, bankoma, samba Chula de são brás e sambatrônica. promovida através do Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi) da secultba, a pro-

gramação passeou pela black music, samba, reggae, hip-hop, música afro e suas vertentes. o Centro de Formação em artes (CFa) da Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb) realizou uma edição especial da semana do pensamento em música, com participação do conceituado pianista africano ray lema e do maestro baiano letieres leite. o evento contou com dois workshops gratuitos. Já o grupo gênesis e a FunCeb, em parceria com a superintendência de desenvolvimento territorial da Cultura da secultba, homenagearam o coreógrafo baiano mestre 125


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CULtUra O aNO iNteirO

o Circuito de artistas Credenciados, com o tema Culturas negras, contou com shows de tote gira, na Casa da música de itapuã, performáticos quilombo, no espaço Cultural alagados e do sambista Walmir lima, no teatro dona Canô, em santo amaro.

King, artista precursor da dança afrobrasileira, uma das fundamentais expressões artísticas da cultura e identidade negras na bahia. a exposição mestre King ficou em cartaz no espaço Xisto bahia durante o mês de novembro. exposições fotográficas, circuito de cinema, espetáculos teatrais e shows deram o tom do solar da resistência, no Cine teatro solar boa vista, no engenho velho de brotas. o espaço cultural da secultba relembra a coragem, luta e resistência do povo negro em prol da liberdade. no Centro de Cultura e Cidadania de pirajá, o ação poética nas Comunidades levou a poesia, em sua diversidade de estilos e abordagens, a comunidades populares. no projeto, oficinas artísticas gratuitas culminaram com uma grande intervenção artística e social aberta ao público.

no dia 29 de novembro, foi lançado o videodocumentário dona dalva - uma doutora do samba, no Cine theatro de Cachoeira, produzido pelo Centro de Culturas populares e identitárias da secultba.

registro espeCial para deZ terreiros

os espaços culturais das cidades de alagoinhas, Juazeiro, porto seguro, santo amaro da purificação e valença também tiveram programações especiais para o mês da Consciência negra. na semana de arte e Cultura do litoral norte e agreste baiano, no Centro de Cultura de alagoinhas, teve Companhia nata – núcleo afrobrasileiro de teatro de alagoinhas e o show pradarrum, de gabi guedes. oficinas de dança afro, exposições, palestras, mostras de cinema e espetáculos integraram a semana da Consciência negra, do Centro de Cultura de porto seguro. no teatro dona Canô, foi realizado o i encontro das Crespas & Cacheados de santinho. o dia 20 de novembro teve celebrações especiais ainda no Centro de Cultura olívia barradas, em valença, com a exposição Coletiva de artes visuais e a ocupação Cultural “arte negada”. Já no Centro de Cultura João gilberto, em Juazeiro, exposições, desfiles, oficinas de turbantes e apresentações artísticas integraram a programação. para os amantes do cinema, o Circuito popular de Cinema e vídeo exibiu, em espaços culturais de todo o estado, filmes da mostra terças na tela - novembro negro. Foram exibidas as obras “Cidade das mulheres” e “mandinga em manhattan”, ambas dirigidas por lázaro Faria.

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Claudio david

ConsCiÊnCia negra no interior do estado

o governador da bahia, Jaques Wagner, assinou, no dia 19 de novembro, o decreto de registro especial de dez terreiros de Cachoeira e são Félix. o ato administrativo, que integra as atividades do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (ipaC), outorga o reconhecimento pelo estado e torna os terreiros patrimônio imaterial da bahia. além disso, na ocasião foi aberto o processo de tombamento dessas dez casas de matriz africana. outra novidade foi o lançamento de mais uma edição do Cadernos do ipaC. o volume 7 tem como tema o tradicional bembé do mercado de santo amaro da purificação, que acontece há 125 anos no mês de maio, para celebrar a libertação dos escravos e homenagear os orixás. receitas, oficinas e homenagens nas bibliotecas a programação nas bibliotecas públicas estaduais, administradas pela Fundação pedro Calmon, incluiu o projeto “papo afro – 3° edição”, com encontros com os escritores Ítalo vasconcelos, lucas Yuri e Jorge Conceição. houve também homenagem póstuma ao capoeirista e pesquisador Frederico abreu, na biblioteca Juracy magalhães. na biblioteca anísio teixeira, o destaque foi o projeto dialogando sobre cotas: um conto e um poema, com o sociólogo Jairo pinto. também teve comemoração na ilha de itaparica, com o ii seminário do samba – ilha de itaparica, dias 28 e 29 de novembro na biblioteca Juracy magalhães Júnior.

Sambatrônica no dia 20/11, no Pelourinho. Show África Brasil- Tributo a Jorge Ben Jor

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Gabriel Guerra

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bahia revisitada 128

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Ricardo Prado

Bahia: Terra da Cultura

Cultura em movimento Projetos itinerantes percorrem os 27 territórios de identidade e revelam face nova da CULTURA no interior da Bahia

Na Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão, são produzidos jogos americanos, tapetes, bolsas e outros objetos de decoração confeccionados com sisal para outros estados

Exposição ao ar livre no Parque Estadual de Canudos

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A paisagem do sertão vai muito além dos mandacarus e da terra rachada pela seca. A força e a mobilização de manifestações e grupos culturais das mais diversas gerações têm feito brotar vida nova em cenários de resistência como a aldeia dos índios Kiriri e as cidades de Canudos e Monte Santo. Em outros locais, é a riqueza do artesanato em couro e em sisal, o som e o ritmo dos grupos de pífanos, samba de roda e até música clássica que trazem acordes diferentes para a vida das pessoas. Realidades assim estão na mira de projetos como a Caravana Cultural e o Funceb Itinerante, que chegaram à quarta edição em 2014.

Desde então, 34 cidades foram visitadas pela Caravana e 26 pelo projeto itinerante da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), fazendo-a alcançar todos os 27 territórios de identidade do estado. Conhecer de perto cada lugar para desenvolver ações e políticas culturais qualificadas e sintonizadas com as necessidades dos territórios de identidade é o objetivo destas ações. “Aproximamos ainda mais a população da política que vem sendo aplicada no Estado baseada nas diretrizes da Secult, como a construção de uma cultura cidadã, aprofundamento da territorialização da cultura e alargamento das transversalidades, além de identificar os agentes e as produções artístico-culturais expressivas de cada território”, afirmou a então superintendente de Desenvolvimento Territo-

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Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada

mulheres de Fibra - na cidade de valente, a Cooperativa regional de artesãs Fibras do sertão comercializa jogos americanos, tapetes, bolsas e outros objetos de decoração confeccionados com sisal para outros estados. as 104 mulheres associadas trabalham cantando. “a gente se sente valorizada, principalmente enquanto mulher, porque o trabalho das mulheres tem mais dificuldade em ser valorizado”, explica a diretora da Cooperativa, valdeane lopes oliveira. o estreitamento da relação da secretaria com a sociedade, através das Caravanas, tem contribuído para orientar os projetos e ações sobre as diversas formas de apoio, a exemplo dos pontos de leitura e dos pontos de cultura. “a identidade de um povo é a sua cultura. Foi a partir dessa nova visão de cultura, que passamos a ter apoio na bahia. a gente tinha muita

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Valente Conceição do Coité Serrinha

cultural Serta Sertã~ãao

* * Baiano BA-2014

AIANO

B UL

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Cansanção

Euclides da Cunha Banzaê Ribeira do Pombal Tucano Cipó Nova Soure

IV caravana

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ÃO BAIAN RT

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em seis dias, de 25 a 30 de maio de 2014, o grupo percorreu as cidades de banzaê, Canudos, Cansanção, Cipó, Conceição do Coité, euclides da Cunha, monte santo, nova soure, ribeira do pombal, tucano, valente e serrinha. no roteiro, lugares como a maior biblioteca rural do brasil, em são José do paiaiá. são 120 mil livros à disposição da comunidade. “aqui, fazemos atividades de incentivo à leitura e cursos de capacitação”, afirma o idealizador do espaço, geraldo prado, o alagoinhas. a partir do encontro, foi sugerida a inscrição do espaço no edital de biblioteca Comunitárias da Fundação pedro Calmon.

Canudos Monte Santo

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ll cualravana c tural

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rial da Cultura da secultba, taiane Fernandes, durante a iv Caravana Cultural sertão baiano. além dela, o secretário estadual de Cultura, albino rubim, e dirigentes dos principais órgãos e instituições vinculados à secretaria visitaram 12 municípios de três territórios de identidade: sisal, semiárido nordeste ii e sertão do são Francisco.

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BAHIA

território de todos nós

NOSSO ITINERÁRIO Início Roteir da IV Caravana Cultural - Sertão Baiano

Final

Conhecer a realidade de quem desenvolve as artes no interior do estado para aprofundar a discussão das políticas públicas para as artes é o foco central do Funceb itinerante. em 2014, durante 12 dias, de 3 a 14 de maio, sete cidades baianas foram visitadas pela equipe gestora da fundação: Feira de santana, no portal do sertão; pintadas, na bacia do Jacuípe; Juazeiro, no sertão do são Francisco; irecê, no território de mesmo nome; ibotirama, no velho Chico; Caetité, no sertão produtivo; e amargosa, no vale do Jiquiriçá. de 2011 a 2014, a comitiva percorreu mais de 10 mil quilômetros e estabeleceu contato direto com mais de mil artistas, produtores e agentes culturais em todos os 27 territórios de identidade da bahia, incluindo a

cultura, muita coisa boa, mas o dinheiro ia todo para a capital. receber essa visita, conversar com as pessoas, faz toda a diferença”, afirma a gestora de projetos da Fundação apaeb (associação de desenvolvimento sustentável e solidário da região sisaleira), virgínia araújo. a Casa de Cultura da fundação, criada em 2004, possui sala de exposição para artistas locais, auditório com capacidade para 300 pessoas, sala de música, um ponto de leitura com 2 mil exemplares em seu acervo e sala multimídia, com acesso à internet. “Com as Caravanas podemos trocar muitas informações, que é um dos nossos objetivos, mas também fazer com que os servidores da secultba e as pessoas que executam as políticas de cultura do estado conheçam o lugar onde essa cultura vive”, pontua sandro magalhães, atual superintendente de desenvolvimento territorial da Cultura e coordenador da Caravana.

presença da sede da Funceb no território metropolitano de salvador. o projeto, que fortalece a diretriz de territorialização nas políticas públicas para as artes no estado, conhece realidades distintas para discutir e conceber ações para as artes visuais, audiovisual, Circo, dança, literatura, música e teatro. na quarta edição, mais de 300 agentes culturais da bahia, oriundos de 24 diferentes municípios, compartilharam suas experiências, demandas e sugestões. gestores municipais, entre representantes das prefeituras, secretários, dirigentes de Cultura e vereadores, também marcaram presença, bem como diversos membros de Colegiados setoriais das artes da bahia. “É muito relevante a diferença do que discutimos na primeira edição do Funceb itinerante e o que viemos discutindo nesta quarta edição. a qualificação dos discursos e dos conhecimentos no campo cultural tem sido muito clara, e isto é mais uma demonstração do que se conseguiu avançar nos últimos anos”, avalia a diretora geral da FunCeb, nehle Franke. além de pautar as linguagens artísticas e as ações realizadas pela fundação, os encontros buscaram estimular a organização dos setores artísticos, fomentar o debate, ouvir a sociedade em relação às demandas para as linguagens artísticas e promover a articulação com agentes, grupos e instituições culturais do interior da bahia. o projeto teve ainda o intuito de mobilizar os cidadãos para as eleições do biênio de 2015-2016, dos próprios Colegiados setoriais das artes da bahia, cuja consolidação é um dos desdobramentos mais relevantes do projeto.

FUNCEB Itinerante 2014

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em monte santo, o samba de roda foi o veículo de transformação da vida das mulheres da comunidade quilombola de laje do antonio. agora, a reivindicação é acesso à internet para acompanhar políticas culturais. “a gente mora no interior do interior. passar a ser uma comunidade quilombola já trouxe muita coisa boa. ser o que se é, sem negar a sua origem, já é um passo imenso para a liberdade”, diz maria olívia, uma das integrantes do grupo.

todo dia É dia de Índio ricardo prado

Comunidade quilombola de Laje do Antonio, Monte Santo

ricardo prado

samba no pÉ

Terreiro Oxóssi Viva Deus Filho Resistência africana

a cultura indígena foi o foco da Caravana Cultural em banzaê. no povoado de mirandela, ocupado em 1995 pela tribo Kiriri, foram discutidos o tombamento e a restauração da igreja senhor da ascensão, construída pelos jesuítas no século Xvii. Foram visitados ainda a aldeia Cajazeira e o povoado de marcação, onde funciona uma associação comunitária que fabrica guloseimas com o uso da mandioca.

antes de tudo um Forte

no bairro rural alto santo antônio, em ribeira do pombal, lugar onde engenhos grandiosos operavam na época da escravidão, fica o terreiro de oxóssi viva deus Filho, comandado há mais de 40 anos pela ialorixá mãe marina. localizado em uma área espaçosa e arborizada, o terreiro vive harmoniosamente ao lado de uma igreja católica. o ponto alto da visita foi a conversa entre arany santana, diretora do Centro de Culturas populares e identitárias, e a matriarca, que discutiram a necessidade de abrigar no terreiro um Centro Cultural para o desenvolvimento das crianças do bairro.

atracado na margem do rio são Francisco, em ibotirama, o velho vapor são salvador, transformado no barco escola, é sede do projeto Cultura a todo vapor – Chamada à Cultura do velho Chico, selecionado pelo edital de dinamização de espaços Culturais, da secultba. o projeto objetiva dinamizar o equipamento cultural, sob a gestão da secretaria de Cultura de ibotirama, através da realização de seis shows musicais com artistas locais e regionais, quatro apresentações teatrais, duas apresentações de dança, quatro oficinas de artesanato, 12 exibições de filmes brasileiros e quatro apresentações de grupos da cultura popular. as atividades devem acontecer até o fim de 2014.

Arte nas águas do Velho Chico

agentes da Cultura em CaetitÉ acervo ipac

ricardo prado

Aldeia dos Kiriris em Banzaê

o sítio histórico e arqueológico do parque estadual de Canudos foi uma das paradas da iv Caravana Cultural. apesar da triste história do local, as suas belas locações também são fonte de reflexão e contemplação. “uma história tão bonita não deve ser lembrada apenas como um palco de massacre, mas como um símbolo de luta social, de resistência da população sertaneja”, afirma o prefeito de Canudos, genário alcântara. no memorial antônio Conselheiro, a equipe da secultba assistiu à mostra Cultural, onde foi apresentado um trecho da emocionante peça melelego, que retrata a guerra de Canudos. a peça é dirigida por Carlos Carneiro, da Cia teatral de Canudos, grupo que integra o projeto social Canudos desenvolvimento sustentável local.

resistÊnCia aFriCana

a todo vapor alex oliveira

ricardo prado

bahia revisitada

na Casa anísio teixeira, em Caetité, território de identidade do sertão produtivo, debate com a comunidade cultural sobre a difusão da produção artística, formação e qualificação de agentes da cultura, formas de demandar realizações da secultba na região e divulgação das ações. também foram relatadas iniciativas de institucionalização da Cultura na localidade, com formação de associações.

Apresentação em Canudos Comunidade cultural de Caetité

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bahia revisitada deCom/ prefeitura de santo amaro

o SeGreDo é PreServar

dill santos

tombamento, registro, eduCaÇÃo patrimonial e obras de restauro mantÊm viva a memória da bahia

Adeptos do culto afro, pescadores e comerciantes celebram a Lei Áurea há 125 anos O conjunto arquitetônico de Palmeiras foi tomado pelo IPAC

Cinco verbos e várias formas de livrar o patrimônio histórico da destruição - restaurar, conservar, registrar, educar e preservar. eles são os mais conjugados pelo instituto do patrimônio artístico e Cultural (ipaC) para por em prática uma política pública focada na territorialização. a prioridade? os processos de tombamento e registro, a educação patrimonial e os projetos e obras de conservação e restauro em diversos municípios do interior do estado. as principais iniciativas você confere a seguir:

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tombamentos e registros espeCiais Casario de palmeiras É tombado localizada na Chapada diamantina, a 443 km de salvador, a cidade de palmeiras teve seu conjunto arquitetônico tombado como patrimônio cultural do estado da bahia. importante elo na cadeia dos núcleos urbanos da região na época do chamado Ciclo do diamante, o município será beneficiado com incentivos e apoios de esferas governamentais, além de patrocínio de empresas privadas. “o tombamento também obriga o poder público municipal e os proprietários de imóveis a solicitar autorização prévia ao ipaC antes de promover qualquer alteração física no casario, sob pena de multa e responsabilização na ordem administrativa, civil e criminal”, explica a diretora geral do ipaC, elisabete gándara.

Festa do bembÉ do merCado virou patrimÔnio imaterial em santo amaro da purificação, a 79 km de salvador, o alvo da ação de preservação foi um bem simbólico: a Festa do bembé do mercado. ela foi transformada em patrimônio Cultural imaterial do estado no livro do registro especial de eventos e Celebrações. a manifestação - realizada na semana do 13 de maio por adeptos do candomblé, pescadores e comerciantes locais – acontece há 125 anos. ela surgiu quando o babalorixá João de obá reuniu filhos e filhas de santo, fincou um mastro e bateu tambores para comemorar um ano da libertação dos escravos pela lei Áurea, promulgada em 1888, e agradecer aos orixás iemanjá e oxum. a festa acontece no largo do mercado, dura cinco dias, e é marcada pela tradição dos pescadores de oferecer presentes à mãe d’Água. na programação, há apresentações de capoeira, maculelê, samba de roda e do nego Fugido, do distrito de acupe. em novembro de 2014, a manifestação cultural passou a ser tema de um livro. a publicação foi lançada pela coleção Cadernos do ipaC, que já possui outros sete volumes, seis deles sobre bens imateriais do estado. o registro especial da Festa do bembé do mercado foi solicitado ao instituto pela sociedade Civil do terreiro de ilê axé oju onirê. a partir daí, a autarquia realizou os estudos necessários e emitiu parecer – também aprovado pelo Conselho estadual de Cultura – favorável, após constatar a importância histórica, cultural e antropológica da manifestação para a população santamarense e para a bahia. 137


Bahia: Terra da Cultura ascom ipaC

bahia revisitada

ascom ipaC

parece inacreditável, mas a valorização dos sítios rupestres tem sido capaz de melhorar a qualidade de vida de mais de 200 mil pessoas na bahia. este é o número de moradores beneficiados pelo projeto Circuitos arqueológicos da Chapada diamantina, iniciativa da secultba, por meio do ipaC e em convênio com a universidade Federal da bahia (uFba). a intenção é propiciar desenvolvimento sustentável e melhorar a vida das comunidades locais. a iniciativa, realizada em parceria com as prefeituras de andaraí, boninal, ibicoara, mucugê, piatã, utinga, morro do Chapéu, iraquara, lençóis, palmeiras, seabra e Wagner, vem sensibilizando e criando multiplicadores por meio de mobilizações, seminários, cursos e oficinas, entre elas, de educação patrimonial e Fotografia.

Terreiro Filha Lobanekum

Pinturas rupestres mudam a vida da comunidade

ascom ipaC

a proposta elaborada pelo ipaC foi aprovada pelo Conselho estadual de Cultura (CeC) em setembro de 2014 e oficializada pelo governador Jaques Wagner em 19 de novembro de 2014, como parte integrante do iii encontro das Culturas negras e do novembro negro. na ocasião, foi aberto o processo de tombamento dos dez terreiros registrados: aganjú didê (conhecido como ici mimó), viva deus, lobanekum, lobanekum Filha, ogodó dey, ilê axé itayle, humpame ayono huntóloji e dendezeiro incossi mukumbi, localizados em Cachoeira; e os raiz de ayrá e ile axé ogunjá, situados em são Félix.

pinturas rupestres mudam a vida da Comunidade

lázaro menezes

a política de territorialização também está possibilitando que 10 terreiros de candomblé localizados nos municípios de Cachoeira e são Félix, na região do recôncavo, sejam os primeiros bens culturais baianos inscritos no livro de registro especial dos espaços destinados a práticas Culturais Coletivas do estado. “este tipo de registro é considerado inovador, pois possibilita a proteção não somente da estrutura física, mas da simbologia que envolve o lugar, incluindo as práticas exercidas no local, como ritos, rituais e culinária, por exemplo”, destacou a diretora.

eduCaÇÃo patrimonial

lázaro menezes

terreiros tÊm proteÇÃo espeCial

outras maniFestaÇÕes atualmente, estão em estudo pelo ipac a manifestação Zambiapunga, que conecta os municípios de Camamu, taperoá, nilo peçanha, entre outros, no baixo sul, a Festa do Fogaréu, em serrinha, no território do sisal, a Festa do divino espírito santo, em bom Jesus da lapa, no velho Chico, e as manifestações lúdico-artísticas das Cheganças e marujadas, que acontecem em municípios de vários territórios. também estão sob análise os terreiros de culto aos espíritos ancestrais babá egun, tuntum olukotun e omó ilê agboulá, localizados na ilha de itaparica.

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Terreiro Ilê Axé Ogunjá Registro especial possibilita a proteção às práticas religiosas e culturais exercidas no local

Na Chapada, o Circuito Arqueológico gera emprego e renda para a população local

na primeira etapa, o projeto promoveu o mapeamento de 67 sítios de pinturas rupestres, nove roteiros de visitação, nove exposições, além de atividades de pesquisa científica e escavação. agora em sua segunda etapa, iniciada em julho de 2013, o projeto conta com um investimento total de r$ 1,7 milhão, sendo que já foram investidos cerca de r$ 822 mil. “a paisagem da Chapada diamantina foi formada há milhões de anos e, além dos bens paisagísticos, naturais e arqueológicos, detém importante acervo arquitetônico-urbanístico dos séculos Xviii, XiX e XX”, enfatizou a diretora geral do ipaC, explicando que os roteiros de visitação do projeto Circuitos arqueológicos são elaborados com participação das comunidades locais, considerando justamente a importância desse patrimônio.

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haroldo abrantes

elias mascarenhas

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O patrimônio preservado assegura ao município repasses financeiros - Irmandade da Boa Morte, Cachoeira

Catedral de São Francisco de Chagas, Barra

ConservaÇÃo e restauro bens Culturais preservados nos dois últimos anos, o governo do estado realizou diversas obras de conservação e restauro em bens culturais baianos localizados em municípios do interior. Confira as principais: reforma da sede da irmandade da boa morte, em Cachoeira (recôncavo), e transformação da edificação no Centro Cultural da irmandade da boa morte, com investimento de r$ 848,9 mil. restauração e manutenção no palácio episcopal e na Catedral de são Francisco das Chagas, no município de barra, oeste da bahia, com investimento de r$ 444 mil. restauração dos altares e imagens sacras da igreja matriz do bom Jesus de piatã, na Chapada diamantina. reforma do parque histórico Castro alves (recôncavo).

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maPa Da mina levantamentos norteiam polÍtiCas pÚbliCas de apoio Às maniFestaÇÕes musiCais, arte CirCense e Cultura popular

a segunda fase do programa foi iniciada em 2013, de forma ampliada, prevendo, além de distribuição de recursos, ações de benefício coletivo. esta continuidade foi possível através de um acordo de cooperação

firmado entre o governo da bahia e a Caixa econômica Federal, que fez um aporte de r$ 1,5 milhão como patrocinadora exclusiva. nesta segunda etapa, foram consideradas as 96 filarmônicas cadastradas na fase anterior, mas que, por motivos diversos, não conseguiram obter repasse naquele momento. por ordem de classificação, elas foram novamente convidadas a se credenciar para angariar o apoio a ser concedido, disponível para mais 30 bandas, que vêm sendo diretamente apoiadas com recursos da ordem de r$ 30 mil, também para atender necessidades básicas à manutenção das suas atividades.

qualiFiCaÇÃo - em paralelo, houve iniciativas que tomaram a formação e a qualificação como pautas fundamentais para a conservação desta tradição. em 2013, houve Jornadas de qualificação musical de Filarmônicas em três cidades: bom Jesus da lapa, Canavieiras e Jacobina. a ação atendeu diretamente 258 pessoas, na sua maioria crianças e jovens que atuam como alunos e músicos em filarmônicas. no mesmo ano, foi realizado o i encontro de Filarmônicas, promovendo intercâmbio musical em salvador com 12 bandas de 10 diferentes municípios e divulgando essa manifestação cultural popular da bahia.

Malabaristas e palhaços que ganham a vida anonimamente no interior passaram a ter apoio estatal - Circo Sulamérica divulgação

nem todo mundo sabe, mas a música baiana não é só a que passa na tv. para além do pagode e do axé, a bahia abriga, entre outros gêneros, orquestras filarmônicas, grupos de jazz, samba de roda e hip hop. e a arte circense (sim, aqui tem circo, sim sinhô) é realidade no estado. isso sem falar na produção cultural das comunidades afrodescendentes e nos terreiros de candomblé. para conhecer melhor este universo cultural, a secretaria de Cultura promoveu, nos últimos seis anos, pelo menos três mapeamentos – o das filarmônicas, o do circo e o chamado mapa musical. todos trouxeram resultados práticos ao nortear a promoção de políticas culturais.

Já o programa de apoio às Filarmônicas do estado da bahia é resultado do mapeamento que identificou 183 grupos musicais. a partir disto, em 2010, 87 delas foram habilitadas e receberam recursos para aquisição, reforma e conserto de instrumentos musicais, além de aquisição de fardamentos, acessórios e equipamentos de informática. na época, menos de 10% das filarmônicas estavam inseridas no contexto digital.

o primeiro, realizado em 2009, resultou num programa de apoio às bandas; o segundo, iniciado em 2007, contabilizou 56 circos, trupes, companhias e artistas e o terceiro mantém uma plataforma de difusão da produção musical autoral da bahia por meio de uma rádio on line. Já o mapa musical, entre 2012 e 2014, cadastrou mais de 900 artistas e 1732 obras musicais. o mapeamento e memória do Circo da bahia é um registro inédito de valor histórico e cultural. além de reconhecer e valorizar as artes circenses, a iniciativa aponta as demandas existentes para o planejamento e a continuidade de políticas públicas específicas voltadas a este setor. iniciado em 2007, feito através de viagens por toda a bahia no contato direto com os circenses, a ação já contabilizou 56 circos, trupes, companhias e artistas que circulam pelo estado.

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Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada Já em 2014, os gestores de 22 bandas se reuniram em salvador e participaram do curso qualificação para gestão, empreendedorismo e elaboração de projetos, numa parceria com o serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas

pamusical) apresenta uma rádio online com obras que foram indicadas por curadorias especializadas. a iniciativa tem promovido o intercâmbio entre os próprios artistas. “eu me senti inserido no meio de músicos da bahia que nem eu, que também sou músico, conhecia. tem tanta música boa por aí, é bom que se tenha um projeto como este para que possamos conhecê-las”, afirma o músico giovani Cidreira.

“o programa é grandioso, benéfico, muito importante, não dá medir o tamanho desse apoio. um benefício que não cabe em poucas palavras”, afirma o presidente da associação Filarmônica Carlos gomes (asficag), antonio Carlos reis. Com sede em santo antônio de Jesus, a asficag existe desde agosto de 1919 e há três anos faz parte destas ações e incentivos. segundo o presidente da filarmônica, a entrada no programa, por meio do mapeamento e cadastramento, proporcionou avanços. “graças às ações do projeto, conseguimos comprar os instrumentos musicais que faltavam e construímos o fardamento completo para os participantes. Com isso, a gente conseguiu desfilar nas últimas importantes festas cívicas da cidade. e estamos conseguindo manter os alunos nas atividades, fazendo com que eles permaneçam cada vez com essa tradição”, ressalta.

iniciado em 2012 com o objetivo de mapear, reconhecer e difundir a diversidade da música produzida na bahia, o mapa musical da bahia já contabiliza resultados no setor. um portal que leva o nome do projeto está no ar desde agosto de 2013 e garante a difusão da produção musical autoral da bahia. além disto, uma parceria com a rádio educadora Fm bahia permite a veiculação semanal de programas apresentando artistas cadastrados no projeto.

edital - o projeto mapa musical da bahia 2014/2015 foi contemplado pelo 1º edital de Fortalecimento do sistema nacional de Cultura (snC), realizado pelo ministério da Cultura (minC), por meio da secretaria de articulação institucional (sai), no eixo “Fomento à produção e Circulação de bens Culturais”. Joice santos / ascom Cds

mÚsiCa É para toCar no rÁdio

Foi graças ao mapa musical que ele conheceu, por exemplo, a banda tríplice hip hop, de lauro de Freitas. “agora, muitas pessoas também podem ter acesso a trabalhos que ainda não são muito conhecidos, mas que têm bastante qualidade, como a tríplice hip hop. uma banda muito boa que eu conheci por conta desta ação”, declara.

memória - o mesmo edital do minC vai viabilizar outra ação que partirá de mais um mapeamento feito pela secultba: o projeto de valorização da memória e Fortalecimento da economia Criativa e solidária das Comunidades de terreiros e Culturas populares, classificado em primeiro lugar no eixo “promoção da diversidade Cultural brasileira”. Com isto, o Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi) vai realizar uma série de ações de formação, produção, salvaguarda e democratização de acesso, para garantir a valorização das comunidades de terreiros e culturas populares.

Com chamadas anuais realizadas desde então, foram cadastrados, de 2012 até 2014, no mapa musical, 913 artistas e 1732 obras musicais da bahia. o portal mapa musical da bahia (www.fundacaocultural.ba.gov.br/ma-

Orquestra Afrosinfônica é uma das participantes do Mapa Musical

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bahia revisitada nerivaldo góes

naDa SerÁ Como anteS sistema estadual moderniZa biblioteCas e FaCilita aCesso aos livros em Centros soCiais, praÇas pÚbliCas, presÍdios e terreiros de CandomblÉ em lugar de fichas, registro do acervo em meio digital; em vez de burocratas sisudos, contadores de histórias usam fantoches para seduzir o leitor. as bibliotecas hoje existentes em praticamente todos os 417 municípios da bahia são, agora, espaços de integração de cultura, conhecimento, lazer e formação em praças públicas, presídios, centros sociais e terreiros de candomblé.

“nosso apoio é para fortalecer estas unidades implantando, através da biblioteca de extensão, espaços de leitura em terreiros de candomblé, unidades prisionais, praças públicas e Centros sociais urbanos”, explica a coordenadora do sebp (FpC), Cristina santos. a biblioteca Fernando alban, no município de eunápolis, é exemplo do novo perfil do sistema. os cerca de 200 usuários que frequentam a unidade mensalmente têm agora acervo catalogado digitalmente, contação de histórias, 146

nerivaldo góes

desde 2007, o sistema estadual de bibliotecas públicas (sebp), gerenciado pela Fundação pedro Calmon, implantou 160 unidades e modernizou mais de 180 em parceria com o ministério de Cultura (minC). doação de acervo, organização de espaços e infraestrutura, além do treinamento de pessoal, estão entre as ações realizadas nos últimos sete anos na capital e no interior.

Jogo Interativo

dão conta dessa demanda”, enfatizou a universitária gisele rocha, 24 anos.

site e rede social. “antes manuseávamos fichas, não sabíamos como melhor organizar o pequeno acervo que tínhamos. em nove anos de serviço, eu apenas fazia o básico. hoje, levamos a biblioteca para a praça, aproximando da população, trabalhamos com mais rapidez”, descreve a coordenadora do espaço, a professora maria de lurdes souza.

nesta rede de assistência, foi possível capacitar, desde 2007, mais de 900 auxiliares que atuam nas bibliotecas municipais, comunitárias e pontos de leitura enquanto mediadores de serviços. dentre elas, a biblioteca pública municipal Joana lopes araújo, em são domingos, na microrregião de serrinha, que possui um grupo de jovens estudantes intitulado amigos da biblioteca, voluntários que levam ações como hora do Conto para escolas e creches da cidade, além de encenarem peças teatrais na praça, com o apoio da unidade.

basta uma rápida conversa com os usuários para entender o que mudou. “a biblioteca é o único espaço que temos acesso a livros de vários gêneros, revistas variadas, enciclopédias, didáticos, literatura, além de podermos participar de rodas de leitura e eventos na área. acompanhei a evolução dela, ainda falta muito para melhorar, mas o que temos hoje já é significativo. as livrarias que tem aqui não

“amo livro, amo ler desde pequena e trabalhar com leitura para crianças, levar fantoches e música para elas é o que mais gosto aqui na biblioteca. podemos incentivar elas a lerem também, como meus pais fizeram comigo. vou à biblioteca três vezes na semana também para estudar e me reunir com meus amigos que também fazem parte do grupo para pensar outras formas de ajudar”, contou a estudante do 1º ano colegial da escola municipal rafael rios, alexian Kerly (16).

Sistema Estadual de Bibliotecas doa acervos a diversos municípios baianos

as iniciativas do sistema estadual de bibliotecas públicas integram uma rede de ações em prol do livro e da leitura, encabeçadas pela Fundação pedro Calmon, que atua não somente nas seis bibliotecas públicas estaduais (ver quadro), em salvador. a atuação se estende a uma casa de cultura no município de lençóis, uma biblioteca no município de itaparica, além da biblioteca virtual, especializada na história da bahia. o trabalho contempla ainda mais de 400 unidades municipais, 23 comunitárias, além dos 260 pontos de leitura espalhados em todo o estado.

pontos de leitura - eles são iniciativas da sociedade voltadas a consolidar espaços de estímulo à leitura, com propostas culturais, sociais e/ou educacionais, conforme os objetivos do programa mais Cultura do minC, gerido pela diretoria do livro e leitura da Fundação pedro Calmon. o instituto adroaldo moraes (iam), no município de boa nova, sudoeste baiano, contemplado pelo programa desde 2012, é exemplo dos resultados alcançados pelo trabalho. lá, o projeto ler, escrever e navegar já beneficiou mais de 300 jovens, entre 147


Bahia: Terra da Cultura

VEJA QUAIS SÃO AS BIBLIOTECAS PÚBLICAS ESTADUAIS biblioteca infantil monteiro lobato (nazaré) biblioteca pública thales de azevedo (Costa azul) biblioteca de extensão; biblioteca Juracy magalhães Júnior (rio vermelho) biblioteca anísio teixeira (pelourinho) biblioteca pública do estado da bahia (barris) biblioteca Juracy magalhães Júnior (itaparica) Casa afrânio peixoto (lençóis) biblioteca virtual 2 de Julho

Tabuleiro Virtual 2 de Julho

leitores cadastrados e estudantes de escolas nas zonas urbana e rural. “buscamos incentivar a leitura, a escrita e o uso qualificado da internet. Foi possível implantar esse projeto com a informatização do nosso espaço, que cresceu com mobiliários, salas, estantes, aparelhos de audiovisual. pudemos, assim, integrar mais a comunidade que hoje utiliza o ponto como local de reuniões e de ações escolares”, relatou o coordenador do projeto, luiz henrique duarte. É o caso da professora da escola municipal padre exupério souza gomes, ivanery brito luz souza, que utiliza o ponto na alfabetização de seus alunos. “Costumo levar as crianças para ler contos infantis

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e quadrinhos para depois conversarmos em sala, o que eles gostam muito e já aprendem sobre os autores, os vários tipos de leitura. nosso trabalho é incentivar os alunos e suas famílias a se cadastrarem no ponto pra ampliar o acesso ao livro, para além das bibliotecas escolares. em um ambiente como o do instituto, eles se engajam mais para ler e criar”, conta a professora. na região metropolitana de salvador, a biblioteca Comunitária estrela da paz, conhecida como o “coração” da instituição de Ética e valores humanos estrela da paz, adquiriu, há três anos, mais de 600 livros. além disto, ganhou a frequência e o compromisso de voluntárias e promoveu intercâmbios entre usuários, leito-

res do bairro de valéria, em salvador, com escritores baianos. os projetos lendo e vivendo o planeta arte e o mais leitura, mais alegrias já beneficiaram cerca de 500 pessoas da região. “Como ponto de leitura, convidamos autores baianos, contadores de histórias, artistas da região para promoverem atividades que estimulassem a leitura e outras linguagens, como as artes. uma maneira de aproximarmos nossos leitores da cultura, envolver adultos, idosos, multiplicar conhecimentos com cursos, desenvolver talentos com atividades manuais. É um coração vivo”, descreveu a diretora educacional da instituição, maria José rabello.

FERRAMENTA ON LINE É SUPORTE DE GESTÃO

ACERVO HISTÓRICO SEMPRE À MÃO

resultado das ações de formação em todo o estado, a gerência do sistema estadual de bibliotecas públicas lançou, em 2014, um manual de orientação (online). a ferramenta serve de referência para aqueles que atuam em bibliotecas em todo o estado.

temática, a biblioteca virtual 2 de Julho (bv) integra, desde 2012, o sistema estadual de bibliotecas públicas, é especializada na história da bahia e tem como coleção especial um acervo referente à data da independência baiana.

além desta publicação, o sistema dispõe, desde 2010, também em formato online do guia de bibliotecas públicas do estado da bahia, instrumento de mapeamento e controle social destes equipamentos no estado. sempre que têm qualquer dúvida nas atividades da biblioteca, os profissionais podem recorrer ao manual que reúne técnicas e procedimentos padronizados de gestão.

seu conteúdo é composto por documentos do arquivo público da bahia, Centro de memória da bahia e pelas bibliotecas públicas, pertencentes à estrutura da Fundação. Funciona tanto como uma biblioteca digital (conteúdos para download), quanto virtual (links e referências dos materiais).

“Com a modernização, a informatização nos ajudou muito, acelerou nosso atendimento aos leitores. tenho mais incentivo e bagagem pra criar atividades, inclusive, com a ajuda dos amigos da biblioteca, voluntários que se unem a nós ao longo da semana pra contar histórias, fazer teatro, levar artes para os usuários”, destacou irisnete teixeira, gestora da biblioteca pública municipal Joana lopes araújo (serrinha). o guia de bibliotecas e o manual de orientação podem ser acessado no endereço www.fpc.ba.gov.br.

Com mais de 130 mil visitas online desde sua criação, a bv tem, dentre suas metas, a digitalização das fontes de informação de domínio público do arquivo público e da biblioteca pública do estado, para ampliar as possibilidades de investigação, estudo, discussão e troca de opiniões entre pesquisadores. a biblioteca possui um acervo bibliográfico com mais de 700 referências na temática, tendo o conteúdo “símbolos da bahia” dentre os mais acessados (mais de oito mil acessos), contendo informações acerca de símbolos oficiais do estado, a exemplo da bandeira e o hino. para ter acesso à bv, basta ir ao endereço eletrônico www.bv2dejulho.ba.gov.br.

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Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada

novoS CaminHoS Do PelÔ

um passeio pelo Centro histórico não pode faltar no roteiro turístico de quem visita salvador. seu mais famoso bairro, o pelourinho, patrimônio da humanidade reconhecido pela unesco, é palco de apresentações quase diárias de artistas contratados por meio de uma política pioneira na bahia. trata-se do credenciamento que permitiu um investimento de r$ 1,8 milhão em contratações de artistas para apresentações no Centro antigo da capital.

galerias de arte, museus, bares, monumentos históriCos Com iluminaÇÃo CÊniCa e shoWs de diversos estilos musiCais atraem visitantes À regiÃo

tacila mendes

2 de Julho no Centro Histórico de Salvador

somente em 2014, graças à simplificação do processo de apoio a eventos culturais, foi possível a realização de aproximadamente mil apresentações. Cerca de 500 mil pessoas foram até lá conferir a programação. “quando a chamada pública para o edital foi aberta pela primeira vez, parte da comunidade artística não acreditou que daria certo. após terem visto que o projeto estava funcionando e atendendo às necessidades dos artistas credenciados, muitos nos procuraram. desde então, já abrimos mais duas chamadas”, explica a produtora e atual coordenadora do projeto pelourinho Cultural, thelma Chase

lançado no ano de 2012, o credenciamento de artistas, bandas e grupos é uma política inédita na bahia que veio representar um avanço nas relações do estado com a classe artística. uma comissão especializada seleciona dentre os inscritos quais atendem aos critérios do credenciamento e atribui a pontuação de acordo com méritos artísticos. os artistas credenciados têm a possibilidade de contratação para a programação mensal do pelourinho. muitas vezes, eles se apresentam em outros espaços ou eventos apoiados pela secultba através do CCpi, como a parada gay da bahia, que nos anos de 2013 e 2014 contou com artistas contratados pela secult, credenciados neste projeto, nos palcos do largo 2 de Julho e do Campo grande, e no trio elétrico. o resultado da terceira chamada foi lançado em junho de 2014, e divulgou 152 novos artistas, bandas e grupos credenciados, entre 24 diferentes categorias de estilo.

blaCK musiC e roCK´n´roll – os frutos do processo podem ser vistos nas praças e largos do pelourinho. o roteiro cultural com diversas opções de

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Bahia: Terra da Cultura

lazer e entretenimento atrai baianos e turistas ao longo do ano. são shows de vários gêneros que vão do rock à axé music, passando pela black music e o forró, que embalam as tardes e noites do pelô. além das performances musicais, através do credenciamento, o teatro tem tido sua presença fortalecida no pelourinho, com espetáculos voltados para os públicos adulto e infantil. em homenagem às culturas populares, o mês de agosto foi especial, como apresentações teatrais todas as quintas e sábados durante o Festival Cultura popular viva. o festival abriu espaço para a realização contínua dos espetáculos teatrais. para a atriz sara galvão, que participou do festival com a peça três irmãs do sertão, a iniciativa é boa tanto para os artistas quanto para o público. “pessoas que não tem costume ou oportunidade de ir ao teatro tem a possibilidade de acesso em um lugar inusitado, às vezes estão apenas passando ou vão assistir a um show, e se deparam com um espetáculo teatral acontecendo logo ali”, afirma a atriz, que ainda cita como ponto positivo a abertura de novos palcos, com boa infraestrutura e pautas acessíveis, para produções teatrais baianas. o bairro continua um cenário vivo para a celebração da cultura e musicalidade

tem o pelourinho como um lugar importante para a sua trajetória artística. “Fiz questão de levar ao pelô o show de lançamento do meu Cd por ser um lugar que acolheu o meu trabalho no momento em que comecei a investir mais na carreira. hoje a gente vive algo que há algum tempo atrás não existia, que é esse diálogo com os órgãos administradores das praças”, explica armeng, que aponta a sua relação com a identidade local como o principal diferencial dos shows que faz no pelourinho. CCarlinhos Brown no Largo do Pelô

afrobrasileira e ao mesmo tempo se torna um espaço aberto para a projeção de novos nomes de toda a multiplicidade de gêneros artísticos, do axé ao rock, da black music à mpb, entre muitos outros. dão & a Caravana black, Camisa de vênus, Cascadura, sine Calmon, Walmir lima, banda diamba, Kalu, larissa luz, Carla Cristina, Wil Carvalho, márcia short, lutte, daganja, orquestra afrossinfônica e Coletivo Crokant são alguns dos nomes que fazem parte do projeto pelourinho Cultural. o credenciamento dos artistas, grupos e bandas foi prorrogado por mais dois anos, garantindo aos credenciados a continuidade de sua participação no projeto, com possibilidades de contratação, entre 2015 e 2016. o rapper mr. armeng, que neste ano lançou novo Cd pela gravadora sony music,

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“especialmente para a cultura negra, levar a esses palcos, por onde já passaram grandes nomes da música brasileira e mundial, a nossa forma de falar, de se vestir e se apresentar, é um presente para qualquer artista e a continuidade de nossa história”, afirma.

Festas populares, CurtiÇÃo e Futebol sejam as galerias dos museus ou as praças e bares do lugar, no Centro histórico de salvador há espaços e atrações para todos os gostos. isto sem falar nas festas do calendário da cultura popular e dos prédios históricos do conjunto arquitetônico que por si só já atraem visitantes interessados em conhecer um pouco da memória do país. as festas realizadas em períodos específicos do ano são uma atração à parte na programação do pelô.

amanda oliveira

lúcia Correia lima

bahia revisitada

Torcedores holandeses no Pelourinho

no mês do são João, por exemplo, os visitantes puderam curtir o Ciclo de Festejos Juninos, uma programação composta por mais de 60 atrações que em junho encheu os largos de gente dançando forró. mais de 27,6 mil pessoas curtiram os shows realizados pela secretaria de Cultura do estado da bahia nos palcos das praças pedro archanjo, tereza batista e quincas berro d’Água. neste ano, durante a Copa do mundo, torcidas de vários países se encantaram com o pelourinho, que se tornou um dos principais palcos da cidade e destino dos turistas no período. exemplo disto foi a marcha laranja que reuniu cerca de cinco mil torcedores holandeses que caminharam em direção ao terreiro de Jesus nos dois jogos da seleção da holanda em salvador. e o Centro antigo parece ter dado sorte à holanda. os resultados para a orange square, como é conhecida a festa da torcida holandesa, não poderiam ter sido melhores. venceram o primeiro jogo, contra a espanha, na arena Fonte nova, por 5x1. Contra a Costa rica a vitória foi nos pênaltis, por 4x3. 153


Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada o samba reggae da torcida brasil-olodum foi a trilha sonora dos jogos da seleção brasileira pela Copa no centro histórico de salvador. o som forte tambores manteve acelerado o ritmo no largo do pelourinho, em confraternização com os visitantes, que não perderam a oportunidade de conhecer o batuque do bloco afro. mas não é apenas no período de grandes festas que o pelô é palco de shows. o projeto pelourinho Cultural, coordenado pelo Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi), unidade da secultba, tem proporcionado intensa dinamização aos espaços na região. além dos artistas, que têm a oportunidade de conquistar maior reconhecimento, também sai ganhando o público, que curte a maioria dos shows gratuitamente ou a preços populares.

rosilda Cruz

a coordenadora do projeto pelourinho Cultural, thelma Chase, lembra que quando começou a trabalhar no bairro, há 23 anos, ainda existia o pensamento no estado de que apenas as reformas dos imóveis e a abertura de lojas famosas seria o suficiente para trazer mais pessoas ao Centro histórico. porém, os soteropolitanos continuaram distantes. quando o pelourinho começou a receber uma programação artística, foram se formando frequentadores para o bairro, mas o espaço ainda não era dinamizado o suficiente. “a programação não atendia adequadamente aos artistas da terra, existia um grupo que acabava sendo mais privilegiado. a partir da atual política de credenciamento artístico, foi ampliado o quadro do processo, possibilitando que todos os artistas tivessem oportunidade e acesso”, relata a produtora.

museus revelam riqueZa históriCo Cultural os museus do Centro histórico, administrados pela diretoria de museus do instituto do patrimônio artístico e Cultural (dimus/ipac), são um roteiro à parte para os visitantes. Conhecer os acervos é o roteiro ideal para quem quer saber mais sobre a história e a cultura de salvador e da bahia. o Centro Cultural solar Ferrão, que abriga o museu abelardo rodrigues, o museu tempostal, e o museu 154

udo Knoff de azulejaria e Cerâmica são destinos indispensáveis do circuito cultural durante o dia no pelô. “os variados acervos expressam a diversidade cultural local bem como estimulam, através das atividades educativas e das visitas mediadas, o processo de conhecimento crítico, apropriação consciente e a valorização de nossa herança cultural, possibilitando o fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania”, declara diretora da dimus, ana liberato. Chamado de “a casa nobre do pelourinho”, o prédio do solar Ferrão já se destaca pelo porte da edificação onde está instalado. de relevante papel sociocultural e econômico, serviu de sede para o seminário de nossa senhora da Conceição e da Companhia de Jesus em 1756. em 1793, foi adquirido da coroa portuguesa, através de leilão, pelo comerciante pedro gomes Ferrão Castelo branco. entre os anos de 1862 e 1876, abrigou o teatro Ferrão, e depois, em 1930, foi sede do Centro operário da bahia. o espaço também abrigou o ipac de 1980 a 2006 e ainda serviu de moradia para diversas famílias em vulnerabilidade econômica antes de ser adquirido e restaurado pelo governo do estado. Como equipamento cultural, reúne coleções representativas dos grupos étnicos formadores da nossa cultura: o indígena, o europeu e o africano. abriga o museu abelardo rodrigues, que reúne uma coleção de arte sacra católica, composta por tela, oratórios, maquinetas, oratórios de viagem, anjos, arcanjos, crucificados, imaginária e mobiliário. entre estas peças de arte sacra, destaque para uma imagem de culto pagão. a peça é chamada de ‘artemis de Éfeso’ (artemis para os gregos e diana para os romanos, é a deusa da floresta e da casa, filha de Zeus e irmã de apolo). além de visitar nossa história, turistas estrangeiros podem encontrar obras dos seus conterrâneos. no Ferrão, está a coleção de arte africana do italiano Claudio masella e a coleção de arte popular da italiana lina bo bardi, além dos inventos e composições do suíço Walter smetak. Já no museu udo Knoff, o encontro é com a rica obra do ceramista alemão que dá nome ao espaço. Knoff se instalou em salvador na década de 60 após ter sido convidado, em 1952, a expor e ter se encantado pela cidade.

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Bahia: Terra da Cultura

lázaro menezes

bahia revisitada endereÇos Confira os endereços e horários de funcionamento dos museus da secultba no pelourinho: solar FerrÃo / museu abelardo rodrigues rua gregório de mattos, 45, pelourinho, salvador. terça à sexta, das 12h às 18h. Fins de semana e feriados, das 12h às 17h. entrada gratuita. museu tempostal rua gregório de mattos, 33, pelourinho, salvador terça à sexta, das 12h às 18h. Fins de semana e feriados, das 12h às 17h. entrada gratuita. museu udo KnoFF rua Frei vicente, 03, pelourinho, salvador terça à sexta, das 12h às 18h. Fins de semana e feriados, das 12h às 17h. entrada gratuita.

programaÇÃo Cultural no peloruinho www.pelourinho.ba.gov.br largo pedro arChanJo rua gregório de mattos, s/n, pelourinho, salvador largo tereZa batista rua gregório de mattos, 06, pelourinho, salvador largo quinCas berro d’Água rua do açouguinho, 12, pelourinho, salvador Cor, luz e som

o museu tempostal, por sua vez, promove uma viagem pelo tempo na bahia e no brasil por meio da beleza dos cartões postais. nascido da paixão de antônio marcelino pelos postais, o museu abriga uma coleção criada a partir de 1947. Como acreditava que poderia acontecer uma guerra se alguma nação estrangeira adquirisse sua coleção de postais que juntou desde dos anos 40, o acervo era mantido trancado em dois armários de aço e só abria para pessoas ilustres. agora, está disponível para o público em geral.

Cor, luZ e som espetáculos de diferentes naturezas fazem parte da vida noturna no pelourinho. além de shows e apresentações teatrais, a iluminação cênica dos monumentos do Centro histórico faz da própria paisagem um espetáculo à parte, fruto de projeto executado pelo instituto do patrimônio artístico e Cultural (ipac), autarquia vinculada à secretaria de Cultura do estado da bahia (secultba). o total investido até agora foi cerca de r$ 3,63 milhões. o projeto, que continua avançando, teve sua primeira etapa inaugurada em dezembro de 2012 no terreiro de Jesus e na praça do Cruzeiro de são Francisco. Foram iluminadas a Catedral basílica (179 luminárias), Faculda de de medicina – a primeira do brasil – (87 luminárias), as igrejas de são domingos (69), de são pedro dos Clérigos (65) e a de são

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Terreiro de Jesus - iluminação cênica da Escola de Medicina da Bahia

Francisco – famosa por ter cobertura interna com lâminas de ouro – (199 luminárias). a ideia principal da execução foi ressaltar as linhas e estilos arquitetônicos das construções seculares, incorporando sombras e texturas como elementos de composição e contraste. a novidade gerou um impacto cênico ainda maior para quem visita o terreiro de Jesus à noite, criando uma oportunidade de visualização ampla e moderna. a segunda etapa da iluminação Cênica de monumentos do Centro histórico de salvador, entregue no final de 2013, beneficiou as igrejas do Carmo, de nossa senhora do boqueirão, na ladeira de mesmo nome, a de santo antônio além do Carmo, no largo de santo antônio. o consumo de energia elétrica é relativamente baixo, pois o projeto utiliza a tecnologia de lâmpadas de led (light emitting diode) e o sistema é automático, desligando e ligando em horários específicos do amanhecer e do anoitecer.

seJa tambÉm um sambista ações comunitárias também acontecem, em parceria com escolas públicas e associações. entre as ações regulares, o seja você um sambista solidário, parceria do Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi) com o movimento seja também um sambista, mensalmente recolhe doações de leite em pó, fraldas ou brinquedos como forma de ingresso no show animado por uma mesa de grandes sambistas. instituições como o gaCC, o nacci, Cidade da luz e as obras sociais irmã dulce estão entre as que já foram beneficiadas pelo projeto. o CCpi ainda apoia eventos que já fazem parte da vida cultural soteropolitana, entre eles os tradicionais ensaios dos blocos afro, como os do Cortejo afro e do olodum, que tem no verão a sua temporada de maior efervescência, e shows de grandes expoentes da cena musical contemporânea, como a banda baianasystem, que frequentemente leva ao pelô a sua terapia do som. no período de alta estação, a programação do pelourinho atinge em média 300 shows e eventos, entre realizações e projetos apoiados pela secult. 157


acervo CCpi

Bahia: Terra da Cultura

o pelourinho se veste de vermelho e branco em 4 de dezembro, para celebrar a tradicional Festa de santa bárbara. os festejos reúnem cerca de 10 mil pessoas para a missa campal, que acontece no largo do pelourinho. “este dia é muito especial. É quando o povo se coloca em oração e agradecimento com a certeza de que assim como santa bárbara, nós também podemos vencer e enfrentar as dificuldades, tempestades e trovoadas que venham sobre nós”, explica o capelão da igreja do rosário dos pretos, o padre lázaro muniz.

Dia do Samba - Grupo Trivial

artistas consagrados e com longa carreira também reconhecem o pelô como palco fundamental. o sambista nelson rufino, compositor de sucessos interpretados por nomes como Zeca pagodinho, alcione e emílio santiago, está entre as grandes personalidades que se apresentam no pelourinho, em shows solo, e com os ensaios do bloco de samba amor e paixão. 158

“o poder de criação do baiano é muito forte, e para nossa felicidade o Centro histórico hoje está aberto, tanto para o samba quanto para as demais formas de expressão do universo musical. parabenizo e agradeço com muito carinho aos responsáveis por isto”, declarou o cantor e compositor, que revela ter uma relação muito próxima com o bairro. “eu costumo dizer que o pelourinho é uma fonte de energia para a música e a cultura na bahia”, afirma o sambista nelson rufino.

marco de devoção e resistência, a fé em santa bárbara, iansã no sincretismo, é própria de homens e mulheres guerreiras, que durante muitos anos mantiveram de pé so-

zinhos a celebração desta data. atualmente apoiada pelo Centro de Culturas populares e identitárias (CCpi), a festa é marcada por uma programação artística realizada durante todo o dia, com destaque para a cerimônia religiosa pela manhã. no 2 de Julho, o Centro de Culturas populares e identitárias da secultba também prepara uma calorosa recepção ao cortejo cívico da independência da bahia, no pelourinho. sob a regência de mestre Jackson e mestre pacote, em 2014, 110 percussionistas dos grupos didá, Cortejo afro, muzenza e bandão verde rosa se uniram pela manhã no largo do pelourinho. a festa esperando o Caboclo ainda contou com a participação do afoxé Filhas de gandhy, que na mesma data completou 35 anos de história. a chegada da Cabocla e do Caboclo foi saudada por clarins anunciadores, e o cortejo recebido por aplausos dos milhares de presentes. a programação se estendeu durante a tarde e a noite nos largos do pelourinho com o samba da independência, que incluiu nove shows de artistas como Walmir lima, rose belo e Firmino de itapuã.

Festa de Santa Bárbara tai oliver

a diretora do CCpi, arany santana, considera o pelourinho uma vitrine para artistas que buscam crescimento, e lembra que processos de dinamização que começaram no Centro histórico já estão sendo experimentados em outros espaços. “a nossa política de credenciamento é uma iniciativa que tem dado resultados expressivos, e criou possibilidades para que mais equipamentos culturais da secult abrissem seus próprios editais. isso descentralizou a cultura como um todo. hoje, existem chamadas abertas para diversos espaços culturais da capital e do interior do estado”, declara, referindo-se ao credenciamento lançado pela diretoria de espaços Culturais (deC) da secult no início do ano.

no dia 2 de dezembro comemora-se o dia do samba, reunindo alguns dos principais nomes do gênero nas praças e no largo do pelourinho. Comemorada no Centro histórico há mais de 40 anos, a festa relembra a data em que ary barroso, compositor do sucesso na baixa do sapateiro, visitou salvador pela primeira vez.

CenÁrio de Festas populares anualmente o pelourinho é cenário de algumas das maiores festas de celebração da cultura popular na cidade de salvador. o calendário de festas populares começa em 25 de novembro, com o dia da baiana, que após a missa na igreja do rosário dos pretos e o cortejo pelas ruas do pelô, é comemorado no memorial das baianas, na praça da Cruz Caída.

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Bahia: Terra da Cultura

terra De toDoS nÓS Festivais de mÚsiCa, deClamaÇÃo de poemas, eXibiÇÃo de Filmes e aÇÕes soCioeduCativas movimentam espaÇos Culturais no estado “Se a cultura é capaz de reencantar o mundo, os espaços culturais são capazes de reencantar os indivíduos”

um Festival de declamação de poemas em uma das moradas do poeta Castro alves, ações socioeducativas com estudantes nos museus, sessões gratuitas de cinema e festivais de música em ritmos que vão do samba ao rock. assim é a programação dos espaços culturais da secretaria de Cultura do estado da bahia (secultba), importante instrumento de democratização do acesso à cultura para os baianos.

tacila mendes

Chicco assis, diretor de espaços Culturais - secultba

no ano de 2014, a secretaria de Cultura do estado da bahia percebeu que todas as ações destinadas à ampliação e dinamização dos seus Centros de Cultura tinham um objetivo comum: a ocupação e bom uso do espaço cultural. um desejo compartilhado por baianos de todas as regiões do estado e defendido nas conferências de cultura, quando a demanda por espaços qualificados apareceu com força em todas as etapas do processo de escuta social. esse conjunto de ações, que vem sendo implementadas desde 2007, ganhou o nome de ocupe seu espaço! – programa de dinamização de espaços Culturais. este programa tem assegurado a artistas, produtores e ao público baiano um melhor e mais ampliado acesso à produção artística e à formação cultural, por meio da intensificação e diversificação de sua programação, articulação e aproximação com a classe artística e com os territórios de identidade do estado. para o diretor de espaços Culturais da secultba, Chicco assis, é dessa maneira que o programa contribui para uma concepção enquanto espaço de cidadania e vivência cultural.

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Espaço Cultural Alagados

nos últimos anos, a secultba vem investindo no aumento da quantidade de atividades e na normatização do uso dos seus 17 espaços Culturais, espalhados por 12 cidades do interior, além de salvador e região metropolitana. Construídos em momentos diferentes e sem uma proposta objetiva para o seu uso, muitos centros se encontravam com problemas estruturais que impediam a sua utilização. para resolver isso, a secretaria vem destinando recursos financeiros em manutenção, reforma e adaptações, como a requalificação técnica e estrutural firmada em parceria com o ministério da Cultura. trata-se de um investimento no valor de r$ 2,6 milhões na melhoria dos equipamentos de luz e som, reforma de telhados, compra de novas poltronas, adequações de acessibilidade, dentre outras intervenções. o Centro de Cultura aCm, da cidade de Jequié, por exemplo, teve o investimento de r$ 583 mil para serviços como conserto de telhado, forro, pintura e substituição do sistema de climatização, dentre outros.

Camila souza

bahia revisitada

Caldeirão Cultural - Liga da Alegria

Foi necessário também investir na ampliação e qualificação da equipe técnica e administrativa de todos os centros (técnicos de som, luz, bilheteiro, recepcionista, assistente administrativo). ao todo, são 370 colaboradores trabalhando na diretoria e nos 17 espaços. os encontros foram fundamentais para que os espaços, que antes eram utilizados para todo tipo de atividade, como festas de quinze anos, formatura e até velório, pudessem se dedicar inteiramente às demandas da cultura.

grÁtis - Com o programa de dinamização, a deC avançou na proposta de integração das ações executadas ao longo de todo o ano, com objetivo de inserir os espaços no cotidiano das comunidades. 161


Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada integram o programa: a Cessão de pautas gratuitas para espetáculos, salas de ensaios, exposições e desenvolvimento de grupos artísticos; as programações temáticas mensais e especiais; o Circuito popular de Cinema e vídeo (CpCv) com exibições gratuitas, mostras especiais e “caravanas” que promovem encontros com a cadeia produtiva do cinema além disto, há mediação e formação de plateia junto a escolas e organizações sociais; o Circuito de Festivais territoriais, com atrações locais e artistas selecionados em chamada pública; Credenciamento de artistas para apresentações nos espaços ao longo do ano; política de acesso com ingressos gratuitos ou a baixo custo e com ações de atração e fideli-

zação de público, como o “Xisto amigo”; e encontros da classe artística e produtores locais com a gestão pública, a fim de traçar estratégias para a ocupação dos espaços.

nova era dos Festivais o Circuito de Festivais é uma das ações de grande visibilidade promovida pelo programa de dinamização. em 2014, foram programados 10 festivais espalhados pelo estado: Festival de arte e Cultura do território do são Francisco, semana literária de porto seguro, Festival de arte e Cultura de mutuípe, Festival

de arte e Cultura do baixo sul, Caldeirão Cultural (em plataforma), Julho + solar (em brotas), mostra alagados em Cena, Festival Xistinho (nos barris), semana de arte e Cultura do litoral norte e agreste de alagoinhas e Festival itapuã Canta. a ideia é fazer com que os espaços culturais se relacionem com os territórios em que estão localizados e também promover o intercâmbio entre artistas locais e de outros municípios, incluindo os credenciados pela secultba via chamada pública. ao todo, os Festivais contabilizaram público superior a 20 mil pessoas. “embora a mobilização de público venha sendo crescente, em

especial nos grandes eventos, trabalhamos com uma perspectiva: ampliar e diversificar ainda mais este público. acreditamos que ainda temos muita demanda para expandir nossas ações”, avalia assis. o CpCv, por exemplo, teve cerca de 3.500 expectadores, contabilizados até o mês de agosto. um bom número, mas com boa possibilidade de expansão. outro bom exemplo de público foi a circulação do show a história da música na bahia, quando o cantor paulinho boca comemorou 50 anos de carreira artística, de março a julho de 2014, percorrendo 14 centros e atingindo um público de 5.720 pessoas.

tacila mendes

Show de Paulinho Boca de Cantor -Espaço Xisto Bahia

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acervo solar boa vista

bahia revisitada

viviane viriato

Trakinagem - Cine Teatro Solar Boa Vista

para agilizar os processos de contratação dos espetáculos e apresentações promovidos pela diretoria de espaços nos centros de cultura, foi instituído, em março deste ano, o Credenciamento de artistas. o mecanismo prevê que grupos com atividades ligadas à música, dança, circo, teatro, manifestações populares e ao público infantil são cadastrados previamente, cumprindo com antecedência as etapas documentais. no momento da contratação, a fase mais demorada já foi vencida. o músico Álvaro assmar, que tocou no aniversário de 30 anos do Cine-teatro solar boa vista, acredita que a ação estimula uma atuação mais dedicada dos artistas. “a ideia de prestar um serviço ao estado e o tratamento profissional que o credenciamento dá ao artista provoca um comprometimento dele com o próprio trabalho e ainda agrega valor a sua atividade, na medida em que temos ali um instrumento oficial, gerador de um banco de dados qualificado sobre o campo artístico”, avalia.

Custo Zero para as pautas

V Festival de Arte de Mutuípe

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um dos principais eixos do “ocupe seu espaço” é o programa de gratuidade de pautas. Como o próprio nome já explica, consiste na disponibilização de pautas a custo zero para a realização de atividades. são cinco linhas de atuação: mês temático, grupos artísticos, terças e quartas, artes visuais e ações Formativas. “É um programa que atende de maneira ampla aos artistas, assegurando a eles o acesso aos meios de produção, bem como a toda a comunidade o acesso aos produtos culturais, já que as atividades contempladas pelo pautas gratuitas possuem valores acessíveis”, lembra Chicco.

ações de diferentes portes e formatos também são tocadas permanentemente pelos espaços Culturais. são exemplos de sucesso o solar de virote e semana de Combate a homofobia, no Cine-teatro solar boa vista; o sarau de itapuã e viva o abaeté, na Casa da música; o plataforma de talentos e o por dentro da Casa, em plataforma; o Chá poético, de mutuípe; a gibiteca, de alagados; a Jam no JoÃo, em Juazeiro; o ateliê alternativo, em valença; e o mês da Consciência negra, em porto seguro. Já foi criado o “deC em diálogo” e estão em vias de implantação os Colegiados de gestão participativa dos espaços Culturais, que visam trazer a comunidade para participar diretamente do funcionamento desses equipamentos, de forma democrática e justa. “são instâncias de participação absolutamente necessárias para que os Centros cumpram sua real função social enquanto equipamento cultural: garantir à população o seu direito à expressão, ao exercício da cidadania, à diversão”, frisa Chicco assis, diretor de espaços Culturais – secultba.

eXposiÇÕes e aÇÕes soCioeduCativas FortaleCem museus a diretoria de museus do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (dimus/ipac) também vem dinamizando seus espaços com exposições de curta duração e principalmente através da realização de atividades socioeducativas. os museus – solar Ferrão, abelardo rodrigues, tempostal, udo Knoff de azulejaria e Cerâmica, museu de arte moderna da bahia (mam), palacete das artes, museu de arte da bahia (mab) e parque histórico Castro alves (phCa) – investem na realização de visitas guiadas, mediações, oficinas, palestras, workshops e outras atividades com o propósito de formar público e otimizar seus acervos e exposições temporárias e permanentes. “as exposições museológicas são discursos criados com intenção de comunicar ideias, conceitos e informações ao público visitante, tendo como veículo específico os obje-

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Bahia: Terra da Cultura

tos. a ação educativa em museus visa ampliar as possibilidades de aproveitamento pedagógico dos acervos, para que o visitante acentue seu espirito crítico em relação a sua realidade e daqueles que estão à sua volta. a ação educativa nos museus também tem como foco a outros públicos, como a terceira idade, funcionários, grupos étnicos, entre outros”, explica a diretora da dimus, ana liberato.

lázaro menezes

bahia revisitada

CabaCeiras do paraguaÇu reverenCia o poeta dos esCravos o Festival de declamação de poemas de antônio de Castro alves chegou a sua 13ª edição em 2014 batendo o recorde de inscritos: 49. o evento acontece no parque histórico Castro alves (phCa) e já é tradição na cidade de Cabaceiras de paraguaçu (recôncavo baiano). ele reúne pessoas de todas as faixas etárias e de várias cidades da bahia e de outros estados que prestam homenagem ao grande trovador baiano, autor de espumas Flutuantes, vozes d’África e o navio negreiro.

Festival de Declamação de Poemas de Antônio de Castro Alves

a diretora da dimus, ana liberato, explicou que o festival foi criado para homenagear o poeta e incentivar a juventude a usar a poesia para manifestar seus sentimentos. “os poemas expressam o romantismo de Castro alves, o seu amor à pátria, além do intenso sentimento libertário”, completa. o festival, realizado em 13 de março, deu início às comemorações dos 167 anos de nascimento do poeta Castro alves, comemorado em 14 de março no phCa, instalado em uma área de 52 mil metros quadrados, em uma das moradas do poeta abolicionista, o acervo convida os visitantes a mergulharem no universo do porta-voz literário da abolição da escravatura no brasil. além disso, o público pode ainda usufruir da biblioteca com cerca de 700 títulos e dos projetos socioeducativos: Conhecendo as nascentes; sarau no parque: música, poesia e arte nos Finais de tarde; brincando no parque como no tempo de nossos avôs; oficina de teatro; baú de memórias e sopa de letras.

oFiCinas mobiliZam alunos da rede pÚbliCa Com a proposta de integrar as mídias digitais à educação, desenvolvendo seu trabalho junto às escolas e utilizando o conteúdo presente nos museus

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bahia revisitada

ascom mam

semana de arte em sÉrie e oFiCina de gravura no mam

Juarez Paraíso ministrou a 34ª edição da Oficina de Gravura do MAM-BA

da dimus, o labdimus realiza uma série de atividades com estudantes de escolas públicas de salvador. a primeira experiência aconteceu com o Colégio estadual azevedo Fernandes dentro do projeto ‘ressignificando a aprendizagem’, uma parceria firmada entre a Fundação roberto marinho e a secretaria de educação. esta experiência foi realizada em uma série de encontros e oficinas com os alunos do 6º e 7º ano da escola. Como resultado, foi produzida a revista ‘bahia em quadrinhos’ e o blog papo Jovem (http://www.papojovemaf.blogspot.com.br/). “não existe outro país que ofereça isso em termos de parceria entre governo e sociedade civil. isso é um modelo brasileiro de inovação na contribuição da sociedade com a educação”, analisa o secretário-geral da Fundação roberto marinho, hugo barreto. 168

o portal conta com a participação de 12 jovens que escolhem temas do universo juvenil para serem discutidos, como drogas, bullying, pedofilia, prostituição infantil, violência, qualidade no ensino, o valor da amizade e os sonhos de cada um. aluna da 7ª série, natasha mendonça gomes, de 14 anos, acredita que a produção do blog contribui bastante para o seu aprendizado. É uma forma diferente de aprender mais”, conta a estudante. Já o aluno da 6ª série, rodrigo matos, de 12 anos, também acredita que aprender ficou mais fácil a partir da criação do ‘papo Jovem’. “gosto muito dessas atividades porque a gente aprende muito sobre outras coisas de museu, seus acervos, sobre a cidade etc”. para a professora deles, adriana santana, o blog trabalha as com-

petências de cada um e ajuda no processo de diminuição da evasão escolar. além disso, a professora acredita que a parceria escola-museu é interessante para que os alunos conheçam e vivenciem outras realidades que não estão acostumados. “esse tipo de atividade fora da escola estimula os alunos a não faltarem às aulas “. a diretora da dimus, ana liberato, explica que “o projeto tem em vista o desenvolvimento de atividades e experimentos facilitadores da aprendizagem, reunindo o conteúdo da grade curricular ao cotidiano dos estudantes e ao acervo dos museus da dimus”. “a nossa proposta se dá por meio de projetos relacionados à valorização da vida, à convivência social, aos trabalhos em equipe, ao des-

pertar da criatividade do educando, da sua reflexão crítica, visando o desenvolvimento de competências e habilidades”, acrescenta Cristina melo, coordenadora do labdimus.

mÚltiplas atividades no mab Já o museu de arte da bahia (mab) dispõe de amplos espaços para abrigar exposições permanentes e temporárias, além de oferecer múltiplas atividades culturais como cursos, ciclos de conferências, recitais de música e exibição de filmes de arte. o museu dispõe de um serviço educativo para atender às escolas e ao público em geral e organiza visitas programadas. possui ainda uma biblioteca especializada em artes plásticas com temas direcionados à história da arte, estética e museologia.

para a diretora do museu, professora sylvia athayde, é preciso desenvolver uma política cultural promovendo sistematicamente atividades como exposições, palestras, seminários, concertos musicais – que podem contribuir para atrair o interesse do público em visitar os museus. “entretanto, o fundamental é uma educação de base que começa desde a mais tenra infância, alimentada pelos pais e pela escola. os estudantes poderão encontrar no museu de arte da bahia um pouco da história da bahia, através da sua iconografia e dos objetos que lá se encontram, refletindo os usos e os costumes que traduzem o gosto de uma época”.

Criadas por Juarez paraíso, as oficinas do mam, inicialmente denominada de oficinas de arte em série, com foco nas técnicas da gravura, foram destaque este ano na sua 34ª edição. Com novo formato, mais amplo, integra o projeto “a semana de arte em série”, coordenado pelo professor evandro sybine e que possibilitou ao público diálogar diretamente com os primeiros professores e artistas das oficinas sobre seu processo de criação e seu pensamento sobre as artes visuais na contempo-

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Bahia: Terra da Cultura

raneidade. participam como professores convidados Juarez paraiso (gravura) e renato Fonsêca (litogravura), além das professoras marcia magno e terezinha dumet e das artistas eneida sanches e Yêdamaria.

Cleide nunes

bahia revisitada

durante os 100 dias da 3ª bienal da bahia as oficinas do mam – Faz aqui e Faz agora - funcionaram como um grande atelier, de domingo a domingo, onde professores, mediadores, artistas e grupos de pesquisa produziram e contaram sobre suas técnicas, processos criativos e sobre a história das oficinas. em 2014 o núcleo educativo do mam-ba abriu ao público, dezenas de oficinas de artes, em desenho, pintura, cerâmica, gravuras, jardinagem, marcenaria, oficina Cadastro, oficina de peteca e oficina de nós de marinharia, jardinagem etc. uma outra atividade do núcleo é o atelier livre, um programa que viabiliza espaço físico gratuito para produção poética, assim como a utilização de determinados equipamentos como prensas de gravura e forno de cerâmica. integrando as atividades socioeducativas vem sendo realizadas inúmeras ações formativas e de pesquisa no projeto museu escola lina bo bardi, que tem como proposta formar novos curadores e discutir experiências curatoriais realizadas no brasil. em convênio com a uFba acontecem sistematicamente ações nos projetos Cursos livres e oficinas armod, incluindo a proposta de um curso de moda coordenado pelas artistas maria luedy e sandra galeffi. Com parceria da osba, o mam-ba recebe durante todo ano centenas de pessoas no casarão do solar do unhão para concertos e recitais que ficaram conhecidos do público como sarau osba-mam.

Museu de Arte da Bahia - Espetáculo Ver e Ouvir

Espaços culturais da Secult: http://espacosculturaisbahia.org/ Dimus: http://dimusbahia.wordpress.com/exposicoes/parque-historico-castro-alves/

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bahia revisitada

vitrineS Da BaHia

de que adianta produzir um espetáculo para ninguém ver ou uma canção que muito poucos irão escutar? talvez tenha sido esta uma das perguntas mais frequentes entre artistas da bahia que enfrentavam dificuldades para veicular e divulgar seus projetos culturais. Contudo, desde 2011, uma iniciativa que reúne projetos de sete linguagens artísticas sob um mesmo espectro político tem trazido soluções para este impasse histórico. trata-se do programa de difusão das artes da bahia, criado pela Fundação Cultural do estado da bahia (FunCeb) para valorizar e difundir a diversidade cultural da bahia. graças a ele, o estado vem promovendo uma troca entre artistas e público em intercâmbio e circulação pelo brasil e mesmo fora do país. Com a intenção de promover a difusão da produção artística e extrapolar circuitos já estabelecidos, os históricos quarta que dança e os salões de artes visuais da bahia, além do portas abertas para as artes visuais já avançam para o interior. projetos mais recentes que abarcam outras linguagens são a temporada verão Cênico, o mapa musical da bahia, o ação poética nas Comunidades e a semana do audiovisual baiano Contemporâneo. “Considero os salões de artes visuais da bahia o projeto mais importante para a difusão da produção dos artistas visuais baianos, principalmente quando atingem as cidades do inte172

ascom FunCeb

programa de diFusÃo das artes tem promovido a divulgaÇÃo da produÇÃo artÍstiCa no estado, no paÍs e no eXterior

E Se Fosse Você - Cleybson Lima

rior, onde possivelmente não conseguiríamos chegar sem este estímulo. isso possibilita a projeção do nosso trabalho para um público diversificado. acredito também que projetos deste porte enriquecem nosso fazer artístico e nos alimentam a partir da troca com processos criativos e interesses artísticos diversos”, opina edu o., artista multilinguagem premiado na exposição de Camaçari da edição 2014 dos salões com a performance ah, se eu fosse marilyn!. além deste município da região metropolitana de salvador, os salões de artes visuais da bahia de 2014 aconteceram em paulo afonso, em cada cidade com 24 trabalhos integrando

exposições coletivas que revelam a produção contemporânea do setor. as 48 obras participantes foram selecionadas por meio de edital público, dentre 369 inscritas. este ano, os salões de artes visuais chegaram também a barreiras, lençóis e vitória da Conquista. os eventos nas três cidades integraram as etapas iniciadas em 2013 e suspensas no ano passado para a regularização de compromissos relacionados ao cumprimento dos decretos de contingenciamento no orçamento das secretarias e órgãos estaduais. antes, ainda em 2013, haviam sido realizadas exposições em Feira de santana e teixeira de Freitas.

desde 2012, o projeto vem ocupando também espaços culturais nãovinculados ao governo estadual. antes desse período, os salões só eram realizados em municípios que possuíam espaços culturais administrados pela secretaria de Cultura do estado da bahia. Foi essa mudança que possibilitou a participação de Camaçari e paulo afonso, através de uma articulação com suas prefeituras municipais. seguindo a perspectiva de difusão das artes visuais no estado, a FunCeb e a diretoria de espaços Culturais da secultba retomaram em 2013 o portas abertas para as artes visuais, apoiando a visibilidade do 173


Bahia: Terra da Cultura

pablo Cordier

solo, há anos, e o quarta que dança possibilitou isso pra mim e contribuiu de maneira significativa com a minha carreira”, declarou. Já a terceira edição da temporada verão Cênico, que objetiva estimular a difusão, a diversidade, a acessibilidade e a atuação em rede da produção artística e de espaços cênicos baianos, aconteceu de 24 de novembro a 7 de dezembro de 2014, com 35 espetáculos em 108 sessões, realizados em salvador e em 17 cidades dos seis macroterritórios da bahia. pela primeira vez, o projeto agregou as artes circenses, além do teatro, consolidando uma frente de difusão para estes dois setores. “essas linguagens vão se contagiando positivamente para melhorar o alcance do projeto. são participações que complexificam a ação de maneira benéfica e fortalecem as perspectivas das próximas edições”, explica maria marighella, coordenadora de teatro da FunCeb. ela explica que o projeto nasceu com a vocação de trabalhar a vascularização das artes cênicas na bahia: “para consolidar o investimento público, é necessário trabalhar a distribuição”. vika mennezes, coordenadora de Circo da Fundação, afirma que essa é uma iniciativa inédita no que diz respeito ao fomento à atividade circense baiana, pela primeira vez integrada a um projeto específico de difusão. “diversas cidades baianas vão contemplar espetáculos de palco e de rua, números circenses, além de uma categoria específica que oportuniza que circos itinerantes apresentem espetáculos nas próprias lonas”. Ah Se Eu Fosse Marilyn - Edu Oliveira

os 34 espetáculos foram selecionados a partir de edital público, que contou com 92 inscritos, sendo 26 do interior baiano, representando 28% do total. a proporção é a mesma quanto ao resultado da seleção, em que 10 selecionados são de eunápolis, ibicoara, Jequié, Juazeiro, palmeiras, valença ou vitória da Conquista.

quarta que danÇa

vinícius gil

trabalho de artistas e dinamizando a ocupação de espaços culturais públicos. quinze propostas de exposição e de intervenções em artes visuais foram montadas, entre 2013 e 2014, em espaços culturais da secretaria de Cultura em salvador e em espaços parceiros.

Já o trabalho do bailarino Cleybson lima, de Juazeiro, foi um dos 17 selecionados para a 16ª edição do quarta que dança, realizada de 3 de setembro a 29 de outubro de 2014, durante nove semanas, em todas as quartas-feiras do período. dentre dez espetáculos, quatro intervenções urbanas e três danças de rua, com apresentações em salvador e mais quatro cidades – Juazeiro, lauro de Freitas, mucugê e porto seguro –, Cleybson apresentou a intervenção urbana “e se você fosse?” na sua própria em cidade e em salvador. Foi a primeira vez que uma intervenção urbana oriunda do interior foi apresentada na capital baiana dentro da programação do projeto. “para mim, o quarta que dança é um projeto maravilhoso, nota dez”, afirma Cleybson, que já havia participado de outras edições junto com o Coletivo trippé e que, desta vez, apresentou seu primeiro trabalho solo. “estou bastante satisfeito e feliz por ter participado. eu desejava fazer um trabalho assim, 174

A Cia. Operakata de Teatro apresentou o espetáculo O Circo de Soleinildo no festival de Curitiba

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bahia revisitada Kit diFusÃo leva teatro baiano para o mundo além da difusão e do acesso aos produtos artísticos dentro da bahia, outro desafio é o de romper fronteiras dentro do país e no exterior, conectando as produções locais e os festivais, seminários, feiras, bienais e demais formas de difusão artística no brasil e em outros países. o Kit difusão do teatro da bahia foi criado nesta perspectiva. a segunda edição do material, referente ao biênio 20132014, reúne 30 espetáculos em um catálogo impresso, com textos em português e traduzidos para inglês e espanhol, e um pendrive com conteúdos multimídia. depois de ter o espetáculo o Circo de soleinildo inserido no Kit difusão, a Cia. operakata de teatro de vitória da Conquista teve a possibilidade de divulgar o seu trabalho para o resto do país. “sabemos que o cenário cultural do brasil não é tão favorável quanto gostaríamos que fosse, especialmente quando se trata de fomento na área teatral. assim, vejo uma iniciativa como o Kit difusão do teatro na bahia como um grande avanço nas políticas públicas e que, somado a outras ações, está proporcionando que um número maior de grupos teatrais possam se qualificar e continuar a sua pesquisa e produção”, avalia gilsergio botelho, diretor, ator e membro da companhia. para ele, a divulgação da produção para o restante do brasil é de fundamental importância, pois possibilita o escoamento e o “encontro com público”. assim como ocorreu com a primeira edição, o produto foi lançado durante a mostra baiana no Fringe, com a produção de uma programação de espetáculos baianos na mostra paralela do Festival de teatro de Curitiba, entre março e abril de 2014. desta vez, depois da participação de Wagner moura, foi lázaro ramos, reconhecido ator baiano de teatro, cinema e televisão, que assinou a seleção dos espetáculos participantes desta mostra baiana, com a colaboração do também ator baiano marcelo Flores. a escolha foi feita a partir do Kit difusão do teatro da bahia e o espetáculo da Cia. operakata de teatro pôde voar de vitória da Conquista para a capital paranaense com esta ação. “Foi uma grande emoção saber que teríamos a oportunidade de participar da mostra baiana no Fringe. todo grupo de teatro tem o Festival do Curitiba como 176

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uma grande referência de qualidade técnica e artística, além da possibilidade real de contatos. assim, estar ali, atuando em palcos curitibanos, foi muito importante para o grupo e para a carreira de cada um envolvido no trabalho”, conta gilsergio. o exemplo foi inspirador para o lançamento do Catálogo dança bahia – difusão da dança baiana, com formato similar de textos traduzidos e conteúdos multimídia. a primeira edição, com 20 espetáculos de dança produzidos no estado entre 2011 e 2013, foi lançada no mês de novembro de 2014 para ações de difusão no brasil e no exterior.

mÚsiCa e literatura da bahia para o mundo a diversidade e a riqueza cultural da música da bahia inspiram o bahia music export, projeto de apoio à promoção internacional da música da bahia. Criado em 2009, o bmeX tem como objetivo criar condições para que a música independente do estado, nas suas mais diversas formas de expressão, possa se inserir no mercado internacional como um produto de alta qualidade. em 2014, foram lançadas duas novas coletâneas, o volume 6, destinado a gêneros variados, e o volume 7, dedicado a músicas com ritmos e sonoridades bass culture. o lançamento dos álbuns foi realizado, mais uma vez, na Womex – World music expo, a mais relevante feira mundial de negócios e oportunidades da música, desta vez realizada em santiago de Compostela, na galícia – espanha, em outubro. o evento contou com show da banda sertanília, uma das integrantes do volume 6, que viajou com apoio da secultba. os Cds reúnem canções de diversos ritmos, tendências, conformações e sonoridades. “a partir do bmeX, já tivemos resultados como a realização de shows com os artistas e gravação de discos. as coletâneas 2014 confirmam o quanto a música na bahia - tanto capital como interior - é dinâmica e

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bahia revisitada está em constante movimento, atenta às suas tradições e ao mesmo tempo conectada com as tendências mundiais contemporâneas”, comenta a assessora de relações internacionais da secultba, monique badaró. a seleção das faixas foi realizada em parceria com o brasil music exchange da bm&a – brasil música e arte e teve como curadores os jornalistas Zjakki Willems – especializado em música brasileira – e david Katz – produtor de programas de rádio, especialista em reggae e autor de publicações sobre o tema. além dos artistas selecionados através de edital, que analisou a adequação das obras ao perfil do mercado internacional, a curadoria pôde incluir outras faixas para compor um repertório representativo da arte da criação musical e da diversidade cultural da bahia. promovido pela secretaria de Cultura do estado da bahia e pela FunCeb, o programa realiza ações de promoção comercial, de fortalecimento da cadeia produtiva, de capacitação, difusão e promoção da mobilidade de artistas e profissionais do setor musical, como a participação em festivais, feiras e turnês internacionais. há, ainda, ações de articulação de produtores e representantes de artistas e músicos baianos. “a mistura das várias culturas africanas e européias (prin-

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cipalmente portuguesa) e um pouco da cultura indígena é o que fez da bahia esta mistura cultural e musical única e riquíssima. o núcleo e a grande parte da música baiana é afrobrasileira, mas há também em profusão reggae, rock, nova mpb e mesmo jazz”, afirma Zjakki Willems, curador do volume seis. para ouvir - as faixas dos volumes 6 e 7 da coletânea bahia music export podem ser ouvidas no www.cultura. ba.gov.br/bahiaexport/. no site, também é possível escutar o repertório dos volumes 1, 2, 3, 4 e 5 do projeto, lançados em 2010, 2011, 2012 e 2013, respectivamente. também para impulsionar a visibilidade dos autores baianos no exterior, dessa vez no campo da literatura, o livro autores baianos: um panorama teve seu segundo volume lançado em 2014. trata-se de uma publicação em quatro idiomas (português, inglês, alemão e espanhol) que, desta vez, reúne trechos de obras de 12 autores que representam a produção literária da bahia. a proposta é de que a obra seja utilizada em iniciativas de difusão em feiras e eventos literários internacionais, com distribuição estratégica, direcionada a agentes literários e editoras. a lista de autores participantes, de distintas gerações, perfis e gêneros, é formada por antonio brasileiro, Cyro de mattos, José Carlos limeira, José inácio vieira de melo, lande onawale, laura Castro, luciany aparecida alves santos, marcus vinicius rodrigues, maria da Conceição paranhos, mariana paiva, narlan matos teixeira e tom Correia. eles foram indicados por uma comissão especializada, composta por aleilton Fonseca, Florentina da silva souza, Jailma dos santos pedreira moreira, João vanderlei de moraes Filho, José Castello, Kelvin dos santos Falcão Klein, milena britto e rachel esteves lima, que também selecionou mostras dos trabalhos dos artistas para compor a publicação. os textos são acompanhados por uma minibiografia. o primeiro volume da obra pode ser acessado no site http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/ publicacoes/panorama

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Bahia: Terra da Cultura

novoS temPoS, novoS DiaS

Capoeiristas no Forte de santo antônio, artistas e visitantes na quinta do tanque e homens e mulheres de negócios no Forte de serviços Criativos. a nova dinâmica de ocupação destas construções seculares deu o tom da política cultural voltada a espaços que guardam a memória da bahia. este ano, pela primeira vez, mais de 5 mil capoeiristas de vários países participaram de 30 dias de atividades culturais diversificadas, que aconteceram no Forte de santo antônio além do Carmo, hoje o Forte da Capoeira, mesmo lugar onde foi erguida a extinta trincheira do baluarte de santiago, fundamental nas lutas contra as invasões dos holandeses à bahia.

lucas Caldas - ascom FpC

redeFiniÇÃo da polÍtiCa de oCupaÇÃo Cultural da vida a prÉdios seCulares da bahia

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memória doCumentada - segunda mais importante instituição arquivística pública do país, o arquivo público do estado da bahia (apeb) recebeu, entre 2013 e 2014, sua primeira intervenção estrutural desde 1980, quando foi instalado na antiga residência dos Jesuítas, no bairro da baixa de quintas, em salvador. na reforma do prédio, que recebe cerca de 540

Trabalho de restauração no Arquivo Público

pessoas a cada mês, foram recuperados sistemas elétricos, rede lógica e de telefonia, o que qualificou a utilização de equipamentos de microfilmagem e impressão por parte dos pesquisadores, além de proporcionar mais conforto na nova sala de consulta. no solar da quinta do tanque, sede do apeb, estão sendo feitas intervenções importantes que qualificarão sua estrutura física, garantindo melhor serviço de atendimento aos pesquisadores que buscam documentos textuais, manuscritos, além de documentos iconográficos e cartográficos. o arquivo possui uma coleção de documentos únicos, que remontam do período colonial, monárquico e republicano brasileiro. são exemplos destes as Cartas régias (1648 a 1821), que reunidas em 122 volumes, perfazem um quantitativo de 68.894 páginas, inscritas no registro nacional do brasil do programa memória do mundo da unesco, em 2013. Com isso, a coleção passou a ser reconhecida como patrimônio documental de grande relevância para a memória regional, nacional e internacional.

em ritmo de reforma, o prédio do arquivo público do estado da bahia (apeb), antiga residência dos Jesuítas, recebeu mais de mil visitantes durante a 3ª bienal da bahia. eles puderam conhecer, além das obras dos artistas integradas aos seus espaços históricos, o funcionamento do arquivo e sua importância documental na preservação da memória baiana. o palacete das artes, antiga mansão do Comendador bernardo martins Catharino, comemorou os seus sete anos de inauguração. enquanto no Forte do barbalho, que em 2013 passou por obras emergenciais nas quais foram investidos r$ 3,3 milhões do tesouro estadual, funciona hoje a sede do mais importante escritório de economia criativa do estado, o bahia Criativa.

as ações que têm sido feitas dentro destes espaços mostram que as políticas executadas para revitalização das edificações históricas foram planejadas não apenas para a restauração da infraestrutura. a partir delas, a população tem convivido mais de perto com a sua memória, além de ter acesso facilitado a atividades, bens e serviços culturais diversos.

ascom FpC

bahia revisitada

Fachada do Arquivo Público - Prédio histórico passa por sua primeira reforma

a reforma no arquivo público vem sendo acompanhada de perto por técnicos do instituto do patrimônio artístico e nacional (iphan), da superintendência de Construções administrativas da bahia (sucab), do instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (ipaC) e da Fun181


Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada

timbó, aprovou a bienal no arquivo público. “Foi bem interessante e coerente realizar a bienal aqui para resignificar o espaço. desta forma, acho que foi muito positivo para o arquivo, inclusive, para chamar atenção da sociedade, já que uma grande maioria não sabe que esse local pertence muito mais à sociedade do que ao próprio estado como equipamento cultural e de conhecimento”, afirmou.

Foto artus santos

dação pedro Calmon (FpC), unidade vinculada da secretaria de Cultura do estado da bahia responsável pela administração do arquivo e das bibliotecas públicas. trata-se de uma ação prioritária da secultba, estimada em mais de r$ 3 milhões. para a diretora da Fundação pedro Calmon, Fátima Fróes, a reforma é uma conquista para a memória da bahia e para todos os baianos. “relaciono a importância desta reforma com a magnitude do papel social do arquivo público para o cidadão, na comprovação de direitos e no resgate da memória, o que é proporcionado com as buscas documentais feitas por estudantes, historiadores e pesquisadores. É um avanço significativo interferirmos na estrutura secular deste equipamento de modo a melhor preservar seu acervo e prestar um serviço de maior qualidade à sociedade”, enfatizou.

a integração e o resgate históricos do espaço também se destacaram com o projeto “quintas na quinta”, que buscou trazer o hábito dos jesuítas que ali moravam de trocar experiências, leituras e diálogos sobre história, antropologia, turismo, arquitetura, arte e outras temáticas. pesquisadores como ordep serra, sergio guerra, luiz paulo neiva e marcelo Cunha estiveram entre os convidados dos debates, que contaram com a participação de estudantes, artistas e historiadores. a estudante do instituto de Ciência da informação da universidade Federal da bahia, Juliana

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Agosto da Capoeira - Forte de Santo Antônio

uma mansÃo para as artes um casarão com arquitetura marcada por referências inglesas e francesas do início do século XX, com instalações modernas, capazes de receber exposições de importantes artistas da bahia, do brasil e do mundo. um jardim com árvores centenárias e diversas espécies da flora nativa, que abriga quatro esculturas em bronze do escultor francês auguste rodin, adquiridas pelo governo da bahia. tradição e contemporaneidade ganham morada especial na antiga mansão do comendador bernardo martins Catharino. tombado em 1986 pelo instituto do patrimônio artístico e Cultural da bahia (ipaC), o prédio foi reformado e, desde 2007, transformou-se no palacete das artes.

acervo palacete das artes

bienal: arquivo e Ficção - a construção secular, erguida pelos jesuítas no século Xvi e tombada pelo iphan em 1949, ganhou um novo significado com o a 3ª bienal da bahia, realizada pela secretaria de Cultura entre julho e setembro de 2014, em salvador e em municípios do estado. durante cem dias de extensa programação, a bienal levou ao arquivo público o projeto arquivo e Ficção, instalações de dez artistas brasileiros e uma artista cubana, que revelaram em suas obras novas formas de interação com este patrimônio mundial.

para a diretora do arquivo, maria teresa matos, acolher a arte contemporânea na instituição se constituiu em uma forma de ampliar a difusão do arquivo público e do acervo documental, abrangendo um público diverso. “a colaboração com os artistas possibilitou aos arquivos maior visibilidade e, a partir desta percepção, a capacidade não apenas de provar, testemunhar e informar, mas também de emocionar. os arquivos têm a capacidade de rememorar as coisas esquecidas, tornando-as presentes ao espírito”, disse.

Pátio externo do Palacete das Artes

somente em 2014, exposições como mario Cravo Jr. esculturas, comemorativa aos 90 anos do artista plástico baiano e sua arte, reuniram 50 mil visitantes. em sua homenagem, também foi promovido o seminário o movimento modernista no brasil e na bahia. Já a exposi183


Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada tacila mendes

as paredes históricas do Forte, que chegaram a abrigar presos políticos durante a ditadura militar, ganharam novos significados em 14 de maio de 2014, data de inauguração da sede do bahia Criativa, com a presença do secretário de Cultura do estado, albino rubim, do governador da bahia, Jacques Wagner, e da ministra da Cultura, marta suplicy. o escritório integra o programa permanente rede incubadora brasil Criativo, que propõe a oferta de capacitações, cursos e consultorias sobre gestão em cultura, com foco em empreendedorismo e competências criativas, voltados para pessoas que atuam na cadeia produtiva da cultura.

Forte de Serviços Criativos no Barbalho

ção gil 70, que fazia um passeio pela vida e pela trajetória artística de gilberto gil, reuniu um público de 15 mil pessoas. por ano, cerca de cem mil visitantes passam pelas salas expositivas do palacete. nas salas de artes, nos jardins ou no simpático Café, gente de todas as idades vem em busca da diversificada programação ou mesmo de um lugar para conversar e estudar. os projetos reúnem distintas manifestações culturais e práticas ligadas ao bem estar. entre eles, o trocando palavras, o Cinema no palacete, os domingos musicais, e o todo dia é dia de Yoga. além de exposições, ações educativas como apresentações musicais, visita guiada e oficinas de arte e pintura estão na pauta de comemorações pelos sete anos do palacete das artes. erguido em 1912 como símbolo do forte poder econômico de algumas famílias baianas, o antigo “palacete Catharino” é hoje um espaço para a arte e cultura aberto a todos, sendo 75% de seus visitantes constituídos pelo público local, e o restante por turistas de outros estados e países. 184

Forte de serviÇos Criativos a economia criativa manteve-se como uma das diretrizes principais da secretaria de Cultura e mostrou que a sua associação a espaços centenários, por vezes esquecidos pela sociedade, pode fazer com que a cultura tenha vida e movimento, mesmo entre os muros mais altos. uma das mais antigas fortificações da bahia, o Forte de nossa senhora do monte Carmo, mais conhecido como Forte do barbalho, ganhou um novo significado. hoje, o Forte de serviços Criativos abriga a sede de um escritório de referência no oferecimento de serviços para a economia da cultura no estado, o bahia Criativa. Construído em 1638, como forma de proteção contra as investidas dos invasores holandeses, e tombado pelo iphan desde 1957, o Forte do barbalho passou por obras emergenciais coordenadas pelo ipaC em 2013. a reforma, que contou com investimento de r$ 3,3 milhões do tesouro estadual, estabilizou a muralha da edificação do Forte, a mais larga existente dentre as fortificações da bahia.

“há muita sinergia com a cultura na escolha deste espaço. É um patrimônio que tem uma história de séculos e está, hoje, totalmente relacionado à criatividade na bahia”, afirmou, durante a inauguração, marta suplicy. “nada mais apropriado para enterrar definitivamente o obscurantismo deste forte, do que esse espaço que irá estimular a criatividade. Cultura tem a ver com liberdade e nós, que estamos na terra mãe do brasil, temos um grande potencial criativo”, reiterou o governador Jaques Wagner. “as pessoas têm boas ideias, mas muitas vezes não conseguem gerir e dar sustentabilidade aos seus empreendimentos devido à falta de acesso a elementos básicos da gestão”, afirma a diretora de economia da Cultura da superintendência de promoção Cultural da secultba, Carmen lima. as capacitações do bahia Criativa são disponíveis não só para a população soteropolitana, mas para todos os 27 territórios de identidade do estado. na bahia, o escritório conta com investimentos de r$ 1,2 milhão do minC e de r$ 300 mil da secultba, parceria que tem como objetivo incentivar iniciativas para o desenvolvimento da economia Criativa no estado. a economia Criativa reúne cerca de 20 setores da nova economia, que são os que atualmente mais crescem e geram emprego no mundo, baseada num processo criativo e de inovação que agrega valor a produtos e serviços, produzindo riqueza cultural e econômica. as capacitações do bahia Criativa estarão disponíveis não só para a população soteropolitana, mas para todos os 27 territórios de identidade do estado. além disso, algumas atividades serão desenvolvidas também à distância. os interessados podem obter mais informações pelo e-mail bahia.criativa@cultura.ba.gov.br.

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Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada

a riqueza de uma das mais significativas manifestações culturais da bahia e do brasil tem morada no bairro de santo antonio além do Carmo. a fortificação histórica, que ajudou a proteger a cidade na segunda invasão holandesa e foi utilizada como prisão nos séculos Xviii e XiX, ganhou novos ares e uma nova missão: tornar-se o Forte da Capoeira.

blioteca luiz gama, com sala de leitura e videoteca à disposição da comunidade.

ascom ipaC

a ForÇa da Capoeira

agosto da Capoeira – em 2014, mais de 40 mestres de capoeira de dez países, com atuação na bahia e no exterior, reuniram-se no agosto da Capoeira, ação da secretaria de Cultura do estado da bahia, em parceria com o projeto mandinga. o projeto, realizado durante todo o mês, inspirou-se nas raízes da capoeira, baseadas na cooperação entre mestres independentes dos segmentos conhecidos angola, regional e Contemporânea.

hoje, sete academias de Capoeira residem no Forte. através de seu trabalho, fortalecem os nomes de mestres consagrados, atendem ao público local e aos visitantes de dentro e fora do brasil. “Cada mestre exerce um papel fundamental para fortalecer o trabalho e transmitir aos mais novos que a capoeira é também um veículo de disseminação da cultura”, explica arany santana, diretora do Centro de Culturas populares e identitárias da secultba, unidade responsável pela administração do espaço.

para o mestre sabiá, um dos idealizadores do evento, o fortalecimento desse espírito de camaradagem foi o aspecto mais marcante do encontro. “nos últimos anos, o diálogo entre capoeiristas e a secretaria de Cultura se tornou mais aberto e facilitado através do CCpi, e o Forte da Capoeira, um espaço acessível em todas as vezes que o procurei. o agosto da Capoeira foi um evento importante também para levar capoeiristas que ainda não conheciam o espaço a ocupá-lo. o Forte deu à capoeira o espaço que ela merece”, afirmou mestre sabiá, líder do projeto mandinga.

Filho de mestre bimba, o precursor da capoeira regional, mestre nenel lidera a escola Filhos de bimba, que ocupa o Forte da Capoeira desde a sua restauração. “temos uma relação muito próxima com o Forte, com a administração, os funcionários e com todos os mestres das demais escolas. É muito importante para o estado ter um espaço como esse, assim como para a Capoeira na bahia, ter um lugar de referência para o mundo”, afirma o mestre de capoeira. o professor Jaime nascimento, bacharel em história pela universidade Católica do salvador e mestrando em arquitetura e urbanismo pela universidade Federal da bahia, faz parte da equipe de trabalho do Forte de santo antônio além do Carmo, e afirma que o cotidiano no espaço o inspira em seu papel de historiador. “as obras de restauração deram ao Forte uma destinação que o atualiza no contexto das demandas da vida moderna, sem deixar de lado o seu muito importante valor histórico e arquitetônico”, declara o professor, que considera importante e adequada esta abertura dos espaços para os novos e diversificados usos que têm hoje. no Forte, funciona também a bi186

gingado históriCo – a capoeira fez, e faz, história

Forte da Capoeira - Prédio histórico hoje abriga sete academias da manifestação cultural

no Forte de santo antônio. o espaço, que chegou a abrigar prisioneiros políticos durante o regime militar, foi depois palco de ensaios de blocos carnavalescos, como os lord’s e ilê aiyê, e também sede de um Centro de Cultura popular, entre 1981 e 1990. no encerramento das atividades do Centro, funcionavam no espaço duas escolas de capoeira, o Centro esportivo de Capoeira angola, do mestre João pequeno de pastinha, e o grupo de Capoeira angola do pelourinho, do mestre moraes. o Forte passou por obras para sua restauração e reativação, após ter enfrentado um período de abandono nos anos 1990, que levaram à depredação de sua estrutura. os trabalhos de reforma, feitos em parceria entre ministério da Cultura e o ipaC, foram concluídos em 2006. a partir de novembro de 2007, o Forte de santo antônio além do Carmo passou a ser um espaço aberto para projetos e ações diversificadas na área social, cultural e educativa.

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Bahia: Terra da Cultura

bahia revisitada aCademias do Forte da Capoeira: academia de Capoeira angola da bahia, do mestre boca rica Centro de Cultura da Capoeira tradicional baiana, do mestre bola sete. Centro esportivo de Capoeira de angola, fundado pelo mestre João pequeno de pastinha escola de Capoeira angola irmãos gêmeos, do mestre Curió grupo de Capoeira angola pelourinho, do mestre moraes escola de Capoeira Filhos de bimba, do mestre nenel grupo de Capoeira angola pai e Filho, do mestre pelé da bomba

endereÇos arquivo público do estado da bahia ladeira quintas dos lázaros, 50 – baixa de quintas, salvador, 40300-315 tel. (71) 3116-2143 palacete das artes rua da graça, 258 – graça, salvador – ba, 40150-060 tel. (71) 3117 6910/6986 bahia Criativa - Forte do barbalho rua marechal gabriel botafogo, s/n – barbalho, salvador – ba, 40300-758 tel. (71) 3319-0033 Forte da Capoeira - de santo antônio além do Carmo praça barão do triunfo, largo de santo antônio s/n – Cep: 40301-330 tel. (71) 3117-1488

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