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Elementos que compõem a festa

Agora que conhecemos um pouco mais sobre como acontece a Festa de Iemanjá e a sua história, apresentaremos alguns de seus elementos básicos, a fim de possibilitar uma melhor compreensão acerca do seu cerimonial.

A religiosidade – A religiosidade é fundante na ação humana. Todas as culturas e todos os povos tiveram e têm uma expressão religiosa. Dizer “expressão” é falar de manifestações de ordem religiosa que têm seu veículo na simbologia, na linguagem, na literatura, na arte, em rituais variados, nos corpos doutrinados e em modelos de vida. Aquilo que é expresso de tantas maneiras, que de fato compreende todos os registros da atividade humana, é algum tipo de experiência do transcendente. Como toda experiencia humana, ela também tende à comunicação e à socialização. A experiência religiosa na Festa de Iemanjá é simbólica, abre caminhos e orienta. Na religiosidade, os mitos, os ritos e os símbolos materializam a presença de Iemanjá na festa, orientando e dando significado à mobilização dos umbandistas na orla da cidade.

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O cortejo – Os cortejos saem dos terreiros até a orla marítima. Geralmente são feitos em ônibus fretados, para os quais os/as umbandistas realizam cotas para o pagamento. O cortejo é realizado com a maior alegria possível entre os umbandistas, que cantam para Iemanjá e louvam dentro do ônibus, tanto na ida à praia, como na volta para o terreiro. Os atabaques e os pontos cantados anunciam pelas ruas e avenidas, onde o povo de terreiro da cidade resiste e não deixa de celebrar a Rainha do Mar, no seu dia. O cortejo da União Espírita Cearense de Umbanda sai do Centro da cidade até a Praia do Futuro, em carro aberto com a imagem de Iemanjá em cima. Por onde passa, o cortejo é reverenciado e aplaudido.

Mãe de Santo saúda Iemanjá na Praia de Iracema Foto de Manuel Filho

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A imagem de Iemanjá – A imagem de Iemanjá, uma mulher vestida de azul, representa a presença da Grande Mãe de todas as cabeças. Em todos os terreiros, existe a presença da imagem de Iemanjá que é o centro da festa. Iemanjá é a Rainha do Mar, a cuidadora, a advogada, a amiga, a irmã, a companheira, a mãe. É também chamada de Dandalunda, Inaé, Ísis, Janaína, Marabô, Maria, Mucunã, Princesa de Aiocá, Princesa do Mar, Rainha do Mar, Sereia do Mar etc., de acordo com a tradição local. São diversas as qualidades de Iemanjá na Umbanda e no Candomblé e suas mitologias são contadas de diversas formas. Iemanjá é mãe de todos os Orixás, portanto, mãe do mundo.

O presente – O presente de Iemanjá são as oferendas que todos levam para o Orixá na praia. A entrega do presente é sempre uma grande emoção para todos e todas que estão na festa. Os/as umbandistas o entregam no mar, sempre seguido de cânticos, palmas e orações. Iemanjá recebe rosas e flores brancas, perfumes, sidra/ champanhe, adereços femininos, joias, entre outros mimos. Presentes são dádivas por graças alcançadas e precisam ser respeitados na hora de sua entrega.

O espaço sagrado – O espaço sagrado é um elemento imprescindível para a realização da Festa de Iemanjá. Em Fortaleza existem dois polos que precisam ser assegurados e preservados: a Praia do Futuro e a Praia de Iracema. O espaço sagrado é demarcado pelos terreiros que chegam à orla e é feito com tendas, cordões de isolamento, cercas ou mesmo com os próprios corpos dos umbandistas que forma um círculo. É nesse espaço que ocorre a gira, baia ou trabalho: a cerimônia religiosa sagrada para Iemanjá. Cada terreiro forma o seu espaço sagrado na areia da praia tornando aquele espaço profano em espaço sagrado.

A ancestralidade – A Festa de Iemanjá é a maior festa de Umbanda de Fortaleza, portanto é a maior festa da ancestralidade africana que existe na nossa cidade. Na África tradicional, o indivíduo é inseparável de sua linhagem, que continua a viver através dele e da qual ele é apenas um prolongamento. Ancestralidade é raiz, é corpo, é memória, é vida, é comunhão. A Festa de Iemanjá, como bem cultural, produz o sentimento de ancestralidade, pois revive a memória e a identidade dos povos africanos que aqui chegaram e dos povos indígenas que aqui estiveram, além do próprio sentimento dos santos católicos populares.

Foto de Jean dos Anjos Imagem de Iemanjá na Praia do Futuro Foto de Jean dos Anjos

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Foto de Jean dos Anjos

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Foto de Jean dos Anjos A dança – Dançar para Iemanjá é viver a liberdade do Orixá e se integrar com ele. O corpo dançante para Iemanjá em sua festa é o que se integra com o sagrado, dando-lhe significado. Os tambores sagrados dão o ritmo da dança e da festa. São os tambores que vencem o medo e fazem a festa dos corpos. O ritmo frenético dá o tom da Festa de Iemanjá de Fortaleza, realiza e estimula as sensações, as superações e o êxtase.

Os tambores sagrados – Os tambores sagrados são o ponto alto da Festa de Iemanjá de Fortaleza. Não há festa sem música, ritmo e dança. São os tambores os responsáveis pelo chamamento das entidades, caboclos, caboclas e guias. Cada entidade tem o seu ritmo e os tambores são imprescindíveis para orientar para a chegada e a partida da entidade. O tambor é utilizado para enviar e receber mensagens espirituais, e é essencial na preservação da tradição oral. Na religião africana de culto aos Orixás e Ancestrais, é considerado sagrado, e seu tocador é classificado como um comunicador oral. Aquele que toca o tambor é um orador e um comunicador de mensagens sagradas. No ritual religioso, os tambores são o início de tudo, sempre representaram papel muito importante na cultura africana. Existe um antigo provérbio que diz: “Quando os tambores são tocados, eles não mentem”.

Os pontos de Umbanda – Os pontos de Umbanda são os cânticos sagrados dessa religião afro-indígena brasileira que têm diversas funções como, por exemplo, homenagear uma entidade ou convidá-la ao convívio no centro. Quando os(as) umbandistas cantam os pontos de Umbanda, eles estão, ao mesmo tempo, fazendo uma prece e invocando as entidades, chamando-as para a terra. A Cabocla Mariana, conhecida encantada na Festa de Iemanjá, por exemplo, quando incorpora, canta o seu ponto: “No rio Negro, mururés viraram flores, na mata virgem o sabiá cantou... É ela a Cabocla Mariana, a bela turca que aqui raiou!”. Os pontos de Umbanda precisam ser cantados com cadência própria, em harmonia e sem exageros, pois a harmonia do ponto é essencial para dar a luz necessária, equilibrar a energia para a vinda dos guias e protetores espirituais e, também, para que os trabalhos realizados no terreiro sejam bem-sucedidos.

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