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Descrição pormenorizada da festa
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A Festa de Iemanjá de Fortaleza serve para “cortar” o tempo cotidiano e decadente. Ela recupera as origens e expressa socialmente vivências muito profundas. Na Festa de Iemanjá podem ser encontrados, em plenitude, o simbólico, o mítico e o ritual, além do teatral, do cômico, do lúdico, do imaginário e do político. Explosão do festivo da vida religiosa dos umbandistas de Fortaleza, ela é uma necessidade humana radical, um elemento constitutivo da Umbanda como de qualquer religião. Nesse sentido, a festa acontece como uma imitação dos grandes acontecimentos da vida do cosmo ou da terra e assim ela é um jogo cultural.
Do ponto de vista fenomenológico, a Festa de Iemanjá é uma experiência de comunhão com o sagrado, já que nela se celebram algumas de suas manifestações, como hierofânicas, cósmicas, históricas e pessoais.
A Festa de Iemanjá serve, objetivamente, para que os Umbandistas realizem a memória de seus ancestrais na orla de Fortaleza. É saudando Iemanjá e reverenciando o Orixá das águas que os(as) adeptos(as) da Umbanda revivem e reelaboram as suas vivências e existências. Todos e todas prestam homenagem a Iemanjá, atribuindo significações às tradições e culturas que vieram do continente africano e encontrando novos jeitos e resistências no Brasil.
Foto de Jean dos Anjos
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Nos dias 14 e 15 de agosto, os terreiros chegam às praias com seus andores, estandartes e todo aparato para montar um gongá17 na beira do mar. A maioria veste azul e branco, as cores do Orixá. Marcam seus territórios com uma tenda, uma cerca ou simplesmente um círculo de pessoas e realizam seus trabalhos espirituais. Acendem velas, fazem orações e entram em transe, recebendo guias e caboclos, entidades do mundo espiritual que realizam trabalhos de caridade no mundo material. A Festa de Iemanjá também é a ligação entre dois mundos e existe para firmar, no espaço terrestre, a caridade para os que mais necessitam. A Umbanda é a religião da união e da caridade. Os/as umbandistas são agentes que aportam na praia e chegam, principalmente, de bairros periféricos, como Bom Jardim e Parque Dois Irmãos. Numa cidade onde as diferenças sociais são abissais, a Festa de Iemanjá legitima a presença desses agentes em Fortaleza e libera a festa como instituição social no tempo e no espaço. Nos dias de festa, os/as umbandistas realizam suas experiências mediúnicas entre uma população curiosa que, geralmente, nunca teve acesso a um terreiro de Umbanda, seja por desconhecimento, seja por preconceito.
Foto de Jean dos Anjos Foto de Jean dos Anjos
17 “Gongá” é como se chama o altar na Umbanda. Geralmente, tem imagens de orixás, entidades da Umbanda e santos católicos, entre outros.
Foto de Jean dos Anjos
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